UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica
2008 – UFU 30 anos
ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO AO PACIENTE PORTADOR DE
PARALISIA CEREBRAL
Carla Silva Siqueira1
Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Odontologia – FOUFU, Av. Pará, 1720, CEP: 38900-405. Bairro
Umuarama. Uberlândia, Minas Gerais, Brasil.
[email protected]
Éverton Ribeiro Lelis1
Universidade Federal de Uberlândia.
[email protected]
Flaviana Soares Rocha2
Universidade Federal de Uberlândia.
[email protected]
Andrea Lopes de Siqueira3
Universidade Federal de Uberlândia.
[email protected]
Queuver Aparício de Carvalho3
Universidade Federal de Uberlândia.
[email protected]
Maiza Segatto Cury3
Universidade Federal de Uberlândia.
[email protected]
Resumo: O cirurgião-dentista deve ter conhecimento sobre os cuidados que deve ter quando se
deparara com pacientes portadores de paralisia cerebral. Características gerais como: falta de
destreza manual, dificuldade de comunicação, por exemplo, devem ser observadas com cuidado no
momento do atendimento odontológico para que a manipulação bucal não prejudique o paciente. A
paralisia cerebral é a desordem de maior importância das que afetam o Sistema Nervoso Central
(SNC). Consiste de uma perturbação das funções somático-motoras causadas por uma lesão
encefálica, tendo o início da incapacidade datando da primeira infância e de natureza nãoprogressiva. Como principal objetivo do trabalho tem-se o de contribuir com o cirurgião-dentista
que realiza atendimento em pacientes portadores de paralisia cerebral, delineando características
clínicas, diagnóstico e as diversas formas de tratamento relacionando com o grau de
comprometimento motor do paciente. Nestes termos, é importante que o profissional de saúde bucal
tenha um conhecimento específico sobre a saúde geral e bucal dos pacientes portadores de
paralisia cerebral para que o manejo dos mesmos seja feito com responsabilidade, atenção e
sucesso.
Palavras-chave: paralisia cerebral, controle de comportamento, atendimento odontológico.
1
Acadêmicos do curso de Odontologia.
Acadêmica do curso de Mestrado da FOUFU.
3
Cirurgiões-dentistas graduados na FOUFU.
2
1. INTRODUÇÃO
A Paralisia Cerebral (PC) é definida como um prejuízo permanente do movimento ou
postura resultante de uma desordem encefálica não progressiva. Pode ter como causa fatores
hereditários ou eventos ocorridos durante a gravidez, parto, período neonatal ou durante os
primeiros dois anos de vida (Araújo; Jaines, 1980). Estima-se que cerca de 5% dos casos são de
natureza genética. Quando a causa encontra-se no período pré-natal (10-15%), esta é decorrente
principalmente de infecções virais (rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus), anóxia intra-uterina,
toxemias gravídicas e radiação. As causas originadas no período natal ou perinatal (65-75%)
acontecem por anóxia cerebral, prematuridade, traumatismo cerebral (hemorragia) e
hiperbilirrubinemia. Aquelas de natureza pós-natal (10-15%) decorrem de traumatismo craniano,
meningite e hidrocefalia (Bobath, 1989 ). Segundo Nelson, pode-se aceitar uma incidência de 1,2 a
2,3 por mil crianças com idade escolar em países desenvolvidos, contudo, o Brasil reúne várias
condições que favorecem a sua ocorrência, em maior escala (Araújo; Jaines, 1980). Os indivíduos
com Paralisia Cerebral podem receber diferentes classificações dependendo do aspecto clínico que
foi considerado. Sob o ponto de vista das alterações do tono muscular e no tipo de desordem do
movimento esses pacientes são identificados como espástico; discinético ou atetóide; atáxico;
hipotônico e misto (Donato, C.A., 1998).
Na maioria dos casos, além do prejuízo motor que está sempre presente, o paciente apresenta
também danos associados que comprometem sua função intelectual, sensitiva, visual, auditiva,
dentre outras. Já em 1893, Sigmund Freud publicava o texto ”Paralisia Cerebral Infantil”, em que
destacava a importância de outros desvios que estavam associados aos distúrbios motores (Araújo;
Jaines, 1980). Dentre as alterações mais freqüentes, encontram-se aquelas que podem interferir
direta ou indiretamente, em maior ou menor grau na forma, função e estética do sistema
estomatognático. Por exemplo, a deficiência mental, epilepsia, disfagia, distúrbios de via aéreas
superiores e inferiores, xerostomia, padrão de respiração bucal, bruxismo, refluxo gastroesofágico
(RGE), distúrbios da marcha e equilíbrio postural, etc.
Além desses desvios inerentes ao quadro clínico de PC, também podem constituir risco a
saúde bucal desse grupo os fatores socioeconômicos como, baixo nível de renda familiar; alto grau
de dependência do paciente nas Atividades de Vida Diária (AVD), características adversas do
cuidador e a escassez de serviços odontológicos básicos e especializados, na rede pública e privada.
2. TIPOS DE PARALISIA CEREBRAL
Dependendo da localização das lesões e áreas do cérebro que foram afetadas, as
manifestações podem ser diferentes. Há três formas (tipos) mais comuns e pode-se classificar um
quarto tipo de Paralisia Cerebral que seria uma combinação de 2 ou mais formas.
O córtex controla os pensamentos, os movimentos e as sensações. Uma anormalidade nela pode
resultar na Paralisia Cerebral do tipo Espástica. Caracterizada por aumento e paralisia de tonicidade
dos músculos. Pode haver um lado do corpo afetado (hemiparesia), os membros inferiores
(diplegia), ou os 4 membros (quadriplegia). Os Gânglios da Base ajudam a organizar os
movimentos finos e delicados. Uma anormalidade deles pode resultar na Paralisia tipo Atetóide.
Caracterizada por distonia (variações da tonicidade muscular) e movimentos involuntários afetando
o Sistema Extra-Piramidal. O cerebelo controla e coordena os movimentos, as posturas e nosso
equilíbrio. Uma anormalidade nele pode resultar na PC tipo Atáxica. Esta se caracteriza por
diminuição da tonicidade muscular, dificuldade para se equilibrar com descoordenação dos
movimentos, podendo haver movimentos trêmulos das mãos e fala comprometida. Os tipos mistos
de paralisia cerebral ocorrem com freqüência: quando a criança combina características dos vários
quadros, embora tenha predominância maior de um deles. De acordo com os membros atingidos
pelo comprometimento neuro-muscular podemos ter o grupo das displegias onde as crianças
apresentam um comprometimento maior das extremidades inferiores do que das superiores; o grupo
2
das crianças com quadriplegia que apresenta um comprometimento do corpo todo e o grupo das
hemiplegias onde a criança apresenta um dimídio (lado) do corpo comprometido.
3. CAUSAS
Há 3 tipos de fatores que predominam, apesar de que as categorizações iniciais dos tipos de
PC têm-se mostrado inconsistentes, pois uma única criança pode mudar de uma categoria
diagnóstica para outra durante o processo de maturação.
3.1 Fatores pré-natais
São aqueles que aparecem antes do nascimento e citamos como principais causas:
Alterações genéticas e/ou congênitas, sendo as mais importantes doenças infecciosas contraídas
durante a gravidez (toxoplasmose, rubéola, herpes, sífilis), exposição prolongada e inadequada aos
Raios-X, uso de drogas e/ou álcool durante a gravidez, hidrocefalia, hemorragias do período
gestacional, eclampsia, diabetes gravídica, etc.
3.2 Fatores peri-natais
Os problemas seriam causados por complicações ocorridas no momento do parto, que
causariam sofrimento fetal com baixa oxigenação cerebral e conseqüente lesão do Sistema Nervoso
Central, um exemplo clássico é a falta de oxigênio.
3.3 Fatores pós-natais
Ocorrem após o nascimento da criança e secundariamente a processos infecciosos do
sistema nervoso central, principalmente encefalites e meningites, abscessos cerebrais, traumatismos
cranianos, dentre outros.
4. PREVENÇÃO
Acompanhamento pré-natal regular e boa assistência ao recém-nascido na sala de parto
diminuem a possibilidade de certas crianças desenvolverem lesão cerebral permanente, por outro
lado, muitas das crianças que superam situações críticas com a ajuda de recursos sofisticados das
terapias intensivas neonatais modernas, principalmente os prematuros, sobrevivem, mas com
seqüelas neurológicas. Portanto, apesar de ter havido uma evolução importante em termos do
atendimento à gestante e ao recém-nascido na sala de parto, nos últimos 40 anos não houve uma
redução significativa da prevalência da PC mesmo nos países desenvolvidos.
Todo esforço para que o período gestacional seja o mais saudável possível através da
manutenção de uma boa nutrição e da eliminação do uso de álcool, fumo, drogas e medicações
sabidamente teratogênicas deve ser feito, pois estas medidas estarão contribuindo para a prevenção
de alguns tipos de PC. A rubéola congênita pode ser prevenida se a mulher for vacinada antes de se
engravidar. Quanto à toxoplasmose materna, medidas de higiene, como não ingerir carnes mal
cozidas ou verduras que possam estar contaminadas com fezes de gato são importantes. As
gestantes com sorologia positiva devem ser adequadamente tratadas, diminuindo assim os riscos de
infecção fetal. A incompatibilidade Rh pode ser facilmente prevenida (vacina anti-Rh+) e
identificada. Quando a bilirrubina não conjugada no recém-nascido atinge níveis críticos, a criança
deve ser submetida à ex-sanguíneo-transfusão (troca de parte do volume sanguíneo). O tratamento
adequado da incompatibilidade sanguínea reduziu em muito a incidência da PC com movimentos
involuntários.
5. DIAGNÓSTICO
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O tipo de alteração do movimento observado está relacionado com a localização da lesão no
cérebro e a gravidade das alterações depende da extensão da lesão. A PC é classificada de acordo
com a alteração de movimento que predomina. Formas mistas são também observadas. Dificuldade
de sucção, tônus muscular diminuído, alterações da postura e atraso para firmar a cabeça, sorrir e
rolar são sinais precoces que chamam a atenção para a necessidade de avaliações mais detalhadas e
acompanhamento neurológico.
A história clínica deve ser completa e o exame neurológico deve incluir a pesquisa dos
reflexos primitivos (próprios do recém-nascido), porque a persistência de certos reflexos além dos
seis meses de idade pode indicar presença de lesão cerebral. Reflexos são movimentos automáticos
que o corpo faz em resposta a um estímulo específico. O reflexo primitivo mais conhecido é o
reflexo de Moro que pode ser assim descrito: quando a criança é colocada deitada de costas em uma
mesa sobre a palma da mão de quem examina, a retirada brusca da mão causa um movimento súbito
da região cervical, o qual inicia a resposta que consiste inicialmente de abdução (abertura) e
extensão dos braços com as mãos abertas seguida de adução (fechamento) dos braços como em um
abraço. Este reflexo é normalmente observado no recém-nascido, mas com a maturação cerebral,
respostas automáticas como estas são inibidas. O reflexo de Moro é apenas um dentre os vários
comumente pesquisados pelo pediatra ou fisioterapeuta. Depois de colhida a história clínica e
realizado o exame neurológico, o próximo passo é afastar a possibilidade de outras condições
clínicas ou doenças que também evoluem com atraso do desenvolvimento neurológico ou alterações
do movimento como as descritas anteriormente. Exames de laboratório (sangue e urina) ou
neuroimagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética) poderão ser indicados de
acordo com a história e as alterações encontradas ao exame neurológico. Estes exames, em muitas
situações, esclarecem a causa da paralisia cerebral ou podem confirmar o diagnóstico de outras
doenças. Em geral, o diagnóstico de paralisia cerebral sugere que o individuo em questão tem
algum distúrbio central de postura e movimento. Além disso, o processo de identificação com
freqüência mostra partes do corpo que estão primariamente envolvidas.
6. TRATAMENTO
Não há medicamentos nem operações que possam curar uma paralisia cerebral, havendo,
porém, diversas e inovadoras possibilidades de melhorar e minimizar seus efeitos. Estes progressos
não são súbitos, mas demorados, avançando progressivamente e na dependência direta dos recursos
tecnológicos, como o uso da Informática na EDUCAÇÃO e dos recursos terapêuticos colocados à
disposição da comunidade. As crianças com PC têm muitos problemas, mas nem todos são
relacionados com as lesões cerebrais. Citaremos apenas os que mais freqüentemente se manifestam.
7. DESORDENS ASSOCIADAS
7.1 Epilepsia
É comum ocorrerem convulsões ou crises epilépticas, de maior ou menor intensidade e
dentro das mais variadas formas desta manifestação neurológica, sendo mais comuns no período
pré-escolar, estando associadas ao prognóstico e à evolução de outros problemas que atingem um
paralisado cerebral.
7.2 Deficiência Mental
Com uma ocorrência de aproximadamente 50% dos casos, tem levado a distorções e
preconceitos acerca dos potenciais destes portadores de deficiência, devendo-se diferenciar os
diversos graus de comprometimento mental de cada criança, baseando-se em acompanhamento
especializado e evolutivo das mesmas.
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7.3 Deficiências Visuais
Ocorrem casos de baixa-visão, estrabismos e erros de refração, que podem ser precocemente
diagnosticados e tratados, com bom prognóstico oftalmológico, devendo-se intensificar sua
diagnose com os novos avanços em tecnologia e a correção preventiva de danos com uso de lentes
ainda nos primeiros anos de vida.
7.4 Dificuldades de Aprendizagem
As crianças com paralisia cerebral podem apresentar algum tipo de problema de
aprendizagem, o que não significa que elas não possam ou não consigam aprender, necessitando
apenas de recursos aprimorados de Educação Especial, integração social em Escolas Regulares, uso
de Recursos Tecnológicos, a exemplo do uso de computadores e outros aparelhos informatizados
para o estímulo e a busca de meios de comunicação e aprendizagem inovadores para eles.
7.5 Dificuldades de Fala e Alimentação
Devido à lesão cerebral ocorrida, muitas crianças com esta necessidade especial apresentam
problemas de comunicação verbal e dificuldades para se alimentar, devido ao tônus flutuante dos
músculos da face, o que prejudica a pronúncia das palavras com movimentos corretos, podendo-se
recorrer a tratamentos especializados e orientação fonoaudiológica, a fim de minimizar e até
resolver alguns destes distúrbios. E para as crianças que não falam, já contamos com os
comunicadores alternativos e as linguagens através de símbolos. Desordens da sucção, mastigação e
deglutição são comuns a estas crianças. Todos estes fatores contribuem para uma ingestão alimentar
abaixo das necessidades. Além disso, muitas crianças com limitações motoras são mantidas por
longos períodos com dietas próprias para bebês. A dieta deve ser planejada de acordo com as
características clínicas e as limitações de cada criança. Por exemplo, para facilitar a deglutição e
reduzir o refluxo de parte do conteúdo gástrico para o esôfago, recomenda-se manter a criança com
a cabeça e o tronco em posição semi-elevada durante e por alguns minutos após cada refeição. Nas
crianças com refluxo gastresofágico, as refeições devem ser de menor volume e oferecidas em
intervalos de tempo menores para que não haja prejuízo do total de nutrientes ingeridos em um dia.
As crianças com dificuldade para deglutirem líquidos, devem ser alimentadas com pequenos
volumes de dieta pastosa e de sucos engrossados com frutas e gelatinas procurando-se assim manter
um bom nível de hidratação.
8. TRATAMENTO ODONTOLÓGICO ESPECIALIZADO
Devido a problemas decorrentes de seu quadro, como a sialorréia (a baba incessante, por
descontrole de musculatura oro-faríngea) há uma grande incidência de cáries, doença periodontal e
má oclusão, que podem e devem ser prevenidas com um precoce atendimento a todas as crianças
com PC, principalmente com a participação ativa dos pais ou parentes no processo de introdução de
cuidados de higiene bucal e do tipo de alimentação, associados ao tratamento ambulatorial destes
Pacientes Especiais. A melhor opção para as pessoas com Paralisias Cerebrais, quanto a um
tratamento odontológico, é o desenvolvimento de um trabalho de Odontologia Preventiva,
procurando-se orientar e conscientizar as famílias da necessidade de atendimento nesta área o mais
cedo possível. O atendimento ambulatorial deve ser sempre realizado em conjunto com a família e
por profissional capacitado. Estas pessoas têm uma necessidade aumentada para o cuidado
preventivo odontológico; para prevenção de cárie e doenças periodontais. A maioria destes
pacientes não apresenta plena capacidade de realizar seus cuidados bucais necessitando da ajuda de
demais pessoas. A participação de familiares ou responsáveis nestes cuidados é fundamental para o
sucesso do tratamento odontológico e para promoção da saúde bucal do paciente. A primeira
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abordagem odontológica deve ser composta de uma aproximação com o paciente e familiares assim
como o conhecimento das condições médicas preexistentes. Salienta-se que muitos destes pacientes
apresentam complicações orgânicas. O melhor atendimento exige uma integração das áreas
odontológica e médica, psicológica, social, etc. O dentista especialista realiza o exame
bucodentário, avalia o comportamento do paciente, dos familiares, e o relacionamento entre ambos.
Da mesma forma que para crianças normais, faz-se o condicionamento psicológico do paciente
especial, para que se obtenha sua cooperação, antes de quaisquer outros recursos. A contenção
física ou química somente é utilizada diante da ineficiência dos métodos psicológicos. Segundo
Gargione, (1998), o atendimento odontológico em pacientes especiais, atualmente, pode ser feito
em três modalidades: a normal, que é o atendimento em que existe a cooperação por parte do
paciente, alternando-se somente o tipo de ambiente, instrumental e material odontológico a ser
empregado; o condicionado, que utiliza técnicas de demonstração com todo o aparato odontológico,
para que o paciente saiba, antes de ser atendido, o que será utilizado em sua boca, incluindo as de
vibrações e ruídos que farão parte do atendimento proposto; e o sob contenção (mecânica, química,
hipnose). Os pacientes que apresentem problemas graves no que se refere à cooperação e ao manejo
devem ser considerados dentro do grupo com indicação para a contenção química e anestesia geral.
Todo tratamento odontológico é considerado como parte de um programa permanente de saúde
bucal. Dentro desse programa, as medidas preventivas e as restauradoras devem estar perfeitamente
integradas, ficando na dependência de cada paciente, a predominância de umas sobre as outras.
9. TRATAMENTOS INOVADORES E PESQUISAS
9.1 Toxina botulímica
Após vários estudos e experiências controladas cientificamente, encontrou-se a utilização
terapêutica desta toxina, transformando-a em um potencial e efetivo agente terapêutico para o
tratamento de diversas síndromes neurológicas, inclusive as contrações musculares involuntárias,
tão comuns aos portadores de Paralisias Cerebrais.
A terapêutica deve ser instituída por especialistas (neurologistas, fisiatras, ortopedistas, etc),
por via intramuscular (injeções), em diluições salinas, sendo que a dose a ser injetada varia de caso
a caso, dependendo da intensidade da contração muscular involuntária, da idade e da musculatura
afetada do paciente. A indicação mais freqüente, em casos de paralisias cerebrais, são os músculos
das extremidades inferiores (pernas, etc), que, quase sempre, interferem na marcha e na postura. O
efeito das injeções deve ser monitorado por exames clínicos e por análise da marcha, ou dos ganhos
e/ou melhoria da capacidade de relaxamento muscular adquirida após este tratamento. No Brasil, já
contamos com sua utilização para tratamentos aplicados a diversos quadros, sendo que
recentemente foi legislada a possibilidade de pagamento, através das Secretarias de Saúde, oriundo
do Ministério da Saúde, para os pacientes que se dirigirem às Secretarias de Saúde mais próximas
de sua residência, munidos de receita médica prescrevendo o produto, e um breve relatório escrito
pelo especialista que acompanha o caso, descrevendo o distúrbio do movimento ou enfermidade,
tempo de duração entre diagnóstico e início de tratamento e relacionando outros medicamentos que
o paciente esteja tomando.
9.2 Baclofen
Muitas das pessoas com Paralisias Cerebrais apresentam espasticidade e tem alterações e
flutuações do tônus muscular, sendo portanto de interesse dos pesquisadores a descoberta de meios
de tratar, controlar ou aliviar os sintomas decorrentes destas situações.
O Baclofen é uma substância que vem sendo empregada para o controle da espasticidade,
principalmente por seus efeitos de relaxamento muscular e ação antiespasmódica. Porém provoca
efeitos como: sedação, fraqueza, fadiga, aparecimento de alucinações e confusão mental, além de
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dificuldades com o equilíbrio e a marcha. Em doses elevadas foram relatados casos de distúrbios
respiratórios e de alterações renais e cardiológicas.
É um procedimento de custo elevado por ser necessária uma intervenção cirúrgica, e ainda
pouco acessível em nossa realidade sócio-econômica, porém com indicações precisas para as
pessoas com graves comprometimentos pela espasticidade, pela sua resultante a longo prazo (por
exemplo um maior tempo de duração dos benefícios em relação à Toxina Botulínica).
9.3 Equoterapia
A equoterapia (hipoterapia) é um tratamento com finalidades cinesioterápicas através do uso
de cavalos, sob orientação e acompanhamento de profissionais da área de reabilitação, em processo
de interdisciplinaridade com profissionais da equitação, saúde e educação. O cavalo é uma ajuda
inovadora para que um ser humano, em interação com o meio ambiente, possa adquirir mais
equilíbrio corporal e emocional. Sua principal resposta é a melhora da postura e do tônus muscular
do usuário deste tratamento, porém há uma melhora global em termos de reabilitação, tornando a
equoterapia um apoio indispensável para os quadros deficitários. Há ainda melhoras na coordenação
temporo-espacial, consciência de esquema corporal e lateralidade, com reeducação de posturas e
inibição de reflexos, com conseqüente relaxamento, o que pode ser muito útil para os casos de
espasticidade e outras alterações de tônus muscular. Há sempre que considerar uma melhora da
autonomia, da autoconfiança e da auto-estima de pessoas submetidas à equoterapia.
10. FAMÍLIA E SOCIEDADE
Os pais das crianças com paralisia cerebral vivem um enorme problema no seu dia-a-dia,
sentido uma profunda angústia na busca de uma cura impossível, frequentemente acompanhada por
sentimentos de dúvida e ansiedade, marcados pela culpa por algo que poderia ter sido feito para
evitar a lesão cerebral irreversível e pelo inevitável desapontamento pela lentidão dos progressos de
reabilitação e as dificuldades de integração social. Para ajudar o desenvolvimento de um filho com
paralisia cerebral aguarda-os uma tarefa exigente. Desde logo, os problemas são múltiplos: a
criança é incapaz de segurar a cabeça, de se manter sentada, de caminhar ou, então, move-se de
maneira descontrolada e insegura. O fisioterapeuta, ao longo de várias sessões de tratamento,
ajudará os pais a melhor compreender os problemas da criança e a lidar com ela de forma mais
adequada. Movimentar a criança deverá ser feito vagarosamente, dando-lhe oportunidade de se
ajustar às mudanças de posição. O bebê poderá ter dificuldades em chamar a atenção do adulto.
Caberá aos pais descobrir a melhor forma de integração, embora os técnicos os possam ajudar na
descoberta do brincar, sorrir, falar, olhar/comunicar. Seguir-se-á toda uma fase de experiências
sensoriais, através do brincar, por vezes com recurso a brinquedos adaptados a necessidades
específicas.
A avaliação contínua ajudará a definir as necessidades específicas e as capacidades de cada
criança, em cada momento, encaminhando-a para as várias estruturas de apoio - escola regular com
ou sem apoio, centros e escolas de ensino especializado. Sempre que possível, a criança deficiente
deverá freqüentar o ensino regular, embora, por vezes, possa ter necessidade de freqüentar, por
períodos maiores ou menores, centros mais especializados, onde equipas transdisciplinares,
intervindo junto da criança e da família, garantem um melhor desenvolvimento e a continuidade de
cuidados específicos de que necessita, de maneira a tornar possível uma maior autonomia e uma
integração mais completa na escola e na sociedade. ]Todas as crianças necessitam de contactos
sociais para a descoberta da sua própria valorização e aceitação individual. É nesse sentido que os
pais deverão levar os seus filhos com paralisia cerebral ao mercado, à feira, à loja, ao jardim, a casa
dos amigos, à praia e ao campo. Visitas que devem ser acompanhadas com conversas sobre as
novas experiências e complementadas com a participação em atividade de tempos livres e na
convivência com a natureza.
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A criança deficiente deverá ser tratada como qualquer outro membro da família, evitando a
super-proteção. Aos amigos e vizinhos deverá ser dita a verdade sobre a criança, o que certamente
vai criar um círculo de pessoas dispostas a ajudar. Aliás, os pais deverão pedir e aceitar essas
ajudas, repartindo os seus problemas. Os pais deverão ainda tentar que outras crianças brinquem
com ela, explicando-lhes que aprecia a brincadeira, apesar de não poder mover-se como os outros.
A integração na sociedade implica que a criança deve aprender o que deve e não deve fazer, mas a
criança não deve ser criticada continuamente e estimulada para as atitudes corretas. A criança com
paralisia cerebral tem o direito de crescer e ser ela própria. A ser tão independente quanto possível.
É, sem dúvida, um enorme esforço que se exige aos pais, mas cada etapa de progresso, por pequena
que seja, permite manter viva a esperança de haja um novo passo em frente.
11. CONCLUSÃO
Considera-se que a inclusão do paciente com Necessidades Especiais no âmbito da
odontologia seja um processo que passa não somente pelos meios de desenvolver e adaptar
tecnologias que venha lhe favorecer, mas pela superação de preconceitos e estigmas que afastam a
sociedade como um todo de reconhecer neste indivíduo um ser humano e sua integralidade.
12. REFERÊNCIAS
Araujo, E.G.; Jaines, L.T., 1980, “Vivendo o desafio: a libertação das deficiências físicas”. 2.ed.
Ilus. José Raul Soares Winter. São Paulo, Loyola.
Bobath, K.A., 1989, “Deficiência motora em pacientes com Paralisia Cerebral”, editora Manole, S.
Paulo.
Donato, C.A., 1998, “Desafiando a Síndrome de Down”. São Paulo : EDISPLAN.
Unpred, D.A., 1994, “Fisioterapia Neurológica”, 1ª Edição, S. Paulo, Ed. Manole.
Schwartzman, J.S., 2004, “Paralisia cerebral”. Arquivos Brasileiros de Paralisia Cerebral; 1(1): 4-7.
Sabbagh-haddad, A.; Cipioni A.L.; Guaré R.O., 2001, “Pacientes Especiais”. In: Guedes-Pinto AC.
Odontopediatria. São Paulo; Editora: Santos.
Olney S.J.; Wright M.J., 1995, “Cerebral palsy”. In Campbell SK (Ed). Physical therapy for
children. Philadelphia: Saunders:489-524.
DENTISTRY TREATMENT OF CEREBRAL PALSY PATIENTS
Carla Silva Siqueira
Federal University of Uberlândia. School of Dentistry, Av. Pará, 1720, Zip Code: 38900-405, Uberlândia, Minas
Gerais, Brazil.
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Éverton Ribeiro Lelis
Federal University of Uberlândia.
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Flaviana Soares Rocha
Federal University of Uberlândia.
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Andrea Lopes de Siqueira
Federal University of Uberlândia.
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Queuver Aparício de Carvalho
Federal University of Uberlândia.
8
[email protected]
Maiza Segatto Cury
Federal University of Uberlândia.
[email protected]
Abstract: The dentist must have knowledge about the care they should have when treating patients
with cerebral palsy. General characteristics such as: lack of manual dexterity and difficulty of
communication, should be observed carefully during dental exam for avoiding harmfull
manipulation for the patient. The cerebral palsy is a disorder of the utmost importance affecting the
Central Nervous System (CNS). It consists of a non-progressive disruption of somatic-motor
functions caused by a brain injury and the onset of disability dating from the early childhood. The
main objective of this work was to contribute with the dentist who performs care in patients with
cerebral palsy, enumerating clinical features, diagnosis and treatment of various forms related to
the degree of commitment engine of the patient. Accordingly, it is important that oral health
professionals have specific knowledge on oral and general health of patients with cerebral palsy for
that the management of these patients is done with responsibility, attention and success.
Keywords: cerebral palsy, behavior´s control, dental exam.
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atendimento odontológico ao paciente portador de paralisia cerebral