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Discurso de Leonel Brizola no comício da Central do Brasil (13 de março de 1964)
Este é um encontro do povo com o governo. Encontro com esta multidão e com os milhões
que, através dos seus rádios, do recesso de seus lares, estão presentes não apenas para aplaudir, mas
para dialogar com o governo. Se fosse apenas para aplaudir, não seríamos um povo independente,
mas um rebanho de ovelhas. O povo está aqui para clamar, para reivindicar, para exigir e para
declarar sua inconformidade com a situação que estamos vivendo.
Saudamos o governo pelo seu gesto democrático. Porque é realmente democrático um
governante descer para o diálogo com o povo. E estamos certos de que o presidente não veio, nesta
noite, apenas para falar, mas para ouvir e para ceder ao povo brasileiro. Para ceder a esta pressão – é
a voz que vem da fonte de todo o poder, é a pressão popular, a que com honra, um governante deve
se submeter.
Quero citar e aplaudir estes dois atos que devem deflagrar um processo de transformação em
nosso país: o decreta a Supra e o decreto de expropriação das refinarias de petróleo.
Povo e governo, num país como o nosso, devem formar uma unidade. Unidade esta que já
existiu em agosto de 1961, quando o povo praticamente de fuzil na mão, repeliu o golpismo que nos
ameaçava e garantiu os nossos direitos. Unidade, esta, que já existiu no plebiscito de janeiro de
1963, quando mais de dez milhões de brasileiros exigiram o fim da conciliação do parlamentarismo
e a realização imediata das reformas.
Quando uma multidão se reúne como nesta noite, isto significa um grito do nos caminhos da
sua libertação. Em verdade, se conseguirmos hoje a restauração daquela unidade, o presidente
poderá retornar, através da manifestação do povo, às origens de seu governo. E, para isso, será
suficiente que ponha fim à política de conciliação e organize um governo realmente democrático,
popular e nacionalista.
Pode ser que, neste momento, a minha palavra esteja sendo impugnada. Podem julgar que as
minhas credenciais não sejam suficientes. Mas o meu lugar é ao lado do povo, interpretando suas
aspirações, e por isso, aqui estou como um dos seus autênticos representantes.
Mas quero perguntar ao povo: querem que continue a política de conciliação ou preferem
um governo nacionalista e popular? Aos que desejam um governo nacionalista e popular que
levantem as mãos.
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Chegamos a um impasse na vida do nosso país. O povo brasileiro já não suporta mais suas
atuais condições de vida. Hoje, até as liberdades democráticas estão ameaçadas. Vimos isso em
Belo Horizonte, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, onde um governo reacionário está
queimando os ranchos dos camponeses.
O que se passa no estado da Guanabara é uma prova dessa ameaça, pois a Guanabara é
governada por um energúmeno. Tanto isso é verdade que o próprio presidente da República, para
falar em praça pública, precisou mobilizar as valorosas Forças Armadas.
Não podemos continuar nesta situação. O povo está exigindo uma saída. Mas o povo olha
para um dos poderes da República, que é o Congresso Nacional, e ele diz NÃO, porque é um poder
controlado por uma maioria de latifundiários, reacionários, privilegiados e de ibadianos. É um
Congresso que não dará nada mais ao povo brasileiro. O atual Congresso não mais se identifica
com as aspirações do nosso povo. A verdade é que, como está, a situação não pode continuar. E
aqui vai a palavra de quem deseja apenas uma saída para o trágico impasse a que chegamos. A
palavra de quem apenas quer ver o país livre da espoliação internacional como está escrito na CartaTestamento de Getúlio Vargas.
E o Executivo? Os poderes da República, até agora, com suas perplexidades, sua
inoperância e seus antagonismos, não decide. Por que não conferir a decisão ao povo brasileiro? O
povo é a fonte de todo poder. Portanto, a única saída pacífica é fazer com que a decisão volte ao
povo através de uma Constituinte, com a eleição de um congresso popular, de que participem os
trabalhadores, os camponeses, os sargentos e oficiais nacionalistas, homens públicos autênticos, e
do qual sejam eliminadas as velhas raposas da política tradicional.
Dirão que isto é ilegal. Dirão que isto é subversivo. Dirão que isto é inconstitucional. Por
que, então, não resolvem a dúvida através de um plebiscito?
Verão que o povo votará pela derrogação do atual Congresso.
Dirão que isso é continuísmo. Mas já ouvi pessoalmente do presidente da República a sua
palavra assegurando que, se fosse decidida nesse país a realização de eleições para uma
Constituinte, sem a participação dos grupos econômicos e da imprensa alienada, mas com o voto
dos analfabetos, dos soldados e cabos, e com uma imprensa democratizada, o presidente encerraria
o seu mandato.
A partir destes dois atos – assinatura do decreto da SUPRA e do que encampa as refinarias
particulares – desencadear-se-á, por esse país, a violência. Devemos, pois, organizar-nos para
defendermos nossos direitos. Não aceitaremos qualquer golpe, venha ele de onde vier. O problema
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é de mais liberdade para o povo, pois quanto mais liberdade o povo tiver maior supremacia exercerá
sobre as minorias dominantes e reacionárias que se associaram ao processo de espoliação de nosso
país. O nosso caminho é pacífico, mas saberemos responder à violência com a violência.
O nosso presidente que se decida a caminhar conosco e terá o povo ao seu lado. Quem tem
o povo ao seu lado nada tem a temer.
Panfleto. O jornal do homem da rua. Rio de Janeiro, 16 de março de 1964, n. 5, p. 2-3.
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