RESENHA1 BIDERMAN, Ciro; COZAC, Luis Felipe L.; REGO, José Marcio. Conversas com Economistas Brasileiros. Roberto de Oliveira Campos. São Paulo: Editora 34, 1996 p. 31-59. O bloco principal de Conversas é aberto pela entrevista com Roberto de Oliveira Campos. Nascido em Cuiabá em 17 de abril de 1917, Campos formou-se em Teologia e Filosofia em Minas Gerais e, posteriormente, concluiu seu mestrado em Economia na Universidade George Washington, na capital norte-americana. Logo que se formou, Campos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou por via de concurso público para o Itamaraty. Em 1942, foi transferido para a seção comercial da Embaixada Brasileira em Washington. A história de Campos foi marcada, principalmente, pela sua pluralidade, tendo em vista suas inúmeras atuações tanto no setor público quanto no setor privado. Inicialmente, Campos disserta sobre a teoria dos ciclos econômicos de Gottfried Haberler, economista austríaco que havia sido seu professor em Washington. Segundo esta teoria, as economias das nações subdesenvolvidas são meramente reflexivas, isto é, refletem os momentos de crise ou de prosperidade dos países ricos. À época de seu mestrado, Campos ocupou-se de estudar como os ciclos econômicos se propagavam das economias desenvolvidas para as reflexivas. Esta propagação se daria de duas formas: pela contaminação comercial, através dos booms de crescimento, e pela propagação financeira, através dos fluxos de capitais. Campos considera Haberler e Nurkse, ambos da Universidade George Washington, como os professores mais importantes que teve. Entretanto, Eugênio Gudin foi quem mais o influenciou em sua formação profissional, através do seu livro Princípios de Economia Monetária. Campos afirma que Gudin era um verdadeiro visionário da época que, muitas vezes, era tido como antipático por fazer oposição à tese de Roberto Simonsen de que o desenvolvimento industrial era associado à ideia de poder e riqueza, tese essa, apoiada pela mídia e pela população. O entrevistado comenta que antes da criação da ONU, os países eram “classificados” simplesmente em atrasados ou adiantados, ricos ou pobres, denotando um considerável grau de pessimismo e, por que não, preconceito. Foi só depois da criação da organização, com seus órgãos de cooperação internacional, que passou-se a utilizar expressões mais brandas, tais quais 1 Esta resenha foi produzida pelos acadêmicos de ciências econômicas da Faculdade de Economia da UFJF Gustavo Oliveira Martins e Túlio Mesquita Belgo sob orientação do professor Lourival Batista de Oliveira Júnior dentro das atividades do programa Jovens Talentos para a Ciência da CAPES. “país subdesenvolvido” – implicando que se tratava de uma condição temporária – depois, “países menos desenvolvidos”, “países em desenvolvimento”, etc. Durante a entrevista, Campos questiona a nova metodologia das faculdades de Economia de modo geral, cada vez mais dependentes da Matemática e da Econometria. Ele simpatiza mais com o método austríaco, menos “numérico”, e que valoriza mais as motivações da ação humana do que fórmulas abstratas. Para o entrevistado, o Brasil vive não um regime capitalista, mas pré-capitalista, encontrando-se na fase do mercantilismo patrimonial. Ainda segundo ele, atualmente há muita confusão sobre dois conceitos que apesar de parecidos são na verdade bastante diferentes: os conceitos de governo e de Estado. Enquanto o primeiro é puramente abstrato, o segundo é real e tangível, formado por pessoas que visam o lucro econômico e benefícios empregatícios. De acordo com Campos, o mercado é um mecanismo de sinalização e coordenação insubstituível. Segundo ele, os mercados "(...) são instituições evolutivas que nasceram espontaneamente do consciente coletivo" (CAMPOS in BIDERMAN et al. Conversas com Economistas Brasileiros, 1996, p. 43). Campos afirma que um dos mais graves problemas da economia brasileira é que se fala demais da existência de falhas de mercado, sem que se busque corrigi-las. O entrevistado põe ênfase na diferença entre crescimento e desenvolvimento. Para ele, crescimento é um conceito quantitativo, como o índice de desenvolvimento humano (IDH). Já o conceito de desenvolvimento é algo muito mais subjetivo. Campos destaca que foi ingênuo ao considerar o governo como o grande "descobridor de oportunidades”. Com isso, ele salienta a importância do capital privado para uma economia forte. Isto porque, além dos benefícios óbvios que ele traz ao país, os empresários possuem a capacidade de pensar longe, enquanto que o governo, ao sofrer de pressões políticas e senso de descontinuidade, é , de certa maneira, incapaz de fazer o mesmo. Dessa forma, o papel do governo seria o de criar um ambiente institucional favorável à iniciativa privada, e garantir a concorrência. Um dos pontos finais da entrevista é o destaque à criação do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), que protagonizou o “milagre econômico” durante o governo militar. Campos deixa clara a importância deste programa para a estabilização inflacionária, para a criação de instituições como o Banco Central e também para as reformas bancária e tributária no país. Por fim, o entrevistado revela sua discordância, de forma geral, com os postulados da CEPAL. Para ele, o investimento direto estrangeiro é algo bom, enquanto que os empréstimos com outros países e instituições internacionais deveriam ser encarados como última medida, não como algo trivial.