GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SUBSECRETARIA DE ESTADO DA DEFESA CIVIL
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
DIRETORIA GERAL DE SAÚDE
3ª POLICLÍNICA - NITERÓI
REFLUXO GASTROESOFÁGICO
EM PEDIATRIA
TEN. MENDONÇA
REFLUXO GASTROESOFÁGICO
EM PEDIATRIA

Refluxo Gastroesofágico (RGE) é o fluxo retrógrado e
repetido do conteúdo gástrico para o esôfago.

Freqüente em Pediatria e, na maioria das vezes, de
evolução benigna, caracteriza-se, principalmente, pela
presença de regurgitações e vômitos.
EPIDEMIOLOGIA
O RGE é uma das principais condições
gastroenterológicas entre os lactentes e, apesar de
predominar no sexo masculino, a diferença entre os sexos
não tem significância estatística.
A idade mais comum de início dos sintomas é de 1
a 4 meses na criança, com possível cura espontânea entre
1 e 2 anos.
Estima-se que, entre as crianças que apresentam
regurgitações com freqüência preocupante para os pais,
apenas 1 em cada 300 apresenta RGE patológico, 2%
necessitarão de investigação e apenas 0,4% de cirurgia.
CLASSIFICAÇÃO DO RGE
O RGE pode ser classificado como:
 Fisiológico ou patológico
 Primário ou secundário
 Oculto
O Refluxo Fisiológico corresponde à maior parte dos
casos de RGE, resultante da imaturidade dos mecanismos
de barreira anti-refluxo, com evolução bastante
satisfatória, sem comprometer o crescimento e o
desenvolvimento da criança., com resolução espontânea,
na maioria das vezes até 1 a 2 anos de idade, porém com
melhora importante após os 6 meses, coincidindo com a
introdução de dieta sólida, adoção de postura mais ereta
pela criança e mesmo amadurecimento dos mecanismos
anti-refluxo.
O Refluxo Patológico caracteriza-se por
apresentar repercussões clínicas importantes como:
déficit de crescimento, dor abdominal, irritabilidade,
hemorragias digestivas, broncoespasmo, pneumonia de
repetição ou complicações otorrinolaringológicas (otite
média de repetição, estridor), além de não melhorar por
volta dos 6 meses o que seria habitual, requerendo
tratamento específico.
O Refluxo Primário resulta da disfunção da
junção esofagogástrica e o Secundário associa-se a
condições específicas como estenose congênita do
esôfago, distúrbios da deglutição, estenose hipertrófica de
piloro, úlcera gástrica ou duodenal, pâncreas anular,
pseudo-obstrução intestinal, alergia alimentar, infecção
urinária, parasitoses intestinais, doenças genéticometabólicas, asma, fibrose cística e alterações do sistema
nervoso central.
O Refluxo Oculto é assim denominado quando
manifestações respiratórias, otorrinolaringológicas ou
indicativas de esofagite ocorrem na ausência de vômitos
e regurgitações.
FISIOPATOLOGIA
Várias estruturas contribuem para a barreira antirefluxo na região esofagogástrica:
 o esfíncter esofágico inferior (EEI)
 o ângulo de His
 o ligamento freno-esofágico
 o diafragma crural
 a roseta gástrica.
O EEI é um segmento circular de músculo liso no
esôfago terminal, adaptado para gerar zona de alta
pressão, com porções supra e infradiafragmáticas iguais.
O ângulo de His é formada pelo esôfago
abdominal e o fundo gástrico, que, em condições
normais tende a ser agudo, porém no recém-nato este
ângulo é obtuso.
O ligamento freno-esofágico é constituído pela
fáscia subdiafragmática e sua função é impedir que o
EEI seja submetido à pressão intratorácica negativa.
O diafragma crural é formado por fibras da crura
direita do diafragma, por onde o esôfago penetra no
abdome, contraindo-se durante a inspiração e
aumentando a pressão na junção esôfago-gástrica.
A roseta gástrica é formada pelas pregas
concêntricas da mucosa gástrica na transição entre o
esôfago e o estômago, ajudando na contenção de
conteúdo gástrico, evitando sua passagem para o
esôfago.
Em crianças pequenas, por imaturidade de alguns
ou todos os componentes da barreira anti-refluxo é que
acontece o RGE, tendendo a melhorar com a idade,
porém aumento da pressão intra-abdominal permanente
(obesidade) ou transitória (inspiração profunda, tosse,
atividade física, manobra de Valsava, constipação) e
postura predominante em decúbito são fatores que
predispõe ao RGE, além do esvaziamento gástrico
lentificado.
QUADRO CLÍNICO
Dependendo da idade do início dos sintomas, o
RGE pode ter duas formas de apresentação: “da
criança” e do “adulto”. Na primeira, os sintomas
surgem nos primeiros meses de vida e melhoram até 12
ou 24 meses em 80% dos casos e na segunda pode ser
prolongamento da primeira ou aparecer tardiamente,
tem sintomas persistentes e, quase sempre, requer
tratamento.
As manifestações clínicas no tipo “criança” podem
ser específicas, como regurgitações, vômitos, ruminação,
eructações; relacionadas à esofagite, como choro
excessivo, irritabilidade, distúrbios do sono, agitação,
recusa da dieta, anemia e sangramentos; respiratórias,
como broncoespasmo e pneumonias de repetição;
otorrinolaringológicas, como laringites, sinusites, otites e
outras.
A Síndrome de Sandifer pode ser identificada na
criança pequena e caracteriza-se por esofagite, anemia e
postura típica da cabeça em resposta ao RGE.
A apnéia e o RGE podem ocorrer nos primeiros 4
meses de vida, entretanto, a relação causa-efeito não
pode ser estabelecida, assim como o broncoespasmo.
Laringoespasmo induzido pelo RGE tem sido
apontado como possível fator desencadeante da apnéia
obstrutiva do lactente, explicando ainda estridores
recorrentes, hipóxia aguda e, possivelmente, a síndrome
de morte súbita (SMS).
As manifestações clínicas na criança maior, tipo
“adulto”, pode cursar ainda com disfagia, pirose, dor
torácica do tipo angina, dor e queimação na região
epigástrica, odinofagia, sialorréia e dor abdominal
recorrente.
DIAGNÓSTICO
História Clínica: Na suspeita de RGE é
imprescindível que se questione sobre: regurgitações,
vômitos, dificuldade de ganho ponderal, irritabilidade,
sangramento digestivo, broncoespasmo persistente,
pneumonia
de
repetição,
alterações
otorrinolaringológicas.
Exames Complementares: Os casos típicos de
RGE fisiológico ou ainda aqueles com manifestações
clínicas discretas não necessitam de qualquer exame
complementar, porém naqueles com manifestações mais
intensas ou na suspeita de RGE oculto, os exames
complementares são muito importantes e podem incluir:
 Seriografia Esôfago-Estômago-Duodeno (SEED)
 Ultrassom (US) do Esôfago
 Cintilografia com Tecnécio 99
 Endoscopia Digestiva Alta
 pHmetria
 Manometria doeEsôofago
 Teste de Bernstein Modificado
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Devido às alterações do RGE serem variáveis e nem sempre
relacionadas ao trato digestivo é amplo o leque de diagnóstico
diferencial do RGE, destacando-se:
 estenose congênita do esôfago;
 fístula traqueo-esofágica;
 estenose hipertrófica de piloro;
 úlcera gástrica ou duodenal;
 pâncreas anular;
 pseudo-obstrução intestinal;
 alergia alimentar (proteína do LV);
 infecção urinária;
 doenças genético-metabólicas;
 asma brônquica;
 fibrose cística;
 alterações do SNC.
TRATAMENTO
 Orientação aos pais;
 Recomendações dietéticas;
 Postura;
 Medicamentoso;
 Cirúrgico.
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
 Procinéticos:
 Domperidona: 0,2-0,6mg/kg/dose 8/8h ou 6/6h
 Cisaprida: 0,2mg/kg/dose 8/8h
 Bromoprida: 0,5-1mg/kg/dia 8/8h ou 6/6h
 Metoclopramida: 0,1mg/kg/dose
 Redutores da Acidez Gástrica:
 Antiácidos: Hidróxido de Alumínio: 0,3-5ml/kg/dose
6/6h ou 4/4h
 Antagonistas H2:

Ranitidina: 2-4mg/kg/dia 12/12h ou 8/8h

Cimetidina: 5-10mg/kg/dia 6/6h
 Bloqueadores de Bomba de Prótons:
 Omeprazol: 0,7-3,3mg/kg/dia 24/24h ou 12/12h
TRATAMENTO CIRÚRGICO
Deve ser considerado nos casos de refluxo severo,
intratável ou que desenvolvem complicações
importantes, como estenose cicatricial do esôfago,
esôfago de Barret, pneumonias de repetição, assim como
nos pacientes neuropatas em quem estas condições
ocorrem com maior freqüência.
O procedimento mais utilizado é a fundoplicatura
pela técnica de Nissen. O índice de sucesso é de 90% e
as complicações, frequentes tanto a curto quanto a longo
prazo, são distensão gasosa, disfagia e dificuldade de
eructação, entre outras.
CONCLUSÃO
O Pediatra deve estar sempre atento ao conjunto
de sinais e sintomas decorrentes das regurgitações
sobre o esôfago, pulmões e ganho ponderal a fim de
evitar um superdiagnóstico da patologia o que vem
acontecendo deliberadamente nestes últimos tempos,
gerando uma elevação dos custos e da ansiedade dos
pais.
Obrigado!
SUBSECRETARIA DE ESTADO DA DEFESA CIVIL
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