1 ADMINISTRANDO CONFLITOS INTERNOS DENTRO DA EMPRESA *Silvio Aal Junior *Sonia Valci Hammerschmidt ** Homero Pampollini Júnior RESUMO O presente artigo aborda a questão do conflito no interior da empresa e procura esclarecer que conflitos são episódios geradores de disputas acirradas, sempre presentes nos relacionamentos humanos e no ambiente do trabalho, como fatores indispensáveis, tanto para a evolução das pessoas como de um sistema organizacional. Por meio de pesquisa bibliográfica contextualiza-se o conflito, e as condições que o predispõem, seus antecedentes e conseqüências, dando ênfase à importância de sua administração no interior da empresa, levando em consideração que situações conflitantes quando bem resolvidas por intermédio de um planejamento apropriado, fundamentado no respeito às diferenças, na cooperação e no diálogo, pode consistir numa estratégia positiva de lidar com a situação e desta forma conduzir as organizações a novas transformações, muitas vezes tão necessárias para o seu bom funcionamento e sua sobrevivência. Palavras-chave: Conflitos. Relacionamentos Interpessoais. Ambiente de Trabalho. *Administradores. Pós Graduandos do Curso Gestão Estratégica Humano Comportamental. Curso de Pós Graduação - Faculdade Padre João Bagozzi - Ano 2010. [email protected] /[email protected] **Administrador de Empresas - Professor Universitário - Mestre em Engenharia de Produção Universidade Federal de Santa Catarina-Coordenador do Núcleo de Ciências da Administração e Desenvolvimento - Pós-Graduação Bagozzi. [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO No presente artigo procura-se abordar o conflito como integrante natural dentro de uma empresa, podendo ser utilizado como instrumento de geração de transformações e inovações no âmbito organizacional. A importância do tema conflito relacionado ao ambiente de trabalho, reside no fato deste ser um dos maiores desafios atuais dos gestores na busca de estratégias e alternativas para administrar conflitos, de modo que seus efeitos gerem resultados positivos tanto para as relações interpessoais como para o bom funcionamento das organizações. Na maioria das vezes as pessoas não possuem objetivos e interesses idênticos ou semelhantes. As diferenças de objetivos e de interesses pessoais produzem algum tipo de conflito. As implicações da gestão de conflitos se apresentam vastas, seja para colaboradores, seus familiares, para a empresa e seus fornecedores, seja para clientes, patrões, e outros casos afins. Os conflitos existem desde o surgimento do homem e, ainda, é algo que ocorre com muita freqüência em nosso dia a dia e, muitas vezes, não é abordado de forma profissional. Para podermos superar os obstáculos profissionais, faz-se necessário o emprego de alguns procedimentos que visem a facilitar a administração de tais conflitos. Os conflitos podem ser gerados por situações como estresse, medo das mudanças, falhas na comunicação e diferenças de personalidades, podem ser de toda natureza, desde pequenas discussões sobre a melhor forma de realizar um processo, até grandes divergências sobre a estratégia da organização. Sempre que existir uma diferença de prioridades ou objetivos, existirá um conflito. Os conflitos são naturais, e até desejáveis. Se não existissem nas Empresas, provavelmente significaria que os colaboradores estão acomodados e sem real interesse em suas funções. Neste sentido, por meio de uma breve revisão da literatura, delineiam-se algumas noções sobre conflito, condições que o predispõem, suas conseqüências, e mais, destacam se alguns passos importantes para melhor gerenciá-los, pois os grupos quando se deparam com um conflito, geram 3 desperdício de tempo, de dinheiro, entre outras ações prejudiciais à estrutura organizacional das Empresas. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Definição e Noções Gerais sobre Conflito O termo conflito tem sua raiz etimológica no latim, conflictos, que significa desacordo, choque. O vocábulo, na língua portuguesa, expressa “profunda falta de entendimento entre duas ou mais partes...” (HOUAISS, 2001, p. 797). A palavra conflito está ligada ao desacordo, controvérsia, discórdia, divergência e/ou antagonismo. A vida de uma pessoa ou de um grupo é um constante afrontamento com conflitos, muitos dos quais são tratados de uma maneira dita como saudável, enquanto que outros conflitos atrapalham a vida das pessoas ou de um grupo durante muito tempo. A definição detalhada de conflito é um processo de oposição e confronto que ocorre entre indivíduos ou grupos nas organizações, quando as partes envolvidas exercem poder na busca de metas ou objetivos valorizados e obstruem o progresso de uma ou várias metas. Isso é de fácil visualização nas organizações sejam elas com ou sem fins lucrativos (DUBRIN, 2003). Os conflitos existem desde os primórdios da humanidade. São inerentes ao processo de evolução do ser humano, portanto, em qualquer área da vida há algum tipo de conflito, que segundo ANINGER (2007, p. 1), se origina “da diversidade de pontos de vista entre pessoas, da pluralidade de interesses, necessidades e expectativas, das diferentes formas de agir e de pensar de cada um dos envolvidos.” A resolução de um conflito conduz a novos e diferentes conflitos e assim, indefinidamente, parece ser algo inacabável. O conflito dentro das organizações sempre existiu, na visão dos gestores diz respeito ao que pode ser feito para que os conflitos sejam sanados de uma forma estratégica ou utilizados para fazer aflorar comportamentos e atitudes que venham a contribuir na realização de trabalho e no alcance dos objetivos pré-estabelecidos. COHEN (2003) afirma que dependendo do tipo de trabalho que os 4 colaboradores da organização realizem, com ou sem interação social direta, os resultados vão depender necessariamente da representação social resultante. Para MOSCOVICI (2000) não existe uma “receita” apropriada para a resolução de conflito. Ainda segundo o autor, antes de pensar numa forma de lidar com o conflito, é importante e conveniente procurar compreender a dinâmica do conflito e suas variáveis, para alcançar um diagnóstico razoável da situação, o qual servirá de base para qualquer plano e tipo de ação. 2.2 As diferentes abordagens na conceituação de conflito: Vamos examinar cada uma das abordagens a respeito de conflitos. Segundo ROBBINS (2002) Temos a visão tradicional, a visão das relações humanas e a visão interacionista. - Visão Tradicional: uma das visões mais antigas anos 30 e 40, na qual os seus princípios defendem que o conflito deve ser evitado, por indicar disfunção no grupo ou na organização, logo visto como algo desnecessário e prejudicial, uma vez que as conseqüências dele eram a violência e a destruição, sendo assim necessário evitá-lo; - Visão de Relações Humanas: a teoria das relações humanas, Anos 40-70 defende que o conflito é natural, uma realidade que não se pode evitar que é natural em qualquer grupo ou organização e este não tem de ser negativo, pode ser mesmo uma força positiva para o aumento da produtividade. - Visão Interacionista: aqui não só surge uma abordagem nova e diferente, mas também avançada sobre a perspectiva de gestão contemporânea de pessoas, no que concerne à definição de conflitos, onde trata o mesmo não como danoso às organizações ou difícil de ser evitado, mas como uma forma de contribuição positiva para a mudança e inovação, ou seja, agora existe a necessidade que os líderes mantenham o nível de conflito gerenciável, não necessitando evitá-los. Os conflitos estão relacionados a questões pessoais e de relação interpessoal envolvendo auto-estima, afirmação, valores, insatisfação dentro do ambiente de trabalho, comunicação deficiente entre outras. É importante, em primeiro lugar, identificar qual é o tipo e a causa do conflito para que se possa 5 desenvolver uma estratégia no sentido de administrá-lo da melhor forma possível visando sua minimização. De acordo com CHIAVENATO (2004, p. 416) dentre os vários tipos de conflitos pode-se mencionar três níveis principais: 1. Conflito percebido: os elementos envolvidos percebem e compreendem que o conflito existe porque sentem que seus objetivos são diferentes dos objetivos dos outros e que existem oportunidades para interferência ou bloqueio. É o chamado conflito latente, que as partes percebem que existe potencialmente. 2. Conflito experienciado: quando o conflito provoca sentimentos de hostilidade, raiva, medo, descrédito entre uma parte e outra. É o chamado conflito velado, quando é dissimulado, oculto e não manifestado externamente com clareza. 3. Conflito manifestado: quando o conflito é expressado através de um comportamento de interferência ativa ou passiva por pelo menos uma das partes. É o chamado conflito aberto, que se manifesta sem dissimulação. Ressalte-se que em qualquer caso, os conflitos quando são administrados de modo construtivo despertam o interesse que estimulam a aprendizagem e proporcionam processos de renovação e transformações necessárias tanto para o crescimento pessoal como coletivo. 2.3 Condições que Predispõem a Geração de Conflitos nas Empresas As situações de conflito surgem por diversos pretextos, chamadas por CHIAVENATO (2004, p. 416) de “condições antecedentes dos conflitos [...] as quais tendem a criar percepções diferentes entre indivíduos e grupos”, e constantemente estão presentes nas empresas sob quatro condições assinaladas por CHIAVENATO (2004 p. 416-417): “1) Ambigüidade de papel; 2) Objetivos concorrentes; 3) Recursos compartilhados; 4) Interdependência de atividades“. Em relação a ambiguidade de papel as pessoas podem perceber que estão desenvolvendo atividades com propósitos inconciliáveis, quando, por exemplo, para elas não fica clara sua expectativa em relação ao trabalho executado na organização (CHIAVENATO, 2004). Quanto aos “objetivos concorrentes” com o crescimento da empresa, fica claro que, os grupos se diferenciam no modo de trabalhar, uma vez que buscam se especializarem cada vez mais em suas atividades para atingirem 6 seus objetivos. Desse modo, os grupos focalizam objetivos distintos, e com o tempo, começam a desenvolver linguagem, pensamento e modo de agir próprios, dando a impressão, muitas vezes, de possuírem objetivos e interesses incongruentes dentro da organização, situação que tende a suscitar conflito (CHIAVENATO, 2004). No que se refere aos “recursos compartilhados”, a carência de recursos humanos, créditos orçamentários, máquinas entre outros, disponíveis dentro da empresa, os quais necessitam ser compartilhados entre os grupos, pode ser considerado um fator preponderante para a geração de conflitos internos dentro da organização (CHIAVENATO, 2004). Na quarta condição antecedente do conflito - “interdependência de atividades”, isto significa que pessoas ou grupos de uma empresa dependem umas das outras para concluírem suas atividades e alcançarem suas metas. Em outras palavras, o desempenho e o sucesso da realização das tarefas possuem interdependência, situação que pode auxiliar ou prejudicar na realização e conclusão do trabalho (CHIAVENATO, 2004). É importante destacar que as condições antecedentes tornam favorável a ocorrência do conflito. E assim, CHIAVENATO (2004, p. 417) afirma que “O conflito se desenrola em um processo dinâmico no qual as partes se influenciam mutuamente”. Neste caso, uma das partes percebe que existe uma circunstância predisponente ao conflito e começa a desenvolver sentimentos de conflito com relação à outra parte, engajando-se em uma conduta de conflito. A ação de uma das partes conduz a alguma atitude de defesa, levando a outra a reagir. Dependendo da percepção quanto à reação que pode ser positiva ou negativa, é possível que haja uma intensificação do conflito ou por outro lado, uma maneira de solucionar o mesmo (CHIAVENATO, 2004). Como se apreende as relações entre grupos dentro das organizações são intricadas e os conflitos que delas derivam são na maioria das vezes inevitáveis, uma vez que o êxito alcançado por um grupo em uma unidade de trabalho depende do resultado do outro, fato que gera ansiedade e divergências entre os indivíduos podendo ser prejudicial ao fluxo dos trabalhos no interior da empresa. 7 2.4 Conseqüências dos Conflitos A gestão de conflitos tende a crescer de importância dentro das empresas tendo em vista a importância, cada vez maior, dada às pessoas que nelas trabalham; os conflitos que os envolvem passam a ser um problema, uma vez que podem reduzir a produtividade, conseqüentemente, afetando a lucratividade e rentabilidade da instituição. Dependendo da importância que damos a um conflito, ignorando-o ou reprimindo ele tende a crescer e a se agravar. Porém, quando é reconhecido e as ações corretivas são aplicadas imediatamente, poderá ser resolvido e transformado numa força positiva, capaz de mudar hábitos e nos estimular a busca por resultados mais positivos. As conseqüências do conflito no interior da empresa podem ser positivas e negativas. Sendo assim, CHIAVENATO (2004) distingue algumas situações em que o resultado do conflito é positivo: - quando estimula grupos e pessoas a encontrarem meios eficazes e inovadores de desenvolverem suas tarefas, em ocasiões que enfrentam conflitos intensos, porém esta situação aumenta a criatividade; - quando motiva o grupo a praticar ações em conjunto, no sentido de solucionar o conflito, e como resultado os indivíduos tornam-se mais coesos; - quando ocorre como meio de chamar a atenção para as áreas problemáticas da empresa e os indivíduos utilizam o conflito como instrumento de correção para evitar problemas mais graves. Por outro lado, segundo CHIAVENATO (2004), um conflito pode trazer resultados negativos quando: - gera conseqüências que impedem o bom desenvolvimento da empresa, uma vez que as pessoas e grupos podem produzir sentimentos hostis, de frustração e tensão diante de seus esforços e desempenho bloqueados em uma situação de conflito; - interfere na produtividade do grupo e das pessoas, pois as metas ficam de lado e grande parte da energia originada pelo conflito se dispersa nele mesmo, prejudicando o desenvolvimento da energia que poderia ser aproveitada na realização do trabalho produtivo; 8 - prejudica o funcionamento da empresa quando atitudes de cooperação são substituídas por comportamentos do tipo egoísta, afetando, desse modo, a natureza dos relacionamentos intergrupais. Em síntese, os conflitos, no interior de uma organização podem se tornar benéficos ou não. Contudo, a questão fundamental é como administrar o conflito de forma a ampliar seus efeitos positivos e minimizar os efeitos negativos, tanto na dinâmica organizacional como na vida de cada indivíduo. Esta tarefa desafiadora deve ser designada ao bom administrador, ao bom líder, o qual precisa sempre desenvolver estratégias para buscar soluções construtivas na hora de resolver um conflito. 2.5 Como Administrar Conflitos no Local de Trabalho Em linhas gerais, são possíveis duas formas para indivíduos e equipes lidarem com os conflitos. Nesse sentido, eles podem ser evitados quando se os nega ou os ignora, e por outro lado, pode-se enfrentá-los e transformá-los num instrumento de auxílio para o amadurecimento dos indivíduos e da empresa. A título de ilustração, a figura 1 representa muito bem os dois mecanismos básicos - evitação ou enfrentamento -envolvidos na estratégia de resolução de conflitos. Figura 1 -Formas de Lidar com Conflitos Fonte: ANINGER (2007, p. 5). 9 Segundo PERISSÊ (2007) evitar lidar com o conflito pode conduzir a duas situações: 1) recalcamento, em que a pessoa ignora a ocorrência do conflito e espera que os episódios se acomodem sem precisar se expor, e 2) repressão, mecanismo, em que pessoa reconhece que existe o conflito, todavia não consente que se comente a respeito dele, procurando escondê-lo para evitar seu crescimento, como se o seu reconhecimento público fosse torná-lo mais intenso. As duas situações podem ser eficazes se o centro do conflito for algo sem importância e que será facilmente superado com o decorrer dos dias. Em contrapartida, se as ações que suscitam o conflito forem relevantes, evitálo será apenas uma forma paliativa, pois assuntos importantes quando não são abordados adequadamente permanecem latentes até eclodirem sob aspectos que não se pode antever. O mecanismo de enfrentamento pode acontecer de quatro maneiras distintas: por eliminação, confronto, mediação ou negociação. A estratégia de eliminação está representada nas situações em que a pessoa reconhece o conflito, mas se utiliza da força ou de sua autoridade para acabar com o impasse. Nesses casos, a tendência é a situação avançar, deixando por trás, no entanto, o conflito no subterrâneo. O futuro é previsível: o conflito latente tende a se manter vivo e a se reapresentar em outro contexto, em outro momento. O confronto ocorre quando a situação conflituosa é explicitada através de medição de forças. As diferenças são exteriorizadas, porém a ênfase é emocional, fazendo com que o resultado final seja de impasse ou de ruptura (PERISSÊ, 2007, p. 5). A mediação, outra forma de enfrentamento de conflitos, trata especificamente dos conflitos interpessoais, tendo como área de atuação as relações humanas, que se firmam nos processos de comunicação. Ressalte-se que o processo de mediação não tem como objetivo evitar ou eliminar um conflito, mas enfrentá-lo, por meio de uma estratégia facilitadora, competente e cooperativa, utilizada para recuperar o diálogo, com o intuito de bem administrar o conflito (PADILHA, 2003). “A negociação é a forma mais viável de se enfrentar conflitos” (PERISSÊ, 2007, p. 5). Sugere uma conduta racional e de flexibilidade, em que as partes procuram estabelecer acordos, proporcionando a cada uma delas que saiam ganhando. 10 Contudo, convém enfatizar: tanto os processos de mediação quanto os de negociação propõem soluções provisórias. Isto porque, faz parte da dinâmica dos seres humanos “o fato de que a solução de hoje é problema de amanhã, exigindo uma permanente reformulação de acordos, visando estabilizar cada situação nova que se apresente” (ANINGUER, 2007, PERISSÊ, 2007, p. 5). A conciliação se caracteriza pela ação intervencionista do terceiro imparcial que, não só aproxima as partes, como ainda realiza atividades de controle das negociações, aparando as arestas porventura existentes, fazendo sugestão de acordos, propostas ou propiciando a apresentação de soluções, salientando as vantagens ou desvantagens, buscando sempre facilitar e alcançar a autocomposição. A arbitragem apresenta-se como justiça alternativa extrajudicial que se propõe a solucionar conflitos, e que refuta o solene formalismo do procedimento judicial, alcançando com rapidez e sigilo a satisfação dos interesses em situação de divergência, com sentenças prolatadas por árbitros especialistas na área sobre que versa o conflito, que têm a mesma validade das decisões proferidas pelo Poder Judiciário, não sujeito a recurso para os seus órgãos e, ainda, sendo condenatórias, detentoras de força executiva. Enfim, para gerentes ou mesmo para qualquer pessoa que necessite administrar conflitos no interior de uma organização, BERG (2007) propõe dez sugestões elencadas na sequência: 1. Procurar soluções e não culpados. Fica claro que o conflito possui uma causa e um culpado, porém, desperdiçar energia procurando culpados pode desviar a atenção que deveria estar concentrada na solução do problema. Desse modo é importante destacar os pontos em comum e não as divergências, e comprometer as pessoas na busca de solução adequada. Encare isso de forma objetiva e também positiva. Só depois fale a sós com o causador do incidente (se puder identificá-lo), mostrando-lhe a inadequação da atitude e os resultados disso. Grande parte das vezes uma conversa sincera, respeitosa e objetiva evitará a repetição do ocorrido, desde que as causas sejam tratadas (BERG, 2007, p. 1). 2. Analisar a situação. Neste caso é importante fazer as seguintes indagações: 11 Qual é realmente o problema?, QUEM está envolvido?, O QUE aconteceu?, Desde QUANDO vem ocorrendo?, ONDE aconteceu o desentendimento (em que departamento, setor etc.)?, POR QUE ocorreu o conflito?, Poderia ter sido evitado? (BERG, 2007, p. 1). Por outro lado, é preciso buscar alternativas de solução, baseadas nas informações disponíveis que possam apresentar opções apropriadas para resolver o conflito. Em seguida a solução deve ser implantada e acompanhada periodicamente de maneira que se possam identificar eventuais desvios de rotas, realizando reuniões com as partes envolvidas. 3. Manter um clima de respeito. Ao estabelecer o diálogo com os envolvidos é necessário manter um ambiente de respeito e consideração, pois essas serão as bases de sustentação visando o entendimento. É importante não agir com ironia ou de forma agressiva, pois estas atitudes contribuirão para aumentar as desavenças (BERG, 2007). 4. Aperfeiçoar a habilidade de ouvir e falar. É importante que não haja interrupção quando a outra pessoa estiver se explicando. Saber ouvir e compreender, também através dos gestos, tom de voz e postura, o que o indivíduo está querendo expressar pode auxiliar ou indicar um caminho para a resolução do conflito. Faça perguntas que levem ao esclarecimento do problema. Mesmo que em circunstâncias normais não se deva interromper quem fala, se a outra pessoa não consegue desenvolver seu pensamento, ou estiver se desviando do assunto ou ainda se expressando com dificuldade, interrompa fazendo perguntas objetivas que recoloquem o diálogo nos trilhos. Pergunte qual é a sugestão da outra pessoa para sanar o conflito (BERG, 2007, p. 2). 5. Ser construtivo ao fazer uma crítica: Neste caso, deve-se evitar frases acusativas tais como: “Você só sabe trabalhar para si e não ajuda ninguém” ou “Você me prejudicou de propósito”. As pessoas sentem-se acusadas e colocamse na defensiva quando ouvem frases como “Você fez isso” ou “Você errou aquilo”. [...] Evite críticas vagas ou malfeitas do tipo: “Seu trabalho tem deixado muito a desejar”. É algo muito impreciso: por isso fale de modo específico: “A pontualidade é algo muito importante para 12 mim, e o seu relatório foi concluído com dois dias de atraso. Além disso, o item 6 não faz menção às novas datas estipulados pelo cliente, conforme os dados que lhe repassei anteriormente”. Da mesma forma, quando alguém lhe dirigir críticas vagas, solicite esclarecimentos “Você é muito negativo” ou “Seu trabalho está abaixo da média” não dizem muito. Pergunte então: “Onde o meu comportamento é negativo?” ou “Onde o meu trabalho está abaixo da média? Eu gostaria de saber para melhorar” (BERG, 2007, p. 2). 6. Procurar a solução ganha-ganha. Na realidade, o ganha-perde ou perde-perde são as formas mais impróprias de resolver conflitos. “É importante que ambos os lados saiam ganhando. Os conflitos não são casuais. Eles ocorrem quando as pessoas sentem-se frustradas, humilhadas, ignoradas, injustiçadas, inseguras, traídas ou algo assim”. Por outro lado, ao se evitar conflitos é possível que os indivíduos tornem-se cooperativos e colaborativos quando percebem que há algo benéfico para eles ou para o grupo. Portanto, mostrar o que se tem a ganhar com a solução do conflito é um grande passo em direção ao entendimento (BERG, 2007). 7. Evitar preconceitos. Os preconceitos podem ser considerados um dos piores entraves na administração de conflitos. Pois se relacionam com valores e crenças arraigados no íntimo do ser humano. “Os preconceitos mais comuns estão relacionados à cor, religião, sexo, nacionalidade, idade, ideologia política, deficiência física e mental”. Não é fácil libertar-se deles, porém é importante conscientizar-se de que cada caso é um caso e cada pessoa é diferente da outra, e que o problema deve ser administrado dentro de sua realidade específica (BERG, 2007). 8. Manter a calma. Manter-se de forma tranqüila, controlado e confiante diante da situação de conflito é uma postura que contribuirá para a aceitação daquele que conduzirá a questão do conflito. Escolha sempre o momento mais adequado para tratar do assunto conflitante. Conserve o objeto da discórdia exclusivamente entre os envolvidos, e abstenha-se de fazer propaganda, fofoca ou lançar boatos a respeito. Se a situação estiver muito confusa e os ânimos 13 exaltados, às vezes é bom dar um tempo, para que as cabeças esfriem. Convoque uma reunião para mais tarde ou para o dia seguinte e, enquanto isso, analise bem a situação para estabelecer sua estratégia de abordagem (BERG, 2007, p.3). 9. Reconhecer o erro, quando estiver errado. Esta atitude leva ao respeito dos outros por demonstrar-se que o interesse não é provar que se é infalível, mas sim se tem por objetivo buscar a melhor solução para o conflito, mesmo que, para isso, tenha-se que admitir o erro. 10. Não ocultar ou ignorar o conflito. Se houver um conflito enfrente-o, usando para isso a abordagem que melhor se coadune com o momento. Não ignore a situação, nem contemporize achando que o tempo sanará o desentendimento. O tempo quase sempre só agravará a discórdia. Pode, no entanto, haver situações especiais em que é mais vantajoso não encarar o conflito do que enfrentá-lo, pois a relação custo-benefício seria desfavorável. Neste caso use o seu bom senso para discernir quando fazê-lo (BERG, 2007, p. 3). Também NASCIMENTO e El SAYED (2002, p. 54) sugerem algumas ações práticas para uma eficaz resolução de conflitos, resumidas nos seguintes passos: a) criar uma atmosfera afetiva; b) esclarecer as percepções; c) focalizar em necessidades individuais e compartilhadas; d) construir um poder positivo e compartilhado; e) olhar para o futuro e, em seguida, aprender com o passado; f) gerar opções de ganhos mútuos; g) desenvolver passos para a ação a ser efetivada; h) estabelecer acordos de benefícios mútuos. Diante do exposto, pode-se afirmar que um planejamento prudente com relação às ações desenvolvidas dentro da estrutura organizacional, baseadas no respeito, confiança, cooperação, diálogo e comunicação sempre abertos, entre outras, é fator determinante na resolução de situações conflitantes, das quais se espera que as conseqüências sejam positivas para a produção, bem estar de toda a equipe e do sucesso da empresa como um todo. 14 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os conflitos surgem cada vez que os interesses são divergentes e se chocam, portanto, não estão limitados apenas às questões relacionadas ao trabalho e à estrutura de uma empresa, mas são intrínsecos ao ser humano, que deve administrá-lo da melhor forma possível, enfrentando-os e não os eliminando, no sentido de que haja condições de consenso, aprendizagem, bom convívio e crescimento de todos os que neles estão envolvidos. Não devemos esquecer que somos seres com capacidade e habilidade para ouvir e entender melhor nossos semelhantes. Com esta postura, silenciamos nossa voz interna e deixamos crescer a voz do outro, permitindo que soe clara dentro de nós. O desejo mais profundo do coração humano é o de ser compreendido, e perceber isto é possibilitar um processo eficaz de comunicação. O bom administrador deve, no entanto, saber lidar com os conflitos e melhorar a forma de comunicação no interior da Empresa, procurando principalmente identificar e entender os motivos que levaram as pessoas ou grupos a uma situação conflitante, separar as pessoas dos problemas e ter a percepção de que ações estratégicas, criativas e adequadas no manejo de circunstâncias de impasse são essenciais para os conflitos não progredirem e que possam gerar benefícios à Organização. Uma boa Administração de Conflitos é essencial para as pessoas e as organizações como fonte geradora de mudanças, pois das tensões conflitivas, dos diferentes interesses das partes envolvidas é que nascem oportunidades de crescimento mútuo, para administrar conflitos de forma assertivas. Analise a situação, desenvolva a habilidade de ouvir e procure soluções ao invés de culpados. A administração moderna deve encarar o conflito como uma força constante dentro da organização e procurar administrá-la para que estes atuem de maneira construtiva através das técnicas da administração de conflitos. A administração de conflitos consiste exatamente na escolha e implementação das estratégias mais adequadas para se lidar com cada tipo de situação. 15 REFERÊNCIAS ANINGER, Laila. Gerenciando conflitos. Disponível em: <http://www.linhadireta.com.br/novo/livro/parte4/artigos.php?id_artigo=16>. acesso em: 24/06/2007. BERG, Ernesto Artur. Administração de conflitos parte II. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/membros.jsp?pagina=membros_espaco_a berto _corp...>. Acesso em: 24/06/2007. COHEN, Allan R, FINK, Stephen L. Comportamento organizacional: conceitos e estudos de caso. Rio de Janeiro: Campus, 2003. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. DUBRIN. Andrew J.. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Pioneira 2003. HOUAISS, A. e VILLAR, M. de S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal: treinamento em grupo. 9. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000. NASCIMENTO, Eunice; EL SAYED, Kassem Mohamed. Administração de conflitos. Curitiba: Faculdades Bom Jesus e Gazeta do Povo, 2002. Coleção Gestão Empresarial, 5. PADILHA, R. D. Mediação sistêmico-integrativa: uma contribuição à gestão da educação para a prevenção da violência. Curitiba, 2003, 168 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Tuiuti do Paraná. PERISSÊ, Nilson. Administração de conflitos na casa espírita. Disponível em: <http://www.jesusdenazare.org/pdf/Artigo_Adm_de_Conflitos.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2007. ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento Organizacional. 9ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.