Sumário Ano L - N.º 588 - Outubro de 2009 PROPRIEDADE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO Direcção, Redacção e Administração Largo de S. Sebastião da Pedreira 1069-020 Lisboa Telef: 213 567 700 Fax Civil: 213 567 791 Militar: 414 091 A Guerra 16 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] E-mail − Intranet: Jornal do Exército Home page: www.exercito.pt DIRECÇÃO Director Coronel de Infantaria José Custódio Madaleno Geraldo Secretária Ass Técnica Teresa Felicíssimo Soldado Condutor RC Pedro Ferreira REDACÇÃO Chefe Tenente-Coronel J. Pinto Bessa Redactores Tenente RC Paulo Moreira Alferes RC Nelson Cavaco Tenente RC Rico dos Santos Mauro Matias Operadoras Informáticas Ass Técnica Elisa Pio Ass Técnica Guiomar Brito D. Afonso Henriques Patrono do Exército 24 KTM/KFOR – Escola de Quadros e de Vida de Excelência 32 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO Chefe Major Augusto Correia Operadores Informáticos Ass Técnica Tânia Espírito Santo 2.º Cabo Gonçalo Silva Biblioteca Ass Técnica Joana Moita Suplemento SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS Operador Informático Sargento-Ajudante João Belém Distribuição e Publicidade Sargento-Ajudante Luís Silva Ass Operacional Filomena Remédios VI – Nuno Álvares Pereira e a Batalha de Atoleiros SECRETARIA Sargento-Chefe Costa e Silva COLABORAÇÃO FOTOGRÁFICA Lusa - Agência de Notícias de Portugal, SA Centro de Audiovisuais do Exército RCRPP/GabCEME EXECUÇÃO GRÁFICA Europress, Lda Rua João Saraiva, 10-A − 1700-249 Lisboa Telef 218 444 340 − Fax 218 492 061 [email protected] Tiragem − 6 000 exemplares Depósito Legal n.º 1465/82 ISSN 0871/8598 Secções Monumentos com História Militar – Escultura de D. Afonso Henriques, em Guimarães – 4 Editorial – 5 Figuras e Factos – 8 a 15 Livros – 44 Desporto / Regulamento do “Prémio Jornal do Exército” – 45 Passatempos de outros tempos – 46 Capa: O Ataque dos Cruzados e dos Portugalenses às Muralhas de Lisboa (1147) , Litografia de Portugal. Revisão de texto a cargo do Professor Doutor Eurico Gomes Dias Os artigos publicados com indicação de autor são da inteira responsabilidade dos mesmos, não reflectindo, necessariamente, o pensamento da Chefia do Exército Português ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, CRIADO POR PORTARIA DE 14JUL60 MONUMENTOS COM HISTÓRIA MILITAR Escultura de D. Afonso Henriques, em Guimarães A data do seu nascimento é incerta, dividindo-se a opinião dos historiadores entre os remotos anos de 1109 e 1111. Igualmente, o seu lugar de nascimento encontrase envolto em alguma controvérsia, embora a tradição histórica lhe atribua a naturalidade à cidade de Guimarães. E outros episódios ainda, desde o “milagre de Ourique” até à transladação do seu corpo, em 1520, que o revelou incorrupto, 4 envolvem numa aura de mistério a vida do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques. Durante mais de quarenta anos, D. Afonso Henriques duplicou o território que o seu pai, o Conde Henrique de Borgonha, lhe deixou. Por volta de 1123 ou 1125, ou seja, quando teria entre 12 e 15 anos, arma-se cavaleiro na Catedral de Zamora e cinco anos depois, na Batalha de S. Mamede, assume sozinho o governo de Portucale, após ter derrotado a facção galega, encabeçada pela sua própria mãe, D. Teresa. Em 1140, apoiado pelos seus homens, autoproclama-se Rei de Portugal, título que lhe é reconhecido logo em 1143, no Tratado de Zamora. Em 1147, Afonso I de Portugal chega às portas de Lisboa, então ocupada pelos mouros. Entre Julho e Outubro daquele ano, as forças de Afonso Henriques, por terra, e um contingente de Cruzados que chegaram por mar, submetem a cidade a um apertado cerco. Só as sólidas muralhas conseguiram conter o ímpeto cristão durante aquelas longas semanas. Mas, das pequenas escaramuças aos confrontos violentos, Lisboa foi cedendo, incapaz de se libertar do inquebrantável sequestro. A 25 de Outubro de 1147, um sábado, o rei português entra na cidade, consumando a sua conquista, eternizando a data pelos séculos vindouros. Neste dia é actualmente comemorado o Dia do Exército. No ano de 1169, D.Afonso Henriques é ferido em Badajoz e também incapacitado para o comando. Dez anos mais tarde, a Bula Papal Manifestis Probatum, do Papa Alexandre III, reconhece Portugal como país independente e Afonso Henriques como seu rei. Guimarães, frequentemente chamada de Berço da Nacionalidade e provável local de nascimento do primeiro monarca português, alimenta um antiquíssimo culto à sua figura e memória. Ali, em 1874, na Praça D. Afonso Henriques, foi inaugurada uma escultura em bronze da autoria de Soares dos Reis, retratando o monarca em pose guerreira, trajando correspondentemente, de espada em punho, escudo no braço esquerdo e um elmo protector que lhe endurece o olhar heróico. Entretanto deslocada para o Largo do Toural e, mais tarde, para a Colina Sagrada, prevê-se que a escultura regresse à sua morada original, cuja proposta de execução já consta do dossier de candidatura a Capital Europeia da Cultura – Guimarães 2012.JE Tenente RC Paulo Moreira N este ano de 2009, em que têm lugar as eleições legislativas e autárquicas nacionais, comemoram-se os novecentos anos do nascimento de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. A bruma dos tempos envolve em mistério a data e o local do seu nascimento. É natural que uma figura de importância colossal como é a do primogénito da Pátria Portuguesa desperte nos Portugueses, de todos os tempos, curiosidade e paixão. Apetecia-nos esmiuçar a sua vida, desde o berço até à tumba, pois temos a certeza de que em cada gesto seu há uma lição de patriotismo e de grandeza que serve de exemplo aos Portugueses de sempre. Com a presença da sua memória, Portugal será eterno. O Exército, junto com os outros Ramos das Forças Armadas, é um dos pilares da Nação e por isso escolheu para seu Patrono D. Afonso Henriques, pois com o seu espírito está garantida a perenidade da Nação Portuguesa. A vontade de um povo, que quis ser livre e independente desde o tempo do seu primeiro rei, revê-se numas Forças Armadas respeitadas e dignas de ombrear com as suas pares na NATO e na União Europeia, para que sejam sempre capazes de defender os mais altos interesses de quem representam − os Portugueses e Portugal. O Exército celebra o seu dia na data em que a capital portuguesa, de hoje, foi tomada aos mouros, em Outubro de 1147. Já naquele tempo as alianças eram comuns, como podemos confirmar adiante nos extractos da Crónica de D. Afonso Henriques por Duarte Galvão, dedicada a D. Manuel I. Quando D. Afonso Henriques cercava Sintra e depois a tomou “appareceo no mar uma frota de cento e oitenta velas, de gentes, que naquelle tempo moveram de Alemanha, e de Inglaterra, e de França, para guerrear os infiéis por serviço de Deos, e vindo assi todos de mar em fóra demandar terra á rocha de Sintra. [...] Christãos partidos de suas terras para virem guerrear por serviço de Deos os Mouros imigos de sua santa Fé.” Concordaram então cercar a cidade de Lisboa, portugueses por terra e estrangeiros por mar. “El-Rei acentou seu arrayal da parte do Oriente, onde agora está o Moesteiro de S. Vicente de Fóra, e os Inglezes, e outras gentes tomaram parte do Ponente, onde ora são os Mártyres. Durou o cerco perto de cinco mezes, por a Cidade ser mui forte, de sitio, e cerca, e estarem dentro muitos Mouros, que a mui bem defendiam; [...]. Cada um arrayal dos Christãos, edeficou sua Egreja em que enterrassem os que alli morriam, e ElRei D. Affonso fez a sua, onde depois foi edificado o Moesteiro de S. Vicente á honra do Martyre S. Vicente, e os estrangeiros edificaram outra que ora é chamada Santa Maria dos Martyres.” Camões, melhor do que ninguém, descreve-nos em versos imortais a Tomada da nossa Lisboa: E tu, nobre Lisboa, que no Mundo Facilmente das outras és princesa Que edificada foste do facundo Por cujo engano foi Dardónia acesa; Tu, a quem obedece o Mar profundo, Obedeceste à força Portuguesa, Ajudada também da forte armada Que das Boreais partes foi mandada. [...] Cinco vezes a Lua se escondera E outras tantas mostrara cheio o rosto, 1 Quando a cidade, entrada, se rendera Ao duro cerco que lhe estava posto. Foi a batalha tão sanguina e fera Quanto obrigava o firme pressuposto De vencedores ásperos e ousados, E de vencidos já desesperados. [...] Que cidade tão forte porventura Haverá que resista, se Lisboa Não pôde resistir à força dura Da gente cuja fama tanto voa?[...]1 Os Lusíadas, Canto III, ests. 57, 59 e 61. 5 FIGURAS e FACTOS Comemorações do Dia da Engenharia O Chefe de Estado-Maior do Exército, General José Luís Pinto Ramalho, presidiu no dia 10 de Julho, às comemorações do dia daArma de Engenharia na Escola Prática de Engenharia. Das várias actividades previstas e que assinalaram o dia festivo, salientam-se a cerimónia militar, a demonstração de capacidades no âmbito das forças da Força Operacional do Exército e a apresentação do novo Centro de Simulação de Explosivos e Contra-Medidas e Defesa Nuclear Biológica Química e Radiológica, que se destina a apoiar a formação dos especialistas Explosive Ordnance Disposal (EOD), Nuclear Biológica e Química (NBQ) e cursos avançados de demolições de emergência, a manutenção da proficiência dos especialistas na gestão de incidentes e na operação de equipamentos, bem como entidades militares e civis na análise de vulnerabilidade de instalações críticas, Sistema deAlerta e Informações NBQ e no âmbito das demolições de emergência. A cerimónia militar contou com a presença de representantes de todas as unidades de Engenharia Militar e ainda com o Bloco de Estandartes das várias subunidades de Engenharia que estiveram presentes nos diversos Teatros de Operações, desde o ex-Ultramar ao Líbano. Na demonstração de capacidades foram apresentadas as múltiplas valências da Engenharia Militar, destacando-se: A transposição de um vão, utilizando a Viatura Blindada de Lançamento de Ponta, com posterior abertura de brecha manual e explosiva, executada por duas Secções de Sapadores de Engenharia de Combate da Companhia de Engenharia da Brigada Mecanizada; o reconhecimento de indícios de contaminação bioquimica e a descontaminação do pessoal e equipamento por militares da Companhia de Defesa NBQ, que fazem parte do recentemente criado Elemento de Defesa BQ (para fazer face a ameaças terroristas em território nacional); a montagem de um Pontão de Alumínio M4T6, de elementos das pontes de apoios fixos Treadway, Bailey e Mabey e a operação de meios da ponte de apoios flutuantes “Ribbon”, por militares da Companhia de Pontes; a inactivação de um Engenho Explosivo Improvisado, pelo Grupo de Equipas EOD; a simulação de uma destruição pelo Pelotão de Engenharia/Brigada de Reação Rápida. As comemorações permitiram assim transmitir uma perspectiva global das actuais capacidades da Engenharia Militar e do seu carácter inovador. Comemorações do Cerco de Almeida O concelho deAlmeida comemorou o 199.º aniversário do Cerco de Almeida no dia 30 de Agosto de 2009, contando com a participação do Exército Português em 8 alguns eventos, presididos pelo Major-General Adelino de Matos Coelho, Director da História e Cultura Militar (DHCM). A evocação histórica do cerco da vila, verificado durante as Invasões Francesas, contemplou no seu programa a Recriação Histórica do mesmo, que começou no dia 28 de Agosto e culminou a 30 de Agosto, com a recriação da queda da fortaleza, o assalto final e a conquista da fortaleza por parte das tropas francesas sob o comando de Massena. O fogo lançado pelas baterias de artilharia francesas marcaram o dia 26 de Agosto de 1810, provocando a fatídica explosão do castelo, após o paiol ter sido atingido e causado a destruição do Castelo. O Exército Português marcou presença pelas 09h00 na Cerimónia oficial de hastear bandeiras na Câmara Municipal, seguindo para o castelo onde depositou uma coroa de flores na Cerimónia de Homenagem aos Mortos do Cerco de Almeida. Para o efeito foi empenhado 1 pelotão e 1 fanfarra, que concluíram, pelas 12h30, a sua participação na Missa de Homenagem às vítimas que decorreu na Igreja Paroquial. FIGURAS e FACTOS Curso de Liderança para Jovens Empresários N uma iniciativa conjunta da Academia Militar (AM) e da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), realizou-se, no período de 27 a 31 de Julho de 2009, nas instalações e áreas da AM, do Centro Militar de Educação Física e Desportos (CMEFD), da Escola Prática de Infantaria (EPI) e da Escola de Tropas Pára-quedistas (ETP), a 2.ª edição do Curso de Liderança da ANJE, dirigido aos seus associados. Participaram no Curso 15 jovens empresários, de diferentes sectores empresariais. O Curso de Liderança envolve conteúdos programáticos no âmbito do Comportamento Organizacional, provas de projecto e planeamento, provas de situação, prova de confirmação (liderança), adaptação ao meio ambiente, orientação topográfica, treino físico e desportos. O Curso tem como objectivo desenvolver competências comportamentais, nomeadamente de relacionamento interpessoal, visando a liderança eficaz de equipas, recorrendo a métodos pedagógicos sempre participativos, promovendo o culto dos valores e o exemplo da Instituição Militar. Presidiu à cerimónia de encerramento o Chefe do EstadoMaior do Exército, General José Luís Pinto Ramalho. Apresentação do livro “EPA: das origens ao alvorecer do III Milénio” O Auditório da Escola Prática de Artilharia (EPA) acolheu a apresentação do livro “EPA: das origens ao alvorecer do III Milénio” da autoria de Artur A1eixo Pais, no dia 5 de Agosto. A apresentação do livro e o resumo biográfico do autor esteve a cargo do Comandante da EPA, Coronel Maurício Simão Tendeiro Ra1eiras, que usou da palavra após as intervenções do Chefe do Estado-Maior do Exército, General José Luís Pinto Rama1ho – que presidiu à cerimónia – e do Presidente da Câmara Municipal de Vendas Novas, Dr. José Figueira. A cerimónia contou ainda com a presença de outras Altas Entidades, das quais se destacam o Comandante da lnstrução e Doutrina, Tenente-General António José Maia de Mascarenhas e o General José A1berto Loureiro dos Santos. O livro remonta ao ano de 1728 para contar a história do Palácio mandado construir por D. João V, que, a partir do ano de 1861, se tomou a EPA. Originalmente o Palácio servia de local de pernoita da comitiva real para as deslocações à fronteira do Caia, sendo conhecido como o “Palácio das Passagens”. Estas deslocações tinham como finalidade o casamento entre príncipes e princesas das coroas portuguesa e espanhola. Já no reinado de D. Pedro V, o Palácio tornar-se-ia a actual EPA e o autor apresenta uma série de eventos relacionados com a Escola e a sua inserção na sociedade que a acolheu. A obra conta ainda com uma nota final que contém uma súmu1a de factos que fundamentam a sua edição e a visão do Comandante da EPA sobre a mesma, assim como um soneto dedicado à EPA, intitu1ado “Pelo Bem e Pela Paz de Portugal”, da autoria de Jodro, pseudónimo de João Grazina, figura conhecida de Vendas Novas. Artur A1eixo Pais finalizou a cerimónia com uma a1ocução onde agradeceu o apoio prestado pela EPA no acesso à informação, seguindo-se um Porto de Honra e a tradicional sessão de autógrafos. 9 FIGURAS e FACTOS Condecoração de Adidos O Chefe do Estado-Maior do Exército, General José Luís Pinto Ramalho, condecorou em 15 de Julho, no Estado-Maior do Exército, com a Medalha D. Afonso Henriques 1.ª Classe, o Coronel Waldeísio Ferreira Campos, da Força Aérea Brasileira, Adido do Exército e Aeronáutico, e com a Medalha de Mérito Militar 2.ª Classe, o Tenente-Coronel Javier Gallegos Lorenzana, do Exército Espanhol, Adjunto do Adido de Defesa e Adido do Exército. Estiveram presentes na Cerimónia várias entidades Militares, representantes das respectivas Embaixadas e familiares dos Adidos. Dia da Unidade no Regimento de Transmissões O Regimento de Transmissões recebeu a 17 de Setembro a visita do Comandante Operacional do Exército, Tenente-General Pina Monteiro, para presidir às cerimónias de comemoração do Dia da Unidade. Instituído desde 17 de Setembro de 1873, data em que entrou em funcionamento o Serviço Telegráfico Militar (1.ª rede telegráfica militar), o Regimento de Transmissões adoptou a data por ser o herdeiro natural do referido serviço. Sediado em Lisboa, nas actuais instalações, desde 1977, a Unidade recebeu pelas 10h30 a chegada do Tenente-General Artur Neves Pina Monteiro, recebendo as honras militares à Porta de Armas, na presença do Major-General José Artur Paula Quesada Pastor, Director Honorário daArma de Transmissões e Director de Comunicações e Sistemas de Informação e pelo Comandante da Unidade, Coronel Nelson Martins Viegas 10 Pires. Após a revista às tropas formadas na Parada, a cerimónia iniciou-se com a entrega do Estandarte Nacional, seguido de um discurso e de uma oração do Capelão Chefe do Exército Cláudio Correia Ferreira em homenagem aos mortos. Seguidamente escutaram-se as palavras do Comandante da Unidade e do Director Honorário daArma, que salientaram o papel da Arma na actualidade e os seus compromissos e objectivos. De realçar a postura pró-activa que a Arma procura implementar através da aposta nas novas tecnologias, “estando em fase de conclusão a aquisição e instalação de novos sistemas e equipamentos de comunicação e dados”, segundo o Coronel Viegas Pires. O Tenente-General Pina Monteiro felicitou a Arma de Transmissões pelo excelente desempenho da Companhia no Afeganistão e o valor do trabalho do Regimento na era da “guerra da informação”. Os presentes assistiram ainda à entrega de medalhas na parada, nomeadamente, medalhas de Serviços Distintos, Mérito Militar 2.ª e 4.ª classe, D. Afonso Henriques 2.ª,3.ª e 4.ª classe, Comportamento Exemplar de grau cobre e prata e Comemorativa de Comissão de Serviços Especiais: Timor, Bósnia e Kosovo. Além das condecorações de cariz militar, a Unidade homenageou um militar pelo seu desempenho académico, com a entrega de um diploma de RVCC, fruto do programa Novas Oportunidades. Após o desfile das forças, seguiu-se uma apresentação no Auditório do Regimento sobre a aplicação de um software informático que permite a confidencialidade e encriptação de mensagens via e-mail, revelando a preocupação do Regimento na salvaguarda de informação na era da guerra informática. FIGURAS e FACTOS Gripe A motiva palestra pelo Comando de Instrução e Doutrina O Comando de Instrução e Doutrina (CID) em colaboração com o Centro de Saúde de Évora, realizou em 10 de Setembro, uma palestra sobre o Tema “Gripe A (H1N1) – A1.ª Pandemia do Séc. XXI”, organizada em Évora pela Unidade de Apoio do CID. Esta acção enquadra-se no âmbito das recomendações emanadas pelo Comando do Exército como mais uma forma de controlar o contágio da Gripe A. Assistiram à palestra um elevado número de Oficiais, Sargentos, Praças e Civis que trabalham no CID. Da agenda constaram os seguintes temas: “O vírus”, “A Gripe Sazonal”, “A GripeA” e “A Gripe no Exército”.A palestra terminou com algumas reflexões do palestrante e com um período reservado a questões, onde os militares puderam colocar as suas dúvidas. Esta acção, sobre um tema bastante actual, deu a conhecer e alertou para procedimentos a tomar, quer individualmente quer a nível da Cadeia de Comando. Lançamento do segundo livro da Colecção Segurança e Defesa O segundo livro da Colecção Segurança & Defesa - “A Circunstância do Estado Exíguo”, da autoria do Professor Doutor Adriano Moreira – foi apresentado no passado dia 16 de Setembro, no Instituto de Defesa Nacional em Lisboa, numa sessão que contou com a presença do Ministro da Defesa Nacional, Prof. Doutor Nuno Severiano Teixeira. A apresentação ficou a cargo da Dra. Alice Feiteira, directora da Colecção Segurança & Defesa, e do Prof. Doutor João Carlos Espada. Na sessão estiveram presentes, entre outros, o Secretário de Estado da Defesa Nacional, Dr. João Mira Gomes, o Chefe de Estado-Maior da Armada,Almirante Melo Gomes, o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Pinto Ramalho, o General Loureiro dos Santos, o Dr. Figueiredo Lopes, a Dra. Maria Barroso. 11 FIGURAS e FACTOS Sintra assiste à Cerimónia comemorativa da Brigada de Reacção Rápida C erca de 1300 militares participaram em Sintra, a 13 de Setembro de 2009, nas Comemorações do Dia da Brigada de Reacção Rápida (BrigRR), onde demonstraram ao público as suas capacidades militares. Assentando a sua missão na defesa do território nacional, em acções de salvaguarda dos interesses nacionais e na satisfação dos compromissos internacionais assumidos pelo Estado Português, esta unidade operacional do Exército Português remonta às unidades Pára-quedistas que existiram no passado e que foram reorganizadas após a Guerra Colonial. Actualmente, a BrigRR, criada em 1 de Janeiro de 2006, é comandada pelo Major-General Raul Luís de Morais Lima Ferreira da Cunha e é constituída por: 1.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista (1.º BIPara), do Regimento de Infantaria N.º15; 2.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista (2.º BIPara), do Regimento de Infantaria N.º10; Força de Operações Especiais do Centro de Tropas de Operações Especiais; Batalhão de Comandos, do Centro de Tropas Comandos; Esquadrão de Reconhecimento (ERec), do Regimento de Cavalaria N.º3; Batalhão de Apoio Aeroterrestre (BAAT), da Escola de Tropas Pára-quedistas; Companhia de Transmissões (CTm) e o Grupo de Helicópteros do Exército, da Unidade deAviação Ligeira do Exército; Bateria de DefesaAérea, do Regimento deArtilharia Anti-Aérea N.º1, Companhia de Engenharia da Escola Prática de Engenharia e um Grupo de Campanha do RA4, sedeado na BrigRR. A vila de Sintra assistiu, então, a uma demonstração das capacidades operacionais da BrigRR, que, de forma activa, promoveu a imagem e os valores do Exército junto da população civil. Acção que também teve como finalidade iniciar um ciclo de demonstrações ao público em geral em cidades/vilas onde se encontram sediadas Unidades da Brigada. As comemorações iniciaram-se pelas 09h30 na Igreja de São Martinho, onde teve lugar a cerimónia eclesiástica, à qual assistiu um grande número de elementos do Exército, assim como da população civil. Seguidamente, assistiu-se à Parada Militar, pelas 11h00, no Parque da Liberdade/Volta do Duche, onde as forças formaram perante uma 12 plateia de altas entidades militares e civis, de entre as quais se salientava a presença do General Chefe Estado Maior do Exército, José Luís Pinto Ramalho e do Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Dr. Fernando Seara. No seu discurso, o Comandante da BrigRR dirigiu-se primeiramente ao General CEME, ao Presidente da Câmara de Sintra, ao Tenente-General Artur Neves Pina Monteiro e ao General João de Almeida, agradecendo as suas presenças, a confiança em si depositada para presidir ao dia da BrigRR e, em particular, à Câmara Municipal de Sintra pela cedência dos espaços nobres para a realização da cerimónia. O seu discurso prosseguiu, efectuando uma resenha histórica sobre a BrigRR, percorrendo todo o seu historial, assim como a missão e objectivos da Brigada e acções de destaque nas quais tem participado. A mensagem do General CEME enalteceu o papel da BrigRR, salientando que esta “constitui-se como uma Unidade de referência no seio da nossas Forças Armadas, não só pelas suas características intrínsecas, grande motivação e elevada preparação do seu pessoal, mas particularmente pelo espírito próprio e pela sua alta prontidão e eficácia demonstradas no cumprimento de inúmeras missões, muitas das quais na satisfação dos compromissos internacionais que Portugal assumiu junto dos seus aliados”. Após o período reservado aos discursos, assistiu-se à entrega do Estandarte Nacional ao Coronel Correia da BrigRR, assim como a condecoração de vários Oficiais, Sargentos e Praças pertencentes à Brigada. A Parada Militar terminou com o desfile de uma representação de todas as subunidades que compoem a brigada, bem como de alguns meios que a equipam. O Largo do Palácio Nacional de Sintra, onde estava patente ao público uma exposição estática com equipamentos da Brigada, foi o local escolhido para terminar as comemorações, com uma demonstração de saltos em queda livre pela Equipa de Pára-quedistas do Exército “os Falcões Negros”. FIGURAS e FACTOS Exercícios Finais Da Academia Militar 2009 I nserido no planeamento de actividades para o ano lectivo 2008/2009, realizaram-se em Santa Margarida, entre 1 e 10 de Julho de 2009, os Exercícios Finais da Academia Militar. De 1 a 5 de Julho, com o Corpo de Alunos constituído em Destacamento da Academia Militar em Exercícios no Quartel da Pucariça, decorreu um bloco de Formação Militar e o Exercício “TIGRE”, compreendendo entre outros, a execução de marchas, pistas de combate e patrulhamentos nos limites do campo militar e áreas circundantes, que visaram a aplicação dos conhecimentos técnicos apreendidos ao longo do ano no âmbito da Formação Geral Militar. De 6 a 10 Julho teve lugar o Exercício “LEÃO 2009”, com a finalidade de propiciar aos cadetes do Exército e da Guarda Nacional Republicana, a exercitação das técnicas, tácticas e procedimentos essenciais, próprios de cada Arma e Serviço, adquiridos no decurso do ano escolar e cuja prática não foi possível em aquartelamento, nomeadamente os saberes que se inserem no âmbito do Departamento de Ciências e Tecnologias Militares. Para o efeito, foi proporcionado aos alunos, numa fase inicial, o contacto in loco com as unidades de manobra, de apoio de combate e de serviços da Brigada Mecanizada, a oportunidade de se inteirarem da respectiva organização e missões, de se identificarem com o elemento humano bem como com os diversos equipamentos, plataformas e sistemas de armas que guarnecem aquela GU, cujo Comando prontamente dispôs a pedido da Academia Militar, com vista a contribuir para a sedimentação de conhecimentos e a valorização formativa do Cadete. Posteriormente, os alunos tiveram ensejo de participar num Exercício Táctico Integrado (LIVEX), de escalão companhia, no desempenho de diversas funções ao nível das subunidades elementares de manobra e dos módulos de apoio, tendo praticado os procedimentos de Comando e a conduta das operações militares de baixo escalão, em ambiente de guerra convencional.A culminar o exercício “LEÃO 2009”, o Distinguished Visitors Day (DVD), em 9 de Julho, teve oportunidade de apresentar aos convidados presentes demonstrações bem elucidativas, tanto de uma força de escalão subgrupamento na condução de um ataque deliberado executado pelos alunos do Exército, como de variadas acções militares e técnicas policiais a cargo dos alunos da GNR. Actividade operacional do Regimento de Guarnição n.º 1 O s dois exercícios do encargo operacional do Regimento de Guarnição n.º 1 (RG1) – METROSÍDERO 091 e 092 – decorreram este ano, respectivamente, nas ilhas das Flores e Graciosa, com objectivos semelhantes: treinar a projecção e retracção de forças para as ilhas da área de responsabilidade do RG1 (os Grupos Central e Ocidental); familiarizar os militares com possíveis áreas de actuação; identificar pontos e áreas sensíveis e locais para estacionamento de tropas, em caso de necessidade (militar ou humanitária); mostrar a presença do Exército em ilhas onde não existe guarnição militar. O primeiro exercício decorreu em Julho, em simultâneo com o FOCA 091 (conjunto com a Marinha). Foi precedido de uma fase de treino de natação militar e de embarque e desembarque na corveta por bote e rede de abordagem. Os militares foram projectados na corveta João Roby e as viaturas em ferry comercial. Há 9 anos que não se realizava um exercício nas Flores. O segundo exercício decorreu em Setembro. Toda a força foi projectada por meios marítimos comerciais. Durante este exercício realizou-se também, já na Graciosa, o CANÁRIO 093, que consistiu em treino de heli-transporte num Puma da BA4. O último exercício na Graciosa fora realizado há 6 anos. 13 FIGURAS e FACTOS Tenente-General João António Pinheiro (1921-2009) D a sua nativa Bragança até Oeiras onde viveu 48 anos, o General João Pinheiro percorreu um caminho árduo e trabalhoso, em que deixou a marca da sua visão, do seu poder de decisão e da sua força de vontade. De 1955 a 59, exerceu intensa actividade pedagógica como professor da Escola do Exército, dos Cursos de Promoção a Oficial Superior e dos Cursos de Estado-Maior. As suas qualidades não passaram despercebidas: em 1962, ainda major, foi chamado para o cargo de Subsecretário do Exército, o primeiro colaborador do Ministro nas vertentes administrativa e logística. Estávamos então em operações em Angola com as unidades a milhares de quilómetros de Lisboa. O rigor na gestão das avultadas verbas necessárias para a expansão do Exército e condução das operações permitiu também a preparação de estruturas de apoio, possibilitando que os abastecimentos, correio e apoio sanitário chegassem onde quer que houvesse soldados. Simultaneamente, João Pinheiro tentou construir um Hospital para os 3 Ramos das Forças Armadas, tão necessário para tratar os doentes e feridos evacuados do Ultramar. Impedido de o fazer pelo Ministro da Defesa, planeou a construção dum Pavilhão da Família Militar no Hospital da Estrela, em substituição do antigo. Depois chamado “Casa de Saúde”, foi fundamental para o tratamento dos militares e suas famílias. Muitos de nós ainda usamos a Casa de Saúde mas poucos sabem quem a mandou fazer. Entre 1971 e 1973, escolhido pelo General Costa Gomes, então Comandante-Chefe em Angola, o Brigadeiro Pinheiro comandou o Sector de Cabinda simultaneamente com as funções de Governador de Distrito.As coisas estavam mal por lá, devido a erros políticos e promessas não cumpridas. Seis meses depois de tomar posse, tinha acalmado a população e as Tropas Especiais (forças nativas ex-FNLA) e posto em marcha um plano de valorização social e económica – o Plano Calabube. Foram construídos mais de 300 edifícios essencialmente postos sanitários, enfermarias e escolas. Foram abertas novas estradas, criados campos de desporto e electrificadas povoações. Enfim, a paz voltou ao território. Tem interesse notar que, 25 anos depois da independência de Angola, um regedor de Cabinda referindo-se ao Plano Calabube afirmou ser “o mais promissor e inventivo programa da administração colonial portuguesa em Cabinda”. Regressado à Metrópole, o Brigadeiro Pinheiro serviu em vários lugares até que, após o golpe militar de 25 de Abril de 1974, foi nomeado Adjunto do Chefe do EstadoMaior General das Forças Armadas. A situação era tal que chegou a exercer a direcção de 7 organismos diferentes integrados ou ligados ao Estado-Maior. Ao fim de 16 meses, esgotado fisicamente e desgostoso com a situação das Forças Armadas, pediu a passagem à reserva. Felizmente para todos, só o deixaram descansar um ano. Em 1976, o General Eanes, Chefe do EstadoMaior General das ForçasArmadas, chamou-o para Presidente dos Serviços Sociais das Forças Armadas com a missão de fazer deles uma instituição eficiente. Teve então ocasião de realizar a “obra da sua vida”, como uma vez referiu. Sempre interessado nos problemas dos mais velhos e no apoio aos deficientes e aos mais fracos, o General Pinheiro deitou as mãos à obra e, mais uma vez, demonstrou a sua enorme capacidade de realizar. Após cerca de 70 reuniões em comandos e unidades militares para ouvir as pessoas e de várias visitas a estabelecimentos de saúde em Paris, concebeu a construção de complexos sociais polivalentes para apoio à 3ª idade. Conseguiu um plano financeiro para obter as verbas necessárias sem penalizar os orçamentos militares. O primeiro começou a ser construído em Oeiras em 1981. Em meados da década de 90 estavam prontos 6 dos 7 edifícios planeados. O que foi feito ultrapassou as expectativas iniciais. O General Eanes salientou-o numa carta de 1990: “A realidade da sua obra excede em muito a imagem que dela construíra”. Um pequeno episódio, sucedido há anos revela a dimensão da obra. Um General canadiano em serviço na OTAN veio a Portugal e levei-o a ver o Complexo de Oeiras. Espantado, disseme: “Não compreendo como sendo Portugal um país considerado pobre tem uma obra destas de apoio aos veteranos, e sendo o Canadá um país rico, não tem”. Respondi-lhe: “Arranjem um General Pinheiro lá no Canadá”. Renato F. Marques Pinto Major-General TABELA DE PREÇOS PARA 2009 PREÇO DE CAPA • 2,00 ASSINATURA ANUAL (11 números) VIA SUPERFÍCIE - Portugal Cont. Madeira e Açores • 20.00 VIA AÉREA - Países europeus • 45,00; Restantes Países • 65,00 NOTA: As assinaturas devem ser pagas antecipadamente NÚMEROS ATRASADOS - 1960 a 1969 • 4,00; 1970 a 1979 • 4,00; 1980 a 1989 • 3,00; 1990 a 2001 • 2,50; 2002 a 2008 • 2,00 Os preços incluem IVA à taxa de 5% N.B.: Os pedidos de envio pelos CTT serão acrescidos de portes segundo os códigos postais: 1000/2000 • 4,21; 3000/8000 • 5,79; Açores e Madeira • 6,56. 14 FIGURAS e FACTOS Assinatura de Protocolo entre Exército Português e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa T endo em vista proporcionar aos militares do Exército que prestam serviço na dependência da Direcção de História e Cultura Militar (DHCM), ou que estejam interessados em ali vir a desempenhar funções, a possibilidade de obterem formação específica nas áreas de arquivística, biblioteconomia e museologia, foi assinado, em 30 Julho, um protocolo de colaboração entre o Exército Português e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O protocolo possibilita a frequência de cursos de mestrado, nas áreas de conhecimento acima mencionadas. A assinatura do protocolo teve lugar na DHCM, pelo seu Director, Major-General Adelino Matos Coelho, cujos poderes de representação foram conferidos por despacho do Chefe do Estado-Maior do Exército, e pelo Director da FCSH/UNL, Professor Doutor João Sàágua. 15 Coronel António José Pereira da Costa* “Guerra subversiva é uma luta conduzida no interior de um território, por uma parte dos seus habitantes, ajudados e reforçados ou não do exterior, contra as autoridades de direito ou de facto estabelecidas, com a finalidade de lhes retirar o controlo desse território ou, pelo menos, de paralisar a sua acção”. (in O Exército na Guerra Subversiva1) A propósito do programa passado na RTP, com o título deste artigo ocorreu-me a realização de uma análise de certas características das Campanhas de África 1961-74. Não considero uma questão crucial o nome que se deu à “guerra”. Colonial, para os que não a apoiavam e contestavam, do Ultramar, para os que a aceitavam e pareciam fazê-la com certo empenho, de África, para os que, hoje, pretendem criar um meiotermo sem hostilizar ninguém, cada um poderá dar-lhe o nome que quiser, sendo certo que o fenómeno de que falamos é o mesmo. A designação que acima uso está relacionada com aquilo que entendo que ela foi 16 de facto: um prolongamento da instabilidade que sempre terá caracterizado o ultramar português (províncias ou colónias) e, porventura as possessões de todos os outros países europeus. A expressão “Campanhas de África 1961-74” pretende apenas distingui-las das campanhas que tiveram lugar no fim do Séc. XIX e início do Séc. XX. Relembro que, sabendo do que se fala, o nome não acrescenta nem diminui nada às características de qualquer fenómeno histórico. Não consta que, alguma vez, os dirigentes políticos ou militares que se decidiram pela realização de uma qualquer guerra, tenham perdido o sono a pensar no nome que lhe dariam ou no nome com que ela iria passar à História. Resolvida a questão do nome da guerra, passaria a dar o meu contributo para analisar o que ela foi na sua essência. Para tal, socorrer-me-ia da definição de “Guerra Subversiva”, que o Exército Português adoptou na altura e que ainda hoje se mantém plenamente aplicável. Começo por considerar muito relevante que, de acordo com a definição regulamentar, a Guerra Subversiva é uma luta, quando, como o nome indica, seria normal que fosse apontada como um tipo de guerra, como vários há, e que o manual, poucas páginas à frente, se apressa a enumerar e a caracterizar sumariamente. O recurso ao dicionário permitirá verificar a diferença subtil, mas clara, entre um termo e outro. Na nossa História, até se registam as “Lutas Liberais”, uma feroz guerra civil em cuja designação a palavra “luta” aparece no plural. É muito provável que, quem estabeleceu a definição, quisesse sublinhar, logo à partida, uma das características da guerra subversiva, situando-a fora da área da guerra entendida como choque entre países ou alianças, através dos respectivos exércitos, colocando-a antes na área da luta política e social, logo por inteiro, no campo da sociologia. Como aspecto lateral, lembremos que os países que obtiveram a sua independência através de uma guerra subversiva falam muitas vezes de uma “Luta de Libertação”. Depois, detenhamo-nos na afirmação redundante de que é uma luta conduzida no interior de um território. Era de calcular que assim fosse. Efectivamente, todas as lutas ou guerras terão forçosamente lugar no interior de um dado território, mais ou menos extenso. Não será mesmo possível que possam ter lugar “no exterior de um território” sem certamente caírem dentro de um outro, contíguo ou mais ou menos próximo... Uma guerra pode conter várias batalhas, que podem ter lugar no ar, na terra e no mar, mas a condução de uma luta no “exterior de um território” determinará sempre que seja levada a cabo no interior de um outro território. A definição começa a tornar-se mais clara e especificamente determinante quando declara quem são os contendores: uma parte dos (...) seus habitantes (do território) e as autoridades de direito ou de facto estabelecidas (no território). O facto de habitantes que desencadeiam a luta poderem ser ajudados e reforçados, ou não, do exterior pode influenciar a conduta e determinar um êxito mais fácil, mas não será, por si só, condição de sucesso. É óbvio que, em princípio, o apoio exterior será um catalisador do êxito, especialmente na actual conjuntura, mas é possível encontrar na História, casos em que aquela ajuda e apoio foram pouco consistentes e a vontade da população acabou por se impor à das autoridades. Realcemos que o definidor não diz que é uma luta entre duas facções da população, nem entre dois exércitos. Atentemos agora no objectivo da luta. Segundo a definição, as forças insurrectas têm como a finalidade (...) retirar o controlo desse território às autoridades de direito ou de facto constituídas ou, pelo menos, (...) paralisar a sua acção. Daqui podemos concluir que, por um lado a simples paralisia da acção das autoridades concede a vitória à subversão e, por outro, a derrota daquelas materializa-se inapelavelmente na perda de controlo do território, a favor da parte da população que conduziu a luta. Ao termo “subversivo”, pouco utilizado até então, passou, a partir da altura em que a guerra teve início, a ser emprestado um significado pejorativo, mesmo ofensivo, que não corresponde ao seu 17 As guerras podem decretar-se, mas não se improvisam verdadeiro sentido. Efectivamente, este termo “não envolve, em si qualquer juízo ético ou moral2” e pode ser aplicado noutros contextos que não a guerra, como sejam a filosofia ou a arte, quando se pretende falar de um alteração drástica com o que se vinha praticando ou uma contestação crítica (não obrigatoriamente pela negativa) às regras observadas do antecedente. Sabemos também que a guerra subversiva traduz e representa sempre uma crise de legitimidade política no território em apreço3. Estamos, de facto, numa situação em que um grupo activo no interior da sociedade conseguiu − certamente apresentando razões lógicas e válidas − influenciar uma larga massa da população e levá-la a contestar as autoridades, em defesa dos seus interesses (antagónicos e inconciliáveis com os das autoridades), pelo menos, numa primeira fase. Esgotada a possibilidade de uma conciliação, é sabido que a luta prossegue, numa escalada de violência, cujo fim é, normalmente, favorável à subversão. 18 Vila de S. Paulo de Luanda. Desenho de A. de Bar Analisada a definição de guerra subversiva, ainda hoje em vigor e com aplicação em alguns teatros de operações actuais, prossigamos na análise dos acontecimentos na Guiné, Angola e Moçambique, entre 1961 e 1974, tendo sempre como referência aquela definição. Comecemos por recordar que uma guerra só surge quando há condições para tal e que, sucintamente, podemos dizer que essas condições decorrem de causas de ordem económica, social, religiosa ou político-ideológica e que só é possível fazer com que uma dada população aceite participar em acções bélicas, organizadas e constantes, se lhe for previamente criada a necessária disposição anímica (e até necessidade) para tal. Por outras palavras: há que criar uma certa agressividade, pelo menos num dos beligerantes que o leve a reconhecer o inimigo e a estar convicto de que a razão lhe assiste. É de excluir, à partida, a possibilidade de se desencadearem acções violentas só pelo facto de um dado país ou facção dispor de forças armadas de certa capacidade bélica. Não é possível fazer surgir uma guerra do nada, quase por geração espontânea, como, muitas vezes nos querem fazer crer, com causas pouco claras, mas muito apregoadas, como sejam: a infiltração de elementos agitadores, as ameaças sobre a população que, assim, será obrigada a combater, o carisma dos chefes, variável, vago e momentâneo, etc.. Salientemos que os “agitadores” só têm conseguido actuar se explorarem o descontentamento (bem palpável) da população e que o carisma é algo indefinido, inexplicável, mas que todos parecem saber o que seja e como se manifesta... É nossa opinião de que, no caso do ultramar português, o caldo de cultura para uma guerra subversiva vinha sendo criado há séculos. Efectivamente, a colonização europeia foi sempre feita mais na mira da exploração dos recursos locais, que tanto podiam ser matérias-primas ou pedras preciosas, madeiras ou produtos da terra, como “recursos humanos”, (leia-se escravos) do que com intuitos de expansão civilizacional. Era a mentalidade do tempo e Portugal não teria de fazer excepção. A História é eloquente na demonstração desta verdade e, mesmo a Igreja, a quem tocaria a conquista de novas almas para a cristandade, salvo excepções, como a do Padre António Vieira, nunca se opôs fortemente à situação de exploração que se vivia nas colónias, nem teria condições para tal4. Por outro lado, um país, como o nosso, pequeno e com pouca capacidade para se impor, não poderia ocupar grandes áreas do continente africano. Restava-lhe fixar-se em locais onde as condições de vida e de defesa fossem mais favoráveis, procurando relacionar-se de forma mais ou menos hábil com os habitantes das redondezas para obter vantagens comerciais. Foi o que sucedeu (por exemplo) em Angola, com a fundação de Luanda (em 1576), mesmo assim a ocorrer 92 anos após a chegada de Diogo Cão à foz do rio Zaire. De uma forma simplista, mas que traduz o que se passou, podemos dizer que João Teixeira Pinto, Carlos Fortunato, historiaguine.com Mesmo a acção repressiva de Teixeira Pinto foi conduzida com bastantes dificuldades e com baixas muito consideráveis a Europa só acordou verdadeiramente para a África, por alturas da Conferência de Berlim (1884), quando retalhou aquele continente, através de convenções e com critérios aos quais só poderemos chamar discutíveis. E não se pode dizer que fosse cedo... Só para se aquilatar da situação que se viveria nas colónias portuguesas em África, procuremos determinar por que seria que a Corte portuguesa, em 1807, não fugiu para CaboVerde, Guiné, S. Tomé ou até Angola (cuja colonização efectiva só começou após a independência do Brasil) já que seriam territórios completamente fora do alcance de Napoleão. É notório que estas possessões ultramarinas, embora mais próximas de Lisboa, não eram destinos possíveis para uma Corte em fuga, acompanhada por alguns milhares de nobres, funcionários e “apoiantes”. A ocupação dos territórios africanos estaria numa fase de tal modo embrionária que a escassez de recursos locais e a insegurança levaram a que a possibilidade de a Corte ali se instalar nem sequer tivesse sido equacionada. Fazendo o tempo avançar um pouco, recordemos que, só na Guiné, entre 1891 e 1912, tiveram lugar 11 sublevações populares, quase todas a distâncias relativamente curtas de Bissau, muitas das quais reprimidas com grande violência e nem sempre com os melhores resultados para as “forças da ordem”. Houve mesmo casos que se saldaram por derrotas muito pesadas, como foi o sucedido em 1891, na Ilha de Bissau (Região dos Papéis), e ocorrido em 1897, no Oio. Mesmo a acção repressiva deTeixeira Pinto, entre 1912 e 1915, a mais conhecida de todas, e a que parece ter sido mais eficaz, foi conduzida com bastantes dificuldades e com baixas muito consideráveis. Ter-se-á então verificado uma certa acalmia nas relações entre as populações locais e as autoridades coloniais, mas data de 19315 uma revolta dos Papéis e Mancanhas em Bissau, que terá sido a última sublevação antes de Pidjiguiti (Agosto de 1959), esta tendo por pano de fundo um conflito laboral. Relativamente às outras nem sequer sabemos que causas tiveram. Nas restantes possessões o ambiente seria certamente próximo do da Guiné. As populações locais nunca aceitaram bem o domínio das autoridades portuguesas e as relações entre os colonos chegados da Metrópole ou os seus descendentes e as populações autóctones nunca foram pacíficas. Na melhor das hipóteses, revestiam relações de trabalho que, por vezes, se aproximavam das relações de produção da Idade Média. Procurando explorar o descontentamento das populações das colónias portuguesas, é também conhecida a acção das autoridades coloniais dos países limítrofes, no âmbito da aplicação das fronteiras da Conferência de Berlim que, quando a influência sub-reptícia não resultava, recorriam a acções de força a nível local ou à pressão diplomática, como sucedeu com o Ultimatum Britânico, no fundo um outro tipo de acção de força. Está, portanto, claramente demonstrado que as colónias/províncias ultramarinas de Portugal viveram sempre um ambiente de instabilidade larvar que se manifestou noutras ocasiões e locais como em Batejá, (S. Tomé, Fevereiro de 1953). Esta última sublevação, também de raiz laboral e sem grandes possibilidades de êxito é o paradigma daquilo que vimos demonstrando: que a ocupação de África pelos Portugueses (e não só) não foi um fenómeno pacífico e bem aceite pelas populações locais, as quais, 19 20 blogueforanadaevaotres.blogspot.com mesmo em períodos de “paz social”, reprimiam sempre uma dose residual de descontentamento e antagonismo relativamente à administração colonial e a quem a praticava ou impunha. Foi assim até ao final da II Guerra Mundial. A partir daí, já é conhecido com precisão e não deixa margem para dúvidas o trajecto político da África até ao final dos anos 50 e início dos anos 60 do Séc. XX. Por razões já inventariadas, as populações das colónias espalhadas pela Ásia, África e Oceânia iniciaram um processo de contestação às respectivas administrações coloniais e as independências sucederam-se a um ritmo que rapidamente influenciou o sentido das votações do Assembleia Geral da ONU. Em África, num processo mais ou menos rápido e pacífico (a Argélia foi excepção, mas só durante algum tempo) a independência alastrou, de tal sorte que, apenas o Marrocos Espanhol e as colónias portuguesas não se tornaram independentes com uma administração exercida pelas populações locais. Curiosamente, os países que iam surgindo guardavam as fronteiras da Conferência de Berlim, talvez por não terem a sua identidade bem definida e não estarem em condições de o fazer, sem que isso provocasse um ambiente de guerra generalizado, sempre que os limites entre as áreas habitadas pelos diferentes grupos étnicos não coincidissem com as fronteiras impostas pela Conferência. Só a África do Sul, governada por uma administração com base na população branca minoritária e a Rodésia procuravam seguir um caminho oposto, com pouco êxito, como sabemos. Neste ambiente internacional − quer consideremos apenas a África quer o mundo, na sua globalidade – a posição política da administração portuguesa era absolutamente insustentável. Se dúvidas houvesse, esta situação de insustentabilidade ficaria claramente demonstrada com a invasão de Goa, Damão e Diu (Dezembro de 1961), pela União Indiana, levada a cabo sem que comunidade internacional tivesse tomado qualquer atitude consequente antes da sua materialização. Claro que depois dela já não haveria qualquer campo político para que as forças invasoras retirassem e o território voltasse à posse de Portugal. Teria sido bom que as autoridades portuguesas tivessem tirado as devidas conclusões no que toca ao peso e influência do País na comunidade internacional. No que respeita às três colónias inseridas na massa continental africana, havia ainda a considerar a existência do elemento catalisador (apoio externo) que era facilmente actuante e eficaz e, frequentemente, determinante nos êxitos da subversão. Temos, portanto, três territórios africanos onde a paz social nunca foi um facto adquirido e a luta de Observemos ainda, que a descontinuidade territorial que o país apresentava pesava fortemente na situação políticosocial de cada parcela classes tinha todas as razões para proliferar, a serem atingidos pelas novas ideias separatistas e independentistas, em expansão, por todo o mundo. Se às condições enunciadas juntarmos o racismo, sempre pronto a emergir nas sociedades africanas, temos a mistura explosiva para o eclodir da insurreição. Lembremo-nos de que, se é um facto que a existência de condições nem sempre arrasta a ocorrência de uma sublevação, é verdade que as sublevações necessitam sempre de condições para eclodirem e progredirem. Havia assim condições óptimas para que a subversão germinasse. Observemos ainda, que a descontinuidade territorial que o país apresentava (entendendo-se Portugal como um todo constituído por vários territórios dispersos pelo mundo, sob uma mesma administração) pesava fortemente na situação político-social de cada parcela. É esta descontinuidade territorial do país que permite a mobilização maciça e pouco contestada de um sempre crescente número de unidades militares, na Metrópole (onde o potencial humano era maior e as condições sociopolíticas o permitiam) lançadas, depois, nas colónias em apoio da política do governo. A descontinuidade territorial determinou também que, após o desencadear da luta, a diferente situação − militar e sociopolítica − nas parcelas atingidas pela subversão tenha assumido também rapidamente diferentes características em cada uma e mesmo em certas regiões de cada colónia/província. A insurreição rebentou de forma muito violenta − selvática mesmo − e a resposta da administração central foi tão rápida e violenta quanto possível, naquele tempo. Se, inicialmente, os meios militares da subversão eram incipientes, a curto prazo, a utilização de todo o armamento ligeiro e pesado de Infantaria, por parte da guerrilha, permitiu uma melhor relação das forças em presença. De um lado grupos de cidadãos (camponeses-guerrilheiros), procurando bloquear a acção das autoridades constituídas, do outro as Forças Armadas Portuguesas, a procurar reverter a situação a favor daquelas. Mesmo salvaguardando as especificidades dos três teatros de operações é claro que, ao longo dos 13 anos que a guerra durou, a guerrilha foi sempre melhorando o seu potencial de combate, enquanto as Forças Armadas mantiveram o seu, mais ou menos imutável. Houve até casos de superioridade a favor da guerrilha − momentâneos ou mais duradouros, locais ou mesmo regionais − que se materializaram em situações muito delicadas, com perdas consideráveis para as Forças Armadas. Passado o primeiro embate, é um facto que, talvez por razões económicas, nunca houve um esforço que levasse a que fosse possível recuperar a situação favorável do potencial relativo de combate das forças em presença, antes pelo contrário, como foi o caso da Guiné, onde a ameaça antiaérea obrigou a reduzir substancialmente o apoio aéreo que muitas vezes resolvia a situação táctica que se vivia no terreno e o "empréstimo" de artilharia de campanha por parte da República da Guiné ao PAIGC, permitiu criar uma situação de superioridade pontual na fronteira Sul. Por outro lado, nunca houve uma grande passagem − brusca ou gradual − das populações do controlo da guerrilha para o das autoridades. E, numa “guerra” como esta, o que está em jogo é a população, (simultaneamente objectivo da luta e meio onde ela se desenrola) que é necessário cativar ou manter sob controlo autoconsentido e apoiante da administração. É também certo que a reacção da administração colonial foi tardia e que se processou já com a 2.ª fase da subversão muito avançada, à luz da doutrina que o Exército Português utilizava, o que comprometeu a possibilidade de uma vitória militar. Sabemos hoje que o governo português sempre subestimou as capacidades da parte contrária, num autoconvencimento por si mesmo forjado, que o impedia de reconhecer que havia razões, principalmente de carácter social e político, para o eclodir de movimentos sociais e de que a repressão destes já não resolveria todos problemas (como sucedera(?) no passado), antes pelo contrário. Ao fim de treze anos de luta ou guerra − como se lhe queira chamar − a situação piorava e, no caso da Guiné, apresentava sinais preocupantes de desenlace muito dramático. A subversão foi capaz de isolar e pressionar duas posições de nível companhia, forçando ao abandono de uma e sendo contrabatida, com bastante dificuldade na outra, para além de ter conseguido suster uma ofensiva das Forças Portuguesas, realizada numa escala considerável, no Sul da província. Não ignoremos que, se um colapso viesse a suceder na Guiné, seguir-se-ia, sem dúvida, um efeito de dominó que arrastaria, num período mais ou menos curto, a derrota militar em Angola e Moçambique, com consequências que hoje nem podemos imaginar, mas que, certamente seriam gravíssimas. Seria possível uma retirada de mais de 30.000 homens, acompanhados do respectivo material, sob pressão do inimigo e com uma linha de comunicações de 5.000 km (cinco dias por via marítima e quatro horas por via aérea), mesmo recorrendo a um apoio intermédio em CaboVerde? Quais seriam as suas possíveis consequências? E depois de uma derrota na Guiné, como seria o cenário na Metrópole, em Angola e em Moçambique? Há outros fenómenos a referir que têm que ver com a reacção da população da metrópole a uma guerra tão prolongada a sem resultados decisivos à vista. De começo, as unidades iam fortemente moralizadas e cada militar mobilizado aceitava a sua tarefa como imperativo patriótico. Porém, o aumento do número de unidades mobilizadas (que cresceu sempre até surgirem indícios de exaustão do potencial humano) dava a indicação de que o conflito não tinha resolução próxima e foi desgastando ânimo da população. Os militares regressados e desmobilizados foram exercendo um efeito negativo na mentalização dos que se lhes seguiram, como se dispersassem um vírus de desconfiança. Por outro lado, os dirigentes políticos, marcados por desprestígio latente, não conseguiam fazer passar a mensagem da necessidade de manter a guerra 21 Foto: arquivo JE A manobra de conquista do apoio da população não produziu efeitos decisivos que seriam necessários para anular as intenções da subversão e a vida diária na Metrópole, com o seu funcionamento normal, mais inserido na Europa, onde o número de emigrantes não cessava de aumentar, levava a que os que regressavam não fossem recebidos como alguém que vem de fazer algo de válido e necessário, mas sim com uma indiferença que às vezes atingia o desprezo. A guerra tornou-se uma rotina, uma aborrecida rotina, um esforço que era obrigatório − que não necessário − fazer, embora já não se soubesse bem porquê. A delapidar de recursos financeiros numa altura em que a Europa se estava a lançar numa etapa de desenvolvimento, causava apreensão, mas o esforço económico e financeiro a que a guerra obrigava, não conduzia a uma superioridade clara das Forças Armadas sobre a guerrilha, embora as despesas com a guerra tenham atingido percentagens elevadas dos recursos financeiros do País. O tempo trabalhou a favor da subversão, quando deveria ter sido utilizado a favor da contra-subversão. Muito provavelmente não terá sido o tempo ou o uso que dele se fez que ditou o resultado neste aspecto, mas antes o falhanço completo em manter a mobilização inicial das retaguardas, demasiado distanciadas do teatro dos acontecimentos, quer se meça a distância real e física, quer se considere o seu sentir e a disposição anímico-ideológica para apoiar a guerra. Este falhanço verificou-se também nas Províncias Ultramarinas. Tanto nas que, pela sua maior extensão, permitiam um grande alheamento e até 22 desconfiança das populações dos grandes centros cosmopolitas, relativamente ao que sucedia nas zonas onde a guerrilha estava activa; como das populações daquelas áreas que, dia após dia e ano após ano, eram confrontadas com a subversão e obrigadas a viver com ela e não viam uma alteração clara da situação no sentido que as autoridades diziam pretender obtê-lo. Estes aspectos do problema reforçam a ideia da incapacidade do governo para mobilizar vontades para a sua causa. Esta incapacidade tendia a acentuar-se com tempo e só um milagre na política internacional poderia retirar as diversas formas de apoio exterior à guerrilha. Uma análise fria da realidade teria permitido tirar as devidas conclusões sobre as reais consequências do prolongamento de uma situação política que se tornava, cada vez, mais um marasmo. Em resumo, podemos afirmar que a subversão − essencialmente uma forma de luta política e social − surgiu na África portuguesa quando tinha todas as condições políticas e sociais (que se vinham acumulando, há muito), para vingar e dispunha também de boas condições para se expandir, quer a nível local, quer a nível internacional. Deveria ter sido contrariada com oportunidade, o que exigiria prever (antecipadamente, com humildade e realismo), antes de prover (tarde e com grande sacrifício das pessoas e esforço económico-financeiro). Além disso, a violência utilizada contra a subversão revelou-se ineficaz para a contrariar, foi longa e a manobra de conquista do apoio da população (a realizar em simultâneo) não produziu efeitos decisivos que seriam necessários para anular as intenções da subversão. A manobra de conquista e adesão das diferentes retaguardas nos diferentes territórios falhou e, por fim, o esforço económico-financeiro para manter a contra-subversão acabou por se tornar incomportável. Do impossível estratégico − que sempre existiu, em última análise − caiu-se no impossível táctico. No primeiro dia de Verão de 2008.JE *O Coronel António José Pereira da Costa nasceu em 22 de Junho de 1947. Tem o Curso de Artilharia da Academia Militar, tendo ascendido ao actual posto em 1 de Dezembro de 1997. Cumpriu duas comissões na Guiné: a primeira entre Janeiro de 1968 e Janeiro 1969; a segunda entre Maio de 1971 e Agosto de 1973. Foi delegado de Portugal no Grupo de Trabalho “FINABEL MIKE” nos anos de 1996 e 1997 e no Army Sub-Group/NATO Training Group durante o ano de 1996. É autor do livro “A Cidadela de Cascais – Pedras Homens e Armas”. É o Director da Biblioteca do Exército. 1 O Exército na Guerra Subversiva, Tomo I − Generalidades, Ministério do Exército, Estado-Maior do Exército, 28 de Fevereiro de 1963, O. E. N.º 2, 1.ª Série, pág. 63. 2 Ver Couto, Abel Cabral, Elementos de Estratégia Apontamentos para um Curso, Vol. 2, 6.ª Parte, pág. 212 e seguintes, Instituto de Altos Estudos Militares, Lisboa, 1989. 3 Ver Couto, Abel Cabral, Obra já citada. 4 Só a título de exemplo, no que à região da Guiné diz respeito, veja-se o Tratado Breve dos Rios da Guiné do Cabo Verde desde o rio Sanagá até aos Baixos de Sant'Ana & etc, pelo Capitão André Alves d'Almada, 1594, publicado em 1841, por Diogo Köpke capitão da 3ª Secção do Exército e lente da Academia Polytéchnica do Porto, Typographia Comercial Portuense, Largo de S. João Novo n.º 12, Porto. 5 Eventualmente ligada à Revolta da Madeira que teve lugar no mesmo ano. 23 Tenente-General Alexandre de Sousa Pinto 24 Quadro de Joaquim Rodrigues Braga, Museu Nacional Soares dos Reis/IPM omo todos sabemos, D. Afonso Henriques nasceu, segundo muitos, em Guimarães, conforme alguns, em Coimbra1 e, de acordo com outros, em Viseu em meados de Agosto de 11092. A 17 de Maio de 1125, aos 15 anos de idade, armou-se a si próprio cavaleiro na Catedral de Zamora, prática exclusiva de reis, tornando-se, a partir de então, num verdadeiro combatente pela liberdade do condado que herdara de seus maiores. Tendo morrido em Coimbra a 6 de Dezembro de 1185, teve um combate de 60 anos, ao longo dos quais ficaram claramente demonstradas as suas altíssimas qualidades políticas e diplomáticas, por um lado, mas também, por outro, as suas capacidades como estratega, táctico e chefe militar. Qualidades estas sobre as quais muitos se têm já pronunciado, bastando lembrar-se, como comentários menos abonatórios: que era “naturalmente belicoso” e um “mestre, acabado na arte de enganar e na arte de combater..., sendo a separação de Portugal um facto consumado graças ao seu valente, medíocre, tenaz, brutal e pérfido carácter,” como referem respectivamenteAlexandre Herculano e Oliveira Martins3. Mas há, divergindo destas, opiniões bem favoráveis, de que lembramos: tratar-se de “varão valoroso no manejo das armas; eloquente e prudentíssimo em todos os seus feitos e dotado de claro engenho”, como é referido na Crónica dos Godos, e com “o animoso fervor e ardente esforço de Júlio César e a segurança mui confiada de Publio Cepião Africano, em tanto grau que tudo o que estava por fazer, cometia como se tivesse feito”, como nos diz Duarte Galvão4. Por sua vez, Torquato de Sousa Soares diz-nos que “apesar de hábil negociador, que sabia muito bem fazer o seu jogo e defendê-lo, sempre se manteve fiel à palavra dada e a compromissos formalmente tomados” vendo-o como “figura hercúlea de guerreiro, de político − talvez melhor − de rei, ainda hoje avulta tanto que não encontramos, para a medir, termo de comparação”5. E Luís da Câmara Pina considera que possuía “exigências especiais nas operações militares e grande clarividência como chefe militar” referindo que “só um grande chefe militar como ele conseguiria criar no Portugal do século XII uma situação de coesão reduzível a três conceitos, a saber: unidade de sentimento, unidade intelectual e unidade de doutrina”6. Finalmente, António Barrento 7 destaca e considera incontroversa a sua figura como a de um chefe militar, no qual se confundiam o senso e a coragem, se notavam a perseverança e a determinação que sempre o acompanharam, a sua vontade Foto: Tenente Paulo Moreira C Perspectiva de uma representação escultórica do 1º Rei de Portugal, pela mão do escultor Daniel Luzia Silva, 1960, Unidade de Apoio da Área Militar Amadora-Sintra. nunca satisfeita, registando o elevado sentido de oportunidade das suas acções, mostrando o espírito esclarecido de um jogador que calcula os riscos, os aceita e se empenha decisivamente na vitória. Termina, esclarecendo ainda, que poderia ser apenas um comandante militar que utilizasse o poder de que estava investido para se fazer obedecer, mas foi mais longe conseguindo que os portugueses do seu tempo aderissem aos seus projectos e os considerassem como seus, tomando-se assim um incontestado chefe militar. Nestas circunstâncias surge, com toda a naturalidade, o despacho do Chefe do EstadoMaior do Exército, General Pedro Cardoso, 1 Cf. Torquato de Sousa Soares. Cf. A. de Almeida Fernandes, Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso Henriques, Viseu, 2007, que MATTOSO, D. Afonso Henriques, Círculo de Leitores, 2006, pp. 1718, considera demonstrar a sua tese com verosimilhança suficiente para ter que se admitir como possível ou mesmo a mais provável das três teses. 3 Cf. transcrição de BARRENTO, António, D. Afonso Henriques a Guerra e os Objectivos Nacionais, EME, 1983, pp.72-73. 4 Idem, Ibidem, p. 72. 5 Idem, Ibidem, pp. 73-75. 6 Idem, Ibidem, p. 75. 7 BARRENTO, António, op.cit., pp. 76-77. 2 25 8 Despacho n.º 37/79 de 9 de Março, Ordem do Exército n.º 3, 1.ª Série, de 1979, p. 81. 26 Arquivo JE designando D. Afonso Henriques para patrono do Exército Português 8. Para além de rei fundador era, simultaneamente, o nosso primeiro grande estratega e chefe militar incontestado. Tomava-se agora necessário encontrar uma data que fosse significativa para nela se comemorar o Dia do Exército. De imediato surgiu a data que parecia ajustarse perfeitamente ao patrono e às finalidades de tal celebração − 25 de Julho − data da batalha de Ourique, há muito considerada quase como sendo a data da fundação do Reino de Portugal, graças à acção militar de D. Afonso Henriques. Pelo despacho anteriormente referido, o General Pedro Cardoso, determina como Dia do Exército o dia da Batalha de Ourique, 25 de Julho. Com o passar do tempo, o serviço militar deixou de ser universal e obrigatório e passou a serviço voluntário. As finalidades do Dia do Exército, consequentemente, passaram também a ter em conta a divulgação do conhecimento do Exército a uma juventude que só seria voluntária se lhe fosse despertado o interesse por tal actividade. Em termos de marketing o dia 25 de Julho era uma má data. A juventude escolar − faixa etária que mais interessava atingir − estava toda de férias e o mesmo se passava com a grande maioria dos restantes portugueses. Por outro lado, a Batalha de Ourique, se bem que continuasse a ser um marco lendário na definição da assumpção da independência nacional, em termos histórico-militares não passava de um combate com muito significado político, mas de nulo significado militar. Havia que procurar outro acontecimento que reunisse três características: que continuasse a ser politicamente relevante mas que passasse a sê-lo também em termos militares e que tivesse lugar em data conveniente para as finalidades que se pretendiam. Se possível, também seria interessante que tal acontecimento tivesse pontos de contacto com o que hoje em dia se passa nas actividades militares que ocorrem no mundo. A conquista de Lisboa surgiu, imediatamente, como um acontecimento que reunia todos os requisitos, até aquele que apenas se exigia em segunda ordem, só se tal fosse possível. É isso que irei tentar demonstrar. Politicamente, a conquista de Lisboa é um facto relevantíssimo por se traduzir na aquisição de uma posição fortíssima que por si só garantia um avanço territorial muito grande e de uma nova fronteira, Pormenor do Monumento Comemorativo da Batalha de Ourique, em Ourique. que sendo um obstáculo natural de grande valor − o Rio Tejo − facilitava a defesa de todo o território. Acresce que Lisboa era também o mais importante porto da costa atlântica. Não foi por acaso que, naturalmente, Lisboa se tomou a capital do país. Mas uma tal cidade era, obviamente, muito bem defendida pelos árabes que, ainda por cima, dispunham de apoios a curta distância a partir de Leiria e Santarém, a Norte, e de Sintra, Palmela e Alcácer do Sal a Sul. Estes factores obrigavam a ponderar muito bem a sua conquista. Afonso Henriques já em 1142 o havia tentado em vão, sabendo pois como, com os meios de que dispunha, tal não seria possível. Mas, perseverante como era, não desistiu e foi preparando essa conquista cuidadosamente enquanto aguardava a oportunidade para a poder levar a cabo. Preparação essa que incluiu a conquista prévia de territórios que lhe facilitariam a tarefa como sejam Leiria em 1142 e Santarém em 1147, garantindo assim a segurança da retaguarda e fortificando Germanelo, Alvorge e Ansião. Lisboa, na época, parece que já não tinha qualquer esquadra. A sua defesa concentrava-se sobretudo em fortalezas e torres de costa e nas fortes muralhas que circundavam a cidade, já então de muitos habitantes e com uma guarnição estimada por fontes cristãs em cerca de 15.000 soldados mais alguns que ali se tinham recolhido vindos de Santarém, após a conquista desta, e aos quais temos ainda de juntar combatentes ocasionais. Contava também com alguma artilharia, como as balistas que os relatos posteriores à conquista responsabilizavam pela destruição de várias máquinas de guerra dos cruzados. Museu Alberto Sampaio/IPM Visão de D. Afonso Henriques sobre a Batalha de Ourique. Quadro da autoria de Frei Manuel dos Reis, 1665. D. Afonso Henriques conhecia bem os esforços feitos a partir de 1144 e intensificados em 1146 pelo Papa Eugénio III e pelo seu amigo e aliado nesta questão, São Bernardo de Claraval, para a organização de uma segunda cruzada à Terra Santa que, após a conquista de Edessa em 1144 estava a sofrer uma das maiores ofensivas muçulmanas de sempre. A esta cruzada aderem de imediato Luís VII de França e Conrado III, imperador do Sacro Império. É óbvio que D. Afonso Henriques toma também conhecimento de outros senhores que, não pretendendo subordinar-se a nenhum daqueles soberanos, decidem avançar para a cruzada não seguindo por terra, mas fazendo por mar o périplo europeu atingindo o Médio Oriente pelo Mediterrâneo. Considera que pode ser chegada a sua hora. Encarrega, assim, o bispo do Porto, D. Pedro Pitões, de os interceptar e de os convencer de que a ajuda a D. Afonso Henriques contra os muçulmanos era obra de grande mérito aos olhos de Deus, tão importante quanto a que iriam depois cumprir no Médio Oriente. Pelo seu lado, Afonso Henriques foi-lhes aguçando o apetite com a possibilidade de rendosos saques e a promessa de posse de terras no seu próprio território após a conquista, se o desejassem. E assim aconteceu. Os cruzados deslocaramse, a partir de Darthmouth, sob o comando de Arnaldo de Aarschot, os pertencentes ao Sacro Império e, sob o comando de Cristiano de Gistell, os flamengos e bolonheses. Com partida da Normandia vão-se-lhes juntar mais quatro grupos: um de ingleses, provenientes de Suffolk e Norffolk sob o comando de Hervé de Glanville, outro de homens de Kent, comandados por Simão de Dover, um terceiro grupo de Londres, comandados por um tal André e, finalmente, um grupo indiscriminado que incluía normandos, galeses e outros súbditos do rei de Inglaterra sob o comando de Sahério de Archelles. Totalizavam um número de navios, variável conforme os autores, entre 170 e 200 que transportavam cerca de 13.000 homens de guerra a bordo. Era, sem dúvida, o reforço há muito desejado e esperado por D. Afonso Henriques para se poder lançar na conquista da cidade. D. Pedro Pitões e a sua eloquência fizeram o resto à sua chegada ao Porto a 16 de Junho de 1147. Os navios cruzados, reforçados com alguns do próprio rei de Portugal, cercaram a cidade pelo rio, a Sul. A hoste real levantou arraial a Norte, junto ao monte de Sant’Ana. Os ingleses posicionaram-se a Oeste, no monte Fragozo e os flamengos e alemães, a Leste, no monte de S. 27 Cidade de Lisboa. Vicente. Nos navios mantinham-se os alemães e flamengos necessários para defesa ou ataque pelo Sul, no lado Oriental da cidade, e ingleses, para o mesmo efeito, mantinhamse nos navios do lado Ocidental, onde hoje se situa o chamado Terreiro do Paço. Tal cerco, com grande número de episódios, manteve-se entre 20 de Junho e 25 de Outubro, quatro meses difíceis porque os defensores da cidade não a queriam entregar de modo algum. Através de testemunhos presenciais de cruzados sabe-se, por Arnulfo em carta a Milão bispo dos Morinos, que a vitória foi mais divina que humana, sobre duzentos mil e quinhentos sarracenos, na festa das onze mil virgens que, no calendário cristão, ocorria a 21 de Outubro 9. Sabemos também por carta do presbítero Raul, que alguns dizem ser o delegado de São Bernardo a Afonso Henriques, para Osberto de Bawdsey, que uma vez tomada a cidade após dezassete semanas de cerco10, os de Sintra entregaram-se ao rei, depois de rendida a guarnição do seu castelo. O de Palmela foi tomado pelo rei, sem luta, por ter abandonado a sua guarnição. Rendidas em volta todas as fortalezas pertencentes à cidade ... , no dia em que se celebra a festa de Todos-os-Santos (1 de Novembro) em louvor e honra do nome de Cristo e do de Sua Santíssima Mãe, foi purificado o templo pelo arcebispo e quatro bispos e instala-se aí a sede do bispado, com estes castelos e terras abaixo designadas: além Tejo: o castelo de Alcácer, o de Palmela, e a região de Almada; aquém do Tejo: o castelo de Sintra, o de Santarém e o de Leiria. Os seus termos vão do castelo de Alcácer ao de Leiria, e do mar ocidental até à cidade de Évora11. Cumprindo um objectivo que era já de seu avô, o imperador D. Afonso VI, transformado em missão 28 Iluminura de Simão Berring, British Library que este atribuira ao genro, o conde D. Henrique, o sonho de Afonso Henriques estava consumado e, como corolário da sua perseverança, cuidadoso planeamento, capacidade política e diplomática e indiscutível capacidade de chefia, obtinha uma grande vitória militar que era fundamentalmente sua, pois a ele se devia toda a coordenação da operação, impedindo as habituais rivalidades entre os diferentes chefes e impondo-lhes a sua vontade. O cerco e conquista de Lisboa, no dizer do Prof.º Pedro Barbosa, “foi acontecimento que marcou profundamente a Cristandade ocidental, não só no século XII, mas igualmente por alguns séculos ainda. Do naufrágio que foi a Segunda Cruzada, esta acção militar foi a tábua que conseguiu flutuar”12. Estava encontrado o evento que sendo politicamente relevante o fosse também em termos militares. Faltava saber se as datas dos acontecimentos corresponderiam a uma época do ano que satisfizesse também os interesses do marketing. Ora, o assalto final inicia-se em duas frentes a 16 de Outubro, a 21 os sitiantes aproximaram da muralha uma grande torre de 27 metros de altura, construída por um cruzado, engenheiro de Pisa, e podem, finalmente, lançar a ponte que lhes permite colocar gente no interior. A 23 ou 24 de Outubro a situação era insustentável, havendo muitos que na cidade morriam de fome. Lisboa capitulou e os cristãos entraram nela assenhoreando-se do castelo. E a 25 Lisboa ficou definitivamente em poder do rei de Portugal. Alexandre Herculano refere o acordo celebrado na quinta-feira, 23 de Outubro, para a entrega da cidade indicando que no mesmo dia ou, talvez, no imediato, uma das portas abriu-se para facilitar o acesso aos homens de armas que iam tomar conta da Kassba. Aos alemães e flamengos deu-se a precedência da entrada, se é que a não tomaram. Entraram depois os cento e quarenta angloGravura de D. Afonso Henriques, autoria de Salvador Ferreira, 2009 normandos, e após eles o rei precedido pelo arcebispo de Braga, de cruz alçada e rodeado de outros bispos. Seguiam o rei os chefes portugueses e estrangeiros e um numeroso séquito. Esta espécie de préstito dirigiu-se à kassba e na torre mais elevada do castelo, ao som de cânticos religiosos, hasteou-se uma cruz, que se via de toda a parte e que indicava ter Lisboa, enfim, submetido o colo ao domínio cristão, depois do que o rei, a pé, correu todos os muros da kassba, provavelmente para verificar o estado das fortificações13. Temos, pois, a data de 24 de Outubro como a mais provável para a entrada do rei em Lisboa e a colocação da sua bandeira no alto do castelo, data coincidente com um Outono normalmente ameno, passível de umas cerimónias sob bom tempo e com a presença da juventude em plena actividade escolar. Para finalizar a análise que nos propusemos, queremos ainda chamar a vossa atenção para os seguintes aspectos, muito de acordo com as operações que hoje em dia se processam pelo mundo fora. A conquista de Lisboa foi efectuada por uma força conjunta14 e combinada15 sob o superior comando de D. Afonso Henriques, isto é, uma 9 Carta do Cruzado Arnulfo, Conquista de Lisboa aos Mouros (1147) − Narração pelos Cruzados..., 2a Edição, Lisboa, 1936, onde o número de 200.500 sarracenos inclui, obviamente, toda a população e não apenas os combatentes. 10 Que o próprio Raul refere ter-se iniciado na vigília do Apóstolo S. Pedro, a 28 de Junho portanto. 1I Carta do cruzado Osberno, op.cit.. Hoje considera-se que Osberno não era realmente o remetente mas sim o destinatário, sendo remetente o clérigo Raul de Glanville, parente do comandante de um dos grupos de ingleses. 12 BARBOSA, Pedro Gomes, Conquista de Lisboa − 1147 − A Cidade Reconquistada aos Mouros, Lisboa, 2004, p. 82. 13 Em nota de pé de página esclarece Alexandre Herculano, História de Portugal, Bertrand, 1980, Vol. I, Tomo lI, p. 522, o seguinte: “o dia da entrada dos cristãos em Lisboa não se pode determinar precisamente pela narrativa do cruzado inglês, mas o que desta resulta forçosamente é que foi a 23 ou a 24, quinta ou sexta-feira, começando a saída dos sarracenos no sábado como nessa narrativa é expresso. O Indiculum põe em 25 a entrada do rei o que é inexacto. Dodequino e Arnulfo fixam a consumação da vitória a 21, considerando a cidade tomada no dia da suspensão de armas e da entrega dos reféns. A Crónica dos Godos põe a entrada numa sexta-feira, isto é a 24, o que expressamente diz o exemplar parafraseado de Resende. Talvez isto seja o mais crível, supondo que se gastasse a quinta-feira em tomar a decisão sobre o juramento de fidelidade ao rei, na execução deste acto e em resolver a forma da entrada e entrega dos despojos”. 14 Regulamento de Campanha − Operações, Vol. I, p. 4/7 15 “ Idem, Ibidem. 29 As conquistas de Lema em 1142 e de Santarém em 1147, garantiriam a segurança da retaguarda, facilitando a grandiosa tarefa da conquista de Lisboa. força onde se reuniam diferentes ramos das Forças Armadas - Exército e Marinha - e diferentes Forças Armadas - Portugal, Alemanha, Flandres, Inglaterra e Normandia. É face a todas estas verificações que, em 2004, pelo seu Despacho n.º 48, o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Luís Vasco Valença Pinto, decidiu determinar que o Dia do Exército se passasse a comemorar a 24 de Outubro.JE Fontes e Bibliografia BARBOSA, Pedro Gomes, Conquista de Lisboa 1147 - A Cidade Reconquistada aos Mouros, Tribuna da História, Lisboa, 2004. BARRENTO, António, D.Afonso Henriques a Guerra e os Objectivos Nacionais, EME, Lisboa, 1983. Despacho n.º 48/CEME/2004 de 1 de Março. FERNANDES, A. de Almeida, “Conquista de Lisboa”, Dicionário de História de Lisboa, direcção de Francisco Santana e Eduardo Sucena, Lisboa, 1994. 30 Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso Henriques, SACRE, Viseu, 2007. HERCULANO, Alexandre, História de Portugal Desde o Começo da Monarquia Até o Fim do Reinado de Afonso m, Livraria Bertrand, Amadora, 1980. MATTOSO, José, D. Afonso Henriques, Círculo de Leitores, Lisboa, 2006. Nota Breve Sobre o Patrono e o Dia do Exército, EME/ DSHM, 15-V-1979. OLIVEIRA, José Augusto de, (Tradução), Conquista de Lisboa aos Mouros (1147) - Narração pelos Cruzados Osderno e Arnulfo Testemunhas Presenciais do Cerco, 2a Edição, Lisboa, 1936. Ordem do Exército, n.º 3, 1ª Série, 1979. Regulamento de Campanha - Operações, Vol. I, EME, RODRIGUES, Maria Teresa Campos, “Ourique, Batalha de”, Dicionário da História de Portugal, direcção de Joel Serrão, Vol. IV, Iniciativas Editoriais, 1975. SOARES, Vicente Henrique Varela; e ADELINO, Eduardo Augusto das Neves, Dicionário de Terminologia Militar, Lisboa, 1963. 31 Texto e fotos de Tenente-Coronel Cavalaria Jocelino do N Bragança Rodrigues* O Agr MIKE foi constituído com base no GAM/BrigInt e, para preencher a totalidade da sua Estrutura Operacional de Pessoal, recebeu uma Companhia de Atiradores do RI 13, a dois pelotões, um Pelotão de Atiradores do RG1/ ZMA, Módulos de Engenharia do RE 3, de Apoio do CTOE, de Transmissões da EPT e militares provenientes de diversas UEO do Exército que integraram o Estado-Maior (EM) e a Companhia ALFA, constituindo-se numa equipa verdadeiramente combinada.A 1 de Março de 2008, iniciou-se no RC6, uma jornada cujo epílogo se concluiu, também no RC6, com a retracção da Força e entrega do Estandarte Nacional à guarda da BrigInt, a 15 de Abril de 2009. Corolário de um intensivo treino ministrado ao longo do aprontamento, o exercício final da Força decorreu de 24 a 31 de Julho de 2008, em Cabeceiras de Basto, a fim de testar a sua proficiência e avaliar a sua capacidade no desempenho de operações em todo o espectro do conflito militar moderno, atenta a missão que lhe estava cometida no Kosovo. Com o inexcedível e entusiástico apoio do Município e população cabeceirenses, foi possível recriar, no cenário das Terras de Basto, a cidade de Pristina e o ambiente característico do Kosovo. A Escola EB 32 2,3 de Cabeceiras de Basto, com trinta anos de existência, durante este período foi transformada num quartel militar, simulando para efeitos de exercício o aquartelamento de Slim Lines no Kosovo, onde foi alojada a Força e a partir de onde foi controlada a execução do Exercício. Os 290 homens e mulheres do Agr MIKE responderam a variadas situações, similares às que iriam encontrar no Teatro de Operações (TO). A culminar o exercício, a Força efectuou, em 31de Julho de 2008, no recinto adjacente à emblemática Igreja de S. Miguel de Refojos, perante o Comandante Operacional, Tenente-General Pina Monteiro, e diversa assistência, uma parada militar e uma demonstração das suas capacidades que constituíram o gáudio e foram largamente apreciadas pelos presentes. A divisa da Heráldica do Agrupamento: “UT UNUM SINT”, “para que sejam um só”, espelha bem o comentário final da Equipa de Avaliação que conduziu a CREVAL: “O Agr MIKE, encontra-se excelentemente organizado, bem comandado, motivado e com um forte espírito de corpo… capaz de cumprir integralmente a sua missão operacional”. A 26 de Setembro com a chegada do último grupo de militares ao território do Kosovo, o MIKE deparouse com a realidade nua e crua do TO, para a qual nos tínhamos preparado sem descanso. Dos feitos desses seis meses e alguns dias vamos agora dar conta. Na impossibilidade de relatar tudo o que fizemos, vamos sumarizar as operações, exercícios e outras actividades desenvolvidas, evidenciar as áreas de excelência experimentadas e acima de tudo recolher as experiências de Oficiais, Sargentos e Praças, que num período tão curto de tempo viveram as suas vidas tão intensamente e viram a sua memória colectiva substancialmente enriquecida. A NATO Kosovo Force A Kosovo Force (KFOR), Força Multinacional liderada pela NATO é responsável por estabelecer e manter um ambiente estável e seguro no Kosovo e entrou neste TO em 12 de Junho de 1999, para cumprir um mandato da Organização das Nações Unidas (ONU), com base na Resolução 1244 do seu Conselho de Segurança. A região do Kosovo, com uma superfície de 10.887 Km2, equivalente em Portugal a Trás-osMontes e Alto Douro, situa-se no coração da Península Balcânica, no cruzamento de importantes vias de comunicação entre o Oriente e o Ocidente. No período de 2006 a 2009, diversos acontecimentos decorreram no Kosovo, tendo os mesmos tido de forma directa ou indirecta implicações nas missões atribuídas às FND’s Portuguesas. Destacase a declaração unilateral da independência do Kosovo, a transferência sucessiva das tarefas da United Nations Mission in Kosovo (UNMIK) para Organização das forças da KFOR. a European Union Rule of Law Mission in Kosovo (EULEX), a desactivação do Corpo de Protecção do Kosovo (KPC) e a implementação da Força de Segurança do Kosovo (KSF), entre outros. A Força Portuguesa destacada no Kosovo é designada por Kosovo Force Tactical Reserve Manoeuvre Battalion (KTM). Nas suas missões, a KTM, ao nível táctico, projecta-se, enquanto Reserva Táctica do Comandante da KFOR, em dois níveis: nível I (KTMG – Grupo), sendo composta por um posto de comando de escalão Batalhão, uma companhia de manobra e o apoio de serviços proporcional, e o nível II (KTMF - Força), composta por um posto de comando de escalão Batalhão e duas companhias de manobra e a parte proporcional do Apoio de Serviços, ambos com um prazo de intervenção reduzido. As Forças Portuguesas estão aquarteladas no Campo Militar Jubilee Barracks, que era inglês, mas que com a retracção desta Força foi adquirido pelas autoridades portuguesas passando a ostentar a Bandeira Nacional desde 1 de Junho de 2009. “A missão do Agr MIKE no TO do Kosovo obriga a que seja cumprido um grande e diversificado número de tarefas, que concorrem indubitavelmente para um enriquecimento na formação de qualquer militar. No que diz respeito à parte operacional, a missão de reserva táctica do COMKFOR exige treino e empenhamento operacional permanentes e muito exigentes, que nos obrigam a estar “prontos” 24 horas por dia. Realço nesta área, o quão gratificante que é poder percorrer todos os passos do processo de decisão militar, no planeamento de uma qualquer operação, e saber que na altura do emprego dos meios (terrestres e/ou aéreos), eles estão lá, disponíveis e operacionais. No que diz respeito à parte “não operacional”, mas concorrente desta, realço a possibilidade que existe em trabalhar com contingentes de vários países e ter que conhecer uma grande diversidade de meios e procedimentos, situação enriquecedora e que favorece o florescimento daquela qualidade que todos os portugueses possuem, que é a facilidade de relacionamento e de trabalho, seja com quem for. Servir no Kosovo é uma excelente oportunidade de enriquecimento técnico, operacional e humano.” Major de Cavalaria Peralta Pimenta/2º Cmdt e CEM Agr MIKE “Estar em missão no Kosovo foi, desde muito cedo, um desafio à capacidade dos Militares Portugueses em saberem viver em comunidade, partilhando alegrias, tristezas, sucessos, fracassos com um único objectivo, o de superar os obstáculos com 33 Fotografia aérea de Jubilee Barracks. que nos íamos deparando, contribuindo sobretudo para a estabilidade e desenvolvimento do Kosovo. Mas, foi por terras desta região, rica em património social e cultural que a colossal família MIKE conviveu ao longo de seis meses com outras culturas, outros saberes e particularmente coabitou diariamente com militares, oriundos de outras nacionalidades. (…) ComoAdjunto do Comando da Força Portuguesa, dei a conhecer a missão da KTM, estrutura, a História e a cultura do povo português; a importância dos Sargentos na estrutura das Forças Armadas e ainda os aspectos relacionados com a carreira: acesso, formação e progressão. Chegado o tempo de partir, regressamos com a certeza e a consciência do dever cumprido, enaltecendo o nome de Portugal e os feitos dos Militares Portugueses, por terras do Kosovo. Regressamos ao núcleo familiar, que apesar da separação física, demonstrou ser um esteio permanente e fundamental para o êxito desta missão em prol da paz.” Sargento-Chefe de CavalariaAntónio Coutinho/ Adj Cmd Agr MIKE “O desempenho da função de Oficial de Operações da KTM constitui-se numa oportunidade única para adquirir experiência no planeamento e execução de exercícios, treinos e operações, na dependência directa do COMKFOR. Foram planeadas, coordenadas e executadas Framework, Proximity, Focused, Boundary and Border Surveillance e Rehearsals Operations, treinos e exercícios de Notice To Move, Crowd and Riot Control, Air Lifts (diurnos e nocturnos). Destacam-se destas as Operations Rehearsals uma vez que foram colocados em prática o processo de decisão militar abreviado (hasty planning), a capacidade de projectar a KTM por via terrestre e aérea, ocupar uma Área de Atribuição de Missão e 34 rapidamente entrar em operações. Para a execução dos mesmos, foram facultados diversos meios ao dispor do COMKFOR, dos quais se destacam a Reserva Aérea Táctica da KFOR, oAirScan e a Tactical PsyOpsTeam.A KTM é uma unidade de escalão Batalhão, no entanto depende directamente do COMKFOR concedendo ao Oficial de Operações a oportunidade de lidar e colaborar directamente, numa base diária, com os J3/G3 da KFOR e das MNTF’s, possibilitando assim uma percepção global da actuação de todas as forças no TO. Estando a Reserva vocacionada para operar Kosovo Wide tivemos a oportunidade de trabalhar com todas as MNTFs e observar diferentes abordagens e organizações. O desempenho desta função foi uma experiência gratificante, enriquecedora e inesquecível quer a nível profissional quer a nível pessoal.” Major de Infantaria João Neves/S3/S5Ag MIKE “(…) De acordo com a intenção do COMKFOR e do comandante da KTM, fui incumbido de efectuar o plano de treino e emprego operacional da KTM.” (…) Com a sua implementação (…) “passei a ser conhecido no seio da KFOR como o Trainning Officer da KTM. O plano contemplava uma série de objectivos, que iam desde o treino e exercícios de crowd and riot control (CRC) até ao apoio em caso de catástrofe ou calamidade pública, aos níveis de pelotão, companhia e batalhão. Um dos objectivos mais marcantes e desafiantes, pela multinacionalidade de forças e meios aéreos envolvidos, foi o planeamento, coordenação e execução de exercícios de CRC com projecção aérea diurna e nocturna de forças e consequentes operações de junção dos meios terrestres. Na condução de um dos exercícios de projecção nocturna, tive a oportunidade de voar no helicóptero de Comando e Controlo (C2) (GA- O ZELLE) e assistir ao Exercise Air Controller, visualizando a partir do ar o desembarque da Força através da câmara térmica que equipava o helicóptero. Planear, coordenar e executar exercícios, construir capacidades de projecção aérea para a KTM com recurso a vários tipos de helicópteros, provenientes de nacionalidades diferentes, não foi tarefa fácil; contudo, o resultado final foi recompensador para todos os elementos da Força envolvidos. Ser Trainning Officer da KTM permitiu-me colher ensinamentos e viver múltiplas experiências que eu reporto de extraordinárias para um jovem capitão, aos níveis profissional e pessoal, e impossíveis de viver, com tanta intensidade num período de tempo tão curto, em território nacional.” Capitão de Cavalaria Pedro Cabral/Adj S3/S5/ AGr MIKE perações efectuadas pelo Agr MIKE. “A componente operacional do Agrupamento MIKE no Kosovo assumiu a face mais visível da Força e foi alvo dos mais diversos e rasgados elogios e aclamações. Não querendo “ofuscar” nem retirar o devido valor a esta componente, e como responsável pela componente logística da Força, devo enaltecer e valorizar quem esteve na “sombra” a criar condições para que outros elevassem o nome de Portugal aos mais elevados patamares. A pirâmide de Maslow estabelece uma hierarquia na satisfação das necessidades em patamares. Cada patamar corresponde a um conjunto de necessidades que, quando não satisfeitas, comprometem a afirmação do homem como ser humano. Extrapolando para a vertente militar e estabelecendo a analogia com as necessidades da Força, materializadas no acumular das carências básicas de cada militar, consegue-se, através de uma análise cuidada da pirâmide, isolar algumas necessidades básicas em que a componente logística teve um papel preponderante e decisivo para a sua satisfação. As funções logísticas (Reabastecimentos, Manutenção, Transportes, Apoio sanitário e Serviços), garantiram, cada uma ao seu nível, o apoio necessário à sobrevivência da força e à criação de condições para o cabal cumprimento da missão. Uma referência especial para à “cumplicidade” criada com os contingentes Inglês, Francês, Americano e Alemão que em muito contribuíram para a resolução atempada das deficiências que foram acontecendo com as instalações ocupadas pela Força. Todo o esforço colocado no fornecimento atempado dos artigos das diversas classes, na manutenção das viaturas, na prontidão dos militares em termos sanitários e serviços disponibilizados, assim como na criação das melhores condições possíveis de habitabilidade dos alojamentos foi recompensado através do sentimento do dever cumprido e do desafio ganho.” Major de Artilharia Jorge Agostinho/S4/ AgrMIKE Do desempenho da função de Oficial de Ligação (LNO) ao HQ da KFOR só me brotam vivências positivas e agradáveis de descrever. Na fase de preparação que antecede uma missão no teatro do Kosovo, e julgo que noutro qualquer, fora alguns apontamentos e o “STANAG 2101 TOP (EDITION 11) – ESTABLISHING LIAISON”, que descrevem os critérios e responsabilidades do Oficial de Ligação, nada mais existe que se possa constituir em “muleta”, pelo que um grande desafio se me deparava pela frente. Após a chegada ao TO, o meu antecessor ansiava por me passar a pasta e com alguma surpresa não só a de LNO, mas também a de Public Affairs Officer (PAO), que correspondia à divulgação do Agr MIKE/KTM no seio da KFOR, no Kosovo e em Portugal; tarefa que antevia como mais um aliciante desafio. Após a sobreposição, que de facto é essencial e da qual só posso enaltecer a maneira excepcionalmente profissional como foi conduzida, lá estava eu como único militar doAgr MIKE/KTM destacado da Força, para servir como elo de ligação das forças lusas ao HQ da KFOR. Começando pelo local de trabalho, localizado no Joint Operations Center, junto com os outros LNO das cinco Multinational Task Forces (MNTF) e Military Specialized Unit (MSU), rapidamente me apercebi que era o primeiro homem a “dar a cara” junto do comando do HQ da KFOR, pelo que o que eu transmitia não poderia suscitar qualquer tipo de dúvida junto deste, na qual se incluía a comunicação por vezes de informação crítica do Comandante, ultrapassando a burocracia do Estado Maior. O LNO actualiza diariamente, perante o COMKFOR (General Comandante da KFOR) e respectivo Estado Maior, todas as operações do AgrMIKE/KTM, efectuando brifíngues no final da tarde (Staff Update) e de manhã quando solicitado, constituindose em simultâneo no elo de ligação da Força às diferentes MNTF e MSU. É o primeiro elemento da Força a ser solicitado quando há a necessidade de informação ou de intervenção da Força que representa, pelo que está 24/7 horas de serviço e sempre contactável (first man to wake up e sem rest day como o resto da Força). Nas funções de PAO constituía a única e mais rápida ligação ao gabinete de relações públicas da KFOR para divulgar e transmitir a imagem do Agr MIKE/KTM extra HQ da KFOR, bem como as 35 actividades da força junto da Chronicle (publicação mensal da KFOR) e na página oficial da KFOR na Internet. Outra das tarefas digna de registo, pelo facto de ser conhecedor da grande maioria dos militares internacionais que prestavam serviço no HQ da KFOR, foi a de auxiliar o Comandante do Agr MIKE/KTM nos eventos levados a cabo pela Força que exigiam recurso a protocolo. Em suma, afirmo com convicção que vivi uma experiência única que recomendo vivamente, já que é de facto gratificante descrever e divulgar as cores portuguesas em ambiente multinacional e constatar in loco que o nosso desempenho é superiormente reconhecido.” Major de Artilharia Nuno Folgado/LNO HQ KFOR/Agr MIKE “Fruto da experiência adquirida na função de KTM LNO nas MNTF’s tenho a reportar que o LNO é o verdadeiro “faz tudo” no HQ das MNTF pois que, como elo de ligação, tem que resolver e clarificar os problemas das diversas Secções de Estado Maior da Força. Como substituto natural do KTM LNO ao QG da KFOR, devemos acompanhar o mesmo durante o máximo tempo possível, antes de o Agrupamento atingir a “Full Operational Capability”, para que possamos aprender a função, estando após este período aptos a substituí-lo durante as férias, ou em operações, se o JOC funcionar durante 24 horas. Este período serve também para desenvolver relações de trabalho - conhecer locais e pessoas ficando com uma noção sobre o que é verdadeiramente a KFOR, revelando-se estes conhecimentos de suma importância para o desempenho da função nas MNTF’s, uma vez que, não tendo os LNO’s qualquer preparação para o seu cargo, este “estágio” no TO é uma mais-valia. A postura do LNO nas MNTF’s tem que ser de total proactividade, colaboração e disponibilidade, pois ele é a imagem da KTM. Deveremos conhecer rapidamente os locais e pessoas a contactar, confirmando diariamente o cumprimento dos horários de toda a documentação a elaborar pelas nossas Secções de Estado Maior nos respectivos HQ, obter informação sobre a ligação aos sistemas informáticos, telefone e rádio das MNTF’s com o nosso TOC1 e com a KTMG projectada, facultando todos os elementos necessários à interoperabilidade entre sistemas. Temos que estar em permanente contacto com o TOC e a KTMG, satisfazendo todas as necessidades de ligação com os diversos órgãos das MNTF’s. Para finalizar, nesta função a “regra de ouro” é a 36 Patrulha em Mitrovica. Exercício de CRC. (À direita) capacidade de adaptação à forma de trabalho de cada MNTF, porque todas elas têm distintos “Battle Rythm” e sistemas de processamento de informações, o qual, se não for cumprido à risca poderá dificultar a ligação eficaz com a MNTF, uma vez que a KTM executa operações Kosovo wide”. Major deArtilharia Rui Rodrigues/MNTF LNO/ Agr MIKE “A operacionalidade de 106 viaturas, 36 atrelados, 520 armas e 345 equipamentos respeitantes a material óptico, optrónico, eléctrico e outro existente no TO, só foi conseguida com muitas horas de trabalho, persistência, saber e dedicação. O espírito de corpo criado pelos elementos do Módulo de Manutenção foi a chave que nos levou ao sucesso. A manutenção preventiva é essencial para a operacionalidade das viaturas/equipamentos/armamento, principalmente em climas adversos como o que encontrámos no Kosovo. Assim, chegados ao TO efectuamos o overall a todas as viaturas, resolvemos os problemas recorrentes das baterias e dos pneus, executámos 134 ordens de trabalho e 129 requisições, 1012 num total de cerca de 1220 artigos requisitados. Face aos poucos voos de sustentação, o apoio dos Contingentes Nacionais Francês e Americano e a recorrência ao mercado local, com todas as dificuldades inerentes à linguagem, foram uma maisvalia para o reabastecimento da classe IX. A diversidade e complexidade das tarefas executadas e relações de trabalho multinacionais desenvolvidas constituíram-se em experiências profissionais e pessoais inolvidáveis para todos nós.” Capitão de Engemharia Sónia Santos/Of Man/ Agr MIKE “A participação numa FND é sempre uma experiência enriquecedora. Os nossos conhecimentos e capacidade de adaptação são postos à prova. É ainda uma oportunidade de adquirir novos saberes, conhecer novas perspectivas e, acima de tudo, assumir a responsabilidade individual e colectiva de ostentar as cores nacionais e divulgar as tradições lusitanas. Dependendo da função, a experiência final é sempre gratificante bem como o somatório dos conhecimentos finais. No meu caso, coube-me a função de Sargento de Informações. Adicionalmente, desempenhei tarefas no âmbito da Directiva de Informação do Agrupamento. Coube-me ainda o planeamento e implementação da segurança física, do pessoal, CIS e da documentação no âmbito das normas NATO/KFOR. Da excelência do trabalho de equipa desenvolvido, realço o árduo trabalho desenvolvido e os extraordinários resultados obtidos nas inspecções de segurança conduzidas pelo Theatre Security Office da KFOR. Em suma, há um vasto conjunto de conhecimentos técnico-profissionais e pessoais, individuais e colectivos, adquiridos nas FND’s que podem e devem ser utilizados em termos doutrinários nas nossas Forças Armadas (FA). O Exército em particular e as FA em geral têm um potencial humano com imensas valências e capacidade de actuação.” 1.º Sargento de Cavalaria Agostinho Fernandes/ SAR S2/EM/Agr MIKE “Comandar é a essência do ser de um Oficial, constituindo a aspiração máxima que profissionalmente um Capitão pode ambicionar e que assume maiores contornos quando essa experiência tem lugar em situações de campanha, ou mais comummente nos nossos dias, numa FND. É nesse contexto que surgem as próximas palavras, numa tentativa de expressar o orgulho e gratidão pela confiança que me foi depositada em assumir o Comando da Companhia deApoio do Agr MIKE, aALFA Coy, o que constituiu uma experiência de vida e não apenas uma experiência profissional! Esse orgulho e a inquestionável honra que sinto têm igualmente a sua razão de ser no mérito militar, na prestimosa disponibilidade, na competência e capacidades diversas dos militares com que servi, que tornaram a missão de os comandar das mais distintas e dignificantes que profissionalmente poderia ambicionar. Apesar dos sobejamente conhecidos condicionalismos de ordem diversa que afectaram e influenciaram a nossa missão, não posso deixar de lembrar com a mais respeitosa reverência e emoção todas as situações que ultrapassámos em conjunto, que deixaram indubitavelmente a sua marca no fortalecimento dos laços de camaradagem e que em última análise solidificaram o espírito de corpo da Companhia. No seu enunciado mais simples posso afirmar que o centro de gravidade da Companhia era composto pelos Homens e Mulheres tão diferentes, nos quais se revia o espírito próprio que caracteriza cada uma das Armas e Serviços do nosso Exército, que perfizeram equipas bem sucedidas, coesas, colectivamente orientadas e coordenadas para a prossecução do mesmo fim comum: o pronto e cabal cumprimento da missão que nos estava atribuída. Capitão de Artilharia José Miguel Sequeira Maldonado/Cmdt ACoy/Agr /MIKE “Participar numa Operação de Apoio à Paz é mais que motivador e enriquecedor. É poder demonstrar a todos os que em nós acreditam e confiam que nos dias de hoje continuam a existir Soldados em Portugal! Estes Soldados somos todos nós, os militares portugueses, que na privação do nosso bem estar, queremos e conseguimos, com a nossa força de vontade, prestar auxilio às populações mais necessitadas e carenciadas nas alturas mais exigentes. A minha experiência como Comandante de uma Companhia Operacional no TO do Kosovo, para além de muito dignificante no exercício do comando de Homens, foi também extraordinária pessoalmente, pois fortifiquei os laços de amizade e camaradagem em toda a família MIKE. A missão muito enriquecedora militarmente, satisfez-me e aportoume uma enorme felicidade, pois pude ajudar na construção da nova sociedade do Kosovo, principalmente nas necessidades básicas, assim como no bem estar emocional de um povo que dá os primeiros passos para se constituir numa Nação. É pois, em alturas como estas que, na introspecção, damos valor àquilo que no quotidiano acabamos por nem cogitar e que tão importante é para o nosso equilíbrio como pessoas e militares: a família, a saúde, a educação e a PAZ!” Capitão de Cavalaria Adriano Branco/Cmdt CCoy/Agr MIKE “Embarcar neste tipo de missões, onde ostentamos a bandeira da paz a par da Bandeira Nacional, incrementa a maturidade do senso, a imparcialidade dos actos, a certeza do objectivo. Pelas situações e pessoas reais com que lidamos diariamente, a indução cognitiva é uma premissa à qual não estamos alheios, assim como a firmeza de demonstrarmos a nossa presença. Alcançar este estado de proficiência é precedido por um treino constante e de largo espectro, mas acima de tudo é o fruto de uma vivência terrena com todas as 37 dificuldades e situações quotidianas que se nos apresentam. Não é difícil manifestar que é neste clima de experiência diária em zonas de conflito que nós, militares da paz, adquirimos o know-how que extravasa para o resto da nossa vida militar, onde apontaremos o vivido aos níveis profissional e pessoal como o melhor exemplo.” Tenente de Infantaria Daniel Gomes/Cmdt 3ºPel/ BCoy/AgrMIKE Entre Janeiro de 2000 e Março de 2009 cumpri três missões de Apoio à Paz no TO do Kosovo. Comparando a situação actual com a que encontrei há nove anos atrás, posso dizer que o Kosovo está melhor em quase todos os aspectos. A maior diferença, sem dúvida, foi o Kosovo ter proclamado a sua independência unilateral. No entanto, a popularidade da KFOR continua em alta, sinal evidente de que está a cumprir bem a sua missão. As forças portuguesas continuam a ser saudadas e acarinhadas pela população. Esse carinho resulta do grande empenhamento, naturalidade, neutralidade e do querer e saber fazer do Soldado Português. Todas as tarefas que executei, nas mais diversas funções, enriqueceram e valorizaram a minha carreira Militar e sem dúvida que alargaram a minha maneira de ver a vida como homem. Dizse que não há amor como o primeiro, no entanto recordo com orgulho todas as missões efectuadas, embora tenha mais presente a última, em virtude de a ter terminado há bem pouco tempo e por ter sido mais rica operacionalmente. Percorremos o Kosovo de Norte a Sul, de Este a Oeste, operámos lado a lado com a maioria das forças presentes no TO em exercícios e operações e assumimos a generosidade do povo português nas diversas acções CIMIC levadas a cabo. Sinto-me honrado e altamente orgulhoso pelo trabalho efectuado nestas paragens e de ter a sorte de pertencer à nossa Pátria e à nossa Gente.” 1.º Sargento de Cavalaria Joâo Sousa/Sar 3º Pelotão/CCoy/KTM/KFOR “(…) A preparação da Força, antes da projecção, foi de extrema importância, não só em termos técnicos e operacionais, mas também na vivência dentro da secção. O conhecimento do Homem, das capacidades individuais, as suas dúvidas e dificuldades, os seus anseios, o que lhes vai no íntimo… Todas estas questões têm de ser clarificadas em território nacional. Na secção, cada militar deve ver no homem que está ao seu lado muito mais que um camarada de armas, deve ver acima de tudo, um amigo, um companheiro, alguém pronto a 38 Visita do Ministro da Defesa Nacional. salvar-lhe a vida ou escutar um desabafo num dia menos bom. A saudade acaba por aparecer e em cada alma, a preocupação por quem ficou em Portugal é inegável. Sabemos que, um problema que à partida parece insignificante se pode agigantar quando é acompanhado à distância. Já no TO, a secção tem de se manter sempre pronta a responder às ordens do escalão superior; para tal, o treino físico e operacional devem ser uma constante. Em cada homem foi notória a vontade de bem servir, de ajudar a manter um clima de paz e harmonia num território habituado ao conflito, de honrar a bandeira que levamos no nosso uniforme e no coração. Para nós militares, que não demandamos distinções nem tesouros, não existe maior riqueza do que o sorriso de uma criança, que como sempre, continuam a ser as principais vítimas nestas circunstâncias. Para cada homem e mulher que integrou o agrupamento MIKE, a missão no TO do Kosovo, mais do que uma experiência militar foi também uma experiência de vida e um acto de reflexão.” 1.º Sargento de Cavalaria Vitor Costa/Cmdt Sec/ 2ºPel/CCoy/Agr Mike “No dia 24 de Setembro de 2008 embarquei para um canto do continente Europeu desconhecido para mim e para grande parte dos meus camaradas. Ali tive contacto com uma outra cultura, um outro povo marcado pela guerra e pela pobreza, mas sempre com um sorriso hospitaleiro e com um olhar de esperança bem patente nos olhos das crianças. Os seis meses foram enriquecedores tanto a nível pessoal como profissional, foi uma experiência única mas que exigiu grandes sacrifícios de todos nós. Mas já dizia Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, e a alma do MIKE Acções CIMIC. transcendeu todos os objectivos a que eu me tinha proposto executar nesta missão. Aprendi mais como militar nestes últimos seis meses do que em seis anos na minha Unidade de proveniência, tive experiências que jamais sonharia ter (...). Tive oportunidade de trabalhar com militares de vários contingentes, de trocar vivências e opiniões. Adaptamo-nos sem problemas aos novos métodos de trabalho, alteramos algumas rotinas de modo a melhor cumprir as missões que nos eram impostas. Tudo isto foi concretizado com muito treino e com muito espírito de equipa, dai os meus agradecimentos a todos os membros da minha esquadra e da minha secção com os quais trabalhei directamente em todas as missões que nos foram incumbidas e que realizamos com o brio e profissionalismo que caracterizou aliás todo o trabalho do MIKE.” 1.º Cabo Manuel Felgueiras/Cmdt Esq/BCoy/ Agr MIKE “Após todo o esforço de aprendizagem, formação e treino realizados no aprontamento, pude pôr em prática os conhecimentos, que apesar de bons, não foram nem nunca vão ser demais, face à diversidade de situações novas com que fui confrontado no TO. A experiência adquirida foi óptima pois fiquei mais rico em conhecimentos militares, tendo em conta o acesso a diversos materiais e equipamentos que não nos foram disponibilizados quer na vivência da minha unidade, quer na fase de aprontamento. Cheguei do Kosovo mais rico como Homem por ajudar uma população carenciada, onde a palavra ser humano ganhou para mim um novo significado.” Soldado Pedro Marques/BCoy/Agr MIKE Dos 181 dias passados no TO, o Agr MIKE/ BrigInt/KTM esteve empenhado operacionalmente durante 126 dias, conduzindo 12 Operações no terreno ao nível Força e ao nível Grupo. Concomitantemente com o emprego operacional a Força desenvolveu um intenso programa de treino, avaliação operacional e prontidão para combate materializados da seguinte forma: 31 Reconhecimentos dos quais onze aéreos, 6 exercícios de Prontidão para Combate e Avaliação Operacional, 9 Exercícios Combinados de CRC níveis KTMG e KTMF, seis operações aerotransportadas [1 a nível Pelotão, 4 ao nível KTMG (1 nocturna) e 1 ao nível KTMF] seguidas de Operações de Junção e Exercícios Combinados de CRC com Forças da EULEX, MSU e dos Agrupamentos Multinacionais Norte, Oeste, Centro e Este. Concomitantemente com as operações tácticas foram executadas 24 acções CIMIC de apoio à população kosovar, apelidadas de “Grande Abraço” (Mighty Big Hug), em todo o Kosovo, contribuindo para o bem-estar das mesmas, bem como para o incremento da imagem, visibilidade e aceitação do Agr MIKE e da KFOR. Foram estabelecidos um total de 152 Postos de Observação, 137 Pontos de Verificação, executados 1814 patrulhamentos e foram percorridos cerca de 300000 quilómetros. Paralelamente com a actividade operacional, o MIKE organizou actividades desportivas, a Conferência do COMKFOR, as reuniões mensais dos Sargentos-Mor dos Contingentes presentes e dos Capelães da KFOR, vários eventos e cerimónias, recebeu a visita de diversas Altas Entidades, nomeadamente o MDN e CEMGFA, o Comandante Operacional do Exército, o Comandante da BrigInt, Eurodeputada, Dr.ª Ana Maria Gomes, COMKFOR, COSKFOR, DCOS OPS KFOR, DCOS SPT KFOR, COMMNTF-C, COMMNTF-E, UNMIK Chief Liaision Officer, Delegação da IGE, Inspecção de Segurança do Theatre Security Officer, entre outras entidades nacionais e estrangeiras. Áreas de Excelência experimentadas A liderança pelo exemplo foi uma preocupação constante aos mais diversos níveis do Comando da Força. Todos os documentos emanados do Comando e EM da Força contemplavam orientações para o Comando, Estado Maior e Comandantes das Unidades subordinadas, Intenção do Comandante, definição do esforço em cada fase da operação/actividade e medidas de segurança na última alínea das instruções de coordenação. A liderança foi testada e temperada pela realização das mais diversas actividades e operações, onde se incluem sete 39 marchas; corrida mensal, estafeta e Challenger da KTM; jogos tradicionais; o “cantar das Janeiras” e as participações na DANCON March e nas corridas organizadas pelo contingente irlandês, onde os resultados alcançados são a prova viva da liderança e da tempera dos Cavaleiros Lusos. Os Comandantes, aos vários níveis, exerceram a chefia a partir da frente, nomeadamente em Mitrovica Norte, no período de Dezembro 2008 a Janeiro de 2009. A formação e treino em CRC foram complementados, após uma semana no TO, aos mais variados níveis, incluindo o combinado e conduzidos sobre a forma de treino cruzado com a MSU. Neste âmbito foi ainda desenvolvida no seio da KTM a capacidade PSYOPS numa viatura táctica ligeira não blindada, que durante as acções de CRC emitia mensagens preparadas pelas PSYOPS da KFOR. Também no CRC a capacidade de liderança da KTM foi posta à prova pois que, passadas duas semanas em TO, assumiu a liderança, o planeamento, a coordenação e a condução dos exercícios combinados de CRC e de projecção aérea com as MNTF’s, MSU e EULEX, numa mostra clara da confiança inabalável depositada pelo COMKFOR na sua KTM. Os Oficiais, Sargentos e Praças jamais esquecerão a experiência vivida na execução de seis operações aerotransportadas aos níveis pelotão, KTMG e KTMF. O planeamento, a coordenação, a execução e o C2 foram conduzidos pelos militares do MIKE e, principalmente para os Quadros, oportunidades semelhantes serão praticamente impossíveis de voltar a concretizar, no número, tipologia e quantidade de meios envolvidos (vagas de 12 helicópteros Blackhawk e SA 330 PUMA, pertencentes a 4 MNTF’s e países diferentes). As Operações de Proximidade e as Intel Gathering Ops são operações em que a Força pretende conduzir uma acção direccionada para um efeito específico a atingir, baseada na pesquisa de um quesito específico de informação, utilizando um conjunto de meios específicos, letais e não letais, com a finalidade de manter a iniciativa operacional. Ao operar em todo o Kosovo e junto de actores governamentais e não governamentais, os soldados da KTM foram interlocutores privilegiados da KFOR para este tipo de operações. Foram desenvolvidas 24 acções CIMIC por todo o Kosovo com doação de medicamentos, alimentação, brinquedos, fornecimento e instalação de materiais numa sala de aulas da pré-primária em Janjevo, instalação de sinais e lombas redutoras de velocidade em diversas escolas e localidades, salas de informática (computadores Magalhães e impressoras ligados a Internet em rede wireless) em Prizren e Pristina, a construção de uma vedação 40 de protecção, apelidada de “Grande Muralha da China”, numa extensão de cerca de 1500 m, num caminho escolar sobre uma ravina alcantilada, onde no ano transacto tinha morrido uma criança e ainda numerosos trabalhos de engenharia em proveito das comunidades locais e de uma família de ascendência portuguesa, na região de Podujevo. A monitorização da ABL constituiu, em cada etapa, um desafio multinacional e combinado, uma oportunidade de pôr em prática a nossa capacidade para nos relacionarmos com as duas facções em conflito, numa demonstração superior de neutralidade e imparcialidade. “No retorno ao ponto inicial as duas patrulhas fundiram-se e deram lugar a uma patrulha combinada em progressão táctica, passando quer pelo lado Sérvio quer pelo lado Kosovar da ABL, debaixo da Acções CIMIC em Gusterica. Patrulha combinada com FA sérvias. chuva copiosa e no meio da lama dos carreiros, num clima de entreajuda, debaixo de um céu escuro que não distinguia credos ou nações. Após cinco horas de marcha, com lições aprendidas para ambos os lados, estávamos de regresso ao ponto inicial, seguiu-se a avaliação conjunta, deu-se a despedida suave, com a rigidez e tensão iniciais desvanecidas. Mais uma vez levamos a nossa ‘Carta a Garcia’, deixando para trás a experiência de uma patrulha sui generis com elementos das ForçasArmadas Sérvias, pondo em prática o combinado, a multinacionalidade e a multifuncionalidade que caracterizam as acções dos soldados do MIKE kosovo wide”.2 No contexto das patrulhas de longa duração apeadas e montadas, os militares do MIKE efectuaram patrulhas combinadas com Forças Francesas na MNTF-N, normalmente de três dias em que o contacto como as populações mais isoladas era privilegiado. I have had the privilege of walking patrols with Task Force Mike units in different locations throughout Kosovo, and each time I have been impressed with their sharp focus and their physical stamina. It has been an honour for this US Marine to have worked alongside the true professionals of Task Force Mike (…).3 A naturalidade e afabilidade patenteadas pelos soldados portugueses, nos Postos de Verificação e Observação, foram por diversas vezes evidenciadas pelos elementos das MNTF’s onde operávamos. Nalguns casos não compreendiam a nossa capacidade para interagir com as diferentes etnias, principalmente a partir do momento em que se procedeu ao reconhecimento do Kosovo por parte do Estado Português. A multinacionalidade vista como um mal menor para determinados contingentes é, para nós Acção CIMIC durante a operação Mighty Good Effort. portugueses, um factor capital na diversidade de pontos de vista para a resolução do mesmo problema; a solução multinacional é sempre menos radical do que a de um qualquer país isolado. As relações de trabalho foram potenciadas no seio da família MIKE através da organização de eventos desportivos e jantares convívio com o Comando e EM das MNTF com quem operávamos e com os contingentes mais significativos presentes no TO. A execução de operações combinadas com Forças da KFOR, da MSU, da EULEX e das Forças Armadas Sérvias, Operações de Proximidade, Monitorização dos Enclaves e da ABL e a determinação das necessidades das populações locais, contribuíram para a manutenção da actualização da situação da KFOR, em tempo real, e para a formação, globalidade, motivação e enriquecimento dos soldados do Agr MIKE como militares e como homens. O nosso modus operandi foi efectivamente avassalador, o profissionalismo, dedicação, neutralidade, imparcialidade, a forma natural como interagimos com os nossos pares e com as facções em conflito e por último o empenho que colocámos em todas as actividades realizadas foram o estigma definidor da nossa postura e forma de estar no seio da grande família da KFOR. Esta capacidade do Soldado 41 Português foi enaltecida por diversas vezes e agraciada com 26 medalhas de mérito e 3 símbolos de atiradores especiais de pistola e espingarda automática dos EUA, 18 de mérito desportivo do Contingente Irlandês, 3 símbolos e medalhas de mérito desportivo e tiro daAlemanha e 1 medalha da UNMIK, todos impostos durante a permanência no TO. A Força foi objecto de várias visitas e inspecções de segurança efectuadas pelo Theatre Security Officer. A segurança das instalações e das informações foram melhoradas a um nível que permitiu à Força granjear os mais rasgados elogios por parte dos inspectores e guindar-se a uma posição altaneira quando comparada com os seus pares da KFOR. A vigilância e obtenção de informação em tempo real, por meios aéreos e terrestres (Air & Ground Scaning), embora pareçam impressionantes, envolvem, no TO do Kosovo, uma pequena frota de Cessnas. Estas aeronaves modificadas estão equipadas com sensores (electro-ópticos e infravermelhos) e sistemas de comunicações seguros, possibilitando-lhes sobrevoar os céus do Kosovo e providenciar, em tempo real, visibilidade sobre o que está a acontecer numa determinada área ou como está a decorrer uma determinada operação, bem como monitorizar áreas e alvos humanos de noite e de dia. Estes meios facilitaram o C2 ao Agr MIKE nos diversos exercícios e operações conduzidas no Kosovo, permitindo monitorizar em tempo real, a partir do JOC da KFOR, não só a actividade das forças opositoras, com especial relevo para o CRC, bem como a nossa capacidade de projecção da Força por meios aéreos e terrestres e a instalação da Área de Apoio de Serviços 42 Cessna da KFOR para operações de air scaning. (Topo) Projecção aérea de CRC – nocturna. (Acima) do Agrupamento. A estação móvel de Air & Ground Scanning, co-localizada com o PC da Força, permitia monitorizar as acções levadas a cabo pelos elementos do Agrupamento em todas as áreas das Blue e Red Box, bem como o evoluir da situação das forças opositoras e decidir com oportunidade. O S6 do Agr MIKE desenvolveu esta capacidade a nível terrestre (Ground Scanning) que permitiu obter resultados semelhantes com recurso à imagem horizontal. Os Sistemas de Comando e Informações (CIS) foram um must do Comando doAgr MIKE. O Oficial de Transmissões do Agr MIKE foi chamado a representar a KFOR em conferências sobre as capacidades, emprego e experiência operacional da utilização do Kosovo Force Tracking System (KFTS). A utilização deste sistema, do VCN, dos meios de CIS nacionais, onde se inclui a recepção, montagem e utilização do GRC – 525, meios que permitiam VTC segura, Scanning terrestre e aéreo muito contribuíram para a SA e C2 da Força. Cada homem do MIKE foi uma “lança” na promoção da imagem, visibilidade e aceitação da Força através da captura de imagens fotográficas e vídeo e divulgação da actividade desenvolvida. Estas imagens foram utilizadas pelo Comandante e EstadoMaior da Força nos diversos brífingues diários, nas reuniões e conferências com o COMKFOR, COSKFOR e Estado-Maior da KFOR. Os vários artigos, fotos e composições fotográficas elaborados pelos elementos do MIKE e publicados na revista oficial da KFOR, Crhonicle, no sítio da KFOR e da NATO, bem como a publicação do Boletim mensal do Agr MIKE, com artigos em português e em inglês muito contribuíram também para este propósito. Neste âmbito ainda foram desenvolvidos em parceria com as PSYOPS/KFOR e financiados pela KFOR, um autocolante da KTM para distribuição durante as operações CIMIC e um vídeo de divulgação da KTM que passou nas diferentes televisões kosovares. A cultura e as tradições portuguesas foram evidenciada em actividades de promoção nomeadamente, exposições organizadas no QG da KFOR no âmbito das comemorações do dia do Exército, organização de jogos tradicionais, cantar das “Janeiras” junto dos QG’s das principais Forças no terreno, o serviço religioso semanal, festas móveis e religiosas entre outras actividades. Em termos deformação, os militares doAgr MIKE foram qualificados e certificados individual e colectivamente aos mais diversos níveis e escalões em Combat Camera Team, Multimédia (Adobe Photoshop, Pinacle Studio e Microsoft Sharepoint), GRC-525, PsyOps, AIR MEDEVAC nas aeronaves SA 330 PUMA e Blackhawk, técnicas de condução defensiva e na neve, KFTS, pistola e espingarda automática pelo Exército dos EUA e da Alemanha e em CRC aos escalões Pelotão, Companhia, KTMG, KTMF e Agrupamento. A KTM foi uma escola de vida para os soldados do Agr MIKE, que contactaram e viveram numa base diária diversas realidades consignadas pelas operações combinadas, pelo apoio às diferentes etnias em presença no Kosovo, pela precariedade do seu sistema social e quantidade das acções CIMIC levadas a cabo pela Força em todo o Kosovo. Os soldados do MIKE em geral e os elementos femininos em particular, exponenciaram a capacidade do povo português para se relacionar com os diferentes credos e raças. Em todas as situações vividas, o militar português saiu da viatura e de for- ma natural, neutral e imparcial, se relacionou, interagiu e ganhou o respeito e a consideração dos autóctones e dos diferentes actores e Forças presentes no TO. O soldado português é generoso e grande, porque é inteiro, porque é plural como o Universo e põe tudo quanto é no mínimo que faz tornando universal a Nação Portuguesa. O soldado português é global, simples, empreendedor, é um cidadão do mundo, um inato e eficiente produtor de paz. Foi assim ao longo da nossa História nos diversos continentes por onde passámos, também foi assim no Kosovo e continuará no futuro noutros locais onde formos chamados a defender os superiores interesses da Política Externa Nacional. Em 26 de Março de 2009 os “Cavaleiros Lusos” regressaram a casa com o sentimento do dever cumprido, não só pela forma como foram bem recebidos e aceites no Kosovo, mas também pela forma extraordinária como a missão foi desempenhada, edificando uma imagem de excelência que muito contribuiu para o bom nome e visibilidade das Forças Armadas Portuguesas e de Portugal. Os seis meses de Missão representaram para os soldados do Agr MIKE mais do que 6 anos de formação, treino, exercícios e operações em tempo de paz. Uma experiência vivida intensamente sem precedentes no Exército Português. No futuro próximo, enquanto os efectivos das MNTF diminuirão sucessivamente, a KTM manterá a sua postura e importância acrescida, com os meios aéreos ao serviço da KFOR na sua dependência directa e com NTM mais reduzidos.Assim, ganhará Portugal, as suas Forças Armadas e o seu Exército. Portugal terá, por um lado, maior visibilidade junto dos seus parceiros da NATO e da Comunidade Internacional e, por outro, Quadros Militares com formação e experiência operacional de excelência. A KTM continuará a ser uma Escola de Quadros e de Vida de Excelência para os militares Portugueses que nela tiverem a ensejo de servir.JE * Comandante do Agrupamento MIKE/BrigInt/ KFOR 1 Tactical Operations Centre Ten Inf Daniel Gomes Comandante do 3ºPel/BCoy responsável pela execução da patrulha. 3 Eu tive o prazer de executar patrulhas diversas vezes com militares do Agr MIKE, em diferentes locais no Kosovo, e em todas as ocasiões fiquei impressionado com a sua extraordinária concentração, ânimo e força de vontade. Foi uma honra para este Fuzileiro dos EUA ter trabalhado lado a lado com os profissionais do Agr MIKE (…). Extracto de um texto elaborado pelo Chefe de Estado-Maior da KFOR, Brigadeiro General Berger, do Exército dos Estados Unidos da América. Tradução nossa. 2 43 Livros Afonso Henriques: um Rei polémico, de Barroso da Fonte D . Afonso Henriques, mítica figura da História portuguesa, permanece um tema actual da nossa sociedade. Em “Afonso Henriques: um Rei polémico”, o autor do livro fundamenta-se na tradição, que segundo o mesmo “não se tendo encontrado, em 9 séculos, qualquer prova documental, o que prevalece é a Tradição”, para clarificar a polémica em torno da data e local de nascimento de Afonso Henriques. Ergue-se contra a hipótese de ser a cidade de Viseu a terra-natal de Afonso Henriques e 1109 o seu ano de nascimento, conforme a teoria de Almeida Fernandes. Para Barroso da Fonte, a resposta mais credível continua a ser Guimarães e 1111 o ano de nascimento de Afonso Henriques e, perante a “poeira” que levanta, lança um desafio aos mais ousados: que consigam responder, com lógica, coerência e isenção perante o assunto. BARROSO DA FONTE, João, Afonso Henriques: um Rei polémico, Editora Cidade Berço, Guimarães e Âncora Editora, Lisboa, Junho de 2009. Vo Nguyen Diap, o Homem que derrotou os franceses e os americanos, de Carlos Manuel Mendes Dias e Alexandre Carriço O que pode a força dos exércitos contra o poder do povo? E se o exército é o próprio povo – um Exército Popular? E se à frente desse exército está o espírito de um General revolucionário? Com uma pedagógica e sábia regularidade a História vai dando as suas lições sobre um David que, contra todas as expectativas, derrota um gigante Golias. Portugal foi disto várias vezes exemplo, contra Castela e Napoleão! No presente livro, Vo Nguyen Giap, O Homem que derrotou os franceses e os americanos, escrito pelo TenenteCoronel de Artilharia Carlos Manuel Mendes Dias e pelo Major de Infantaria Manuel Alexandre Garrinhas Carriço, é contada a história de um David que derrotou não um, mas três Golias: o Japão, a França e os Estados Unidos daAmérica. As teorias, os conceitos, as tácticas e as estratégias de Vo Nguyen Diap, Comandante Supremo do Exército do Povo do Vietname, “estudioso de Napoleão, Sun Tsu, T. E. Lawrence e Mao Tse-Tung”, constituem aqui o campo fértil de uma exaustiva investigação, cujos frutos, para além do inestimável interesse biográfico, são uma importantíssima fonte de doutrina e de valores, onde se firmou a profunda vontade de independência de um povo. CARRIÇO, Alexandre e DIAS, Carlos Manuel Mendes, Vo Nguyen Giap, O Homem que derrotou os franceses e os americanos, Prefácio, Lisboa, 2009. 44 DESPORTO Regulamento do “Prémio Jornal do Exército” Campeonato Pentatlo Exército 2009 O Campeonato Desportivo Militar de Pentatlo Militar – Fase 3 – Exército, decorreu de 29 de Junho a 3 de Julho de 2009 no Regimento de Infantaria n.º 3, integrado no programa dos Campeonatos Desportivos Militares. A competição contou com a participação de seis delegações masculinas: Comando de Instrução e Doutrina; Brigada Mecanizada; Brigada de Intervenção; Brigada de O Jornal do Exército (JE) promove anualmente o concurso para o prémio em epígrafe, que se rege pelas seguintes disposições: 1. Finalidade O concurso visa estimular a reflexão e a criatividade de militares e civis para tratarem assuntos com particular interesse para o Exército, nos múltiplos aspectos de que a Instituição Militar se reveste e que, de alguma forma, enriqueçam o seu património ou contribuam para a sua própria valorização profissional e pessoal. 2. Trabalhos Ao concurso serão admitidos os trabalhos inéditos que: 2.1 Abordem temas de natureza científica, cultural, histórica ou artística de qualquer forma ligados ao Exército ou às Forças Armadas; 2.2 Possuam nível literário que, no entender da Direcção do JE, permita a sua publicação; 2.3 Não excedam 10 páginas de formatoA4 dactilografadas a 2 espaços; 2.4 Sejam indicados, pelos seus autores, para concorrerem ao prémio JE, ou para tal seleccionados pela Direcção do Jornal do Exército. 3. Publicação Os trabalhos, que satisfaçam às condições dos números anteriores, serão publicados quando tal seja possível, considerando as conveniências decorrentes do estatuto editorial do JE. 4. Prémio O “Prémio Jornal do Exército” é pecuniário e compreende três graus: 1.º, 2.º e 3.º classificados, sendo os respectivos valores estipulados, anualmente, por despacho do General Vice-CEME, sob proposta do JE. A sua entrega aos contemplados deverá ser efectuada, em princípio, no dia 11 de Janeiro, dia festivo do Jornal do Exército. 5. JÚRI Para apreciação e classificação dos trabalhos admitidos a concurso, será nomeado, por despacho do General Vice-CEME, um júri que: 5.1 Será composto por: 1 oficial a designar pelo Estado-Maior do Exército; 1 oficial a designar pelo Instituto de Estudos Superiores e Militares; 1 oficial a designar pela Direcção de História e Cultura Militar. 5.2 Será secretariado por um oficial do JE; 5.3 Poderá decidir não atribuir qualquer grau do prémio, se entender que a qualidade dos trabalhos assim o exige. Nota de redacção: Para o ano de 2009, o prémio a que se refere o nº 4 foi fixado em: 1º Classificado ....................................... • 900 2º Classificado ....................................... • 650 3º Classificado ....................................... • 500 Reacção Rápida; Comando e Logística e Zona Militar dos Açores, juntamente com quatro delegações femininas: Comando de Instrução e Doutrina; Brigada Mecanizada; Brigada de Reacção Rápida e Brigada de Intervenção. De acordo com a organização, os resultados atingidos foram do agrado geral, decorrendo o Pentatlo num espírito de competição salutar e de total empenho por parte dos atletas. A cerimónia de encerramento foi presidida pelo Tenente-Coronel de Infantaria Nuno Manuel Mendes Farinha, 2.º Comandante do Regimento de Infantaria n.º 3, onde foram entregues os prémios aos vencedores. A classificação geral ficou assim ordenada: Classificação Geral Individual Masculinos 1. Lugar CAdj Nunes da BrigMec com 3771,6 2. Lugar 1 Sar Esteves do CID com 4198,2 3. Lugar Sold Silva do CID com 4047,7 Classificação Geral por Equipas Masculinos 1. Equipa CID 2. Equipa BrigMec 3. Equipa BrigInt Classificação Taça Comando da Instrução e Doutrina 1. Equipa BrigMec 2. Equipa CID 3. Equipa BrigInt Classificação Geral Individual Femininos 1. 2 Fur Costa da BrigRR 2. Sold Neves do CID 3. Sold Taveira BrigMec Classificação Geral por Equipas Femininos 1. Equipa BrigRR 2. Equipa BrigMec JE 45 PASSATEMPOS DE OUTROS TEMPOS in Jornal do Exército n.º 11 de Novembro de 1960 Soluções deste número: 1 - Martelo; 2 - Comprimento da antena; 3 - Rodízio entre a 2.ª e 3.ª rodas; 4 - Perna do soldado com mangueira; 5 - Bigodes do Sargento; 6 - Rosca da torneira; 7 - Colarinho do Cmdt.; 8 - Cavalo a trote. Pretendo assinar o Jornal do Exército Para encomendar basta fotocopiar o cupão e enviar para ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO – Secção de Logística, Rua dos Remédios, n.º 202 – 1140-065 LISBOA Nome: ____________________________________________________ Profissão: _________________ Morada: ______________________________________________________________________________ Código Postal: __________________ Localidade: ___________________ Telefone: _______________ (Só para Militares) Posto: _________________ Ramo das FA: _______________ NIF: _____________ Assinatura Anual – Continente e Ilhas: € 20.00 - Via Aérea: Países Europeus € 45.00 - Restantes Países € 65.00 Para pedido de números atrasados, ou encadernações, contacte-nos para: Largo S. Sebastião da Pedreira - 1069-020 Lisboa, Tel: 213 567 700 ou via email: [email protected] PARA PAGAMENTO DA MINHA ASSINATURA TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA: Nacional 0781 0112 0112 0011 6976 9 – D.G.T. CHEQUE: junto envio o Cheque n.º - ________________ s/Banco - ______________________ à ordem da Secção de Logística do Estado-Maior do Exército. VALE POSTAL: junto envio o vale postal n.º ______________ no valor de ___________________________ 46