CIDADANIA CIDADANIA Responsabilidade empresarial Responsabilidade empresarial Questão de ética P PANZICA O consumidor deve exigir cada vez mais das empresas um modo de gestão válido ética, social e legalmente or muito tempo, consumidor consciente e seletivo era o que exigia mercadorias e serviços de qualidade; agora, a demanda vai além de reclamações e processos judiciais. O consumidor-cidadão faz escolhas preocupando-se com a sociedade, interessa-se pelo modo de gestão das empresas, pela ética e pela conduta adotadas nos negócios. A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) surgiu como uma resposta das empresas ao aumento das exigências dos consumidores e da opinião pública. A empresa não deve suprir o papel do Estado, deve ser parceira e co-responsável pelo desenvolvimento da sociedade e pela preservação da humanidade, pois existe uma relação de interdependência entre os diversos setores da sociedade para que esta se torne mais justa, eqüitativa e sustentável. Nesse sentido, cabe às empresas assumir práticas que vão além da legislação. 42 Revista do Idec | Abril 2005 O consumidor, por outro lado, deve cobrar as empresas por meio de seus hábitos de consumo. A expectativa é de que os consumidores assumam um papel fundamental no estímulo e na cobrança da responsabilidade social empresarial. Ações filantrópicas ou de investimento comunitário são bem-vindas, mas é importante esclarecer que a RSE deve ser pressuposto e base das atividades do negócio das empresas, ou seja, não adianta uma empresa investir na favela vizinha à sua sede se ela é campeã de reclamações no Procon. Realizar atividades sociais visando apenas divulgar o nome da empresa ou como forma compensatória não traz resultados positivos sustentáveis ao longo do tempo. A Responsabilidade Social Empresarial deve focar a cadeia produtiva e considerar as fases de consumo e pós-consumo. A Red Puentes, uma rede de ONGs latino-americanas e da Holanda que busca a promoção da responsabilidade social empresarial do ponto de vista da sociedade civil, da qual o Idec é membro, acredita que a iniciativa está intimamente relacionada com “o fim de práticas que desrespeitem os direitos dos trabalhadores, das comunidades locais, dos consumidores e com o término da corrupção”. RSE EM DEBATE NA ISO O consumidor que dá preferência a empresas que praticam ações responsáveis ainda tem dificuldade para identificá-las, pois falta comunicação e informações disponíveis. Está em debate a elaboração de uma guia de responsabilidade social pela Organização Internacional de Normatização – ISO (sigla em inglês de International Organization for Standardization). A entidade pretende elaborar diretrizes para que as em- presas assumam e exerçam sua responsabilidade social. O Idec faz parte da delegação brasileira que discutirá a ISO 26000, nome da nova norma. A primeira reunião plenária do grupo de trabalho em responsabilidade social da ISO aconteceu em Salvador entre os dias 7 e 11 do mês passado, e contava com cerca de quinhentos participantes de oitenta países. Seu principal objetivo foi definir a organização do trabalho futuro e a discussão e determinação, entre outras coisas, da estrutura que guiará o padrão para a responsabilidade social. O desen- volvimento completo da norma deve terminar em três anos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), organização que representa o Brasil na ISO, tem, agora, o desafio de reproduzir no nível nacional a mesma estrutura do grupo de trabalho internacional, dando espaço e garantindo a participação de representantes de ONGs, trabalhadores, consumidores e membros da academia, além dos representantes de governos e empresas, para que a delegação brasileira leve para as reuniões internacionais os resultados das discussões realizadas no Brasil. responsabilidade social devem exigir métodos de verificação externa para assegurar a credibilidade das informações fornecidas pelas empresas e, assim, garantir a confiança do público em relação a elas. Entre outras coisas, a verificação externa não pode ser feita apenas por auditores ou empresas de auditoria, seguindo o modelo de consulta às partes envolvidas; a verificação deve incluir organizações e/ou pessoas que tenham credibilidade entre as partes envolvidas. O Idec defende ainda que a ISO deve levar em consideração toda a cadeia produtiva, pois a maioria dos problemas ambientais com trabalhadores e de violação de direitos humanos ocorre mais no âmbito dos fornecedores do que no das empresas. Com relação a isso, as empresas podem alegar não ter responsabilidade legal, mas isso não exclui sua responsabilidade social sobre eles. Além da cadeia produtiva, as diretrizes devem considerar as fases de consumo e pós-consumo, pois as empresas dividem com os consumidores e com os governos a responsabilidade pela construção de alternativas aos atuais padrões insustentáveis de produção e consumo. A ISO, seguindo orientação de seu conselho, inovou a sua forma de trabalho, dando espaço para governos, empresas, academia, ONGs, trabalhadores e consumidores. Porém, muitas dessas organizações estão enfrentando dificuldades, por um lado, financeiras para participar das reuniões e, por outro lado, por falta de organização das discussões em nível nacional. Caso a ISO não garanta que as organizações de consumidores, as representações de trabalhadores e as ONGs participem efetivamente das discussões, existe um sério risco de que os esforços sejam desperdiçados. Se as demandas desses grupos não estiverem refletidas nas diretrizes da ISO em RSE, o Idec não recomendará o seu uso para aferição. Idec e a RSE O Idec é a favor da elaboração de diretrizes em responsabilidade social empresarial, pois acredita que elas podem contribuir para uma visão mais transparente do que a que resulta dos diferentes códigos de conduta atualmente adotados pelas empresas. Além disso, espera-se que o estabelecimento de um padrão internacional possa aumentar o número de empresas que assumem seriamente seu papel na comunidade. O diálogo das partes envolvidas (consumidores, trabalhadores, governos, comunidades, ONGs etc.) deve ser a base na qual as empresas vão identificar quais são os aspectos sociais e ambientais com maior impacto e, assim, definir quais serão suas ações prioritárias. Dessa forma, o Idec entende que a real comunicação com as partes envolvidas deve ser uma das principais exigências das diretrizes da ISO em RSE, assim como a divulgação pública dos resultados desse diálogo. Portanto, diretrizes da ISO em Revista do Idec | Abril 2005 43