UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS GRAZIELA APARECIDA TERRA CABRAL GONÇALVES NARA CRISTINA DE SOUSA COBRA OLIVEIRA ATENÇÃO FARMACÊUTICA A PACIENTES COM O MAL DE ALZHEIMER ALFENAS/ MG 2008 1 GRAZIELA APARECIDA TERRA CABRAL GONÇALVES NARA CRISTINA DE SOUSA COBRA OLIVEIRA ATENÇÃO FARMACÊUTICA A PACIENTES COM O MAL DE ALZHEIMER Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Farmácia Magistral pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Alfenas. Orientadora: Prof.ª Luciene Alves Moreira Marques ALFENAS/ MG 2008 2 GRAZIELA APARECIDA TERRA CABRAL GONÇALVES NARA CRISTINA DE SOUSA COBRA OLIVEIRA ATENÇÃO FARMACÊUTICA A PACIENTES COM O MAL DE ALZHEIMER A Banca Examinadora abaixo assinada aprova a Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Farmácia Magistral pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Alfenas. Aprovada em: Prof. Instituição: Assinatura Prof. Instituição: Assinatura Prof. Instituição: Assinatura 3 Dedicamos a nossos pais, esposos e filhos pela compreensão, apoio e incentivo durante a realização do Curso e desse trabalho. 4 AGRADECIMENTOS A Deus pelo dom da vida e pela oportunidade de contato com pessoas tão especiais e seu mundo aparentemente distante do nosso. A Universidade Federal de Alfenas, em especial, à Coordenação de Pós Graduação pela oportunidade de realização desse curso. A Professora Luciene Alves Moreira Marques pelas orientações oferecidas sem as quais esse trabalho não teria sido possível. Aos pacientes e familiares envolvidos nesse estudo, pelo carinho e solidariedade prestados nas inúmeras visitas realizadas. 5 Via sem me ver, conseguia gritar com seu silêncio e sua ausência era sempre uma presença viva da condição humana diante do nada, do vazio, do escuro mistério da existência sem a lógica e o poder de comunicação. (MINA, 1995). 6 RESUMO Um dos grandes problemas atuais de saúde pública é a Doença de Alzheimer (DA) que compromete as funções cognitivas do indivíduo, reduzindo sua qualidade de vida. O objetivo deste trabalho foi apresentar e discutir os recentes avanços de terapias para tratar o Alzheimer e a atenção farmacêutica mais adequada aos pacientes e familiares ou cuidadores. Apesar de trabalhar diariamente com pessoas, alguns farmacêuticos não sabem lidar com situações mais delicadas, que exigem atenção especial e paciência; o que se mostra fundamental para o caso dos idosos com DA e seus familiares, muitas vezes abalados com a progressão dos sintomas e a completa descaracterização da personalidade que o paciente sofre. O Mal de Alzheimer nos últimos 100 anos continua desafiando a pesquisa médica, que mesmo apesar dos avanços obtidos no melhor conhecimento das fases e processos complexos de deterioração dos níveis de memória, ainda permanece sem perspectivas de cura. A maioria dos medicamentos e terapias atualmente disponíveis amenizam e retardam a progressão dos sintomas, podendo provocar outros desconfortos e reações adversas nos pacientes. Os pacientes envolvidos nesse estudo apresentaram os sintomas típicos da evolução do mal, recebendo atenção farmacêutica e de cuidadores visando oferecer-lhes apoio para sua higiene, vestuário e alimentação. A agressividade verificada em 40% dos pacientes é apontada como o maior desafio para cuidadores que nem sempre se sentem preparados para lidar com tal situação. Aqueles na fase final da doença mostraramse totalmente dependentes dos cuidadores, acamados, tendo outros males físicos e exigindo atenção constante. Palavras-chave: Alzheimer. Terapias. Cuidadores. Atenção Farmacêutica. 7 ABSTRACT One of the great current problems of public health is the Alzheimer’s Disease (DA) that commits the individual's cognitive functions, reducing its life quality. The objective of this work went present and to discuss the recent progresses of therapies to treat Alzheimer and the pharmaceutical attention more adapted the patients and family or caretakers. In spite of working daily with people, some pharmacists don't know how to work with more delicate situations, that demand special attention and patience; what is shown fundamental for the seniors' case with of the and its relatives, a lot of times affected with the progression of the symptoms and the complete transformation of the personality that the patient suffers. The Alzheimer’s Disease in the last 100 years continues challenging the medical research, that even in spite of the progresses obtained in the best knowledge of the phases and complex processes of deterioration of the levels of memory, it still stays without cure perspectives. Most of the medications and therapies now available they liven up and they delay the progression of the symptoms, could provoke other sensations and adverse reactions in the patients. The patients involved in that study presented the typical symptoms of the evolution of the disease, receiving pharmaceutical attention and of caretakers seeking to offer them support for its hygiene, clothes and feeding. The aggressiveness verified in 40% of the patients is aimed as the largest challenge for caretakers that not always they feel prepared to work with such situation. Those in the final phase of the disease were totally shown dependent of the caretakers, abed, tends other physical evils and demanding constant attention. Keys words: Alzheimer. Treatment. Carefull. Pharmaceutical care. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Distribuição porcentual dos exames médicos para diagnóstico de Mal Alzheimer nos pacientes ............................................................................................... 26 Figura 2 - Distribuição porcentual da freqüência de consultas médicas dos pacientes com Mal de Alzheimer ................................................................................................... 27 Figura 3 - Distribuição porcentual de reação adversa aos medicamentos prescritos aos pacientes ................................................................................................................ 27 Figura 4 - Distribuição porcentual do grau de interação dos pacientes com familiares e cuidadores.................................................................................................................. 28 Figura 5 - Distribuição porcentual de níveis de atividade de memória dos pacientes ... 29 Figura 6 - Distribuição porcentual da ocorrência de agressividade dos pacientes aos cuidadores e familiares ................................................................................................. 30 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Informações sobre pacientes com Mal de Alzheimer (DA).....................25 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11 2 OBJETIVOS.................................................................................................... 14 3 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 15 3.1 ATENÇÃO FARMACÊUTICA.......................................................................... 15 3.2 TERAPIA DO USO DOS ANTICOLINESTERÁSICOS.................................... 17 3.3 TERAPIAS ALTERNATIVAS........................................................................... 20 4 METODOLOGIA ............................................................................................. 23 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 25 6 CONCLUSÃO ................................................................................................. 31 REFERÊNCIAS..................................................................................................... 32 APÊNDICES ......................................................................................................... 35 11 1 INTRODUÇÃO Um dos grandes problemas atuais de saúde pública na geriatria é a Doença de Alzheimer (DA) que compromete as funções cognitivas do indivíduo, reduzindo sua qualidade de vida e até a possibilidade de realizar atividades comuns de seu cotidiano. Esse tipo de demência compromete a rotina não apenas do paciente, mas de todos os seus familiares que se envolvem na progressão dos sintomas e nos cuidados necessários. A Doença ou Mal de Alzheimer é uma das formas mais comuns de demência (COOPER, 1991), atingindo cerca de 8 a 15% da população com mais de 65 anos (RITCHIE; KILDIA, 1995) e também a quarta causa de morte nos países desenvolvidos (CLARK; GOATE, 1993), atrás apenas das doenças cardiovasculares, problemas pulmonares e câncer. Percebe-se ser um mal bastante sério e, portanto, de grande relevância para especialistas preocupados com o bem-estar dos idosos. É notório o progressivo envelhecimento da população tanto em países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento, onde a população com mais de 60 anos já supera 10% do total da população mundial. Desde o início da década de 80 do século passado, mais da metade dos indivíduos com mais de 60 anos vive em países em desenvolvimento. Atualmente, temos no mundo mais de 20 milhões de idosos sofrendo de algum tipo de demência e destes 16 milhões sofrendo de DA, sendo 61% deles em países em desenvolvimento. A previsão é que daqui a 20 anos serão 34 milhões de idosos nessa situação, sendo 71% deles em países considerados pobres. Só no Brasil, temos 1,2 milhões de idosos com algum tipo de demência (VERA; MURPHY, 1991). O médico alemão Alois Alzheimer (1864-1915) relatou as principais características da DA apresentando o caso de uma senhora de 51 anos que era acometida por delírios, tendo deterioração da memória, paralisia e desorientação espacial. Após quatro anos e meio do surgimento dos sintomas a paciente faleceu e a autópsia revelou alterações nunca antes relatadas no cérebro. Conforme o próprio Alzheimer relatou era um cérebro atrofiado e microscopicamente revelou placas estranhas e fibras retorcidas, com grande entrelaçamento. A partir daí esse tipo de degeneração passou a ser conhecido como placas senis, sendo uma das principais características da DA. 12 A maioria dos idosos que sofrem de DA passam por 3 fases distintas da doença: fase inicial (formas leves de esquecimento, perda de memória, descuido com a aparência, dificuldades para executar atividades cotidianas, desorientação no tempo e no espaço, alteração da personalidade); fase intermediária (dificuldade de reconhecer pessoas, perda de lembranças do passado, comportamento inadequado, agressividade, incapaz de julgamento); fase final (perda de peso, total dependência, mutismo, irritabilidade extrema, morte). Devido à gravidade que a DA representa tanto para famílias quanto para o Estado no tocante aos cuidados com seus idosos, a doença vem recebendo muita atenção tanto no exterior quanto no Brasil em termos de pesquisas e terapias que possam garantir menos sofrimento aos pacientes e familiares. Nesse aspecto, a atenção farmacêutica para esses pacientes tem sido muito exigida e na maioria das vezes, os profissionais não estão devidamente preparados para lidar com os sintomas e terapias para cada uma das fases da DA descritas anteriormente. A maioria das famílias ao buscarem apoio médico e farmacêutico, o fazem na expectativa de amenizar os sintomas ou mesmo retardalos o máximo possível. Isso nem sempre é conseguido totalmente com as terapias atualmente disponíveis que se baseiam na estratégia de melhorar a hipofunção colinérgica. A abordagem terapêutica que se mostrou mais eficiente atualmente foi a da inibição da acetilcolinesterase, enzima responsável pela degradação da acetilcolina. O farmacêutico como profissional da saúde, deveria ter treinamento para interagir melhor com seus clientes, além da formação científica necessária para assistência farmacêutica tanto no laboratório quanto na comunicação com os pacientes e seus familiares. A habilidade de interagir com seus clientes nem sempre é estimulada durante a formação desse profissional, ou mesmo não lhe é despertado o interesse para essa importante função que a profissão deveria exercer. Apesar de trabalhar todos os dias com pessoas, infelizmente alguns farmacêuticos não sabem lidar com situações mais delicadas, que exigem atenção especial, paciência, tolerância e solidariedade. O que se mostra fundamental para o caso dos idosos com DA e seus familiares, muitas vezes abalados com a progressão dos sintomas e a completa descaracterização da personalidade que o paciente sofre. 13 Inúmeras pesquisas foram publicadas sobre DA nos últimos anos e são constantes os avanços obtidos em terapias que retardam a progressão dos sintomas, e tendo em vista tratar-se de assunto atual e de relevante interesse, optou-se por realizar estudo observando a atenção farmacêutica adequada para pacientes com Alzheimer. 14 2 OBJETIVO O objetivo deste trabalho foi apresentar e discutir os recentes avanços de terapias e a atenção farmacêutica mais adequada para tratar e lidar tanto com os pacientes com Alzheimer quanto com seus familiares e cuidadores no cotidiano. 15 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 ATENÇÃO FARMACÊUTICA Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de Atenção Farmacêutica é definido como ‘’a pratica profissional em que o paciente é o principal beneficiário do farmacêutico’’. É um compêndio de atividades, comportamentos, compromissos, inquietudes, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e habilidades do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente (LYRA JÚNIOR et al., 2000). No Brasil, o aumento das demandas na área de saúde, tem evidenciado a necessidade de que se estabeleça uma política de medicamentos em que o farmacêutico deve ser o elemento essencial na promoção da saúde e do uso racional da farmacoterapia. Alguns estabelecimentos farmacêuticos privados, percebendo esta demanda, têm substituído progressivamente a prática tradicional de dispensação de medicamentos, ou seja, a simples entrega do produto, pela prestação de serviços que incorporam, através da Atenção Farmacêutica, um diferencial competitivo no mercado. Dispensação é o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta a apresentação de uma receita elaborada por um profissional especializado. Neste ato o farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento (ALBERTON, 2001). Para Lyra Júnior et al. (2000), o termo Atenção Farmacêutica significa o processo pelo qual o farmacêutico atua com os profissionais e com o paciente na planificação, implementação e monitorização farmacoterapêutica que produzirá resultados específicos. O aconselhamento ao paciente é um dos instrumentos essenciais para a realização da Atenção Farmacêutica, sendo imprescindível o desenvolvimento das habilidades de comunicação, para assegurar a boa relação farmacêutico - usuário. 16 O tipo de atendimento que o paciente recebe influi de forma decisiva na utilização ou não do medicamento, e, mesmo que o diagnóstico e prescrição estejam corretos, a adesão ou “compliance” do paciente ao tratamento dependem da orientação recebida, da aceitação, da disponibilidade e possibilidade de se adquirir o medicamento (ZANINI et al., 1985). Ainda segundo esses autores citados, “compliance” é o termo utilizado para definir o nível de aceitação, cooperação e cumprimento das instruções por parte do paciente em relação ao tratamento médico recebido. A tradução mais apropriada na língua portuguesa é “adesão” do paciente ao tratamento farmacológico. Enfim, não adianta somente ter acesso ao médico e ao medicamento, sendo necessárias as orientações corretas quanto ao uso adequado do medicamento. Zanini et al. (1985) fazem um comentário bastante interessante neste aspecto e atualmente não consideram suficientes, para o paciente, apenas a prescrição e orientação médica, mesmo quando cuidadosa. Surgem dúvidas que tornam necessário repetir as instruções e, eventualmente complementá-las. Correia Junior (1997) também partilha desta idéia e comenta que o farmacêutico tem as condições necessárias para reforçar as informações sobre a terapêutica do paciente. Sem, contudo, afirmar que, a presença do farmacêutico seja o sinônimo de adesão. Então a atenção farmacêutica deve ser direcionada no sentido de manutenção da dignidade e auto-estima do paciente de DA. Para isso, torna-se fundamental o diálogo constante tanto com o paciente quanto com seus familiares, demonstrando apoio, solidariedade e renovação de esperanças de melhoria do quadro clínico. O estímulo às atividades físicas constantes, afazeres domésticos e participação em atividades sociais com outras pessoas muito colaboram nesse processo. Os exercícios de memória (jogos diversos e oficinas programadas) e a terapia ocupacional muito influenciam positivamente no retardamento dos sintomas incapacitantes. As situações de ansiedade ou agressividade podem ser tratadas com calmantes suaves e os quadros depressivos podem exigir um acompanhamento médico mais dedicado. Uma precaução é sempre manter junto aos pacientes suas identificações e endereços, junto à descrição do tratamento adotado, visto que costumam sair e perambular sem rumo nas proximidades da residência (INOUYE; OLIVEIRA, 2004). Atualmente, muitos estudos estão considerando de forma mais direta a prevenção da DA, com análises de histórico familiar, fatores hereditários, 17 uso de medicamentos antiinflamatórios e o teste com algumas vacinas. Porém, a contribuição mais efetiva deverá vir da manipulação molecular, com alteração genética de DNA e outros procedimentos já em teste nos países desenvolvidos. Talvez, do progresso desses estudos saia num futuro próximo, a redução significativa dos sintomas ou mesmo a cura para esse mal que tanto preocupa as famílias no mundo inteiro. 3.2 TERAPIA DO USO DOS ANTICOLINESTERÁSICOS A doença de Alzheimer é a causa mais comum de distúrbio cognitivo progressivo entre idosos. Ela se caracteriza por depósitos de substância beta-amilóide e proteína Tau, inicialmente na região do hipocampo, espraiando-se posteriormente para o lobo temporal, parietal e, por fim, para todo o córtex cerebral. De acordo com Maciel Junior (2007) os sinais e sintomas clínicos das três fases evolutivas da doença são: inicial (formas leves de esquecimento, dificuldade de memorizar, descuido da aparência pessoal e no trabalho, perda discreta de autonomia para as atividades da vida diária, desorientação no tempo e espaço, perda de espontaneidade e iniciativa, alteração de personalidade e julgamento); intermediária (dificuldade de reconhecer as pessoas, incapacidade de aprendizado determina algumas lembranças do passado remoto, perambulação, incontinências urinária e fecal, comportamento inadequado, irritabilidade, agressividade, incapacidade de julgamento e pensamento obcecado); final (perda de peso mesmo com dieta adequada, total dependência, mutismo, estrito ao leito, incapacidade para atividades da vida diária, irritabilidade extrema, morte). A deterioração cognitiva leve tem sido apontada como um transtorno de memória com reflexos sobre as atividades funcionais dos pacientes. Isso normalmente tem sido associado a um período pré-demencial da ocorrência de DA. No entanto, tem sido considerado que outras áreas cerebrais ligadas às atividades cognitivas podem ser afetadas causando outras doenças. Dessa forma, muitos profissionais costumam ligar esse quadro etiológico apenas a DA e outros a um complexo de problemas e sintomas de outras enfermidades. Serrano et al (2007) avaliaram a opinião médica sobre a deterioração cognitiva leve e suas 18 práticas clínicas, diagnósticos e tratamentos. Cerca de 24 médicos do Brasil e Argentina (16 neurologistas e 8 psiquiatras) especialistas em demência e 30 médicos generalistas aceitaram responder a um questionário adaptado para a pesquisa. Os resultados mostraram que 93% dos médicos pensam que se trata de uma entidade heterogênea e não apenas associada à fase pré-demência de DA. Cerca de 83% dos especialistas iniciam o tratamento usando anticolinesterásicos, memantine e vitamina E. A maioria dos médicos considera que a deterioração cognitiva leve se trata de entidade sintomática heterogênea, não limitada a DA, porém iniciam o tratamento com medicamentos normalmente utilizados para a mesma. Isso merece mais atenção e melhor definição de estratégias terapêuticas. A caracterização de DA tem sido feita por uma série de alterações genéticas, neurológicas e neurofisiológicas (ALMEIDA, 1997). As anormalidades nas alterações dos sistemas cerebrais que regulam a produção de acetilcolina são consideradas características fundamentais da doença e geralmente, incluem: grande redução proporcional de acetilcolina (KATZMAN, 1986; NORDBERG et al., 1992); redução de atividade da colina acetiltransferase (KATZMAN, 1986; NORDBERG et al., 1992); degeneração do núcleo basal de Meynert (WHITEHOUSE et al., 1982; SHRÖDER; WEVERS, 1998); alteração no número e sensibilidade dos receptores nicotínicos e muscarínicos cerebrais (NEWHOUSE, 1997; SHRÖDER; WEVERS, 1998); sensibilidade aumentada aos efeitos de drogas anticolinérgicas como a escopolamina (NEWHOUSE, 1997). As principais pesquisas que investigaram a eficácia e segurança do uso dos anticolinesterásicos no tratamento de pacientes com DA são apresentadas a seguir. A primeira droga dessa classe a ser experimentada com êxito em seres humanos foi a tacrina. Apesar dos resultados iniciais animadores, efeitos colaterais subseqüentes levantaram suspeitas sobre sua hepatotoxicidade (WATKINS et al. 1994). No entanto, experimentos envolvendo 1984 indivíduos encontraram efeitos benéficos pequenos, mas significativos na redução dos distúrbios das funções cognitivas. Mas infelizmente a tacrina revelou toxicidade em duas formas. Na primeira, hepatotoxicidade não necessariamente dose-dependente, mas bioquimicamente detectada, resultando na retirada do medicamento dos pacientes. Na segunda, a hepatotoxicidade dose-dependente foi responsável por vários efeitos colaterais colinérgicos, tais como: náuseas, vômitos, diarréia e dor abdominal. O resultado dessas alterações provocou o aumento do risco de 19 abandono da medicação do grupo tacrina em 3,6 vezes em relação ao grupo placebo (FLICKER, 2002). Uma nova geração de inibidores de acetilcolinesterase foi lançada, tendo o donezepil como representante de maior aceitação no mercado. Esse medicamento foi amplamente testado conforme metodologia de Flicker (2002) e o segundo a ser aprovado para uso humano no tratamento de DA nos Estados Unidos. Roger et al. (1998) ampliaram a eficácia e a segurança do donezepil dos resultados iniciais no tratamento de pacientes com DA. Porém, esses benefícios desapareceram depois de trinta semanas de uso em relação ao controle, sugerindo que a droga não interfere de modo eficaz com a progressão da doença. Os estudos realizados em vários pacientes sugeriram que a dosagem de 5mg diários de donezepil foi a que melhor equilibrou a eficácia e tolerância (ALMEIDA, 1998). Outro inibidor de acetilcolinesterase testado e aprovado no tratamento de DA foi a rivastigmina. Em ensaios envolvendo 3370 participantes foram encontradas as melhores respostas para as dosagens variando de 6 a 12 mg diárias de rivastigmina em relação ao grupo placebo. Porém, houve um aumento significativo nos eventos adversos, tais como: náuseas, vômitos, diarréias, cefaléias, dores abdominais e tonturas nos pacientes estudados. Isso aumentou muito a taxa de abandono de medicamentos após 26 semanas (ALMEIDA, 1998). O alcalóide galantamina é um inibidor competitivo e reversível da acetilcolinesterase com ampla experiência acumulada no tratamento de pacientes de DA. Os inúmeros ensaios realizados permitiram obter a dosagem recomendada de 16 a 32 mg diários de galantamina. Os efeitos colaterais adversos são os mesmos de outros inibidores de acetilcolinesterase, principalmente os pacientes que recebem doses variando de 24 a 32 mg diários (ALMEIDA, 1997). O metrifonato é um inibidor irreversível da acetilcolinesterase cujos benefícios no tratamento de pacientes com DA foram descritos por Becker et al. (1998). Esses autores constataram que a dosagem de 2 mg/Kg de peso nos primeiros cinco dias, 0,95 mg/Kg de peso no sexto dia e 2,9 mg/Kg de peso semanais no sétimo dia e nos dias subseqüentes, foram suficientes para promover inibição de 50 a 70% da acetilcolinesterase das hemácias. Esse medicamento foi bem tolerado pelos pacientes, apesar de relatos dos efeitos colaterais de diarréia, vômitos e dores abdominais (CUMMINGS, 1998). Além dos efeitos benéficos sobre 20 a cognição, o metrifonato melhorou também o comportamento dos pacientes tratados (MORRIS et al, 1997). 3.3 TERAPIAS ALTERNATIVAS Engelhardt et al (2005) apresentam inúmeras recomendações e sugestões para o "Tratamento da Doença de Alzheimer" elaboradas pelo grupo de trabalho constituído por participantes da IV Reunião de Pesquisadores em Doença de Alzheimer e Desordens Relacionadas, patrocinada pelo Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. Compreendem tópicos sobre o tratamento farmacológico e não farmacológico do comprometimento cognitivo e declínio funcional, assim como dos sintomas de comportamento e psicológicos dessa doença demenciante. São utilizados diversos níveis de evidências e de recomendações e sugestões para os diversos fármacos propostos, assim como para o tratamento não farmacológico, baseado em ampla revisão bibliográfica, nacional e internacional. Devido ao aumento de ocorrência de casos de DA na população em geral e suas implicações na vida social dos pacientes e seus familiares, torna-se relevante trabalhos interdisciplinares de modo a oferecer condições para preservar suas qualidades de vida e interação cotidiana. Monsalve e Rozo (2007) realizaram uma pesquisa visando aproximação teórica do uso do enfoque terapêutico centrado na integração sensorial como meio para gerar condutas adaptativas na população sujeita a atenção. As autoras descrevem o enfoque dos tratamentos organizados em etapas, que envolvem as estratégias de estímulos sensorial e cognitivo e seus benefícios terapêuticos de acordo com as fases da enfermidade e os níveis de respostas com efeitos positivos para o sistema nervoso central. Demonstrou-se ser de grande importância seguir uma seqüência de aplicação de enfoques, seguindo parâmetros definidos para isso e estudos constantes visando favorecer a conduta terapêutica mais adequada para cada paciente em seu contexto familiar. Oliveira e Stivanin (2005) avaliaram a memória semântica em uma paciente com demência de Alzheimer, através da nomeação de figuras e acesso lexical por meio de descritores semânticos. De acordo com os dados 21 levantados, observou-se déficit de memória semântica com baixo rendimento em ambas as provas, com predominância de erros semânticos, perceptuais e não designações. Foi encontrado déficit na nomeação de figuras e no acesso lexical, dado consoante com a literatura. A análise qualitativa dos erros permitiu observar as estratégias comunicativas utilizadas para compensar as alterações de linguagem e memória, além de permitir orientar a família. Passados cem anos da primeira descrição de DA, essa enfermidade ainda permanece como a forma prevalente de demência e ainda sem tratamento preventivo e curativo. Behrens e Vergara (2007) apresentam um histórico da enfermidade, com enfoque especial para as drogas e tratamentos utilizados nos últimos 30 anos. Sugerem a importância de diagnósticos mais seguros e precoces como forma de atuação mais eficiente para retardar os sintomas. Comentam os avanços obtidos com o diagnóstico in vivo através da deposição de amiloides e emissão de positrons em tomografias e ressonância magnética. Apresentam ainda as terapias alternativas que têm sido tentadas como a vacina com amiloides, a utilização intravenosa de gamaglobulina e a utilização de atividades físicas diversas, estímulos visuais e auditivos e melhoria na atenção dada aos familiares e cuidadores do paciente com DA. A reeducação dos familiares para aumentar a compreensão dos mesmos sobre as características da doença em muito colabora para amenizar os incômodos ocasionados pela progressão dos sintomas. São pouco conhecidos os efeitos de tratamentos diversos oferecidos às mulheres na menopausa sobre a progressão de DA. A menopausa corresponde à cessação permanente da menstruação, conseqüente à perda da função folicular ovariana ou à remoção cirúrgica dos ovários. A idade média para ocorrência da menopausa natural gira em torno de 50 anos. A deficiência estrogênica decorrente da menopausa está associada com sintomas vasomotores, atrofia urogenital, declínio cognitivo, assim como a um aumento no risco de doenças crônico-degenerativas, aterosclerose e doença cardiovascular, osteoporose e DA. A estrogenioterapia permanece sendo o tratamento mais efetivo para o manejo dos sintomas vasomotores e atrofia urogenital, mas pouco se sabe sobre seus efeitos sobre os sintomas de DA (SPRITZER, WENDER, 2007). O lítio é frequentemente utilizado no tratamento do transtorno bipolar, doença associada a um risco aumentado para demência. Evidências experimentais sugerem efeitos neuroprotetores do lítio. Nunes (2006) verificou que o 22 lítio inibe a amiloidogênese e a fosforilação da proteína tau tanto in vitro como in vivo. Estes são processos importantes na patogênese da doença de Alzheimer e abre novas perspectivas de terapias envolvendo esse enfoque. Fortalenza (2005) apresenta uma revisão sobre as perspectivas atuais e futuras no tratamento farmacológico da doença de Alzheimer. Os benefícios e limitações da terapia de reposição colinérgica, representada fundamentalmente pelos inibidores das colinesterases, são apresentados com base em dados de pesquisas neurobiológicas, farmacológicas e clínicas, ilustrados pelos principais estudos controlados por placebo e por estudos recentes de metanálise. O papel da memantina nos casos de demência moderada a grave, bem como as perspectivas de seu emprego em associação com os inibidores das colinesterases, é discutido adicionalmente com base em achados clínicos e neurobiológicos. Discute-se o papel da reposição estrogênica, dos antioxidantes (vitamina E (alfa-tocoferol) e a selegilina), das estatinas e dos antiinflamatórios no tratamento e na prevenção da demência, levando em consideração os resultados negativos oriundos de estudos clínico-epidemiológicos recentes. O Gingko biloba na forma de extrato seco também tem sido utilizado para promover melhoras na cognição dos pacientes com DA. Finalmente, são apresentadas algumas perspectivas futuras do tratamento da doença de Alzheimer: entre as estratégias farmacológicas, que têm como objetivo modificar mecanismos patogênicos, são abordadas as diferentes modalidades da terapêutica antiamilóide, com destaque na imunoterapia da doença de Alzheimer. O estudo de DA deve sempre envolver um enfoque biopsicossocial, pois não se trata apenas do paciente e sua enfermidade, mas de todo o conjunto envolvendo a família e a sociedade que busca prestar cuidados e solidariedade diante da gravidade do quadro clínico que normalmente se apresenta. Mina (1995) já tratava disso em artigo onde apresentava uma série de estratégias terapêuticas que visava atender não apenas ao paciente de DA, mas seus familiares e os cuidadores envolvidos. 23 4 MATERIAL E MÉTODO Este trabalho foi realizado com pacientes com DA de ambos os sexos que recebem tratamento do Sistema Único de Saúde - SUS de Alfenas-MG, com faixa etária de 60 a 92 anos. A amostra consistiu de 15 (quinze) pacientes idosos, divididos em três grupos: G1- pacientes com DA na fase inicial (n =5); G2 – pacientes com DA na fase intermediária (n =5); G3 – pacientes com DA na fase terminal (n =5), de acordo com diagnostico médico. No presente trabalho, foi realizado um estudo de natureza descritiva e exploratória, atendendo aos pré-requisitos de um estudo de casos. O estudo foi realizado no domicílio dos pacientes e teve duração de 6 meses. O estudo compreendeu os períodos seguintes: • Pré-análise: Intervalo de tempo compreendido entre a escolha do paciente e o levantamento prévio de sua ficha médica e consulta aos familiares para esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa e possível aceitação de participação. Foi elaborada uma ficha especial para caracterização do paciente (Apêndice 1) e documento de autorização (Apêndice 2) para visitas e acompanhamento dos sintomas e reação aos medicamentos e terapias adotadas. • Análise: período de contato com o paciente e com seus familiares ou cuidadores responsáveis pelos procedimentos diários com o mesmo. Foi elaborado um formulário com questões sobre o problema (ver apêndices). Nessa fase, buscou-se o acesso a exames solicitados por médicos responsáveis e outros procedimentos que permitissem uma boa caracterização do paciente (hábitos alimentares, atividade física, grau de instrução, sociabilidade, medicamentos em uso, cirurgias sofridas e outros tratamentos) e sua sintomatologia. • Pós-análise: Intervalo de tempo desde o início do acompanhamento e da atenção farmacêutica ao paciente com DA. Foram realizadas visitas periódicas (mensais) às famílias participantes do projeto e entrevistas sobre a progressão do tratamento farmacológico. 24 Todos os medicamentos prescritos pelos médicos responsáveis por cada caso foram devidamente descritos e sua posologia observada e acompanhada. Nas visitas feitas a casa dos pacientes foi dada especial atenção tanto aos pacientes quanto aos seus cuidadores e familiares, principalmente na correta posologia dos medicamentos, explicações sobre reações observadas e na evolução do quadro clínico. Quando possível, dedicou-se um tempo no diálogo direto com os pacientes, especialmente da fase 1 da doença, transmitindo-lhe estímulo para o correto uso dos medicamentos. A atenção aos pacientes foi pautada pela disponibilidade de tempo dos pesquisadores envolvidos e das condições da família do mesmo para receber as visitas. Após os períodos descritos anteriormente, foi dado inicio à análise dos dados obtidos, visando reunir o máximo de informações disponíveis para apresentar um quadro síntese da atenção farmacêutica prestada aos pacientes com DA em estudo. As pesquisadoras prestaram Atenção Farmacêutica em relação a farmacoterapia utilizada pelos pacientes, e orientaram os cuidadores sobre seu cotidiano e ao tratamento adequado. A propriedade das informações é dos pesquisadores que a geriram, conforme mencionado no Projeto. Vale ressaltar que a identidade de cada voluntário foi sempre resguardada. 25 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO As principais informações obtidas dos pacientes portadores de DA desse estudo são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1 - Informações sobre pacientes com Mal de Alzheimer (DA) Ident. Idade Sexo Início Fase Medicamentos em uso A 68 Masc 2002 1 Insulina, Exelon, Enalapril B 81 Fem 2006 1 nenhum C 76 Fem 2004 1 Risperidona D 60 Fem 2005 1 Rivastigmina E 75 Masc 2004 1 Rivastigmina F 72 Fem 1999 2 Rivastigmina G 64 Masc 2001 2 Rivastigmina, Omeprazol, Dramin H 77 Fem 1998 2 Risperidona, Diazepan I 70 Masc 2000 2 Rivastigmina, J 62 Masc 2006 2 Zuclopentixol, Biperideno, Haloperidol K 81 Masc 1996 3 Biperideno, Rivastigmina L 74 Masc 1992 3 Biperideno, Haloperidol M 89 Fem 1990 3 Rivastigmina, Insulina N 92 Fem 1990 3 Biperideno, Haloperidol O 81 Masc 1996 3 Rivastigmina, Dramin A idade mínima dos pacientes foi de 60 anos e a máxima de 92 anos, sendo 8 do sexo masculino e 7 do feminino (TABELA 1). O início do surgimento dos sintomas foi bem variável, no entanto, há caso de pacientes com mais de 16 anos de sobrevida. Na amostragem feita houve uma distribuição equitativa das fases da doença entre os pacientes. Os medicamentos mais comuns em uso pelos pacientes são Risperidona, Rivastigmina, Haloperidol, Biperideno, Insulina e Dramin, com posologia adotada de duas vezes ao dia. 26 Exames para diagnóstico 20% Laboratoriais Tomografia ressonância 80% Figura 1 – Distribuição porcentual dos exames médicos para diagnóstico de Doença de Alzheimer nos pacientes. Os exames para diagnóstico da DA foram tomografia e ou ressonância magnética (80%) e laboratoriais (20%) conforme solicitação do médico responsável (FIGURA 1). Todos os pacientes da fase 3 recebem a visita do médico em casa uma vez ao mês, sendo que os das fases 1 e 2 visitam o médico a cada 2, 3, 4 e 6 meses. A freqüência de consulta médica, independente da fase da DA, é apresentada na Figura 2, com predomínio da consulta mensal (40%) e trimestral (27%). Os cuidados oferecidos em casa aos pacientes das fases 1 e 2 são para alimentação, higiene e troca de roupas, enquanto os da fase 3 são totalmente dependentes dos familiares. Conforme descrito por Maciel Junior (2007), os pacientes da fase 3 geralmente ficam acamados, tendo como cuidadores parentes próximos ou pessoas contratadas especificamente para essa atividade. 27 Consulta médica 13% 7% Mensal 40% bimestral trimestral quadrimestral 27% semestral 13% Figura 2 – Distribuição porcentual da freqüência de consultas médicas dos pacientes com Mal de Alzheimer. Reação adversa 47% 53% Sim Não Figura 3 – Distribuição porcentual de reação adversa aos medicamentos prescritos aos pacientes. As reações adversas aos medicamentos administrados variaram conforme a fase da doença, conforme também verificado por Almeida (1998) e Watkins et al. (1994). Enquanto os da fase 1 quase não tiveram reclamações, os da 28 fase 2 e 3 apresentaram dores abdominais, enxaqueca e sonolência. De modo geral, 47% dos pacientes apresentaram algum tipo de reação adversa aos medicamentos e terapias adotadas (FIGURA 3). Interação 27% 33% Excelente Boa Agressiva Nula 27% 13% Figura 4 – Distribuição porcentual do grau de interação dos pacientes com familiares e cuidadores. A interação do paciente com familiares e cuidadores também variou conforme a fase: fase 1 – excelente (33%), apesar das falhas de memória; fase 2 – humor variando de bom (13%) a agressividade ou rejeição dos cuidados (27%); fase 3 – praticamente ausente ou nula (27%) (FIGURA 4). Houve apenas um caso em que mesmo diante do diagnóstico de DA os familiares mostraram resistência a apoiar o tratamento e argumentam que o paciente sofre apenas desconfortos em função da idade de 81 anos. Dessa forma, o mesmo é tratado com atenção pelos familiares com os quais demonstra pequena interação e dependência para cuidados de higiene, vestuário e alimentação. 29 Atividade de Memória 27% 26% Falhas periódicas Falhas freqüentes Pouca memória Reduzida 20% 27% Figura 5 – Distribuição porcentual de níveis de atividade de memória dos pacientes. Na Figura 5 são apresentados os níveis de atividade de memória dos pacientes, que também variaram conforme a fase: fase 1 – falhas periódicas (26%) a freqüentes (27%); fase 2 – falhas freqüentes a pouca memória (20%); fase 3 – reduzida atividade de memória (27%). Alguns hipertensão, ansiedade pacientes excessiva e além de DA, apresentaram Mal de Parkinson. diabetes, Também alguns apresentaram apenas o diagnóstico de DA, com saúde excelente nos demais órgãos. Quanto à atenção farmacêutica recebida pelos pacientes em estudo foi possível perceber que se limitou ao fornecimento dos medicamentos prescritos e orientações aos familiares e cuidadores quanto à posologia adotada. Em nenhum caso foi percebido um atendimento direto do profissional farmacêutico no cotidiano de tratamentos dos pacientes, conforme sugerido por Inouye e Oliveira (2004). Isso parece associado à falta de solicitação por parte dos familiares, pouca orientação sobre a importância da atenção farmacêutica e em alguns casos, falta de tempo para cuidados mais específicos pelos profissionais envolvidos. 30 Agressividade 40% Sim Não 60% Figura 6 – Distribuição porcentual da ocorrência de agressividade dos pacientes aos cuidadores e familiares. A agressividade e irritação especialmente nas fases 1 e 2 de DA ocorreram em 40% dos pacientes em estudo (FIGURA 6). Essas manifestações são geralmente as mais difíceis na lida diária com os doentes, gerando estresse e inúmeras dificuldades para os responsáveis pela atenção diária. Não foram verificados casos de contratação de enfermeiras ou pessoas com treinamento específico para a prestação de cuidados aos pacientes. Por isso, nem sempre os cuidadores possuem estrutura psicológica e emocional para lidar com essas situações resultando em desistência de atuação e apoio aos pacientes. Para os familiares além do incômodo fica a experiência traumática de ver seus entes queridos sendo transformados em pessoas agressivas e estranhas. Esse enfoque foi apresentado e discutido por Minas (1995) que considerou como um caso grave de distúrbio social nas famílias com pacientes portadores de DA. 31 CONCLUSÕES Foi constatado que a maioria dos medicamentos e terapias atualmente disponíveis amenizam e retardam a progressão dos sintomas, podendo provocar outros desconfortos e reações adversas nos pacientes, sendo imprescindível a atuação do farmacêutico para minimizar ou eliminar estes efeitos. Tanto os tipos de exames para diagnóstico quanto os medicamentos prescritos mostraram-se bastante variáveis entre os pacientes, bem como a freqüência de consultas médicas adotadas. Os pacientes envolvidos nesse estudo apresentaram os sintomas típicos da evolução do mal, recebendo atenção farmacêutica e de cuidadores visando oferecer-lhes apoio para sua higiene, vestuário e alimentação. Aqueles da fase final mostraram-se totalmente dependentes dos cuidadores, acamados, tendo outros males físicos e exigindo atenção constante. A agressividade verificada em 40% dos pacientes tem sido apontada como o maior desafio para cuidadores e familiares que nem sempre se sentem preparados para atuar nesses casos. Como farmacêuticas devemos introduzir a atenção farmacêutica no sentido de manutenção da dignidade e auto-estima do paciente portador de DA. Para isso, torna-se fundamental o diálogo constante tanto com o paciente quanto com seus familiares, demonstrando apoio, solidariedade e renovação de esperanças de melhoria do quadro clínico. O estímulo às atividades físicas constantes, afazeres domésticos e participação em atividades sociais com outros profissionais que também colaboram nesse processo. 32 REFERÊNCIAS ALBERTON, Luciana Maria. Atenção farmacêutica: um exemplo catarinense. Pharmácia Brasileira, Brasília, v. 3, n. 25, p. 25-27, mar./abr. 2001. ALMEIDA, O. P. 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Micro-área:___________________ Data aproximada do início dos sintomas e ou diagnóstico: Fase atual da DA: 2- Atenção Farmacêutica Tipos de exames já realizados: Medicamentos em uso: Posologias adotadas: Reação adversa: Freqüência de visitas ao médico responsável: Tipos de cuidados recebidos em casa: Interação do paciente com familiares e ou cuidadores: Nível de memória em atividade: ( ( ) pouca memória ( )falhas periódicas ( ) falhas freqüentes ) reduzida atividade de memória Demonstra agressividade? ( ) sim ( ) não Observações: 36 APÊNDICE 2 TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS INFORMADO AUTORIZAÇÃO Com a finalidade de conclusão do curso de Pós Graduação em Farmácia Magistral da Universidade Federal de Alfenas, no qual, o tema pretendido é Portadores do Mal de Alzheimer, as alunas Graziela Aparecida Terra Cabral Gonçalves CRF 14531 e Nara Cristina Sousa Cobra Oliveira CRF 14479 ambas farmacêuticas, necessitam de uma pesquisa acurada para maior aprofundamento do estudo. Para atender a este propósito será necessário a realização de entrevistas com os pacientes. Este tipo de procedimento auxilia a nós profissionais da área de saúde e outros colegas também interessados, para que num futuro bem próximo possamos desvendar os mistérios que envolvem esta enfermidade. Portanto será necessário uma autorização do próprio paciente ou de seu cuidador para arquivamento e finalização de pesquisa. “ O paciente__________________________________, Portador do Mal de Alzheimer colabora com as alunas para a realização da entrevista e, por conseguinte, para a finalização do trabalho.” _________________________________ Assinatura do paciente ou responsável. Agradecemos à colaboração e que sua ajuda tão somente irá ajudar à todos.