O CONCEITO DE INOVAÇÃO NA VISÃO DO TECNOLÓGO: UMA ANÁLISE NOS CURSOS DE GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E ANÁLISE DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS. Autoria: Adriano Carlos Rosa, Vanessa Gatto Chimendes, Roberto José Carvalho Resumo Este artigo tem o objetivo de identificar e analisar o conceito de inovação na percepção dos alunos de um curso de formação para tecnólogos, tanto em relação ao ambiente de sala de aula como em relação ao professor. Para tanto se aplicou uma pesquisa de caráter exploratório através do método denominado “Grupo Focal”, com os resultados sendo tratados de forma qualitativa. A análise dos resultados mostra que os alunos “categorizam” os professores de acordo com os métodos utilizados e o seu comportamento em sala de aula. Valendo-se de um conjunto de características como ponto de partida, os discentes tendem a “rotular” os docentes em dois grupos específicos: os tradicionais e os inovadores. Além disso, os alunos valorizam ambientes que possibilitem a liberdade de expressão e que contemple diversos recursos tecnológicos. Palavras-Chave: Aula, Inovação, Ambiente, Professor. Abstract This article aims to identify and analyze the concept of innovation in students' perceptions of a training course for technologists, both in relation to the environment of the classroom and in relation to the teacher. For both applied research through exploratory character of the method called "Focus Group", with the results being treated in a qualitative way. The results show that students "categorize" the teachers according to the methods used and their behavior in the classroom. Drawing on a set of features as a starting point, the students tend to "label" the teachers into two specific groups: the traditional and the innovative. Additionally, students value environments that allow freedom of expression and that include many technological resources. Keywords: Class, Innovation, Environment, Professor. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 1 1. INTRODUÇÃO A busca de uma nova percepção de mundo depende das transformações ocorridas e dos processos ainda em transformação. Estas mudanças demandam pensamentos complexos e novos conhecimentos relacionados com vários conceitos de diversas disciplinas. Para Morin (2006) a educação necessita de uma reforma. A educação do futuro necessita resgatar o ser humano e as características que lhe conferem essa condição. O autor questiona os estudos cada vez mais isolados, mais específicos e particulares. Os especialistas deixam de ver o todo e as relações existentes neste todo. Assim, a visão e a razão tornam-se fragmentadas, criando verdades ilusórias, não reais. Morin (2000) declara existir uma inadequação cada vez maior e mais grave entre os saberes separados, fragmentados e compartimentados entre disciplinas. Para Coelho (2003), não há dúvida de que este é o grande problema atual do ensino e da pesquisa: o conhecimento não pode mais ser isolado, mas conectado em suas complexas relações com o contexto a que pertence. Chimendes (2011) entende que com essa visão, a inovação e a busca por mudanças precisam ser incorporadas, também, pelos processos educacionais, demandando atualizações constantes por parte dos professores/pesquisadores, que devem sempre estar situados em todos os contextos da sociedade e esferas da vida humana, já que tudo no universo se relaciona. Para a autora a educação é direito básico de todos os cidadãos, é a base da atividade humana e é fundamental no caminho para a superação das crises econômicas mundiais. Neste contexto, considerada a educação como denominador comum, ela é o caminho para soluções que permitam o desenvolvimento equitativo e sustentável de um mundo globalizado. A educação de qualidade, acessível a todos, é um processo de longa duração. O conhecimento deve ser visto como ponto central para possibilitar o surgimento de novas estruturas econômicas e sociais. Ciência e educação são as principais alavancas do progresso econômico. A diferença entre os países é, então, demonstrada pelas diferenças na produtividade total dos fatores de produção, associada com o progresso tecnológico. Adotar tecnologias já existentes também tem um custo: o desenvolvimento da capacidade de absorver a tecnologia e o aprendizado. O sucesso das empresas e o nível de desenvolvimento das nações são fatores muito dependentes da forma como se produz e como se utilizam os conhecimentos científicos tecnológicos e o processo de inovação. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 2 Este artigo tem o objetivo de identificar e analisar o conceito de inovação na percepção dos alunos de um curso de formação para tecnólogos. Para tanto se aplicou uma pesquisa exploratória através do método denominado “Grupo Focal”, com os resultados sendo tratados de forma qualitativa. Está estruturado da seguinte forma: No capítulo 1 consta este texto introdutório, no capítulo 2 a revisão da literatura onde são conceituados inovação, ambiente e sala de aula inovadora, disciplina e professor inovador e o papel da universidade transformando a sociedade, no capítulo 3 é descrito o método do Grupo Focal e respectiva aplicação, no capítulo 4 consta a análise de resultados seguido da conclusão. 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. INOVAÇÃO Inovação é um termo que vem do latim innovare e significa “fazer algo novo”. Freeman (1982), estudioso e pioneiro da inovação define inovação como “... o processo de tornar oportunidades em novas ideias e colocar estas em prática de uso extensivo”. Para Porter (1985) a inovação é como um processo que engloba melhorias tecnológicas e melhorias no método de realizar as tarefas. Drucker (1986) conceitua a inovação como algo que não precisa ser técnica, não precisa sequer ser uma “coisa”, pois, poucas inovações técnicas podem competir, em termos de impacto, com as inovações sociais, como o jornal ou o seguro. Outro exemplo foram as compras a prazo literalmente transformaram as economias. Conforme Caldas (2001) “inovação é o uso criativo desse conhecimento que pode gerar novos produtos, processos e serviços”. Para Plonski (2005) “o processo de inovação é atualmente entendido como interativo, dependente das diferentes características de cada agente e de sua capacidade de aprender a gerar e absorver conhecimentos”. A importância da inovação tecnológica no desenvolvimento econômico foi amplamente estudada por Schumpeter na primeira metade do século XX. Schumpeter (1911) procura estabelecer de onde vêm as inovações, quem as produz e como são inseridas na atividade econômica. Embora os desejos e necessidades dos consumidores sejam elementos importantes no processo de inovação e difusão da tecnologia, ele descarta a hipótese de que a origem da inovação esteja baseada nos desejos e necessidades dos consumidores. Para o autor, a inovação é vista como o conjunto de “novas combinações”: ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 3 INTRODUÇÃO DE UM NOVO BEM: um bem com que os consumidores ainda não estejam familiarizados. INTRODUÇÃO DE UM NOVO MÉTODO DE PRODUÇÃO: um método que ainda não tenha sido testado na indústria de transformação ou que de algum modo precisa ser baseado em uma descoberta cientificamente nova, e pode consistir também em uma maneira nova de manejar comercialmente uma mercadoria. ABERTURA DE UM NOVO MERCADO: um mercado ainda não explorado por um ramo particular da indústria de transformação do país, quer esse mercado tenha existido antes ou não. CONQUISTA DE UMA NOVA FONTE DE MATÉRIA PRIMA OU DE BENS SEMIMANUFATURADOS: independentemente do fato de que essa fonte já tenha existido ou teve de ser criada. ESTABELECIMENTO DE UMA NOVA ORGANIZAÇÃO DE QUALQUER INDÚSTRIA: criação de um monopólio ou fragmentação de um monopólio já existente. É importante destacar no pensamento de Schumpeter, sua contribuição à ênfase atribuída ao empreendedor e, em especial, às inovações tecnológicas. Portanto, pode-se afirmar que a inovação relaciona-se a produtos, processos e serviços e incorpora um sentido mais amplo considerando as inovações de gestão e de negócios. 2.2. AMBIENTE E SALA DE AULA INOVADORA O ensino superior apresenta em sua maioria uma prática pedagógica tradicional e conservadora - busca pela reprodução do conhecimento – o professor explica e a turma acompanha em silêncio. Esse retrato não acompanha mais os avanços tecnológicos e científicos que provocam mudanças na sociedade. A facilidade de acesso ao volume de informações torna a prática conservadora e tradicional obsoletos. Nesse contexto, o ambiente da sala de aula deve se transformar em um espaço para uma prática pedagógica mais eficiente e eficaz. Machado (2002) destaca que o ambiente educacional deve prover as pessoas de competências básicas, como a capacidade de expressão, de compreensão do que se lê, de interpretação de representações; a capacidade de mobilização de esquemas de ação progressivamente mais complexos e significativos nos mais diferentes contextos; a ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 4 capacidade de construção de mapas de relevâncias das informações disponíveis, tendo em vista a tomada de decisões, a solução de problemas ou o alcance de objetivos previamente traçados; a capacidade de colaborar, de trabalhar em equipe e, sobretudo, a capacidade de projetar o novo, de criar em um cenário de problemas, valores e circunstâncias no qual somos lançados e no qual devemos agir solidariamente. Segundo Moran (2009) o conceito de curso e de sala de aula está mudando. Hoje, ainda entende-se por “aula” uma atividade com espaço e tempo determinados. Mas, esse tempo e espaço serão, cada vez, mais flexíveis. Por exemplo, o professor continuará "dando aula", mas, de uma forma menos informativa e mais gerenciadora. Entretanto, ele pode também utilizar as possibilidades que as tecnologias interativas proporcionam para alimentar continuamente os debates e pesquisas com textos, páginas da Internet, até mesmo fora do horário específico da aula, receber e responder mensagens dos alunos, criar listas de discussão etc. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de professor e aluno estarem todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes. Assim, poderão estar motivados, se entenderem a “aula” como pesquisa e intercâmbio. Nesse processo, o papel do professor vem sendo redimensionado e cada vez mais ele se torna um supervisor, um motivador, um incentivador dos alunos na busca pelo conhecimento. Ribeiro e Oliveira (2009) destacam a importância dos “trabalhos de campo” que permitem ultrapassar as fronteiras de uma sala de aula; tornando-se um instrumento importante na realização do processo de ensino e aprendizagem. Cabe ressaltar que apenas definir critérios e ações não representa arranjar amarras efetivas, pois, como alerta Messina (2001) “mais do que nos interessarmos pela identificação de critérios para reconhecer inovações, poderíamos criar também espaços que promovessem a possibilidade do pensar e do fazer reflexivos, em que as inovações teriam a oportunidade de apresentar-se, contradizer e transformar”. 2.3. DISCIPLINAS E PROFESSORES INOVADORES Importante refletir sobre a atividade do professor universitário como articulador e mediador entre o conhecimento elaborado e o conhecimento a ser produzido considerando que o papel da educação está na necessidade de construção e reconstrução do homem e do mundo. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 5 Explica Pelizzari (2002) que o conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo, ou seja, ele tem que ser lógico e psicologicamente significativo. O significado lógico depende somente da natureza do conteúdo, e o significado psicológico é uma experiência que cada indivíduo possui. Cada aprendiz faz uma filtragem dos conteúdos que têm significado ou não para si próprio. O professor não deve ficar "preso" às quatro paredes da sala de aula. A atual dinâmica do mercado de trabalho exige que se estimulem os alunos a desenvolver projetos que conduzam o processo educativo à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade. É necessário que os estudantes participem de aulas com técnicas de ensino diversificadas experimentando diferentes situações de aprendizagens, através de uma metodologia mais dinâmica e atualizada. A busca constante da ação-reflexão-ação apresenta-se como a método mais indicado para construir o processo de mudança que favorecerá a educação de qualidade, pois, os profissionais de hoje precisam estar em constante formação, ser autônomos, com capacidade para tomadas de decisões, trabalharem em grupo compartilhando suas conquistas. (ARAÚJO, 2009). Sendo assim, as atuais metodologias de ensino devem possibilitar a superação de um enfoque pedagógico centrado apenas na transmissão de conteúdos, exigindo dos professores uma nova postura que possibilite ao aluno um fazer autônomo, crítico e criativo contemplando a flexibilidade, a interdisciplinaridade e a contextualização. Essa abordagem exige a adoção de uma nova proposta metodológica onde o ensino deve voltar-se para a valorização das experiências pessoais do aluno, possibilitando ao professor ser parceiro no processo de aprendizagem, onde os conteúdos sejam significativos e atualizados. (FERREIRA; CARPIM e BEHRENS, 2010) Nesse sentido, os alunos valorizam o professor que possui uma abordagem pedagógica diferente da tradicional, sendo capaz de usar outras técnicas de ensino de forma criativa. (JARDILINO, AMARAL e LIMA, 2010). Ou seja, para que a aprendizagem ocorra de maneira efetiva faz-se necessário uma prática pedagógica que contemple a elaboração de projetos que estimulem a investigação de situações reais, possibilitando ao aluno contextualizar o que foi apresentado em sala de aula. Essa metodologia possibilita perceber o aluno não somente como objeto, mas principalmente como o sujeito e o produtor de seu próprio processo de desenvolvimento. Zaslavsky (2007) enfatiza que a finalidade do ensino não é apenas transmitir conhecimentos; o desafio educacional precisa ir além desse paradigma , chegando até a ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 6 formação da autonomia do aluno, ou seja, da liberdade com responsabilidade. Portanto é importante a valorização de espaços que oportunizem a liberdade de pensamento do aluno , o que significa liberdade de expressão . O cumprimento de regras é devido à responsabilidade e não ao medo, porém como esperar responsabilidade, se não houver liberdade? No entanto, não se pode esperar que, de uma hora para outra , a mera presença da liberdade traga a responsabilidade . A integração entre a liberdade e a responsabilidade deve ser gradual, até tornar-se uma cultura na instituição de ensino. Um aspecto importante em práticas inovadoras de ensino é a interação verbal entre professor e aluno, uma vez que através da mesma podem-se identificar características importantes dos alunos , tornando possível conhecê -los, avaliá-los e interferir positivamente no aprendizado dos mesmos. (BARBOSA; COSTA e SANTOS, 2011). Para Zabala (1998) e Masetto (2003) os alunos possuem um papel determinante , na medida em que o ensino está nele centrado. Ao professor cabe o papel de facilitador da aprendizagem do aluno, estimulando e conectando os conhecimentos expostos por ele e aqueles que se construíram na interação professor/aluno. As características pessoais do professor interferem positivamente na relação com o aluno e no seu processo de aprendizagem Nesse processo de interação, conforme Jardilino, Amaral e Lima (2010, p.117), “são fundamentais a comunicação , a relação que respeita a idiossincrasia dos atores , o conhecimento da área alvo do aprendizado , o domínio de técnicas instrucionais , já que o foco é o aluno e não o método, o professor ou a instituição”. A possibilidade de um ensino de qualidade também passa pela qualidade do ambiente da sala de aula. Além dos recursos didáticos já consagrados no contexto escolar, a utilização de novos recursos, tanto físicos como tecnológicos podem dinamizar as formas de obter conhecimentos em prol de uma educação de qualidade. Viscovini et al. (2009) argumentam que em um contexto de intensas mudanças, podese acessar diversas técnicas e materiais de apoio pedagógico com o intuito de apoiar a atividade do professor. Como resultados dessa tendência surgem duas necessidades: atualizar o professor frente às necessidades tecnológicas impostas por novas demandas de ensino e priorizar investimentos em recursos que propiciem mais conforto ao aluno, contribuindo para elevar a autoestima e, consequentemente, a motivação do aluno no processo de aprendizagem. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 7 2.4. O PAPEL DA UNIVERSIDADE TRANSFORMANDO A SOCIEDADE Como já comentado a formação educacional tem um lugar prioritário nesta nova realidade mundial, pois países líderes demonstram a capacidade de desenvolvimento de novas tecnologias e a facilidade na assimilação e manuseio de novos processos, enquanto os países com problemas de déficits educacionais perdem competitividade e aumenta assim sua dependência. Portanto, a universidade cumpre o papel de transformar a sociedade. Para Santos (1997), tanto o modelo pedagógico quanto a pesquisa e o saber produzidos na universidade apresentam sinais de degradação, porque a própria ideia de universidade está em crise. A crise da universidade manifesta-se de diversas formas e para este autor pode ser qualificada em três amplos aspectos, entre si relacionados: crise de hegemonia, crise de legitimidade e crise institucional, frutos da crise da própria modernidade. Conforme Cabral (2008) na atualidade, possivelmente o descompasso que se deixa transparecer, pode ser atribuído às transformações sociais e às séries de reformas educacionais, que ao longo do tempo, que ao invés de fortalecê-la, vieram deformando sua ação e compreensão por parte da sociedade civil. Pode-se pensar que durante todos esses anos, tudo mudou, menos a escola, que foi mantida nos moldes tradicionais. O aluno tende a ser um sujeito ativo no processo, não sendo considerada uma vasilha para deposição de conteúdos previamente elaborados (FREIRE, 1983) Bernheim e Chauí (2003) citam a Declaração Mundial sobre Educação Superior que reconhece, no seu preâmbulo, a importância estratégica da educação do terceiro nível na sociedade contemporânea. A análise das relações entre sociedade e universidade é um dos principais temas na agenda de estudos sobre a educação superior. Os autores expõem que o mundo acadêmico deve envolver-se mais com os processos sociais, econômicos e culturais, mantendo as características que a distinguem como academia. É o que citam os parágrafos da Declaração Mundial (Art. 2), que indicam que as instituições de educação superior devem preservar e desenvolver suas funções fundamentais, submetendo suas atividades às exigências da ética e do rigor científico e intelectual. O reconhecimento dado pela sociedade à autoridade intelectual das instituições de educação superior, conforme a Declaração está intimamente associada à sua capacidade de se expressar sobre os problemas éticos, culturais e sociais de forma completamente independente e com plena consciência das suas responsabilidades. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 8 Para Guadilla (1996), o debate sobre a função social das universidades está evoluindo para a questão de como estabelecer laços estreitos entre as universidades e o mundo do trabalho. O autor considera que o relacionamento entre universidade e sociedade deveria ultrapassar o aspecto universidade/setor produtivo, e desenvolver sua missão de produção de conhecimento e formação de profissionais e especialistas, estendendo seus serviços a todos os setores da sociedade – incluindo aqueles excluídos por razões econômicas ou outros motivos – a fim de preencher a sua missão. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 9 3. MÉTODO A pesquisa realizada, de caráter qualitativo aplicada, utilizou-se da técnica de Grupo Focal (focus group) para o levantamento de dados que se possibilita a análise crítica do tema proposto neste artigo. Segundo Morgan (1997 apud GUI, 2003) o grupo focal utiliza a interação grupal para obter uma razoável quantidade de percepções a respeito de tópicos propostos pelo pesquisador em um limitado período de tempo. No grupo focal não se busca o consenso e sim a pluralidade de ideias, possibilitando aos participantes um debate no qual seja possível expor suas próprias opiniões ou influenciar as opiniões dos demais. Caberá ao pesquisador a preparação dos participantes para a discussão estimulando intervenções espontâneas (REY, 2002). Para Berg (1998 apud GUI, 2003) a técnica de grupo focal necessita o atendimento de alguns fatores, os quais se destacam: Objetivo de pesquisa claramente definido; Adequação da composição do grupo para os objetivos da pesquisa; Clima de confidencialidade em relação aos assuntos discutidos e facilitação da fala espontânea dos participantes; Atenção do moderador na condução da sessão. Assistentes que ajudem a registrar as informações de maneira a permitir uma posterior análise de conteúdo. Para a aplicação do grupo focal foi definida uma amostra intencional que representasse a percepção de alunos de um curso superior de tecnologia. Foram escolhidos os cursos de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) e Gestão da Tecnologia da Informação (GTI) de uma unidade da FATEC (Faculdade de Tecnologia) do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS) em função da constante interação, ao longo do curso, com o tema “inovação”. Realizaram-se 12 sessões ao longo do mês de outubro/2012, abrangendo um total de 12 turmas (semestres) sendo 6 turmas de ADS e 6 turmas de GTI onde aproximadamente 300 alunos (25 alunos por turma) foram ouvidos. As sessões foram realizadas em sala de aula e foram sempre moderadas por um dos autores deste artigo, com o apoio de outros dois professores (também autores deste artigo) para anotar as “falas” dos alunos. As sessões foram limitadas pelos moderadores em um período de 30(trinta) minutos, preestabelecido como “suficiente” para a conversa e também a ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 10 fim de não tomar muito tempo da aula que a turma estava assistindo. Importante mencionar que dentro deste tempo as respostas eram estimuladas e adquiridas até o momento em que os alunos e moderadores concordassem para passarem para a próxima pergunta. Os professores dessas respectivas aulas foram contatados com antecedência para liberar a aplicação da pesquisa. A sessão propunha 4 questões: Qual é o conceito de inovação? O que é um ambiente inovador? O que é uma sala de aula inovadora? Como se caracteriza um professor inovador? Cada aluno podia manifestar-se a vontade em relação às respostas às questões propostas na sessão. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 11 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados que seguem são uma comparação entre o exposto teórico (conceito de inovação, ambiente inovador, sala de aula inovadora e professor inovador) e as respectivas respostas mais citadas pelos alunos. 4.1 - CONCEITO DE INOVAÇÃO A seguir são mostrados no quadro 1 a questão e respostas mais citadas sobre inovação (mínimo 1 e máximo 6 vezes citadas). QUESTÃO 1: Qual é o conceito de inovação? Quadro1: Conceito de Inovação Segundo os Pesquisados Analisando o Quadro 1 pode-se verificar que o entendimento dos alunos está muito ligado aos conceitos de “necessidade”, “melhoria”, “mudança” e “revolução”. Esta percepção dos alunos confirma a abordagem de Freeman (1982) ao enfatizar que a “inovação é o processo de tornar oportunidades em novas ideias e colocar estas em prática de uso extensivo”. Além disso, ao citarem “melhoria”, os alunos confirmam a definição de inovação dada por Porter (1985) como um processo que engloba melhorias tecnológicas e melhorias no método de realizar as tarefas. Os resultados apresentados no Quadro I também ratificam Schumpeter (1911) que defende o conceito de que a inovação precisa ser vista como um conjunto de “novas combinações”, ou seja, uma possibilidade de promover mudanças. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 12 4.2. AMBIENTE INOVADOR Abaixo são mostrados no quadro 2 a questão e respostas mais citadas sobre ambiente inovador (mínimo 1 e máximo 6 vezes citadas). QUESTÃO 2: O que é um ambiente inovador? Quadro2: Ambiente Inovador Segundo os Pesquisados No Quadro 2 verifica-se que as citações mais numerosas estão relacionadas aos conceitos de “liberdade de expressão”, “recursos”, “ideias diferentes” e “ambiente confortável”. Para Moran (2009) um ambiente inovador precisa ser flexível e utilizar novas tecnologias interativas, além de proporcionar debates e pesquisas. A percepção dos alunos também está de acordo com a visão de Jardilino, Amaral e Lima (2010) que defendem que em um ambiente inovador são fundamentais a valorização dos processos de comunicação e uma relação que respeita a diferença de ideias dos seus integrantes. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 13 4.3. SALA DE AULA INOVADORA Abaixo são mostrados no quadro 3 a questão e respostas mais citadas sobre sala de aula inovadora (mínimo 1 e máximo 6 vezes citadas). QUESTÃO 3: O que é uma sala de aula inovadora? Quadro3: Sala de Aula Inovadora Segundo os Pesquisados No Quadro 3 as citações mais numerosas são: “disponibilidade de recursos tecnológicos”, “liberdade de expressão” e “conforto”, o que ratifica que uma sala de aula precisa ser entendida, necessariamente, como um ambiente inovador, dada a similaridade com as citações dos alunos para a questão 2. Neste contexto, Moran (2009) alerta-nos que o conceito de curso e de sala de aula está mudando na medida em que o professor continuará "dando aula", mas, de uma forma menos informativa e mais gerenciadora, utilizando as possibilidades que as tecnologias interativas proporcionam para alimentar continuamente os debates e pesquisas até mesmo fora do horário específico da aula. Vale também lembrar a intervenção de Viscovini et al. (2009) que defendem que em um contexto de intensas mudanças, pode-se acessar diversas técnicas e materiais de apoio pedagógico com o intuito de apoiar a atividade e priorizar investimentos em recursos que propiciem mais conforto ao aluno, contribuindo para a elevar a autoestima e, consequentemente, a motivação do aluno no processo de aprendizagem. ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 14 4.4. PROFESSOR INOVADOR A seguir são mostrados no quadro 4 a questão e respostas mais citadas sobre caracterização de um professor inovador (mínimo 1 e máximo 6 vezes citadas). QUESTÃO 4: Como se caracteriza um professor inovador? Quadro4: Professor Inovador Segundo os Pesquisados O Quadro 4 assinala que os alunos concordam que o professor inovador deve possuir “metodologia flexível e diferenciada” e “abordar práticas (exemplificar teorias)”. O homem é o centro de todo processo educacional e este deve contemplar o despertar das potencialidades humanas. O professor inovador não deve deixar de fomentar uma perspectiva crítica e problematizada para um determinado problema da sociedade. O aluno não deve ser considerado uma “vasilha para deposição de conteúdos previamente elaborados” (FREIRE, 1983) Para Jardilino, Amaral e Lima (2010) o professor inovador possui uma abordagem pedagógica diferente da tradicional, sendo capaz de usar outras técnicas de ensino de forma criativa. As atuais metodologias de ensino devem possibilitar a superação de um enfoque pedagógico centrado apenas na transmissão de conteúdos, exigindo dos professores uma nova postura que possibilite ao aluno um fazer autônomo, crítico e criativo contemplando a flexibilidade, a interdisciplinaridade e a contextualização. (FERREIRA; CARPIM e BEHRENS, 2010) ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 15 5. CONCLUSÃO A análise dos resultados mostra que os alunos “categorizam” os professores de acordo com os métodos utilizados e o comportamento docente em sala de aula. Utiliza-se um conjunto de características como ponto de partida para “rotular” dois grupos de educadores: os tradicionais e os inovadores. Os “tradicionais” acabam sendo representados como retrógrados, e suas características são entendidas como “negativas” e mais comumente criticadas pelos alunos. Diferentemente do “professor inovador”, que dispõe de uma maior aceitação entre os discentes. Em meio a esta afirmativa, algo importante deve ser compreendido: o ensino é uma prática possibilitada pelas relações humanas. Pesquisas e produções em educação buscam ensinar a complexidade presente nestas relações. Antes, porém, de classificar os professores como “tradicionais” ou “inovadores”, é preciso referir-se a “bons” e “maus” profissionais. E estes se diferenciam não pelos recursos didáticos utilizados, mas pela capacidade de problematizar as disciplinas e gerar aprendizagem. Como os alunos conceituaram, os recursos tecnológicos podem organizar melhor as atividades inovadoras na sala de aula, tais como o acesso a Internet que permite integrar a sala de aula com atividades à distância. Em alguns momentos, o professor pode usar um laboratório conectado à Internet para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio das tecnologias. Vale lembrar que as tecnologias são “apoio”, meios, que nos permitem realizar atividades de aprendizagem de formas diferentes. A educação inovadora pressupõe desenvolver propostas que se integram, se complementam e se combinam com foco na aprendizagem, desenvolvimento da autoestima, autoconhecimento, formação do aluno empreendedor e do aluno-cidadão. Quanto aos cursos é preciso rever espaços e tempos de contato com a realidade dos alunos e a forma de experimentação e de inserção dos mesmos nos ambientes profissionais. É necessário primeiro saber gerir a inovação para que se tenham cada vez mais salas de aula e professores inovadores. A educação deve propor uma nova pedagogia que auxilie o aluno a superar os desafios impostos pelos atuais ambientes caracterizados por um consumismo exacerbado, desequilíbrio ambiental, diversas dimensões tecnológicas, banalização da violência e individualismo. O professor inovador deve sempre questionar: como a educação pode melhorar o futuro? ________________________________________________________________________________________________________ Anais do I SINGEP – São Paulo - SP – Brasil – 06 e 07/12/2012 16 6. REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. J. A. Do Professor Tradicional ao Educador Atual: desempenho, compromisso e qualificação. Webartigos. 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