Percepção dos Usuários da UBS Acerca da Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças Users' perception of UBS About Health Promotion and Disease Prevention Maria Aparecida Felipe Silva¹ Raimundo Tavares de Luna Neto ² Itaécio Felipe Silva ³ Cleilton de Araujo Correia 4 Thiago Nogueira Ferreira 5 RESUMO Esse estudo faz uma análise da Atenção Primária como o primeiro contato da população com o sistema de saúde de um país. Tem por objetivo geral identificar a percepção dos usuários da UBS acerca da promoção da saúde e prevenção de doenças. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório com uma abordagem qualitativa, realizada com 20 usuários da UBS do bairro Veneza do município de Iguatu-CE. Para a coleta de dados aplicou-se uma entrevista semi-estruturada em agosto e setembro de 2010 com anuência escrita dos participantes. Os dados foram categorizados, analisados e interpretados para uma melhor compreensão do leitor. Dos 20 entrevistados, obteve-se os seguintes resultados: com relação à Saúde predominava a idéia que essa é a ausência de doença, ou bem-estar físico, mental e social ou ainda, corpo em ótimo funcionamento, corpo saudável, livre de qualquer problema. Diante das posições em relação à promoção da saúde e prevenção de doenças, podemos perceber que a maioria dos usuários da atenção básica não estão preparados para desfrutarem desse serviço. Percebeu-se que para atender as necessidades de cada usuário e desenvolver um trabalho de educação em saúde que junto com a participação popular possa atender e conscientizar os usuários da importância da manutenção da saúde se faz necessário trabalhar cada vez mais na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Palavras-chave: promoção da saúde; prevenção; usuários. ABSTRACT This study is an analysis of primary as the first contact of the population with the health system of a country. It aims at identifying the perception of UBS on health promotion and disease prevention. This is a descriptive exploratory study with a qualitative approach, carried out with 20 of UBS's neighborhood in the city of Venice ______________________________________ ¹ Enfermeira da Universidade Regional do Cariri-URCA. 2 Professor especialista do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Regional do Cariri-URCA. 3 Enfermeiro da Universidade Regional do Cariri-URCA. 4 Enfermeiro da Universidade Regional do Cariri-URCA. 5 Enfermeiro da Universidade Regional do Cariri-URCA. To collect data we applied a semi-structured interviews in August and September 2010 with written consent from participants. The data were categorized, analized and interpreted for a batter unders tanding of the reader of the 20 respondents, we obtained the following results: in relation to the prevalent idea that health is the absence of disease or physical well-being, mental and social or even body in optimal functioning, healthy body, free from any problem . The positions regarding health promotion and disease prevention, we can see that most users of primary care are not prepared to enjoy this service. It was felt that to meet the needs of each user and develop a health education work with that popular participation can meet and educate users of the importance of health maintenance becomes increasingly necessary to work in health promotion and disease prevention. Keywords: health promotion, prevention; users. INTRODUÇÃO Um campo que merece destaque na manutenção da saúde é a prevenção de doenças que é a ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença ¹. É nítido que intervenção e recuperação do corpo biológico não têm respondido de forma plena às necessidades de saúde, pois estas vão além e demandam por uma atenção que leve em conta a integralidade do ser humano, a qualidade de vida e principalmente a promoção da saúde que aparece como um dos níveis da prevenção primária e que tem como foco de atenção a família, considerando o meio ambiente, o estilo de vida com seus fundamentos básicos ². Sendo necessário conhecer os cuidados primários e os principais problemas enfrentados pela comunidade onde atuamos para agirmos de acordo com suas necessidades e assim melhorar a assistência no âmbito da educação, prevenção e controle de agravos a saúde e doenças já instaladas. A promoção da saúde não depende apenas dos profissionais envolvidos na Atenção Primária (AP), nem só do governo, mas, também, e principalmente, da participação popular atuando para melhorar sua qualidade de vida, seja com modificações em seus hábitos, seja no aprendizado sobre as doenças e a prevenção de seus agravos, desenvolvendo o autocuidado ³. A AP trata-se do primeiro contato da população com o sistema de saúde de um país. Em 1978 foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o primeiro nível de contato do indivíduo, família e comunidade com o sistema nacional de saúde trazendo os cuidados de saúde o mais próximo possível de onde as pessoas vivem e trabalham constituindo o primeiro elemento de um progresso contínuo de atenção em saúde 4. Antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), havia o conceito de que o investimento na AP traria melhorias para o modelo de saúde em vigor, mas nada ainda tinha sido efetivado. Com a criação do SUS em 1988 e a implantação do Programa Saúde da Família (PSF) anos depois, pode-se verificar o quanto este conceito estava correto a partir de melhores índices de saúde, maior expectativa de vida, menos mortalidade infantil, diminuição dos agravos a saúde, entre outros 5. Quando o caso do paciente não pode ser resolvido na AP, principalmente, envolvendo reabilitação, é nítida a demora nos processos de referência e contrareferência o que acaba gerando um atraso na assistência por encaminhamento para os centros especializados, assim como também há dificuldades na realização dos exames específicos oferecidos pelo SUS. O adiamento da procura por parte dos usuários pela AB acaba dificultando a detecção precoce dos processos patológicos e suas complicações, não fazendo parte desse processo a procura constante desse serviço para a prevenção de doenças. Diante do exposto questiona-se por que isso acontece? Por que a maioria das pessoas só procura atendimento de um profissional de saúde após a instalação dos sintomas da doença? Quais são os impeditivos da procura pela UBS? Qual a importância da prevenção de doenças e promoção da saúde na ótica dos usuários? A resposta a essas perguntas conota de real importância como fonte de conhecimento para a população e a sociedade como um todo, pois servirão de subsídio para o conhecimento dos problemas enfrentados pela AB no combate as doenças e prevenção das mesmas. Servirá também como fonte de conhecimento para os acadêmicos e profissionais entenderem como se comporta os usuários do SUS em relação a sua saúde. O presente estudo, tendo como objetivo geral identificar a percepção dos usuários da UBS acerca da promoção da saúde e prevenção de doenças, tem como finalidade ouvir os usuários do serviço de saúde e, então construir, com a participação conjunta entre usuários e serviço de saúde, uma proposta de melhoria na AB. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo-exploratório com abordagem qualitativa. Consideramos exploratória por envolver um denso e vasto estudo bibliográfico, bem como uma participação mais estreita com os personagens da pesquisa. De forma mais geral, o método que foi escolhido, possibilitará uma melhor compreensão do conteúdo pesquisado, devido ás varias possibilidades abertas na pesquisa qualitativa. O presente estudo foi realizado nas residências dos usuários da ESF do bairro Veneza localizado na zona urbana do município de Iguatu-CE. O município de Iguatu localiza-se na região centro-sul do Ceará, distante cerca de 380 Km da capital do Estado. É considerada cidade pólo da região, com aproximadamente 92.260 habitantes 6. A ESF do bairro Veneza também atende as famílias do bairro 7 de Setembro, Vila Cidal, Centro, Cocobó e pessoas referenciadas de outras unidades. No bairro existem Escolas, Creche, Templos Religiosos, Praças, Fábricas e possui um comércio variado. A pesquisa foi realizada com 20 usuários da AB do bairro Veneza, do sexo masculino e feminino, onde utilizou-se como técnica para coleta de dados uma entrevista semi-estruturada no domicílio dos mesmos. Os dados foram coletados nos meses de agosto e setembro de 2010, utilizando como instrumento uma entrevista semi-estruturada. A entrevista semi-estruturada é uma junção de perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de falar sobre o tema proposto 7. Foi empregada a técnica de análise de conteúdo proposta por Bradley. Os passos metodológicos proposto por este autor definem que em pesquisas qualitativas, as grandes massas de dados são quebradas em unidades menores e, em seguida, reagrupadas em categorias que se relacionam entre si e de forma a ressaltar padrões, temas e conceitos. Sendo assim, a fase de classificação dos dados foi construída a partir de questionamentos realizados sobre estes dados, baseados na fundamentação teórica e releitura do material coletado 8. A referida pesquisa foi submetida à aprovação do Comitê de Ética da Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS), localizada na cidade de Quixadá-Ce para que fosse assegurados os princípios da bioética. A pesquisa obedeceu a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Os sujeitos da pesquisa foram respeitados quanto a sua autonomia e dignidade 9. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Na pesquisa faz-se uma análise da percepção dos usuários sobre a promoção de saúde, a prevenção de doenças e a assistência na Atenção Primária à Saúde-APS, sendo esta entendida como função central do sistema nacional de saúde, integrando um processo permanente de assistência sanitária, que inclui prevenção, promoção, cura e reabilitação. Após ouvir as entrevistas e, posteriormente transcrever as falas dos entrevistados, a fim de atender aos objetivos da pesquisa, os dados foram agrupados em categorias de modo a torná-los mais compreensíveis, facilitando o entendimento do leitor. Caracterização dos sujeitos da pesquisa Nos itens abaixo apresentamos os dados referentes ao sexo, idade, estado civil e escolaridade dos entrevistados. Discorremos sobre as principais particularidades que essas características podem influenciar na vida de cada cidadão em particular na saúde e no modo de vida determinantes desta. Diverso estudos têm enfatizado que a posição do indivíduo na estrutura social constitui um importante preditor das suas condições de saúde, sendo os grupos sociais menos privilegiados considerados os mais prejudicados. Dentre os indicadores mais importantes para mensurar o nível sócio-econômico associado à saúde da população, citam-se o nível de instrução, a renda e a ocupação 10 . A idade dos usuários da UBS envolvidos na pesquisa, como pode ser visto na tabela 1, está compreendida entre 18 e 77 anos, fato esse que mostra a diversidade desse serviço, abrangendo o princípio da universalidade que garante atendimento a toda a população. Diante das informações colhidas, podemos perceber que tanto jovens, adultos e idosos não realizam de forma integral práticas de promoção da saúde e de prevenção de doenças como recomenda a AB, apesar do trabalho desenvolvido pela ESF e dos meios envolvidos aos ensinamentos sobre as formas de adquirir saúde. Entre os sujeitos da pesquisa, pode-se perceber que a população idosa são as que mais são acometidas por doenças crônicas e, consequentemente, as que mais estão propícias a desenvolverem patologias associadas as suas condições clínicas. Fato este agravado por esse tipo de população apresentar nível escolar baixo, apresentar o autocuidado diminuído e enfrentamento e estilo de vida ineficaz perante suas patologias. Das 20 pessoas entrevistadas 3 possuíam o 1º grau incompleto. 7 pessoas possuem o 1º grau completo, correspondendo a 35%. Duas (2) pessoas possuem o 2º grau incompleto o que corresponde a 10%. Seis (6) pessoas possuem o 2º grau completo o que inclui 30% dos entrevistados e apenas 2 pessoas possui o ensino superior incompleto correspondendo a 10% dos entrevistados. Através dos dados vimos que todos os entrevistados possuem escolaridade. Mesmo assim, percebemos através das falas logo adiante, que esse indicador social não é suficientemente capaz de desempenhar isoladamente a conscientização que saúde faz parte de um processo, no qual outros fatores também estão envolvidos, como hábito e estilo de vida. Quanto à situação empregatícia, 20% dos entrevistados são dona do lar, normalmente em virtude a dedicação ao lar e a família. Entre os entrevistados havia 3 aposentados, recebendo esse benefício salarial por causa da idade. Para a complementação da renda familiar duas (2) pessoas trabalhavam como cabeleireira. Das 20 pessoas entrevistadas duas (2) eram professoras, sendo uma particular e duas (2) pessoas desenvolviam um trabalho autônomo. Os outros entrevistados ocupavam os mais diversos seguimentos de trabalho, como: um (1) estudante; um (1) agropecuarista; um (1) comerciante; 1 (um) administrador; 1 (um) eletrotécnico; e uma (1) secretária do lar. Existia ainda entre os usuários da UBS uma (1) pensionista que recebia o benefício por causa do falecido marido. Foi relatado pela maioria dos entrevistados que a ocupação é um dos principais impeditivos para procura a ESF. Colocaram principalmente, a imcompatibilidade de horários entre o trabalho e o funcionamento da UBS, como sendo um impecílio para a procura e assistência à saúde. Sendo, assim, necessário rever o conceito de acessibilidade na AP. Nem um dos entrevistados ganha menos de um salário mínimo, 12 (doze) ganham entre 1 a 2 salários mínimo o que corresponde 60% dos entrevistados, 5 (cinco) ganham de 2 a 3 salários mínimo conrespondendo a 25% e apenas 3 ganham mais de 3 salários mínimo, no total de 15%. Foi percebido entre o sujeitos da pesquisa uma relação proporcional entre a renda familia e a procura por prevenção de doenças, pois a medida que os indivíduos ganham mais a procura por prevenção, inclusive em atendimento particular, também aumenta. QUESTÕES NORTEADORAS Análise da importância do processo educativo na promoção da saúde Sobre a definição de saúde, diante do comportamento dos indivíduos entrevistados, as pessoas apresentam uma dificuldade em aprender como se pode adquirir e manter a saúde. Observando as respostas obtidas, notou-se que a maioria dos sujeitos tinha a idéia de que saúde era ausência de doença, ou um bem-estar físico, livre de qualquer problema. Além desses conceitos a saúde é o resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde11. É a partir da concepção que as pessoas têm sobre o mundo, sobre seu real papel na sociedade e, inclusive, do processo saúde/doença, que os grupos sociais organizam-se e dão um significado social a essas práticas 12. É bem verdade que os usuários não são exclusivamente os culpados pelas condições de saúde individual ou da coletividade. No entanto, a busca pela saúde deve partir de cada indivíduo. Por isso as políticas de saúde pública devem estabelecer ações de promoção da saúde capaz de solucionar os problemas levando em consideração a participação popular como agente integrante dos problemas de saúde. As políticas públicas não é apenas norma, nem somente ato da administração, consiste no conjunto entre as normas e os atos para atingir uma finalidade proposta no texto constitucional. Tem a função de instituir direitos sociais e exteriorizar a função planejadora do Estado 13. Abaixo encontra-se alguns conceitos dos usuários do SUS sobre saúde e o que pensam sobre a importância da saúde em suas vidas: “É qualidade de vida” (Nando Reis, Daniela Mercury). “É você estar bem, tá se sentindo bem fisicamente, psicologicamente porque também tem todo um fator e ter boa saúde é você estar bem, [...] a saúde é muito importante” (Pitty). Quanto à percepção dos usuários do SUS sobre promoção da saúde uma parte dos sujeitos demonstrou interesse pelo assunto, mas apresentam pouco conhecimento sobre o tema, não se preocupando em realizá-las. Análise da importância do processo educativo para prevenção de doenças Dentre as várias definições que há para a prática da educação em saúde as mais debatidas e consideradas como resumo das demais, temos a educação em saúde preventiva ou tradicional e a radical. Ambas divergem em ideologia, mas apresenta o foco de prevenção de doenças como sistema de idéias de assistência em políticas de saúde pública. Em relação ao trabalho de prevenção de doenças os entrevistados relataram sobre a importância deste para o Estado, para as pessoas que não tiveram acesso a educação e para o setor saúde. “Tem uma importância pessoal na área da saúde, certo, tem importância econômica na parte financeira, é bem mais barato você fazer uma prevenção do que um tratamento, seja clínico ou cirúrgico, certo?” (Nando Reis). “É importante, porque na verdade os leigos, os semi-analfabetos, agente não entende muito do que se passa, então é muito bom. Se agente tivesse uma orientação, tivesse mais uma orientação seria bem melhor” (Maria Cecília). Fica claro através das falas que os usuários reconhecem a importância do trabalho de educação em saúde na AB, por possibilitar ensinamentos as pessoas que não tiveram acesso a educação. Salientam a importância do trabalho da educação para a saúde para como um processo de enriquecimento pessoal e vários seguimentos sociais, pois dá a possibilidade de inserir o indivíduo na promoção da saúde. Dos 20 entrevistados 12 responderam que não estavam passando por problemas de saúde e os 08 restantes disseram enfrentar algum problema de saúde, porém 15% destes, não reconheciam suas patologias como doença e como sendo preveníveis. Como mostra as falas a seguir. “Não, o que eu saiba mesmo só tenho a pressão alta, [...] acho que grave num tenho” (Alcione). “Não, acho que não, porque hipertensão não tem como evitar, né?” (Zezé de Camargo). Percebemos que as informações que chegam até o usuário, advêm de diversas áreas e convívio dos mesmos e, uma parte dos entrevistados sempre procura conhecimentos sobre o tema. A maioria dos entrevistados já recebeu, e colocam como fonte principal de informação a respeito de prevenção de doenças, em algum momento de sua vida, orientações de profissionais de saúde, da família, de entidades comunitárias, dos meio de comunicação e da escola para realização de práticas preventivas. Dentre os entrevistados um (1) ressaltou a importância e o apoio da família como parte integrante para o acompanhamento e parceira na prevenção de doenças e tratamento quando esta já está instalada. “Do médico ele falou que eu sempre procurasse a enfermeira, o médico, [...] Fizesse exame, fazer checape, exame de sangue, colesterol, essas coisas” (Pitty). “Foi na escola. Os professores quem falaram sobre camisinha essas coisas” (Roberto Carlos). Identificação dos impeditivos da procura pela UBS Em relação à frequência em que as pessoas procuravam a unidade UBS, foram colocadas as seguintes opções: semanal; quinzenal; mensal e outros. 30% do total dos usuários relataram ter uma frequência mensal, os outros 70% procuravam raramente. Das 20 pessoas entrevistadas 75%, só procuram a UBS em casos de doenças. 10% procuram em caso de consultas de rotina e 15% totalizando três pessoas procuram por outros motivos tais como: pegar a medicação; vacinação e aferição de pressão arterial. O fato que chamou atenção é que nenhum dos entrevistados procura a unidade de saúde para esclarecer suas dúvidas. Os usuários relataram que a falta de tempo, demora na resolutividade dos exames, deficiência do atendimento, dentre outros fatores são impeditivos que dificultam a procura pela UBS. “Não procuro por falta de tempo” (Chico Buarque). “E os exames demora quatro, seis meses pra chegar aí num posso esperar” (Claudia Leite). “Eu acho o pessoal muito desatencioso, eu peço as coisas a elas e é difícil conseguir alguma coisa aí é difícil procurar mais elas” (Margarete Meneses). “Eu não procuro, não é porque seja ruim, sabe o que é? É comodismo também” (Pitty). Pode-se dizer que a educação em saúde contribui para o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Essa concepção faz com que a população deixe de ser apenas o alvo dos programas, passando a assumir uma posição atuante na definição dos problemas a serem enfrentados. A importância da UBS na promoção da saúde e prevenção de doenças A acessibilidade é a garantia de atendimento sem barreiras financeiras, organizacionais ou estruturais a população para se conseguir qualidade de acesso14. Os usuários colocaram como importante o trabalho da ESF para promover a saúde e prevenir as doenças, por facilitar o acesso ao serviço de saúde e pelo fato de existir uma diversidade de profissionais trabalhando em conjunto na comunidade. “Um auxilio aos hospitais e uma maior comodidade para quem estar próximo dos mesmos” (Chico Buarque). “Foi uma das melhores coisas que fizeram pra saúde, e bem pertinho da casa da gente” (Zezé de Camargo). “É importante em todos os sentidos, porque nós temos vários profissionais bons e na realidade nós, a comunidade que relaxamos” (Maria Cecília). Ao analisar as falas notou-se que a maioria dos entrevistados reconhecem a criação do PSF como um grande avanço na saúde por facilitar o acesso ao serviço e que mesmo sem conhecer o princípio da acessibilidade, descrevem que ter um serviço de saúde no bairro promove uma maior comodidade as pessoas beneficiados pelo serviço da AB. Sendo que o PSF vem desempenhando um papel de mudança na assistência a saúde e otimizando o atendimento do SUS. Fica claro através das falas a importância do vínculo que a equipe oferece para adquirir uma assistência de qualidade, pois assim, os usuários depositam na ESF o papel de cuidador da comunidade afirmando um compromisso entre usuário e a ESF. Identificação do grau de conhecimento da população sobre as vantagens da prevenção de doenças Vários estudos apontam que a prevenção de doenças juntamente com a promoção da saúde é a melhor forma para adquirir saúde de qualidade. É um tema abrangente, precisando de ações dos profissionais nas ações diretas e educativas, porém são necessárias ações coletivas, nas estruturas sócio-econômicas para que sejam eficientes as ações envolvidas para esse fim. Prevenção de doenças é o termo que, em saúde pública, significa a ação antecipada por um conjunto de medidas que tem por finalidade prevenir e atenuar as doenças, complicações e consequências 15. Quanto ao entendimento sobre prevenção de doenças, grande parte dos entrevistados tinha em mente que o conceito sobre prevenção de doenças era através de exames e consultas com médicos, sendo as outras medidas básicas de prevenção pouco expressa, como comportamento pela busca de conhecimentos sobre saúde e as maneiras de adquiri-las e procura por estilo de vida saudável. Quando questionamos os entrevistados acerca de prevenção de doenças todos tinham a consciência da importância sobre o tema, mas poucas ações eram feitas pelos mesmos, havendo um déficit no autocuidado. “Procurar fazer exames que diagnostique futuras doenças” (Chico Buarque). “Acho importante, tem que fazer exame e cuidar da saúde” (Ana Carolina). Quando questionamos sobre o entendimento sobre prevenção de doenças, 70% consideram a prevenção fácil pelo fato de haver muita divulgação das medidas preventivas e que existem muitos recursos para auxiliar o sistema de saúde. Com isso as pessoas sabem como agir, mas nem sempre adotam essas orientações. “Não, eu num acho não. Porque agora ultimamente a gente tem os médico, né!? O posto de saúde, o médico, o enfermeiro, a ACS, então num é difícil não. O comodismo que faz com que a gente deixe de fazer essa prevenção” (Maria Cecília). Dos 20 entrevistados 30% consideram que a prevenção de doenças é difícil, porque não encontram disposição e tempo para cuidarem de si mesmos. Muitos desses demonstraram conhecimentos sobre algumas medidas de prevenção, mas disseram que era difícil adotá-las por já estarem habituadas aos padrões de estilo de vida vivido pelos mesmos. Isso fica expresso pelas seguintes falas: “Para pessoas que trabalham e estudam como eu geralmente tenho pouco tempo de cuidar de si mesmo” (Chico Buarque). Outras relataram não ter conhecimento das ações de prevenção o que demonstra a falta de orientação e de busca pela prevenção. Isso reforça a idéia do modelo assistencialista ou tradicional ao qual os usuários da AB foram subemetidos, que por anos permaneceu prevalente como política de saúde pública, em que o foco de atenção era a doença e não a pessoa como um ser holístico. “Num sei, é não, hoje em dia eu num sei nem como é que faz, eu pensei que não tinha diabetes e a minha é a das mais alta que tem. Agente num pode prevenir não, num pode prevenir nada”. (Marina) O modelo assistencialista, historicamente hegemônico, focalizando a doença e a intervenção curativa e fundamentado no referencial biologicista do processo saúde-doença, preconiza que a prevenção das doenças prima pela mudança de atitudes e comportamentos individuais. As estratégias desta prática educativa em saúde incluem informações verticalizadas que ditam comportamentos a serem adotados para a manutenção da saúde 16 . Para reverter essa situação, a prática de educação e saúde deve estar centrada nas opiniões e no saber popular juntamente com o conhecimento científico para, dessa forma, analisar as melhores maneiras de realizar as atividades de prevenção, pois com a participação da população poderemos perceber quais os problemas existentes e a causa deles e assim fazer um planejamento sólido, mais eficaz para resolução das dificuldades apresentadas pelos os usuários. Dessa forma o modelo empregado deve ser o dialógico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando em conta as informações levantadas, e após uma análise crítica das entrevistas, foi percebido que a ESF têm um papel extremamente relevante na Atenção Básica - AB por possibilitar atendimento às pessoas necessitadas de cuidados. No entanto, a proposta inicial de se trabalhar educação em saúde com a participação popular ainda não foi atingida por completo, sendo obrigatório investir muito nessa estratégia para se obter um serviço de qualidade e que funcione como preconiza a constituição. Após toda a análise dos dados neste trabalho, foi possível perceber que os usuários, apesar de não se referirem claramente os princípios do SUS, os conhecem parcialmente, principalmente o da universalidade e a importância da acessibilidade, as quais se fazem largamente presente e incorporado aos seus discursos. No que diz respeito a estes princípios, torna-se evidente que os usuários reconhecem a sua importância, uma vez que verbalizam ser a saúde um direito de todos e dever do Estado, o que caracteriza o atual sistema como democrático e de caráter igualitário diante da população. Diante das posições em relação à promoção da saúde e prevenção de doenças, podemos perceber que a maioria dos usuários da AB não estão preparados para desfrutarem desse serviço. É necessário instruir os usuários para que tenham a noção de participação para o funcionamento correto da AB, mostrando para eles que a saúde se constrói através de hábitos saudáveis e acompanhamento contínuo das condições biopsicossociais. Podemos dessa forma dizer, que não estaremos trabalhando somente para o povo, mas incluindo a participação comunitária para o planejamento da assistência. Pode-se verificar através das afirmações dos entrevistados que a maioria tinha uma visão de prevenção de doenças apenas quando a enfermidade já estava instalada, e que as medidas adotadas seriam para prevenir as complicações, sendo assim uma prevenção secundária. Dessa forma fica evidente que os usuários centralizam a doença e não a saúde, dificultando a obtenção de qualidade de vida. As principais dificuldades relatadas pelos sujeitos da pesquisa em relação à procura e oferta da promoção da saúde e prevenção de doenças, como falta de tempo, dificuldades encontrados no funcionamento envolvendo funcionários e serviços, não são fatos recentemente relatados pelos usuários. São acontecimentos que persistem durante décadas em nosso país, e que só serão resolvidos quando existir políticas de saúde resolutivas em todas as esferas do governo. Para tanto, é necessário implantar mais ESF para atender a população com mais tranquilidade com utilização de estratégias que visem à resolução e prevenção dos problemas que determinadas comunidades venham enfrentar. Podemos afirmar que existe um serviço saturado e ineficiente para a demanda de usuários existente, tanto pelo quadro funcional carente como pela estrutura física das unidades de saúde empregada para o atendimento populacional. É necessário investir na reforma, construção de novos prédios adaptados e na contratação e valorização dos funcionários para atender essa demanda, e assim, conseguir desenvolver um trabalho de educação em saúde eficiente. Estudos apontam novas tendências, formas e tecnologias renovadoras que tem por objetivo resolver o atendimento da população. Com essas inovações o trabalho e a assistência dos profissionais também precisaram se adequar a essas novas ideologias. No entanto, a população não acompanhou essas mudanças em razão de não receberem ensinamentos adequados de conscientização e de existir um sentimento de passividade perante os usuários para promoção da saúde e prevenção de doenças. Isso acontece porque a prática da AB não condiz com o que está escrito. A própria forma de triagem e o número de vagas oferecido diariamente denunciam à forma assistencialista empregado as pessoas que procuram a ESF. Dessa forma, pretende-se que este trabalho abra espaço para que os usuários, principais membros que desfrutam do sistema de saúde sejam ouvidos e possam expressar suas necessidades, contribuindo para as reflexões e melhoria no setor da saúde. REFERENCIAS 1. FIGUEIRA, T. R.; FERREIRA, E. F.; SCHALL, V. T.; MODENA, C. M. Percepções e ações de mulheres em relação à prevenção e promoção da saúde na atenção básica. Rev. Saúde Pública. vol. 43, n. 6, 2009, p. 937-943. 2. ROCHA, S. M. M.; ALMEIDA, M. C. P. 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