CAPACIDADE DE SUPORTE: VOCÊ SABE CALCULAR?
Rogério Marchiori Coan 1
Ricardo Andrade Reis
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A taxa de lotação é definida como o número de animais pastejando uma unidade de área por
um determinado tempo. Essa definição, obviamente, é muito geral, e o tipo de animal deveria
ser definido (ovinos, bovinos, etc.) e, mais precisamente, a classe do animal (vacas em
lactação, novilhas, bezerros, etc.). Para facilitar comparações, a unidade animal (U.A. = 450 kg
de peso vivo) tem sido definida para os principais tipos de animais domésticos: ovinos e
bovinos. Associado a esse conceito, pode-se definir ainda a pressão de pastejo como sendo a
relação entre o peso animal (kg) e a quantidade de forragem disponível (kg animal/kg MS/dia).
Tem-se ainda a definição de forragem disponível, que é a quantidade de matéria seca (kg de
MS) disponível para cada 100 kg de peso vivo (P.V.) do animal por dia. A forragem disponível
poderá ser estimada mediante o uso da técnica do quadrado, sendo utilizado o quadrado com
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0,25 m (0,5m x 0,5m) para os capins de crescimento prostrado (Braquiárias, Tifton, Coast
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Cross, etc.), e de 1,0 m para os capins de crescimento cespitoso (Colonião, Tanzânia,
Mombaça, Elefante, etc.).
A técnica consiste em jogar o quadrado, aleatoriamente, na área em que se deseja estimar a
produção ou disponibilidade de forragem, quantas vezes forem necessárias, de forma a se ter
uma representação de todas as subáreas da pastagem. Vale ressaltar que um maior número
de quadrados irá permitir uma estimativa mais confiável e precisa, em razão da grande
variabilidade existente entre pontos em uma pastagem. Além disso, sugere-se, ainda, a medida
prévia da altura da forragem, de forma a se identificar áreas mais uniformes.
Uma vez feito isso, corta-se a forragem, conforme a altura de manejo recomendada para a
espécie em questão (Tabela 1), e pesa-se a amostra, obtendo assim o peso de forragem para
um número determinado de amostragens. Como exemplo, se for considerada uma pastagem
de capim Tanzânia que, após a amostragem de dez pontos, apresentou peso total de 17,0 kg,
ou seja, peso médio por quadrado de 1,7 kg, será obtido 1,70 kg/m2 e, se esse dado for
extrapolado para um hectare, chegar-se-á a uma disponibilidade de 17,0 toneladas de
biomassa/hectare ou 3,4 toneladas de matéria seca (MS), se for considerada a matéria seca do
capim como sendo de 20%.
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Zootecnista – Doutor em Produção Animal – Diretor da COAN Consultoria. E-mail: [email protected]
Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia – FCAV/UNESP – Campus de Jaboticabal. E-mail: [email protected]
Em relação à capacidade de suporte de uma pastagem, esta é conceituada como sendo a taxa
de lotação em uma pressão de pastejo ótima, durante um período de tempo definido, no qual
se obtém máximo ganho por área, sem causar a degradação da pastagem. A capacidade de
suporte das pastagens é bastante variável em função do solo, clima, estação do ano e espécie
ou cultivar forrageira, fatores esses que irão determinar a oferta de forragem ao longo do ano.
Além disso, o desempenho animal necessário ou desejado e o sistema de produção adotado
têm efeito marcante na capacidade de suporte da pastagem.
Tabela 1. Altura de manejo de algumas gramíneas forrageiras tropicais.
Espécies de Capim
Cultivares de Capim-elefante
Capins Colonião, Tobiatã, Tanzânia, Mombaça
Brachiaria ruziziensis e outros de porte
semelhante
Capins Gordura, Jaraguá, B. decumbens,
B. brizantha, Setária e outros de porte
semelhante
Capim Pangola, Coast Cross, Tifton 85
Altura (cm) do capim quando os animais
Entram no pasto
Saem do
pasto
60-80
30-40
50-60
25-30
30-40
20-25
30-40
15-20
25-30
10-15
É importante salientar que, na maioria dos sistemas de exploração de pastagens, é
praticamente impossível manter constante a oferta de forragem de alta qualidade durante o ano
todo, por causa da sazonalidade da produção e estádio fisiológico da planta forrageira. Assim,
é preciso ajustar a disponibilidade de forragem, por meio da alteração do número de animais
na área (taxa de lotação) ou através da oferta de alimento suplementar.
Em qualquer área sendo pastejada, quer seja em uma pastagem melhorada ou natural, a
produção animal por unidade de área é uma função da produção por animal e da taxa de
lotação, ou seja:
Produção animal / ha = produção por animal x número de animais / ha
O número de animais por hectare que a pastagem pode suportar por unidade de tempo é
basicamente função da produção de forragem, que será condicionada pelos fatores
edafoclimáticos e da planta forrageira.
É claro que há uma interação entre qualidade e produção, e mudanças nesses parâmetros são
fortemente afetadas pela taxa de lotação. Entretanto podem ser modificados de alguma forma
pelo manejo da pastagem.
Assim, o ajuste na pressão de pastejo deve ser realizado ajustando-se a quantidade de
forragem disponível ao longo do ano, sendo esse o mais importante fator de manejo e o
principal determinante da produção animal e composição botânica da pastagem.
O consumo de forragem é fortemente determinado pela qualidade e oferta ou disponibilidade
(kg de MS/100 kg PV) que, para uma mesma pastagem em determinado momento, varia
inversamente com a taxa de lotação. Enquanto o rendimento forrageiro da pastagem fixa sua
capacidade de suporte para uma determinada espécie, categoria e número de animais, a taxa
de lotação influencia a disponibilidade de pasto (kg de MS/animal/dia), isto é, a pressão de
pastejo a que a pastagem é submetida.
Para cada situação e momento, estabelece-se uma relação inversa entre taxa de lotação e
disponibilidade de forragem, pois deve-se assumir que a produção de forragem varia ao longo
do tempo em função das condições climáticas. Além desse aspecto, deve-se ter em mente que
o consumo de forragem, o pisoteio, a deposição de fezes e de urina e os locais onde os
animais se deitam podem alterar as relações entre forragem disponível e a taxa de lotação.
Pode-se assumir, basicamente, três possibilidades para pressão de pastejo: pastejo ótimo,
subpastejo e superpastejo, que são de grande importância, pois determinam a produção animal
e a condição da pastagem em termos de produção, área com espécies desejáveis, invasoras e
área descoberta, permitindo, assim, a avaliação da sustentabilidade do sistema (Figura 1).
Enquanto o pastejo ótimo representa o uso de taxa de lotação compatível com a capacidade de
suporte, o subpastejo caracteriza uma situação em que a taxa de lotação é baixa em relação à
capacidade de suporte da pastagem, havendo subutilização da forragem disponível. Nessa
condição, a oferta de forragem é alta, e o animal efetua o pastejo seletivamente, podendo
atingir máxima ingestão de forragem, conforme seu valor nutritivo e as características do
relvado.
Figura 1. Relações entre pressão de pastejo, ganho de peso por animal e ganho de peso por
unidade de área. Fonte: Mott (1960)
Quando ocorre subpastejo, a produção por animal reflete a qualidade do pasto, caso este seja
exercido por animais de alto potencial genético; entretanto, a produção por hectare é
comprometida em decorrência da subutilização da área, em função do aumento das perdas no
pastejo e do pequeno número de animais na referida área. Deve-se ter em mente que a
utilização da pastagem nesta condição ao longo da estação, notadamente nos capins de
crescimento ereto, resulta no acúmulo de forragem com alta proporção de caule, que afetará o
negativamente o consumo e conseqüentemente a produção animal.
O superpastejo caracteriza a situação inversa. A taxa de lotação é alta, em relação à
capacidade de suporte da pastagem. Assim, o elevado número de animais por unidade de área
implica em menor oferta de forragem por animal, não permitindo pastejo seletivo, implicando,
dessa forma, em dieta de menor qualidade e comprometimento da produção animal. Na
situação de superpastejo, tem-se a relação inadequada entre a quantidade de forragem
disponível e o número de animais mantidos no pasto, limitando o desempenho animal e a
sustentabilidade do sistema.
O uso de alta taxa de lotação em relação à forragem disponível, em um ponto em que há
alimento suficiente para atender a demanda dos animais, pode maximizar a produção por
unidade de área. O aumento nas taxas de lotação em relação à forragem disponível resulta em
diminuição da produção por área, por não compensar a acentuada redução no ganho por
animal, além de permitir o início do processo de degradação (Figura 1).
O modelo proposto foi desenvolvido para descrever a relação entre a pressão de pastejo e a
produção por animal e por área. O modelo assume que, sob condições relativamente uniformes
da pastagem, o consumo de forragem permaneceria constante sob uma grande variação na
pressão de pastejo, notadamente em condição de subpastejo (Figura 1).
À medida que a pressão de pastejo aumenta, é alcançado o ponto na qual quantidade de
forragem disponível se iguala aos requerimentos dos animais; e, em taxas de lotação acima
desse ponto, o consumo por animal é limitado, e a produção por animal declina (Figura 1).
Esse modelo apresenta uma pressão de pastejo ótima na qual obtém-se ganho menor por
animal do que aquele registrado na condição de subpastejo, mas pode-se atingir máximo
rendimento por área, sem, contudo, comprometer a sustentabilidade do sistema (Figura 1).
Dessa forma, tem-se uma taxa de lotação mais baixa para maximizar a produção por animal,
enquanto se observa uma taxa de lotação levemente mais alta para maximizar ganho por área.
Em taxas de lotação abaixo da ótima, o modelo prediz pequenas mudanças na produção por
animal com alterações na taxa de lotação, enquanto que, acima da taxa de lotação ótima, a
produção declina rapidamente com aumentos na taxa de lotação.
Na condição de superpastejo observa-se acentuado decréscimo na produção por animal e por
área, levando a uma condição que propiciará a degradação da pastagem e prejuízo ao sistema
de produção como um todo. E isso na verdade não é desejável nos sistemas de produção
estáveis.
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