59 Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 REFLEXÕES SOBRE O COTIDIANO ESCOLAR: RELATO DE EXPERIÊNCIAS PROPICIADAS PELO PIBID/LETRAS/UFGD Vianca de Oliveira OCAMPOS1 (UFGD) Cristiane Rodrigues de QUEIROZ2 (E.E.M.F.F.) Resumo: O relato analisa algumas atividades executadas na E. E. Menodora Fialho de Figueiredo, pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da Universidade Federal da Grande Dourados, nos anos de 2010 a 2013, com os alunos do Ensino Básico. Os trabalhos foram realizados com o objetivo de colaborar na formação dos discentes, promovendo a interação e compreensão entre: teoria/prática, conteúdo/metodologia, aluno/professor, ensino/aprendizagem, propondo uma pedagogia diferenciada no ensino básico. O referido trabalho dialogou com os conteúdos e metodologia utilizada no Exame Nacional do Ensino Médio e vestibular, enfatizando a leitura e interpretação de textos escritos e não escritos. As reflexões se pautaram em apresentar as dificuldades e realizações que o acadêmico em formação enfrenta, os sucessos e fracassos do ambiente escolar. O nosso trabalho, além de relatar as breves atividades, tem como proposta apresentar diversas situações do cotidiano escolar educacional. PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Interpretação; PIBID/UFGD; Metodologia. Resumen: Este informe examina algunas de las actividades llevadas a cabo en E. E. Menodora Fialho de Figueiredo, el Programa de Becas de Iniciación a la Docencia de la Universidad Federal de Oro Grande, en los años 2010 y 2013, con los estudiantes de Educación Básica. Las obras se llevaron a cabo con el fin de colaborar en la formación de los estudiantes mediante la promoción de la interacción y el entendimiento entre: contenido teoría/ práctica/metodología, estudiante/profesor, enseñanza / aprendizaje, que propone un aprendizaje diferenciado en la educación básica. Ese trabajo dialogó con el contenido y la metodología del examen y vestibular Nacional de Bachillerato, con énfasis en la lectura e interpretación de textos escritos y no escritos. Las reflexiones se basaron en las dificultades actuales y los logros en los rostros de formación académica, los éxitos y los fracasos del ambiente escolar. Nuestro trabajo, además de informar las actividades breves, tiene una propuesta para presentar diversas situaciones educativas de la vida escolar cotidiana. PALABRAS LLAVE : Lectura, Interpretación ; PIBID / UFGD ; Metodología . 1 Vianca de Oliveira Ocampos, Graduanda em Letras - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) [email protected] Cristiane Rodrigues de Queiroz, Professora Pós-graduada – Escola Estadual Menodora Fialho de Figueiredo – [email protected] 2 Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 60 INTRODUÇÃO O presente artigo intui um memorial descritivo profissional e tem como objetivo transmitir as experiências obtidas, a partir da convivência com professores do Ensino Básico e alunos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) na Escola Estadual Menodora Fialho de Figueiredo. A instituição, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), na qual realizo minhas atividades acadêmicas, oferece um incentivo financeiro, para alunos que tenham o interesse de enriquecer seus currículos. O objetivo do programa é inserir o acadêmico nas instituições públicas do ensino básico. A Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) vem esclarecer o objetivo da bolsa: O Pibid é uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. O programa concede bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência desenvolvidos por Instituições de Educação Superior (IES) em parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino. Os projetos devem promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas públicas desde o início da sua formação acadêmica para que desenvolvam atividades didáticopedagógicas sob orientação de um docente da licenciatura e de um professor da escola (site oficial, CAPES, outubro, 2013).3 Com a parceria da Escola Estadual Menodora Fialho de Figueiredo, observamos e regemos as aulas concomitantes ao ingresso no curso de Letras Português/Inglês. Esta trajetória trouxe um intercâmbio entre acadêmico /escola, acadêmico / professor, e acadêmico / aluno do ensino básico. As aulas ministradas são de Língua Portuguesa, nas quais inserimos atividades que modificassem e/ ou se somassem aos métodos do cotidiano escolar. A proposta visa propiciar outro olhar educacional, complementar com a formação das aulas no Ensino Superior. As atividades incluem o preparo e o ministrar das aulas no ensino regular. Consideramos a aplicabilidade do subprojeto de letramento em diferentes etapas, cumprindo com as responsabilidades acadêmicas e de exercício a futura docência. Ressaltamos que esta experiência é riquíssima para o aprendizado da profissão e que tenta conciliar os dois momentos - teoria e prática, embora seja complexo, a mesma é considerada uma pré-formação das realidades enfrentadas pelo professor em sala de aula. Elaboramos um breve relato das ações realizadas com a regente na disciplina de língua portuguesa. Merecem destaque neste relato: as aulas ministradas, as observações do 3 http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 61 ambiente escolar, dúvidas, os questionamentos, frustrações, conflitos vivenciados nos períodos letivos de quatro anos de experiência ( 2010, 2011, 2012, 2013). Trabalhar com educação é estar constantemente em conflito, neste exercício de lecionar, as barreiras das relações humanas são permeadas pelo fazer diário de quem ensina e ao mesmo tempo aprende. Sabemos que a trajetória profissional exige um olhar humano, compromisso social, ação política, competência técnica e, principalmente, apropriação do conhecimento específico. Nick Yapp (1992) apresenta em seu livro, traduzido e adaptado em português, exemplos de homens considerados grandes professores, que sofreram as consequências por escolher a profissão de educadores: Ensinar é uma profissão muito antiga e vagamente reconhecida, que retoma a milhares de anos. Desde os tempos de Platão, Aristóteles, Sócrates (este condenado a beber cicuta), Jesus (que foi crucificado cruelmente), Russeau (que se suicidou), até nos nossos dias, quando vemos grande parte dos professores brasileiros suicidando-se ao abraçar essa profissão. Ganham pouco, trabalham muito, não são reconhecidos e ainda culpados do baixo nível de educação da população. O salário pago a um professor do 1º grau no Brasil funciona como uma tortura e punição àqueles que decidiram um dia ingressar no magistério (YAPP, pg.7 , 1992). A trajetória da profissão de educador no Brasil não é das mais valorizada quanto deveria ser. A forma discriminatória como a educação é tratada pelos nossos governantes desqualifica a ação e desvincula os recursos que deveriam ser investidos, principalmente na qualificação do profissional da educação. A escola não é a única responsável pela formação dos sujeitos da sociedade, é também responsabilidade de todas as instituições que visam à formação da cidadania. A desconstrução individualista e corporativista do sistema capitalista valoriza os cursos de direito, medicina e engenharia, citados por Yapp (1992), essas profissões cometem erros, e o discurso de condenação recaí na má formação destes profissionais, ou seja, o professor é sempre culpado? A escolha da natureza de ensinar exige que o sujeito que aprende ao mesmo tempo ensine e tenha a identificação com a natureza de ser docente. Outro fator importante é a empatia pelo sujeito que media este conhecimento, ou a conexão deste conteúdo com a realidade vivenciada. Para lecionar é necessário entender os limites do outro, sempre dosando o conteúdo, de acordo com as potencialidades, respeitando a idade cronológica, o desenvolvimento cognitivo e a capacidade de absorção naquele momento Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 62 de aprendizagem. O docente tem que se identificar com as contradições pertinentes ao convívio escolar, de acordo com Hall (2005); a identidade não é una, uma vez que é formada de acordo com as identificações do sujeito com os diversos grupos sociais, a que este está exposto ao longo de sua vida. (OLIVEIRA, 2009). Estas condições da atividade docente são exigências que ocorrem durante a vida profissional, não há como desviar dessa realidade do mundo escolar. Portanto, a escola deve aproximar a comunidade escolar (professores, alunos, pais, trabalhadores em educação) para que haja equilíbrio entre as partes. Buscar ter os pais como aliados, parceiros do ambiente escolar permitindo um diálogo sincero e cooperativo junto aos filhos, desta forma terão os professores como espelho ou como um orientador, mediando saberes na escolha de vida profissional, por isso a importância dos pais no desenvolvimento educacional dos filhos. Durante o período escolar no ensino fundamental e médio, é exigido do aluno que este reflita e defina o futuro profissional, essa escolha terá conseqüências que influenciarão o futuro deste. As escolhas não surgem a partir do nada, são construídas na prática cotidiana, e cabe ao educador orientar estas trajetórias para a formação do sujeito. O presente relato trata das experiências junto aos alunos do ensino fundamental e médio, propiciadas pelo PIBID. 1- OS DESAFIOS DO COTIDIANO ESCOLAR: PRIMEIRO DESENCONTRO Frequentar o ensino superior, não foi tão doloroso quanto entrar numa sala de aula do Ensino Básico, o desafio maior conduziu-nos a questionar: o que estávamos fazendo ali? Como ministrar uma boa aula? Como deveríamos reagir diante de tantos alunos, de personalidades diferentes? Como atraí-los para o conteúdo a ser ensinado? Como darmos conta de diversas opiniões e das dificuldades de cada sujeito que iríamos ouvir, além de conseguir o respeito dos alunos e, principalmente, acostumar com o pronome: professora!? Estas questões são parte das reflexões e observações sobre as metodologias de ensino de outros profissionais, os comportamentos, essenciais para a construção deste relato. Orientaram-nos a ouvir, observar a dinâmica da sala de aula, registrar os principais pontos da metodologia aplicada pelo professor regente, isso possibilitou a percepção, na inexperiência, do que envolve o processo de preparar aula. Aprendemos que ministrar a aula é muito mais do Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 63 que entrar na sala de ensino e pedir para o aluno abrir a página específica; ter que planejar é compreender como será transmitido o conteúdo ao aluno. Entender que cada professor tem uma maneira distinta de ministrar sua aula e cada aluno filtra esta aprendizagem no seu tempo e de forma muito particular e complexa. A aula inicial no Ensino Médio foi com alunos do primeiro ano, que estudam no período matutino e viriam para participar dos encontros oferecidos no período vespertino (contrarurno). O conteúdo a ser trabalhado seria para fins de estudo do vestibular e Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), na disciplina de Língua Portuguesa, provas que ingressam sujeitos nas universidades. Planejamos uma aula de leitura e interpretação (letramento) com questões do ENEM. Foi analisada a questão quadragésima primeira do ano de 2009. Os textos em pauta são: Ouvir Estrelas de Olavo Bilac e Ouvir Estrelas de Bastos Tigre. Resolvemos os detalhes para interpretação e comparação dos dois textos. Destacamos os textos estudados abaixo e os sentimentos de melancolia pertencentes aos dois tempos distintos, o grande desafio foi conduzi-los a LER com atenção e interesse. Percebemos logo de início que os textos não os envolviam, houve dificuldades com a interpretação das metáforas. Os recursos pedagógicos escolhidos não conseguiam sensibilizar os alunos, convencê-los a serem protagonistas ou cúmplices daqueles poemas. Era necessário fazer uma reflexão sobre o conteúdo aplicado e a metodologia que havíamos escolhido, gerou momentos de angústias e preocupações, mais tarde entendemos que a calma é um valor que devemos policiar em nossas atitudes. Compreender que o que faz sentido para um pode estar aquém ou além da compreensão do outro, nesse sentido, tivemos muita dificuldade e resistência, para trabalharmos satisfatoriamente os textos abaixo: 64 Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 Ouvir Estrelas Ouvir Estrelas "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo Perdeste o senso!"E eu vos direi, Que estás beirando a maluquice no entanto, extrema. Que, para ouvi-las muita vez No entanto o certo é que não perco o desperto ensejo E abro as janelas, pálido de De ouvi-las nos programas de cinema. espanto... Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo E conversamos toda noite, Que mais eu gozo se escabroso é o enquanto tema. A Via Láctea, como um pálio Uma boca de estrela dando beijo aberto, É, meu amigo, assunto pra um poema. Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e Direis agora: Mas enfim, meu caro, em pranto, As estrelas que dizem? que sentido Inda as procuro pelo céu deserto. Têm suas frases de sabor tão raro? Direis agora: "Tresloucado amigo! Amigo, aprende inglês para entendê-las, Que conversas com elas? Que Pois só sabendo inglês se tem ouvido sentido Capaz de ouvir e de entender estrelas. Tem o que dizes, quando não estão contigo?" TIGRE, Bastos. Ouvir Estrelas. In: E eu vos direi: "Amai para Becker, I. Humor e entendê-las! humorismo:Antologia. São Paulo: Pois só quem ama pode ter ouvido Brasiliense, 1961. Capaz de ouvir e de entender estrelas". BILAC, Olavo. Ouvir estrelas, In: Tarde, 1919. Assim a atividade teve a proposta de estudar as funções da linguagem, a qual era pedida no próprio exercício. De tal trabalho tivemos que analisar frase por frase nos textos, para saber a resposta exata da questão. Havia cinco propostas, mas só uma poderia estar correta, que no trecho “Uma boca de estrela dando beijo/ É, meu amigo, assunto pra um poema”, exibe com clareza a função metalinguística. As outras quatro propunham: Função denotativa para o texto de Bilac e conotativa para o texto do Tigre; A visão de que as estrelas no texto de Bilac são distantes, e no texto do Tigre elas são acessíveis ao ponto de escutá-las; O texto do Tigre a linguagem é mais formal, destacando algumas partes de trechos como “dir-vos-ei sem pejo” e “entende-las”; E no texto Tigre, enfatiza na última estrofe do seu poema uma visão romântica, para alcançar as estrelas. Interpretamos também cada uma destas propostas para identificar o desacerto. Houve muita ansiedade e expectativa em relação às obras: Ouvir Estrelas, de Olavo Bilac e Ouvir Estrelas de Bastos Tigre. Nesta atividade somente três alunos Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 65 compareceram, frustrando as expectativas iniciais do planejamento. Hoje após quatro anos de participação no PIBID, analisamos este fato e percebemos que quantidade não significa qualidade, mas que é importante planejar para organizarmos nossas ideias e reflexões, avaliações, para termos e sermos mais seguros e confiantes no trabalho a ser executado. A decepção inicial com o planejamento da aula deveu-se em parte a não compreensão de que a aprendizagem é um processo, e como tal é construção diária, sendo que a principal característica deste é sua flexibilidade. Preparar o conhecimento é dar um norte, o planejamento é um instrumento de condução do saber que o sujeito cria e recria, nas interações de aprendizagem. Não temos o controle da aprendizagem dos alunos, podemos só estimulá-los. Yapp (1992) emprega uma comparação entre duas disciplinas do cotidiano escolar: Português e Literatura para evidenciar a frustração do ensino de língua: A diferença entre uma lição de Português e uma de Literatura é que, na segunda, as crianças se saem muito bem. Português é uma matéria que, quanto mais você ensina, mais você descobre que não sabe ensinar. E o aluno, quanto mais aprende, mais descobre que você não sabe ensinar. Resultado: você passa a ensinar cada vez menos e os alunos, a detestar cada vez mais a língua de Cabral (YAPP, pg. 36, 1992). Este trecho ressalta com clareza as dificuldades do professor de Língua Portuguesa, e resumem as que como professor iniciante enfrenta nos primeiros dias de aulas. No decorrer da atuação na área, felizmente, contamos com auxílio da profissional do Ensino Básico que nos orientou dos momentos de angústias, de medo e das dificuldades. A regente orientou-nos no sentido de que não deveríamos querer ser uma enciclopédia, de nunca esquecer que também somos humanas e trabalhamos com outros seres humanos, policiando a relação de poder, ao entender que nem sempre saberíamos tudo, e que isso era natural no processo de ensino aprendizagem. De que seria necessário ter um plano “B” para situações imprevisíveis do cotidiano escolar, a fim de auxiliar o aluno, pois tudo era novidade na nossa formação. Percebemos em nossas observações a necessidade de auxiliar alunos que estão se preparando para o ENEM e vestibular, pois de acordo com a professora regente os alunos do Ensino Médio só valorizam a disciplina de português nos últimos anos do percurso escolar. A não compreensão de tal fato provocou alguns desencontros no começo das aulas, mas com o Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 66 decorrer das atividades, percebemos que isto era uma questão de tempo e interesse, afinal estávamos trabalhando com alunos do ensino médio, os mesmos provavelmente só valorizariam a disciplina no último ano. A necessidade foi estudar e procurar referências, dialogar com as colegas, observar mais as aulas, registrar pontos importantes, incluir algumas diferenças do docente da faculdade com os métodos do professor do Ensino Básico, nas aulas. A partir destes exemplos, os resultados viriam de respostas positivas, tanto o avanço na área acadêmica e na sala de aula, como por parte dos alunos, ainda houve circunstâncias falhas, mas nada que livros e a disciplina de estudar não melhorassem a capacidade de ministrar aulas e conexão entre teoria e prática. 2- PERCEPÇÕES DE UM TRABALHO METODOLÓGICO Nos próximos encontros, aguardamos ansiosamente para aplicar o conteúdo que havíamos planejado, desejávamos aprender mais ensinando. Estavam presentes na aula cinco alunos, foi uma alegria e ficamos motivadas ainda mais a continuar com o conteúdo. Trabalhamos no tema de leitura e interpretação, com mais segurança e confiança. Havíamos planejado uma aula com slides para utilizar os recursos que a escola oferecia, apontamos as imagens e escritas para maior aperfeiçoar a compreensão dos alunos. Interpretamos a primeira imagem e depois a segunda, fazendo a relação com o texto escrito. Segue abaixo a primeira imagem: Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 67 A moça e a Velha 2.1 A MOÇA E A VELHA Quando trouxemos esta figura, sobre a moça e a velha, percebemos que os textos elaborados pelos alunos estavam muito aquém da possibilidade de compreensão que era esperado daquela turma. Percebemos que, para a interpretação do modo que planejamos, era necessário ainda criarmos possibilidades de reflexão para que eles compreendessem a metáfora abstrata, e assim produzissem textos mais condizentes com a proposta inicial do trabalho que sugerimos. Neste sentido, nossa orientaçao foi a de trazer uma figura concreta visual enigmática, capaz de aguçar não só a observação, mas a indagação quanto a diferente forma do objeto concreto na sua representação. A sala ficou inflamada e atenta, a figura enigmática da mulher e da velha, ou de algo escondido na figura, havia provocado na sala um silêncio, um transe de desafio capaz de produzir o envolvimento de todos. Sentimos naquele momento a capacidade e o poder do conhecimento, da apropriação do saber e do pertencimento social. Em cada campo, a participação desses sujeitos ocorre na medida em que se apropriam das capacidades adequadas ao desempenho de suas funções e à prática das tarefas pertinentes (BORDIEU, 2009). Neste sentido, trabalhamos Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 68 o conceito de intertextualidade4 entre figura e descrição, de forma oral e depois no registro da ação e da intenção da figura. O tempo estava a nosso favor embora tenha passado rápidamente, foi prazeroso, assim entendemos que precisamos de desafios para desenvolvermos nossas capacidades. Esta imagem caracteriza a visão de mundos diferentes em um mesmo espaço. São aspectos relevantes, pois só enxergamos aquilo que realmente esperamos, ao abrirmos a mente para novas expectativas iremos ver outro lado, outros olhares. Esta foi uma interpretação complexa e sabemos que conseguimos conduzir a observação dos objetos pretendidos. A proposta da aula de leitura e interpretação, com alunos do primeiro ano do Ensino Médio, foi bem avaliada pelo professor regente presente na aula. Uma moça e uma senhora compõem a mesma imagem, mas podemos enxergar outras imagens, isto depende da capacidade de abstração de quem observa, o interessante é afirmar, a atividade estimulou a percepção de leitura e interpretação e desenvolveu a abstração mental. O desenvolvimento do trabalho se deu da seguinte maneira: leitura da imagem “A moça e a velha”, a primeira pergunta é: o que eles estavam vendo? Muitos responderam uma senhora, e outros responderam uma moça, mas poucos viram as duas. Então a leitura seguiu em grupos, uns auxiliariam outros para encontrar as duas mulheres, os dois objetos abstratos. Isso foi muito interessante, pois a mesma atividade ocorreu com outras turmas, nas quais aplicamos os mesmos objetos de ensino. 2.2 TURMA DA MÔNICA A próxima atividade trabalhou com discurso direto e indireto, representada pelo quadro da “Turma da Mônica”. Nosso objetivo destacou conceitos de pontuação e interjeição, a observação da estética e performance dos personagens, bem como o entendimento da imagem. O quadro retrata o diálogo de pai e filha, em que a menina quer que seu pai leia uma história, mas o mesmo afirma que está muito cansado e gostaria de repousar, a filha insiste e, 4 Bakhtin é um dos primeiros a substituir o recorte estático dos textos por um modelo onde a estrutura literária não é/ não está, mas se elabora em relação a uma outra estrutura [...] todo texto é absorção e transformação de outro texto. No lugar de noção de intersubjetividade instala-se a noção de intertextualidade (Kristeva, 1970). Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 69 por fim, ele cede à sua vontade e faz um pequeno intertexto com a ação do acontecido entre as histórias infantis. Nosso procedimento didático encaminhou a aula de leitura e interpretação de imagens por meio do diálogo oral, questionando a intenção do enredo, e textos escritos, avaliamos as partes, as cores, o conteúdo do texto relacionado, houve um momento em que a voz de cada aluno foi ouvida por todos. Para exemplificar o trabalho executado, apresentamos a ilustração da Turma da Mônica, fragmentado pelo quadro animado o que continua a instigar a imaginação de leitura imagética e textual proposto no texto. Turma da Mônica Mais uma etapa se finda e novos desafios com outros alunos e outras realidades, aparecem, outras orientações com outra forma de trabalhar, a proposta se renova na condução de nossa formação, pois sentimos mais segurança, auxiliamos novos estagiários que ingressaram no PIBID, e o trabalho continuou. 3- OUTROS DESAFIOS: FINAIS DE SEMANA Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 70 Outra etapa começou, novos desafios. Passaríamos a ministrar aulas aos sábados no período vespertino para alunos do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio. Como já sabíamos o que trabalhar com os primeiros, houve dúvidas com os dois últimos anos. A regente com a qual trabalhávamos, auxiliou nas dificuldades. Ficamos com as reflexões e preparamos aulas para poucos discentes, como de costume, principalmente devido o dia da semana escolhido, sábado. Os 1º e 2º anos seriam juntos, esteve presente um aluno representante de cada ano. Para nossa surpresa no 3º ano estavam presentes quinze alunos e preparamos atividades para dez. O objetivo de trabalho ainda é o mesmo, leitura e interpretação, então adequamos para conhecer a turma. Foram utilizadas aulas anteriores como, por exemplo, a imagem “A moça e a velha”, com a qual e obtivemos ótimos resultados. Inserimos atividades também de charges e quadrinhos que compunham as provas do ENEM de 2008. É uma tira do “O melhor de Hagar, o horrível”, que narra um fato, no qual Hagar chega à sua casa tarde, e Helga fica descontente pela ação do marido. Neste exercício foi abordada a diferença entre a língua coloquial e a língua culta, quando usar, o que usar, como estes planos são inseridos nos vestibulares. Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 71 Analisamos e interpretamos o espaço, o tempo, as vestimentas, a tira em preto e branco e as articulações dos personagens. Dentro destas exemplificações os estudantes deveriam identificar o trecho que apresenta o diálogo coloquial. A maioria respondeu que a fala coloquial era a de Helga no primeiro quadrinho, no qual a resposta foi positiva. CONCLUSÃO Nosso primeiro contato com ambiente escolar foi bem abstrato, inseguro, imediatista. As discussões com os profissionais que já estavam muito tempo no espaço educacional auxiliou no desenvolvimento do trabalho, aprendemos que na educação não podemos ser imediatistas, pois o ser humano não dá respostas de forma rápida, tudo no seu tempo. O conhecimento é construído, conquistado aos poucos, assim conseguimos a confiança dos mesmos, posso até confirmar que conquistamos o diálogo com outros Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 72 profissionais da unidade escolar. Também tivemos que conciliar o trabalho do PIBID, com a faculdade, que por sua vez cobra muito do nosso tempo, mas sem os conhecimentos adquiridos no curso, não teríamos conseguido vencer as barreiras. Outro obstáculo, que tivemos como um grande desafio para nosso crescimento, foi o de escolher com clareza os métodos de ensino e as atividades adequadas para os alunos, sempre buscamos ouvir as questões propostas por eles para aulas. O esforço destes estudantes resultou, mais uma vez, em felicidade e satisfação, pois hoje encontramos nos corredores da universidade uma aluna que participou dos encontros. Para aumentar a alegria dos professores e inclusive a nossa, esta mesma aluna entrou no projeto “Ciências sem Fronteiras” do Governo Federal. Na atualidade ela estuda em Portugal. Podemos não ter feito muito, mas só de termos lecionado para esta brilhante aluna e ver seu esforço de aprender, é uma enorme satisfação, e ainda mais tenho desejos de continuar na caminhada para ser professora e ver tantos alunos vencendo suas barreiras. O docente não tem a gratificação financeira que merece, o mesmo ocorre com as condições de trabalho, existem escolas, por exemplo, que não recebem merenda escolar, o quadro negro está todo desgastado, as carteiras e cadeiras todas depredadas, não esquecendo também do horário de trabalho do professor, o qual é um dos motivos da falta desses profissionais nas escolas, suas saúdes estão precárias. Com tudo isso perguntam o que esperamos de uma profissão assim, nossa resposta está em pauta neste texto, a realização de ter formado pensadores. Por fim, um curso de licenciatura não é a última escolha, é o início de muitos outros caminhos. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Questões de Literatura e Estética. São Paulo: Hucitec - UNESP, 1988 BORDIEU, Pierre. O poder simbólico: memória e sociedade. [Trad. Fernando Tomaz]. Rio de Janeiro RJ: Editora Bertrand Brasil S/A, 1989. pg.7-16; 59-73; 107-132. CORTEZ, Suzana. XAVIER, Antonio Carlos (orgs.). Conversas com Linguistas: Virtudes e controvérsias da Lingüística. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. Web Revista Diálogos & Confrontos Revista em Humanidades ISSN - 2317-1871 | VOL 02 – 1º Semestre – JAN – JUL 2013 73 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. 10ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. http://concursos-literarios.blogspot.com.br/2013/06/revista-elis-convite-para-3-edicao.html. Acesso em outubro, 2010. http://encantamentosdaliteratura.blogspot.com.br/2011/02/me-conta-uma-historia.html. Acesso em novembro 2010. http://vestibular.brasilescola.com/enem/prova-amarelaquestao-14.htm. Acesso em março, 2011 e outubro, 2013. http://vestibular.brasilescola.com/enem/questao-41-1.htm. Acesso em setembro, 2010 e outubro, 2013. http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid. Acesso em abril, 2013. KRISTEVA, Júlia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$julia-kristeva>. Acesso em abril, 2013. YAPP, Nick. Manual do blefador: Tudo o que você precisa saber sobre lecionar para não passar vergonha. Rio de Janeiro. [Trad. Adp. Editora Ediouro S.A.], 1992 OLIVEIRA, Adma Cristhina Salles de. Movimentos sociais e ação educativa : uma experiência em Mundo Novo - MS / Adma Cristhina Salles de Oliveira. – Londrina, UEL, 2010. 201 f. : il. RIBEIRO, Manoel Pinto. Nova Gramática Aplicada da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Metáfora, 2010.