Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 243.611 - MG (2012/0107060-4) RELATOR IMPETRANTE ADVOGADO IMPETRADO PACIENTE : : : : : MINISTRO JORGE MUSSI DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS NÁDIA DE SOUZA CAMPOS - DEFENSORA PÚBLICA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS LUCIANO ARRUDA (PRESO) EMENTA HABEAS CORPUS . IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ORDINÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA CARTA MAGNA. NÃO CONHECIMENTO. 1. De acordo com o disposto no artigo 105, inciso II, alínea "a", da Constituição Federal, o Superior Tribunal de Justiça é competente para julgar, mediante recurso ordinário, os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais e pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória. 2. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n. 109.956/PR, buscando dar efetividade às normas previstas no artigo 102, inciso II, alínea "a", da Constituição Federal, e nos artigos 30 a 32 da Lei n. 8.038/90, passou a não mais admitir o manejo do habeas corpus originário perante aquela Corte em substituição ao recurso ordinário cabível, entendimento que deve ser adotado por este Superior Tribunal de Justiça, a fim de que restabelecida a organicidade da prestação jurisdicional que envolve a tutela do direito de locomoção. 3. Tratando-se de writ impetrado antes da alteração do entendimento jurisprudencial, o alegado constrangimento ilegal será enfrentado para que se analise a possibilidade de eventual concessão de habeas corpus de ofício. PRISÃO PREVENTIVA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER (LEI MARIA DA PENHA). LESÃO CORPORAL. CONSTANTES AMEAÇAS DIRECIONADAS À VÍTIMA. PERICULOSIDADE DO PACIENTE. REINCIDÊNCIA. REITERAÇÃO DELITIVA. RISCO CONCRETO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. NECESSIDADE. DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS IMPOSTAS. HIPÓTESES AUTORIZADORAS DA SEGREGAÇÃO ANTECIPADA. PRESENÇA. CUSTÓDIA JUSTIFICADA E NECESSÁRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO. 1. Nos termos do inciso IV do art. 313 do CPP, com a redação dada pela Lei n.º 11.340/06, a prisão preventiva do acusado poderá ser decretada "se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência". 2. Evidenciado que o paciente, mesmo após cientificado das Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 1 de 12 Superior Tribunal de Justiça medidas protetivas de urgência impostas, ainda assim voltou a ameaçar a vítima e agredi-la fisicamente, demonstrada está a imprescindibilidade da sua custódia cautelar, especialmente a bem da garantia da ordem pública, dada a necessidade de resguardar-se a integridade física e psíquica da ofendida e também para assegurar o cumprimento das medidas protetivas de urgência deferidas. 3. Verifica-se a necessidade da custódia antecipada, ainda, para fazer cessar a reiteração criminosa, pois consta dos autos que o paciente é reincidente, circunstância que revela a sua propensão a atividades ilícitas, demonstra a sua periculosidade e a real possibilidade de que, solto, volte a delinquir. CUSTÓDIA CAUTELAR. INCIDÊNCIA DA LEI N. 12.403/2011. IMPOSSIBILIDADE. DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. Inviável a aplicação do referido benefício, tendo em vista se tratar de crime contra a mulher e, ainda, o contínuo descumprimento pelo denunciado das medidas protetivas impostas pelo juízo singular, observando-se a nova redação do art. 313 do Código de Processo Penal, dada pela Lei n° 12.403/2011. 2. Habeas Corpus não conhecido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do pedido. Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Campos Marques (Desembargador convocado do TJ/PR) e Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ/SE) votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Laurita Vaz. Brasília (DF), 06 de novembro de 2012. (Data do Julgamento). MINISTRO JORGE MUSSI Relator Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 2 de 12 Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 243.611 - MG (2012/0107060-4) IMPETRANTE ADVOGADO IMPETRADO PACIENTE : : : : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS NÁDIA DE SOUZA CAMPOS - DEFENSORA PÚBLICA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS LUCIANO ARRUDA (PRESO) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO JORGE MUSSI (Relator): Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário com pedido liminar impetrado em favor de LUCIANO ARRUDA, contra acórdão proferido pela 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais que denegou a ordem no Writ n.º 1.0000.12.050357-8/000, mantendo a decisão que converteu a prisão em flagrante em preventiva, nos autos da ação penal a que responde pela suposta prática do delito previsto no art. 147 c/c art. 129, § 9º e art. 330 do Código Penal. Sustenta a impetrante a ocorrência de constrangimento ilegal sob o argumento de que a Corte a quo não teria apresentado fundamentação idônea para justificar a manutenção da custódia cautelar do paciente, reputando ausentes os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal. Aduz que o fundamento de que o paciente teria descumprido medida protetiva editada anteriormente não seria elemento suficiente a subsidiar a sua segregação cautelar. Requer a concessão da ordem constitucional para que seja revogada a custódia preventiva do paciente. Postula, alternativamente, pela aplicação de medidas cautelares diversas da prisão estabelecidas pela Lei n.º 12.403/2011. A liminar foi indeferida. Informações prestadas. A douta Subprocuradoria-Geral da República opinou pela denegação da ordem. É o relatório. Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 3 de 12 Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 243.611 - MG (2012/0107060-4) VOTO O EXMO. SR. MINISTRO JORGE MUSSI (Relator): Conforme relatado, por meio deste habeas corpus originário, impetrado em substituição ao recurso ordinário cabível, busca a impetrante a revogação da prisão preventiva decretada contra o paciente. Cumpre analisar, preliminarmente, a adequação da via eleita para a manifestação da irresignação do impetrante contra o acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Nos termos do artigo 105, inciso I, alínea "c", da Constituição Federal, este Superior Tribunal de Justiça é competente para processar e julgar, de forma originária, os habeas corpus impetrados contra ato de tribunal sujeito à sua jurisdição e de Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica; ou quando for coator ou paciente as autoridades elencadas na alínea "a" do mesmo dispositivo constitucional. Por outro lado, prevê a alínea "a" do inciso II do artigo 105 que o Superior Tribunal de Justiça é competente para julgar, mediante recurso ordinário, os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais o pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória. Do cotejo dos aludidos dispositivos, percebe-se que o Poder Constituinte Originário, prevendo situações distintas envolvendo a tutela do direito de locomoção, atribuiu ao Superior Tribunal de Justiça competências também diferenciadas, atento à sua peculiar função de uniformizar a interpretação da legislação infraconstitucional. Com efeito, tratando-se de coação ao direito ambulatório do indivíduo atribuível a quaisquer das autoridades elencadas nas alíneas "a" e "c" do inciso I do artigo 105, autoriza-se o manejo do writ de forma originária perante esta Corte Superior de Justiça. Em se tratando de coação perpetrada por qualquer outra Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 4 de 12 Superior Tribunal de Justiça autoridade, deve-se buscar na legislação pátria a competência originária para analisar o pedido de habeas corpus , em observância às normas atinentes ao devido processo legal. Entretanto, nas últimas décadas os operadores do direito têm incluído na acepção do termo "coação" a manutenção pelos Tribunais locais ou regionais de atos praticados por juízes que atuam no primeiro grau de jurisdição, ou pelas demais autoridades submetidas às suas jurisdições, quando denegam os habeas corpus originariamente ali impetrados. Institucionalizou-se o entendimento no sentido de que, mantendo a decisão objurgada, os Tribunais locais encampariam o alegado constrangimento ilegal, passando, então, a figurarem como autoridades coatoras. Tal interpretação passou a comportar o chamado habeas corpus substitutivo do recurso ordinário cabível, que veio a colocar em desuso a referida insurgência expressamente prevista no ordenamento constitucional. Esta espécie de writ vem sendo utilizado em larga escala, tendo em vista as flagrantes vantagens frente ao recurso ordinário, especialmente pela ausência de maiores formalidades, já que dispensável até mesmo a capacidade postulatória. Essa prática passou a ser chancelada pelos Tribunais Superiores, principalmente no final da década de 1980 e no decorrer da de 1990, quando a sociedade brasileira se viu ávida pela tutela de direitos que lhe foram tolhidos no período ditatorial. Nesse diapasão, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n. 109.956/PR, buscando dar efetividade às normas previstas no artigo 102, inciso II, alínea "a", da Constituição Federal, e dos artigos 30 a 32 da Lei n. 8.038/90, passou a não mais admitir o manejo do habeas corpus originário perante aquela Corte em substituição ao recurso ordinário cabível, entendimento que deve ser adotado por este Superior Tribunal de Justiça, a fim de que seja restabelecida a organicidade da prestação jurisdicional que envolve a tutela do direito de locomoção. Tal conclusão evidencia que, na hipótese, insurgindo-se o impetrante Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 5 de 12 Superior Tribunal de Justiça contra acórdão do Tribunal de origem que denegou a ordem pleiteada no prévio writ, mostra-se incabível o manejo do habeas corpus originário, já que não configurada nenhuma das hipóteses elencadas no artigo 105, inciso I, alínea "c", da Constituição Federal, razão pela qual não merece conhecimento. Todavia, tratando-se de remédio constitucional impetrado antes da alteração do entendimento jurisprudencial, o alegado constrangimento ilegal será enfrentado para que se analise a possibilidade de eventual concessão de habeas corpus de ofício. Na espécie, pretende-se, em síntese, a revogação da prisão preventiva decretada contra o paciente, em razão da prática, em tese, dos crimes de lesão corporal, ameaça e desobediência, praticados no âmbito doméstico e familiar. Da análise dos autos, nota-se que o magistrado da 4ª Vara Criminal da comarca de Juiz de Fora/MG converteu a prisão em flagrante em preventiva, em virtude do paciente supostamente ter descumprido medidas protetivas de urgência anteriormente deferidas pelo Juiz, decidindo para tanto que: "[...]. Na hipótese sob julgamento, a prisão em flagrante foi realizada de forma regular pela Polícia Militar de Minas Gerais, que acionada, compareceu na Rua Alagoa, Bairro Poço Rico, sendo que no local em conversa com a vítima, R.D.M., esta relatou aos condutores que o autor, Luciano Arruda, foi à sua casa e a ameaçou de morte, bem como a agrediu fisicamente. Ainda segundo a vítima, há Medida Protetiva deferida a seu favor, tendo o autor a descumprido. Na casa da vítima, a PM logrou encontrar o autor, que alegou ter a vítima o atraído até la, e também que ela (vítima) não queria deixar a filha com ele. A PM asseverou que o autor aparentava estar alcoolizado e drogado. A vítima acrescentou também que ao ser atacada pelo autor, teve que se defender, e, em virtude disso o autor apresentava algumas escoriações. Por fim, acrescentou que desde que foram-lhe concedidas Medidas Protetivas, o autor não lhe dá mais sossego, e que as coisas pioraram após a ordem judicial determinando que o autor se mantivesse longe da vítima. Logo, esta situação atende ao disposto nos arts. 283 e 302, IV, do Código de Processo Penal, que exigem a Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 6 de 12 Superior Tribunal de Justiça segregação de quem é visto logo depois do delito em poder de objetos ligados à infração penal. Neste contexto, através dos depoimentos prestados na Delegacia de polícia, é possível notar que há prova da materialidade do crime e indícios de autoria no presente caso (fumus comissi delicti). Vislumbro no presente caso que, em que pese o fato de, num primeiro momento, a conduta apresentada no delito em apreço, praticada pelo conduzido, não merecer a cautela da prisão, seja porque a violência foi moderada, seja porque a pena dos delitos praticados não ultrapassam 04 (quatro) anos, fato é que há notícia nos autos que foram concedidas Medidas Protetivas de Urgência a favor da vítima, pelo Juízo da 4ª Vara Criminal, restando configurado naquela decisão, entre outras determinações, a previsão de pena de prisão pelo crime de desobediência (art. 330 do CPB). Assim, a julgar pela data da concessão das medidas protetivas, forçoso é reconhecer que o conduzido desconsiderou a decisão daquele Juízo, merecendo por isso, ser acautelado, até porque, verifica-se, in casu, o periculum libertatis do conduzido. Assim, considerando que encontram-se presentes os requisitos e as circunstancias que autorizam a decretação da prisão preventiva do agente, (artigos 312 e 313, do Código de Processo Penal), considerando finalmente estar atendido o comando insculpido no art. 313, III, do CPP, converto a prisão em flagrante do autuado em prisão preventiva, nos termos do art. 310, II do CPP" (e-STJ fls. 24 a 26). Inconformada, a defesa ingressou com remédio constitucional perante o Tribunal de Origem, o qual, entendendo suficiente e fundamentada a decisão de primeiro grau, denegou-lhe a ordem, nos seguintes termos: "Segundo consta da decisão combatida (ff. 17/19), o ora paciente foi preso em flagrante em 08/03/2012 pela suposta prática dos delitos tipificados nos arts. 147 c/c 129, § 9º, e 330, todos do CP, tendo sua prisão sido convertida em preventiva pelo MM. Juiz a quo por meio da decisão de ff. 17/19, em virtude de ele supostamente ter descumprido medidas protetivas de urgência anteriormente deferidas pelo Juízo em favor da vítima. Compulsando os autos, verifica-se que a decisão combatida se encontra fundamentada, baseando-se na necessidade de garantia da ordem pública, para garantir a integridade da vítima, bem como para Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 7 de 12 Superior Tribunal de Justiça garantir a execução das medidas protetivas de urgência, assim se manifestando a digna autoridade apontada coatora, verbis: "(...) Como se vê, o paciente, em tese, ameaçou e agrediu fisicamente sua ex-companheira, descumprindo, assim, as medidas protetivas que lhe haviam sido impostas cerca de um mês antes da ocorrência dos fatos em comento, conforme se verifica da leitura da decisão cuja cópia encontra-se à f. 16, o que demonstra a necessidade de manutenção de sua segregação cautelar, nos termos dos arts. 312 e 313, III, ambos do CPP. [...]. Ademais, ao contrário do alegado na inicial, o paciente é reincidente, conforme se verifica de CAC acostada às ff. 37/39, o que reforça a necessidade da medida cautelar, com vistas à garantia da ordem pública, a fim de evitar reiteração delitiva. Assim, impõe-se concluir que a manutenção da questionada prisão se justifica, porquanto demonstrada a necessidade de subtrair do paciente a sua liberdade, para garantia da ordem pública" (e-STJ fls. 66 a 68). No que toca à alegada prescindibilidade da custódia preventiva do paciente, não há que se olvidar que, de fato, as prisões cautelares materializam-se como exceção às regras constitucionais e, como tal, sua incidência em cada caso concreto deve vir fulcrada em elementos que demonstrem a sua efetiva necessidade no contexto fático-probatório apreciado. E em que pese os argumentos expendidos na impetração, verifica-se que o paciente descumpriu as medidas protetivas impostas pelo Juízo Criminal, voltando a proferir ameaças contra vítima, inclusive agredindo-a fisicamente, razão por que se mostra necessária a custódia cautelar, nos termos em que ordenada, vez que evidente a periculosidade do agente, ensejando a imprescindibilidade de garantir-se a integridade física da sua ex-companheira e de todos aqueles que com ela convivem e, numa dimensão maior, acautelar a ordem pública. Além disso, verifica-se que o enclausuramento do paciente encontra-se motivado também para fazer cessar a reiteração criminosa, que, no caso em espécie, não se trata de mera presunção, mas de risco concreto, pois, Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 8 de 12 Superior Tribunal de Justiça conforme destacado pela Corte Estadual, o paciente "é reincidente, conforme se verifica de CAC acostada às ff. 37/39" (e-STJ fls. 68) e descumpriu as medidas protetivas a ele impostas, circunstâncias que revelam a propensão à prática delitiva e bem demonstram a sua periculosidade e a real possibilidade de que, solto, volte a delinquir, afastando o alegado constrangimento ilegal de que estaria sendo vítima. Segundo a doutrina de JULIO FABBRINI MIRABETE: "Fundamenta em primeiro lugar a decretação da prisão preventiva a garantia da ordem pública, evitando-se com a medida que o delinquente pratique novos crimes contra a vítima ou qualquer outra pessoa, quer porque seja acentuadamente propenso à prática delituosa, quer porque, em liberdade, encontrará os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida" , concluindo que "está ela justificada se o acusado é dotado de periculosidade, na perseverança da prática delituosa, ou quando denuncia na prática do crime perversão, malvadez, cupidez e insensibilidade moral" (Código de Processo Penal interpretado. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 803) Nesse sentido, o seguinte precedente desta Corte Superior de Justiça: CRIMINAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER (LEI MARIA DA PENHA). DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS IMPOSTAS. COMPORTAMENTO REITERADO. RISCO CONCRETO. PRISÃO PREVENTIVA. SEGREGAÇÃO CAUTELAR DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. ART. 313, IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. LIBERDADE PROVISÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. I. Hipótese em que a necessidade da segregação cautelar restou demonstrada por meio de elementos concretos constantes dos autos, notadamente em face ao descumprimento reiterado das medidas protetivas impostas. II. O art. 313, inciso IV, do Código de Processo Penal dispõe que se o crime doloso cometido pelo agente envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, a prisão preventiva se legitima como forma de garantir a execução das medidas protetivas de urgência, recomendando-se maior cautela a fim de evitar nova incidência delituosa. III. Correto e justificado o indeferimento da liberdade provisória pleiteada. IV. Recurso desprovido. (RHC 30.923/PR, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 19/06/2012) Ademais, mencionou-se, ao manter a custódia do denunciado, a Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 9 de 12 Superior Tribunal de Justiça necessidade de se preservar a instrução criminal, tendo em vista que, conforme consignado pelo Juízo Singular, a vítima relatou que "[...] desde que foram-lhe concedidas Medidas Protetivas, o autor não lhe dá mais sossego, e que as coisas pioraram após a ordem judicial determinando que o autor se mantivesse longe da vítima" (e-STJ fls. 25) e, consoante entendimento deste Sodalício, "as ameaças dirigidas às testemunhas ou vítimas são, per se, fundamento suficiente para manutenção da segregação cautelar" (HC n.º 136.942/RS, QUINTA TURMA, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3-11-2009, DJe 7-12-2009). Nesse sentido: PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA. PRISÃO PREVENTIVA. PACIENTE QUE, APÓS O CONHECIMENTO DE INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL VISANDO A APURAR SUPOSTA OCORRÊNCIA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, TORNOU PARCIALMENTE CUMPRIDAS SUAS ANTERIORES AMEAÇAS, NOVAMENTE AMEAÇOU E AGREDIU FISICAMENTE SUA EX-MULHER. DECRETO PRISIONAL DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. A imposição da custódia preventiva encontra-se suficientemente fundamentada, em face das circunstâncias do caso que, pelas características delineadas, retratam, in concreto, a periculosidade do agente, a indicar a necessidade de sua segregação. 2. A Lei n.° 11.340/2006 introduziu, na sistemática processual penal relativa às prisões cautelares, mais uma hipótese autorizadora de prisão preventiva, ao estabelecer, no artigo 313, inciso IV, do Código de Processo Penal, a possibilidade desta segregação cautelar para garantir a eficácia das medidas protetivas de urgência. 3. Na espécie, diante da notícia de que o ora Paciente, mesmo após cientificado, na delegacia, do inquérito instaurado para apurar a ocorrência de violência doméstica, fez novas ameaças de morte contra a vítima e causou-lhe lesões corporais, acertada, pois, a decretação de sua custódia preventiva. Precedentes. 4. Ordem denegada. (HC 165.075/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 06/03/2012) Outrossim, no que se refere à aplicação da Lei n. 12.403/2011, verifica-se inviável a incidência de medida cautelar diversa da prisão ao paciente, pois como bem destacado pelo acórdão objurgado: "conforme os preceitos da Lei 11.340/06, é imperiosa a adoção de medidas aptas a garantir a proteção da mulher. A segregação provisória do paciente é necessária para tal fim, uma vez que a anterior aplicação de medidas protetivas alternativas à prisão não se mostrou Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 1 0 de 12 Superior Tribunal de Justiça suficiente, mantendo ele, conforme relatado nos autos, um histórico de ameaças contra a vítima (ff. 11/13)" (e-STJ fls. 67 e 68), sendo assim de rigor sua prisão. A propósito: CRIMINAL. HABEAS CORPUS. ROUBO QUALIFICADO. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PREVENTIVA. ART. 311 DO CPP. NULIDADE DO PROCESSO-CRIME NÃO EVIDENCIADA. REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA. NECESSIDADE DE GARANTIR A ORDEM PÚBLICA. ORDEM DENEGADA. I. Conforme a novel redação do art. 310 do CPP, conferida pela Lei 11.430/11, o Magistrado, ao tomar ciência da prisão em flagrante, deverá, de modo fundamentado, relaxar a custódia ilegal; conceder liberdade provisória, com ou sem fiança; ou decretar a segregação preventiva do agente. [...] III. A prisão cautelar é medida excepcional e deve ser decretada apenas quando devidamente amparada pelos requisitos legais previstos na legislação de regência, em observância ao princípio constitucional da presunção de inocência ou da não culpabilidade, sob pena de antecipar a reprimenda a ser cumprida quando da condenação definitiva. IV. Evidencia-se a concreta possibilidade de reiteração delitiva, porquanto o réu já foi condenado pela prática de outros três delitos contra o patrimônio, tratando-se de reincidente específico, o que denota a necessidade de se resguardar a ordem pública. V. Se demonstrada a probabilidade real de o réu voltar a deliquir caso seja posto em liberdade, não se vislumbra, igualmente, a possibilidade de aplicação de medida cautelar menos gravosa do que a prisão, conforme a nova dicção do art. 319, conferida após o advento da Lei nº 12.403/11. VI. Ordem denegada, nos termos do voto do Relator. (HC 228.915/MG, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 15/03/2012, DJe 22/03/2012). Não se deparando, portanto, com flagrante ilegalidade no ato apontado como coator, não se conhece do habeas corpus substitutivo. É o voto. Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 1 1 de 12 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA Número Registro: 2012/0107060-4 HC 243.611 / MG MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 10000120503578 145110630061 EM MESA JULGADO: 06/11/2012 Relator Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. ALCIDES MARTINS Secretário Bel. LAURO ROCHA REIS AUTUAÇÃO IMPETRANTE ADVOGADO IMPETRADO PACIENTE : : : : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS NÁDIA DE SOUZA CAMPOS - DEFENSORA PÚBLICA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS LUCIANO ARRUDA (PRESO) ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL - Prisão Preventiva CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido." Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze, Campos Marques (Desembargador convocado do TJ/PR) e Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ/SE) votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Laurita Vaz. Documento: 1191802 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 04/12/2012 Página 1 2 de 12