enoturismo
Visitar a ilha sem ir às antigas adegas da mais famosa
companhia vinícola da região é impensável. Além de albergar
o museu de uma marca que faz 200 anos, é lugar de
envelhecimento dos seus melhores vinhos. Obrigatório
conhecer esta jóia no coração do Funchal.
texto Samuel Alemão
* fotos Ricardo Palma Veiga
The Old Blandy Wine Lodge
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Uma pérola na Madeira
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Penetrar
na história:
Uma das coisas
mais fascinantes
do Wine Lodge
é a forma como
respeita a memória
e a mostra.
N
Nem sempre a história é fiel depositária das razões que
nos levam a justificar o presente. Mas, na maior parte
das vezes, nela residem os argumentos centrais que o
sustentam. O vinho da Madeira não será muito popular
entre os franceses e serão deles as afirmações de maior
desdém, ou ignorância, para com uma bebida amplamente reconhecida entre os apreciados mais exigentes
de vinhos generosos. Alguns até dizem que, por terras
gaulesas, o Madeira serve sobretudo como base para
molhos na confeção de alguns pratos. Imagine-se. Comentários como este ouvem-se, algumas vezes, durante as visitas ao The Old Blandy Wine Lodge, a prestigiada adega e sala de visitas de um dos mais importantes
produtos portugueses, localizada na central Avenida
Arriaga, no Funchal. As raízes inglesas poderão ajudar
a explicar tal fenómeno - mais ainda no caso da companhia vinícola da região com maior reconhecimento.
Ela surgiu, há dois séculos, pela mão de um britânico
que ali chegou para prevenir uma investida militar francesa.
Uma marca que remonta a 1811
John Blandy era um contramestre do exército comandado pelo general Beresford, quando desembarcou na
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ilha, em 1807. Foi para lá destacado, aos 23 anos, para
auxiliar nos esforços de prevenção contra um eventual
ataque das tropas napoleónicas. O assalto da armada
francesa nunca se concretizou, mas Blandy deixou-se
conquistar pelas qualidades do vinho produzido em terras insulares. De tal forma que, em 1811, ali se estabeleceu como comerciante de vinhos, fundando a Blandy’s,
e expedindo-os sobretudo para o mercado britânico.
Dava-se assim início a uma companhia que está a comemorar 200 anos e que é agora liderada pela Charles
Blandy, 32 anos, pertencente à sétima geração da família fundadora. É sob a sua tutela que vive hoje a Madeira Wine Company (MWC), empresa nascida em 1981, a
partir da antiga Madeira Wine Association, que no, princípio do século passado, juntou a Blandy’s a outras marcas de vinho da Madeira como a Cossart Gordon, a
Leacock’s e a Miles. Todas elas continuam a existir e
têm, juntamente com as mais recentes marcas Alvada e
Atlantis, no The Old Blandy Wine Lodge a sua montra.
As Adegas de São Francisco
São muitos e bons os motivos para visitar o edifício ocupado pela Blandy’s, desde 1840, no coração da cidade.
Até porque nele se encontram elementos essenciais para
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The Old Blandy Wine Lodge
Avenida Arriaga, 28
9001-904 Funchal
Tel: 291 740 110 • Fax: 291 740 111
Web: www.
theoldblandywinelodge.com
Email: pubrel@
madeirawinecompany.com
GPS: 32°38’52.13”N /
16°54’37.89”O
O Wine Lodge funciona entre as
10 horas e as 18h30, se segunda a
sexta-feira, e das 10h às 13h, aos
sábados. Pode requer uma visita
privada (10€) ou ainda provar
todos os vinhos, por um preço de
cálice, sem fazer a visita. Pergunte
pelas provas.
Provar com tempo: Um lugar que trata especialmente bem o vinho
e quem o quer saborear. Tem duas salas para isso.
perceber a história da capital madeirense - uma das
maiores urbes portuguesas. Repare-se que outro nome
pelo qual o Wine Lodge é também conhecido é Adegas
de São Francisco. Quando Charles Ridpath Blandy, filho
de John Blandy, ali instalou as suas adegas, aquele era
um anexo de um antigo mosteiro franciscano, construído no século XVII e demolido no final do século XIX. O
nome ficou e acompanhou o processo de legitimação
A visita e a prova de vinhos da adega
“frasqueira” é algo de especial
desta empresa como a mais importante na produção e
comercialização do vinho da Madeira. Já muito recentemente, e após a reestruturação feita no seguimento da
entrada da Symington no capital da companhia, em
1989, a sede e o centro de produção foram transferidos
para o Complexo das Mercês, noutro lugar do centro do
Funchal. Depois de reabilitadas, as Adegas de São Francisco apresentam, desde o início de 2008, a actual con-
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figuração – com um pátio que comunica com uma das
mais antigas ruas da cidade, ligando a Avenida Arriaga
e a Rua da Carreira, e entretanto reaberta à circulação
pública.
Perceber o sistema de ‘canteiro’
O Wine Lodge é um espaço elegante, assumindo-se como
ponto de passagem obrigatória para os roteiros turísticos, mas mantém-se como local de armazenamento de
7 mil hectolitros de vinhos de categoria superior, que
ali se encontram a envelhecer através do tradicional
sistema de “canteiro” – os vinhos são colocados em cascos de carvalho americano, no piso superior dos armazéns da adega, ali ficando durante cinco anos sob o calor
natural do sol. Um dos aspectos mais interessantes das
visitas é, precisamente, a possibilidade de se poder perceber a importância deste método, em que os vinhos
mais recentes são deixados nas adegas mais elevadas,
por serem locais mais quentes. É isto que faz com que
os boquets(aromas terceários) dos vinhos surjam em
todo o seu esplendor, consequência de uma maior evaporação. Após essa fase, faz-se a sua tranferência para
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Classificação:
Originalidade
(máx. 2): 2
Atendimento
(máx. 2): 2
Prova de vinhos
(máx.4): 4
Venda directa
(máx. 4): 4
Arquitectura
(máx. 3): 3
Ligação à cultura
(máx. 3): 3
Ambiente/ Paisagem
(máx. 2): 2
Classificação: 20
Entre passado e futuro: Cabe a Chris
Blandy renovar um legado de dois séculos.
cascos situados nos pisos inferiores, portanto, com temperaturas mais reduzidas, onde o envelhecimento decorrerá de forma harmoniosa. Um procedimento que
distingue o Madeira de todos os outros.
Nem todos podem entrar na sala de envelhecimento que
se encontra no topo do edifício, sob o telhado, pois as
visitas generalizadas à zona onde se encontram as colheitas mais recentes causariam grande agitação, num
período de importância vital para o futuro desses vinhos. O que se compreende, se tivermos em consideração que as “antigas adegas Blandy” – como também
são conhecidas – recebem cerca de 170 mil visitas anu-
Os vinhos mais novos são colocados
nos pisos mais elevados
almente. “Por vezes, com os cruzeiros, chegamos a ter
aqui mil pessoas ao mesmo tempo”, conta Ana Soares,
a relações públicas da MWC, empresa que produz cerca
de um milhão de litros de vinho por ano. Para além das
zonas de envelhecimento, as visitas – que começam no
espaço da antiga tanoaria, com explicações sobre o processo de fabrico dos cascos de caravalho americano –
passam também pelo museu, onde se encontra objectos
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e documentos que testemunham a actividade da Blandy’s
noutros tempos. Os responsáveis pelo Wine Lodge lembram-nos, porém, que ele acaba por funcionar como
um museu vivo, visto ali envelhecerem as melhores colheitas.
Muita variedade de provas
As mais antigas ainda a evoluir em casco lá existentes são
as colheitas de Bual de 1920 e as de Sercial de 1948 e de
1950. Em garrafa, há muito por onde escolher, se se quiser saborear a produção da casa. A sala Max Römer é onde
se realiza a maioria das provas, existindo ainda a sala
Frasqueira, onde há uma valiosa colecção dos mais antigos vinhos da Blandy’s. Neste “vintage cellar”, existem
vinhos muito raros, como um Malvasia Soleira de 1808,
sendo ali possível solicitar a realização de provas da colheita do ano do nascimento. Na verdade, a oferta de visitas guiadas e de provas preparadas no The Old Blandy
Wine Lodge é irrepreensível, com sete hipóteses de escolha em cada uma. Desde a “visita introdução”, com um
périplo de 30 minutos pelos armazéns e a prova de um
vinho por apenas 3€, até à “visita vintage” por 12€, passando pelas visitas à adega de produção ou à Quinta de
Santa Luzia, onde estão as vinhas da família Blandy, há
muito por onde escolher. O mesmo acontece com as provas, que vão das realizadas com Madeira 3 anos até às
especiais com a presença do enólogo.
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