A PERCEPÇÃO DOS DISCENTES DOS CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO SOBRE A FORMAÇÃO SUSTENTÁVEL NAS IES DA RMBH Autoria: Mariana Pessoa Mascarenhas, Wendel Alex Castro Silva RESUMO Este trabalho tem como principal objetivo analisar a percepção do corpo discente dos cursos de Administração das IES da RMBH – MG quanto ao ensino e aprendizagem na formação da nova geração de Administradores para a Sustentabilidade. O modelo teórico utilizado foi baseado na pesquisa de Hart e Milstein (2004) e Sgarbi et al. (2008) definindo 47 jargões sustentáveis presentes em estudos relacionados à Administração. Para tal análise, trinta e duas IES que possuem disciplinas de sustentabilidade ou relacionadas à temática foram selecionadas. Em seguida, houve uma estratificação dos discentes que cursaram ou estavam cursando as disciplinas para um questionamento relacionado à formação sustentável baseada nos 47 jargões dos autores Hart e Milstein (2004) e Sbargi et al. (2008). A pesquisa, predominantemente descritiva e de abordagem quantitativa, coletou os dados através de pesquisa bibliográfica e questionário estruturado aplicado aos discentes. As variáveis categóricas dos quadrantes apresentados no modelo teórico e sofreram análise multivariada. Contudo, as percepções do corpo discente quanto a formação sustentável foram associadas à formação exigida pelo MEC segundo as diretrizes curriculares dos cursos de Administração, bacharelado. Palavras-chave: Administração, formação sustentável, discentes, IES, jargões. ABSTRACT This paper has as objective to analyze the perception of the student of the business of IES in metropolitan area of Belo Horizonte - MG for sustainable education of next generations. The framework used was based on research Hart and Milstein (2004) and Sgarbi et al. (2008) defines sustainable jargon present in 47 studies related to Administration. For this analysis, thirty-two HEIs that have sustainability disciplines or related to the theme were selected. Then there was a stratification of students who attended or were attending disciplines related to sustainable. The questionnaire was based on 47 jargons presented by Hart and Milstein (2004) and Sbargi et al. (2008). The research have predominantly descriptive and quantitative approach, the data collected through by structured questionnaire given to the students. Categorical variables of the quadrants shown in the theoretical model and suffered multivariate analysis. Finally, we realizing that perceptions of the student body as a sustainable education were associated with the required by MEC according to the guidelines of the courses of Management. Keywords: management, sustainability, students, IES, sustainability jargon _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 1/15 1 - INTRODUÇÃO A sustentabilidade representa um importante convite para repensar o ensino superior e a formação dos futuros administradores. Além de uma formação tecnicista e gerencial, as IES devem educar indivíduos responsáveis e comprometidos com a sustentabilidade interna e externa às organizações. Freitas e Araújo (2009) observam que inovação, conhecimento e responsabilidade social vêm sendo motivo de novas pesquisas e investigações das ciências sociais aplicadas, parecendo concentrar preocupações atuais de nossa sociedade. As empresas privadas e universidades envolvidas com essas novas orientações vêm pautando programas em diferentes enfoques, de forma a avançar na construção desses conceitos. Uma forma de inovar, com pesquisas e práticas relacionadas às ciências sociais aplicadas, seria por meio de empreender nos cursos de graduação, trabalhar de maneira interdisciplinar a sustentabilidade (PARDINI, SANTOS 2008). Neste sentido, para auxiliar a adaptação das IES às inovações na formação dos administradores alguns autores apresentam estudos com a formação dos gestores para a sustentabilidade. Estes estudos incentivam a formação e prática sustentável nas IES como “janela de oportunidade” para a melhoria e inovação nos cursos de Administração e na formação dos novos gestores, sendo eles: Jacobi et al (2011), Godarth et al (2011), Marujo e Núnez (2010), Eraso (2003); Barbieri e Silva (2011), Carvalho e Farias (2011), Palma, Alves e Bona (2011); Silva e Corrêa (2012), Demajorovic e Silva (2012) e Gonçalves-Dias et al (2011). Para o desenvolvimento desta pesquisa é necessário identificar qual a formação sustentável dos discentes das IES da RMBH na percepção dos sujeitos da pesquisa e qual o valor sustentável está sendo agregado aos mesmos, levando consequentemente, o conhecimento da gestão sustentável ao mercado e gerando valor aos acionistas e stakeholders das empresas. Deste modo, serão utilizados os modelos de Sgarbi et al. (2008) e os de Stuart Hart e Milstein (2004) identificando, respectivamente, os jargões sustentáveis e o valor sustentável ao acionista. 2 – REFERENCIAL TEÓRICO O estudo de Hart e Milstein apresentado e publicado na RAE (2004) discorre sobre a tomada de decisão gerencial que pode trazer valor ao acionista. Já Sgarbi et al (2008) apresenta um modelo por meio das quatro dimensões da sustentabilidade com dimensões multivariáveis rumo a conquistar valor ao acionista. A utilização e escolha destes autores e modelos se complementam, pois, após a apresentação do modelo por Hart e Milstein em (2004) Sgarbi et al. em (2008) fizeram uma pesquisa bibliográfica nos anais, disponíveis na internet, do EnANPAD – Encontro da Associação Nacional dos programas de Pós-Graduação em Administração – Engema – Encontro Nacional Sobre Gestão e Meio Ambiente, SIMPEP – Simpósio de Engenharia e Produção e, também, nas revistas eletrônicas: RAEe, RACe, READe e Gestão.org, no período dos últimos cinco anos de publicação, onde identificaram os jargões utilizados para a definição e relação do _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 2/15 negócio à sustentabilidade na produção acadêmica brasileira de Administração e Engenharia de Produção. Uma pesquisa sobre a Integração do tema sustentabilidade na formação de Administradores como estudo de caso na PUC-SP foi realizada por Telles (2011) com a recíproca utilização dos modelos, obtendo-se um resultado satisfatório. Deste modo pretende-se utilizar os modelos de Hart e Milstein (2004) e Sgarbi et al (2008) em um estudo mais amplo com as IES da RMBH sobre a efetiva formação dos administradores para a sustentabilidade empresarial. Hart e Milstein (2004) defendem que os quadrantes apresentados no modelo multidimensional servem como direcionamento empresarial para que se tenha um bom desempenho, pois se obter a sustentabilidade empresarial é um desafio multidimensional. Motivadores: revolução, Tecnologia limpa Marcas Interno Motivação: Poluição, resíduos e consumo Estratégia: Tecnologia limpa Desenvolve as competências sustentáveis do futuro Retorno corporativo: Inovação e Reposicionamento Estratégia: Combate à poluição; Minimiza resíduos e emissões das operações Amanhã Estratégia: Visão de sustentabilidade Cria um mapa comum para atender as necessidades não satisfeitas Motivadores: População;Pobreza e Desigualdade Retorno corporativo: Crescimento e Trajetória Valor ao acionista Retorno corporativo: Hoje Redução de custo e Hoje de risco. Estratégia: Gerenciamento de produto Integra a perspectiva do stakeholder ao negócio Retorno corporativo: Reputação e Legitimidade Externo Motivadores: Sociedade Civil, transparência e Conectividade Figura 1: Modelo de valor sustentável apresentado conforme aplicação dos quatro conjuntos motivadores, por Hart e Milstein (2004) Fonte: Modelo de valor sustentável (HART, e MILSTEIN, 2004, p.7) A figura acima denominada como modelo de valor sustentável demonstra em seu quadrante 1 (superior e na direita) o avanço das preocupações atuais rumo ao futuro olhando para o ambiente externo. Neste quadrante a preocupação está no reposicionamento do mercado buscando satisfazer as necessidades sustentáveis dos stakeholders. Para Sgarbi et al. (2008) este quadrante possui como motivadores a população civil, a pobreza, a desigualdade social e o crescimento planejado pela organização deverá ser pautado à estes fatores. No quadrante 2 (superior e na esquerda) a preocupação é interna e deve ser pautada no reposicionamento de produtos e serviços para atender e satisfazer as necessidades dos clientes, associada a _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 3/15 produção e tecnologias limpas. O quadrante 3 (inferior e na esquerda) apresenta a preocupação atual das organizações quanto a redução dos resíduos, custos, poluição ambiental e consumo consciente e, por fim, o quadrante 4 (inferior e na direita) refere-se às empresas quanto ao atendimento ao mercado externo atualmente. Neste quadrante a empresa gerencia o retorno e reconhecimento do mercado quanto às práticas atuais da sustentabilidade. Sgarbi et al. (2008) apresentam suas críticas ao modelo acima apresentado quanto aos quatro conjuntos de motivadores que devem nortear as empresas na busca da sustentabilidade global dos negócios, pois ajudam a identificar as estratégias, práticas, motivadores e retornos corporativos que maximizam este valor ao acionista. Dentre elas, destacam-se: a crescente industrialização que consome os recursos naturais e gera poluição e aumento dos resíduos, a proliferação, aumento e interligação dos stakeholders da sociedade civil, as tecnologias emergentes e o aumento da pobreza, desigualdade social e da população em geral. Após a apresentação do modelo de Hart e Milstein (2004), o estudo de Sgarbi et al (2008) nas pesquisas brasileiras da Administração e Engenharia de Produção dos últimos 5 anos apresentou como conclusão os “jargões da sustentabilidade” considerados para os autores como termos e expressões comuns dos estudiosos da sustentabilidade. Estes jargões se totalizam em 47 expressões que podem ser distribuídas conforme o Modelo de Valor Sustentável ao acionista de Hart e Milstein (2004) dentro dos quadrantes motivadores. Hart (2005) diz que é possível utilizar o Modelo de Valor Sustentável para agrupar e classificar expressões da sustentabilidade. Com base nestas expressões sustentáveis de Sgarbi et al (2008) foi elaborado uma adaptação do Modelo de Valor Sustentável ao acionista elaborado por Hart (2005) onde os jargões foram classificados e distribuídos entre os quadrantes motivadores multivariáveis, exigindo uma análise multidimensional. Amanhã Bases de informações sócioambientais Ecodesign Ecoeficiência Eficiência Energética Inovações Tecnológicas Produção mais limpa Produtos ecologicamente orientados Revolução verde Tecnologia limpa Tecnologia verde Valor ao Interno acionista Base da pirâmide Conservação da biodiversidade Desenvolvimento de áreas deterioradas Desenvolvimento sustentável Empreendedorismo social Estímulo à melhoria da qualidade de vida da população Função do bem-estar Reinvestimento urbano Triplo resultado Externo Atender à legislação ambiental e Cidadania corporativa sócial Contabilidade ambiental (ir além) Divulgação de balanço social Auditoria ambiental Gerenciamento de ciclo de vida de Certificação ambiental produto Consumo verde Gerenciamento de stakeholders Controle da poluição Gestão dos impactos ambientais Gerenciamento ambiental Gestão ética _________________________________________________________________________ Gestão de resíduos Corporativa Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil Governança – 07 e 08/11/2013 Gestão de riscos ambientais Projeto Verde 4/15 Gestão sócio-ambiental Regulamentação voluntária ISO 14000 Responsabilidade ambiental Prevenção de poluição Responsabilidade Social corporativa Hoje Figura 2: A classificação dos jargões da sustentabilidade Fonte: Adptação do modelo de Hart (2005) por Sgarbi et al (2008) Como resultado da adaptação do modelo de Hart (2005) por Sgarbi et al. (2008) observam que a empresa pode ter uma eficiência energética associada à eficiência de recursos e prevenção da poluição fazendo “mais” por “menos”. Os autores Sgarbi et al. (2008) ainda dizem que para a classificação neste quadrante aconteça é necessário saber a atual industrialização, geração de resíduos, poluição e gestão dos recursos naturais e materiais do negócio. Sgarbi et al. (2008) afirmam que no quadrante inferior direito são encontrados os termos que direcionam suas ações de transparência nas empresas, no envolvimento dos stakeholders e na gestão do ciclo de vida dos produtos. Já Hart (2005) afirma que neste quadrante os itens agrupados estão além do controle operacional direto e provocam operações de forma transparente e receptiva. Isto, pois, uma base cada vez maior de stakeholders ativos e informados pressionam as empresas a adotarem ações inovadoras, sustentáveis e sócio ambientalmente responsáveis. Também no quadrante inferior direito, a Contabilidade Ambiental vem ganhando espaço no meio empresarial e educacional. A realização de práticas relacionadas com a implementação, evolução e controle da gestão do meio ambiente justifica o desenvolvimento de um sistema de informação que permite a organização não somente preparar e administrar informações úteis para a tomada de decisões a nível interno como também sua divulgação ao nível externo da organização. Neste sentido, a adoção de práticas da contabilidade ambiental é um caminho que qualquer organização, seja ela pública ou privada deverá seguir para melhorar o seu sistema de informação. (Ribeiro e Guzmán, 2010 p. 120) No quadrante superior esquerdo se encontram os termos que destacam o desenvolvimento de novas tecnologias, produção e aptidões limpas. Na busca da evolução rumo aos aspectos sustentáveis, o desenvolvimento ou aquisições de tecnologias emergentes pelas empresas se enquadram nesse ponto. Já no quadrante superior direito se destacam os aspectos externos e futuros que trarão melhorias para as empresas quanto o desenvolvimento sustentável, pelas dimensões: social, econômica e ambiental, triple botton line ou tripé da sustentabilidade. _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 5/15 O conceito do TBL (Triple Bottom Line) ou o tripé da sustentabilidade que abrange os aspectos econômicos, social e ambiental, passou a ganhar espaço no meio acadêmico e fazer parte das estratégias das empresas como inovação e geração de valor (ELKINGTON, 1997 apud MASCARENHAS, SILVA, 2013 p.65). Sgarbi et al. (2008) corroborando o estudo de Hart e Milstein (2004) colaboram para uma análise complexa empresarial, utilizando-se de variáveis multidimensionais e motivadores para auxiliar a tomada de decisão e gerar valor ao acionista. Os autores ainda dizem que a empresa que desejar utilizar o Modelo de Valor Sustentável através dos jargões da sustentabilidade deverá conhecer profundamente cada quadrante e as reais necessidades de investimento e melhoria. Neste sentido buscou-se analisar os quadrantes do Modelo de geração de valor ao acionista por meio dos jargões da sustentabilidade, ambos estudos de Hart e Milstein (2004) e Sgarbi et al. (2008) respectivamente para verificar a formação dos administradores nas IES da RMBH para a sustentabilidade das organizações. O estudo aborda a percepção discente quanto ao ensino-aprendizagem e demonstra se os jargões em caráter multidimensionais estão sendo ensinados aos Administradores para sua formação e aplicabilidade organizacional. Neste contexto, é necessário destacar, segundo Nunes (2005) as diretrizes curriculares do curso superior em Administração, bacharelado que devem ser observadas e praticadas obrigatoriamente pelas IES que ofertam o respectivo curso. No Art. 3º as IES pode-se perceber a necessidade de adaptação da formação do Administrador às práticas mercadológicas no seu campo de atuação. Art. 3º O Curso de Graduação em Administração deve ensejar, como perfil desejado do formando, capacitação e aptidão para compreender as questões científicas, técnicas, sociais e econômicas da produção e de seu gerenciamento, observados níveis graduais do processo de tomada de decisão, bem como para desenvolver gerenciamento qualitativo e adequado, revelando a assimilação de novas informações e apresentando flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de situações diversas, presentes ou emergentes, nos vários segmentos do campo de atuação do administrador. Ainda assim, Nunes (2005) no Art. 5º das Diretrizes curriculares apresenta como os conteúdos necessários para a formação do Administrador devem estar estruturados e o que é preciso contemplar nas áreas de formação básica, formação profissional, estudos quantitativos e suas tecnologias e, também estudos relacionados à formação complementar. I - Conteúdos de Formação Básica: relacionados com estudos antropológicos, sociológicos, filosóficos, psicológicos, ético-profissionais, políticos, comportamentais, econômicos e contábeis, bem como os relacionados com as tecnologias da comunicação e da informação e das ciências jurídicas; II - Conteúdos de Formação Profissional: relacionados com as áreas específicas, envolvendo teorias da administração e das organizações e a administração de recursos humanos, mercado e marketing, materiais, produção e logística, financeira e orçamentária, sistemas de informações, planejamento estratégico e serviços; III - Conteúdos de Estudos Quantitativos e suas Tecnologias: abrangendo pesquisa operacional, teoria dos jogos, modelos matemáticos e estatísticos e aplicação de _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 6/15 tecnologias que contribuam para a definição e utilização de estratégias e procedimentos inerentes à administração; e IV - Conteúdos de Formação Complementar: estudos opcionais de caráter transversal e interdisciplinar para o enriquecimento do perfil do formando. É neste contexto que o presente estudo irá pesquisar a educação para a sustentabilidade em instituições de ensino da região metropolitana de Belo Horizonte. Ainda assim, sobre a qualidade da formação dos Administradores, pois, todas devem seguir as diretrizes curriculares da Administração e, é necessário identificar, se a formação sustentável faz parte deste contexto. Cabe discutir como as IES estão preparando e formando os profissionais para a sustentabilidade mercadológica e preparando-os como gestores propulsores das mudanças e quebras de paradigmas. 3 – METODOLOGIA DA PESQUISA Este estudo descritivo quanto aos fins, irá desenvolver uma pesquisa com as IES da RMBH como unidades de análise averiguando as que possuem em sua estrutura curricular disciplinas sobre Sustentabilidade e, em seguida, como é a formação sustentável na percepção dos discentes dos cursos de Administração; quanto aos meios será utilizada uma pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Como população e seleção da amostragem pesquisada, todas as IES cadastradas no portal emec localizadas na RMBH foram selecionadas. Em seguida, houve a estratificação das IES que possuem o curso de Administração e, também, as que possuem disciplinas de sustentabilidade ou relacionadas à temática. Ao todo, trinta e duas IES foram selecionadas, sendo dez com disciplinas de sustentabilidade e vinte e duas com disciplinas relacionadas à sustentabilidade. A pesquisa predominantemente qualitativa obteve como coleta de dados um questionário semiestruturado aplicado aos discentes que já haviam cursado a disciplina ou que estavam cursando no momento da pesquisa (junho 2013). O questionário foi elaborado como formulários do Google Doc’s e enviadas aos discentes por e-mail, linkedin e facebook. Estas redes sociais foram de extrema importância, pois facilitou o acesso aos sujeitos da pesquisa e a resposta aos questionários, que eram enviados por meio de link. Principalmente para o público de discentes, com grupos no facebook criados para determinadas turmas de alunos de determinadas IES. Neste caso, procurava-se a turma na rede social, em seguida averiguava se os componentes daquele grupo eram alunos e, em qual período estavam. Posteriormente analisava-se se aquele período daquela turma já havia cursado a disciplina daquela determinada IES e, por fim, encaminhava o questionário individualmente. Houve dúvidas, críticas, elogios e sugestões neste processo. Também houve a preocupação e o acompanhamento diário das turmas para ver se realmente alguns representantes daquela turma responderam o questionário e se, por algum motivo, alguém disponibilizou este questionário aos demais conectados da rede prejudicando a amostra selecionada. Para a análise dos dados será utilizada a técnica de análise multivariada ou MDS que analisa os dados em escalonamento multidimensional. Segundo Pereira (2004, p.101) “com o advento das facilidades de computação providas pela revolução tecnológica dos últimos 30 anos, a _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 7/15 aplicação de análises multivariadas cresceu expressivamente”, sendo, portanto, um compromisso do pesquisador com a produção do conhecimento. Este método é analisado por meio de uma abordagem analítica que considera o comportamento de muitas variáveis simultaneamente e pode se subdividir em: Análise de Agrupamento (Cluster Analysis), Escalonamento Multidimensional (Multidimensional Scaling), Análise Fatorial (Factor Analysis), e Análise de Correspondência (Correspondece Analysis).Isto, pois, a Análise de Cluster estuda o agrupamento de objetos numa sequencia linear de aglomeração, já o Escalonamento Multidimensional (MDS) estuda a distribuição espacial dos objetos de forma a reconhecer agrupamentos e relações entre eles (PEREIRA, 2004). O MDS quando restrito a duas dimensões equivale à Análise de Cluster, devendo apenas o pesquisador considerar quanta informação pode estar sendo perdida por olhar um espaço multiplano na perspectiva limitada de um único plano (duas dimensões). Para melhor entender os procedimentos do MDS, deve-se introduzir o conceito de “componente principal”. A análise de componentes principais é por si só um tipo de análise multivariada, mas pode ser tratada como uma técnica de desenvolvimento do MDS (PEREIRA, 2004 p.115-116). Em termos práticos, é necessário identificar se a análise dos componentes será em um espaço bidimensional ou multidimensional. Em um espaço bidimensional, definem-se os objetos, em seguida a função ortogonal (função perpendicular da função X/Y que melhor distingue os pontos), não estando ainda os objetos perfeitamente discriminados, deve-se buscar uma nova função ortogonal até que todos estejam claramente definidos. Em um espaço multidimensional, após a derivação de n funções, faz-se necessário saber quanto essas funções ainda representam o universo estudado. Para isso gera-se uma medida de correlação ao quadrado (Squared correlation – RSQ ou R²) que corresponde à proporção de variações dos dados originais, tendo como melhor medida possível à unidade (1 ou 100%). A busca por um espaço multidimensional, contudo, será por proporcionar ao pesquisador mais informações, objetividade e clareza sobre o posicionamento dos pontos (PEREIRA, 2004). Contudo, ainda para Pereira (2004, p.122) a redução da dimensionalidade como princípio de análises multivariadas com dois componentes é principalmente aplicada “como recurso para identificação de dimensões abstratas sobre as quais os objetos estudados possam ser projetados satisfatoriamente e, então, estudados em relação a essas dimensões ao invés das dimensões originais das medidas realizadas”. Neste estudo, esta análise de componentes pretende apresentar qual a relação entre os jargões que estão sendo ensinados aos Administradores das IES da RMBH na percepção discente, por quadrante, com algumas disciplinas básicas e complementares segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Administração, bacharelado para averiguar se o conhecimento que está ou não sendo ensinado condiz com as exigências do MEC para tal formação. 4 – ANÁLISE MULTIVARIADA SOBRE A PERCEPÇÃO QUANTO À FORMAÇÃO SUSTENTÁVEL DOS DISCENTES 4. 1 Análise do primeiro quadrante _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 8/15 Conforme apresentado nos aspectos metodológicos desta pesquisa, existem vários métodos de análise multivariada dos dados, sendo selecionado o método MDS ou método de escalonamento multidimensional. Este método utilizou dois componentes principais (eixo x,y) para averiguar os jargões na percepção docente e discente por quadrante em uma visão bidimensional. Pretendeu-se, com isso, identificar a apresentar os grupos de jargões ou como eles estão aglomerados, podendo ser comparados à formação básica, profissional, de estudos quantitativos e suas tecnologias e a formação complementar apresentada pelo MEC em suas diretrizes curriculares para o curso de Administração. Figura 3 – Percepções dos discentes sobre a análise multivariada do primeiro quadrante Fonte: dados da pesquisa Para uma análise do primeiro quadrante, os jargões apresentaram distorções na formação dos grupos. O primeiro grupo, segundo a percepção discente, forma-se por “Base da Pirâmide”, “Conservação da Biodiversidade”, “Desenvolvimento de áreas deterioradas” e “Desenvolvimento Sustentável”. Percebe-se, com isso, uma junção na percepção discente sobre um grupo de jargões principalmente relacionados à sustentabilidade ambiental. Muitos discentes que não têm uma disciplina de sustentabilidade ou o conteúdo como uma unidade de estudo de uma determinada disciplina, associam-se a sustentabilidade como redução de impactos ambientais. Justifica-se, pois, o conceito relativamente novo, teve como pressupostos teóricos e práticos as degradações ambientais para a conscientização e formação do novo campo de estudo, mais amplo, pelo Triple Bottom Line da Sustentabilidade. Já o segundo grupo, delimita-se pela Sustentabilidade Social por meio dos jargões “Empreendedorismo Social” e “Função do Bem-estar” que estão correlacionados e, inclusive, com a formação das diretrizes curriculares como interdisciplinar, transversal e de formação básica. Como terceiro grupo os jargões “Estímulo à melhoria da qualidade de vida da população” e “triplo resultado” que também se relacionam a uma formação básica do _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 9/15 profissional de Administração. Por último, na percepção docente, o jargão “Reinvestimento Urbano” ficou isolado dos demais. Este fator pode se justificar pela análise anterior dos dados, onde os discentes disseram que este jargão raramente é ensinado aos Administradores. Na análise multivariada do primeiro quadrante, os discentes agruparam os jargões separandoos pela sustentabilidade ambiental e social. Talvez este agrupamento se relacione com a própria formação multidisciplinar do discente, que respondeu a pesquisa no final do curso, como maioria. 4. 2 Análise do segundo quadrante Já para a análise do segundo quadrante, as correlações do modelo de escalonamento multivariado entre o modelo derivado e o modelo com variações dos dados originais, os resultados não foram idênticos como no primeiro quadrante, mas foram bem próximos. Figura 4 – Percepções dos discentes sobre a análise multivariada do segundo quadrante Fonte: dados da pesquisa Na percepção discente do segundo quadrante, os grandes grupos formados coadunem com a formação profissional do Administrador. Estão relacionados às disciplinas de materiais, produção, logística, e a tecnologia ou inovação associada à produção ecologicamente correta, retorno e gerenciamento de resíduos e redução dos impactos ambientais provenientes dos processos produtivos. Neste quadrante, os jargões “Eficiência energética” e “eco-eficiência” ficaram próximos formando um segundo grupo. Os demais jargões “eco-desing” e “tecnologia verde” ficaram dispersos. 4.3 Análise do terceiro quadrante _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 10/15 Em relação a percepção discente do terceiro quadrante, os mesmos correlacionaram os jargões deste quadrante com um grande grupo e mais dois pequenos grupos de dois jargões cada. No primeiro grande grupo, os jargões correlacionados foram “Atender a legislação ambiental e social (ir além)”, “Auditoria Ambiental”, “Certificação Ambiental”, “Consumo Verde”, “Controle de poluição”, “Gerenciamento ambiental”, “Gestão de riscos ambientais”, “Gestão Sócio ambiental”, “ISO 14000”, “Prevenção de poluição” e “Produtividade de Recursos”. Este grupo possui conteúdos comuns relacionados à disciplina de Legislação Ambiental, Auditoria e as demais em caráter básico e complementar sendo interdisciplinar e transversal a formação do Administrador. Figura 5 – Percepções dos discentes sobre a análise multivariada do terceiro quadrante Fonte: dados da pesquisa O segundo grupo define-se pelos jargões “Redução de resíduos” e “Sistema de Gestão Ambiental” que também estão correlacionados na prática, pois uma gestão ambiental interna ou externa às organizações prima pela redução dos resíduos. E, por último, o terceiro grupo “Gestão de Resíduos” e “Reciclagem e reutilização de materiais” também se correlacionam, pois é possível obter a reciclagem e reutilização dos resíduos, de acordo com Donato (2008). Em termos práticos, a maior parte dos jargões do terceiro quadrante relaciona-se à sustentabilidade ambiental, controle de poluição, aspectos legais relacionados à sustentabilidade ambiental e social e, também a gestão da qualidade da empresa e suas certificações para a sustentabilidade. Todos estes jargões e o conhecimento associado, corroboram com as diretrizes curriculares dos cursos de Administração quanto à formação básica, profissional e complementar. _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 11/15 4.4 Análise do quarto quadrante Na percepção discente do último quadrante, dois grupos foram formados no quarto quadrante, deixando também alguns jargões dispersos das correlações. O primeiro grupo define-se por “Gestão dos impactos ambientais”, “Gestão ética” e “Governança Corporativa”, conforme figura a seguir. Figura 5 – Percepções dos discentes sobre a análise multivariada do terceiro quadrante Fonte: dados da pesquisa O segundo grupo, formado por “Divulgação de Balanço Social”, “Gerenciamento do ciclo de vida dos produtos”, “Gerenciamento dos stakeholders” e “regulamentação voluntária”. E os demais jargões: “Projeto Verde”, “Cidadania corporativa” e “contabilidade ambiental” ficaram dispersos dos demais como se não houvesse correlações entre eles. Contudo, como o quarto quadrante define-se pela estratégia de gerenciar o produto e integrálo a perspectiva do público da organização. Este público é abrangente e tem os seus próprios interesses. Para uma S/A que possui ações para investimento, determinados jargões serão mais próximos às suas necessidades – de atrair novos investidores. Outros jargões atendem ao público interno, principalmente através de uma gestão ética entre líderes e liderados. Outros aspectos, mais relacionados à legalidade do negócio e suas obrigações, principalmente com a divulgação do balanço social. Enfim, os jargões deste quadrante estão correlacionados e são necessários para a formação do Administrador, como todos os outros jargões dos outros quadrantes. _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 12/15 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo teve como principal objetivo analisar a percepção do corpo discente dos cursos de Administração das IES da RMBH para a Sustentabilidade quanto ao ensino e aprendizagem na formação da nova geração de Administradores para a Sustentabilidade em caráter multidimensional com base no modelo teórico de Hart e Milstein (2004) e Sgarbi et.al. (2008). Ainda assim, foi analisada a formação dos jargões de cada quadrante em comparação às diretrizes curriculares dos cursos de Administração segundo o MEC. O que pôde ser percebido em análise de cada quadrante e de cada jargão é que ambos possuem especificidades e aplicabilidades em pequenas e médias empresas, assim como em grandes organizações. Porém, o discente de hoje, Administrador de amanhã, deverá obter uma formação sustentável adequada para atuar em qualquer organização independente do seu porte. Cabe às IES capacitar este futuro gestor para o gerenciamento adequado de cada empresa atendendo assim os seus anseios pessoais e profissionais como os anseios organizacionais e mercadológicos de todos os envolvidos. _________________________________________________________________________ Anais do II SINGEP e I S2IS – São Paulo – SP – Brasil – 07 e 08/11/2013 13/15 REFERÊNCIAS BARBIERI, José Carlos; SILVA, Dirceu. Desenvolvimento Sustentável e Educação Ambiental uma trajetória comum com muitos desafios. RAM, REV. ADM. 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