O CONCEITO DE INOVAÇÃO NA VISÃO DO TECNOLÓGO: UMA
ANÁLISE NOS CURSOS DE GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E
ANÁLISE DE DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS.
Autoria: Adriano Carlos Rosa, Vanessa Gatto Chimendes, Roberto José Carvalho
Resumo
Este artigo tem o objetivo de identificar e analisar o conceito de inovação na percepção dos
alunos de um curso de formação para tecnólogos, tanto em relação ao ambiente de sala de
aula como em relação ao professor. Para tanto se aplicou uma pesquisa de caráter exploratório
através do método denominado “Grupo Focal”, com os resultados sendo tratados de forma
qualitativa. A análise dos resultados mostra que os alunos “categorizam” os professores de
acordo com os métodos utilizados e o seu comportamento em sala de aula. Valendo-se de um
conjunto de características como ponto de partida, os discentes tendem a “rotular” os docentes
em dois grupos específicos: os tradicionais e os inovadores. Além disso, os alunos valorizam
ambientes que possibilitem a liberdade de expressão e que contemple diversos recursos
tecnológicos.
Palavras-Chave: Aula, Inovação, Ambiente, Professor.
Abstract
This article aims to identify and analyze the concept of innovation in students' perceptions of
a training course for technologists, both in relation to the environment of the classroom and in
relation to the teacher. For both applied research through exploratory character of the method
called "Focus Group", with the results being treated in a qualitative way. The results show
that students "categorize" the teachers according to the methods used and their behavior in the
classroom. Drawing on a set of features as a starting point, the students tend to "label" the
teachers into two specific groups: the traditional and the innovative. Additionally, students
value environments that allow freedom of expression and that include many technological
resources.
Keywords: Class, Innovation, Environment, Professor.
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1.
INTRODUÇÃO
A busca de uma nova percepção de mundo depende das transformações ocorridas e
dos processos ainda em transformação. Estas mudanças demandam pensamentos complexos e
novos conhecimentos relacionados com vários conceitos de diversas disciplinas.
Para Morin (2006) a educação necessita de uma reforma. A educação do futuro
necessita resgatar o ser humano e as características que lhe conferem essa condição. O autor
questiona os estudos cada vez mais isolados, mais específicos e particulares. Os especialistas
deixam de ver o todo e as relações existentes neste todo. Assim, a visão e a razão tornam-se
fragmentadas, criando verdades ilusórias, não reais.
Morin (2000) declara existir uma inadequação cada vez maior e mais grave entre os
saberes separados, fragmentados e compartimentados entre disciplinas. Para Coelho (2003),
não há dúvida de que este é o grande problema atual do ensino e da pesquisa: o conhecimento
não pode mais ser isolado, mas conectado em suas complexas relações com o contexto a que
pertence.
Chimendes (2011) entende que com essa visão, a inovação e a busca por mudanças
precisam ser incorporadas, também, pelos processos educacionais, demandando atualizações
constantes por parte dos professores/pesquisadores, que devem sempre estar situados em
todos os contextos da sociedade e esferas da vida humana, já que tudo no universo se
relaciona. Para a autora a educação é direito básico de todos os cidadãos, é a base da atividade
humana e é fundamental no caminho para a superação das crises econômicas mundiais. Neste
contexto, considerada a educação como denominador comum, ela é o caminho para soluções
que permitam o desenvolvimento equitativo e sustentável de um mundo globalizado.
A educação de qualidade, acessível a todos, é um processo de longa duração. O
conhecimento deve ser visto como ponto central para possibilitar o surgimento de novas
estruturas econômicas e sociais. Ciência e educação são as principais alavancas do progresso
econômico.
A diferença entre os países é, então, demonstrada pelas diferenças na produtividade
total dos fatores de produção, associada com o progresso tecnológico. Adotar tecnologias já
existentes também tem um custo: o desenvolvimento da capacidade de absorver a tecnologia e
o aprendizado.
O sucesso das empresas e o nível de desenvolvimento das nações são fatores muito
dependentes da forma como se produz e como se utilizam os conhecimentos científicos
tecnológicos e o processo de inovação.
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Este artigo tem o objetivo de identificar e analisar o conceito de inovação na
percepção dos alunos de um curso de formação para tecnólogos. Para tanto se aplicou uma
pesquisa exploratória através do método denominado “Grupo Focal”, com os resultados sendo
tratados de forma qualitativa.
Está estruturado da seguinte forma: No capítulo 1 consta este texto introdutório, no
capítulo 2 a revisão da literatura onde são conceituados inovação, ambiente e sala de aula
inovadora, disciplina e professor inovador e o papel da universidade transformando a
sociedade, no capítulo 3 é descrito o método do Grupo Focal e respectiva aplicação, no
capítulo 4 consta a análise de resultados seguido da conclusão.
2.
REVISÃO DA LITERATURA
2.1.
INOVAÇÃO
Inovação é um termo que vem do latim innovare e significa “fazer algo novo”.
Freeman (1982), estudioso e pioneiro da inovação define inovação como “... o processo de
tornar oportunidades em novas ideias e colocar estas em prática de uso extensivo”. Para Porter
(1985) a inovação é como um processo que engloba melhorias tecnológicas e melhorias no
método de realizar as tarefas. Drucker (1986) conceitua a inovação como algo que não precisa
ser técnica, não precisa sequer ser uma “coisa”, pois, poucas inovações técnicas podem
competir, em termos de impacto, com as inovações sociais, como o jornal ou o seguro. Outro
exemplo foram as compras a prazo literalmente transformaram as economias.
Conforme Caldas (2001) “inovação é o uso criativo desse conhecimento que pode
gerar novos produtos, processos e serviços”. Para Plonski (2005) “o processo de inovação é
atualmente entendido como interativo, dependente das diferentes características de cada
agente e de sua capacidade de aprender a gerar e absorver conhecimentos”.
A importância da inovação tecnológica no desenvolvimento econômico foi
amplamente estudada por Schumpeter na primeira metade do século XX.
Schumpeter (1911) procura estabelecer de onde vêm as inovações, quem as produz e
como são inseridas na atividade econômica. Embora os desejos e necessidades dos
consumidores sejam elementos importantes no processo de inovação e difusão da tecnologia,
ele descarta a hipótese de que a origem da inovação esteja baseada nos desejos e necessidades
dos consumidores. Para o autor, a inovação é vista como o conjunto de “novas combinações”:
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 INTRODUÇÃO DE UM NOVO BEM: um bem com que os consumidores
ainda não estejam familiarizados.
 INTRODUÇÃO DE UM NOVO MÉTODO DE PRODUÇÃO: um método
que ainda não tenha sido testado na indústria de transformação ou que de algum modo precisa
ser baseado em uma descoberta cientificamente nova, e pode consistir também em uma
maneira nova de manejar comercialmente uma mercadoria.
 ABERTURA DE UM NOVO MERCADO: um mercado ainda não explorado
por um ramo particular da indústria de transformação do país, quer esse mercado tenha
existido antes ou não.
 CONQUISTA DE UMA NOVA FONTE DE MATÉRIA PRIMA OU DE
BENS SEMIMANUFATURADOS: independentemente do fato de que essa fonte já tenha
existido ou teve de ser criada.
 ESTABELECIMENTO
DE
UMA
NOVA
ORGANIZAÇÃO
DE
QUALQUER INDÚSTRIA: criação de um monopólio ou fragmentação de um monopólio já
existente.
É importante destacar no pensamento de Schumpeter, sua contribuição à ênfase
atribuída ao empreendedor e, em especial, às inovações tecnológicas. Portanto, pode-se
afirmar que a inovação relaciona-se a produtos, processos e serviços e incorpora um sentido
mais amplo considerando as inovações de gestão e de negócios.
2.2.
AMBIENTE E SALA DE AULA INOVADORA
O ensino superior apresenta em sua maioria uma prática pedagógica tradicional e
conservadora - busca pela reprodução do conhecimento – o professor explica e a turma
acompanha em silêncio. Esse retrato não acompanha mais os avanços tecnológicos e
científicos que provocam mudanças na sociedade. A facilidade de acesso ao volume de
informações torna a prática conservadora e tradicional obsoletos. Nesse contexto, o ambiente
da sala de aula deve se transformar em um espaço para uma prática pedagógica mais eficiente
e eficaz.
Machado (2002) destaca que o ambiente educacional deve prover as pessoas de
competências básicas, como a capacidade de expressão, de compreensão do que se lê, de
interpretação de representações; a capacidade de mobilização de esquemas de ação
progressivamente mais complexos e significativos nos mais diferentes contextos; a
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capacidade de construção de mapas de relevâncias das informações disponíveis, tendo em
vista a tomada de decisões, a solução de problemas ou o alcance de objetivos previamente
traçados; a capacidade de colaborar, de trabalhar em equipe e, sobretudo, a capacidade de
projetar o novo, de criar em um cenário de problemas, valores e circunstâncias no qual somos
lançados e no qual devemos agir solidariamente.
Segundo Moran (2009) o conceito de curso e de sala de aula está mudando. Hoje,
ainda entende-se por “aula” uma atividade com espaço e tempo determinados. Mas, esse
tempo e espaço serão, cada vez, mais flexíveis. Por exemplo, o professor continuará "dando
aula", mas, de uma forma menos informativa e mais gerenciadora. Entretanto, ele pode
também utilizar as possibilidades que as tecnologias interativas proporcionam para alimentar
continuamente os debates e pesquisas com textos, páginas da Internet, até mesmo fora do
horário específico da aula, receber e responder mensagens dos alunos, criar listas de discussão
etc.
Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de professor e aluno estarem todos
presentes em muitos tempos e espaços diferentes. Assim, poderão estar motivados, se
entenderem a “aula” como pesquisa e intercâmbio. Nesse processo, o papel do professor vem
sendo redimensionado e cada vez mais ele se torna um supervisor, um motivador, um
incentivador dos alunos na busca pelo conhecimento.
Ribeiro e Oliveira (2009) destacam a importância dos “trabalhos de campo” que
permitem ultrapassar as fronteiras de uma sala de aula; tornando-se um instrumento
importante na realização do processo de ensino e aprendizagem.
Cabe ressaltar que apenas definir critérios e ações não representa arranjar amarras
efetivas, pois, como alerta Messina (2001) “mais do que nos interessarmos pela identificação
de critérios para reconhecer inovações, poderíamos criar também espaços que promovessem a
possibilidade do pensar e do fazer reflexivos, em que as inovações teriam a oportunidade de
apresentar-se, contradizer e transformar”.
2.3.
DISCIPLINAS E PROFESSORES INOVADORES
Importante refletir sobre a atividade do professor universitário como articulador e
mediador entre o conhecimento elaborado e o conhecimento a ser produzido considerando
que o papel da educação está na necessidade de construção e reconstrução do homem e do
mundo.
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Explica Pelizzari (2002) que o conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser
potencialmente significativo, ou seja, ele tem que ser lógico e psicologicamente significativo.
O significado lógico depende somente da natureza do conteúdo, e o significado psicológico é
uma experiência que cada indivíduo possui. Cada aprendiz faz uma filtragem dos conteúdos
que têm significado ou não para si próprio.
O professor não deve ficar "preso" às quatro paredes da sala de aula. A atual dinâmica
do mercado de trabalho exige que se estimulem os alunos a desenvolver projetos que
conduzam o processo educativo à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade. É necessário
que os estudantes participem de aulas com técnicas de ensino diversificadas experimentando
diferentes situações de aprendizagens, através de uma metodologia mais dinâmica e
atualizada.
A busca constante da ação-reflexão-ação apresenta-se como a método mais indicado
para construir o processo de mudança que favorecerá a educação de qualidade, pois, os
profissionais de hoje precisam estar em constante formação, ser autônomos, com capacidade
para tomadas de decisões, trabalharem em grupo compartilhando suas conquistas. (ARAÚJO,
2009).
Sendo assim, as atuais metodologias de ensino devem possibilitar a superação de um
enfoque pedagógico centrado apenas na transmissão de conteúdos, exigindo dos professores
uma nova postura que possibilite ao aluno um fazer autônomo, crítico e criativo
contemplando a flexibilidade, a interdisciplinaridade e a contextualização. Essa abordagem
exige a adoção de uma nova proposta metodológica onde o ensino deve voltar-se para a
valorização das experiências pessoais do aluno, possibilitando ao professor ser parceiro no
processo de aprendizagem, onde os conteúdos sejam significativos e atualizados.
(FERREIRA; CARPIM e BEHRENS, 2010)
Nesse sentido, os alunos valorizam o professor que possui uma abordagem pedagógica
diferente da tradicional, sendo capaz de usar outras técnicas de ensino de forma criativa.
(JARDILINO, AMARAL e LIMA, 2010).
Ou seja, para que a aprendizagem ocorra de maneira efetiva faz-se necessário uma
prática pedagógica que contemple a elaboração de projetos que estimulem a investigação de
situações reais, possibilitando ao aluno contextualizar o que foi apresentado em sala de aula.
Essa metodologia possibilita perceber o aluno não somente como objeto, mas principalmente
como o sujeito e o produtor de seu próprio processo de desenvolvimento.
Zaslavsky (2007) enfatiza que a finalidade do ensino não é apenas transmitir
conhecimentos; o desafio educacional precisa ir além desse paradigma
, chegando até a
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formação da autonomia do aluno, ou seja, da liberdade com responsabilidade. Portanto é
importante a valorização de espaços que oportunizem a liberdade de pensamento do aluno , o
que significa liberdade de expressão . O cumprimento de regras é devido à responsabilidade e
não ao medo, porém como esperar responsabilidade, se não houver liberdade?
No entanto, não se pode esperar que, de uma hora para outra , a mera presença da
liberdade traga a responsabilidade . A integração entre a liberdade e a responsabilidade deve
ser gradual, até tornar-se uma cultura na instituição de ensino.
Um aspecto importante em práticas inovadoras de ensino é a interação verbal entre
professor e aluno, uma vez que através da mesma podem-se identificar características
importantes dos alunos , tornando possível conhecê -los, avaliá-los e interferir positivamente
no aprendizado dos mesmos. (BARBOSA; COSTA e SANTOS, 2011).
Para Zabala (1998) e Masetto (2003) os alunos possuem um papel determinante , na
medida em que o ensino está
nele centrado. Ao professor cabe o papel de facilitador da
aprendizagem do aluno, estimulando e conectando os conhecimentos expostos por ele e
aqueles que se construíram na interação professor/aluno. As características pessoais do
professor interferem positivamente na relação com o aluno e no seu processo de
aprendizagem
Nesse processo de interação, conforme Jardilino, Amaral e Lima (2010, p.117), “são
fundamentais a comunicação , a relação que respeita a idiossincrasia dos atores
, o
conhecimento da área alvo do aprendizado , o domínio de técnicas instrucionais , já que o foco
é o aluno e não o método, o professor ou a instituição”.
A possibilidade de um ensino de qualidade também passa pela qualidade do ambiente
da sala de aula. Além dos recursos didáticos já consagrados no contexto escolar, a utilização
de novos recursos, tanto físicos como tecnológicos podem dinamizar as formas de obter
conhecimentos em prol de uma educação de qualidade.
Viscovini et al. (2009) argumentam que em um contexto de intensas mudanças, podese acessar diversas técnicas e materiais de apoio pedagógico com o intuito de apoiar a
atividade do professor. Como resultados dessa tendência surgem duas necessidades: atualizar
o professor frente às necessidades tecnológicas impostas por novas demandas de ensino e
priorizar investimentos em recursos que propiciem mais conforto ao aluno, contribuindo para
elevar a autoestima e, consequentemente, a motivação do aluno no processo de aprendizagem.
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2.4.
O PAPEL DA UNIVERSIDADE TRANSFORMANDO A SOCIEDADE
Como já comentado a formação educacional tem um lugar prioritário nesta nova
realidade mundial, pois países líderes demonstram a capacidade de desenvolvimento de novas
tecnologias e a facilidade na assimilação e manuseio de novos processos, enquanto os países
com problemas de déficits educacionais perdem competitividade e aumenta assim sua
dependência. Portanto, a universidade cumpre o papel de transformar a sociedade.
Para Santos (1997), tanto o modelo pedagógico quanto a pesquisa e o saber produzidos
na universidade apresentam sinais de degradação, porque a própria ideia de universidade está
em crise. A crise da universidade manifesta-se de diversas formas e para este autor pode ser
qualificada em três amplos aspectos, entre si relacionados: crise de hegemonia, crise de
legitimidade e crise institucional, frutos da crise da própria modernidade.
Conforme Cabral (2008) na atualidade, possivelmente o descompasso que se deixa
transparecer, pode ser atribuído às transformações sociais e às séries de reformas
educacionais, que ao longo do tempo, que ao invés de fortalecê-la, vieram deformando sua
ação e compreensão por parte da sociedade civil. Pode-se pensar que durante todos esses
anos, tudo mudou, menos a escola, que foi mantida nos moldes tradicionais.
O aluno tende a ser um sujeito ativo no processo, não sendo considerada uma vasilha
para deposição de conteúdos previamente elaborados (FREIRE, 1983)
Bernheim e Chauí (2003) citam a Declaração Mundial sobre Educação Superior que
reconhece, no seu preâmbulo, a importância estratégica da educação do terceiro nível na
sociedade contemporânea. A análise das relações entre sociedade e universidade é um dos
principais temas na agenda de estudos sobre a educação superior. Os autores expõem que o
mundo acadêmico deve envolver-se mais com os processos sociais, econômicos e culturais,
mantendo as características que a distinguem como academia.
É o que citam os parágrafos da Declaração Mundial (Art. 2), que indicam que as
instituições de educação superior devem preservar e desenvolver suas funções fundamentais,
submetendo suas atividades às exigências da ética e do rigor científico e intelectual. O
reconhecimento dado pela sociedade à autoridade intelectual das instituições de educação
superior, conforme a Declaração está intimamente associada à sua capacidade de se expressar
sobre os problemas éticos, culturais e sociais de forma completamente independente e com
plena consciência das suas responsabilidades.
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Para Guadilla (1996), o debate sobre a função social das universidades está evoluindo
para a questão de como estabelecer laços estreitos entre as universidades e o mundo do
trabalho. O autor considera que o relacionamento entre universidade e sociedade deveria
ultrapassar o aspecto universidade/setor produtivo, e desenvolver sua missão de produção de
conhecimento e formação de profissionais e especialistas, estendendo seus serviços a todos os
setores da sociedade – incluindo aqueles excluídos por razões econômicas ou outros motivos
– a fim de preencher a sua missão.
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3.
MÉTODO
A pesquisa realizada, de caráter qualitativo aplicada, utilizou-se da técnica de Grupo
Focal (focus group) para o levantamento de dados que se possibilita a análise crítica do tema
proposto neste artigo.
Segundo Morgan (1997 apud GUI, 2003) o grupo focal utiliza a interação grupal para
obter uma razoável quantidade de percepções a respeito de tópicos propostos pelo pesquisador
em um limitado período de tempo.
No grupo focal não se busca o consenso e sim a pluralidade de ideias, possibilitando
aos participantes um debate no qual seja possível expor suas próprias opiniões ou influenciar
as opiniões dos demais. Caberá ao pesquisador a preparação dos participantes para a
discussão estimulando intervenções espontâneas (REY, 2002).
Para Berg (1998 apud GUI, 2003) a técnica de grupo focal necessita o atendimento de
alguns fatores, os quais se destacam:
 Objetivo de pesquisa claramente definido;
 Adequação da composição do grupo para os objetivos da pesquisa;
 Clima de confidencialidade em relação aos assuntos discutidos e facilitação da fala
espontânea dos participantes;
 Atenção do moderador na condução da sessão.
 Assistentes que ajudem a registrar as informações de maneira a permitir uma posterior
análise de conteúdo.
Para a aplicação do grupo focal foi definida uma amostra intencional que representasse
a percepção de alunos de um curso superior de tecnologia.
Foram escolhidos os cursos de Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) e
Gestão da Tecnologia da Informação (GTI) de uma unidade da FATEC (Faculdade de
Tecnologia) do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS) em
função da constante interação, ao longo do curso, com o tema “inovação”.
Realizaram-se 12 sessões ao longo do mês de outubro/2012, abrangendo um total de
12 turmas (semestres) sendo 6 turmas de ADS e 6 turmas de GTI onde aproximadamente 300
alunos (25 alunos por turma) foram ouvidos.
As sessões foram realizadas em sala de aula e foram sempre moderadas por um dos
autores deste artigo, com o apoio de outros dois professores (também autores deste artigo)
para anotar as “falas” dos alunos. As sessões foram limitadas pelos moderadores em um
período de 30(trinta) minutos, preestabelecido como “suficiente” para a conversa e também a
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fim de não tomar muito tempo da aula que a turma estava assistindo. Importante mencionar
que dentro deste tempo as respostas eram estimuladas e adquiridas até o momento em que os
alunos e moderadores concordassem para passarem para a próxima pergunta. Os professores
dessas respectivas aulas foram contatados com antecedência para liberar a aplicação da
pesquisa. A sessão propunha 4 questões:

Qual é o conceito de inovação?

O que é um ambiente inovador?

O que é uma sala de aula inovadora?

Como se caracteriza um professor inovador?
Cada aluno podia manifestar-se a vontade em relação às respostas às questões
propostas na sessão.
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4.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados que seguem são uma comparação entre o exposto teórico (conceito de
inovação, ambiente inovador, sala de aula inovadora e professor inovador) e as respectivas
respostas mais citadas pelos alunos.
4.1 - CONCEITO DE INOVAÇÃO
A seguir são mostrados no quadro 1 a questão e respostas mais citadas sobre
inovação (mínimo 1 e máximo 6 vezes citadas).
QUESTÃO 1: Qual é o conceito de inovação?
Quadro1: Conceito de Inovação Segundo os Pesquisados
Analisando o Quadro 1 pode-se verificar que o entendimento dos alunos está muito
ligado aos conceitos de “necessidade”, “melhoria”, “mudança” e “revolução”. Esta percepção
dos alunos confirma a abordagem de Freeman (1982) ao enfatizar que a “inovação é o
processo de tornar oportunidades em novas ideias e colocar estas em prática de uso
extensivo”. Além disso, ao citarem “melhoria”, os alunos confirmam a definição de inovação
dada por Porter (1985) como um processo que engloba melhorias tecnológicas e melhorias no
método de realizar as tarefas. Os resultados apresentados no Quadro I também ratificam
Schumpeter (1911) que defende o conceito de que a inovação precisa ser vista como um
conjunto de “novas combinações”, ou seja, uma possibilidade de promover mudanças.
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4.2.
AMBIENTE INOVADOR
Abaixo são mostrados no quadro 2 a questão e respostas mais citadas sobre ambiente
inovador (mínimo 1 e máximo 6 vezes citadas).
QUESTÃO 2: O que é um ambiente inovador?
Quadro2: Ambiente Inovador Segundo os Pesquisados
No Quadro 2 verifica-se que as citações mais numerosas estão relacionadas aos
conceitos de “liberdade de expressão”, “recursos”, “ideias diferentes” e “ambiente
confortável”. Para Moran (2009) um ambiente inovador precisa ser flexível e utilizar novas
tecnologias interativas, além de proporcionar debates e pesquisas.
A percepção dos alunos também está de acordo com a visão de Jardilino, Amaral e
Lima (2010) que defendem que em um ambiente inovador são fundamentais a valorização dos
processos de comunicação e uma relação que respeita a diferença de ideias dos seus
integrantes.
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4.3.
SALA DE AULA INOVADORA
Abaixo são mostrados no quadro 3 a questão e respostas mais citadas sobre sala de
aula inovadora (mínimo 1 e máximo 6 vezes citadas).
QUESTÃO 3: O que é uma sala de aula inovadora?
Quadro3: Sala de Aula Inovadora Segundo os Pesquisados
No Quadro 3 as citações mais numerosas são: “disponibilidade de recursos
tecnológicos”, “liberdade de expressão” e “conforto”, o que ratifica que uma sala de aula
precisa ser entendida, necessariamente, como um ambiente inovador, dada a similaridade com
as citações dos alunos para a questão 2.
Neste contexto, Moran (2009) alerta-nos que o conceito de curso e de sala de aula está
mudando na medida em que o professor continuará "dando aula", mas, de uma forma menos
informativa e mais gerenciadora, utilizando as possibilidades que as tecnologias interativas
proporcionam para alimentar continuamente os debates e pesquisas até mesmo fora do horário
específico da aula.
Vale também lembrar a intervenção de Viscovini et al. (2009) que defendem que em
um contexto de intensas mudanças, pode-se acessar diversas técnicas e materiais de apoio
pedagógico com o intuito de apoiar a atividade e priorizar investimentos em recursos que
propiciem mais conforto ao aluno, contribuindo para a elevar a autoestima e,
consequentemente, a motivação do aluno no processo de aprendizagem.
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4.4.
PROFESSOR INOVADOR
A seguir são mostrados no quadro 4 a questão e respostas mais citadas sobre
caracterização de um professor inovador (mínimo 1 e máximo 6 vezes citadas).
QUESTÃO 4: Como se caracteriza um professor inovador?
Quadro4: Professor Inovador Segundo os Pesquisados
O Quadro 4 assinala que os alunos concordam que o professor inovador deve possuir
“metodologia flexível e diferenciada” e “abordar práticas (exemplificar teorias)”.
O homem é o centro de todo processo educacional e este deve contemplar o despertar
das potencialidades humanas. O professor inovador não deve deixar de fomentar uma
perspectiva crítica e problematizada para um determinado problema da sociedade. O aluno
não deve ser considerado uma “vasilha para deposição de conteúdos previamente elaborados”
(FREIRE, 1983)
Para Jardilino, Amaral e Lima (2010) o professor inovador possui uma abordagem
pedagógica diferente da tradicional, sendo capaz de usar outras técnicas de ensino de forma
criativa. As atuais metodologias de ensino devem possibilitar a superação de um enfoque
pedagógico centrado apenas na transmissão de conteúdos, exigindo dos professores uma nova
postura que possibilite ao aluno um fazer autônomo, crítico e criativo contemplando a
flexibilidade, a interdisciplinaridade e a contextualização. (FERREIRA; CARPIM e
BEHRENS, 2010)
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5.
CONCLUSÃO
A análise dos resultados mostra que os alunos “categorizam” os professores de acordo
com os métodos utilizados e o comportamento docente em sala de aula. Utiliza-se um
conjunto de características como ponto de partida para “rotular” dois grupos de educadores:
os tradicionais e os inovadores. Os “tradicionais” acabam sendo representados como
retrógrados, e suas características são entendidas como “negativas” e mais comumente
criticadas pelos alunos.
Diferentemente do “professor inovador”, que dispõe de uma maior aceitação entre os
discentes.
Em meio a esta afirmativa, algo importante deve ser compreendido: o ensino é uma
prática possibilitada pelas relações humanas. Pesquisas e produções em educação buscam
ensinar a complexidade presente nestas relações.
Antes, porém, de classificar os professores como “tradicionais” ou “inovadores”, é
preciso referir-se a “bons” e “maus” profissionais. E estes se diferenciam não pelos recursos
didáticos utilizados, mas pela capacidade de problematizar as disciplinas e gerar
aprendizagem.
Como os alunos conceituaram, os recursos tecnológicos podem organizar melhor as
atividades inovadoras na sala de aula, tais como o acesso a Internet que permite integrar a sala
de aula com atividades à distância. Em alguns momentos, o professor pode usar um
laboratório conectado à Internet para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio das
tecnologias. Vale lembrar que as tecnologias são “apoio”, meios, que nos permitem realizar
atividades de aprendizagem de formas diferentes. A educação inovadora pressupõe
desenvolver propostas que se integram, se complementam e se combinam com foco na
aprendizagem, desenvolvimento da autoestima, autoconhecimento, formação do aluno
empreendedor e do aluno-cidadão.
Quanto aos cursos é preciso rever espaços e tempos de contato com a realidade dos
alunos e a forma de experimentação e de inserção dos mesmos nos ambientes profissionais.
É necessário primeiro saber gerir a inovação para que se tenham cada vez mais salas
de aula e professores inovadores. A educação deve propor uma nova pedagogia que auxilie o
aluno a superar os desafios impostos pelos atuais ambientes caracterizados por um
consumismo exacerbado, desequilíbrio ambiental, diversas dimensões tecnológicas,
banalização da violência e individualismo. O professor inovador deve sempre questionar:
como a educação pode melhorar o futuro?
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO, M. J. A. Do Professor Tradicional ao Educador Atual: desempenho,
compromisso
e
qualificação.
Webartigos.
Disponível
em:
<http://www.webartigos.com/artigos/do-professor-tradicional-ao-educador-atualdesempenho-compromisso-e-qualificacao/23184>. Acesso em out.2012.
BARBOSA, C. J. V.; SANTOS, G.K. A.; COSTA, M. H. C. Interação Professor
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