CARTA DO GESTOR JUNHO 2008 Prezado Cotista, medo de uma desaceleração mais aguda ressurge a cada novo dado negativo da economia ou a cada nova baixa contábil nos bancos, trazendo temores de um contágio creditício bem mais amplo do que o experimentado até agora. A inadimplência que chegou a 6,35%, associada ao desemprego em alta, agora em 5,5%, acentuam estes temores. Compondo o cenário, a urbanização acelerada nos países emergentes asiáticos está provocando uma alta aguda nos preços das commodities. A principal delas é o petróleo, que ultrapassou os USD 140/barril. Nós concordamos com o consenso de que este excesso de demanda tem sido o responsável primordial pela elevação de preços generalizada das commodities. O que não concordamos é com a magnitude deste movimento. Entendemos que esta magnitude também se deva à forte especulação financeira. Quando uma senhora aposentada do interior do Wyoming resolve aplicar seus recursos excedentes num diversificado Fundo de Fundos, o gestor deste, acreditando que esteja diversificando o risco de seus clientes, resolve vender um pouco de ativos americanos (fundos de ações e títulos de renda fixa em dólar) e compra fundos de commodities. Muitos destes fundos são passivos, ou seja, seguem um índice de commodities composto por petróleo, cobre, zinco, níquel, milho, soja, etc. Na prática, cria- Quando na última carta mensal escrevi que Maio nos deixaria saudades não contava com um mês de Junho tão negativo para as bolsas no mundo. No Brasil não fechávamos um mês assim desde 2002. Nos Estados Unidos, um mês tão negativo, cujos principais índices de bolsa caíram entre 8,0% e 10,5%, não se via desde a grande depressão. Ações de grandes bancos como o Citibank perderam ¼ de seu valor de mercado. Bolsas asiáticas também tiveram perdas históricas. O que está por trás destes resultados? A incerteza. Nós, agentes econômicos, estamos experimentando na prática uma dicotomia não compatível com os manuais de economia. Por um lado, tememos que uma recessão mais grave tome conta de vez da maior economia do planeta e contamine as demais. Por outro, tememos os efeitos inflacionários que assolam todas as economias em maior ou menor grau. O problema é que esta inflação é majoritariamente oriunda de um excesso de demanda global. O mundo cresce acima de suas capacidades. Mas se o mundo está crescendo, como há o risco de recessão? Na verdade o crescimento é desigual. Países como China e Índia crescem num ritmo de 8% a 10% ao ano, enquanto os EUA estão crescendo perto de 1%. A economia norteamericana continua em marcha lenta, sustentada por estímulos fiscais, e o R. Joaquim Floriano, 834 - conj.184 I São Paulo - CEP: 04534-003 I Tel.: (55 11) 3078-1058 1 CARTA DO GESTOR JUNHO 2008 poços abandonados e inovações tecnológicas, permitindo a exploração de novas frentes em águas ultra profundas e camada pré-sal, além de desestimular a demanda quando viabilizam fontes alternativas de energia como a eólica, a solar, a nuclear além da difusão do uso do etanol e outros biocombustíveis. Isso sem falar no apelo ecológico destas fontes alternativas. Mudanças de hábito, por mais lentas que sejam, já se faz sentir pelo mundo. Subsídios diversos que postergam os desequilíbrios aos poucos vão cedendo. Neste mês a China reduziu em quase 20% os subsídios sobre gasolina e o diesel. Alguém acredita que medidas assim não terão efeitos sobre preços? se uma demanda adicional para estas commodities, elevando-se ainda mais seus preços e, atraindo ainda mais dinheiro novo. Isto é o que podemos chamar de bolha especulativa. As pessoas compram hoje porque o preço está subindo independentemente do que acham a respeito do valor. Commodities não deveriam ser consideradas ativos de investimento, pois não geram renda e a ainda por cima têm elevados custos de armazenagem, frete, seguro e de oportunidade, além de que algumas apodreceriam se ficassem alguns anos estocadas. Como estes fundos estão sempre comprados, na prática eles estão pura e simplesmente especulando ou buscando “reserva de valor”. Se os gestores dos fundos estão buscando reserva de valor em commodities que não metais preciosos, este movimento que estamos assistindo será transitório e veremos fortes correções de preços em futuro próximo. Se o problema for apenas especulativo, ou seja, os agentes compram na alta porque subirá mais ainda, relembro uma frase que Warren Buffet sempre costuma dizer: “de tempos em tempos agulha e bolha se encontram”. Equilíbrio é um conceito muito utilizado em economia e pouco verificável. Na verdade, são muito mais freqüentes situações de desequilíbrio convergindo para equilíbrios. Hoje o petróleo vale por volta de USD 135/barril quando o custo de extração dos piores produtores nos EUA ou Canadá está em USD 70/ barril. Claro que o mercado de petróleo está longe de ser de concorrência pura e perfeita, mas novamente, é a disparidade dos números o que nos impressiona. Preços elevados por algum tempo estimulam a oferta via recuperação de Em junho o FED interrompeu o processo de queda na taxa de juros apesar da economia norte-americana apresentar fraquezas. O problema é que a inflação se mostra uma fortaleza acima da zona de conforto e alcançando níveis que já não eram mais lembrados. Preços de importados subiram 17,8% em um ano, preços no atacado subiram 7,2% enquanto preços ao consumidor subiram 4,2% (2,3% quando se exclui energia e alimentos). A capacidade ociosa da economia aumentou assim como a produtividade. O setor imobiliário ainda apresenta números em queda tanto em termos de preços quanto em vendas. Apesar do R. Joaquim Floriano, 834 - conj.184 I São Paulo - CEP: 04534-003 I Tel.: (55 11) 3078-1058 2 CARTA DO GESTOR JUNHO 2008 investimentos ainda que com o produto interno crescendo a taxas menores. balanço de riscos entre inflação e crescimento, acreditamos no dinamismo dos Estados Unidos para retomar crescimento após estes duros ajustes que estão acontecendo depois de anos de excessos. C ap taliz ação d e M ercad o (R $) > 10b i No Brasil a inflação também mostra suas garras. Todos os índices vieram acima do esperado e, as expectativas em relação à inflação de 2009 se deterioraram mais, apesar de ainda estarem dentro das metas. Ao Banco Central cabe apenas buscar ancorá-las novamente e é o que tem feito. A Selic foi elevada em mais 50 pontos para 12,25%. Acreditamos que este movimento deva continuar por mais algumas reuniões. Talvez chegar a 14,50%. O PIB cresce 5,8% aa, acima do potencial, e o crédito, apesar de ter desacelerado sua expansão, ainda cresce acima de 20% aa. < 10b i < 5b i < 2b i < 1b i 0% André Gordon Ago Set Out Nov Dez Acumulado 6,18% -2,52% 6,32% 10,99% -7,58% 0,70% DIMONA* Acumulado 2008 -13,13% 2007 0,28% 2006 17,06% 2005 -1,64% 2004 7,37% 2003 7,90% -1,52% 6,96% 12,97% -4,27% -2,75% 5,38% 0,30% -7,36% 5,59% 7,14% 9,47% 3,42% -6,97% -5,83% 12,21% 7,69% -3,54% 1,22% 3,57% -8,17% 7,75% 0,33% -10,44% 1,94% 4,00% 0,34% 4,85% 7,48% Atenciosamente, GTI 2008 -12,89% 2007 40% Nosso portfólio segue bastante voltado para setores domésticos, alguns dos quais bastante dependentes de derivados de petróleo, o que contribuiu para sua elevada depreciação. Seguimos confiantes de que os fundamentos de longo prazo para Brasil estão bastante sólidos e evoluindo de forma que as empresas em que investimos devem continuar apresentando bons resultados. A parcela de empresas de nossa carteira, cujos resultados não estão de acordo com as expectativas, deve-se quase que exclusivamente a alta do petróleo. A meta de inflação para 2010 foi mantida em 4,5%. O governo vem dando sinais de que elevará seu superávit primário e de que não será leniente com a inflação. Sinais muito bem-vindos neste momento. O Brasil, quando comparado a outros emergentes, está numa situação muito confortável. A maioria dos países emergentes está com inflação na casa de dois dígitos e têm dependência de commodities muito maior do que a brasileira. A disciplina fiscal associada a um maior aperto monetário permitirá que o Brasil mantenha seu grau de Resultado Mensal (%) Líquido de taxa de administração e performance Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul 20% 4,34% -0,90% 9,87% 12,19% 0,56% 0,73% 8,39% 1,74% 4,58% 11,19% -7,49% -2,15% -2,04% 5,62% 9,71% 15,29% ** 7,32% -0,72% 4,70% 10,82% 7,82% 17,49% Ano IBOV Ano -0,98% 2,54% -1,67% 0,70% 1,73% 0,80% 465,65% 250,96% 0,62% 46,71% 54,82% 21,92% 60,98% 26,10% 1,73% 43,68% 33,73% 27,06% 17,74% 20,02% *Entre nov/03 e Set/06 a tx de adm. foi de 0,6% a.a.. Ente Out/06 e Abr/08 a tx. adm foi de 0,3% a.a.. A partir de Maio/08 tx. adm.2% a.a. e perf. 15% s/ Ibov. Volatilidade* Produtos IBOV 22,8% 28,4% 25,9% 21,4% 20,6% 21,7% 21,7% 17,2% 28,4% 22,1% 21,2% 21,6% 23,8% 14,8% * MM 21d anualizada ** Desde 10-Nov-2003 R. Joaquim Floriano, 834 - conj.184 I São Paulo - CEP: 04534-003 I Tel.: (55 11) 3078-1058 3