SERVIÇO SERVIÇO Saúde Saúde Por todos os lados C erca de 20% da população brasileira possui reações alérgicas, uma hipersensibilidade do sistema imunológico – em geral, por predisposição genética atópica – frente a estímulos comuns do ambiente. O portador de alergia reage de maneira mais intensa do que outras pessoas a determinadas substâncias que penetram em seu organismo. As substâncias conhecidas por desencadear reações alérgicas são variadas, como alimentos, resíduos de insetos, descamação de animais, pólen de flores, ácaros, picadas de insetos, látex, medicamentos, cosméticos, produtos químicos, como corantes e metais. A exposição a essas substâncias (os alérgenos) pode ocorrer por inalação, ingestão, in- jeção ou pelo contato com a pele. Os sintomas mais comuns associados a alergias são crises de espirros, nariz entupido, coriza, tosse, coceira e olhos lacrimejantes, coceira na garganta e no nariz, coceira na pele e erupções cutâneas, urticárias, edema (inchaço) nos lábios ou nas pálpebras, dor abdominal ou diarréia, conjuntivites, faringites, sinusites e otites, linhas escuras sob os olhos, cólicas estomacais, ansiedade ou falta de ar em reações anafiláticas. Se há suspeita de que algum desses sintomas foi provocado por uma alergia, é recomendável marcar uma consulta com um médico alergista, mas também pode ser consultado o especialista na área do corpo em que ocorrem os sin- ILUSTRAÇÕES ERIKA ONODERA Exposição ao ambiente e predisposição genética parecem atuar em conjunto para determinar que uma pessoa é alérgica tomas (otorrinolaringologista, dermatologista ou um pneumologista). CHOQUE ANAFILÁTICO Os sintomas de um choque anafilático são urticárias, inchaço nos lábios, língua e garganta, náusea, vômito, dor abdominal, diarréia, falta de ar, queda de pressão, con- Alimentos, medicamentos e látex A alergia alimentar é de difícil diagnóstico. Os alimentos que mais provocam alergia são leite de vaca, ovos, amendoim, mariscos e castanhas, e as reações comuns são náusea, vômito, diarréia, urticária, inchaço nos lábios, olhos, língua e também crise de asma. Casos mais graves de alergia a alimentos, sobretudo com frutos do mar como mariscos e crustáceos, resultam em choque anafilático. Mas o maior causador de reações letais são os medicamentos, sobretudo os analgésicos (ácido acetilsalicílico e dipirona), antiinflamatórios, antibióticos, relaxantes musculares e alguns anticonvulsivantes. Por isso, recomenda-se ao alérgico a remédios 36 Revista do Idec | Agosto 2005 manter essa informação impressa junto aos seus documentos pessoais. Carregar um cartão com os tipos de alergia pode ajudar médicos e equipes de resgate a tratar o paciente com precisão e rapidez. Há similaridades entre os alérgenos de látex e os de alguns alimentos. Pessoas alérgicas ao látex podem apresentar reações a banana, abacate, castanhas, maçã, cenoura, aipo, mamão, kiwi, batata ou melão. O látex está presente em curativos adesivos, luvas cirúrgicas e de limpeza doméstica, bicos de mamadeira, chupetas, bolsas de água quente, bexigas de aniversário, brinquedos e bolas de plástico, preservativos masculinos, diafragmas, roupas de laicra, entre outros produtos. vulsões e perda de consciência. Por surgirem rapidamente após o contato com o agente desencadeador, deixam pouco tempo para o atendimento hospitalar. Por isso, médicos de pessoas alérgicas podem recomendar que elas tenham sempre à mão um kit de emergência, a ser usado aos primeiros sinais de um choque anafilático. Deve-se aprender a usar o kit de forma correta, ensinar a família a usá-lo e também mantê-lo sempre à mão. Se uma criança corre risco de choque anafilático, recomenda-se manter o kit em casa, na escola e deixá-lo ao alcance de babás ou pessoas que se ocupem dela. RINITE E REAÇÕES NA PELE Dentre os tipos de alergia mais comuns está a rinite alérgica, uma inflamação da membrana interna do nariz. Seu fator de risco mais significante é o histórico familiar, e a rinite pode ser sazonal ou perene. A sazonal ocorre somente em certas épocas do ano, como primavera e outono, e está associada a reação a grãos de polens e fungos presentes no ar. Todavia, nas regiões onde é grande a concentração desses alérgenos, pessoas mais sensíveis podem apresentar sintomas – crises de espirro, coriza, olhos lacrimejantes – ao longo de todo o ano. A rinite perene está mais associada aos alérgenos presentes dentro de casa, como os ácaros. Manifesta-se antes por prurido nasal, coriza e obstrução nasal crônica que por espirros. O eczema – inflamação da pele – provocado por reações alérgicas manifesta-se com coceiras na pele antes mesmo das erupções. As lesões surgem, comumente, do lado interno dos cotovelos e atrás dos joelhos. Quando há contato direto com plantas, substâncias presentes em cosméticos, como níquel e cromo, ou com medicamento tópico, a pele pode coçar, tornar-se vermelha e inflamar-se. É o quadro característico da dermatite de contato. Já a urticária provoca na pele placas vermelhas inchadas, com coceira intensa, e pode surgir em diversos locais do corpo. Também são vários os fatores que geram surtos de urticária: alimentos, medicamentos, corantes alimentares, exercício, calor, fatores emocionais e picadas de insetos, entre outros. Embora a maioria das pessoas não seja alérgica a picadas de insetos, muitas apresentam reações no local. Em picadas de mosquitos ou pulgas, os sintomas mais comuns são vermelhidão, inchaço, dor e coceira no local, mas que desaparecem após algumas horas. As picadas de formiga podem formar bolhas e ser mais duradouras, e as de borrachudos podem provocar reações locais dolorosas que permanecem por vários dias. Já picadas de abelhas, vespas e marimbondos podem provocar reações intensas e crises anafiláticas. Começar em casa O s vilões mais comuns em ambientes fechados são fungos e alérgenos oriundos de animais. Encontrar os agentes e eliminá-los ou reduzi-los ajuda a tornar o ambiente mais seguro para os alérgicos. Em casa, o agente mais comum de alergias são as fezes e esqueletos dos ácaros, que se proliferam em estofados, alimentandose da descamação de pele humana e de fungos do ambiente. Assim, a primeira providência é eliminar da casa móveis estofados, carpetes e bichinhos de pelúcia e também o pó doméstico, onde se encontra o alimento desses animais. Outras dicas que podem ajudar: ● Substituir estofados com tecidos pelos forrados com couro ou vinil. ● Pisos de madeira ou cerâmica são mais indicados que carpete, e os tapetes devem ser constantemente aspirados e lavados. ● Cobrir cobertores, travesseiros, edredons e colchões com capas antialérgicas. A roupa de cama deve ser lavada toda semana com água quente. Travesseiros e almofadas com penas e algodão devem ser substituídos por outros com enchimento sintético. ● Passar aspirador semanalmente e usar filtros para reduzir os ácaros dos tapetes, cortinas e embaixo das camas. MOFOS E ANIMAIS O mofo pode ser um problema sério para muitos alérgicos. Os pequenos esporos de fungos estão presentes no ar e podem causar sintomas alérgicos quando inalados por pessoas sensibilizadas e costumam se proliferar em locais com condições adequadas de umidade e nutrição. Nas moradias, devem-se adotar cuidados especiais contra a proliferação de fungos em áreas habitualRevista do Idec | Agosto 2005 37 SERVIÇO SERVIÇO Televisão Saúde mente úmidas, como banheiro, cozinha, área de serviço e paredes por onde passam os encanamentos. Talvez seja uma surpresa a descoberta de que não é o pêlo do cão ou gato que provoca reações alérgicas. Os sintomas são provavelmente causados pelas proteínas existentes na saliva, urina e nas partículas de pele do animal. Levadas pelo ar, essas minúsculas proteínas chegam ao nariz, aos olhos e pulmões da pessoa suscetível e causam os sintomas alérgicos. Não ter animais em casa é a melhor maneira de evitar o problema. Se isso não for possível, sugerimos meios de limitar o contato com o animal: ● Manter o bichinho fora dos ambientes onde o alérgico passa muito tempo. ● Pedir para outra pessoa escovar o animal fora de casa para remover pêlos soltos e alérgenos. ● Forrar almofadas e edredons com capas plásticas. PÓLEN Os polens são as células masculinas necessárias para a fertilização e a reprodução das plantas, e são mais comuns durante a primavera e o outono. Eles são aspirados por estar dispersos no ar, produzindo sintomas respiratórios sazonais em pessoas alérgicas. Seguem-se algumas sugestões para se evitar a ocorrência dessas reações: ● O pólen é liberado entre as 5h e 10h da manhã, por isso recomenda-se diminuir as atividades fora de casa nesse período, principalmente em áreas ajardinadas. ● Manter as janelas fechadas durante a noite evita que o pólen entre em casa. Ligar o ar-condicionado também ajuda a circular, limpar e refrigerar o ar. ● Evitar os locais abertos em dias de muito vento, quando o pólen e a poeira são soprados para todos os lados. ● As roupas em geral e as roupas de cama devem ser lavadas com água quente e secadas em máquinas, pois os polens podem impregnar os tecidos pendurados no varal. ● O corte de grama espalha os polens. O alérgico não deve fazer isso, e também deve evitar passar por locais com grama recém-cortada. Educação é parte do tratamento de asma Na faixa etária dos 13 aos 14 anos, 30% das crianças da cidade de São Paulo sofrem de rinite e 15%, de eczema tópico. Já entre as crianças menores, de 3 a 7 anos, a prevalência de asma é de 22%, de rinite é de 34,7%, e de eczema, 13,2%. A pesquisa é da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). De acor- do com a médica responsável pelo ambulatório de alergia do Departamento de Pediatria dessa universidade, Márcia Carvalho Mallozi, as crises de rinite alérgica e de asma ocorrem com maior freqüência em crianças, principalmente nos meses do outono. A asma alérgica gera crises de falta de ar, ruído no peito e tosse, e pode ser desencadeada por ar frio, vapor d’água, hiperventilação, exercício, ingestão de medicamentos como aspirina, propanolol, antiinflamatórios, ácido cítrico, presença de ácaros, entre outros. A orientação médica preventiva é importante no caso do asmático, já que, dependendo da gravidade do caso, é essencial a ingestão de medicamentos para evitar as crises. Uma vez por ano a Associação Brasileira de Asmáticos (Abra) reúne médicos e leigos na luta pela implantação da educação como parte do tratamento da asma e realiza uma jornada em um parque da cidade visando a conscientização do asmático sobre as noções básicas da doença, formas de prevenção e tratamento contínuo. Por meio de reuniões, palestras educativas e outras ações a Abra visa a melhora da qualidade de vida do asmático. O site da entidade contém as perguntas mais freqüentes de um portador de asma sobre a doença e as respectivas respostas fornecidas por especialistas. Serviço Associação Brasileira de Asmáticos http://www.asmaticos.org.br Tel.: (21) 2210-2810 e (11) 3501-8854 Tarja preta no merchandising O Idec pede inclusão de frase informativa nas inserções publicitárias veiculadas durante programas A pós a realização da pesquisa “Merchandising em programas femininos” pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o ComSenso (veja a REVISTA o DO IDEC n 86, março de 2005), o Idec solicitou às principais emissoras de televisão do Brasil (Rede Globo, TV Gazeta, Rede TV!, SBT, Rede Record e Bandeirantes) que fosse incluída uma tarja com a frase “informe publicitário” sempre que for veiculado o merchandising, como já acontece em jornais e revistas. A exigência baseia-se no Código de Defesa do Consumidor, que estabelece, em seu artigo 36, que “a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal”. Gazeta, Globo, Record e SBT não responderam ao Idec. A Bandeirantes informou que respeita o CDC e a legislação que regula a propaganda, pois as telespectadoras identificam a publicidade pela presença de uma “merchandete”, o que, evidentemente, trata-se de um ardil para desrespeitar a lei. A Rede TV!, por outro lado, aderiu ao pedido do Idec e incluiu a frase durante os merchandisings de todos os programas de sua grade. COMPETIÇÃO SAUDÁVEL O Idec considera a inserção da tarja de alerta uma vitória, pois cria um precedente competitivo favorável ao consumidor, que identificará quem respeita seu direito básico à informação. O Instituto também contatou a Co- missão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle do Senado, o Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar), a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Federal, o Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça do Consumidor (Cenacon) e o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça. A comissão do Senado não respondeu à solicitação, o Conar encaminhou a carta ao seu conselho superior, e a comissão da Câmara Federal remeteu o pedido do Idec ao DPDC e ao Conar. O Cenacon e o DPDC pediram cópia do estudo realizado pelo Instituto Patrícia Galvão. Para o Idec o assunto ainda não está esgotado e o próximo passo será examinar os produtos anunciados nos merchandisings à luz do CDC. A prática disfarçada do merchandising nos programas de TV é uma das preocupações do Idec Merchandising e oferta das emissoras Algumas táticas são comuns a todos os merchandisings. A duração média das inserções é de 2 minutos, a compra do produto é acompanhada de brindes e promoções; o pagamento é parcelado, o que incentiva a aquisição; há um forte apelo quanto ao uso do produto (“não tem contraindicação”, “qualquer um pode usar”) ou do serviço. As emissoras, por sua vez, possuem técnicas para atrair anunciantes, e o filão é atraente, pois a veiculação pode ser fracionada e envolver o testemunho do apresentador, que tem cachê próprio. Outros fatores que entram no preço da inserção são o tempo de veiculação, a visualização do produto e a presença de animações em 3D. Revista do Idec | Agosto 2005 39