Diagnóstico e tratamento das infecções neonatais Uso Racional de antimicrobianos Felipe T de M Freitas NCIH – HMIB www.paulomargotto.com.br Brasília, 19 de junho de 2014 Infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) em neonatologia Infecção congênita (transplacentária) Origem materna Sepse precoce: < 48h Origem hospitalar Tardia: > 48h Etiologia da Sepse Precoce Streptococcus agalactiae Escherichia coli Listeria monocytogenes Outros estreptococcos Staphylococcus aureus Enterobactérias > 80% Porém, o diagnóstico de infecção precoce no recém-nascido é difícil O recém-nascido não focaliza a infecção Os sinais e sintomas são inespecíficos Outras afecções perinatais, como doença da membrana hialina, cardiopatia congênita, outras má formações, hemorragia, anemia... O principal fator de bom prognóstico no caso de sepse é o tempo entre o início da infecção e o início do antibiótico adequado Porém,... O uso abusivo de antimicrobiano pode gerar iatrogenias e levar a resistência bacteriana 95% dos RN que recebem ampicilina+gentamicina tem culturas negativas O tratamento com ampicilina e gentamicina por 7 dias em RN com culturas negativas e baixa evidência de infecção aumenta o risco de sepse tardia, enterocolite necrotizante e ÓBITO Na suspeita de sepse neonatal, nunca deixamos o recém-nascido sem cobertura antibiótica Na suspeita, sempre entramos com o antibiótico Quando afastado infecção, suspendemos o antibiótico O segredo do uso racional de antimicrobianos em neonatologia é saber a hora certa de SUSPENDER o antimicrobiano Importante conhecer os principais agentes etiológicos do seu hospital e utilizar os antimicrobianos de espectro adequado, na dose e duração adequada Rastrear infecção no recém-nascido com infecção suspeita Rastreamento de infecção no RN Dados história clínica – Fatores de risco maternos para infecção neonatal Dados microbiológicos – Hemocultura – Líquor Dados de exames complementares – Hemograma – Proteína C reativa Fatores de risco materno • Bolsa rota maior que 18 horas • Trabalho de parto em gestação menor que 35 semanas • Procedimentos de medicina fetal nas últimas 72 horas • Cerclagem • Infecção do trato urinário materna sem tratamento ou em tratamento nas últimas 72 horas • Febre materna nas últimas 48 horas • Corioamnionite • Colonização por estreptococo B em gestante, sem quimioprofilaxia intraparto, quando indicada Quando colher os exames? • Na suspeita de sepse precoce recomenda-se colher hemocultura(s) antes do início da antibioticoterapia empírica • O hemograma e a PCR deverão ser colhidos preferencialmente entre 12 e 24 horas de vida, por apresentar melhor especificidade que amostras colhidas ao nascimento • Repetir com 48 e 72 horas de vida Proteína C Reativa • Considera-se valor normal da PCR <1mg/dL pelos métodos quantitativos (por exemplo: nefelometria). • Considerar que as causas não infecciosas podem elevar a PCR: síndrome do desconforto respiratório, hemorragia intraventricular, síndrome da aspiração do mecônio e outros processos inflamatórios Escore hematológico de Rodwell • Leucocitose ou leucopenia (considerar leucocitose > 25.000 ao nascimento ou > 30.000 entre 12 e 24 horas ou > 21.000 acima de 48 horas de vida. Considerar leucopenia < 5.000) • Neutrofilia ou neutropenia • Elevação de neutrófilos imaturos • Índice neutrofílico aumentado (razão dos neutrófilos imaturos sobre os segmentados > 0,3) • Alterações degenerativas nos neutrófilos com vacuolização e granulação tóxica • Plaquetopenia < 150.000 Hemograma Leucometria e contagem de plaquetas: Escore de Rodwell > 3: grande probabilidade de sepse neonatal apresenta melhor sensibilidade => Escore de Rodwell Leucocitose ou Leucopenia 1 Neutrofilia ou Neutropenia 1 Neutrófilos imaturos 1 Relação imaturos/segmentados* 1 Vacuolização ou Granulação 1 Tóxica Plaquetas < 150.000/mm3 1 Interpretação Ao final de 72 horas: – Checar o resultado da hemocultura – Avaliar os resultados do PCR – Hemograma – critérios de Rodwell Um escore ≥ 3 oferece sensibilidade de 96% e especificidade de 78%, e um escore de 0, 1 ou 2 fornece um valor preditivo negativo de 99% para sepse Se todos exames negativos, suspender o antibiótico Qual antibiótico? Ampicilina + Gentamicina Por que? Qual o espectro de ação? Duração? 7 dias se sepse 10 dias se alteração na radiografia de tórax 14 dias se meningite Quando colher líquor? Hemocultura positiva ou RN com grande suspeição de sepse Resumo - Sepse precoce Leucograma com diferencial (avaliar escore hematológico) + PCR + Hemocultura Radiografia de tórax se desconforto respiratório Considerar punção lombar Exames normais (escore < 3) e hemocultura negativa Exames alterados (escore ≥ 3) ou hemocultura positiva ou RX de tórax com pneumonia ou líquor alterado Exames alterados (escore ≥ 3) ou hemocultura negativa ou RX de tórax sem pneumonia ou líquor normal Suspender ATM com 48-72 horas Tratar sepse por 710 dias, pneumonia por 10 dias e meningite por 1421 dias Se resolução do quadro clínico em 24 horas ou quadro compatível com causa não infecciosa, considerar suspensão do ATM Etiologia da Sepse Tardia Gram positivos – Estafilococos coagulase negativo – Staphylococcus aureus – Enterococcus faecalis Gram negativos – Enterobactérias: Klebsiella sp, Enterobacter sp, Serratia marcescens – Não fermentadores de glicose: Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumanii Tratamento empírico para cobertura dos principais gram positivos e gram negativos Espectro adequado, alta sensibilidade, baixa indução de resistência e baixo custo Oxacilina + Amicacina ou Vancomicina + Amicacina (risco de nefrotoxicidade) Se foco abdominal (enterocolite), opção Piperacilina + Tazobactam Reservar cefalosporinas para meningite Cefepime ou cefotaxima Reservar carbapenêmico para infecções multirresistentes Meropenem Terapia empírica precoce para infecção fúngica • Peso ao nascer < 1500g ou RN grave • Neutropenia ou plaquetopenia • Uso anterior de antibióticos de largo espectro (cefepime, vancomicina ou carbapenêmicos) por 7 dias ou mais • Apresentar um dos fatores abaixo: – – – – – Nutrição parenteral Ventilação mecânica Uso de corticóide Uso de bloqueadores H2 Candidíase mucocutânea Reduziu mortalidade! Manejo • Anfotericina B 1mg/kg/dia após coleta de hemocultura e líquor • Se insuficiência renal ou intolerância à anfo B – Fluconazol (resistência de C. krusei e C. glabrata) – Anfotericina lipossomal (não cobre o sistema urinário) – Micafungina • Pesquisa de foco profundo – Fundo de olho, ecocardiograma, ultrassom abdominal (avaliação para abscesso hepático e renal) e de sistema nervoso central • Trocar o acesso venoso central • Tratar por 14 dias após a última hemocultura positiva ou cultura negativa por 21 dias, ou 4-6 semanas se foco profundo Resumo - Sepse Tardia Estafilococo Coagulase Negativo Remover CVC e tratar com antibiótico sistêmico 5-7 dias. Se CVC mantido, antibiótico sistêmico por 14 dias + hemocultura de controle em 72h* + desviar NPT. Estafilococo Aureus Remover CVC e tratar com antibiótico sistêmico 14 dias. Se foco profundo tratar por 4-6 semanas. Bacilo Gram Negativo e Enterococo sp Candida sp Remover CVC e tratar com antibiótico sistêmico 7-14 dias. Remover CVC e tratar com antifúngico sistêmico 14 dias a partir da 1ª hemocultura negativa. Se foco profundo, tratar 4-6 semanas. * Se hemocultura após 72h de tratamento for positiva, retirar o cateter e tratar por 5-7 dias após retirada do cateter. No HMIB Gram Positivos UTIN/HMIB 2013 N % Gram + % Total Estafilococo Coagulase Negativo 128 79% 55% Staphylococcus aureus 17 10% 7% Enterococcus faecalis 10 6% 4% Streptococcus agalatiae 4 2% 2% Outros 3 2% 1% Total Gram + 162 100% 69% Patógenos Gram Positivo UTIN/HMIB 2013 Total Gram + 162 Outros Gram + 3 Estreptococo Agalatiae 4 Enterococo 10 Estafilococo aureus 17 Estafilococo Coagulase Negativo 128 0 50 100 150 200 Resistência Gram Positivo UTIN/HMIB 2013 Estafilococo coagulase negativo – 94,5% de resistência à oxacilina Staphylococcus aureus – 0% de resistência à oxacilina Enterococcus faecalis 0% de resistência à ampicilina • Streptococcus agalactiae – 0% de resistência à ampicilina Patógenos Gram Negativo UTIN/HMIB 2013 N % Gram - % Total Klebsiella 23 36% 10% Enterobacter 18 28% 8% Serratia 6 9% 3% Pseudomonas 1 1% 0,5% Acinetobacter 3 5% 1% Stenotrophomonas 1 1% 0,5% E.coli 10 15% 4% Outros 2 3% 1% Total Gram - 64 100% 28% Patógenos Gram Negativo UTIN/HMIB 2013 Total Gram - 64 Outros Gram - 2 E.coli 10 Stenotrophomonas 1 Acinetobacter 3 Pseudomonas 1 Serratia 6 Enterobacter 18 Klebsiella 23 0 20 40 60 80 Resistência Gram Negativo UTIN/HMIB 2013 30% 28% 25% 20% 19% 15% 10% 9% 5% 0% 0% Amicacina Resistente Cefepime Resistente Meropenem Resistente Total Resistência Gram - Candida UTIN/HMIB 2013 N % Candida % Total Candida albicans 4 50% 1,5% Candida parapisilosis 4 50% 1,5% Total Candida 8 100% 3% Dúvidas? [email protected] Ramal: 7627 Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto. Consultem também! Manual de recomendações do Núcleo de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Materno Infantil de Brasília Autor(es): Felipe Teixeira, Coordenador do Núcleo de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Materno Infantil de Brasília