DIÁLOGO E MEMORIA: EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA
Adelbiane Conceição Campos1
RESUMO
A presente comunicação tem a finalidade de apresentar os resultados obtidos com a
pesquisa realizada nos terreiros de Candomblé e Umbanda da Cidade de Goiás. O objetivo
foi mapear os terreiros e barracões da Religião de Matriz Africana existentes na cidade
de Goiás, para compreender a inserção destes grupos na sociedade Vilaboense. Foi
necessário lançar mão da metodologia proposta por Bosi (1994), ao transmitir confiança
aos recordadores para com sua oralidade, bem como compreender os relatos vividos pelos
sacerdotes dos terreiros e barracões. Através do mapeamento, foram identificados sete
terreiros de Candomblé e Umbanda, sendo um do Candomblé de Angola e seis barracões
de Umbanda, bem como o papel desempenhado por estes espaços enquanto lugar de
memória dos negros escravizados no passado e os elementos resultantes do sincretismo e
da cultura popular brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Candomblé. Umbanda. Memória. Sincretismo. Cultura popular.
INTRODUÇÃO
Este artigo visa apresentar, o resultado das pesquisas de levantamento dos
terreiros de Umbanda e Candomblé da cidade de Goiás durante o ano de 2013. Tendo
como análise as relações de grupos religiosos presentes na cidade com características da
religião dos negros escravos/alforriados de Vila Boa de Goiás nos séculos XVIII e XIX.
Para compreender os resultados obtidos, foi necessário estabelecer um
diálogo constante com autores que realizaram pesquisas nessa temática. Dentre eles,
destaco: Carneiro (1981), Silva (2005), Woodrow Wilson da Mata e Silva (1979). Ao
analisá-los, propus uma discussão a respeito da origem das religiões de matriz africana
no Brasil como Calundu, Candomblé e Umbanda, buscando uma relação dessas com as
religiões de matriz africana pesquisadas na cidade de Goiás.
Para relacionar a religião dos sacerdotes do Candomblé e Umbanda com o
passado dos escravos/alforriados, foi preciso lançar mão da metodologia da História Oral
buscando como diálogo as perspectivas de Eclea Bosi (1994) e Maurice Halbwachs
(2006), tendo em vista um viés de análise do assunto entre memória e oralidade dos
entrevistados. Esta relação se dá a partir do lugar de memória dos sacerdotes e das formas
de expressão religiosa nos Terreiros, marcadas por meio da oralidade pelos grupos de
escravizados e que até nos dias de hoje se perpetuam através dos sacerdotes da atualidade.
1
Licenciada em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG), Pós-Graduanda (UFG), Pesquisadora
e colaboradora (NARQ/UEG). [email protected]
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A partir desta discussão, este trabalho encontra-se dividido em três itens, o
primeiro apresenta as metodologias utilizadas para esta abordagem, assim como as
dificuldades encontradas para localizar os terreiros e líderes religiosos, e a satisfação dos
resultados encontrados; no segundo são conceituadas e caracterizadas as religiões de
matriz africana na cidade de Goiás; já o terceiro traz um mapeamento, indicando os locais
de concentração desses terreiros e casas, assim como os nomes dos líderes e sua religião.
Para esta escrita, algumas indagações foram essenciais: qual religião de
matriz africana está inserida na cidade de Goiás? Seriam os terreiros do Candomblé e
Umbanda parte da memória africana subterrânea da cidade de Goiás? Por quais motivos
os terreiros estão localizados na periferia da cidade?
1 – Metodologias do Levantamento dos Terreiros na Cidade de Goiás
Para realizar esta abordagem, foi preciso fazer um levantamento dos terreiros
de Umbanda e Candomblé na cidade de Goiás, bem como os sacerdotes e locais de
concentração das expressões religiosas de Matriz Africana. Para tanto, buscou-se um
diálogo com um dos representantes do Candomblé, Paulo Sérgio Gomes Ferreira, 35
anos, tendo em vista seu trânsito entre os diferentes líderes religiosos da cidade e seu
envolvimento com as pesquisas acadêmicas, motivo que justifica a solicitação de sua
colaboração para esta pesquisa.
Percebi que Paulo Sérgio, ao viabilizar a cultura afro na cidade de Goiás, com
o “Bloco Pilão de Prata”, poderia contribuir com esta pesquisa que está inserida na
abordagem da religião de matriz africana na cidade de Goiás. Na entrevista Paulo Sérgio
forneceu os primeiros dados para o presente levantamento, ao mencionar líderes e
possíveis localizações de residências ou terreiros.
Após a entrevista, foi possível identificar oito dos líderes religiosos; desses
oito, três praticam suas expressões religiosas dentro dos seus próprios terreiros e outros
cincos procuram promover suas reuniões juntamente com seus praticantes dentro de suas
casas. Aqui apenas serão discutidas as religiões encontradas com base nos depoimentos
orais dos entrevistados, sendo que foi possível entrevistar seis desses líderes
identificados.
Durante esta pesquisa, buscou-se uma aproximação com Bosi (1994), ao
trabalhar como metodologia a história oral, quando ela diz que é preciso explicar o sujeito
o objetivo da pesquisa e que os mesmos sempre terão autoridade sobre o registro de suas
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lembranças. Diante das leituras realizadas para escrita deste trabalho e o levantamento
dos terreiros foi possível perceber o quanto a temática da religião de matriz africana
merece mais atenção dentro da historiografia goiana, uma vez que se trata de uma herança
cultural da fé africana deixada para os brasileiros, e em especial aos praticantes da Cidade
de Goiás.
O principal esteio do meu método de abordagem foi a formação de um vínculo
de amizade e confiança com os recordadores. Esse vínculo não traduz apenas
uma simpatia espontânea que se foi desenvolvendo durante a pesquisa, mas
resulta de amadurecimento de quem deseja compreender a própria vida
revelada do sujeito (BOSI, 1994, p. 37-38).
Assim, busco uma reflexão para dar continuidade à minha pesquisa, pois se
tratando da narração oral, é preciso ter vínculos de confiança entre o entrevistado e o
pesquisador, pois o primeiro estará relatando toda sua história de vida e caminhos
percorridos até se tornar praticante das religiões de matriz africana.
A princípio me deparei com uma série de dificuldades; primeiramente por não
conhecer a cidade, por morar em Mozarlândia – GO e, depois pelas distâncias de um
terreiro ou residência para outro/a. Mas a dificuldade maior foi o estabelecimento de uma
relação de confiança entre mim e os entrevistados, por isso foi necessário, a princípio,
buscar apenas conversas informais, para assim deixá-los cientes do meu trabalho e dos
meus objetivos, para depois responderem ao questionário.
Nem sempre que batia às portas consegui construir laços de confiança com os
praticantes, pois para isso precisei ser pertinente e paciente, uma vez que certas vezes era
preciso remarcar as entrevistas já agendadas, pela falta de disponibilidade das fontes ou
por não quererem falar naquele momento.
Como se trata de um universo religioso complexo e carregado de muito
preconceito pela sociedade, os líderes religiosos demonstraram receio ao relatar suas
experiências religiosas, talvez por medo de minha interpretação. Porém, o processo de
estranhamento foi uma via de mão dupla, pois também nutri esse sentimento. Sabendo
que iria me deparar com lugares que pudessem fazer com que eu desistisse desta pesquisa,
procurei me aproximar ainda mais desse universo, a fim de entender as ações desses
indivíduos dentro dessas religiões, das quais a sociedade faz um juízo de valor que não
coincide com a realidade dos terreiros visitados. Assim tentei, através desta escrita,
mostrar à sociedade que o preconceito se torna alimento do desconhecido, pois é preciso
conhecer a cultura do outro.
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Ao realizar as visitas nos terreiros e casas dos líderes, fui recebida por alguns
com certo estranhamento, mas outros já demonstraram confiança no meu trabalho,
fazendo-me uma recepção positiva. De acordo com alguns deles, já estavam me
esperando, pois seus “guias” os avisaram da minha visita: “você será sempre bem-vinda
aqui, quantas vezes precisar pode vir que estou disposto a falar sobre a minha religião,
eles me autorizaram, e quando eles autorizam, nem preciso me preocupar” (Dalmy
Silveira Brito, 40 anos). Assim também foi com o senhor Antônio Marques da Silva, 43
anos, “olha só, eu conheço a energia positiva de uma pessoa só de olhar e você tem uma
energia positiva interior que diz tudo como você é.”
Com outros, como dona Telissa, o senhor Reinaldo e o senhor Marcilon,
houve resistência. A primeira foi irredutível, não se mostrou nem um pouco interessada
em relatar sua religião e menos ainda de me deixar explicar de que se tratava o meu
trabalho, logo já disse que não era mais praticante dessa religião e não queria falar sobre
o assunto. De acordo com seus vizinhos, ela realmente frequenta a igreja evangélica, mas
nunca deixou suas práticas religiosas de matriz africana. Seria uma estratégia de dona
Telissa para fugir do preconceito da sociedade, tornando-se “evangélica” e assim poder
continuar mantendo suas formas de cultos aos Orixás às escondidas? Assim como os
escravos/alforriados do século XVIII e XIX como sugere Palacin; et al (1995)?
E se tratando deste assunto, Palacin et al (1995), destaca que deve-se aos
africanos a introdução de cultos e crenças em Vila Boa de Goiás, pois no final do século
XVIII, já existia um grande número de africanos e seus descendentes na antiga Vila, os
quais manifestavam seus cultos às escondidas e por trás de aparência cristã.
O depoimento do senhor Reinaldo se tornou difícil pela falta de
disponibilidade do mesmo, pois sua casa e seu terreiro se encontram na Zona Rural da
cidade e por mais que marcássemos, sempre encontrávamos divergência nos horários e
dias. Já o senhor Marcilon demonstrou receio no início, mas aos poucos, como fui
tentando um diálogo acerca da construção de um elo de confiança estabelecida e ele sentir
seguro nos relatos da sua experiência religiosa.
Para relacionar sujeitos praticantes das religiões de matriz africana da cidade
de Goiás com o passado dos escravos/alforriados, elaborei um pequeno questionário
contendo o nome dos pais e dos avós maternos e paternos, bem como a religião que os
mesmos praticavam. Buscando um diálogo a respeito da memória individual na
perspectiva de Halbwachs (2006), esta não se encontra isolada e fechada, visto que, para
o indivíduo lembrar-se do seu passado, “precisa recorrer às lembranças de outras pessoas
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buscando os pontos de referência que existem fora de si, procurando instrumentos que o
identificam com as palavras e ideias (p. 72)”. Foi possível observar isso nos relatos dos
entrevistados, quando eles disseram, por exemplo, “meu pai e minha mãe não eram
praticantes da mesma religião que a minha, mas meus avós e bisavós eram, eu me lembro
deles falarem (Antônio Marques da Silva, 43 anos).”
1.1 – Expressões Religiosas de Matriz Africana na Cidade de Goiás
Antes de apresentar as localidades dos terreiros, é preciso abrir uma discussão
acerca das religiões de matriz africana encontradas na cidade de Goiás, que são o
Candomblé de Angola e Umbanda. Dalmy Silveira Brito, um dos sacerdotes que aqui será
relatado, identifica os elementos de sua religião com o antigo Calundu. Segundo João
José Reis (2008, 2010), Renato da Silveira (2007) e Vagner Gonçalves da Silva (2005) o
Calundu foi uma das primeiras expressões religiosas dos africanos no país durante o
período da escravatura onde cultuavam os Orixás e inkises, e sugere que após a inserção
dos escravos africanos ao universo religioso católico com o período de catequização e
batismo é que foram criadas através do sincretismo o Candomblé e Umbanda, unindo os
elementos da fé africana com o catolicismo e indígenas.
O Calundu faz parte de um passado marcante na história da religião dos
escravos africanos no Brasil, pois se trata de uma religião que, segundo Silva (2005), está
presente no país desde o século XVIII. Desta forma seus elementos são “os toques dos
atabaques, transe, jogos de búzios, sacrifícios de animais, banhos de ervas, etc., (p. 4546).” Ao visitar os terreiros da cidade, é possível encontrar alguns desses elementos, pois
são os que mantêm a tradição religiosa de matriz africana.
O autor João José Reis, em seu artigo “Magia Jeje na Bahia: a invasão do
Calundu do Pasto de Cachoeira, 1785”, discute a origem do Calundu em Cachoeira
(BA)2, apresentando indícios de que esta foi a primeira manifestação religiosa dos
africanos no Brasil; possivelmente, foi através dela que se deu a origem do Candomblé e
Umbanda. Seria o Calundu o princípio das manifestações religiosas africanas na Cidade
de Goiás?
O pensamento mágico é um dos elementos fundamentais da religião escrava,
como é da religião tradicional africana em geral, e mesmo do catolicismo
2
Este artigo está disponível na REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA, v. 8, n. 16, ANPUH-Brasil
– Associação Nacional de História, Copyright 2010.
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popular. Ele representava um elemento importante das relações sociais e de
poder na África. As pessoas não caíam doentes ou sofriam infortúnios só por
obra da natureza, do homem comum ou do destino. Elas eram “enfeitiçadas” e
haviam especialistas que enfeitiçavam e os que curavam, muitas vezes ambas
as especialidades incorporadas num só indivíduo (REIS, 2010, p. 74).
Ainda de acordo com Silva (2005), outro elemento do Calundu é a prática de
curar doenças. Este é um fator analisados na documentação de escravos do século XVIII,
nos Arquivos do Museu das Bandeiras em Goiás. Desta forma, a prática de curar doenças
neste período na antiga Vila Boa era cada vez comum, já que os escravos manipulavam
ervas para fabricação de remédios, já que quase não havia médicos na capitania e os
preços dos remédios eram abusivos. Isso pode ser observado neste documento de 23 de
junho de 1774, destinado a Martinho de Melo e Castro.
[...] Pertenseu esta Capitania a hum Xarlatão, que ainda no paiz da ignorancia
não podia fazer figura, por que Suposto em toda a capitania não haja hum Só
Medico, achão-senella muitos Cyrurgiões que tendonose exercitado no
Hospital Real da corte,[...] os mesmos que se considerão mais habeis tem muito
pouco em que Se empreguem, porque Sendo mayor parte dos habitantes e
Mineiros, ou Rosseiros, muito poucos aSistem nosArrayaes, e quazi todos
aonde aplicão os trabalhos dos Seus Escravos; As utelidades destes não
correspondem ádespeza de lhes chamar na doensa hum Professor, nem servise
para o Comum dos excecivos preços das Boticas; Seus donos mandão vir por
junto dos portosMaritimos Remediosordinarios, elles lhes ministrão, ou o
mandão fazer por algum Escravo a quem Sentem algumgeito de Infermeiro
[...]3.
A prática de curar doenças em Vila Boa de Goiás partia de escravos que
obtinham experiência em manipular ervas para a fabricação de remédios, e os próprios
donos de escravos delegavam essas práticas àqueles que tinham essa experiência. Diante
do citado documento, encontra-se indícios de que em Vila Boa de Goiás nos séculos
XVIII já havia traços do Calundu.
Para Renato da Silveira (2007), os calunduzeiros eram curandeiros e ainda
tinham o poder de adivinhações,
[...] isso significa que, além de oficiantes religiosos, esses personagens sabiam
preparar tisanas, cataplasmas e ungüentos que aliviavam os males corriqueiros
dos habitantes da colônia, eram também capazes de curar doenças mais graves
como a tuberculose, a varíola e a lepra, usando os recursos da farmacopéia
tradicional, participaram inclusive do combate às epidemias que assolaram a
Bahia em meados do século XIX; também sabiam curar distúrbios mentais ou
espirituais, usando tratamentos combinados e complexos (SILVEIRA, 2007,
p. 02).
3
Documento nº 2811, rolo 63, p. 453, cx. 49, Projeto Resgate de Documentação Histórica
Barão do Rio Branco. Transcrição da arquivista Milena Bastos Tavares. Cidade de Goiás: MDB,
2010.
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Ainda de acordo com Silveira (2007), calundu se originou de diversas nações
africanas como os bantos (Angola, Congo e Moçambique) e jeje, algumas dessas nações
aderiram ao catolicismo ou misturaram-se com os cultos ameríndios, e esse sincretismo
deu origem a Umbanda. Já o Candomblé recebeu apoio dos calunduzeiros bantos, pois
era neles que se encontrava a maior forma do saber fazer os rituais. Com o passar do
tempo, houve essa transição do calundu para candomblé, “o próximo passo, ousado na
trajetória da religião afro-brasileira neste período, seria o de organizar os cultos na cidade,
e oficializá-la como uma instituição. Foi em Salvador, no bairro da Barroquinha, que
houve esta transição (p. 02-03)”.
De acordo com Silva (2005), o Candomblé foi uma religião criada no Brasil
pelos africanos vindos para serem escravizados no período colonial. A África era dividida
por nação, cada nação cultuava seus deuses, mas ao chegar ao Brasil, as sociedades dessas
nações se misturaram dentro das fazendas, dos barracões e senzalas e, mesmo com tanta
opressão dos seus senhores e das elites dominadoras, os africanos não deixaram de
manifestar seus cultos e costumes.
[...] a escravidão separou famílias e etnias trazendo escravos de lugares
diferentes, com cultos e conhecimentos diferentes em relação aos segredos
rituais de sua religião. Somando a isso, o extremo rigor da perseguição aos
cultos africanos no Brasil não permitiu que os templos pudessem se multiplicar
ao ponto de se dedicar ao culto exclusivo de apenas um orixá [...] (2005, p. 62).
Hoje, é possível perceber na fala dos entrevistados que a resistência contra a
opressão e os detentores do poder, fez com que a cultura religiosa africana ultrapassasse
séculos, podendo os umbandistas e candomblecistas reviver e sentir através da fé os
Orixás e entidades em suas vidas, mesmo com características diferentes daquelas do início
da colonização, assim, “o culto aos deuses africanos somou-se ao dos santos católicos e
ao das divindades indígenas” (SILVA, 2005, p. 62; CARNEIRO,1981, p. 94). Dando
origem ao Candomblé e Umbanda.
O candomblé passa ser dividido por nações africanas. Dessa forma, segundo
Silva (2005), se deram dois modelos de cultos mais praticados no Brasil: o rito de jejenagô e o angola, em que o primeiro dividiu-se em nações de Candomblé de Ketu, Ijexá,
Jeje-fon, Jeje-marrin, e o segundo, sendo Candomblé de Angola, que por sua vez foi
encontrado como uma religião de matriz africana na cidade de Goiás. O que se sabe é
que, no final do século XX, essa foi uma das expressões religiosas de origem africana,
marcante na História da Religião de Matriz Africana na cidade de Goiás.
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Até o final do século XX, havia dois terreiros do Candomblé de Angola na
cidade de Goiás liderada pelo Vô filho de João de Abuc e Cleuson Azevedo de Queiroz,
mas hoje encontra-se somente o de Cleusson. De acordo com seu depoimento, o terreiro
de Vô mudou-se para Goiânia – GO, levando o terreiro para a cidade. “Chamávamos ele
de Vô, Filho de João de Abuque, hoje é falecido, mas deixou seus descendentes à frente
do terreiro, que se encontra na cidade de Goiânia, no setor Pedro Ludovico”. A casa do
Candomblé de Angola liderada por Cleuson, funciona há 26 anos, desde quando veio de
Pernambuco, mas apesar da idade avançada ele já não recebe mais seu Orixá.
O candomblé de angola, pelo grande afluxo e dispersão dos bantos no Brasil,
difundiu-se por quase todo o país. Em alguns estados, em fins do século XIX,
o candomblé de angola, sempre aberto às influências católicas e ameríndias,
recebeu nomes próprios como cabula, no Espírito Santo, macumba, no Rio de
Janeiro, e candomblé de caboclo, na Bahia (SILVA, 2005, p. 67).
A Umbanda é a religião com maior quantidade de terreiros e sacerdotes
encontrada na cidade de Goiás. Para os autores, Edson Carneiro, Woodrow Wilson da
Mata e Silva, e Vagner Gonçalves da Silva, trata-se de uma religião fundamentada no
sincretismo religioso, em que se reúne a crença aos orixás, o espiritismo e o catolicismo.
As entidades da Umbanda são divididas entre as sete grandes falanges4, de
acordo com W. W. M e Silva (1979). Os chefes dessas falanges são os orixás e cada
falange dessas ainda se divide em outras sete falanges menores, tendo como líderes os
Guias, que são os espíritos dos caboclos, que se dividem em outras subfalanges, dos pretos
velhos, que têm como função incorporar-se aos pais, mães e filhos de santo que tenha a
sensibilidade espiritual de incorpora-los, com a finalidade de ajudar as sociedades com
cura de doenças ao manipular ervas, conselhos, etc. (p. 59-90).
[...] as divindades africanas e indígenas, e a depuração desse culto para que
elas pudessem “baixar” e trabalhar na umbanda, foi uma das mais marcantes
características dessa religião. Essas entidades, a princípio caboclos e pretovelhos, representando os espíritos dos índios brasileiros e dos escravos
africanos, tornaram-se centrais na nova religião que se formava, proclamando
sua missão de irmanar todas as raças e classes sociais que formavam o povo
brasileiro (SILVA, 2005, p. 111)
De acordo com as entrevistas realizadas, há três sacerdotes e sacerdotisas que
deram início a religião, através do senhor Augusto, um senhor de idade avançada que não
possibilitou a visita em sua casa, pois sempre que marcávamos não havia disposição por
4
Ver: obra: cultura religiosa. UBRA. ed. São Paulo: Reproset Indústria Gráfica, 2008.
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parte do entrevistado. De acordo com Antônio Marques da Silva 42 anos, este terreiro
localizava-se na Rua Félix de Bulhões, próximo ao antigo “horto” na cidade de Goiás,
mas não se encontra mais em funcionamento devido à idade avançada e os problemas de
saúde de seu sacerdote. “Meu terreiro, o de Carlos Divino Santana e o de Tânia Nunes
da Silva Santos, se originaram do Terreiro do senhor Augusto. Todos firmavam seus
pontos lá, mas em razão da idade dele, separamos para ele descansar, e assim cada um
construiu o seu terreiro (idem).”
Mesmo tendo que fazer novas adaptações, os líderes religiosos tanto do
Candomblé como da Umbanda da cidade de Goiás buscam ainda nos dias de hoje manter
os elementos do antigo Calundu colonial, como o uso das ervas, o jogo de búzios, os
toques dos atabaques, a incorporação e uso dos elementos naturais como a mata e água.
Aqui foram apresentadas características que identificam as religiões de matriz
africana na cidade de Goiás da atualidade, evidenciando que há diferenças entre elas.
Portanto, foi preciso ater-se a essa discussão para abrirmos outra, a respeito da localização
e das características dos terreiros e líderes encontrados na cidade.
1.2 – Localidades e Formas de Expressões Religiosas: Terreiros e Líderes
O que se pretendeu neste item, foi apresentar o mapeamento dos terreiros e
das casas, de Candomblé e Umbanda e os líderes religiosos da cidade de Goiás,
analisando os motivos que os levaram para a periferia da cidade. Levando em conta que
as práticas de periferização levaram os sacerdotes se excluírem socialmente, devido a
intolerância religiosa dos detentores do poder. Ir para as encostas da cidade, seria uma
estratégia dos líderes religiosos, para fugir do preconceito da sociedade? Diante deste
indício, é preciso refletir sobre o que diz Bosi (1994):
[...] na fuga completa do modelo cultural, o indivíduo que procura escapar é
visto como um ser estrangeiro que não quer partilhar valores comuns. Sua
própria existência em alguma região torna-se um entrave para os outros
membros [...] pelo abandono de tais recursos, pela fuga total, o conflito é
eliminado; o sistema o condenará, enquanto aceita o inovador astucioso e ativo
que venceu [...] (p. 135-136).
Como já citado neste capitulo, as religiões de matriz africana identificadas na
cidade de Goiás foram o Candomblé de Angola e a Umbanda. De acordo com os
elementos apresentados no primeiro item, notou-se que há diferenças entre elas, e que
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essas diferenças poderão ser percebidas ao apresentarmos os nomes dos terreiros e as
formas de cultos que são praticados em cada um.
O Calundu, como já discutido neste artigo, é uma religião de matriz africana
da época da colonização do Brasil. Em meados do século XIX, ocorreu a junção de seus
elementos culturais com os dos indígenas e o do catolicismo popular, originando o
Candomblé e a Umbanda. De acordo com o documento apresentado e a discussão
anterior, a respeito das características destas religiões, observa-se que em Vila Boa de
Goiás não foi diferente.
De acordo com Dalmy Silveira Brito 40 anos, mesmo com o sincretismo
religioso suas práticas religiosas, continuam seguindo os rituais do antigo Calundu,
justificando que não há nenhum elemento e influência do catolicismo e espiritismo nos
seus costumes religiosos. Entretanto, desde o ano de 1942 Ramos já afirmava que só era
possível fazer essas distinções entre as religiões originariamente africanas no início da
colonização europeia.
Esta distinção que não existe mais hoje, a não ser certas tentativas contra
aculturações [...] na realidade as leis da evolução psicológica das religiões não
estão ligadas ao fator étnico racial, mas ao grau da intensidade ou de
importância das culturas religiosas em contatos (RAMOS, 1942, p. 08).
Dalmy Silveira Brito 40 anos, nasceu e foi criado na cidade de Goiás, afirma
que o Calundu é a sua religião, pois os elementos de suas características são mantidos
dentro de seus trabalhos e obrigações de casa, sem a mistura de elementos católicos.
Segundo o sacerdote, mesmo os seus pais não seguindo sua religião e apesar de a
sociedade carregar um grande preconceito em relação às suas práticas, para ele, trata-se
de sua identidade, por isso ele não se importa e comenta: “o povo vive falando que eu
pratico o mal, e que faço trabalhos pesados, mas isso é só preconceito, eu não faço mal
algum para as pessoas, elas é que fazem mal juízo da nossa religião.”
Dalmy é Zelador do terreiro, como ele mesmo prefere ser chamado, pois
acredita que não pode ser considerado “pai de santo”, uma vez que os santos possuem
maior poder que ele: “fui apenas escolhido pelo meu Orixá, para cumprir minhas
obrigações aqui”. A casa onde são feitos os trabalhos e obrigações de santos, bem como
ele o diz, tem o nome de “Casa de Exu” e fica localizada na Rua Djair Seixo de Brito, nº
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1, Vila Lunilda. Segundo Dalmy, ele foi iniciado aos 16 anos, contra a vontade de seus
pais, sendo eles evangélicos.
Em relação à Umbanda, foi possível identificar cinco terreiros/residências e
líderes, a saber: senhor Marcilon Francisco de Assis, 64 anos, que trabalha com as linhas
“dos Pretos Velhos e caboclos”; Tânia Nunes da Silva Santos, 44 anos, cujo terreiro é o
“Centro Espírita Mamãe Oxum: Senzala dos Pretos Velhos”; Antônio Marques da Silva,
43 anos, com seu terreiro “Terreirinho de Oxossi”; senhor Osvaldo Alexandrino de
Campos, 83 anos, que hoje já não faz reuniões com os praticantes em sua casa, apenas
faz algumas oferendas para o seu Orixá Oxossi, mas de acordo com o mesmo, quando a
casa dele era muito frequentada pelos praticantes, o nome de seu terreiro era “Terreiro
de Oxossi”; e senhor Carlos Divino Santana, 53 anos, que segue as linhas dos “Sete
Orixás”.
A primeira casa visitada foi a do senhor Marcilon Francisco de Assis 55 anos,
nascido e criado na cidade de Goiás. Assim como dona Telissa, Marcilon também não se
mostrou com tanto interesse na conversa, mas ele cedeu caminhos e aberturas para eu
discutir sobre o tema e aos poucos foi respondendo ao questionário que apresentei a ele.
O mesmo é filho de pai e mãe católicos, assim como os seus avós paternos e maternos.
Marcilon segue a religião da Umbanda desde os 16 anos e faz suas expressões
religiosas na sua própria residência. Segundo ele, geralmente se reúne com os praticantes
às quintas-feiras, e sua residência fica localizada na Rua A, n. 205, Setor Aeroporto. Mas
ao ouvir o seu relato, é possível perceber que os fundamentos de sua religião, encontrase próximo ao kardecismo. De acordo com ele, sua posição hierárquica em sua residência
é de médium vidente, “sem a caridade não há salvação, e eu sigo o caráter da humildade,
do amor e do respeito (Marcilon Francisco de Assis, 55 anos)”.
O senhor Osvaldo Alexandrino de Campos 83 anos, reconhece sua
sensibilidade espiritual religiosa mais próxima da origem indígena do que africana: “a
primeira vez que comecei a ver os espíritos foram os de índio, via uma índia e um índio
que falava comigo, e só depois eu fui desenvolvendo para ver e incorporar outros que já
morreram, daí comecei ver escravos também”. Ele nasceu e foi criado na cidade de Goiás,
além de ser ex-militar da cidade. O Sr. Osvaldo faz parte da religião da Umbanda, é
praticante há 45 anos, mas hoje já não se encontra mais como líder religioso, pois de
acordo com ele, por causa da sua idade, já não tem mais forças para receber as entidades
no corpo.
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Segundo o Sr. Osvaldo, tudo começou quando ele ainda era militar, em
meados da década de 1960, quando começou ter visões de índios mortos. Mesmo tendo
se passado 45 anos, o Sr. Osvaldo ainda guarda consigo recordações e lembranças de
como foi difícil manter suas manifestações religiosas, durante o período da ditadura
militar, quando a sociedade brasileira passou por momentos de opressão, sem direito de
expressão devendo seguir as regras ditadas pelo governo federal.
Quando eu comecei receber as entidades, os meu amigos da polícia se
afastaram de mim, os vizinhos falava mal, dizia que eu fazia maldade pras
pessoas, mas eu num fazia não fia, eu fazia era benzer as pessoas pra elas curar
alguma coisa. Porque cê acredita que muitas coisas que a gente sente é alguma
coisa da alma? Pois é, se sua alma não tá boa, com uma energia boa, você
também num vai ficar boa. (Osvaldo Alexandrino de Campos, 83 anos)
Os pais de seu Osvaldo eram católicos e evangélicos, bem como os seus avós
e bisavós maternos e paternos. A princípio ele sofreu muito preconceito por parte de sua
família. De acordo com o mesmo, sua posição hierárquica, dentro do terreiro do qual ele
era líder, era “cuidador” do terreiro, cujo nome era “Terreiro de Oxossi”. Sua residência
fica localizada na Rua 2, n. 1, Vila União.
Antônio Marques da Silva 43 anos, afirma ser bisneto de descendente de
escravas. De acordo com seu Antônio, sua bisavó nasceu no ano de ano de 1895, em Vila
Boa de Goiás. Antônio nasceu e foi criado na cidade de Goiás, é praticante da Umbanda
desde os 13 anos de idade, filho de pai e mãe católicos, mas sua avó e bisavó paternas
compartilhavam da mesma religião, realizando seus cultos e rezas aos Orixás na fazenda
onde moravam.
Para ele seu pai, Elson Marques da Silva, também era, ele só não admitia por
medo de sofrer preconceitos, pois também, assim como o sr. Osvaldo, era militar na época
da ditadura. Segundo Antônio, sua avó Ana Caetana da Silva e sua bisavó Ninica da Silva
eram descendentes de escravos em Vila Boa de Goiás:
Minha avó e bisavó eram da Umbanda, eu me lembro de quando eu era
pequenininho e elas falavam que os pais e avós delas, sofreram com a
escravidão, minha bisa Ninica não gostava de vir na cidade nem para comprar
as coisas, ela vinha, comprava e voltava logo pra fazenda e detestava branco
(Antônio Marques).
Antônio relata que o momento marcante em sua vida religiosa no terreiro, foi
quando “entraram no nosso terreiro e colocaram fogo em tudo lá, os que não queimou
eles quebraram e então, com isso, nós tivemos um prejuízo de mais de dez mil reais, só
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de imagem dos Orixás que tinha lá”. Este relato demonstra o quanto a sociedade ainda
sustenta o preconceito que se encontra enraizado, mantendo a ideia de que a religião que
leva aos céus é a cristã.
O nome do seu terreiro é “Terreirinho de Oxossi”, e sua posição hierárquica
é de zelador do terreiro. Assim, ele mesmo faz o cultivo das ervas que são manipuladas
durante a preparação dos ebós e banhos de ervas. Depois do incidente com seu terreiro,
ele passou expressar sua fé em sua residência, que fica localizada na Rua Ugo Ramos, n.
28, Setor Centro. Futuramente ele construirá um barracão no seu quintal.
Tânia Nunes da Silva Santos, 44 anos, é praticante da Umbanda, nasceu e foi
criada na cidade de Goiás, filha de José Nunes da Silva, católico, e Dionice Pereira da
Silva, que também era praticante da Umbanda. Tânia se iniciou na religião aos 12 anos
de idade, sua posição hierárquica no terreiro é a de zeladora. O nome de seu terreiro é
“Centro Espírita Mamãe Oxum Senzala dos Pretos Velhos” e fica localizado na Travessa
Cachoeira Grande, Qd. 20, Lt. 19, n. 7.
Carlos Divino Santana, 53 anos, é filho de Benedito Josias Santana e Maria
de Lurdes Rio Branco, que pertencem à religião Católica. Carlos é praticante da religião
da Umbanda há 30 anos e faz suas expressões religiosas e obrigações de terreiro em sua
própria residência, que fica localizada na Rua 2, Lt. 3, Qd. C, s/n, Setor Dom Bosco. Sua
posição no terreiro é de Zelador, pois, assim como Dalmy, o senhor Carlos, também
prefere ser chamado desta forma, “porque não acho certo eu ser pai de santo, já que é o
santo que designa poder a mim e não contrário.” Carlinhos destaca: “eu sigo as sete
linhas dos Orixás, primeiramente é Oxossi, Ogum, Xangô, Yemanjá e Oxum, depois os
Pretos Velhos, os Caboclos e os Erês”.
O Candomblé de Angola foi a única da nação encontrada na cidade de Goiás,
esta é liderada por Cleusson Azevedo de Queiroz, nascido na cidade de Recife (PE). Filho
de pai e mãe umbandistas, pai Cleusson, como assim ele pede para ser chamado, veio da
sua cidade de origem em meados da década de 1970. Nascido e criado dentro dessa
religião, devido seu histórico familiar compartilhar da mesma fé.
De acordo com o mesmo seus pais e avós eram da Umbanda, mas com o
passar do tempo todos passaram para o Candomblé em razão da perseguição que os
praticantes da Umbanda sofriam nesse período. Segundo pai Cleusson, já se passaram 50
anos desde a sua iniciação ao Candomblé de Angola. Sua posição hierárquica é
Babalorixá de Xangô e o nome do seu Terreiro é “Casa Ilê Axé Oni Obá Xangô”. Ele
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diz: “não, agora eu já estou parando, eu já não jogo mais os búzios, já não recebo mais o
meu Orixá, já estou muito velho e não consigo mais recebê-lo”.
Ao perguntar para esses líderes qual seria o motivo de seus terreiros estarem
localizados nas encostas da cidade, as respostas foram unânimes. De acordo com as
entrevistas, a preferência pelos locais, é devido os elementos e características da religião
de Matriz Africana estarem ligadas aos toques dos atabaques, músicas, danças e tudo o
que simbolizam o universo religioso da fé africana dentro dos terreiros. De acordo com o
Sr. Antônio, jamais a sociedade iria permitir barulhos dos toques dos tambores até altas
horas da madrugada, sem contar com os trabalhos de obrigação dos terreiros, que logo
seriam interpretados como rituais malignos e pesados. Portanto, para que esse tipo de
estereótipo não ocorra, é melhor que os terreiros se concentrem apenas em lugares mais
distantes do centro da cidade.
Ao entrevistar esses sacerdotes, foi possível perceber que os elementos, bem
como o processo de periferização dessas comunidades de terreiros, ocorrem, na sua maior
parte, em razão da perseguição da sociedade dita “culta” e que possui padrões de
“comportamentos” que não coincidem o que dizem ser os valores de “Deus”, pois de
acordo com o Sr. Antônio Marques, por diversas vezes tentou montar seus lugares de
“firmezas” e vê-los destruídos pela aqueles que buscam deter o poder, resultando na
desistência e migrando para matas.
No mapa a seguir, apresenta as localidades dos terreiros e líderes religiosos:
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Elaboração do mapa: Sálen Rodrigues, 2014.
Como se pode perceber, a religião da Umbanda é a que se encontra com maior
concentração na cidade de Goiás. Mas, é preciso ressaltar que não há somente na Cidade
de Goiás. Ainda observa-se que o terreiro de Candomblé de Angola não foi possível
identificar no mapa, pelo fato da não autorização do Pai Cleusson Azevedo de Queiroz,
assim respeitamos o direito de preservar seu local de culto.
Aqui foram evidenciados os terreiros mais antigos da cidade de Goiás; por
isso é preciso refletir que este trabalho ainda se encontra em infinitas pesquisas, pois há
o se pesquisar a respeito da origem dessas religiões na cidade estudada.
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CONSIDERAÇÕES
Ao analisar as relações entre os grupos religiosos de matriz africana existentes
na cidade de Goiás com as religiões dos escravos em Vila Boa de Goiás, nos séculos
XVIII e XIX, foi possível encontrar vários indícios da fé africana na cidade em questão,
desde o período da extração do ouro pelo trabalho dos negros escravizados até a
contemporaneidade.
Ao buscar a relação desses indivíduos do passado com as expressões dos
grupos religiosos da cidade de Goiás na contemporaneidade, no aspecto religioso, é
possível refletir à cerca da possibilidade da vida religiosa desses grupos estarem
relacionadas com a dos africanos de Vila Boa de Goiás durante os séculos XVII e XIX.
Hoje é possível perceber que os costumes e práticas religiosas perpetuaram dando lugar
à memória e construção da identidade desses grupos aqui entrevistados. Desta forma, não
é difícil perceber o quão ainda é forte a presença da religião de matriz africana na cidade,
bem como o sólido sentimento religioso dos sacerdotes.
De acordo com as visitas a esses terreiros, pude perceber que as pessoas
procuram os sacerdotes e entidades dos terreiros, com a fé de serem curadas por algum
mal da alma ou até mesmo do corpo. Tratamentos advindos por manipulação de ervas e
trabalhos e oferendas aos Orixás e entidades.
Diante da pesquisa e parte do trabalho realizado, possibilitará a inquietação de outras
pesquisas e trabalhos científicos na linha da História Cultural e Religiosa, pois este
trabalho traz pistas para dar continuidade a outras. No caso do sacerdote Antônio
Marques, ele afirma ser bisneto de descendentes de escravos e diz que sua bisavó nasceu
em 1896, sendo filha de escrava e senhor dono da fazenda onde ela morou por muito
tempo. Mas este ainda é um fato a ser pesquisado e analisado principalmente nos
documentos da época, analisando-os em arquivos da cidade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UBRA. Cultura Religiosa. Ed. São Paulo: Reproset Indústria Gráfica, 2008.
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