Sumário
Ano L - N.º 588 - Outubro de 2009
PROPRIEDADE
DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
Direcção, Redacção e Administração
Largo de S. Sebastião da Pedreira
1069-020 Lisboa
Telef: 213 567 700
Fax Civil: 213 567 791 Militar: 414 091
A Guerra 16
E-mail: [email protected]
E-mail: [email protected]
E-mail − Intranet: Jornal do Exército
Home page: www.exercito.pt
DIRECÇÃO
Director
Coronel de Infantaria
José Custódio Madaleno Geraldo
Secretária
Ass Técnica Teresa Felicíssimo
Soldado Condutor RC Pedro Ferreira
REDACÇÃO
Chefe
Tenente-Coronel J. Pinto Bessa
Redactores
Tenente RC Paulo Moreira
Alferes RC Nelson Cavaco
Tenente RC Rico dos Santos
Mauro Matias
Operadoras Informáticas
Ass Técnica Elisa Pio
Ass Técnica Guiomar Brito
D. Afonso Henriques
Patrono do Exército 24
KTM/KFOR – Escola de Quadros e
de Vida de Excelência 32
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO
Chefe
Major Augusto Correia
Operadores Informáticos
Ass Técnica Tânia Espírito Santo
2.º Cabo Gonçalo Silva
Biblioteca
Ass Técnica Joana Moita
Suplemento
SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS
Operador Informático
Sargento-Ajudante João Belém
Distribuição e Publicidade
Sargento-Ajudante Luís Silva
Ass Operacional Filomena Remédios
VI – Nuno Álvares Pereira
e a Batalha de Atoleiros
SECRETARIA
Sargento-Chefe Costa e Silva
COLABORAÇÃO FOTOGRÁFICA
Lusa - Agência de Notícias
de Portugal, SA
Centro de Audiovisuais do Exército
RCRPP/GabCEME
EXECUÇÃO GRÁFICA
Europress, Lda
Rua João Saraiva, 10-A − 1700-249
Lisboa
Telef 218 444 340 − Fax 218 492 061
[email protected]
Tiragem − 6 000 exemplares
Depósito Legal n.º 1465/82
ISSN 0871/8598
Secções
Monumentos com História Militar – Escultura de D. Afonso Henriques, em Guimarães – 4
Editorial – 5
Figuras e Factos – 8 a 15
Livros – 44
Desporto / Regulamento do “Prémio Jornal do Exército” – 45
Passatempos de outros tempos – 46
Capa: O Ataque dos Cruzados e dos Portugalenses às Muralhas de Lisboa (1147) , Litografia de Portugal.
Revisão de texto a cargo do Professor Doutor Eurico Gomes Dias
Os artigos publicados com indicação de autor são da inteira responsabilidade dos mesmos, não reflectindo, necessariamente, o pensamento da Chefia do Exército Português
ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, CRIADO POR PORTARIA DE 14JUL60
MONUMENTOS COM HISTÓRIA MILITAR
Escultura de D. Afonso Henriques,
em Guimarães
A
data do seu nascimento é incerta, dividindo-se a
opinião dos historiadores entre os remotos anos de
1109 e 1111. Igualmente, o seu lugar de nascimento encontrase envolto em alguma controvérsia, embora a tradição
histórica lhe atribua a naturalidade à cidade de Guimarães. E
outros episódios ainda, desde o “milagre de Ourique” até à
transladação do seu corpo, em 1520, que o revelou incorrupto,
4
envolvem numa aura de mistério a vida do primeiro rei de
Portugal, D. Afonso Henriques.
Durante mais de quarenta anos, D. Afonso Henriques
duplicou o território que o seu pai, o Conde Henrique de
Borgonha, lhe deixou. Por volta de 1123 ou 1125, ou seja,
quando teria entre 12 e 15 anos, arma-se cavaleiro na Catedral
de Zamora e cinco anos depois, na Batalha de S. Mamede,
assume sozinho o governo de Portucale, após ter derrotado
a facção galega, encabeçada pela sua própria mãe, D. Teresa.
Em 1140, apoiado pelos seus homens, autoproclama-se Rei
de Portugal, título que lhe é reconhecido logo em 1143, no
Tratado de Zamora. Em 1147, Afonso I de Portugal chega às
portas de Lisboa, então ocupada pelos mouros. Entre Julho
e Outubro daquele ano, as forças de Afonso Henriques, por
terra, e um contingente de Cruzados que chegaram por mar,
submetem a cidade a um apertado cerco. Só as sólidas
muralhas conseguiram conter o ímpeto cristão durante
aquelas longas semanas. Mas, das pequenas escaramuças
aos confrontos violentos, Lisboa foi cedendo, incapaz de
se libertar do inquebrantável sequestro. A 25 de Outubro de
1147, um sábado, o rei português entra na cidade,
consumando a sua conquista, eternizando a data pelos
séculos vindouros. Neste dia é actualmente comemorado o
Dia do Exército.
No ano de 1169, D.Afonso Henriques é ferido em Badajoz
e também incapacitado para o comando. Dez anos mais tarde,
a Bula Papal Manifestis Probatum, do Papa Alexandre III,
reconhece Portugal como país independente e Afonso
Henriques como seu rei.
Guimarães, frequentemente chamada de Berço da
Nacionalidade e provável local de nascimento do primeiro
monarca português, alimenta um antiquíssimo culto à sua
figura e memória.
Ali, em 1874, na Praça D. Afonso Henriques, foi
inaugurada uma escultura em bronze da autoria de Soares
dos Reis, retratando o monarca em pose guerreira, trajando
correspondentemente, de espada em punho, escudo no
braço esquerdo e um elmo protector que lhe endurece o
olhar heróico.
Entretanto deslocada para o Largo do Toural e, mais
tarde, para a Colina Sagrada, prevê-se que a escultura
regresse à sua morada original, cuja proposta de execução
já consta do dossier de candidatura a Capital Europeia da
Cultura – Guimarães 2012.JE
Tenente RC Paulo Moreira
N
este ano de 2009, em que têm lugar as eleições legislativas e autárquicas nacionais,
comemoram-se os novecentos anos do nascimento de D. Afonso Henriques,
primeiro rei de Portugal. A bruma dos tempos envolve em mistério a data e o local do seu
nascimento. É natural que uma figura de importância colossal como é a do primogénito
da Pátria Portuguesa desperte nos Portugueses, de todos os tempos, curiosidade e
paixão. Apetecia-nos esmiuçar a sua vida, desde o berço até à tumba, pois temos a
certeza de que em cada gesto seu há uma lição de patriotismo e de grandeza que serve
de exemplo aos Portugueses de sempre. Com a presença da sua memória, Portugal será
eterno.
O Exército, junto com os outros Ramos das Forças Armadas, é um dos pilares da
Nação e por isso escolheu para seu Patrono D. Afonso Henriques, pois com o seu
espírito está garantida a perenidade da Nação Portuguesa. A vontade de um povo, que
quis ser livre e independente desde o tempo do seu primeiro rei, revê-se numas Forças
Armadas respeitadas e dignas de ombrear com as suas pares na NATO e na União
Europeia, para que sejam sempre capazes de defender os mais altos interesses de quem
representam − os Portugueses e Portugal.
O Exército celebra o seu dia na data em que a capital portuguesa, de hoje, foi tomada
aos mouros, em Outubro de 1147. Já naquele tempo as alianças eram comuns, como
podemos confirmar adiante nos extractos da Crónica de D. Afonso Henriques por
Duarte Galvão, dedicada a D. Manuel I. Quando D. Afonso Henriques cercava Sintra e
depois a tomou “appareceo no mar uma frota de cento e oitenta velas, de gentes, que
naquelle tempo moveram de Alemanha, e de Inglaterra, e de França, para guerrear os
infiéis por serviço de Deos, e vindo assi todos de mar em fóra demandar terra á rocha de
Sintra. [...] Christãos partidos de suas terras para virem guerrear por serviço de Deos os
Mouros imigos de sua santa Fé.”
Concordaram então cercar a cidade de Lisboa, portugueses por terra e estrangeiros
por mar. “El-Rei acentou seu arrayal da parte do Oriente, onde agora está o Moesteiro de
S. Vicente de Fóra, e os Inglezes, e outras gentes tomaram parte do Ponente, onde ora
são os Mártyres. Durou o cerco perto de cinco mezes, por a Cidade ser mui forte, de
sitio, e cerca, e estarem dentro muitos Mouros, que a mui bem defendiam; [...]. Cada um
arrayal dos Christãos, edeficou sua Egreja em que enterrassem os que alli morriam, e ElRei D. Affonso fez a sua, onde depois foi edificado o Moesteiro de S. Vicente á honra do
Martyre S. Vicente, e os estrangeiros edificaram outra que ora é chamada Santa Maria
dos Martyres.”
Camões, melhor do que ninguém, descreve-nos em versos imortais a Tomada da
nossa Lisboa:
E tu, nobre Lisboa, que no Mundo
Facilmente das outras és princesa
Que edificada foste do facundo
Por cujo engano foi Dardónia acesa;
Tu, a quem obedece o Mar profundo,
Obedeceste à força Portuguesa,
Ajudada também da forte armada
Que das Boreais partes foi mandada.
[...]
Cinco vezes a Lua se escondera
E outras tantas mostrara cheio o rosto,
1
Quando a cidade, entrada, se rendera
Ao duro cerco que lhe estava posto.
Foi a batalha tão sanguina e fera
Quanto obrigava o firme pressuposto
De vencedores ásperos e ousados,
E de vencidos já desesperados.
[...]
Que cidade tão forte porventura
Haverá que resista, se Lisboa
Não pôde resistir à força dura
Da gente cuja fama tanto voa?[...]1
Os Lusíadas, Canto III, ests. 57, 59 e 61.
5
FIGURAS e FACTOS
Comemorações do Dia da Engenharia
O
Chefe de Estado-Maior do Exército, General José
Luís Pinto Ramalho, presidiu no dia 10 de Julho, às
comemorações do dia daArma de Engenharia na Escola Prática
de Engenharia.
Das várias actividades previstas e que assinalaram o dia
festivo, salientam-se a cerimónia militar, a demonstração de
capacidades no âmbito das forças da Força Operacional do
Exército e a apresentação do novo Centro de Simulação de
Explosivos e Contra-Medidas e Defesa Nuclear Biológica
Química e Radiológica, que se destina a apoiar a formação dos
especialistas Explosive Ordnance Disposal (EOD), Nuclear
Biológica e Química (NBQ) e cursos avançados de demolições
de emergência, a manutenção da proficiência dos especialistas
na gestão de incidentes e na operação de equipamentos, bem
como entidades militares e civis na análise de vulnerabilidade
de instalações críticas, Sistema deAlerta e Informações NBQ e
no âmbito das demolições de emergência.
A cerimónia militar contou com a presença de
representantes de todas as unidades de Engenharia Militar e
ainda com o Bloco de Estandartes das várias subunidades de
Engenharia que estiveram presentes nos diversos Teatros de
Operações, desde o ex-Ultramar ao Líbano.
Na demonstração de capacidades foram apresentadas as
múltiplas valências da Engenharia Militar, destacando-se:
A transposição de um vão, utilizando a Viatura Blindada de
Lançamento de Ponta, com posterior abertura de brecha manual
e explosiva, executada por duas Secções de Sapadores de
Engenharia de Combate da Companhia de Engenharia da Brigada
Mecanizada; o reconhecimento de indícios de contaminação
bioquimica e a descontaminação do pessoal e equipamento por
militares da Companhia de Defesa NBQ, que fazem parte do
recentemente criado Elemento de Defesa BQ (para fazer face a
ameaças terroristas em território nacional); a montagem de um
Pontão de Alumínio M4T6, de elementos das pontes de apoios
fixos Treadway, Bailey e Mabey e a operação de meios da ponte
de apoios flutuantes “Ribbon”, por militares da Companhia de
Pontes; a inactivação de um Engenho Explosivo Improvisado,
pelo Grupo de Equipas EOD; a simulação de uma destruição pelo
Pelotão de Engenharia/Brigada de Reação Rápida.
As comemorações permitiram assim transmitir uma
perspectiva global das actuais capacidades da Engenharia
Militar e do seu carácter inovador.
Comemorações do Cerco de Almeida
O
concelho deAlmeida comemorou o 199.º aniversário
do Cerco de Almeida no dia 30 de Agosto de 2009,
contando com a participação do Exército Português em
8
alguns eventos, presididos pelo Major-General Adelino de
Matos Coelho, Director da História e Cultura Militar
(DHCM).
A evocação histórica do cerco da vila, verificado durante as Invasões Francesas, contemplou no seu programa
a Recriação Histórica do mesmo, que começou no dia 28 de
Agosto e culminou a 30 de Agosto, com a recriação da
queda da fortaleza, o assalto final e a conquista da fortaleza
por parte das tropas francesas sob o comando de Massena.
O fogo lançado pelas baterias de artilharia francesas
marcaram o dia 26 de Agosto de 1810, provocando a fatídica
explosão do castelo, após o paiol ter sido atingido e causado
a destruição do Castelo.
O Exército Português marcou presença pelas 09h00 na
Cerimónia oficial de hastear bandeiras na Câmara Municipal, seguindo para o castelo onde depositou uma coroa de
flores na Cerimónia de Homenagem aos Mortos do Cerco
de Almeida. Para o efeito foi empenhado 1 pelotão e 1
fanfarra, que concluíram, pelas 12h30, a sua participação
na Missa de Homenagem às vítimas que decorreu na Igreja
Paroquial.
FIGURAS e FACTOS
Curso de Liderança para Jovens Empresários
N
uma iniciativa conjunta da Academia Militar (AM)
e da Associação Nacional de Jovens Empresários
(ANJE), realizou-se, no período de 27 a 31 de Julho de 2009,
nas instalações e áreas da AM, do Centro Militar de Educação
Física e Desportos (CMEFD), da Escola Prática de Infantaria
(EPI) e da Escola de Tropas Pára-quedistas (ETP), a 2.ª edição
do Curso de Liderança da ANJE, dirigido aos seus
associados.
Participaram no Curso 15 jovens empresários, de
diferentes sectores empresariais.
O Curso de Liderança envolve conteúdos programáticos
no âmbito do Comportamento Organizacional, provas de
projecto e planeamento, provas de situação, prova de
confirmação (liderança), adaptação ao meio ambiente,
orientação topográfica, treino físico e desportos.
O Curso tem como objectivo desenvolver competências
comportamentais, nomeadamente de relacionamento
interpessoal, visando a liderança eficaz de equipas, recorrendo
a métodos pedagógicos sempre participativos, promovendo
o culto dos valores e o exemplo da Instituição Militar.
Presidiu à cerimónia de encerramento o Chefe do EstadoMaior do Exército, General José Luís Pinto Ramalho.
Apresentação do livro “EPA: das origens ao alvorecer do III Milénio”
O
Auditório da Escola Prática de Artilharia (EPA)
acolheu a apresentação do livro “EPA: das origens
ao alvorecer do III Milénio” da autoria de Artur A1eixo Pais,
no dia 5 de Agosto.
A apresentação do livro e o resumo biográfico do autor
esteve a cargo do Comandante da EPA, Coronel Maurício
Simão Tendeiro Ra1eiras, que usou da palavra após as
intervenções do Chefe do Estado-Maior do Exército, General José Luís Pinto Rama1ho – que presidiu à cerimónia – e
do Presidente da Câmara Municipal de Vendas Novas, Dr.
José Figueira. A cerimónia contou ainda com a
presença de outras Altas Entidades, das quais se
destacam o Comandante da lnstrução e Doutrina,
Tenente-General António José Maia de
Mascarenhas e o General José A1berto Loureiro
dos Santos.
O livro remonta ao ano de 1728 para contar a
história do Palácio mandado construir por D.
João V, que, a partir do ano de 1861, se tomou a
EPA. Originalmente o Palácio servia de local de
pernoita da comitiva real para as deslocações à
fronteira do Caia, sendo conhecido como o
“Palácio das Passagens”. Estas deslocações
tinham como finalidade o casamento entre
príncipes e princesas das coroas portuguesa e
espanhola. Já no reinado de D. Pedro V, o Palácio
tornar-se-ia a actual EPA e o autor apresenta
uma série de eventos relacionados com a Escola
e a sua inserção na sociedade que a acolheu. A
obra conta ainda com uma nota final que contém uma
súmu1a de factos que fundamentam a sua edição e a visão
do Comandante da EPA sobre a mesma, assim como um
soneto dedicado à EPA, intitu1ado “Pelo Bem e Pela Paz
de Portugal”, da autoria de Jodro, pseudónimo de João
Grazina, figura conhecida de Vendas Novas. Artur A1eixo
Pais finalizou a cerimónia com uma a1ocução onde
agradeceu o apoio prestado pela EPA no acesso à
informação, seguindo-se um Porto de Honra e a tradicional
sessão de autógrafos.
9
FIGURAS e FACTOS
Condecoração de Adidos
O
Chefe do Estado-Maior do Exército, General José
Luís Pinto Ramalho, condecorou em 15 de Julho,
no Estado-Maior do Exército, com a Medalha D. Afonso
Henriques 1.ª Classe, o Coronel Waldeísio Ferreira
Campos, da Força Aérea Brasileira, Adido do Exército e
Aeronáutico, e com a Medalha de Mérito Militar 2.ª Classe,
o Tenente-Coronel Javier Gallegos Lorenzana, do Exército
Espanhol, Adjunto do Adido de Defesa e Adido do
Exército.
Estiveram presentes na Cerimónia várias entidades
Militares, representantes das respectivas Embaixadas e
familiares dos Adidos.
Dia da Unidade no Regimento de Transmissões
O
Regimento de Transmissões recebeu a 17 de
Setembro a visita do Comandante Operacional do
Exército, Tenente-General Pina Monteiro, para presidir às
cerimónias de comemoração do Dia da Unidade.
Instituído desde 17 de Setembro de 1873, data em que entrou
em funcionamento o Serviço Telegráfico Militar (1.ª rede
telegráfica militar), o Regimento de Transmissões adoptou a
data por ser o herdeiro natural do referido serviço. Sediado
em Lisboa, nas actuais instalações, desde 1977, a Unidade
recebeu pelas 10h30 a chegada do Tenente-General Artur
Neves Pina Monteiro, recebendo as honras militares à Porta
de Armas, na presença do Major-General José Artur Paula
Quesada Pastor, Director Honorário daArma de Transmissões
e Director de Comunicações e Sistemas de Informação e
pelo Comandante da Unidade, Coronel Nelson Martins Viegas
10
Pires.
Após a revista às tropas formadas na Parada, a cerimónia
iniciou-se com a entrega do Estandarte Nacional, seguido
de um discurso e de uma oração do Capelão Chefe do Exército
Cláudio Correia Ferreira em homenagem aos mortos.
Seguidamente escutaram-se as palavras do Comandante
da Unidade e do Director Honorário daArma, que salientaram
o papel da Arma na actualidade e os seus compromissos e
objectivos. De realçar a postura pró-activa que a Arma
procura implementar através da aposta nas novas
tecnologias, “estando em fase de conclusão a aquisição e
instalação de novos sistemas e equipamentos de
comunicação e dados”, segundo o Coronel Viegas Pires. O
Tenente-General Pina Monteiro felicitou a Arma de
Transmissões pelo excelente desempenho da Companhia
no Afeganistão e o valor do trabalho do Regimento na era
da “guerra da informação”.
Os presentes assistiram ainda à entrega de medalhas na
parada, nomeadamente, medalhas de Serviços Distintos,
Mérito Militar 2.ª e 4.ª classe, D. Afonso Henriques 2.ª,3.ª e
4.ª classe, Comportamento Exemplar de grau cobre e prata e
Comemorativa de Comissão de Serviços Especiais: Timor,
Bósnia e Kosovo.
Além das condecorações de cariz militar, a Unidade
homenageou um militar pelo seu desempenho académico,
com a entrega de um diploma de RVCC, fruto do programa
Novas Oportunidades.
Após o desfile das forças, seguiu-se uma apresentação
no Auditório do Regimento sobre a aplicação de um software informático que permite a confidencialidade e
encriptação de mensagens via e-mail, revelando a
preocupação do Regimento na salvaguarda de informação
na era da guerra informática.
FIGURAS e FACTOS
Gripe A motiva palestra pelo Comando de Instrução e Doutrina
O
Comando de Instrução e Doutrina (CID) em
colaboração com o Centro de Saúde de Évora,
realizou em 10 de Setembro, uma palestra sobre o Tema “Gripe
A (H1N1) – A1.ª Pandemia do Séc. XXI”, organizada em Évora
pela Unidade de Apoio do CID.
Esta acção enquadra-se no âmbito das recomendações
emanadas pelo Comando do Exército como mais uma forma
de controlar o contágio da Gripe A. Assistiram à palestra um
elevado número de Oficiais, Sargentos, Praças e Civis que
trabalham no CID.
Da agenda constaram os seguintes temas: “O vírus”, “A
Gripe Sazonal”, “A GripeA” e “A Gripe no Exército”.A palestra
terminou com algumas reflexões do palestrante e com um
período reservado a questões, onde os militares puderam
colocar as suas dúvidas. Esta acção, sobre um tema bastante
actual, deu a conhecer e alertou para procedimentos a tomar,
quer individualmente quer a nível da Cadeia de Comando.
Lançamento do segundo livro
da Colecção Segurança e Defesa
O
segundo livro da Colecção
Segurança & Defesa - “A
Circunstância do Estado Exíguo”, da
autoria do Professor Doutor Adriano
Moreira – foi apresentado no
passado dia 16 de Setembro, no
Instituto de Defesa Nacional em
Lisboa, numa sessão que contou com a presença do
Ministro da Defesa Nacional, Prof. Doutor Nuno Severiano
Teixeira. A apresentação ficou a cargo da Dra. Alice Feiteira,
directora da Colecção Segurança & Defesa, e do Prof. Doutor
João Carlos Espada.
Na sessão estiveram presentes, entre outros, o Secretário
de Estado da Defesa Nacional, Dr. João Mira Gomes, o Chefe
de Estado-Maior da Armada,Almirante Melo Gomes, o Chefe
do Estado-Maior do Exército, General Pinto Ramalho, o General Loureiro dos Santos, o Dr. Figueiredo Lopes, a Dra.
Maria Barroso.
11
FIGURAS e FACTOS
Sintra assiste à Cerimónia comemorativa da Brigada de Reacção Rápida
C
erca de 1300 militares participaram
em Sintra, a 13 de Setembro de 2009,
nas Comemorações do Dia da Brigada de Reacção Rápida (BrigRR), onde demonstraram ao
público as suas capacidades militares.
Assentando a sua missão na defesa do
território nacional, em acções de salvaguarda
dos interesses nacionais e na satisfação dos
compromissos internacionais assumidos pelo
Estado Português, esta unidade operacional
do Exército Português remonta às unidades
Pára-quedistas que existiram no passado e que
foram reorganizadas após a Guerra Colonial.
Actualmente, a BrigRR, criada em 1 de Janeiro de 2006, é comandada pelo Major-General Raul Luís de Morais Lima Ferreira da Cunha
e é constituída por: 1.º Batalhão de Infantaria
Pára-quedista (1.º BIPara), do Regimento de Infantaria N.º15;
2.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista (2.º BIPara), do
Regimento de Infantaria N.º10; Força de Operações Especiais
do Centro de Tropas de Operações Especiais; Batalhão de
Comandos, do Centro de Tropas Comandos; Esquadrão de
Reconhecimento (ERec), do Regimento de Cavalaria N.º3;
Batalhão de Apoio Aeroterrestre (BAAT), da Escola de Tropas
Pára-quedistas; Companhia de Transmissões (CTm) e o Grupo
de Helicópteros do Exército, da Unidade deAviação Ligeira do
Exército; Bateria de DefesaAérea, do Regimento deArtilharia
Anti-Aérea N.º1, Companhia de Engenharia da Escola Prática
de Engenharia e um Grupo de Campanha do RA4, sedeado na
BrigRR.
A vila de Sintra assistiu, então, a uma demonstração das
capacidades operacionais da BrigRR, que, de forma activa,
promoveu a imagem e os
valores do Exército junto da
população civil. Acção que
também teve como finalidade iniciar um ciclo de
demonstrações ao público
em geral em cidades/vilas
onde se encontram sediadas
Unidades da Brigada.
As comemorações iniciaram-se pelas 09h30 na
Igreja de São Martinho,
onde teve lugar a cerimónia
eclesiástica, à qual assistiu
um grande número de elementos do Exército, assim
como da população civil.
Seguidamente,
assistiu-se à Parada Militar, pelas 11h00, no Parque
da Liberdade/Volta do
Duche, onde as forças
formaram perante uma
12
plateia de altas entidades militares e civis, de entre as quais
se salientava a presença do General Chefe Estado Maior
do Exército, José Luís Pinto Ramalho e do Presidente da
Câmara Municipal de Sintra, Dr. Fernando Seara. No seu
discurso, o Comandante da BrigRR dirigiu-se primeiramente
ao General CEME, ao Presidente da Câmara de Sintra, ao
Tenente-General Artur Neves Pina Monteiro e ao General
João de Almeida, agradecendo as suas presenças, a
confiança em si depositada para presidir ao dia da BrigRR
e, em particular, à Câmara Municipal de Sintra pela cedência
dos espaços nobres para a realização da cerimónia. O seu
discurso prosseguiu, efectuando uma resenha histórica
sobre a BrigRR, percorrendo todo o seu historial, assim
como a missão e objectivos da Brigada e acções de destaque
nas quais tem participado.
A mensagem do General CEME enalteceu o papel da
BrigRR, salientando que esta “constitui-se como uma
Unidade de referência no seio da nossas Forças Armadas,
não só pelas suas características intrínsecas, grande
motivação e elevada preparação do seu pessoal, mas
particularmente pelo espírito próprio e pela sua alta
prontidão e eficácia demonstradas no cumprimento de
inúmeras missões, muitas das quais na satisfação dos
compromissos internacionais que Portugal assumiu junto
dos seus aliados”.
Após o período reservado aos discursos, assistiu-se à
entrega do Estandarte Nacional ao Coronel Correia da
BrigRR, assim como a condecoração de vários Oficiais,
Sargentos e Praças pertencentes à Brigada. A Parada Militar
terminou com o desfile de uma representação de todas as
subunidades que compoem a brigada, bem como de alguns
meios que a equipam.
O Largo do Palácio Nacional de Sintra, onde estava
patente ao público uma exposição estática com
equipamentos da Brigada, foi o local escolhido para terminar
as comemorações, com uma demonstração de saltos em
queda livre pela Equipa de Pára-quedistas do Exército “os
Falcões Negros”.
FIGURAS e FACTOS
Exercícios Finais Da Academia Militar 2009
I
nserido no planeamento de actividades para o ano
lectivo 2008/2009, realizaram-se em Santa Margarida,
entre 1 e 10 de Julho de 2009, os Exercícios Finais da Academia
Militar.
De 1 a 5 de Julho, com o Corpo de Alunos constituído em
Destacamento da Academia Militar em Exercícios no Quartel
da Pucariça, decorreu um bloco de Formação Militar e o
Exercício “TIGRE”, compreendendo entre outros, a execução
de marchas, pistas de combate e patrulhamentos nos limites
do campo militar e áreas circundantes, que visaram a
aplicação dos conhecimentos técnicos apreendidos ao longo
do ano no âmbito da Formação Geral Militar.
De 6 a 10 Julho teve lugar o Exercício “LEÃO 2009”, com a
finalidade de propiciar aos cadetes do Exército e da Guarda
Nacional Republicana, a exercitação das técnicas, tácticas e
procedimentos essenciais, próprios de cada Arma e Serviço,
adquiridos no decurso do ano escolar e cuja prática não foi
possível em aquartelamento, nomeadamente os saberes que
se inserem no âmbito do Departamento de Ciências e
Tecnologias Militares. Para o efeito, foi proporcionado aos
alunos, numa fase inicial, o contacto in loco com as unidades
de manobra, de apoio de combate e de serviços da Brigada
Mecanizada, a oportunidade de se inteirarem da respectiva
organização e missões, de se identificarem com o elemento
humano bem como com os diversos equipamentos,
plataformas e sistemas de armas que guarnecem aquela GU,
cujo Comando prontamente dispôs a pedido da Academia
Militar, com vista a contribuir para a sedimentação de
conhecimentos e a valorização formativa do Cadete.
Posteriormente, os alunos tiveram ensejo de participar num
Exercício Táctico Integrado (LIVEX), de escalão companhia,
no desempenho de diversas funções ao nível das
subunidades elementares de manobra e dos módulos de apoio,
tendo praticado os procedimentos de Comando e a conduta
das operações militares de baixo escalão, em ambiente de
guerra convencional.A culminar o exercício “LEÃO 2009”, o
Distinguished Visitors Day (DVD), em 9 de Julho, teve
oportunidade de apresentar aos convidados presentes
demonstrações bem elucidativas, tanto de uma força de escalão
subgrupamento na condução de um ataque deliberado
executado pelos alunos do Exército, como de variadas acções
militares e técnicas policiais a cargo dos alunos da GNR.
Actividade operacional do Regimento de Guarnição n.º 1
O
s dois exercícios do encargo operacional do Regimento
de Guarnição n.º 1 (RG1) – METROSÍDERO 091 e 092
– decorreram este ano, respectivamente, nas ilhas das Flores e
Graciosa, com objectivos semelhantes: treinar a projecção e
retracção de forças para as ilhas da área de responsabilidade
do RG1 (os Grupos Central e Ocidental); familiarizar os militares
com possíveis áreas de actuação; identificar pontos e áreas
sensíveis e locais para estacionamento de tropas, em caso de
necessidade (militar ou humanitária); mostrar a presença do
Exército em ilhas onde não existe guarnição militar.
O primeiro exercício decorreu em Julho, em simultâneo com
o FOCA 091 (conjunto com a Marinha). Foi precedido de uma
fase de treino de natação militar e de embarque e desembarque
na corveta por bote e rede de abordagem. Os militares foram
projectados na corveta João Roby e as viaturas em ferry
comercial. Há 9 anos que não se realizava um exercício nas
Flores.
O segundo exercício decorreu em Setembro. Toda a força
foi projectada por meios marítimos comerciais. Durante este
exercício realizou-se também, já na Graciosa, o CANÁRIO 093,
que consistiu em treino de heli-transporte num Puma da BA4. O
último exercício na Graciosa fora realizado há 6 anos.
13
FIGURAS e FACTOS
Tenente-General João António Pinheiro (1921-2009)
D
a sua nativa Bragança até Oeiras
onde viveu 48 anos, o General João
Pinheiro percorreu um caminho árduo e
trabalhoso, em que deixou a marca da sua
visão, do seu poder de decisão e da sua
força de vontade.
De 1955 a 59, exerceu intensa actividade
pedagógica como professor da Escola do
Exército, dos Cursos de Promoção a Oficial
Superior e dos Cursos de Estado-Maior.
As suas qualidades não passaram
despercebidas: em 1962, ainda major, foi
chamado para o cargo de Subsecretário do
Exército, o primeiro colaborador do Ministro
nas vertentes administrativa e logística.
Estávamos então em operações em Angola com as unidades a
milhares de quilómetros de Lisboa. O rigor na gestão das
avultadas verbas necessárias para a expansão do Exército e
condução das operações permitiu também a preparação de estruturas de apoio, possibilitando que os abastecimentos, correio e
apoio sanitário chegassem onde quer que houvesse soldados.
Simultaneamente, João Pinheiro tentou construir um Hospital para os 3 Ramos das Forças Armadas, tão necessário para
tratar os doentes e feridos evacuados do Ultramar. Impedido de
o fazer pelo Ministro da Defesa, planeou a construção dum
Pavilhão da Família Militar no Hospital da Estrela, em
substituição do antigo. Depois chamado “Casa de Saúde”, foi
fundamental para o tratamento dos militares e suas famílias.
Muitos de nós ainda usamos a Casa de Saúde mas poucos
sabem quem a mandou fazer.
Entre 1971 e 1973, escolhido pelo General Costa Gomes,
então Comandante-Chefe em Angola, o Brigadeiro Pinheiro
comandou o Sector de Cabinda simultaneamente com as funções
de Governador de Distrito.As coisas estavam mal por lá, devido
a erros políticos e promessas não cumpridas. Seis meses depois
de tomar posse, tinha acalmado a população e as Tropas
Especiais (forças nativas ex-FNLA) e posto em marcha um plano
de valorização social e económica – o Plano Calabube. Foram
construídos mais de 300 edifícios essencialmente postos
sanitários, enfermarias e escolas. Foram abertas novas estradas,
criados campos de desporto e electrificadas povoações. Enfim,
a paz voltou ao território.
Tem interesse notar que, 25 anos depois da independência
de Angola, um regedor de Cabinda referindo-se ao Plano
Calabube afirmou ser “o mais promissor e
inventivo programa da administração colonial portuguesa em Cabinda”.
Regressado à Metrópole, o Brigadeiro
Pinheiro serviu em vários lugares até que,
após o golpe militar de 25 de Abril de 1974,
foi nomeado Adjunto do Chefe do EstadoMaior General das Forças Armadas. A
situação era tal que chegou a exercer a
direcção de 7 organismos diferentes
integrados ou ligados ao Estado-Maior. Ao
fim de 16 meses, esgotado fisicamente e
desgostoso com a situação das Forças Armadas, pediu a passagem à reserva.
Felizmente para todos, só o deixaram
descansar um ano. Em 1976, o General Eanes, Chefe do EstadoMaior General das ForçasArmadas, chamou-o para Presidente
dos Serviços Sociais das Forças Armadas com a missão de
fazer deles uma instituição eficiente. Teve então ocasião de
realizar a “obra da sua vida”, como uma vez referiu. Sempre
interessado nos problemas dos mais velhos e no apoio aos
deficientes e aos mais fracos, o General Pinheiro deitou as mãos
à obra e, mais uma vez, demonstrou a sua enorme capacidade
de realizar.
Após cerca de 70 reuniões em comandos e unidades militares
para ouvir as pessoas e de várias visitas a estabelecimentos de
saúde em Paris, concebeu a construção de complexos sociais
polivalentes para apoio à 3ª idade. Conseguiu um plano
financeiro para obter as verbas necessárias sem penalizar os
orçamentos militares. O primeiro começou a ser construído em
Oeiras em 1981. Em meados da década de 90 estavam prontos 6
dos 7 edifícios planeados.
O que foi feito ultrapassou as expectativas iniciais. O General Eanes salientou-o numa carta de 1990: “A realidade da sua
obra excede em muito a imagem que dela construíra”.
Um pequeno episódio, sucedido há anos revela a dimensão
da obra. Um General canadiano em serviço na OTAN veio a
Portugal e levei-o a ver o Complexo de Oeiras. Espantado, disseme: “Não compreendo como sendo Portugal um país
considerado pobre tem uma obra destas de apoio aos veteranos,
e sendo o Canadá um país rico, não tem”. Respondi-lhe:
“Arranjem um General Pinheiro lá no Canadá”.
Renato F. Marques Pinto
Major-General
TABELA DE PREÇOS PARA 2009
PREÇO DE CAPA • 2,00
ASSINATURA ANUAL (11 números)
VIA SUPERFÍCIE - Portugal Cont. Madeira e Açores • 20.00
VIA AÉREA - Países europeus • 45,00; Restantes Países • 65,00
NOTA: As assinaturas devem ser pagas antecipadamente
NÚMEROS ATRASADOS - 1960 a 1969 • 4,00; 1970 a 1979 • 4,00; 1980 a 1989 • 3,00; 1990 a 2001 • 2,50; 2002 a 2008 • 2,00
Os preços incluem IVA à taxa de 5%
N.B.: Os pedidos de envio pelos CTT serão acrescidos de portes segundo os códigos postais: 1000/2000 • 4,21; 3000/8000 • 5,79; Açores e Madeira • 6,56.
14
FIGURAS e FACTOS
Assinatura de Protocolo entre Exército Português e a Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
T
endo em vista proporcionar aos militares do
Exército que prestam serviço na dependência da
Direcção de História e Cultura Militar (DHCM), ou que
estejam interessados em ali vir a desempenhar funções, a
possibilidade de obterem formação específica nas áreas de
arquivística, biblioteconomia e museologia, foi assinado, em
30 Julho, um protocolo de colaboração entre o Exército
Português e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa. O protocolo possibilita a
frequência de cursos de mestrado, nas áreas de
conhecimento acima mencionadas.
A assinatura do protocolo teve lugar na DHCM, pelo
seu Director, Major-General Adelino Matos Coelho, cujos
poderes de representação foram conferidos por despacho
do Chefe do Estado-Maior do Exército, e pelo Director da
FCSH/UNL, Professor Doutor João Sàágua.
15
Coronel António José Pereira da Costa*
“Guerra subversiva é uma luta conduzida no interior de um território, por uma parte dos seus
habitantes, ajudados e reforçados ou não do exterior, contra as autoridades de direito ou de facto
estabelecidas, com a finalidade de lhes retirar o controlo desse território ou, pelo menos, de
paralisar a sua acção”.
(in O Exército na Guerra Subversiva1)
A
propósito do programa passado na RTP,
com o título deste artigo ocorreu-me a
realização de uma análise de certas características
das Campanhas de África 1961-74.
Não considero uma questão crucial o nome que
se deu à “guerra”. Colonial, para os que não a
apoiavam e contestavam, do Ultramar, para os que a
aceitavam e pareciam fazê-la com certo empenho, de
África, para os que, hoje, pretendem criar um meiotermo sem hostilizar ninguém, cada um poderá dar-lhe
o nome que quiser, sendo certo que o fenómeno de
que falamos é o mesmo. A designação que acima uso
está relacionada com aquilo que entendo que ela foi
16
de facto: um prolongamento da instabilidade que
sempre terá caracterizado o ultramar português
(províncias ou colónias) e, porventura as
possessões de todos os outros países europeus. A
expressão “Campanhas de África 1961-74” pretende
apenas distingui-las das campanhas que tiveram
lugar no fim do Séc. XIX e início do Séc. XX.
Relembro que, sabendo do que se fala, o nome não
acrescenta nem diminui nada às características de
qualquer fenómeno histórico. Não consta que,
alguma vez, os dirigentes políticos ou militares que
se decidiram pela realização de uma qualquer guerra,
tenham perdido o sono a pensar no nome que lhe
dariam ou no nome com que ela iria passar à
História.
Resolvida a questão do nome da guerra,
passaria a dar o meu contributo para analisar o que
ela foi na sua essência. Para tal, socorrer-me-ia da
definição de “Guerra Subversiva”, que o Exército
Português adoptou na altura e que ainda hoje se
mantém plenamente aplicável.
Começo por considerar muito relevante que, de
acordo com a definição regulamentar, a Guerra
Subversiva é uma luta, quando, como o nome indica,
seria normal que fosse apontada como um tipo de
guerra, como vários há, e que o manual, poucas
páginas à frente, se apressa a enumerar e a caracterizar
sumariamente. O recurso ao dicionário permitirá
verificar a diferença subtil, mas clara, entre um termo e
outro. Na nossa História, até se registam as “Lutas
Liberais”, uma feroz guerra civil em cuja designação a
palavra “luta” aparece no plural. É muito provável
que, quem estabeleceu a definição, quisesse sublinhar,
logo à partida, uma das características da guerra
subversiva, situando-a fora da área da guerra
entendida como choque entre países ou alianças,
através dos respectivos exércitos, colocando-a antes
na área da luta política e social, logo por inteiro, no
campo da sociologia. Como aspecto lateral, lembremos
que os países que obtiveram a sua independência
através de uma guerra subversiva falam muitas vezes
de uma “Luta de Libertação”.
Depois, detenhamo-nos na afirmação redundante
de que é uma luta conduzida no interior de um território.
Era de calcular que assim fosse. Efectivamente, todas
as lutas ou guerras terão forçosamente lugar no interior
de um dado território, mais ou menos extenso. Não
será mesmo possível que possam ter lugar “no exterior
de um território” sem certamente caírem dentro de um
outro, contíguo ou mais ou menos próximo...
Uma guerra pode conter várias batalhas, que
podem ter lugar no ar, na terra e no mar, mas a
condução de uma luta no “exterior de um território”
determinará sempre que seja levada a cabo no interior
de um outro território.
A definição começa a tornar-se mais clara e
especificamente determinante quando declara quem
são os contendores: uma parte dos (...) seus
habitantes (do território) e as autoridades de direito
ou de facto estabelecidas (no território).
O facto de habitantes que desencadeiam a luta
poderem ser ajudados e reforçados, ou não, do
exterior pode influenciar a conduta e determinar um
êxito mais fácil, mas não será, por si só, condição de
sucesso. É óbvio que, em princípio, o apoio exterior
será um catalisador do êxito, especialmente na actual
conjuntura, mas é possível encontrar na História,
casos em que aquela ajuda e apoio foram pouco
consistentes e a vontade da população acabou por
se impor à das autoridades. Realcemos que o
definidor não diz que é uma luta entre duas facções
da população, nem entre dois exércitos.
Atentemos agora no objectivo da luta.
Segundo a definição, as forças insurrectas têm
como a finalidade (...) retirar o controlo desse
território às autoridades de direito ou de facto
constituídas ou, pelo menos, (...) paralisar a sua
acção. Daqui podemos concluir que, por um lado
a simples paralisia da acção das autoridades concede a vitória à subversão e, por outro, a derrota
daquelas materializa-se inapelavelmente na perda
de controlo do território, a favor da parte da
população que conduziu a luta.
Ao termo “subversivo”, pouco utilizado até
então, passou, a partir da altura em que a guerra
teve início, a ser emprestado um significado pejorativo,
mesmo ofensivo, que não corresponde ao seu
17
As guerras podem decretar-se,
mas não se improvisam
verdadeiro sentido. Efectivamente, este termo “não
envolve, em si qualquer juízo ético ou moral2” e pode
ser aplicado noutros contextos que não a guerra,
como sejam a filosofia ou a arte, quando se pretende
falar de um alteração drástica com o que se vinha
praticando ou uma contestação crítica (não
obrigatoriamente pela negativa) às regras
observadas do antecedente.
Sabemos também que a guerra subversiva traduz
e representa sempre uma crise de legitimidade política
no território em apreço3. Estamos, de facto, numa
situação em que um grupo activo no interior da
sociedade conseguiu − certamente apresentando
razões lógicas e válidas − influenciar uma larga massa
da população e levá-la a contestar as autoridades,
em defesa dos seus interesses (antagónicos e
inconciliáveis com os das autoridades), pelo menos,
numa primeira fase. Esgotada a possibilidade de uma
conciliação, é sabido que a luta prossegue, numa
escalada de violência, cujo fim é, normalmente,
favorável à subversão.
18
Vila de S. Paulo de Luanda.
Desenho de A. de Bar
Analisada a definição de guerra subversiva, ainda
hoje em vigor e com aplicação em alguns teatros de
operações actuais, prossigamos na análise dos
acontecimentos na Guiné, Angola e Moçambique,
entre 1961 e 1974, tendo sempre como referência aquela
definição.
Comecemos por recordar que uma guerra só surge
quando há condições para tal e que, sucintamente,
podemos dizer que essas condições decorrem de
causas de ordem económica, social, religiosa ou
político-ideológica e que só é possível fazer com que
uma dada população aceite participar em acções
bélicas, organizadas e constantes, se lhe for
previamente criada a necessária disposição anímica
(e até necessidade) para tal. Por outras palavras: há
que criar uma certa agressividade, pelo menos num
dos beligerantes que o leve a reconhecer o inimigo e
a estar convicto de que a razão lhe assiste. É de excluir,
à partida, a possibilidade de se desencadearem acções
violentas só pelo facto de um dado país ou facção
dispor de forças armadas de certa capacidade bélica.
Não é possível fazer surgir uma guerra do nada,
quase por geração espontânea, como, muitas vezes
nos querem fazer crer, com causas pouco claras, mas
muito apregoadas, como sejam: a infiltração de
elementos agitadores, as ameaças sobre a população
que, assim, será obrigada a combater, o carisma dos
chefes, variável, vago e momentâneo, etc..
Salientemos que os “agitadores” só têm conseguido
actuar se explorarem o descontentamento (bem
palpável) da população e que o carisma é algo
indefinido, inexplicável, mas que todos parecem
saber o que seja e como se manifesta...
É nossa opinião de que, no caso do ultramar
português, o caldo de cultura para uma guerra
subversiva vinha sendo criado há séculos.
Efectivamente, a colonização europeia foi sempre
feita mais na mira da exploração dos recursos locais,
que tanto podiam ser matérias-primas ou pedras
preciosas, madeiras ou produtos da terra, como
“recursos humanos”, (leia-se escravos) do que com
intuitos de expansão civilizacional. Era a mentalidade
do tempo e Portugal não teria de fazer excepção. A
História é eloquente na demonstração desta verdade
e, mesmo a Igreja, a quem tocaria a conquista de
novas almas para a cristandade, salvo excepções,
como a do Padre António Vieira, nunca se opôs
fortemente à situação de exploração que se vivia nas
colónias, nem teria condições para tal4.
Por outro lado, um país, como o nosso, pequeno
e com pouca capacidade para se impor, não poderia
ocupar grandes áreas do continente africano.
Restava-lhe fixar-se em locais onde as condições de
vida e de defesa fossem mais favoráveis, procurando
relacionar-se de forma mais ou menos hábil com os
habitantes das redondezas para obter vantagens
comerciais. Foi o que sucedeu (por exemplo) em
Angola, com a fundação de Luanda (em 1576),
mesmo assim a ocorrer 92 anos após a chegada de
Diogo Cão à foz do rio Zaire. De uma forma simplista,
mas que traduz o que se passou, podemos dizer que
João Teixeira Pinto, Carlos Fortunato, historiaguine.com
Mesmo a acção repressiva de Teixeira Pinto foi conduzida com bastantes dificuldades e com baixas muito consideráveis
a Europa só acordou verdadeiramente para a África,
por alturas da Conferência de Berlim (1884), quando
retalhou aquele continente, através de convenções
e com critérios aos quais só poderemos chamar
discutíveis. E não se pode dizer que fosse cedo...
Só para se aquilatar da situação que se viveria
nas colónias portuguesas em África, procuremos
determinar por que seria que a Corte portuguesa, em
1807, não fugiu para CaboVerde, Guiné, S. Tomé ou
até Angola (cuja colonização efectiva só começou
após a independência do Brasil) já que seriam
territórios completamente fora do alcance de
Napoleão. É notório que estas possessões
ultramarinas, embora mais próximas de Lisboa, não
eram destinos possíveis para uma Corte em fuga,
acompanhada por alguns milhares de nobres,
funcionários e “apoiantes”. A ocupação dos territórios africanos estaria numa fase de tal modo embrionária que a escassez de recursos locais e a
insegurança levaram a que a possibilidade de a Corte
ali se instalar nem sequer tivesse sido equacionada.
Fazendo o tempo avançar um pouco, recordemos
que, só na Guiné, entre 1891 e 1912, tiveram lugar 11
sublevações populares, quase todas a distâncias
relativamente curtas de Bissau, muitas das quais
reprimidas com grande violência e nem sempre com
os melhores resultados para as “forças da ordem”.
Houve mesmo casos que se saldaram por derrotas
muito pesadas, como foi o sucedido em 1891, na Ilha
de Bissau (Região dos Papéis), e ocorrido em 1897,
no Oio. Mesmo a acção repressiva deTeixeira Pinto,
entre 1912 e 1915, a mais conhecida de todas, e a que
parece ter sido mais eficaz, foi conduzida com
bastantes dificuldades e com baixas muito
consideráveis. Ter-se-á então verificado uma certa
acalmia nas relações entre as populações locais e as
autoridades coloniais, mas data de 19315 uma revolta
dos Papéis e Mancanhas em Bissau, que terá sido a
última sublevação antes de Pidjiguiti (Agosto de
1959), esta tendo por pano de fundo um conflito
laboral. Relativamente às outras nem sequer sabemos
que causas tiveram.
Nas restantes possessões o ambiente seria
certamente próximo do da Guiné. As populações
locais nunca aceitaram bem o domínio das
autoridades portuguesas e as relações entre os
colonos chegados da Metrópole ou os seus
descendentes e as populações autóctones nunca
foram pacíficas. Na melhor das hipóteses, revestiam
relações de trabalho que, por vezes, se aproximavam
das relações de produção da Idade Média.
Procurando explorar o descontentamento das
populações das colónias portuguesas, é também
conhecida a acção das autoridades coloniais dos
países limítrofes, no âmbito da aplicação das
fronteiras da Conferência de Berlim que, quando a
influência sub-reptícia não resultava, recorriam a
acções de força a nível local ou à pressão
diplomática, como sucedeu com o Ultimatum
Britânico, no fundo um outro tipo de acção de força.
Está, portanto, claramente demonstrado que as
colónias/províncias ultramarinas de Portugal viveram
sempre um ambiente de instabilidade larvar que se
manifestou noutras ocasiões e locais como em Batejá,
(S. Tomé, Fevereiro de 1953). Esta última sublevação,
também de raiz laboral e sem grandes possibilidades
de êxito é o paradigma daquilo que vimos
demonstrando: que a ocupação de África pelos
Portugueses (e não só) não foi um fenómeno pacífico
e bem aceite pelas populações locais, as quais,
19
20
blogueforanadaevaotres.blogspot.com
mesmo em períodos de “paz social”, reprimiam sempre
uma dose residual de descontentamento e
antagonismo relativamente à administração colonial
e a quem a praticava ou impunha.
Foi assim até ao final da II Guerra Mundial.
A partir daí, já é conhecido com precisão e não
deixa margem para dúvidas o trajecto político da
África até ao final dos anos 50 e início dos anos 60
do Séc. XX. Por razões já inventariadas, as
populações das colónias espalhadas pela Ásia,
África e Oceânia iniciaram um processo de
contestação às respectivas administrações coloniais
e as independências sucederam-se a um ritmo que
rapidamente influenciou o sentido das votações do
Assembleia Geral da ONU. Em África, num processo
mais ou menos rápido e pacífico (a Argélia foi
excepção, mas só durante algum tempo) a
independência alastrou, de tal sorte que, apenas o
Marrocos Espanhol e as colónias portuguesas não
se tornaram independentes com uma administração
exercida pelas populações locais. Curiosamente, os
países que iam surgindo guardavam as fronteiras da
Conferência de Berlim, talvez por não terem a sua
identidade bem definida e não estarem em condições
de o fazer, sem que isso provocasse um ambiente de
guerra generalizado, sempre que os limites entre as
áreas habitadas pelos diferentes grupos étnicos não
coincidissem com as fronteiras impostas pela
Conferência. Só a África do Sul, governada por uma
administração com base na população branca
minoritária e a Rodésia procuravam seguir um caminho oposto, com pouco êxito, como sabemos.
Neste ambiente internacional − quer consideremos apenas a África quer o mundo, na sua
globalidade – a posição política da administração
portuguesa era absolutamente insustentável. Se
dúvidas houvesse, esta situação de insustentabilidade ficaria claramente demonstrada com a invasão
de Goa, Damão e Diu (Dezembro de 1961), pela União
Indiana, levada a cabo sem que comunidade
internacional tivesse tomado qualquer atitude
consequente antes da sua materialização. Claro que
depois dela já não haveria qualquer campo político
para que as forças invasoras retirassem e o território
voltasse à posse de Portugal. Teria sido bom que as
autoridades portuguesas tivessem tirado as devidas
conclusões no que toca ao peso e influência do País
na comunidade internacional.
No que respeita às três colónias inseridas na
massa continental africana, havia ainda a considerar
a existência do elemento catalisador (apoio externo)
que era facilmente actuante e eficaz e, frequentemente, determinante nos êxitos da subversão.
Temos, portanto, três territórios africanos onde
a paz social nunca foi um facto adquirido e a luta de
Observemos ainda, que a descontinuidade territorial que o
país apresentava pesava fortemente na situação políticosocial de cada parcela
classes tinha todas as razões para proliferar, a serem
atingidos pelas novas ideias separatistas e
independentistas, em expansão, por todo o mundo.
Se às condições enunciadas juntarmos o racismo,
sempre pronto a emergir nas sociedades africanas,
temos a mistura explosiva para o eclodir da
insurreição. Lembremo-nos de que, se é um facto
que a existência de condições nem sempre arrasta a
ocorrência de uma sublevação, é verdade que as
sublevações necessitam sempre de condições para
eclodirem e progredirem.
Havia assim condições óptimas para que a
subversão germinasse.
Observemos ainda, que a descontinuidade
territorial que o país apresentava (entendendo-se
Portugal como um todo constituído por vários
territórios dispersos pelo mundo, sob uma mesma
administração) pesava fortemente na situação
político-social de cada parcela. É esta
descontinuidade territorial do país que permite a
mobilização maciça e pouco contestada de um sempre
crescente número de unidades militares, na
Metrópole (onde o potencial humano era maior e as
condições sociopolíticas o permitiam) lançadas,
depois, nas colónias em apoio da política do governo.
A descontinuidade territorial determinou também
que, após o desencadear da luta, a diferente situação
− militar e sociopolítica − nas parcelas atingidas pela
subversão tenha assumido também rapidamente
diferentes características em cada uma e mesmo em
certas regiões de cada colónia/província.
A insurreição rebentou de forma muito violenta
− selvática mesmo − e a resposta da administração
central foi tão rápida e violenta quanto possível,
naquele tempo. Se, inicialmente, os meios militares
da subversão eram incipientes, a curto prazo, a
utilização de todo o armamento ligeiro e pesado de
Infantaria, por parte da guerrilha, permitiu uma melhor
relação das forças em presença. De um lado grupos
de cidadãos (camponeses-guerrilheiros), procurando
bloquear a acção das autoridades constituídas, do
outro as Forças Armadas Portuguesas, a procurar
reverter a situação a favor daquelas. Mesmo
salvaguardando as especificidades dos três teatros
de operações é claro que, ao longo dos 13 anos que
a guerra durou, a guerrilha foi sempre melhorando o
seu potencial de combate, enquanto as Forças
Armadas mantiveram o seu, mais ou menos imutável.
Houve até casos de superioridade a favor da
guerrilha − momentâneos ou mais duradouros, locais
ou mesmo regionais − que se materializaram em
situações muito delicadas, com perdas consideráveis
para as Forças Armadas.
Passado o primeiro embate, é um facto que, talvez
por razões económicas, nunca houve um esforço que
levasse a que fosse possível recuperar a situação
favorável do potencial relativo de combate das forças
em presença, antes pelo contrário, como foi o caso da
Guiné, onde a ameaça antiaérea obrigou a reduzir
substancialmente o apoio aéreo que muitas vezes
resolvia a situação táctica que se vivia no terreno e o
"empréstimo" de artilharia de campanha por parte da
República da Guiné ao PAIGC, permitiu criar uma
situação de superioridade pontual na fronteira Sul.
Por outro lado, nunca houve uma grande
passagem − brusca ou gradual − das populações do
controlo da guerrilha para o das autoridades. E, numa
“guerra” como esta, o que está em jogo é a população,
(simultaneamente objectivo da luta e meio onde ela se
desenrola) que é necessário cativar ou manter sob
controlo autoconsentido e apoiante da administração.
É também certo que a reacção da administração
colonial foi tardia e que se processou já com a 2.ª
fase da subversão muito avançada, à luz da doutrina
que o Exército Português utilizava, o que
comprometeu a possibilidade de uma vitória militar.
Sabemos hoje que o governo português sempre
subestimou as capacidades da parte contrária, num
autoconvencimento por si mesmo forjado, que o
impedia de reconhecer que havia razões,
principalmente de carácter social e político, para o
eclodir de movimentos sociais e de que a repressão
destes já não resolveria todos problemas (como
sucedera(?) no passado), antes pelo contrário.
Ao fim de treze anos de luta ou guerra − como se
lhe queira chamar − a situação piorava e, no caso da
Guiné, apresentava sinais preocupantes de desenlace
muito dramático. A subversão foi capaz de isolar e
pressionar duas posições de nível companhia,
forçando ao abandono de uma e sendo contrabatida,
com bastante dificuldade na outra, para além de ter
conseguido suster uma ofensiva das Forças
Portuguesas, realizada numa escala considerável, no
Sul da província.
Não ignoremos que, se um colapso viesse a
suceder na Guiné, seguir-se-ia, sem dúvida, um efeito
de dominó que arrastaria, num período mais ou menos
curto, a derrota militar em Angola e Moçambique,
com consequências que hoje nem podemos imaginar,
mas que, certamente seriam gravíssimas. Seria
possível uma retirada de mais de 30.000 homens,
acompanhados do respectivo material, sob pressão
do inimigo e com uma linha de comunicações de
5.000 km (cinco dias por via marítima e quatro horas
por via aérea), mesmo recorrendo a um apoio
intermédio em CaboVerde? Quais seriam as suas
possíveis consequências? E depois de uma derrota
na Guiné, como seria o cenário na Metrópole, em
Angola e em Moçambique?
Há outros fenómenos a referir que têm que ver
com a reacção da população da metrópole a uma
guerra tão prolongada a sem resultados decisivos à
vista. De começo, as unidades iam fortemente
moralizadas e cada militar mobilizado aceitava a sua
tarefa como imperativo patriótico. Porém, o aumento
do número de unidades mobilizadas (que cresceu
sempre até surgirem indícios de exaustão do potencial
humano) dava a indicação de que o conflito não
tinha resolução próxima e foi desgastando ânimo da
população. Os militares regressados e
desmobilizados foram exercendo um efeito negativo
na mentalização dos que se lhes seguiram, como se
dispersassem um vírus de desconfiança.
Por outro lado, os dirigentes políticos, marcados
por desprestígio latente, não conseguiam fazer
passar a mensagem da necessidade de manter a guerra
21
Foto: arquivo JE
A manobra de conquista do apoio da população não produziu efeitos decisivos que seriam necessários para anular as
intenções da subversão
e a vida diária na Metrópole, com o seu
funcionamento normal, mais inserido na Europa, onde
o número de emigrantes não cessava de aumentar,
levava a que os que regressavam não fossem
recebidos como alguém que vem de fazer algo de
válido e necessário, mas sim com uma indiferença
que às vezes atingia o desprezo. A guerra tornou-se
uma rotina, uma aborrecida rotina, um esforço que
era obrigatório − que não necessário − fazer, embora
já não se soubesse bem porquê. A delapidar de
recursos financeiros numa altura em que a Europa se
estava a lançar numa etapa de desenvolvimento,
causava apreensão, mas o esforço económico e
financeiro a que a guerra obrigava, não conduzia a
uma superioridade clara das Forças Armadas sobre
a guerrilha, embora as despesas com a guerra tenham
atingido percentagens elevadas dos recursos
financeiros do País.
O tempo trabalhou a favor da subversão, quando
deveria ter sido utilizado a favor da contra-subversão.
Muito provavelmente não terá sido o tempo ou
o uso que dele se fez que ditou o resultado neste
aspecto, mas antes o falhanço completo em manter a
mobilização inicial das retaguardas, demasiado
distanciadas do teatro dos acontecimentos, quer se
meça a distância real e física, quer se considere o seu
sentir e a disposição anímico-ideológica para apoiar
a guerra. Este falhanço verificou-se também nas
Províncias Ultramarinas. Tanto nas que, pela sua maior
extensão, permitiam um grande alheamento e até
22
desconfiança das populações dos grandes centros
cosmopolitas, relativamente ao que sucedia nas zonas onde a guerrilha estava activa; como das
populações daquelas áreas que, dia após dia e ano
após ano, eram confrontadas com a subversão e
obrigadas a viver com ela e não viam uma alteração
clara da situação no sentido que as autoridades diziam
pretender obtê-lo. Estes aspectos do problema
reforçam a ideia da incapacidade do governo para
mobilizar vontades para a sua causa. Esta
incapacidade tendia a acentuar-se com tempo e só um
milagre na política internacional poderia retirar as
diversas formas de apoio exterior à guerrilha. Uma
análise fria da realidade teria permitido tirar as devidas
conclusões sobre as reais consequências do
prolongamento de uma situação política que se
tornava, cada vez, mais um marasmo.
Em resumo, podemos afirmar que a subversão −
essencialmente uma forma de luta política e social −
surgiu na África portuguesa quando tinha todas as
condições políticas e sociais (que se vinham
acumulando, há muito), para vingar e dispunha
também de boas condições para se expandir, quer a
nível local, quer a nível internacional. Deveria ter sido
contrariada com oportunidade, o que exigiria prever
(antecipadamente, com humildade e realismo), antes
de prover (tarde e com grande sacrifício das pessoas
e esforço económico-financeiro). Além disso, a
violência utilizada contra a subversão revelou-se
ineficaz para a contrariar, foi longa e a manobra de
conquista do apoio da população (a realizar em
simultâneo) não produziu efeitos decisivos que seriam
necessários para anular as intenções da subversão. A
manobra de conquista e adesão das diferentes
retaguardas nos diferentes territórios falhou e, por
fim, o esforço económico-financeiro para manter a
contra-subversão acabou por se tornar incomportável.
Do impossível estratégico − que sempre existiu,
em última análise − caiu-se no impossível táctico.
No primeiro dia de Verão de 2008.JE
*O Coronel António José Pereira da Costa nasceu
em 22 de Junho de 1947. Tem o Curso de Artilharia da
Academia Militar, tendo ascendido ao actual posto em
1 de Dezembro de 1997.
Cumpriu duas comissões na Guiné: a primeira entre
Janeiro de 1968 e Janeiro 1969; a segunda entre Maio
de 1971 e Agosto de 1973. Foi delegado de Portugal no
Grupo de Trabalho “FINABEL MIKE” nos anos de
1996 e 1997 e no Army Sub-Group/NATO Training
Group durante o ano de 1996. É autor do livro “A
Cidadela de Cascais – Pedras Homens e Armas”. É o
Director da Biblioteca do Exército.
1
O Exército na Guerra Subversiva, Tomo I −
Generalidades, Ministério do Exército, Estado-Maior do
Exército, 28 de Fevereiro de 1963, O. E. N.º 2, 1.ª Série,
pág. 63.
2
Ver Couto, Abel Cabral, Elementos de Estratégia
Apontamentos para um Curso, Vol. 2, 6.ª Parte, pág. 212
e seguintes, Instituto de Altos Estudos Militares, Lisboa,
1989.
3
Ver Couto, Abel Cabral, Obra já citada.
4
Só a título de exemplo, no que à região da Guiné diz
respeito, veja-se o Tratado Breve dos Rios da Guiné do
Cabo Verde desde o rio Sanagá até aos Baixos de Sant'Ana
& etc, pelo Capitão André Alves d'Almada, 1594, publicado
em 1841, por Diogo Köpke capitão da 3ª Secção do Exército
e lente da Academia Polytéchnica do Porto, Typographia
Comercial Portuense, Largo de S. João Novo n.º 12, Porto.
5
Eventualmente ligada à Revolta da Madeira que teve
lugar no mesmo ano.
23
Tenente-General Alexandre de Sousa Pinto
24
Quadro de Joaquim Rodrigues Braga, Museu Nacional Soares dos Reis/IPM
omo todos sabemos, D. Afonso Henriques
nasceu, segundo muitos, em Guimarães,
conforme alguns, em Coimbra1 e, de acordo com
outros, em Viseu em meados de Agosto de 11092.
A 17 de Maio de 1125, aos 15 anos de idade,
armou-se a si próprio cavaleiro na Catedral de
Zamora, prática exclusiva de reis, tornando-se, a
partir de então, num verdadeiro combatente pela
liberdade do condado que herdara de seus maiores.
Tendo morrido em Coimbra a 6 de Dezembro de
1185, teve um combate de 60 anos, ao longo dos
quais ficaram claramente demonstradas as suas
altíssimas qualidades políticas e diplomáticas, por
um lado, mas também, por outro, as suas capacidades como estratega, táctico e chefe militar.
Qualidades estas sobre as quais muitos se têm
já pronunciado, bastando lembrar-se, como
comentários menos abonatórios: que era “naturalmente belicoso” e um “mestre, acabado na arte de
enganar e na arte de combater..., sendo a separação
de Portugal um facto consumado graças ao seu
valente, medíocre, tenaz, brutal e pérfido carácter,”
como referem respectivamenteAlexandre Herculano
e Oliveira Martins3.
Mas há, divergindo destas, opiniões bem
favoráveis, de que lembramos: tratar-se de “varão
valoroso no manejo das armas; eloquente e
prudentíssimo em todos os seus feitos e dotado de
claro engenho”, como é referido na Crónica dos
Godos, e com “o animoso fervor e ardente esforço
de Júlio César e a segurança mui confiada de Publio
Cepião Africano, em tanto grau que tudo o que
estava por fazer, cometia como se tivesse feito”,
como nos diz Duarte Galvão4.
Por sua vez, Torquato de Sousa Soares diz-nos
que “apesar de hábil negociador, que sabia muito
bem fazer o seu jogo e defendê-lo, sempre se
manteve fiel à palavra dada e a compromissos
formalmente tomados” vendo-o como “figura
hercúlea de guerreiro, de político − talvez melhor −
de rei, ainda hoje avulta tanto que não encontramos,
para a medir, termo de comparação”5.
E Luís da Câmara Pina considera que possuía
“exigências especiais nas operações militares e
grande clarividência como chefe militar” referindo
que “só um grande chefe militar como ele
conseguiria criar no Portugal do século XII uma
situação de coesão reduzível a três conceitos, a
saber: unidade de sentimento, unidade intelectual
e unidade de doutrina”6.
Finalmente, António Barrento 7 destaca e
considera incontroversa a sua figura como a de um
chefe militar, no qual se confundiam o senso e a
coragem, se notavam a perseverança e a determinação que sempre o acompanharam, a sua vontade
Foto: Tenente Paulo Moreira
C
Perspectiva de uma representação escultórica do 1º Rei de
Portugal, pela mão do escultor Daniel Luzia Silva, 1960,
Unidade de Apoio da Área Militar Amadora-Sintra.
nunca satisfeita, registando o elevado sentido de
oportunidade das suas acções, mostrando o espírito esclarecido de um jogador que calcula os riscos,
os aceita e se empenha decisivamente na vitória.
Termina, esclarecendo ainda, que poderia ser apenas
um comandante militar que utilizasse o poder de
que estava investido para se fazer obedecer, mas
foi mais longe conseguindo que os portugueses
do seu tempo aderissem aos seus projectos e os
considerassem como seus, tomando-se assim um
incontestado chefe militar.
Nestas circunstâncias surge, com toda a
naturalidade, o despacho do Chefe do EstadoMaior do Exército, General Pedro Cardoso,
1
Cf. Torquato de Sousa Soares.
Cf. A. de Almeida Fernandes, Viseu, Agosto de 1109,
Nasce D. Afonso Henriques, Viseu, 2007, que MATTOSO,
D. Afonso Henriques, Círculo de Leitores, 2006, pp. 1718,
considera demonstrar a sua tese com verosimilhança
suficiente para ter que se admitir como possível ou mesmo
a mais provável das três teses.
3
Cf. transcrição de BARRENTO, António, D. Afonso
Henriques a Guerra e os Objectivos Nacionais, EME, 1983,
pp.72-73.
4
Idem, Ibidem, p. 72.
5
Idem, Ibidem, pp. 73-75.
6
Idem, Ibidem, p. 75.
7
BARRENTO, António, op.cit., pp. 76-77.
2
25
8
Despacho n.º 37/79 de 9 de Março, Ordem do Exército
n.º 3, 1.ª Série, de 1979, p. 81.
26
Arquivo JE
designando D. Afonso Henriques para patrono do
Exército Português 8. Para além de rei fundador era,
simultaneamente, o nosso primeiro grande estratega
e chefe militar incontestado.
Tomava-se agora necessário encontrar uma
data que fosse significativa para nela se comemorar
o Dia do Exército.
De imediato surgiu a data que parecia ajustarse perfeitamente ao patrono e às finalidades de tal
celebração − 25 de Julho − data da batalha de
Ourique, há muito considerada quase como sendo
a data da fundação do Reino de Portugal, graças à
acção militar de D. Afonso Henriques. Pelo
despacho anteriormente referido, o General Pedro
Cardoso, determina como Dia do Exército o dia da
Batalha de Ourique, 25 de Julho.
Com o passar do tempo, o serviço militar deixou
de ser universal e obrigatório e passou a serviço
voluntário. As finalidades do Dia do Exército,
consequentemente, passaram também a ter em
conta a divulgação do conhecimento do Exército
a uma juventude que só seria voluntária se lhe
fosse despertado o interesse por tal actividade.
Em termos de marketing o dia 25 de Julho era uma
má data. A juventude escolar − faixa etária que
mais interessava atingir − estava toda de férias e o
mesmo se passava com a grande maioria dos
restantes portugueses.
Por outro lado, a Batalha de Ourique, se bem
que continuasse a ser um marco lendário na
definição da assumpção da independência
nacional, em termos histórico-militares não passava
de um combate com muito significado político, mas
de nulo significado militar. Havia que procurar outro
acontecimento que reunisse três características: que
continuasse a ser politicamente relevante mas que
passasse a sê-lo também em termos militares e que
tivesse lugar em data conveniente para as
finalidades que se pretendiam. Se possível, também
seria interessante que tal acontecimento tivesse
pontos de contacto com o que hoje em dia se passa
nas actividades militares que ocorrem no mundo.
A conquista de Lisboa surgiu, imediatamente,
como um acontecimento que reunia todos os
requisitos, até aquele que apenas se exigia em
segunda ordem, só se tal fosse possível. É isso que
irei tentar demonstrar.
Politicamente, a conquista de Lisboa é um facto
relevantíssimo por se traduzir na aquisição de uma
posição fortíssima que por si só garantia um avanço
territorial muito grande e de uma nova fronteira,
Pormenor do Monumento Comemorativo da Batalha de
Ourique, em Ourique.
que sendo um obstáculo natural de grande valor −
o Rio Tejo − facilitava a defesa de todo o território.
Acresce que Lisboa era também o mais importante
porto da costa atlântica. Não foi por acaso que,
naturalmente, Lisboa se tomou a capital do país.
Mas uma tal cidade era, obviamente, muito bem
defendida pelos árabes que, ainda por cima,
dispunham de apoios a curta distância a partir de
Leiria e Santarém, a Norte, e de Sintra, Palmela e
Alcácer do Sal a Sul.
Estes factores obrigavam a ponderar muito bem
a sua conquista. Afonso Henriques já em 1142 o
havia tentado em vão, sabendo pois como, com os
meios de que dispunha, tal não seria possível. Mas,
perseverante como era, não desistiu e foi preparando
essa conquista cuidadosamente enquanto
aguardava a oportunidade para a poder levar a cabo.
Preparação essa que incluiu a conquista prévia de
territórios que lhe facilitariam a tarefa como sejam
Leiria em 1142 e Santarém em 1147, garantindo assim
a segurança da retaguarda e fortificando Germanelo,
Alvorge e Ansião.
Lisboa, na época, parece que já não tinha
qualquer esquadra. A sua defesa concentrava-se
sobretudo em fortalezas e torres de costa e nas
fortes muralhas que circundavam a cidade, já então
de muitos habitantes e com uma guarnição estimada
por fontes cristãs em cerca de 15.000 soldados mais
alguns que ali se tinham recolhido vindos de
Santarém, após a conquista desta, e aos quais
temos ainda de juntar combatentes ocasionais.
Contava também com alguma artilharia, como as
balistas que os relatos posteriores à conquista
responsabilizavam pela destruição de várias
máquinas de guerra dos cruzados.
Museu Alberto Sampaio/IPM
Visão de D. Afonso Henriques sobre a Batalha de Ourique.
Quadro da autoria de Frei Manuel dos Reis, 1665.
D. Afonso Henriques conhecia bem os esforços
feitos a partir de 1144 e intensificados em 1146 pelo
Papa Eugénio III e pelo seu amigo e aliado nesta
questão, São Bernardo de Claraval, para a
organização de uma segunda cruzada à Terra Santa
que, após a conquista de Edessa em 1144 estava a
sofrer uma das maiores ofensivas muçulmanas de
sempre. A esta cruzada aderem de imediato Luís VII
de França e Conrado III, imperador do Sacro Império.
É óbvio que D. Afonso Henriques toma também
conhecimento de outros senhores que, não
pretendendo subordinar-se a nenhum daqueles
soberanos, decidem avançar para a cruzada não
seguindo por terra, mas fazendo por mar o périplo
europeu atingindo o Médio Oriente pelo
Mediterrâneo. Considera que pode ser chegada a
sua hora.
Encarrega, assim, o bispo do Porto, D. Pedro
Pitões, de os interceptar e de os convencer de que
a ajuda a D. Afonso Henriques contra os
muçulmanos era obra de grande mérito aos olhos
de Deus, tão importante quanto a que iriam depois
cumprir no Médio Oriente. Pelo seu lado, Afonso
Henriques foi-lhes aguçando o apetite com a
possibilidade de rendosos saques e a promessa de
posse de terras no seu próprio território após a
conquista, se o desejassem.
E assim aconteceu. Os cruzados deslocaramse, a partir de Darthmouth, sob o comando de
Arnaldo de Aarschot, os pertencentes ao Sacro
Império e, sob o comando de Cristiano de Gistell,
os flamengos e bolonheses. Com partida da
Normandia vão-se-lhes juntar mais quatro grupos:
um de ingleses, provenientes de Suffolk e Norffolk
sob o comando de Hervé de Glanville, outro de
homens de Kent, comandados por Simão de Dover, um terceiro grupo de Londres, comandados
por um tal André e, finalmente, um grupo
indiscriminado que incluía normandos, galeses e
outros súbditos do rei de Inglaterra sob o comando
de Sahério de Archelles. Totalizavam um número
de navios, variável conforme os autores, entre 170
e 200 que transportavam cerca de 13.000 homens
de guerra a bordo.
Era, sem dúvida, o reforço há muito desejado e
esperado por D. Afonso Henriques para se poder
lançar na conquista da cidade. D. Pedro Pitões e a
sua eloquência fizeram o resto à sua chegada ao
Porto a 16 de Junho de 1147.
Os navios cruzados, reforçados com alguns
do próprio rei de Portugal, cercaram a cidade pelo
rio, a Sul. A hoste real levantou arraial a Norte,
junto ao monte de Sant’Ana. Os ingleses
posicionaram-se a Oeste, no monte Fragozo e os
flamengos e alemães, a Leste, no monte de S.
27
Cidade de Lisboa.
Vicente. Nos navios mantinham-se os alemães e
flamengos necessários para defesa ou ataque pelo
Sul, no lado Oriental da cidade, e ingleses, para o
mesmo efeito, mantinhamse nos navios do lado
Ocidental, onde hoje se situa o chamado Terreiro
do Paço.
Tal cerco, com grande número de episódios,
manteve-se entre 20 de Junho e 25 de Outubro,
quatro meses difíceis porque os defensores da
cidade não a queriam entregar de modo algum.
Através de testemunhos presenciais de
cruzados sabe-se, por Arnulfo em carta a Milão
bispo dos Morinos, que a vitória foi mais divina
que humana, sobre duzentos mil e quinhentos
sarracenos, na festa das onze mil virgens que, no
calendário cristão, ocorria a 21 de Outubro 9.
Sabemos também por carta do presbítero Raul, que
alguns dizem ser o delegado de São Bernardo a
Afonso Henriques, para Osberto de Bawdsey, que
uma vez tomada a cidade após dezassete semanas
de cerco10, os de Sintra entregaram-se ao rei, depois
de rendida a guarnição do seu castelo. O de Palmela
foi tomado pelo rei, sem luta, por ter abandonado a
sua guarnição. Rendidas em volta todas as
fortalezas pertencentes à cidade ... , no dia em que
se celebra a festa de Todos-os-Santos (1 de
Novembro) em louvor e honra do nome de Cristo e
do de Sua Santíssima Mãe, foi purificado o templo
pelo arcebispo e quatro bispos e instala-se aí a sede
do bispado, com estes castelos e terras abaixo
designadas: além Tejo: o castelo de Alcácer, o de
Palmela, e a região de Almada; aquém do Tejo: o
castelo de Sintra, o de Santarém e o de Leiria. Os
seus termos vão do castelo de Alcácer ao de Leiria,
e do mar ocidental até à cidade de Évora11.
Cumprindo um objectivo que era já de seu avô,
o imperador D. Afonso VI, transformado em missão
28
Iluminura de Simão Berring, British Library
que este atribuira ao genro, o conde D. Henrique,
o sonho de Afonso Henriques estava consumado
e, como corolário da sua perseverança, cuidadoso
planeamento, capacidade política e diplomática e
indiscutível capacidade de chefia, obtinha uma
grande vitória militar que era fundamentalmente
sua, pois a ele se devia toda a coordenação da
operação, impedindo as habituais rivalidades entre os diferentes chefes e impondo-lhes a sua
vontade. O cerco e conquista de Lisboa, no dizer
do Prof.º Pedro Barbosa, “foi acontecimento que
marcou profundamente a Cristandade ocidental,
não só no século XII, mas igualmente por alguns
séculos ainda. Do naufrágio que foi a Segunda
Cruzada, esta acção militar foi a tábua que
conseguiu flutuar”12. Estava encontrado o evento
que sendo politicamente relevante o fosse também
em termos militares. Faltava saber se as datas
dos acontecimentos corresponderiam a uma época
do ano que satisfizesse também os interesses do
marketing.
Ora, o assalto final inicia-se em duas frentes a
16 de Outubro, a 21 os sitiantes aproximaram da
muralha uma grande torre de 27 metros de altura,
construída por um cruzado, engenheiro de Pisa, e
podem, finalmente, lançar a ponte que lhes permite
colocar gente no interior. A 23 ou 24 de Outubro a
situação era insustentável, havendo muitos que
na cidade morriam de fome. Lisboa capitulou e os
cristãos entraram nela assenhoreando-se do
castelo. E a 25 Lisboa ficou definitivamente em
poder do rei de Portugal.
Alexandre Herculano refere o acordo celebrado
na quinta-feira, 23 de Outubro, para a entrega da
cidade indicando que no mesmo dia ou, talvez, no
imediato, uma das portas abriu-se para facilitar o
acesso aos homens de armas que iam tomar conta
da Kassba. Aos alemães e flamengos deu-se a
precedência da entrada, se é que a não tomaram.
Entraram depois os cento e quarenta angloGravura de D. Afonso Henriques, autoria de Salvador Ferreira,
2009
normandos, e após eles o rei precedido pelo
arcebispo de Braga, de cruz alçada e rodeado de
outros bispos. Seguiam o rei os chefes portugueses e estrangeiros e um numeroso séquito. Esta
espécie de préstito dirigiu-se à kassba e na torre
mais elevada do castelo, ao som de cânticos
religiosos, hasteou-se uma cruz, que se via de toda
a parte e que indicava ter Lisboa, enfim, submetido
o colo ao domínio cristão, depois do que o rei, a pé,
correu todos os muros da kassba, provavelmente
para verificar o estado das fortificações13.
Temos, pois, a data de 24 de Outubro como a
mais provável para a entrada do rei em Lisboa e a
colocação da sua bandeira no alto do castelo, data
coincidente com um Outono normalmente ameno,
passível de umas cerimónias sob bom tempo e com
a presença da juventude em plena actividade
escolar.
Para finalizar a análise que nos propusemos,
queremos ainda chamar a vossa atenção para os
seguintes aspectos, muito de acordo com as
operações que hoje em dia se processam pelo
mundo fora.
A conquista de Lisboa foi efectuada por uma
força conjunta14 e combinada15 sob o superior
comando de D. Afonso Henriques, isto é, uma
9
Carta do Cruzado Arnulfo, Conquista de Lisboa aos
Mouros (1147) − Narração pelos Cruzados..., 2a Edição,
Lisboa, 1936, onde o número de 200.500 sarracenos inclui,
obviamente, toda a população e não apenas os combatentes.
10
Que o próprio Raul refere ter-se iniciado na vigília do
Apóstolo S. Pedro, a 28 de Junho portanto.
1I
Carta do cruzado Osberno, op.cit.. Hoje considera-se
que Osberno não era realmente o remetente mas sim o
destinatário, sendo remetente o clérigo Raul de Glanville,
parente do comandante de um dos grupos de ingleses.
12
BARBOSA, Pedro Gomes, Conquista de Lisboa −
1147 − A Cidade Reconquistada aos Mouros, Lisboa, 2004,
p. 82.
13
Em nota de pé de página esclarece Alexandre
Herculano, História de Portugal, Bertrand, 1980, Vol. I,
Tomo lI, p. 522, o seguinte: “o dia da entrada dos cristãos
em Lisboa não se pode determinar precisamente pela
narrativa do cruzado inglês, mas o que desta resulta
forçosamente é que foi a 23 ou a 24, quinta ou sexta-feira,
começando a saída dos sarracenos no sábado como nessa
narrativa é expresso. O Indiculum põe em 25 a entrada do
rei o que é inexacto. Dodequino e Arnulfo fixam a
consumação da vitória a 21, considerando a cidade tomada
no dia da suspensão de armas e da entrega dos reféns. A
Crónica dos Godos põe a entrada numa sexta-feira, isto é a
24, o que expressamente diz o exemplar parafraseado de
Resende. Talvez isto seja o mais crível, supondo que se
gastasse a quinta-feira em tomar a decisão sobre o juramento
de fidelidade ao rei, na execução deste acto e em resolver a
forma da entrada e entrega dos despojos”.
14
Regulamento de Campanha − Operações, Vol. I, p. 4/7
15
“ Idem, Ibidem.
29
As conquistas de Lema em 1142 e de Santarém em 1147, garantiriam a segurança da retaguarda, facilitando a grandiosa
tarefa da conquista de Lisboa.
força onde se reuniam diferentes ramos das Forças
Armadas - Exército e Marinha - e diferentes Forças
Armadas - Portugal, Alemanha, Flandres,
Inglaterra e Normandia.
É face a todas estas verificações que, em 2004,
pelo seu Despacho n.º 48, o Chefe do Estado-Maior
do Exército, General Luís Vasco Valença Pinto,
decidiu determinar que o Dia do Exército se
passasse a comemorar a 24 de Outubro.JE
Fontes e Bibliografia
BARBOSA, Pedro Gomes, Conquista de Lisboa 1147 - A Cidade Reconquistada aos Mouros, Tribuna da
História, Lisboa, 2004.
BARRENTO, António, D.Afonso Henriques a Guerra
e os Objectivos Nacionais, EME, Lisboa, 1983.
Despacho n.º 48/CEME/2004 de 1 de Março.
FERNANDES, A. de Almeida, “Conquista de Lisboa”,
Dicionário de História de Lisboa, direcção de Francisco
Santana e Eduardo Sucena, Lisboa, 1994.
30
Viseu, Agosto de 1109, Nasce D. Afonso
Henriques, SACRE, Viseu, 2007.
HERCULANO, Alexandre, História de Portugal
Desde o Começo da Monarquia Até o Fim do Reinado
de Afonso m, Livraria Bertrand, Amadora, 1980.
MATTOSO, José, D. Afonso Henriques, Círculo
de Leitores, Lisboa, 2006.
Nota Breve Sobre o Patrono e o Dia do Exército,
EME/ DSHM, 15-V-1979.
OLIVEIRA, José Augusto de, (Tradução),
Conquista de Lisboa aos Mouros (1147) - Narração
pelos Cruzados Osderno e Arnulfo Testemunhas
Presenciais do Cerco, 2a Edição, Lisboa, 1936.
Ordem do Exército, n.º 3, 1ª Série, 1979.
Regulamento de Campanha - Operações, Vol. I,
EME, RODRIGUES, Maria Teresa Campos,
“Ourique, Batalha de”, Dicionário da História de Portugal, direcção de Joel Serrão, Vol. IV, Iniciativas
Editoriais, 1975.
SOARES, Vicente Henrique Varela; e ADELINO,
Eduardo Augusto das Neves, Dicionário de
Terminologia Militar, Lisboa, 1963.
31
Texto e fotos de Tenente-Coronel Cavalaria
Jocelino do N Bragança Rodrigues*
O
Agr MIKE foi constituído com base no
GAM/BrigInt e, para preencher a totalidade da sua Estrutura Operacional de Pessoal,
recebeu uma Companhia de Atiradores do RI 13, a
dois pelotões, um Pelotão de Atiradores do RG1/
ZMA, Módulos de Engenharia do RE 3, de Apoio
do CTOE, de Transmissões da EPT e militares
provenientes de diversas UEO do Exército que
integraram o Estado-Maior (EM) e a Companhia
ALFA, constituindo-se numa equipa verdadeiramente combinada.A 1 de Março de 2008, iniciou-se
no RC6, uma jornada cujo epílogo se concluiu,
também no RC6, com a retracção da Força e entrega
do Estandarte Nacional à guarda da BrigInt, a 15 de
Abril de 2009.
Corolário de um intensivo treino ministrado ao
longo do aprontamento, o exercício final da Força
decorreu de 24 a 31 de Julho de 2008, em Cabeceiras
de Basto, a fim de testar a sua proficiência e avaliar
a sua capacidade no desempenho de operações em
todo o espectro do conflito militar moderno, atenta
a missão que lhe estava cometida no Kosovo. Com
o inexcedível e entusiástico apoio do Município e
população cabeceirenses, foi possível recriar, no
cenário das Terras de Basto, a cidade de Pristina e
o ambiente característico do Kosovo. A Escola EB
32
2,3 de Cabeceiras de Basto, com trinta anos de
existência, durante este período foi transformada
num quartel militar, simulando para efeitos de
exercício o aquartelamento de Slim Lines no
Kosovo, onde foi alojada a Força e a partir de onde
foi controlada a execução do Exercício. Os 290
homens e mulheres do Agr MIKE responderam a
variadas situações, similares às que iriam encontrar
no Teatro de Operações (TO). A culminar o exercício,
a Força efectuou, em 31de Julho de 2008, no recinto
adjacente à emblemática Igreja de S. Miguel de
Refojos, perante o Comandante Operacional,
Tenente-General Pina Monteiro, e diversa assistência, uma parada militar e uma demonstração das
suas capacidades que constituíram o gáudio e foram
largamente apreciadas pelos presentes.
A divisa da Heráldica do Agrupamento: “UT
UNUM SINT”, “para que sejam um só”, espelha
bem o comentário final da Equipa de Avaliação que
conduziu a CREVAL: “O Agr MIKE, encontra-se
excelentemente organizado, bem comandado, motivado e com um forte espírito de corpo… capaz de
cumprir integralmente a sua missão operacional”.
A 26 de Setembro com a chegada do último grupo
de militares ao território do Kosovo, o MIKE deparouse com a realidade nua e crua do TO, para a qual nos
tínhamos preparado sem descanso. Dos feitos desses seis meses e alguns dias vamos agora dar conta.
Na impossibilidade de relatar tudo o que fizemos, vamos sumarizar as operações, exercícios e
outras actividades desenvolvidas, evidenciar as
áreas de excelência experimentadas e acima de tudo
recolher as experiências de Oficiais, Sargentos e
Praças, que num período tão curto de tempo viveram as suas vidas tão intensamente e viram a sua
memória colectiva substancialmente enriquecida.
A NATO Kosovo Force
A Kosovo Force (KFOR), Força Multinacional
liderada pela NATO é responsável por estabelecer
e manter um ambiente estável e seguro no Kosovo
e entrou neste TO em 12 de Junho de 1999, para
cumprir um mandato da Organização das Nações
Unidas (ONU), com base na Resolução 1244 do
seu Conselho de Segurança.
A região do Kosovo, com uma superfície de
10.887 Km2, equivalente em Portugal a Trás-osMontes e Alto Douro, situa-se no coração da
Península Balcânica, no cruzamento de importantes
vias de comunicação entre o Oriente e o Ocidente.
No período de 2006 a 2009, diversos acontecimentos decorreram no Kosovo, tendo os mesmos
tido de forma directa ou indirecta implicações nas
missões atribuídas às FND’s Portuguesas. Destacase a declaração unilateral da independência do
Kosovo, a transferência sucessiva das tarefas da
United Nations Mission in Kosovo (UNMIK) para
Organização das forças da KFOR.
a European Union Rule of Law Mission in Kosovo
(EULEX), a desactivação do Corpo de Protecção
do Kosovo (KPC) e a implementação da Força de
Segurança do Kosovo (KSF), entre outros.
A Força Portuguesa destacada no Kosovo é
designada por Kosovo Force Tactical Reserve
Manoeuvre Battalion (KTM). Nas suas missões, a
KTM, ao nível táctico, projecta-se, enquanto
Reserva Táctica do Comandante da KFOR, em dois
níveis: nível I (KTMG – Grupo), sendo composta
por um posto de comando de escalão Batalhão,
uma companhia de manobra e o apoio de serviços
proporcional, e o nível II (KTMF - Força), composta
por um posto de comando de escalão Batalhão e
duas companhias de manobra e a parte proporcional
do Apoio de Serviços, ambos com um prazo de intervenção reduzido.
As Forças Portuguesas estão aquarteladas no
Campo Militar Jubilee Barracks, que era inglês,
mas que com a retracção desta Força foi adquirido
pelas autoridades portuguesas passando a ostentar
a Bandeira Nacional desde 1 de Junho de 2009.
“A missão do Agr MIKE no TO do Kosovo
obriga a que seja cumprido um grande e diversificado número de tarefas, que concorrem indubitavelmente para um enriquecimento na formação de
qualquer militar. No que diz respeito à parte operacional, a missão de reserva táctica do COMKFOR
exige treino e empenhamento operacional permanentes e muito exigentes, que nos obrigam a estar
“prontos” 24 horas por dia. Realço nesta área, o
quão gratificante que é poder percorrer todos os
passos do processo de decisão militar, no planeamento de uma qualquer operação, e saber que na
altura do emprego dos meios (terrestres e/ou
aéreos), eles estão lá, disponíveis e operacionais.
No que diz respeito à parte “não operacional”, mas
concorrente desta, realço a possibilidade que existe
em trabalhar com contingentes de vários países e
ter que conhecer uma grande diversidade de meios
e procedimentos, situação enriquecedora e que
favorece o florescimento daquela qualidade que
todos os portugueses possuem, que é a facilidade
de relacionamento e de trabalho, seja com quem
for. Servir no Kosovo é uma excelente oportunidade
de enriquecimento técnico, operacional e humano.”
Major de Cavalaria Peralta Pimenta/2º Cmdt e
CEM Agr MIKE
“Estar em missão no Kosovo foi, desde muito
cedo, um desafio à capacidade dos Militares Portugueses em saberem viver em comunidade, partilhando alegrias, tristezas, sucessos, fracassos com um
único objectivo, o de superar os obstáculos com
33
Fotografia aérea de Jubilee Barracks.
que nos íamos deparando, contribuindo sobretudo
para a estabilidade e desenvolvimento do Kosovo.
Mas, foi por terras desta região, rica em património social e cultural que a colossal família MIKE conviveu ao longo de seis meses com outras culturas,
outros saberes e particularmente coabitou diariamente com militares, oriundos de outras nacionalidades.
(…) ComoAdjunto do Comando da Força Portuguesa, dei a conhecer a missão da KTM, estrutura, a
História e a cultura do povo português; a importância
dos Sargentos na estrutura das Forças Armadas e
ainda os aspectos relacionados com a carreira:
acesso, formação e progressão.
Chegado o tempo de partir, regressamos com a
certeza e a consciência do dever cumprido, enaltecendo o nome de Portugal e os feitos dos Militares
Portugueses, por terras do Kosovo. Regressamos
ao núcleo familiar, que apesar da separação física,
demonstrou ser um esteio permanente e fundamental
para o êxito desta missão em prol da paz.”
Sargento-Chefe de CavalariaAntónio Coutinho/
Adj Cmd Agr MIKE
“O desempenho da função de Oficial de Operações da KTM constitui-se numa oportunidade única
para adquirir experiência no planeamento e execução
de exercícios, treinos e operações, na dependência
directa do COMKFOR. Foram planeadas, coordenadas e executadas Framework, Proximity, Focused,
Boundary and Border Surveillance e Rehearsals Operations, treinos e exercícios de Notice To Move,
Crowd and Riot Control, Air Lifts (diurnos e nocturnos). Destacam-se destas as Operations Rehearsals
uma vez que foram colocados em prática o processo
de decisão militar abreviado (hasty planning), a
capacidade de projectar a KTM por via terrestre e
aérea, ocupar uma Área de Atribuição de Missão e
34
rapidamente entrar em operações. Para a execução
dos mesmos, foram facultados diversos meios ao
dispor do COMKFOR, dos quais se destacam a
Reserva Aérea Táctica da KFOR, oAirScan e a Tactical PsyOpsTeam.A KTM é uma unidade de escalão
Batalhão, no entanto depende directamente do
COMKFOR concedendo ao Oficial de Operações a
oportunidade de lidar e colaborar directamente, numa
base diária, com os J3/G3 da KFOR e das MNTF’s,
possibilitando assim uma percepção global da
actuação de todas as forças no TO. Estando a Reserva
vocacionada para operar Kosovo Wide tivemos a
oportunidade de trabalhar com todas as MNTFs e
observar diferentes abordagens e organizações. O
desempenho desta função foi uma experiência
gratificante, enriquecedora e inesquecível quer a
nível profissional quer a nível pessoal.”
Major de Infantaria João Neves/S3/S5Ag MIKE
“(…) De acordo com a intenção do COMKFOR
e do comandante da KTM, fui incumbido de efectuar
o plano de treino e emprego operacional da KTM.”
(…) Com a sua implementação (…) “passei a ser
conhecido no seio da KFOR como o Trainning Officer da KTM. O plano contemplava uma série de
objectivos, que iam desde o treino e exercícios de
crowd and riot control (CRC) até ao apoio em caso
de catástrofe ou calamidade pública, aos níveis de
pelotão, companhia e batalhão. Um dos objectivos
mais marcantes e desafiantes, pela multinacionalidade de forças e meios aéreos envolvidos, foi o
planeamento, coordenação e execução de exercícios
de CRC com projecção aérea diurna e nocturna de
forças e consequentes operações de junção dos
meios terrestres. Na condução de um dos exercícios
de projecção nocturna, tive a oportunidade de voar
no helicóptero de Comando e Controlo (C2) (GA-
O
ZELLE) e assistir ao Exercise Air Controller,
visualizando a partir do ar o desembarque da Força
através da câmara térmica que equipava o
helicóptero. Planear, coordenar e executar
exercícios, construir capacidades de projecção
aérea para a KTM com recurso a vários tipos de
helicópteros, provenientes de nacionalidades
diferentes, não foi tarefa fácil; contudo, o resultado
final foi recompensador para todos os elementos
da Força envolvidos. Ser Trainning Officer da KTM
permitiu-me colher ensinamentos e viver múltiplas
experiências que eu reporto de extraordinárias para
um jovem capitão, aos níveis profissional e pessoal,
e impossíveis de viver, com tanta intensidade num
período de tempo tão curto, em território nacional.”
Capitão de Cavalaria Pedro Cabral/Adj S3/S5/
AGr MIKE
perações efectuadas pelo Agr MIKE.
“A componente operacional do Agrupamento
MIKE no Kosovo assumiu a face mais visível da
Força e foi alvo dos mais diversos e rasgados
elogios e aclamações. Não querendo “ofuscar” nem
retirar o devido valor a esta componente, e como
responsável pela componente logística da Força,
devo enaltecer e valorizar quem esteve na “sombra”
a criar condições para que outros elevassem o nome
de Portugal aos mais elevados patamares.
A pirâmide de Maslow estabelece uma hierarquia
na satisfação das necessidades em patamares. Cada
patamar corresponde a um conjunto de necessidades que, quando não satisfeitas, comprometem a
afirmação do homem como ser humano. Extrapolando para a vertente militar e estabelecendo a analogia
com as necessidades da Força, materializadas no
acumular das carências básicas de cada militar,
consegue-se, através de uma análise cuidada da
pirâmide, isolar algumas necessidades básicas em
que a componente logística teve um papel
preponderante e decisivo para a sua satisfação. As
funções logísticas (Reabastecimentos, Manutenção, Transportes, Apoio sanitário e Serviços),
garantiram, cada uma ao seu nível, o apoio
necessário à sobrevivência da força e à criação de
condições para o cabal cumprimento da missão.
Uma referência especial para à “cumplicidade”
criada com os contingentes Inglês, Francês, Americano e Alemão que em muito contribuíram para a
resolução atempada das deficiências que foram acontecendo com as instalações ocupadas pela Força.
Todo o esforço colocado no fornecimento atempado dos artigos das diversas classes, na manutenção
das viaturas, na prontidão dos militares em termos
sanitários e serviços disponibilizados, assim como
na criação das melhores condições possíveis de
habitabilidade dos alojamentos foi recompensado
através do sentimento do dever cumprido e do
desafio ganho.”
Major de Artilharia Jorge Agostinho/S4/
AgrMIKE
Do desempenho da função de Oficial de Ligação
(LNO) ao HQ da KFOR só me brotam vivências
positivas e agradáveis de descrever. Na fase de
preparação que antecede uma missão no teatro do
Kosovo, e julgo que noutro qualquer, fora alguns
apontamentos e o “STANAG 2101 TOP (EDITION
11) – ESTABLISHING LIAISON”, que descrevem
os critérios e responsabilidades do Oficial de
Ligação, nada mais existe que se possa constituir
em “muleta”, pelo que um grande desafio se me
deparava pela frente.
Após a chegada ao TO, o meu antecessor ansiava por me passar a pasta e com alguma surpresa
não só a de LNO, mas também a de Public Affairs
Officer (PAO), que correspondia à divulgação do
Agr MIKE/KTM no seio da KFOR, no Kosovo e
em Portugal; tarefa que antevia como mais um
aliciante desafio.
Após a sobreposição, que de facto é essencial
e da qual só posso enaltecer a maneira excepcionalmente profissional como foi conduzida, lá estava
eu como único militar doAgr MIKE/KTM destacado
da Força, para servir como elo de ligação das forças
lusas ao HQ da KFOR.
Começando pelo local de trabalho, localizado
no Joint Operations Center, junto com os outros
LNO das cinco Multinational Task Forces (MNTF)
e Military Specialized Unit (MSU), rapidamente me
apercebi que era o primeiro homem a “dar a cara”
junto do comando do HQ da KFOR, pelo que o que
eu transmitia não poderia suscitar qualquer tipo de
dúvida junto deste, na qual se incluía a comunicação
por vezes de informação crítica do Comandante,
ultrapassando a burocracia do Estado Maior. O
LNO actualiza diariamente, perante o COMKFOR
(General Comandante da KFOR) e respectivo Estado
Maior, todas as operações do AgrMIKE/KTM,
efectuando brifíngues no final da tarde (Staff Update) e de manhã quando solicitado, constituindose em simultâneo no elo de ligação da Força às
diferentes MNTF e MSU. É o primeiro elemento da
Força a ser solicitado quando há a necessidade de
informação ou de intervenção da Força que
representa, pelo que está 24/7 horas de serviço e
sempre contactável (first man to wake up e sem rest
day como o resto da Força).
Nas funções de PAO constituía a única e mais
rápida ligação ao gabinete de relações públicas da
KFOR para divulgar e transmitir a imagem do Agr
MIKE/KTM extra HQ da KFOR, bem como as
35
actividades da força junto da Chronicle (publicação
mensal da KFOR) e na página oficial da KFOR na
Internet.
Outra das tarefas digna de registo, pelo facto
de ser conhecedor da grande maioria dos militares
internacionais que prestavam serviço no HQ da
KFOR, foi a de auxiliar o Comandante do Agr
MIKE/KTM nos eventos levados a cabo pela Força
que exigiam recurso a protocolo.
Em suma, afirmo com convicção que vivi uma
experiência única que recomendo vivamente, já que
é de facto gratificante descrever e divulgar as cores
portuguesas em ambiente multinacional e constatar
in loco que o nosso desempenho é superiormente
reconhecido.”
Major de Artilharia Nuno Folgado/LNO HQ
KFOR/Agr MIKE
“Fruto da experiência adquirida na função de
KTM LNO nas MNTF’s tenho a reportar que o LNO
é o verdadeiro “faz tudo” no HQ das MNTF pois
que, como elo de ligação, tem que resolver e clarificar
os problemas das diversas Secções de Estado
Maior da Força.
Como substituto natural do KTM LNO ao QG
da KFOR, devemos acompanhar o mesmo durante
o máximo tempo possível, antes de o Agrupamento
atingir a “Full Operational Capability”, para que
possamos aprender a função, estando após este
período aptos a substituí-lo durante as férias, ou
em operações, se o JOC funcionar durante 24 horas.
Este período serve também para desenvolver
relações de trabalho - conhecer locais e pessoas ficando com uma noção sobre o que é verdadeiramente a KFOR, revelando-se estes conhecimentos
de suma importância para o desempenho da função
nas MNTF’s, uma vez que, não tendo os LNO’s
qualquer preparação para o seu cargo, este “estágio”
no TO é uma mais-valia.
A postura do LNO nas MNTF’s tem que ser de
total proactividade, colaboração e disponibilidade,
pois ele é a imagem da KTM. Deveremos conhecer
rapidamente os locais e pessoas a contactar,
confirmando diariamente o cumprimento dos
horários de toda a documentação a elaborar pelas
nossas Secções de Estado Maior nos respectivos
HQ, obter informação sobre a ligação aos sistemas
informáticos, telefone e rádio das MNTF’s com o
nosso TOC1 e com a KTMG projectada, facultando
todos os elementos necessários à interoperabilidade
entre sistemas. Temos que estar em permanente
contacto com o TOC e a KTMG, satisfazendo todas
as necessidades de ligação com os diversos órgãos
das MNTF’s.
Para finalizar, nesta função a “regra de ouro” é a
36
Patrulha em Mitrovica.
Exercício de CRC. (À direita)
capacidade de adaptação à forma de trabalho de
cada MNTF, porque todas elas têm distintos “Battle Rythm” e sistemas de processamento de informações, o qual, se não for cumprido à risca poderá
dificultar a ligação eficaz com a MNTF, uma vez
que a KTM executa operações Kosovo wide”.
Major deArtilharia Rui Rodrigues/MNTF LNO/
Agr MIKE
“A operacionalidade de 106 viaturas, 36 atrelados, 520 armas e 345 equipamentos respeitantes a
material óptico, optrónico, eléctrico e outro existente
no TO, só foi conseguida com muitas horas de
trabalho, persistência, saber e dedicação. O espírito
de corpo criado pelos elementos do Módulo de
Manutenção foi a chave que nos levou ao sucesso.
A manutenção preventiva é essencial para a
operacionalidade das viaturas/equipamentos/armamento, principalmente em climas adversos como o
que encontrámos no Kosovo. Assim, chegados ao
TO efectuamos o overall a todas as viaturas,
resolvemos os problemas recorrentes das baterias
e dos pneus, executámos 134 ordens de trabalho e
129 requisições, 1012 num total de cerca de 1220
artigos requisitados.
Face aos poucos voos de sustentação, o apoio
dos Contingentes Nacionais Francês e Americano
e a recorrência ao mercado local, com todas as
dificuldades inerentes à linguagem, foram uma maisvalia para o reabastecimento da classe IX. A
diversidade e complexidade das tarefas executadas
e relações de trabalho multinacionais desenvolvidas
constituíram-se em experiências profissionais e
pessoais inolvidáveis para todos nós.”
Capitão de Engemharia Sónia Santos/Of Man/
Agr MIKE
“A participação numa FND é sempre uma
experiência enriquecedora. Os nossos conhecimentos e capacidade de adaptação são postos à prova.
É ainda uma oportunidade de adquirir novos
saberes, conhecer novas perspectivas e, acima de
tudo, assumir a responsabilidade individual e
colectiva de ostentar as cores nacionais e divulgar
as tradições lusitanas.
Dependendo da função, a experiência final é
sempre gratificante bem como o somatório dos
conhecimentos finais. No meu caso, coube-me a
função de Sargento de Informações. Adicionalmente, desempenhei tarefas no âmbito da Directiva
de Informação do Agrupamento. Coube-me ainda
o planeamento e implementação da segurança física,
do pessoal, CIS e da documentação no âmbito das
normas NATO/KFOR. Da excelência do trabalho
de equipa desenvolvido, realço o árduo trabalho
desenvolvido e os extraordinários resultados
obtidos nas inspecções de segurança conduzidas
pelo Theatre Security Office da KFOR.
Em suma, há um vasto conjunto de conhecimentos técnico-profissionais e pessoais, individuais e
colectivos, adquiridos nas FND’s que podem e
devem ser utilizados em termos doutrinários nas
nossas Forças Armadas (FA). O Exército em particular e as FA em geral têm um potencial humano
com imensas valências e capacidade de actuação.”
1.º Sargento de Cavalaria Agostinho Fernandes/
SAR S2/EM/Agr MIKE
“Comandar é a essência do ser de um Oficial,
constituindo a aspiração máxima que profissionalmente um Capitão pode ambicionar e que assume
maiores contornos quando essa experiência tem lugar
em situações de campanha, ou mais comummente
nos nossos dias, numa FND. É nesse contexto que
surgem as próximas palavras, numa tentativa de
expressar o orgulho e gratidão pela confiança que me
foi depositada em assumir o Comando da Companhia
deApoio do Agr MIKE, aALFA Coy, o que constituiu
uma experiência de vida e não apenas uma experiência profissional! Esse orgulho e a inquestionável
honra que sinto têm igualmente a sua razão de ser no
mérito militar, na prestimosa disponibilidade, na
competência e capacidades diversas dos militares
com que servi, que tornaram a missão de os
comandar das mais distintas e dignificantes que
profissionalmente poderia ambicionar.
Apesar dos sobejamente conhecidos condicionalismos de ordem diversa que afectaram e influenciaram
a nossa missão, não posso deixar de lembrar com a
mais respeitosa reverência e emoção todas as situações
que ultrapassámos em conjunto, que deixaram
indubitavelmente a sua marca no fortalecimento
dos laços de camaradagem e que em última análise
solidificaram o espírito de corpo da Companhia.
No seu enunciado mais simples posso afirmar
que o centro de gravidade da Companhia era composto pelos Homens e Mulheres tão diferentes, nos
quais se revia o espírito próprio que caracteriza cada
uma das Armas e Serviços do nosso Exército, que
perfizeram equipas bem sucedidas, coesas, colectivamente orientadas e coordenadas para a prossecução do mesmo fim comum: o pronto e cabal
cumprimento da missão que nos estava atribuída.
Capitão de Artilharia José Miguel Sequeira
Maldonado/Cmdt ACoy/Agr /MIKE
“Participar numa Operação de Apoio à Paz é
mais que motivador e enriquecedor. É poder
demonstrar a todos os que em nós acreditam e
confiam que nos dias de hoje continuam a existir
Soldados em Portugal!
Estes Soldados somos todos nós, os militares
portugueses, que na privação do nosso bem estar,
queremos e conseguimos, com a nossa força de
vontade, prestar auxilio às populações mais necessitadas e carenciadas nas alturas mais exigentes. A
minha experiência como Comandante de uma
Companhia Operacional no TO do Kosovo, para
além de muito dignificante no exercício do comando
de Homens, foi também extraordinária pessoalmente, pois fortifiquei os laços de amizade e camaradagem em toda a família MIKE. A missão muito
enriquecedora militarmente, satisfez-me e aportoume uma enorme felicidade, pois pude ajudar na
construção da nova sociedade do Kosovo,
principalmente nas necessidades básicas, assim
como no bem estar emocional de um povo que dá
os primeiros passos para se constituir numa Nação.
É pois, em alturas como estas que, na introspecção,
damos valor àquilo que no quotidiano acabamos
por nem cogitar e que tão importante é para o nosso
equilíbrio como pessoas e militares: a família, a
saúde, a educação e a PAZ!”
Capitão de Cavalaria Adriano Branco/Cmdt
CCoy/Agr MIKE
“Embarcar neste tipo de missões, onde
ostentamos a bandeira da paz a par da Bandeira
Nacional, incrementa a maturidade do senso, a
imparcialidade dos actos, a certeza do objectivo.
Pelas situações e pessoas reais com que lidamos
diariamente, a indução cognitiva é uma premissa à
qual não estamos alheios, assim como a firmeza de
demonstrarmos a nossa presença. Alcançar este
estado de proficiência é precedido por um treino
constante e de largo espectro, mas acima de tudo é
o fruto de uma vivência terrena com todas as
37
dificuldades e situações quotidianas que se nos
apresentam.
Não é difícil manifestar que é neste clima de
experiência diária em zonas de conflito que nós,
militares da paz, adquirimos o know-how que
extravasa para o resto da nossa vida militar, onde
apontaremos o vivido aos níveis profissional e
pessoal como o melhor exemplo.”
Tenente de Infantaria Daniel Gomes/Cmdt 3ºPel/
BCoy/AgrMIKE
Entre Janeiro de 2000 e Março de 2009 cumpri
três missões de Apoio à Paz no TO do Kosovo.
Comparando a situação actual com a que encontrei
há nove anos atrás, posso dizer que o Kosovo está
melhor em quase todos os aspectos. A maior
diferença, sem dúvida, foi o Kosovo ter proclamado
a sua independência unilateral. No entanto, a
popularidade da KFOR continua em alta, sinal
evidente de que está a cumprir bem a sua missão.
As forças portuguesas continuam a ser saudadas
e acarinhadas pela população. Esse carinho resulta
do grande empenhamento, naturalidade, neutralidade e do querer e saber fazer do Soldado Português.
Todas as tarefas que executei, nas mais
diversas funções, enriqueceram e valorizaram a
minha carreira Militar e sem dúvida que alargaram
a minha maneira de ver a vida como homem. Dizse que não há amor como o primeiro, no entanto
recordo com orgulho todas as missões efectuadas,
embora tenha mais presente a última, em virtude
de a ter terminado há bem pouco tempo e por ter
sido mais rica operacionalmente. Percorremos o
Kosovo de Norte a Sul, de Este a Oeste, operámos
lado a lado com a maioria das forças presentes no
TO em exercícios e operações e assumimos a
generosidade do povo português nas diversas
acções CIMIC levadas a cabo.
Sinto-me honrado e altamente orgulhoso pelo
trabalho efectuado nestas paragens e de ter a sorte
de pertencer à nossa Pátria e à nossa Gente.”
1.º Sargento de Cavalaria Joâo Sousa/Sar 3º
Pelotão/CCoy/KTM/KFOR
“(…) A preparação da Força, antes da projecção,
foi de extrema importância, não só em termos
técnicos e operacionais, mas também na vivência
dentro da secção. O conhecimento do Homem, das
capacidades individuais, as suas dúvidas e
dificuldades, os seus anseios, o que lhes vai no
íntimo… Todas estas questões têm de ser clarificadas em território nacional. Na secção, cada militar
deve ver no homem que está ao seu lado muito
mais que um camarada de armas, deve ver acima de
tudo, um amigo, um companheiro, alguém pronto a
38
Visita do Ministro da Defesa Nacional.
salvar-lhe a vida ou escutar um desabafo num dia
menos bom. A saudade acaba por aparecer e em
cada alma, a preocupação por quem ficou em Portugal é inegável. Sabemos que, um problema que à
partida parece insignificante se pode agigantar
quando é acompanhado à distância.
Já no TO, a secção tem de se manter sempre
pronta a responder às ordens do escalão superior;
para tal, o treino físico e operacional devem ser
uma constante. Em cada homem foi notória a vontade de bem servir, de ajudar a manter um clima de paz
e harmonia num território habituado ao conflito, de
honrar a bandeira que levamos no nosso uniforme e
no coração. Para nós militares, que não demandamos distinções nem tesouros, não existe maior
riqueza do que o sorriso de uma criança, que como
sempre, continuam a ser as principais vítimas nestas
circunstâncias. Para cada homem e mulher que
integrou o agrupamento MIKE, a missão no TO do
Kosovo, mais do que uma experiência militar foi também uma experiência de vida e um acto de reflexão.”
1.º Sargento de Cavalaria Vitor Costa/Cmdt Sec/
2ºPel/CCoy/Agr Mike
“No dia 24 de Setembro de 2008 embarquei para
um canto do continente Europeu desconhecido
para mim e para grande parte dos meus camaradas.
Ali tive contacto com uma outra cultura, um outro
povo marcado pela guerra e pela pobreza, mas
sempre com um sorriso hospitaleiro e com um olhar
de esperança bem patente nos olhos das crianças.
Os seis meses foram enriquecedores tanto a nível
pessoal como profissional, foi uma experiência única
mas que exigiu grandes sacrifícios de todos nós.
Mas já dizia Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena
quando a alma não é pequena”, e a alma do MIKE
Acções CIMIC.
transcendeu todos os objectivos a que
eu me tinha proposto executar nesta
missão. Aprendi mais como militar
nestes últimos seis meses
do que em seis anos
na minha Unidade
de proveniência,
tive experiências
que jamais sonharia ter (...). Tive
oportunidade de
trabalhar com militares de vários contingentes, de trocar
vivências e opiniões.
Adaptamo-nos sem problemas
aos novos métodos de trabalho,
alteramos algumas rotinas de modo a
melhor cumprir as missões que nos eram
impostas. Tudo isto foi concretizado com muito
treino e com muito espírito de equipa, dai os meus
agradecimentos a todos os membros da minha
esquadra e da minha secção com os quais trabalhei
directamente em todas as missões que nos foram
incumbidas e que realizamos com o brio e
profissionalismo que caracterizou aliás todo o
trabalho do MIKE.”
1.º Cabo Manuel Felgueiras/Cmdt Esq/BCoy/
Agr MIKE
“Após todo o esforço de aprendizagem, formação e treino realizados no aprontamento, pude pôr
em prática os conhecimentos, que apesar de bons,
não foram nem nunca vão ser demais, face à diversidade de situações novas com que fui confrontado no TO. A experiência adquirida foi óptima pois
fiquei mais rico em conhecimentos militares, tendo
em conta o acesso a diversos materiais e equipamentos que não nos foram disponibilizados quer na
vivência da minha unidade, quer na fase de aprontamento. Cheguei do Kosovo mais rico como Homem
por ajudar uma população carenciada, onde a palavra
ser humano ganhou para mim um novo significado.”
Soldado Pedro Marques/BCoy/Agr MIKE
Dos 181 dias passados no TO, o Agr MIKE/
BrigInt/KTM esteve empenhado operacionalmente
durante 126 dias, conduzindo 12 Operações no
terreno ao nível Força e ao nível Grupo. Concomitantemente com o emprego operacional a Força
desenvolveu um intenso programa de treino, avaliação operacional e prontidão para combate materializados da seguinte forma: 31 Reconhecimentos dos
quais onze aéreos, 6 exercícios de Prontidão para
Combate e Avaliação Operacional, 9 Exercícios
Combinados de CRC níveis KTMG e
KTMF, seis operações aerotransportadas [1 a nível Pelotão, 4 ao nível
KTMG (1 nocturna) e 1 ao nível
KTMF] seguidas de
Operações de Junção
e Exercícios Combinados de CRC
com Forças da
EULEX, MSU e
dos Agrupamentos Multinacionais Norte, Oeste,
Centro e Este. Concomitantemente com as operações tácticas foram executadas
24 acções CIMIC de apoio à população kosovar,
apelidadas de “Grande Abraço” (Mighty Big Hug),
em todo o Kosovo, contribuindo para o bem-estar
das mesmas, bem como para o incremento da imagem,
visibilidade e aceitação do Agr MIKE e da KFOR.
Foram estabelecidos um total de 152 Postos de
Observação, 137 Pontos de Verificação, executados
1814 patrulhamentos e foram percorridos cerca de
300000 quilómetros.
Paralelamente com a actividade operacional, o
MIKE organizou actividades desportivas, a
Conferência do COMKFOR, as reuniões mensais
dos Sargentos-Mor dos Contingentes presentes e
dos Capelães da KFOR, vários eventos e cerimónias, recebeu a visita de diversas Altas Entidades,
nomeadamente o MDN e CEMGFA, o Comandante
Operacional do Exército, o Comandante da BrigInt,
Eurodeputada, Dr.ª Ana Maria Gomes, COMKFOR,
COSKFOR, DCOS OPS KFOR, DCOS SPT KFOR,
COMMNTF-C, COMMNTF-E, UNMIK Chief
Liaision Officer, Delegação da IGE, Inspecção de
Segurança do Theatre Security Officer, entre outras
entidades nacionais e estrangeiras.
Áreas de Excelência
experimentadas
A liderança pelo exemplo foi uma preocupação
constante aos mais diversos níveis do Comando da
Força. Todos os documentos emanados do Comando e EM da Força contemplavam orientações para o
Comando, Estado Maior e Comandantes das
Unidades subordinadas, Intenção do Comandante,
definição do esforço em cada fase da operação/actividade e medidas de segurança na última alínea das
instruções de coordenação. A liderança foi testada e
temperada pela realização das mais diversas
actividades e operações, onde se incluem sete
39
marchas; corrida mensal, estafeta e Challenger da
KTM; jogos tradicionais; o “cantar das Janeiras” e
as participações na DANCON March e nas corridas
organizadas pelo contingente irlandês, onde os
resultados alcançados são a prova viva da liderança
e da tempera dos Cavaleiros Lusos. Os Comandantes,
aos vários níveis, exerceram a chefia a partir da frente,
nomeadamente em Mitrovica Norte, no período de
Dezembro 2008 a Janeiro de 2009.
A formação e treino em CRC foram complementados, após uma semana no TO, aos mais variados
níveis, incluindo o combinado e conduzidos sobre
a forma de treino cruzado com a MSU. Neste âmbito
foi ainda desenvolvida no seio da KTM a capacidade PSYOPS numa viatura táctica ligeira não blindada, que durante as acções de CRC emitia mensagens preparadas pelas PSYOPS da KFOR. Também
no CRC a capacidade de liderança da KTM foi posta
à prova pois que, passadas duas semanas em TO,
assumiu a liderança, o planeamento, a coordenação
e a condução dos exercícios combinados de CRC e
de projecção aérea com as MNTF’s, MSU e EULEX,
numa mostra clara da confiança inabalável
depositada pelo COMKFOR na sua KTM.
Os Oficiais, Sargentos e Praças jamais
esquecerão a experiência vivida na execução de seis
operações aerotransportadas aos níveis pelotão,
KTMG e KTMF. O planeamento, a coordenação, a
execução e o C2 foram conduzidos pelos militares
do MIKE e, principalmente para os Quadros,
oportunidades semelhantes serão praticamente
impossíveis de voltar a concretizar, no número,
tipologia e quantidade de meios envolvidos (vagas
de 12 helicópteros Blackhawk e SA 330 PUMA,
pertencentes a 4 MNTF’s e países diferentes).
As Operações de Proximidade e as Intel Gathering Ops são operações em que a Força pretende
conduzir uma acção direccionada para um efeito
específico a atingir, baseada na pesquisa de um quesito específico de informação, utilizando um conjunto
de meios específicos, letais e não letais, com a
finalidade de manter a iniciativa operacional. Ao
operar em todo o Kosovo e junto de actores governamentais e não governamentais, os soldados da
KTM foram interlocutores privilegiados da KFOR
para este tipo de operações.
Foram desenvolvidas 24 acções CIMIC por todo
o Kosovo com doação de medicamentos, alimentação, brinquedos, fornecimento e instalação de
materiais numa sala de aulas da pré-primária em
Janjevo, instalação de sinais e lombas redutoras de
velocidade em diversas escolas e localidades, salas
de informática (computadores Magalhães e
impressoras ligados a Internet em rede wireless)
em Prizren e Pristina, a construção de uma vedação
40
de protecção, apelidada de “Grande Muralha da
China”, numa extensão de cerca de 1500 m, num
caminho escolar sobre uma ravina alcantilada, onde
no ano transacto tinha morrido uma criança e ainda
numerosos trabalhos de engenharia em proveito
das comunidades locais e de uma família de
ascendência portuguesa, na região de Podujevo.
A monitorização da ABL constituiu, em cada
etapa, um desafio multinacional e combinado, uma
oportunidade de pôr em prática a nossa capacidade
para nos relacionarmos com as duas facções em
conflito, numa demonstração superior de neutralidade e imparcialidade.
“No retorno ao ponto inicial as duas patrulhas
fundiram-se e deram lugar a uma patrulha combinada
em progressão táctica, passando quer pelo lado
Sérvio quer pelo lado Kosovar da ABL, debaixo da
Acções CIMIC em Gusterica.
Patrulha combinada com FA sérvias.
chuva copiosa e no meio da lama dos carreiros, num
clima de entreajuda, debaixo de um céu escuro que
não distinguia credos ou nações. Após cinco horas
de marcha, com lições aprendidas para ambos os
lados, estávamos de regresso ao ponto inicial,
seguiu-se a avaliação conjunta, deu-se a despedida
suave, com a rigidez e tensão iniciais desvanecidas.
Mais uma vez levamos a nossa ‘Carta a Garcia’,
deixando para trás a experiência de uma patrulha sui
generis com elementos das ForçasArmadas Sérvias,
pondo em prática o combinado, a multinacionalidade
e a multifuncionalidade que caracterizam as acções
dos soldados do MIKE kosovo wide”.2
No contexto das patrulhas de longa duração
apeadas e montadas, os militares do MIKE efectuaram patrulhas combinadas com Forças Francesas na
MNTF-N, normalmente de três dias em que o contacto
como as populações mais isoladas era privilegiado.
I have had the privilege of walking patrols
with Task Force Mike units in different locations
throughout Kosovo, and each time I have been
impressed with their sharp focus and their physical stamina. It has been an honour for this US
Marine to have worked alongside the true professionals of Task Force Mike (…).3
A naturalidade e afabilidade patenteadas pelos
soldados portugueses, nos Postos de Verificação
e Observação, foram por diversas vezes evidenciadas pelos elementos das MNTF’s onde operávamos. Nalguns casos não compreendiam a nossa
capacidade para interagir com as diferentes etnias,
principalmente a partir do momento em que se procedeu ao reconhecimento do Kosovo por parte do
Estado Português.
A multinacionalidade vista como um mal menor
para determinados contingentes é, para nós
Acção CIMIC durante a operação Mighty Good Effort.
portugueses, um factor capital na diversidade de
pontos de vista para a resolução do mesmo problema; a solução multinacional é sempre menos radical do que a de um qualquer país isolado. As
relações de trabalho foram potenciadas no seio da
família MIKE através da organização de eventos
desportivos e jantares convívio com o Comando e
EM das MNTF com quem operávamos e com os
contingentes mais significativos presentes no TO.
A execução de operações combinadas com
Forças da KFOR, da MSU, da EULEX e das Forças
Armadas Sérvias, Operações de Proximidade,
Monitorização dos Enclaves e da ABL e a determinação das necessidades das populações locais,
contribuíram para a manutenção da actualização da
situação da KFOR, em tempo real, e para a formação,
globalidade, motivação e enriquecimento dos soldados do Agr MIKE como militares e como homens.
O nosso modus operandi foi efectivamente
avassalador, o profissionalismo, dedicação, neutralidade, imparcialidade, a forma natural como interagimos com os nossos pares e com as facções em conflito e por último o empenho que colocámos em todas
as actividades realizadas foram o estigma definidor
da nossa postura e forma de estar no seio da grande
família da KFOR. Esta capacidade do Soldado
41
Português foi enaltecida por diversas vezes e
agraciada com 26 medalhas de mérito e 3 símbolos
de atiradores especiais de pistola e espingarda automática dos EUA, 18 de mérito desportivo do Contingente Irlandês, 3 símbolos e medalhas de mérito
desportivo e tiro daAlemanha e 1 medalha da UNMIK,
todos impostos durante a permanência no TO.
A Força foi objecto de várias visitas e inspecções de segurança efectuadas pelo Theatre Security Officer. A segurança das instalações e das informações foram melhoradas a um nível que permitiu à
Força granjear os mais rasgados elogios por parte
dos inspectores e guindar-se a uma posição altaneira
quando comparada com os seus pares da KFOR.
A vigilância e obtenção de informação em tempo
real, por meios aéreos e terrestres (Air & Ground
Scaning), embora pareçam impressionantes,
envolvem, no TO do Kosovo, uma pequena frota de
Cessnas. Estas aeronaves modificadas estão
equipadas com sensores (electro-ópticos e infravermelhos) e sistemas de comunicações seguros,
possibilitando-lhes sobrevoar os céus do Kosovo e
providenciar, em tempo real, visibilidade sobre o que
está a acontecer numa determinada área ou como
está a decorrer uma determinada operação, bem como
monitorizar áreas e alvos humanos de noite e de dia.
Estes meios facilitaram o C2 ao Agr MIKE nos
diversos exercícios e operações conduzidas no Kosovo,
permitindo monitorizar em tempo real, a partir do JOC
da KFOR, não só a actividade das forças opositoras,
com especial relevo para o CRC, bem como a nossa
capacidade de projecção da Força por meios aéreos e
terrestres e a instalação da Área de Apoio de Serviços
42
Cessna da KFOR para operações de air scaning. (Topo)
Projecção aérea de CRC – nocturna. (Acima)
do Agrupamento. A estação móvel de Air & Ground
Scanning, co-localizada com o PC da Força, permitia
monitorizar as acções levadas a cabo pelos elementos
do Agrupamento em todas as áreas das Blue e Red
Box, bem como o evoluir da situação das forças
opositoras e decidir com oportunidade. O S6 do Agr
MIKE desenvolveu esta capacidade a nível terrestre
(Ground Scanning) que permitiu obter resultados
semelhantes com recurso à imagem horizontal.
Os Sistemas de Comando e Informações (CIS)
foram um must do Comando doAgr MIKE. O Oficial
de Transmissões do Agr MIKE foi chamado a
representar a KFOR em conferências sobre as
capacidades, emprego e experiência operacional da
utilização do Kosovo Force Tracking System
(KFTS). A utilização deste sistema, do VCN, dos
meios de CIS nacionais, onde se inclui a recepção,
montagem e utilização do GRC – 525, meios que
permitiam VTC segura, Scanning terrestre e aéreo
muito contribuíram para a SA e C2 da Força.
Cada homem do MIKE foi uma “lança” na
promoção da imagem, visibilidade e aceitação da
Força através da captura de imagens fotográficas e
vídeo e divulgação da actividade desenvolvida. Estas
imagens foram utilizadas pelo Comandante e EstadoMaior da Força nos diversos brífingues diários, nas
reuniões e conferências com o COMKFOR, COSKFOR e Estado-Maior da KFOR.
Os vários artigos, fotos e composições fotográficas elaborados pelos elementos do MIKE e publicados na revista oficial da KFOR, Crhonicle, no
sítio da KFOR e da NATO, bem como a publicação
do Boletim mensal do Agr MIKE, com artigos em
português e em inglês muito contribuíram também
para este propósito. Neste âmbito ainda foram
desenvolvidos em parceria com as PSYOPS/KFOR
e financiados pela KFOR, um autocolante da KTM
para distribuição durante as operações CIMIC e
um vídeo de divulgação da KTM que passou nas
diferentes televisões kosovares.
A cultura e as tradições portuguesas foram evidenciada em actividades de promoção nomeadamente,
exposições organizadas no QG da KFOR no âmbito
das comemorações do dia do Exército, organização
de jogos tradicionais, cantar das “Janeiras” junto
dos QG’s das principais Forças no terreno, o serviço
religioso semanal, festas móveis e religiosas entre
outras actividades.
Em termos deformação, os militares doAgr MIKE
foram qualificados e certificados individual e
colectivamente aos mais diversos níveis e escalões
em Combat Camera Team, Multimédia (Adobe
Photoshop, Pinacle Studio e Microsoft Sharepoint),
GRC-525, PsyOps, AIR MEDEVAC nas aeronaves
SA 330 PUMA e Blackhawk, técnicas de condução
defensiva e na neve, KFTS, pistola e espingarda
automática pelo Exército dos EUA e da Alemanha e
em CRC aos escalões Pelotão, Companhia, KTMG,
KTMF e Agrupamento.
A KTM foi uma escola de vida para os soldados
do Agr MIKE, que contactaram e viveram numa base
diária diversas realidades consignadas pelas
operações combinadas, pelo apoio às diferentes
etnias em presença no Kosovo, pela precariedade
do seu sistema social e quantidade das acções CIMIC
levadas a cabo pela Força em todo o Kosovo.
Os soldados do MIKE em geral e os elementos
femininos em particular, exponenciaram a capacidade do povo português para se relacionar com os
diferentes credos e raças. Em todas as situações
vividas, o militar português saiu da viatura e de for-
ma natural, neutral e imparcial, se relacionou, interagiu
e ganhou o respeito e a consideração dos autóctones
e dos diferentes actores e Forças presentes no TO.
O soldado português é generoso e grande,
porque é inteiro, porque é plural como o Universo
e põe tudo quanto é no mínimo que faz tornando
universal a Nação Portuguesa. O soldado português é global, simples, empreendedor, é um cidadão
do mundo, um inato e eficiente produtor de paz.
Foi assim ao longo da nossa História nos
diversos continentes por onde passámos, também
foi assim no Kosovo e continuará no futuro
noutros locais onde formos chamados a defender
os superiores interesses da Política Externa
Nacional.
Em 26 de Março de 2009 os “Cavaleiros Lusos”
regressaram a casa com o sentimento do dever cumprido, não só pela forma como foram bem recebidos
e aceites no Kosovo, mas também pela forma
extraordinária como a missão foi desempenhada,
edificando uma imagem de excelência que muito
contribuiu para o bom nome e visibilidade das
Forças Armadas Portuguesas e de Portugal.
Os seis meses de Missão representaram para
os soldados do Agr MIKE mais do que 6 anos de
formação, treino, exercícios e operações em tempo
de paz. Uma experiência vivida intensamente sem
precedentes no Exército Português.
No futuro próximo, enquanto os efectivos das
MNTF diminuirão sucessivamente, a KTM manterá
a sua postura e importância acrescida, com os meios
aéreos ao serviço da KFOR na sua dependência
directa e com NTM mais reduzidos.Assim, ganhará
Portugal, as suas Forças Armadas e o seu Exército.
Portugal terá, por um lado, maior visibilidade junto
dos seus parceiros da NATO e da Comunidade
Internacional e, por outro, Quadros Militares com
formação e experiência operacional de excelência.
A KTM continuará a ser uma Escola de Quadros e
de Vida de Excelência para os militares Portugueses
que nela tiverem a ensejo de servir.JE
* Comandante do Agrupamento MIKE/BrigInt/
KFOR
1
Tactical Operations Centre
Ten Inf Daniel Gomes Comandante do 3ºPel/BCoy
responsável pela execução da patrulha.
3
Eu tive o prazer de executar patrulhas diversas vezes com
militares do Agr MIKE, em diferentes locais no Kosovo, e
em todas as ocasiões fiquei impressionado com a sua
extraordinária concentração, ânimo e força de vontade.
Foi uma honra para este Fuzileiro dos EUA ter trabalhado
lado a lado com os profissionais do Agr MIKE (…). Extracto
de um texto elaborado pelo Chefe de Estado-Maior da KFOR,
Brigadeiro General Berger, do Exército dos Estados Unidos
da América. Tradução nossa.
2
43
Livros
Afonso Henriques: um Rei polémico,
de Barroso da Fonte
D
. Afonso Henriques, mítica figura da História
portuguesa, permanece um tema actual da nossa
sociedade. Em “Afonso Henriques: um Rei polémico”, o autor
do livro fundamenta-se na tradição, que segundo o mesmo
“não se tendo encontrado, em 9 séculos, qualquer prova
documental, o que prevalece é a Tradição”, para clarificar a
polémica em torno da data e local de nascimento de Afonso
Henriques. Ergue-se contra a hipótese de ser a cidade de
Viseu a terra-natal de Afonso Henriques e 1109 o seu ano de
nascimento, conforme a teoria de Almeida Fernandes.
Para Barroso da Fonte, a resposta mais credível continua a ser Guimarães e 1111 o ano de nascimento de Afonso
Henriques e, perante a “poeira” que levanta, lança um desafio
aos mais ousados: que consigam responder, com lógica,
coerência e isenção perante o assunto.
BARROSO DA FONTE, João, Afonso Henriques: um Rei
polémico, Editora Cidade Berço, Guimarães e Âncora Editora,
Lisboa, Junho de 2009.
Vo Nguyen Diap, o Homem
que derrotou os franceses
e os americanos, de Carlos Manuel
Mendes Dias e Alexandre Carriço
O
que pode a força dos exércitos contra o poder do
povo? E se o exército é o próprio povo – um Exército
Popular? E se à frente desse exército está o espírito de um
General revolucionário?
Com uma pedagógica e sábia regularidade a História vai
dando as suas lições sobre um David que, contra todas as
expectativas, derrota um gigante Golias. Portugal foi disto
várias vezes exemplo, contra Castela e Napoleão!
No presente livro, Vo Nguyen Giap, O Homem que
derrotou os franceses e os americanos, escrito pelo TenenteCoronel de Artilharia Carlos Manuel Mendes Dias e pelo
Major de Infantaria Manuel Alexandre Garrinhas Carriço, é
contada a história de um David que derrotou não um, mas
três Golias: o Japão, a França e os Estados Unidos daAmérica.
As teorias, os conceitos, as tácticas e as estratégias de Vo
Nguyen Diap, Comandante Supremo do Exército do Povo
do Vietname, “estudioso de Napoleão, Sun Tsu, T. E. Lawrence e Mao Tse-Tung”, constituem aqui o campo fértil de
uma exaustiva investigação, cujos frutos, para além do
inestimável interesse biográfico, são uma importantíssima
fonte de doutrina e de valores, onde se firmou a profunda
vontade de independência de um povo.
CARRIÇO, Alexandre e DIAS, Carlos Manuel Mendes, Vo
Nguyen Giap, O Homem que derrotou os franceses e os
americanos, Prefácio, Lisboa, 2009.
44
DESPORTO
Regulamento do
“Prémio Jornal do Exército”
Campeonato Pentatlo Exército 2009
O
Campeonato Desportivo Militar de Pentatlo
Militar – Fase 3 – Exército, decorreu de 29 de
Junho a 3 de Julho de 2009 no Regimento de Infantaria n.º
3, integrado no programa dos Campeonatos Desportivos
Militares.
A competição contou com a participação de seis
delegações masculinas: Comando de Instrução e Doutrina;
Brigada Mecanizada; Brigada de Intervenção; Brigada de
O
Jornal do Exército (JE) promove anualmente o concurso para o
prémio em epígrafe, que se rege pelas seguintes disposições:
1. Finalidade
O concurso visa estimular a reflexão e a criatividade de militares e civis
para tratarem assuntos com particular interesse para o Exército, nos múltiplos
aspectos de que a Instituição Militar se reveste e que, de alguma forma,
enriqueçam o seu património ou contribuam para a sua própria valorização
profissional e pessoal.
2. Trabalhos
Ao concurso serão admitidos os trabalhos inéditos que:
2.1 Abordem temas de natureza científica, cultural, histórica ou artística
de qualquer forma ligados ao Exército ou às Forças Armadas;
2.2 Possuam nível literário que, no entender da Direcção do JE, permita
a sua publicação;
2.3 Não excedam 10 páginas de formatoA4 dactilografadas a 2 espaços;
2.4 Sejam indicados, pelos seus autores, para concorrerem ao prémio
JE, ou para tal seleccionados pela Direcção do Jornal do Exército.
3. Publicação
Os trabalhos, que satisfaçam às condições dos números anteriores,
serão publicados quando tal seja possível, considerando as conveniências
decorrentes do estatuto editorial do JE.
4. Prémio
O “Prémio Jornal do Exército” é pecuniário e compreende três graus:
1.º, 2.º e 3.º classificados, sendo os respectivos valores estipulados,
anualmente, por despacho do General Vice-CEME, sob proposta do JE.
A sua entrega aos contemplados deverá ser efectuada, em princípio, no
dia 11 de Janeiro, dia festivo do Jornal do Exército.
5. JÚRI
Para apreciação e classificação dos trabalhos admitidos a concurso, será
nomeado, por despacho do General Vice-CEME, um júri que:
5.1 Será composto por:
1 oficial a designar pelo Estado-Maior do Exército;
1 oficial a designar pelo Instituto de Estudos Superiores e Militares;
1 oficial a designar pela Direcção de História e Cultura Militar.
5.2 Será secretariado por um oficial do JE;
5.3 Poderá decidir não atribuir qualquer grau do prémio, se entender que
a qualidade dos trabalhos assim o exige.
Nota de redacção:
Para o ano de 2009, o prémio a que se refere o nº 4 foi fixado em:
1º Classificado ....................................... • 900
2º Classificado ....................................... • 650
3º Classificado ....................................... • 500
Reacção Rápida; Comando e Logística e Zona Militar dos
Açores, juntamente com quatro delegações femininas:
Comando de Instrução e Doutrina; Brigada Mecanizada;
Brigada de Reacção Rápida e Brigada de Intervenção.
De acordo com a organização, os resultados atingidos
foram do agrado geral, decorrendo o Pentatlo num espírito
de competição salutar e de total empenho por parte dos
atletas.
A cerimónia de encerramento foi presidida pelo
Tenente-Coronel de Infantaria Nuno Manuel Mendes
Farinha, 2.º Comandante do Regimento de Infantaria n.º 3,
onde foram entregues os prémios aos vencedores.
A classificação geral ficou assim ordenada:
Classificação Geral Individual Masculinos
1. Lugar CAdj Nunes da BrigMec com 3771,6
2. Lugar 1 Sar Esteves do CID com 4198,2
3. Lugar Sold Silva do CID com 4047,7
Classificação Geral por Equipas Masculinos
1. Equipa CID
2. Equipa BrigMec
3. Equipa BrigInt
Classificação Taça Comando da Instrução e Doutrina
1. Equipa BrigMec
2. Equipa CID
3. Equipa BrigInt
Classificação Geral Individual Femininos
1. 2 Fur Costa da BrigRR
2. Sold Neves do CID
3. Sold Taveira BrigMec
Classificação Geral por Equipas Femininos
1. Equipa BrigRR
2. Equipa BrigMec
JE
45
PASSATEMPOS DE OUTROS TEMPOS
in Jornal do Exército n.º 11 de Novembro de 1960
Soluções deste número:
1 - Martelo; 2 - Comprimento da antena; 3 - Rodízio entre a 2.ª e 3.ª rodas; 4 - Perna do soldado com mangueira; 5 - Bigodes do Sargento;
6 - Rosca da torneira; 7 - Colarinho do Cmdt.; 8 - Cavalo a trote.
Pretendo assinar o Jornal do Exército
Para encomendar basta fotocopiar o cupão e enviar para ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO – Secção de
Logística, Rua dos Remédios, n.º 202 – 1140-065 LISBOA
Nome: ____________________________________________________ Profissão: _________________
Morada: ______________________________________________________________________________
Código Postal: __________________ Localidade: ___________________ Telefone: _______________
(Só para Militares) Posto: _________________ Ramo das FA: _______________ NIF: _____________
Assinatura Anual – Continente e Ilhas: € 20.00 - Via Aérea: Países Europeus € 45.00 - Restantes Países € 65.00
Para pedido de números atrasados, ou encadernações, contacte-nos para: Largo S. Sebastião da Pedreira - 1069-020 Lisboa,
Tel: 213 567 700 ou via email: [email protected]
PARA PAGAMENTO DA MINHA ASSINATURA
TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA: Nacional 0781 0112 0112 0011 6976 9 – D.G.T.
CHEQUE: junto envio o Cheque n.º - ________________ s/Banco - ______________________ à ordem da
Secção de Logística do Estado-Maior do Exército.
VALE POSTAL: junto envio o vale postal n.º ______________ no valor de ___________________________
46
Download

JE588OUT09