UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
UNIDADE ACADÊMICA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
NÍVEL MESTRADO
GUILHERME RODRIGUES OLIVEIRA
A INFLUÊNCIA DA REGULAÇÃO DO SETOR DE ALIMENTOS NAS
RELAÇÕES DA CADEIA DE ALIMENTOS FUNCIONAIS
SÃO LEOPOLDO
2013
GUILHERME RODRIGUES OLIVEIRA
A INFLUÊNCIA DA REGULAÇÃO DO SETOR DE ALIMENTOS NAS
RELAÇÕES DA CADEIA DE ALIMENTOS FUNCIONAIS
Dissertação apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre pelo
Programa
de
Pós-Graduação
em
Administração da Universidade do Vale do
Rio do Sinos – UNISINOS
Área de concentração: Competitividade e
Relações Interorganizacionais
Orientadora: Profª. Drª. Luciana Marques
Vieira
Co-orientadora: Profª. Drª. Marcia de Dutra de
Barcellos
SÃO LEOPOLDO
2013
Ficha catalográfica
O48i
Oliveira, Guilherme Rodrigues
A influência da regulação do setor de alimentos nas relações
da cadeia de alimentos funcionais / por Guilherme Rodrigues
Oliveira. – 2013.
113 f. : il., 30cm.
Dissertação (mestrado) — Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, Programa de Pós-Graduação em Administração, 2013.
Orientação: Profª. Drª. Luciana Marques Vieira; Coorientação:
Profª. Drª. Marcia de Dutra de Barcellos.
1. Alimento funcional. 2. Inovação. 3. Cadeia de suprimento de
alimentos. 4. Regulamentação. 5. Teoria institucional. I. Título.
CDU 658.011.8:631.145
Catalogação na Fonte:
Bibliotecária Vanessa Borges Nunes - CRB 10/1556
3
GUILHERME RODRIGUES OLIVEIRA
A INFLUÊNCIA DA REGULAÇÃO DO SETOR DE ALIMENTOS NAS
RELAÇÕES DA CADEIA DE ALIMENTOS FUNCIONAIS
Dissertação apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em
Administração pelo programa de Pósgraduação em Administração da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS.
Aprovado em 24 de abril de 2013.
BANCA EXAMINADORA
Claudia Cristina Bitencourt – UNISINOS
Rafael Teixeira – UNISINOS
Paulo Antonio Zawislak – UFRGS
Profª. Drª. Luciana Marques Vieira (Orientadora)
Profª.Drª. Marcia de DuttraBarcellos (Coorientadora)
“Love is the answer at least for most of
the questions in my heart.”
(Jack Johnson).
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais Djalma e Maria Helena, e ao meu irmão Rafael, por não
compreenderem a minha ausência, mas a aceitarem por significar uma etapa importante em
minha vida. Tenho uma gratidão especial por Maria Cristina, pela compreensão nesse período
de árduo trabalho que ocasionou a minha ausência; e por Carlos Alexandre pelas orientações e
auxílio para a construção da dissertação.
Agradecimento especial para minhas orientadoras, Luciana Marques Vieira, Marcia
Dutra de Barcellos e Alexia Hoppe, por guiarem-me na caminhada do mestrado e,
futuramente, no doutorado.
Por fim, mas não com menor relevância, aos meus colegas do PPGA – UNISINOS
(mestrado e doutorado), em especial para Cyntia Calixto, Juliana Durayski, Natália Silva,
Lisiane Machado, Talita Oliveira, Jefferson Monticelli, Júlio Viera, Marcos Cerveira,
Alexandre Garcia e PPGA - UFRGS. Compartilhamos muito trabalho e diversão. E, nesse
momento, considero-os todos como uma família.
RESUMO
O desenvolvimento de novos produtos é uma importante fonte de inovação,
diferenciação e valor acrescentado para as empresas a fim de obterem vantagem competitiva
no cenário agroalimentar global. Nesse sentido, os Alimentos Funcionais surgem como uma
oportunidade de mercado. Eles são descritos como produtos alimentares com benefícios de
saúde para além do valor nutricional convencional e sua taxa de crescimento está superando o
mercado tradicional de alimentos processados. A regulamentação de alimentos é essencial
para criar um ambiente propício para a inovação na indústria e, ao mesmo tempo, para
garantir os benefícios para a saúde dos consumidores. Devido à especificidade desse alimento,
a estrutura da cadeia de suprimentos difere da tradicional. Portanto, neste estudo, procuramos
identificar a influência da regulação na cadeia de suprimentos de alimentos funcionais no
Brasil sobre a a gestão de pesquisa desenvolvimento de produtos funcionais inovadores. Um
estudo exploratório-qualitativo foi realizado para alcançar esses objetivos. Inicialmente,
dados secundários foram coletados a partir de órgãos públicos e entidades setoriais.
Observações diretas foram realizadas em feiras nacionais. Em seguida, dados primários foram
coletados através de entrevistas em profundidade com especialistas membros da cadeia de
suprimentos e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Todas as informações
foram gravadas e transcritas e seus conteúdos analisados, utilizando-se um programa de
análise de dados qualitativos (NVivo 10 ®). Nossos resultados sugerem que a regulamentação
brasileira influência negativamente no desenvolvimento da cadeia de alimentos funcionais.
Destaca-se a importância de fatores institucionais, especialmente reguladores, como
direcionadores (drivers) do processo de inovação. Esses fatores podem moldar não só a
decisão da empresa de inovar, mas também as alternativas de governança de cadeia de
suprimentos, envolvendo a inovação em produtos. Conclui-se que uma regulamentação mais
clara é necessária, a fim de facilitar as inovações relacionadas com as iniciativas do setor de
alimentos brasileiro. Por fim, este trabalho contribui ao sugerir a integração entre a teoria
institucional e a análise da cadeia de suprimentos como forma de entender o processo de
inovação e a estrutura da cadeia de suprimentos de alimentos no contexto brasileiro.
Palavras-chave: Alimento funcional. Inovação. Cadeia de suprimento de alimentos.
Regulamentação. Teoria Institucional.
ABSTRACT
The development of new products is an important source of differentiation, innovation
and added value for companies to gain competitive advantage in the global agri-food scenario
Functional Foods (FF) emerge as a market opportunity. FF are described as those food
products with health benefits beyond the conventional nutritional value and their growth rate
is outpacing the traditional processed food market. The regulation of FF is essential to create a
propitious environment to innovation in industry and, at the same time, to ensure the benefits
to consumers’ health. Due to the specificity involved in this food category, the FF supply
chain structure differs from the traditional one. Therefore, in this study authors seek to
identify the influence of regulation in the Brazilian supply chain of FF under the management
of research e development of innovative functional food products. A qualitative exploratory
study was conducted to achieve the objectives. Initially, secondary data were collected with
government agencies and food industry. Direct observations were made in national fairs.
Next, experts and members of the FF supply chain and Brazilian Regulatory Agency
(ANVISA) were interviewed. All information was recorded, transcribed and further content
analyzed using a qualitative data analysis program (NVivo 10©). Our results suggest that the
Brazilian regulation negatively influences the development of FF supply chain. We highlight
the importance of institutional factors, especially regulatory, as a driver to the innovation
process. These factors can shape not only the company's decision to innovate, but also the
governance alternatives’ to engage in innovation. We conclude that a clearer regulation is
necessary in order to facilitate innovation-related initiatives in the Brazilian food sector. This
work finally contributes when suggesting the integration of theory and institutional analysis of
the supply chain to understand the innovation process and the structure of the food supply
chain in the Brazilian context.
Keywords: Functional Food. Food Innovation. Regulation. Food Supply Chain.
Institutional theory
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Tipologia de Política por resultados ........................................................................ 20
Figura 2 – Cadeia de suprimentos ............................................................................................ 24
Figura 3 – Convergência de setor – Alimentos e Medicamentos ............................................. 29
Figura 4 – Competências para gestão da inovação ................................................................... 31
Figura 5 – Representação da estrutura da pesquisa .................................................................. 36
Figura 6 – Etapas de pesquisa................................................................................................... 36
Figura 7 – Estruturação completa dos nós ................................................................................ 44
Figura 8 – Cadeia de suprimentos para Alimentos funcionais ................................................. 50
Figura 9– Proposição de Cadeia de suprimentos para Alimentos funcionais........................... 51
Figura 10 – Principais agentes para o desenvolvimento de alimentos funcionais.................... 51
Figura 11 – Governança do tipo Mercado ................................................................................ 58
Figura 12 – Governança do tipo Híbrida .................................................................................. 59
Figura 13 – Governança do tipo Hierarquia ............................................................................. 60
Figura 14 – Relação Híbrida – Abordagem das empresas de alimentos .................................. 68
Figura 15 – Cadeia de suprimentos de alimentos funcionais ................................................... 76
Figura 16 – Governança da cadeia de alimentos funcionais .................................................... 79
Figura 17 – Influência do agente regulatório na cadeia de suprimentos .................................. 83
Figura 18 – Influência da regulamentação no processo de inovação. ...................................... 84
Figura 19 – Influência sobre a estratégia da empresa ............................................................... 85
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Formas de padrões / normas .................................................................................. 21
Quadro 2 –Framework teórico de investigação ........................................................................ 37
Quadro 3 – Dados secundários ................................................................................................. 39
Quadro 4 – Participação em eventos ........................................................................................ 40
Quadro 5 – Principais pontos de venda .................................................................................... 40
Quadro 6 – Especialistas entrevistados .................................................................................... 41
Quadro 7 – Especialistas entrevistados .................................................................................... 42
Quadro 8 – Categorização dos entrevistados ............................................................................ 43
Quadro 9 – Categorização do referencial teórico ..................................................................... 44
Quadro 10 – Resumo das normas da ANVISA para alimentos funcionais .............................. 48
Quadro 11 – Alegações permitidas ........................................................................................... 48
Quadro 12 – Configuração da cadeia de suprimentos: visão dos especialistas ........................ 56
Quadro 13 – Pontos positivos da regulamentação de alimentos funcionais: visão dos
ESPECIALISTAS .................................................................................................................... 61
Quadro 14 – Pontos negativos da regulamentação de alimentos funcionais ............................ 62
Quadro 15 – Cruzamento entre os “nós” .................................................................................. 62
Quadro 16 – Consulta a Registros de alimentos ....................................................................... 65
Quadro 17 – Tipo de relação entre os agentes – visão da empresa de alimentos ..................... 67
Quadro 18 – Pontos positivos da regulamentação de alimentos funcionais: visão das empresas
de alimentos .............................................................................................................................. 69
Quadro 19 – Pontos negativos da regulamentação de alimentos funcionais: visão das empresas
de alimentos .............................................................................................................................. 70
Quadro 20 – Cruzamento entre os “nós” .................................................................................. 70
Quadro 21 – Análise da cadeia de suprimentos: síntese dos entrevistados em cada elo .......... 75
Quadro 22 – Frequência da relação entre os agentes................................................................ 77
Quadro 23 – Pontos positivos e negativos da regulamentação de alimentos funcionais .......... 80
Quadro 24 – Pontos positivos e negativos da regulamentação de alimentos funcionais: síntese
.................................................................................................................................................. 81
Quadro 25 – Frequência dos relatos sobre a regulamentação de alimentos funcionais ........... 81
Quadro 26 – Lista de processos para análise ............................................................................ 81
Quadro 27 – Cruzamento entre os “nós” – síntese ................................................................... 82
LISTA DE SIGLAS
ANVISA
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
GPESP
Gerência de Produtos Especiais
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
P&D
Pesquisa e Desenvolvimento
PINTEC
Pesquisa de Inovação
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
1.1 Objetivos do Projeto ......................................................................................................... 14
1.2 Justificativa ....................................................................................................................... 14
1.2.1 Tendências de Consumo: Alimentos Funcionais............................................................. 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 18
2.1 Teoria Institucional .......................................................................................................... 18
2.1.1 Agente Regulatório .......................................................................................................... 19
2.1.2 Padrões Regulatórios ....................................................................................................... 21
2.1.3 Regulamentação de Alimentos ........................................................................................ 21
2.2 Teoria dos Custos de Transação...................................................................................... 22
2.3 Cadeia de Suprimentos .................................................................................................... 23
2.3.1 Interação entre Cadeia de Suprimentos e Teoria do Custo de Transação ............... 25
2.4 Inovação............................................................................................................................. 26
2.4.1 Inovação e Convergência de Setores ............................................................................... 28
2.4.2 Processo de Inovação....................................................................................................... 30
2.5 Alimentos Funcionais ....................................................................................................... 31
2.5.1 Inovação no Setor de Alimentos ...................................................................................... 32
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 35
3.1 Etapa 1: Pesquisa Exploratória ....................................................................................... 37
3.2 Etapa 2: Pesquisa de Campo ........................................................................................... 40
3.3 Etapa 3: Codificação e Apresentação dos Dados ........................................................... 43
3.4 Etapa 4: Apresentação dos Resultados e Conclusões da Pesquisa ............................... 45
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS ...................................................................................... 46
4.1 Regulamentação da Indústria de Alimentos Funcionais .............................................. 46
4.2 Cadeia de Suprimentos para Alimentos Funcionais ..................................................... 49
4.3 Entrevistas com Especialistas em Alimentos Funcionais .............................................. 51
4.3.1 Alimento Funcional ......................................................................................................... 52
4.3.2 Alimento Funcional – Inovador....................................................................................... 53
4.3.3 Cadeia de Suprimentos de Alimentos Funcionais ........................................................... 54
4.3.4 Regulamentação: Pontos Positivos e Negativos .............................................................. 60
4.3.5 Influência da Regulamentação: Visão dos Especialistas ................................................. 62
4.3.5.1 Relação Regulamentação e Cadeia de Suprimentos na Visão dos Especialistas ........ 63
4.3.5.2 Relação Regulamentação e Processo de Inovação: Visão dos Especialistas .............. 63
12
4.4 Entrevistas com Representantes das Empresas de Alimentos ..................................... 64
4.4.1 Alimentos Funcionais ...................................................................................................... 65
4.4.2 Cadeia de Suprimentos .................................................................................................... 66
4.4.3 Regulamentação: Pontos Positivos e Negativos .............................................................. 69
4.4.4 Influência da Regulamentação: Visão das Empresas de Alimentos ................................ 70
4.4.4.1 Relação Regulamentação e Parcerias na Cadeia de Suprimentos: Visão das Empresas
de Alimentos ............................................................................................................................. 71
4.4.4.2 Relação Regulamentação e Processo de Inovação: Visão das Empresas de Alimentos
.................................................................................................................................................. 72
4.4.4.3 Relação Regulamentação e Estratégia da Empresa: Visão das Empresas de Alimentos
.................................................................................................................................................. 72
4.5 Síntese dos Resultados ...................................................................................................... 73
4.5.1 Alimento Funcional: Síntese dos Entrevistados .............................................................. 73
4.5.2 Cadeia de Suprimentos: Sínteses dos Entrevistados ....................................................... 74
4.5.3 Regulamentação para Alimentos Funcionais: Síntese dos Entrevistados ....................... 80
4.5.4 Influência da Regulamentação: Síntese dos Entrevistados.............................................. 82
4.5.4.1 Relação Regulamentação e Cadeia de Suprimentos: Síntese das Entrevistas ............. 82
4.5.4.2 Relação Regulamentação e Processo de inovação: Síntese das Entrevistas ............... 83
4.5.4.3 Relação Regulamentação e Estratégia da Empresa: Síntese das Entrevistas ............. 84
4.6 Discussão dos Resultados ................................................................................................. 85
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 90
5.1 Considerações Finais ........................................................................................................ 90
5.2 Limitações ......................................................................................................................... 92
5.3 Pesquisas Futuras ............................................................................................................. 92
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 93
APÊNDICE A – CRONOGRAMA PROPOSTO PARA A REALIZAÇÃO DA
PESQUISA ............................................................................................................................ 102
APÊNDICE B - ROTEIRO DA ENTREVISTA – ESPECIALISTAS ............................ 103
APÊNDICE C – ROTEIRO DA ENTREVISTA – EMPRESA DE ALIMENTOS ....... 104
APÊNDICE D – ROTEIRO DA ENTREVISTA – ANVISA ........................................... 105
ANEXO A - EVOLUÇÃO DE VENDAS DE ALIMENTOS FORTIFICADOS E
FUNCIONAIS (EMBALADOS) – US$ MILHÕES .......................................................... 106
ANEXO B – CONSUMO PER CAPITA - ALIMENTOS FORTIFICADOS E
FUNCIONAIS - US$ PER CAPITA ................................................................................... 107
ANEXO C – EVOLUÇÃO (%) DA VENDA DE ALIMENTOS FUNCIONAIS POR ANO
................................................................................................................................................ 108
ANEXO D – ALEGAÇÕES DE PROPRIEDADE FUNCIONAL APROVADAS ........ 109
13
1 INTRODUÇÃO
Inovar, empreender, desenvolver, criar e outros sinônimos são palavras que ecoam no
discurso de política nacional brasileira para o desenvolvimento econômico e são aplicadas por
organizações privadas. Pela perspectiva da indústria alimentícia, a inovação surge,
principalmente, do desenvolvimento de novos produtos o que constitui uma importante fonte
de diferenciação e agregação de valor. (DE BARCELLOS et al., 2009; MATTHYSSENS et
al., 2008; GRUNERT; TRAIL, 1997).
O alimento funcional é uma inovação em produto que surge com os estudos do médico
Minora Shirota. O médico descobriu os benefícios da bactéria Lactobacillus casei para
regulação do transito intestinal ao quando trabalhavajunto a pobrs e malnutridos no Japão. Os
novos alimentos, com semelhanças em aparência ao alimento convencional, são capazes de
produzir demonstrados efeitos metabólicos ou fisiológicos, úteis na manutenção de uma boa
saúde física e mental.
Não há um consenso universal para a designação de alimentos funcionais. No Brasil,
são regulados pela Resolução nº 18/1999, publicada no ano de 1999 pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), vinculada ao Ministério da Saúde. A resolução define
alimento funcional como “[...] um alimento ou ingrediente que além das funções nutricionais
básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou efeitos
benéficos à saúde”. (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA,
1999c).
De Barcellos et al. (2012), Gianezini et al. (2012) e Rosa e Révillion (2011)
identificam o mercado brasileiro de alimentos funcionais como importante oportunidade de
geração de valor para o setor de alimentos. Contudo, sugerem que esse mercado ainda se
encontra em uma fase considerada experimental (de introdução), ou seja, caracterizado por
um alto nível de fracassos de produtos. (DE BARCELLOS; LIONELLO, 2011).
Betoretet al. (2011) apontam para o custo de desenvolvimento de produtos funcionais
e para o fracasso de lançamentos. Como consequência do resultado negativo da introdução de
alguns produtos, a estratégia do setor de alimentos é caracterizada pela extensão de marca já
consagrada, seguindo a mesma linha de produto como estratégia de menor risco. (GRIME;
DIAMANTOPOULUS; SMITH, 2002; LIMA, RÉVILLION; PADULA, 2009). Estudos
realizados no Brasil (DE BARCELLOS et al., 2012) apontam que o consumidor brasileiro
está buscando informações sobre alimentos mais saudáveis e a indústria de alimentos pode
14
estar perdendo uma oportunidade de mercado ao não buscar inovações de fato. (CABRAL,
2007; DE BARCELLOS et al., 2009).
No contexto acadêmico de estudos organizacionais, observa-se que o tema alimentos
funcionais tem evoluído. (DA SILVEIRA; VIANNA; MOSEGUI, 2009; DE BARCELLOS;
LIONELLO, 2011; GIANEZINI et al., 2012; DE BARCELLOS et al., 2012; LIMA;
RÉVILLION; PADULA, 2009; ROSA; RÉVILLION, 2011; STRINGHETA et al., 2007).
Escassos estudos (OLIVEIRA et al., 2013), porém, buscam identificar a influência da
regulação no processo de inovação. Nesse sentido, emerge a seguinte questão de pesquisa:
qual é a influência da regulação do setor de alimentos funcionais sobre as iniciativas e a
gestão de pesquisa e desenvolvimento de produtos funcionais inovadores? Espera-se, com
os resultados dessa pesquisa, proporcionar um maior entendimento sobre a regulação de
alimentos funcionais no Brasil e, com isso, auxiliar e propulsionar as indústrias do setor a
competirem internacionalmente.
1.1 Objetivos do Projeto
O presente estudo teve como primordial objetivo analisar a influência da regulação
brasileira sobre a cadeia de suprimentos de alimentos funcionais. Para que pudesse ser
alcançado, foi elencado um conjunto de objetivos específicos que servem de alicerce para a
pesquisa:
a) descrever a organização da cadeia de suprimentos de alimentos funcionais no
Brasil;
b) identificar como os atores da cadeia de suprimentos respondem à regulação na
gestão de produtos inovadores na cadeia de suprimentos;
c) identificar aspectos positivos e negativos da regulamentação no setor de pesquisa e
desenvolvimento (P&D).
1.2 Justificativa
O alimento funcional emerge, nos anos 80, no Japão, como um produto de alto valor
agregado. Sua proposta é agregar benefícios além da função natural do alimento,
proporcionando ao consumidor o fortalecimento de sua saúde.
Com o surgimento desta nova classificação de alimentos emergem questões a serem
estudadas no mercado brasileiro. O consumidor brasileiro tem valorizado a busca uma vida
15
mais saudável. Estudos recentes destacam a procura dos consumidores brasileiros por novos
alimentos que possam beneficiar sua saúde. (DE BARCELLOS; LIONELLO, 2011; DE
BARCELLOS et al., 2012).
Este tipo de alimento surge do encontro de tecnologias e competências de setores
industriais distintos, o alimentício e o farmacêutico. (BRÖRING, 2010; MARK-HERBERT,
2004; MOLLET; ROWLAND, 2002). O objetivo do alimento é a nutrição e do medicamento
é a cura. Já a função do alimento funcional é auxiliar na manutenção da saúde e do bem-estar.
Neste sentido, este tipo de produto surge como uma alternativa oriunda de políticas públicas
para redução de gastos com tratamentos médicos e remédios para cura de doenças, o que se
apresenta como um bom motivo para melhor compreendermos a estruturação da cadeia e os
impactos da regulação sobre este setor.
Além da contribuição para a política pública, este estudo justifica-se pela contribuição
organizacional. Por tratar-se de um ativo inovador em um mercado em crescimento (DE
BARCELLOS; AGUIAR; FERREIRA, 2009), existe a necessidade de gerar conhecimentos
para a capacitação de indústrias nacionais, para gerenciar o desenvolvimento e a
comercialização deste tipo de alimento frente às regulamentações exigidas pelos órgãos
reguladores nacionais.
Por fim, este estudo contribui para a geração de conhecimento teórico. Pesquisas
envolvendo análise de cadeia de suprimentos de alimentos funcionais podem ser encontradas
no Canadá (BRÖRING, 2010; BRÖRING; CLOUTIER, 2008; BRÖRING; LEKER, 2007;
BRÖRING; CLOUTIER; LEKER. 2006; HOBBS, 2001, 2002), contudo, no Brasil, tal
abordagem não foi amplamente explorada. Estudos abordando a temática regulatória nacional
podem ser encontrados no cenário brasileiro (LAJOLO, 2007; SILVEIRA; VIANNA;
MOSEGUI, 2009), todavia, o impacto da regulamentação na organização da cadeia de
suprimentos não foi investigado. Este estudo pode contribuir para futuras pesquisas que
abordem os alimentos funcionais e/ou os alimentos inovadores.
1.2.1 Tendências de Consumo: Alimentos Funcionais
São diversos os estudos (BRÖRING; CLOUTIER, 2008; FREWER; SCHOLDERER;
LAMBERT, 2003; MARKOVINA et al., 2011; URALA; LÄHTEENMAÄKI, 2005;
VERBEKE, 2005, 2006) que mostram, de maneira geral, uma atitude positiva do consumidor
frente à aquisição e ao consumo de alimentos funcionais. As atitudes individuais frente ao
consumo de produtos funcionais estão baseadas nos seus benefícios, que são alegações
16
funcionais e de saúde específicas, regulamentadas por órgãos reguladores. Esses benefícios
são considerados intrínsecos aos alimentos e podem ser classificados como atributos de busca
– motivos pelos quais o consumidor busca o produto antes de comprá-lo.
Informações mercadológicas obtidas junto à base de dados, Euromonitor International
(2012)1, auxiliaram a caracterizar o mercado brasileiro de alimentos funcionais/fortificados.
Esse se destaca como o quinto maior mercado em 2011, com um valor de vendas na marca de
US$ 7 bilhões (ver Anexo A) e o projetam como terceiro maior mercado, com o valor de US$
14 bilhões e 7,07% de participação mundial, somente atrás da China (20,46%) e dos Estados
Unidos (17,66%) em 2015. O incremento de vendas anuais no mercado brasileiro (ver Anexo
C) deve ficar acima dos 12% até 2015. Já o consumo per capita (ver Anexo B) não se
equipara aos padrões de mercados desenvolvidos e ações tornam-se necessárias para melhor
desempenho do índice que está projetado para 2015 na marca de US$ 35,4 per capita.
As vendas internacionais, em 2011 (ver Anexo A), atingiram a marca aproximada de
US$ 150 bilhões de dólares, sendo, respectivamente, os principais mercados: Estados Unidos
(21,82%), China (13,59%), Japão (8,45%), México (6,85%) e Brasil (5,65%). Os maiores
consumos per capita estão localizados em países (Anexo B) localizados em regiões
desenvolvidas: Finlândia com marca de US$ 230,4 em 2011; seguido por Irlanda com US$
164,0, Nova Zelândia com US$ 144,4, Austrália com US$ 107,4 e Estados Unidos com 105,6.
(EUROMONITOR INTERNATIONAL, 2012).
Projeções
confirmam
que
os
mercados
emergentes
possibilitam
melhores
oportunidades de venda. O mercado venezuelano destaca-se por apresentar melhor
desempenho de expansão com índices acima de 26% por ano até 2016, suportando a projeção
de maior representatividade desse mercado (1,63% em 2015). Os mercados argentino,
chileno, colombiano e venezuelano apresentam mercados com baixa representatividade de
vendas em 2011, sendo, respectivamente, 0,60%, 0,49%, 0,48% e 0,76%.Embora as
tendências sócio demográficas favoreçam o desenvolvimento do mercado de funcionais,
pesquisas recentes também apontam o investimento de empresas de alimentos nesse setor.
(GIANEZINI et al., 2012; LIMA; RÉVILLION; PADULA, 2009; RAUD, 2008; ROSA;
RÉVILLION, 2011). Apesar disso, a alegação funcional de alimentos no Brasil não é de fácil
compreensão para os consumidores. (DA SILVEIRA; VIANNA; MOSEGUI, 2009). Dessa
1
Dados de Outubro de 2012.
17
forma, identifica-se uma lacuna em compreender como a regulação brasileira de alimentos
funcionais influência no processo de inovação das empresas de alimentos.
Para que possamos demonstrar a contribuição da pesquisa, a dissertação está dividida
em cinco capítulos. O segundo capítulo é o referencial teórico que embasa a pesquisa. A
metodologia está descrita no terceiro capítulo. No quarto capítulo, serão apresentados os
dados coletados e, por fim, as considerações finais.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico apresenta temas que sustentam o entendimento da pesquisa.
2.1 Teoria Institucional
A teoria institucional compreende o entendimento das relações socioeconômicas que
são moldadas pelas instituições. Para esse entendimento são necessárias algumas definições:
a) socialização é a transformação do ser humano primitivo em ser socializado,
moldando o ser humano. (SELZNICK, 1992);
b) organizações formais são geralmente entendidas por sistemas de atividades
coordenadas e controladas que surgem quando o trabalho é incorporado a uma
complexa rede de trabalhos de relações técnicas e de trocas. (MEYER; ROWAN,
1977);
c) a institucionalização está intimamente associada com a realização de valor, de
moldar os grupos e as práticas. (SELZNICK, 1992).
Em um contexto social de ampla diversificação, a teoria institucional é a emergência
da ordem, da estabilidade, socialmente integradas aos padrões fora da instabilidade,
frouxamente organizada, ou restritamente a atividades técnicas. Essas fixam processos que
são dinâmicos, ou seja, padrões. North (1990) destaca que, por meio desses padrões
estipulados pelas instituições, consegue-se reduzir a incerteza, em um ambiente em um
contexto de interações econômicas.
Shirley e Menard (2008, p. 1) abordam que as organizações têm "[...] informações
incompletas e capacidade mental limitada [...]", sugerindo que eles vivem em um mundo de
incertezas. Meyer e Rowan (1977) declaram que os padrões institucionais colaboram para
proporcionar a melhoria da competitividade para as organizações menos eficientes. Em um
ambiente institucionalisado, as organizações tendem a organizar-se de formas similares –
isomorfismo. (DIMAGGIO; POWELL, 1983).
Rubin (2008) declara que as experiências econômicas malsucedidas, com a remoção
das restrições às barreiras internacionais, reforçam a criação de um sistema legal para
promover o desenvolvimento. Um sistema legal é composto por várias instituições que são
capazes de assegurar o bom funcionamento das transações econômicas entre os agentes
através de normas (padrões). (NYE, 2008; RUBIN, 2008).
19
No entanto, Nye (2008, p. 70) aponta que: "Qualquer grupo ou organização ou
indivíduo com o poder de fazer as leis e garantir o funcionamento das instituições do mercado
também é poderoso o suficiente para abusar aqueles que precisam de tal proteção". Embora o
ambiente institucional possa garantir a ordem e o desenvolvimento de um mercado, não pode
garantir a eficiência e reduzir o risco em todos os casos. (BENHAM, 2008).
Ao abordar os objetivos do estudo, busca-se compreender como as instituições podem
influenciar o processo de inovação no setor de alimentos. Estas podem ser propulsoras ou
inibidoras do desenvolvimento de novos produtos no mercado brasileiro.
2.1.1 Agente Regulatório
Dentro desse contexto social, os agentes regulatórios apresentam funções importantes.
Para Giddens (1984), em um dicionário inglês, agente é alguém que exerce poder ou produz
efeito. O agente é um ser capaz de exibir uma gama de poderes causais, incluindo o de
influenciar os manifestos por outros. A ação depende das capacidades do indivíduo de criar
uma diferença em relação ao estado de coisas ou curso de eventos preexistentes.
Já a palavra “regulatório”, vem de “regra”, podendo ser: frequentemente ligado com
jogos, como prescrições formalizadas; uma fórmula; subentendem-se procedimentos
metódicos de interação social – rotina; possuem dois aspectos: relaciona-se com a
constituição de significados e sanciona modos de conduta social. (GIDDENS, 1984). Logo, as
regras da vida social são técnicas ou procedimentos generalizados aplicados no
desempenho/reprodução de práticas sociais, em que as leis são do tipo sancionadas. O
regulamento faz parte da complexa rede de políticas públicas de uma nação. (NORTH, 1990).
O agente regulatório foi um mecanismo desenvolvido pelos americanos entre 1887 e
1917 para lidar com a baixa qualidade de muitos itens do consumidor e do custo social das
atividades econômicas. Envolvia a formação de agências governamentais para regular as
facetas específicas das atividades industriais e comerciais. Muitos Estados e agências federais
– particularmente aqueles preocupados com a difusão de interesses como a proteção do
consumidor e a qualidade do ambiente – aparentemente tornaram-se dominados depois de um
período de tempo por muitos interesses econômicos, sendo supostamente regulados.
Segundo Sabatier (1975), as agências podem ser classificadas conforme os resultados
a serem alcançados: intersecta natureza dos resultados (ou seja, quer eles aloquem
mercadorias e serviços ou regulem comportamento); e na pretendida e/ou autorizada
20
distribuição de custos e benefícios. Com essas características, podemos distinguir quatro
tipologias de resultados (resumida na Figura 1):
a) política regulatória: procura mudança no comportamento de alguns atores em
benefício de outros;
b) política distributiva: aloca mercadorias e serviços entre atores de tal modo que as
partes fiquem com a fatia do todo. Percebido como a situação de soma não zero,
pois a distribuição dos benefícios é proporcional entre os atores;
c) política re-distributiva: aloca mercadorias e serviços entre atores de tal modo que
são definidos ganhadores e perdedores. Tradicional situação de soma zero, em que
os recursos são realocados causando uma perda em detrimento de outro;
d) política auto-regulatória: impõe restrições sobre os membros de um grupo para
eles coletivamente se beneficiarem em vez de políticas de comportamentos para
outros.
Figura 1 – Tipologia de Política por resultados
Fonte: Adaptado de Sabatier (1975, p. 307)
Contudo, nos últimos 20 anos, os padrões regulatórios sofreram mudanças não sendo
necessariamente de ordem pública. A evolução dos padrões privados fez aumentar as questões
do papel público e privado, como, por exemplo, na segurança dos alimentos (HENSON;
HUMPHREY, 2010).
21
2.1.2 Padrões Regulatórios
De fato, normas privadas desenvolvidas por coalizões de atores do setor privado são
frequentemente referidas como normas voluntárias. Implicitamente, isso equivale a ações das
autoridades públicas com regras apoiadas por sanções legais, deixando o território de normas
voluntárias para entidades não governamentais (HENSON; HUMPHREY, 2010). Segue
Quadro 1 em que se busca distinguir os padrões (regras) públicos e privados.
Quadro 1 – Formas de padrões / normas
Público
Regulação
Mandatório
Voluntário
Públicos privados voluntários
Privado
Padrões privados legalmente
instituídos
Padrões privados voluntários
Fonte: Adaptado de Henson e Humphrey (2010, p. 2).
As normas privadas são divididas em padrões mandatórios, legalmente estipulados
pela associação, entidade ou conjunto de empresas. E ainda em normas voluntárias, a que as
empresas podem optar por aderir, por exemplo, as normas ISO. Já no setor público, as normas
mandatórias são as conhecidas regulamentações promulgadas pelo Governo. Apesar de o
governo poder publicar normas voluntárias, como, por exemplo, o selo de qualidade de
produto.
2.1.3 Regulamentação de Alimentos
A regulamentação dos alimentos tem a importante função de proteção da saúde do
consumidor e de criação de padrões de mercado. (LAJOLO; MIYAZAKI, 2007). Isso permite
a viabilidade econômica da cadeia de suprimentos, o bem-estar e cria uma comercialização
justa dentro da nação e entre as demais (ARUOMA, 2006).
Levando em conta a importância da tendência crescenteda população mundial, de
mobilidade da população entra as nações, de urbanização e de mudança de hábitos
alimentares, bem como a necessidade da criação de um moderno programa de controle
produtido dos alimentos em todas as fases da cadeia de suprimentos, desde a origem para os
consumidores, emerge a regulamentação. (ARUOMA, 2006). Mesmo que os mecanismos de
regulamentação e de controle da saúde pública sejam problema dos governos, a segurança
22
alimentar ainda é essencialmente de responsabilidade do consumidor, contudo, ele precisa ser
bem informado.
Os alimentos com propriedades funcionais e / ou alegações de saúde devem ser
consumidos como parte da dieta usual para produzir efeitos fisiológicos ou metabólicos.
O reconhecimento dessas propriedades pelo órgão regulador garante que o consumidor tenha
acesso a informações e a alimentos em que pode confiar. (BIANCO, 2008).
2.2 Teoria dos Custos de Transação
A contribuição de Ronald Harry Coase para a academia, não obstante o fato de não ter
sido reconhecida na época, foi de importante relevância para a compreensão da estrutura
institucional e a Nova Economia Institucional.
Sua mais importante publicação foi The Nature of the Firm de 1937, que lhe rendeu o
prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel de 1991. No artigo, o autor faz
uma crítica à publicação The Wealth of Nations (1776), de Adam Smith, em que o sistema
econômico pode ser coordenado sem a necessidade da interferência do Estado Maior, a nação.
O próprio mercado autorregular-se-ia com as trocas pelo sistema de preços (a mão invisível).
Outra crítica de Coase (1937) sobre o proposto por Smith é o motivo da existência de
firma2, visto que o sistema de preços o inviabilizaria. Esse sistema não era viável como um
mecanismo de coordenação que explique o surgimento das organizações, mesmo assim existe
um custo. (COASE, 1992).
Coase conclui que o surgimento da firma é motivado por custos de transações.
(COASE, 1937, 1992). Qualquer atividade econômica da firma possui custos (por exemplo,
custo de pesquisa, análise, compra, etc). É da natureza da firma organizar seus fatores para
gerar menor custo de transação e para isso deve optar em adquirir no mercado ou incorporar
(buy-or-make).
A Teoria dos Custos de Transação emerge com os estudos de Williamson (1973, 1979,
1985) baseados na publicação de Coase (1937) acima relatada. Diferentemente de Coase, em
seus trabalhos, o autor, relata os parâmetros utilizados para compreender o fenômeno e como
se aplica.
2
Para fins desse projeto, o termo firma é entendido como um agente econômico que realiza a produção e a venda
de bens e serviços com o propósito de solucionar uma demanda de outro agente econômico. A figura do
empreendedor-coordenador é responsável por criar uma estrutura que sustente a firma, a qual será chamada de
organização e/ou empresa.
23
O custo de transação é definido por Arrow (1969) como o custo para administrar um
sistema econômico. A teoria busca compreender a complexa estrutura e as relações das
modernas organizações, para isso utiliza as lentes da economia, contratos e teoria
organizacional. Para Williamson (1985), a organização moderna constitui-se em uma “caixa
preta” que deve ser desvendada.
A unidade fundamental de análise da teoria é a transação. As organizações estruturam
suas atividades produtivas, baseando as escolhas entre make-or-buy (COASE, 1937) de modo
a minimizar os custos de transação (WILLIAMSON, 1985) e a maximizar ganhos
(HENNART, 2008) com o mercado e com outras instituições com que se relacionam.
Segundo Williamson (1985), existem três formas distintas de governança das
atividades interorganizacionais: (1) Mercado, em que a transação (atividades, produtos,
serviços) são buscados externamente à instituição; (2) Hierarquia, em que a transação é
efetuada dentro da empresa; e (3) Híbrido, forma mista entre Mercador e Hierarquia, como
joint ventures, alianças e network. Hennart (2008) reconhece somente os dois primeiros tipos,
não percebendo uma fronteira bem definida que limite o terceiro dos demais.
Existem fatores humanos e transacionais que influenciam na escolha ou na troca dos
modos de governança: (1) Racionalidade limitada: refere-se à capacidade do indivíduo de
processar a informação sem erro, embora sua ação seja racional; (2) Oportunismo: manifestase por um ganho de um agente pela assimetria de informação entre as partes e/ou anomalias
de mercado. O oportunismo não necessariamente significa que os agentes são desonestos, mas
tais oportunidades podem ocorrer; (3) Incertezas: podem ser descritas como acontecimentos
esporádicos que atrapalham a rotina funcional da organização, bem como a falta de
informação que pode provocar ao(s) ator(es) incompetência nas decisões; (4) Frequência: a
frequência com que as transações são efetuadas; e, (5) Ativo Específico: refere-se ao item a
ser transacionado, podendo ser mercador, serviço, investimento, capital humano, entre outros.
2.3 Cadeia de Suprimentos
Dicken (2004) afirma que a integração econômica internacional, anterior à década de
60, acontecia, essencialmente, através de simples troca de mercadoria e de serviços entre
empresas independentes, de movimentos internacionais de capitais e por investimento direto.
Atualmente, a visão de integração torna-se mais profunda e pode ser facilmente visualizada
nas complexas redes de produção e de comércio transnacionais. (GEREFFI, 1994; GEREFFI
et al., 2005; WRIGLEY, 2009).
24
Gereffi et al. (2005) destacam que a desintegração vertical das corporações
transnacionais é uma das características manifestas pela mudança econômica contemporânea.
Este movimento corresponde à preocupação das corporações em focar em suas competências
centrais, ou seja, em atividades que possam agregar maior valor. As atividades consideradas
de menor relevância passam a ser desempenhadas fora da empresa. Isso acarreta uma troca de
paradigma da competição empresarial no mercado para uma luta em cadeias de suprimentos.
(BEAMON, 1998).
Beamon (1998) define cadeia de suprimentos como um processo produtivo integrado
em que as matérias-primas são convertidas em um produto final, então, entregues para o
consumidor final. A cadeia de suprimentos é mais que uma união de empresas fragmentadas,
é um organismo único que gerencia as relações, as informações e os materiais que fluem para
que se possa criar um produto ou serviço, para o consumidor, com maior vantagem
competitiva do que o de outra cadeia de suprimento (MENTZER et al., 2001).
Para Lambert e Cooper (2000), a quantidade de empresas na cadeia pode variar
conforme a complexidade do produto, o número de fornecedores e a viabilidade de matériaprima, passando por fornecedores de matéria-prima, fabricantes de produtos semiacabados,
fabricantes, distribuidores, atacadistas, até o cliente final. Entre esses atores centrais existem a
figura do agente de suporte que fortalece a cadeia, tais como operadores logísticos, empresas
de pesquisa em marketing e provedores financeiros (Figura 2).
Figura 2 – Cadeia de suprimentos
Fonte: Adaptado de Mentzeret al. (2001, p.5)
25
A relação na cadeia de suprimentos é tipicamente de longo prazo e requer uma
considerável estratégia de coordenação. Mentzer et al. (2001) examina os antecedentes e as
consequências da gestão da cadeia de suprimentos. Os antecedentes são fatores que realçam
ou impedem a implementação da “filosofia” da cadeia de suprimentos, sendo:
a) confiança: como vontade de contar com um parceiro de troca em quem se tem
segurança; compromisso como uma promessa implícita ou explícita de
continuidade relacional entre troca de parceiros;
b) interdependência: como a necessidade das empresas de manterem um
relacionamento com parceiros para atingir objetivos;
c) compatibilidade
organizacional:
é
definida
como
metas
e
objetivos
complementares, bem como similaridade nas filosofias operacionais e culturas
organizacionais;
d) visão: como provedor da empresa de metas e estratégias na busca do plano para
identificar e realizar as oportunidades que se espera descobrir no mercado;
e) processo-chave: como atividade principal da cadeia, criadora de valor;
f) empresa líder: como empresa-chave na cadeia que estrutura;
g) suporte da alta direção como papel crítico na estruturação dos valores, orientação e
direção das organizações para a filosofia da cadeia de suprimentos.
As consequências são os motivos da formação da cadeia de suprimentos, aumentando
a vantagem competitiva perante outra estrutura. O baixo custo é o objetivo da estruturação da
cadeia, oferecendo um nível adequado de serviço ao consumidor no seu segmento. Outro
objetivo é aumentar a qualidade do produto/serviço e satisfação para os seus consumidores,
aumentando a disponibilidade do produto e reduzindo o ciclo de pedidos. A somatória de
baixo custo e de maior desempenho operacional acarreta para a cadeia uma vantagem
competitiva maior, comparando com outras estruturas produtivas, resultando em
lucratividade.
2.3.1 Interação entre Cadeia de Suprimentos e Teoria do Custo de Transação
A cadeia de suprimento é a relação, sequencial, de firmas com distintas competências,
com o objetivo de produzir e de entregar um produto e serviço ao consumidor. Necessita-se
compreender como as relações ocorrem. Com base nos estudos de Coase (1937) e Williamson
26
(1975, 1979), Hobbs (1996) afirma que o uso de conceitos do custo de transação explica a
organização da firma e a sua interação na cadeia de suprimentos.
Anteriormente abordados, os custos de transação são os custos de realização de
qualquer troca, ou seja, entre firmas no mercado ou transferência de recursos entre firmas
verticalmente integradas. O termo transação merece atenção, pois não deve ser considerado
somente como movimento de mercadoria. Conforme Williamson (1985), o custo de transação
pode ser classificado em: (1) custo de informação, (2) custo de negociação e (3) custo de
monitoramento.
Conforme a Teoria dos Custos de Transação (WILLIAMSON, 1985), as empresas
deparam-se com fatores (racionalidade limitada, oportunidades, ativo específico, incerteza e
assimetria de informações) que influenciam a forma de estrutura da cadeia de suprimentos e
asseguram sua eficiência e eficácia. Ela deve escolher entre internalizar as atividades
(Hierarchy), adquiri-las no mercado (Market) ou optar por formas mistas de lações (Hybrid).
Autores como Humphrey e Schmitz (2001) e Kaplinsky e Morris (2001) abordam a
importância de uma empresa líder assumir a responsabilidade da estruturação da divisão do
trabalho interfirmas e intrafirmas. Utilizando o seu poder, a empresa líder cria parâmetros
desejados (regras) para que as atividades fluam ordenadamente. Dentro de uma cadeia, o
poder pode ser entendido em pelo menos duas formas distintas, (a) assegurar consequências
ao longo da cadeia e (b) ativamente gestão ou coordenação das operações dos elos da cadeia
para assegurar que essas consequências sejam atendidas. (HENSON; HUMPHREY, 2010).
2.4 Inovação
Ao abordar o desenvolvimento de alimentos como objeto do estudo, faz-se necessário
compreender e definir inovação. Previamente ao termo inovação, precisam ser definidas
“técnica”, “tecnologia” e “invenção”. A técnica é um método prático, habilidade ou arte
aplicada a uma determinada tarefa. É também uma proficiência em uma habilidade prática ou
mecânica, ou o procedimento sistemático pelo qual uma tarefa complexa ou científica é
realizada. (AUGROS; STANCIU, 1984). A tecnologia é o fazer, o uso e o conhecimento de
ferramentas, máquinas, técnicas, artesanato, sistemas ou métodos de organização, a fim de
resolver um problema ou executar uma função específica. (WEBSTER, 1964). A invenção,
segundo Tigre (2006, p.72), ”refere-se à criação de um processo, técnica ou produto”, já a
inovação ”ocorre com a efetiva aplicação prática de uma invenção”. Segundo Van de Ven
(1986), a inovação é um processo de desenvolvimento e implementação de novas ideias,
27
dentro de um contexto institucional, em que pessoas das mais distintas atividades engajam-se
ao longo do tempo.
O economista Schumpeter é considerado o “pai da inovação” por buscar compreender
o desenvolvimento econômico por meio da inovação. Em seus estudos, o autor define
desenvolvimento como:
[...] um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado
no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança
espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que
altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente.
(SCHUMPETER, 191, p. 75).
As mudanças abordadas pelo autor são verificadas na esfera da vida industrial e
comercial. No sistema econômico, a firma é o agente que inicia a mudança econômica. Ele é
capaz de combinar materiais e forças para produzir itens ou métodos. Ao criar novas
combinações de fatores, pode gerar desenvolvimento. O autor complementa que a expressão
do sucesso da inovação está relacionada à geração de ganhos financeiros para a firma.
O consumidor, apesar de ser considerado como uma força fundamental para a
inovação, não a inicia. É papel da firma educá-lo para querer itens novos, que sejam
diferentes em algum aspecto daqueles que tinha o hábito de usar (SCHUMPETER, 1961).
Para o autor, , a inovação pode surgir considerando-se os cinco casos a seguir: (1) Um novo
produto, que seja algo que o consumidor ainda não esteja familiarizado ou que apresente uma
nova qualidade; (2) um novo método de produção, que ainda não tenha sido testado pela
experiência no ramo próprio da indústria; (3) a abertura de um novo mercado em que o ramo
particular da indústria do país em questão não tenha atuado antes; (4) uma nova fonte de
oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados; e (5) uma nova organização de
qualquer indústria.
A inovação é vista como algo positivo, por se tratar de algo que é útil para a(s)
pessoa(s) e/ou para a(s) organização(ões). (VAN DE VEN, 1986). Mas, para que ela ocorra
plenamente, precisa ser percebida, difundida e compreendida pela sociedade. Sua difusão
ainda contribui para que o processo de inovação seja retroalimentado de modo a corrigir ou
desenvolver um novo item. Por isso, os processos de inovação e de sua difusão não podem ser
separados. (TIGRE, 2006).
Quando essa nova ideia não é percebida como útil para a sociedade ou para o públicoalvo, segundo Van de Ven (1986), comumente é chamada de engano ou erro. Uma nova ideia
28
somente pode ser chamada de inovação ou erro, após uma criteriosa análise, ao final do
processo de desenvolvimento e implementação.
A inovação pode ser de várias formas e tipos. Para Tigre (2006), a inovação pode ser
incremental, quando são efetuadas melhorias no produto ou serviço (sejam em qualidade,
desing e/ouprocesso), e em novos arranjos logísticos e organizacionais. Ou pode ser radical,
quando existe um rompimento da trajetória do mercado, ou seja, um salto tecnológico.
A inovação não está limitada a esses tipos. Autores como Bröring (2010), Bröring e
Cloutier (2008), Bröring e Leker (2007), Bröring, Cloutier e Leker(2006), Duysters e
Hagedoorn (1997), Katz (1996) e Prahalad (1998) trabalham inovação como a convergência
de setores (tópico que será apresentado a seguir).
Para fins desse estudo, inovação é definida como combinação de fatores capaz de criar
um produto com propriedades distintas dos demais oferecidos ao consumidor e esse produto
pode gerar ganhos financeiros acima da média, quando comparado ao dos concorrentes.
2.4.1 Inovação e Convergência de Setores
Para Bröring, Cloutier e Leker (2006), a inovação pode ser alcançada por uma
convergência de setores. O setor farmacêutico, que é orientado por pesquisas intensas em
tecnologia, tem seu foco na cura. Já o setor alimentício, que é orientado para o mercado
consumidor, na nutrição. Convergência pode ser definida como uma fronteira entre indústrias.
Esse fenômeno pode ser encontrado em relação aos alimentos funcionais e nutracêuticos,
produtos que emergem da fronteira do setor alimentício e farmacêutico (Figura 3).
A inovação com base na convergência setorial é vista como um processo que, na sua
base, tem orientação (1) tecnológica (supply-side), ou seja, aplicação de tecnologias em
diferentes setores em novo; e/ou (2) baseada na demanda (demand-side) do mercado com o
objetivo de satisfazer suas necessidades. (BRÄNNBACK; WIKLUND, 2001; BRÖRING,
2010; MARK-HERBERT, 2004; PAVITT, 2005; TIDD; BESSANT: PAVITT, 2005).
Como pode ser visualizado na Figura 3, ambas as orientações podem ser encontradas
no setor de alimentos funcionais. A convergência de setores surge da preocupação da
regulamentação para aprovação desses produtos. Por tratar-se de uma convergência entre o
setor farmacêutico e o alimentício pode haver uma dificuldade de classificação do produto
entre alimento e droga. (BRÖRING; LEKER, 2007).
29
Figura 3 – Convergência de setor – Alimentos e Medicamentos
Fonte: Adaptado de Bröring (2010, p. 112).
A convergência entre setores sugere uma adaptação dos modelos nos processos de
pesquisa e desenvolvimento. A geração de ideias já chamoumuita atenção na pesquisa de
gestãoda inovação. Em seu estudode 252 novos produtos em 123 empresas, Cooper e
Kleinschmidt (1986) descobriram que a maioriadas ideiasbem-sucedidas são orientadas para o
mercado, enquanto que apenas algumas são orientadas para a tecnologia.
Em sua pesquisa, Bröring e Leker (2007) classificam as fontes de inovação como:
a) fontes externas: definidas como oportunidades que são derivadas, por exemplo, do
mercador e de tendências tecnológicas ou de potencial parceria entre setores;
b) fontes internas: derivadas da atividade exercida pela empresa, de seu plano
estratégico, de sua capacidade existente do setor de P&D ou de sua corrente de
relacionamentos.
A distinção entre fontes externas e internas também foi enfatizada por Kohlbecker
(1997 apud BRÖRING; CLOUTIER; LEKER, 2006), que observou que mais de um terço de
ideias bem-sucedidas são derivadas de fontes externas.
30
2.4.2 Processo de Inovação
A inovação em produto é a chave para que a empresa possa criar valor (BRÖRING;
CLOUTIER, 2008), e para captar e reter consumidores, objetivando o aumento da
lucratividade no mercado (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005). Para que a firma possa obter
os ganhos desejados com um produto inovador, ela deve compreender o processo de inovação
de modo a melhor gerenciá-lo.
Para Pavitt (2005), o processo de inovação pode apresentar distintas características
conforme o setor estudado. A análise econômica está interessada em compreender os efeitos e
os incentivos para a inovação. Diferentemente da análise organizacional que enfatiza as
atividades e a estrutura relacionadas à atividade de inovar. Esta última será a análise
considerada para este trabalho.
O processo de inovação envolve exploration e exploitation3 de oportunidades para
novos produtos baseando-se em dois tipos de conhecimentos (PAVITT, 2005): (1)
conhecimento tecnológico; e (2) conhecimento mercadológico. No setor de alimentos
funcionais, o primeiro conhecimento pode ser localizado no setor farmacêutico e químico que
inclui o conhecimento do estado da arte das tecnologias. Já o segundo pode ser visualizado no
setor alimentício que melhor compreende a dinâmica de mercado, ou seja, conhecimento do
processo comercialização, conhecimento de gestão de negócios, licenças (BRÄNNBACK;
WIKLUND, 2001; BRÖRING, 2010; MARK-HERBERT, 2004; PAVITT, 2005) e
conhecimento das ações do(s) competidore(s) ( TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005).
As atividades de P&D tornam-se primordiais para o setor de alimentos funcionais.
Contudo, o investimento nessa atividade por si só não garante sucesso. Isso pode ser
visualizado pelo alto índice de falha de produtos e serviços que são lançados no mercado.
(THAMHAIN, 2003). Por isso, o grande desafio para as empresas do setor de alimentos
funcionais não é tanto a geração de ideias inovadoras no estágio de P&D, mas a efetiva
transferência de tecnologia do estágio da descoberta para o mercado. (THAMHAIN, 2003).
Para isso, necessita-se que o conhecimento tecnológico e o mercadológico estejam alinhados.
Apesar da complexidade do mercado, as empresas de alimentos funcionais devem
buscar administrar essas duas competências de forma equilibrada, para criar um produto de
valor (BRÖRING, 2010; BRÖRING; CLOUTIER, 2008; MARK-HERBERT, 2004;
3
A utilização das palavras, exploration e exploitation, em inglês, visa à melhor compreensão. Ao traduzir as
palavras para o português, ambas possuem a mesma tradução, “exploração”. Conforme o Oxford Dictionaries
Online, exploration significa a ação de explorar uma área desconhecida e exploitation significa a ação de fazer
uso de e beneficiando-se de recursos. (EXPLOITATION..., 2012; EXPLORATION..., 2012).
31
THAMHAIN, 2003) com seus valores organizacionais e seus recursos. (BRÄNNBACK;
WIKLUND, 2001). Para fins desse estudo, entende-se que a dicotomia conhecimento
tecnológico e conhecimento mercadológico (figura 4) é a melhor estrutura para gestão do
processo de inovação.
Figura 4 – Competências para gestão da inovação
Fonte: Adaptado de Brännback e Wiklund (2001, p.202)
Conforme mencionado anteriormente, a atividade de inovar é motivada pela busca de
lucro pela firma. Contudo, a atividade de inovação é inerentemente incerta, pois se torna
difícil prever os custos e o desempenho dos produtos e a reação do consumidor. (DOSI, 1988;
PAVITT, 2005).
2.5 Alimentos Funcionais
Não existe uma definição universal para alimentos funcionais. Após várias pesquisas
no Japão, na década de 1980, o Ministério japonês da Saúde e bem-estar estabeleceu a
concepção de Foods for Specified Health Use (FOSHU). FOSHU são (1) alimentos que
deverão ter um efeito específico de saúde, devido aos constituintes relevantes ou alimentos a
partir do qual foram retiradosos alérgenos e (2) alimentos de onde o efeito detal adição ou
remoção foi o cientificamente avaliado e a permissão foi concedida a fazer alegações sobre os
32
efeitos específicos benéficos para a saúde que se espera de seu consumo. (ROBERFROID,
2000). Diferentemente da concepção japonesa, a europeia foi definida assim:
Um alimento funcional pode ser um alimento natural, um alimento ao qual o
componente foi adicionado, ou um alimento a partir da qual um componente
foi removido por meios tecnológicos ou biotecnológica. Também pode ser
um alimento em que a natureza de um ou mais componentes tenha sido
modificado, ou um alimento em que a biodisponibilidade de um ou mais
componentes tenha sido modificado, ou qualquer combinação dessas
possibilidades. Um alimento funcional pode ser funcional para todos os
membros de uma população ou de grupos específicos da população, que
podem ser definidos, por exemplo, por idade ou por constituição genética
(DIPLOCK et al., 1999, p. S6).
A base do estudo dos alimentos funcionais está no trabalho efetuado pelo médico
Minora Shirota que, enquanto trabalhava junto aos pobres e mal nutridos do Japão, descobriu
os benefícios da bactéria Lactobacilluscasei para a regulação do trânsito intestinal, na década
de 1930. Em 1955, fundou a Companhia Yakult Honsha que começou a produzir um leite
fermentado
que
se
tornou
progressivamente
um
sucesso
mundial
(HEASMAN;
MELLENTIN, 2001).
A preocupação com a saúde da população fez surgir, nos anos de 1960, os primeiros
estudos científicos que comprovaram a ligação entre alimentação e saúde. Com esses estudos,
ressaltaram-se os impactos negativos do excesso de gordura e de açúcar. A partir de 1980,
produtos diet e light começaram a ser comercializados. E, em 1984, a Cia. Kellogg lançou sua
campanha publicitária do cereal matinal All-Bran, baseada em alegações de saúde e redução
dos riscos de desenvolver câncer. (HEASMAN; MELLENTIN, 2001). Esse movimento
estimulou as grandes empresas do setor alimentício a desenvolverem e lançarem seus
produtos funcionais.
2.5.1 Inovação no Setor de Alimentos
Historicamente, as empresas de alimentos são muito ativas na construção demarca se a
ênfase no mercado é refletida por um caminho de desenvolvimento dependente de práticas de
mercado B2C (business-to-consumer). Em contraste, os setores químico e farmacêutico
dominados pela tecnologia de acumulação de recursos de desenvolvimento, ligaram-se a
diferentes programas de desenvolvimento de tecnologia. (MARK-HERBERT, 2004,
BRÖRING, CLOUTIER; LEKER, 2006).
33
A inovação bem-sucedida, no contexto da convergência da indústria, exige que as
organizações combinem muitas áreas do conhecimento crítico. (BIERLY; CHAKRABARTI,
1999). Essas áreas de conhecimento e de competências necessárias são normalmente encontradas
em diferentes indústrias. Essas fontes de conhecimentoe competência são específicas do setor
(FAI; VON-TUNZELMANN, 2001), principalmente, devido à trajetória de dependência na
geração de conhecimento. Isso acontece porque o desenvolvimento dessas competências exige um
longo tempo de aprendizado. (DIERICKX; COOL, 1989; HELFAT, 1994; TEECE; PISANO;
SHUEN, 1997).
Ao compreender o movimento global da fragmentação das organizações para que
essas possam dedicar-se a atividades fins, a organização de competência de firmas
distintas emerge como fator importante para garantir o desenvolvimento de produtos
inovadores. Em seu estudo, Hobbs (2002) destaca que formas híbridas de governança de
cadeia de suprimentos (alianças e colaborações entre os agentes, ou seja, cientistas
empreendedores, fornecedores, processadores de alimentos e firmas de suplementos
medicinais e outros) auxiliaram o desenvolvimento e o rápido crescimento do mercado
canadense de alimentos funcionais. Mesmo com a institucionalização e a fragmentação
das atividades organizacionais, Pisano (1990) sugere que o modo de governança do tipo
hierarquia, ou seja, internalização de atividades de P&D é uma estratégia para garantir as
patentes sobre novas tecnologias e produtos. Também evitando custos elevados de
transação.
O processo de desenvolvimento de novos produtos utiliza recursos abertos (open
source) e tecnologias que são compartilhadas na comunidade enquanto mantém potencial
comercial. Independente de apresentar livre acesso pode apresentar dificuldades de
gerenciamento e de desenvolvimento pelo indivíduo. (MARK-HERBERT, 2004).
Em suas pesquisas (BOEHLJE; BRÖRING; ROUCAN-KANE, 2009; BRÖRING,
2010, BRÖRING, 2007; BRÖRING; CLOUTIER, 2008; BRÖRING; LEKER, 2007),
alguns autores identificaram três tipos de projetos P&D (amostra 54 casos) que emergiram
da convergência desses setores:
Grupo A – Desenvolvimento de tecnologia sem uma aplicação direta para
mercado consumidor: As ideias no grupo de desenvolvedores de tecnologia são
derivadas da experiência do passado, onde o conhecimento, dependente da trajetória
histórica, desempenha um papel dominante. Atividades de front-end sobre geração de
ideias não são diretamente influenciadas pela convergênciada indústria. Para oferta de
convergência, o conhecimento existente pode ser aplicado a outra indústria. Demanda-
34
convergência não tem um efeito nesse contexto, devido à posição inalteradada empresa
como uma tradicional "desenvolvedora de tecnologia" sementrada direta de novas
tendências do mercado consumidor em movimento rápido.
Por sua vez, o Grupo B – Tecnologia Intensa para desenvolvimento de
produtos para o consumidor: a convergência da indústriade ambos os lado da oferta e da
demanda, tem um impacto sobre ofront-end para geração de ideias. A empresanão possui a
capacidade de absorção na ausência de experiência em marketing para ampliar seu knowhow tecnológico com sucesso para o mercado consumidor. Assim, para superar a falta de
mercado relacionado com a capacidade de absorção, e para gerar bem-sucedido do
mercado consumidor-orientado ideias, a empresa montou uma joint-venture com uma
empresa do setor de alimentos.
Por fim, o Grupo C – Desenvolvimento de produto com base em tecnologias já
existentes: introduzir um novo segmento na indústria com um foco claro sobre as suas
competências existentes no mercado. A influência da convergência do lado da oferta em
novas plataformas tecnológicas é apenas de menor relevância, como o fornecedor toma
conta da inclusão de ingredientes existentes em produtos de consumo. Não há adaptação
em termos de competências. No entanto, um bom relacionamento com fornecedores
aparece como muito importante. Convergência da indústria, assim, tem um impacto menor
sobre a tomada de decisão frente final seleção. Isso é porque o grupo C simplesmente vê o
novo segmento emergente como um campo adicional para a sua organização de marketing
focado para expandir as linhas de produtos existentes para o "segmento de saúde".
35
3 METODOLOGIA
Ao analisar o objetivo da pesquisa, buscou-se avaliar quais os métodos e metodologias
mais adequados. A partir de pesquisas prévias, abordando a temática (ver Quadro 4),
prevalecem métodos de pesquisa qualitativos. Esta informação auxilia na compreensão das
metodologias já conduzidas, contudo, não influência diretamente na escolha da metodologia.
Ao tentar compreender a influência da regulação brasileira do setor de alimentos sobre a
cadeia de suprimentos de alimentos funcionais, verificou-se, primeiramente, que a temática
possui lacunas de pesquisa no ambiente brasileiro. E, por consequência, optou-se por método
exploratório-qualitativo para entender esse ambiente (SILVERMAN, 2009) sob o olhar de
seus participantes.
Collis e Hussey (2005) afirmam que a pesquisa acadêmica pode ser classificada
conforme seus objetivos e processos. Segundo o objetivo, esta pesquisa busca explorar um
fenômeno, ou seja, trata-se de investigar do assunto para maior compreensão. Ao utilizar-se
esse tipo de pesquisa, busca-se explorar, analisar e, por fim, descrever. (COLLIS; HUSSEY,
2005). Já em relação ao processo (metodologia), o mais apropriado é o qualitativo, por
entender que uma análise mais reflexiva sobre o assunto pode ser fonte de fundamental
entendimento dessa atividade socioeconômica. (SILVERMAN, 2009).
Fundamentando-se na metodologia qualitativa, utiliza-se três métodos de coleta de
dados (SILVEEMAN, 2009): observação direta, entrevista e análise de textos. Estes serão
descritos posteriormente.
A estrutura da pesquisa, com base no referencial teórico, que suporta este estudo, está
representada na Figura 5, dividindo-se em duas etapas. Primeiramente, uma etapa descritiva
da cadeia de suprimentos brasileira, de alimentos funcionais, em que serão abordados os
atores, o processo de inovação e a regulamentação de alimentos funcionais. A etapa seguinte é
a analítica, em que será averiguado o papel da regulamentação da cadeia de suprimentos na
gestão da inovação de alimentos funcionais.
36
Figura 5 – Representação da estrutura da pesquisa
Fonte: Elaborado pelo autor
A pesquisa foi realizada por meio de atividades e de procedimentos organizados em
cinco etapas: (1) pesquisa exploratória, (2) pesquisa de campo, (3) análise e interpretação dos
dados e (4) conclusões da pesquisa. Essas fases estão delineadas na Figura 6. O cronograma
da pesquisa pode ser visualizado no Apêndice A.
Figura 6 – Etapas de pesquisa
•Levantamento de dados preliminares
Etapa 1 •Definição de amostra
•Entrevista em profundidade com especialistas e empresas de alimentos
Etapa 2 •Coletas de dados secundários
•Sintetização e analise dos dados utilizando software Nvivo®
Etapa 3 •Descrição dos dados
Etapa 4
•Resultados
Fonte: Elaborado pelo autor
37
3.1 Etapa 1: Pesquisa Exploratória
Na primeira atividade desta etapa, foi conduzida uma pesquisa exploratória sobre o
objeto de estudo. Neste momento, foram realizadas coletas de dados secundários. O
referencial teórico que suporta a coleta do estudo está sintetizado no Quadro 2. Este está
dividido em 4 grandes áreas de estudo com suas subdivisões em conteúdos e seus principais
atores abordados.
Quadro 2 –Framework teórico de investigação
(continua)
Área
Conteúdo
Teoria dos Custos de Transação
Cadeia suprimentos
Autores
Arrow (1969)
Hennart (2008)
Coase (1937, 1992)
Williamson, (1973, 1975, 1979, 1985)
Beamon (1998)
Lambert; Cooper ( 2000)
Mentzer et al, (2001)
Coase (1937)
Henson; Humphrey (2010)
Interação
entre
cadeia
de
Hobbs (1996)
suprimentos e teoria do custo de
Humphrey; Schmitz (2001)
transação
Kaplinsky; Morris (2001)
Williamson (1975, 1979, 1985)
Dimaggio; Powell (1983)
Meyer; Rowan (1977)
Nye (2008)
Teoria Institucional
Selzinck (1992)
Shirley; Menard (2008)
Rubin (2008)
Cadeia de Suprimentos
Regulamentação
Agente regulatório
Regulamentos de Alimentos
Giddens (1984)
Henson; Humphrey (2010)
Sabatier (1975)
Selzinck (1992)
Weber (1982)
Aruoma (2006)
Lajolo; Miyazaki (2007)
38
(conclusão)
Área
Conteúdo
Inovação
Inovação
Processo de Inovação
Definição
Inovação
Alimentos funcionais
Cadeia de suprimentos
Regulação
Alimentos funcionais
Tendência de consumo
Autores
Augros; Stanciu (1984)
Bröring (2010)
Bröring; Cloutier (2008)
Bröring; Leker (2007)
Bröring; Cloutier;Leker(2006)
Tigre (2006)
Schumpeter (1961)
Van de Ven (1986)
Brännback; Wiklund (2001)
Bröring (2010)
Bröring; Cloutier (2008)
Dosi (1988)
Duysters; Hagedoorn (1997)
Katz (1996)
Mark-Herbert (2004)
Pavitt (2005)
Prahalad (1998)
Thamhain (2003)
Tidd; Bessant: Pavitt (2005)
Diplock et al. (1999)
Heasman; Mellentin (2001)
Roberfroid (2000)
Bierly; Chakrabarti (1999)
Bröring; Cloutier; Leker (2006)
De Barcellos et al.(2009)
Dierick; Cool (1989)
Fai; Von Tunzelmann (2001)
Helfat (1994)
Mark-Herbert (2004)
Hobbs (2001)
Bröring (2010),
Bröring; Cloutier (2008),
Bröring; Leker (2007),
De Barcellos et al.(2009)
Kaushik D.; Kaushik N. (2010)
Lajolo; Miyazaki (2007)
Lawrence; Rayner (1998)
Da Silveira, Vianna e Mosegui (2009)
Souza (2008)
Frewer; Scholderer; Lambert (2003)
Lima; Révillion; Padula (2009)
Markovina et al.( 2011)
Raud (2008)
Da Silveira, Vianna e Mosegui (2009)
Stringheta et al. (2007)
Urala; Lähteenmaäki (2005)
Verbeke (2005, 2006)
Fonte: Elaborado pelo autor
39
No Quadro 3 apresenta fontes consultadas que auxiliaram na obtenção de informações
sobre o ambiente empresarial e acadêmico. Essas informações foram analisadas e
direcionaram a pesquisa para seleção dos eventos do setor e dos entrevistados.
A atividade seguinte foi a observação direta. Silverman (2009) considera que a
observação é um método apropriado para fases exploratórias e é usada para com frequência
para entendimento de contextos e rotinas.
Com este método, buscou-se identificar as seguintes categorias: os alimentos
funcionais no mercado brasileiro, os atores da cadeia de suprimentos e informações sobre a
regulamentação. Estes elementos foram baseados no referencial teórico da pesquisa e podem
ser visualizados na Figura 7.
A observação direta priorizou eventos do setor de alimentos (Quadro 4) e pontos de
vendas (Quadro 5). A participação em eventos do setor foi tratada como importante fonte de
dados para caracterização da pesquisa e auxílio na identificação dos agentes do setor para a
atividade seguinte, a entrevista. O Quadro 4 apresenta os eventos frequentados durante a
pesquisa. A visita aos pontos de venda é uma etapa importante tanto para identificar a
quantidade e a qualidade dos produtos inovadores com propriedades funcionais, quanto os
fabricantes. O Quadro 5 apresenta os principais pontos de venda visitados.
A observação foi uma etapa relevante para identificar os atores que participaram da etapa
de entrevistas. Identificou-se dois grupos de atores que, posteriormente, serão apresentados.
Quadro 3 – Dados secundários
Fonte
Tipo
Website
Associação Brasileira das Indústrias da
Alimentação
Associação Brasileira da Indústria de Alimentos
para Fins Especiais e Congêneres
Associação
classe
Associação
classe
de
http://www.abia.org.br
de
http://www.abiad.org.br
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
de
http://portal.anvisa.gov.br
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Associação
classe
Base de dados
Euromonitor International
Base de dados
Fonte: Elaborado pelo autor
http://www.pintec.ibge.gov.br
http://www.euromonitor.com
40
Quadro 4 – Participação em eventos
Eventos
Vitafood
South
America
–
Congresso
e
Data
Local
26 a 27 de Março de
São Paulo - SP - Brasil
Exposição
2012.
4º Simpósio de Segurança Alimentar
29 a 31 de Maio de
Gramado - RS - Brasil
2012.
5º Congresso Internacional de Inovação
30 a 31 de outubro de
Porto Alegre - RS –
2012.
Brasil.
6º Meeting de Inovação em Alimentos para a
26 de novembro de
Porto Alegre - RS –
Saúde
2012.
Brasil.
Fonte: Elaborado pelo autor
Quadro 5 – Principais pontos de venda
Estabelecimento
Rede Zaffari
Rede Walmart
Super Rissul
Localização
Total de lojas
Porto Alegre – RS
Canoas – RS
São Leopoldo – RS
Porto Alegre – RS
Gramado – RS
Porto Alegre – RS
7
3
3
Fonte: Elaborado pelo autor
3.2 Etapa 2: Pesquisa de Campo
A atividade subsequente foi a realização de entrevistas. Utilizou-se esse método por
compreender-se que os resultados das entrevistas são fontes ricas em profundidade e
complexidade que outros métodos não podem alcançar. (BYRNE, 2004). Por ser uma
importante fonte de dados, houve uma preocupação metodológica com a construção de um
roteiro semiestruturado de entrevista que direcionasse os entrevistados para os objetivos da
pesquisa.
Conforme anteriormente mencionado, a seleção dos entrevistados foi fundamentada
pelo método de observação. Os entrevistados foram divididos em dois grupos: (1) empresas
de alimentos compostas por gestores de pesquisa e desenvolvimento e gestores de marketing
de empresas de alimentos; e (2) especialistas em alimentos funcionais que compreendem
pesquisadores, gestores de institutos de P&D, representantes do órgão regulador da indústria
de alimentos funcionais (ANVISA), bem como representantes de associações de classe. O
Quadros 6 e 7 apresentam os detalhes dos respectivos grupos entrevistados.
41
Foram criados roteiros semiestruturados de entrevistas para cada um dos grupos. O
primeiro (Apêndice B) para especialista do setor e o segundo (Apêndice C) para as empresas
de alimentos. Mesmo o representante do órgão regulador brasileiro1 estando compreendido
como “especialista”, criou-se um roteiro semiestruturado expandido (Apêndice D), para
melhor abordar as questões avançadas sobre o tema. Esses roteiros foram fundamentados pelo
referencial teórico que aborda as categorias de análise, conforme a Figura 7.
Quadro 6 – Especialistas entrevistados
Entrevistados
Cargo
Empresa
Porte
Atuação
ENTREVISTADO 1
Gerente de
P&D
EMPRESA 1
Grande
Brasil
ENTREVISTADO 2
Responsável
técnica
EMPRESA 2
Médio
Regional
Farinhas
EMPRESA 3
Grande
Brasil
Diversos
EMPRESA 4
Pequeno
Regional
Iogurtes
ENTREVISTADO 3
ENTREVISTADO 4
Gerente
regional
Proprietário
Produto
Óleos e derivados,
margarina e
maionese, e produtos
de trigo, arroz e
enlatados.
ENTREVISTADO 5
Gerente de
Marketing
EMPRESA 5
Médio
Brasil
Pães e bolos
ENTREVISTADO 6
Coordenadora
de Marketing
EMPRESA 6
Grande
Brasil
Arroz e derivados
Fonte: Elaborado pelo autor
1
Contatos foram efetuados, insistentemente, com as associações de classe que representam o setor de alimentos,
Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (ABIA) e Associação Brasileira da Indústria de Alimentos
para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD), contudo não foi obtido retorno desejado.
42
Quadro 7 – Especialistas entrevistados
Entrevistados
Qualificação
ENTREVISTADO 1
Engenheira de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.
Sócia Fundadora da EMPRESA X Assessoria de Alimentos.
Membro do Grupo de Trabalho de Alimentos para Fins Especiais do Ministério da
Saúde, desde 1997.
Membro do Comitê de Alimentos para Fins Especiais e de Rotulagem do “Codex
Alimentarius” do Ministério da Saúde, desde 1998.
Membro do corpo docente dos cursos de capacitação e especialização da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária e da Universidade de Brasília – UNB, oferecidos aos
profissionais e técnicos dos governos federal, estadual e municipal.
Assessora Técnica da Diretoria Executiva da ABIA, de 1985 a 1987
ENTREVISTADO 2
Coordenadora do Instituto de pesquisa em alimentos para Saúde e Nutraceutica
Doutora na área de Bioquímica de alimentos pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS)
Docente da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Diretora técnica do Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul
Pesquisadora em Nutrição e Neuroquímica
Nutricionista e pós-graduado em saúde pública.
Ex-diretor do INAN - Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição
Ex-diretor no Ministério da Saúde da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (órgão
anterior da ANVISA).
Ex-diretor da DINAL - Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Alimentos - do
Ministério da Saúde.
Consultor da Organização Panamericana da Saúde (área de assuntos regulatórios)
Ex-coordenador da Pós-Graduação em Vigilância Sanitária na Universidade de Brasília
Sócio diretor EMPRESA E ASSISTÊNCIA TÉCNICA E ADMINISTRATIVA LTDA.
ENTREVISTADO 3
ENTREVISTADO 4
Doutor em Ciência dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (1969)e Pósdoutorado pelo Massachusetts Institute of Technology (1971)
Vice-Reitor da Universidade de São Paulo (2006-2010)
Conselheiro Nato da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos
Coordenador Internacional de Projeto de Cooperação do Programa Ciencia y
Tecnologia para el Desarrollo - CYTED
Membro da Comissão de Assessoramento Técnico Científico em Alimentos Funcionais
e Novos Alimentos - CTCAF da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do
Ministério da Saúde.
Pesquisador, atuando, principalmente, nos seguintes temas: alimentos funcionais,
caracterização estrutural e biológica de compostos bioativos e biologia molécula.
ENTREVISTADO 5
Engenheira de Alimentos
Doutora em Food Science na University of Reading
Pesquisadora do Embrapa Agroindústria de Alimentos desde 1990
Atuou na Embrapa Labex Europede maio/2009 a julho/2011, desenvolvendo atividades
de pesquisa e articulação no INRA, UMR CSGA, Dijon/França.
Docente cadastrado da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Docente permanente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Membro da diretoria da Associação Brasileira de Ciências Sensoriais (ABCS). Fez parte
da Diretoria da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos (SBCTA) de
2005 até 2008.
Coordenou diversos projetos de pesquisa e publicou mais de 90 artigos em revistas
indexadas e capítulos de livros.
Gerente de Produtos Especiais da ANVISA
Coordenadora Alterna do Brasil na Comissão de Alimentos do Sub-Grupo de Trabalho
n. 3 do MERCOSUL (Regulamentos técnicos e avaliação da conformidade)
ENTREVISTADO 6
Fonte: elaborado pelo autor
43
3.3 Etapa 3: Codificação e Apresentação dos Dados
Nesta etapa, os dados coletados nas entrevistas e em fontes secundárias, com os
diferentes agentes, foram sistematizados e analisados. O método escolhido para análise das
entrevistas e fontes secundárias foi a de conteúdo. Neste método, o pesquisador estabelece um
conjunto de categorias e, posteriormente, avalia a frequência com que elas aparecem.
(SILVERMAN, 2009). Utilizou-se o software de análise de conteúdo NVivo 10®2 para a
organização dos dados. O software permite codificação dos dados em “nós” para que sejam
analisados individualmente ou se crie matrizes de cruzamento.
Criaram-se dois grandes grupos de “nós”: os entrevistados e as categorias de análise da
pesquisa. Primeiramente, os entrevistados que, conforme anteriormente mencionado,
subdividiram-se em especialistas do setor e empresas de alimentos. No Quadro 8, pode ser
visualizada a construção da categoria. Esta divisão permite melhor codificar as falas de cada
grupo para posterior triangulação.
O segundo grupo de “nós” constitui-se na categoria de análise da pesquisa. Ele foi
criado com base no referencial teórico, para compreender-se o fenômeno. As categorias de
análise são compostas por alimentos funcionais, cadeia de suprimentos, processo de inovação
e regulamentação. No Quadro 9, são apresentadas as categorias com seus “subnós”.
A Figura 8 é a consolidação das categorias de análise da pesquisa. Com a estruturação
das categorias em “nós” e “subnós”, buscaremos atingir os objetivos da pesquisa.
Quadro 8 – Categorização dos entrevistados
Entrevistados
Nós
Especialista em
alimentos funcionais
Especialista em
alimentos funcionais
Empresas de alimentos
Empresas de alimentos
SubNós
Especialista 1
Especialista 2
Especialista 3
Especialista 4
Especialista 5
Especialista 6
Empresa 1
Empresa 2
Empresa 3
Empresa 4
Empresa 5
Empresa6
Fonte: Elaborado pelo autor
2
O software de análise qualitativa de dados da empresa QSR International. O NVivo 10 ® auxilia na
sistematização dos dados qualitativos para que estes sejam analisados e compreendidos com maior facilidade
pelo pesquisador.
44
Quadro 9 – Categorização do referencial teórico
Referencial teórico
Alimentos funcionais
Nós
SubNós
Alimentos funcionais
Agentes
Cadeia suprimentos
Cadeia suprimentos
Processo de inovação
Processo de inovação
Regulamentação
Regulamentação
Tipo de relação
Estratégia da empresa
Pontos Positivos
Pontos Negativos
Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 7 – Estruturação completa dos nós
Fonte: Elaborado pelo autor
45
3.4 Etapa 4: Apresentação dos Resultados e Conclusões da Pesquisa
Após a análise e a interpretação dos dados, foram apontadas as principais evidências
empíricas da pesquisa. As reflexões empírico-conceituais delineadas são direcionadas no
sentido de lançar luz sobre o objetivo geral da pesquisa.
46
4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS
Neste capítulo, são descritos os dados coletados. Conforme mencionado no capítulo 3
– Metodologia, os dados qualitativos foram coletados da seguinte forma: Primeiramente,
através da obtenção de dados secundários e da observação direta. Posteriormente, por meio de
entrevistas com especialistas do setor e do órgão responsável pelo registro e controle dos
produtos e ainda junto às empresas de alimentos. Para os dados coletados organizados e a
análise utilizou-se a ferramenta NVivo 10®. As informações foram categorizadas, utilizandose as variáveis propostas na estrutura de pesquisa (Figura 7), ou seja, “Cadeia de
Suprimentos”, “Processo de inovação”, “Estratégia da empresa” e “Regulamentação”.
Nos dois primeiros subitens, serão apresentados os dados secundários e as observações
diretas. Nos seguintes, serão analisadas, separadamente, as entrevistas entre os grupos de
especialistas e empresas de alimentos. Por fim, essas informações serão cruzadas e analisadas.
4.1 Regulamentação da Indústria de Alimentos Funcionais
A regulamentação dos alimentos funcionais no Brasil fica a cargo da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A vigilância sanitária é uma estrutura
institucional construída para realizar a regulamentação e o controle das atividades
desenvolvidas pelo homem, que podem representar perigo potencial em decorrência da
incorporação de recursos pouco conhecidos ou ainda não comprovadamente seguros. A
ANVISA é uma autarquia sob regime especial: tem independência administrativa;
estabilidade de seus dirigentes, durante o período de mandato; autonomia financeira; e sua
gestão é de responsabilidade de uma Diretoria Colegiada, composta por cinco membros.
(SOUZA, 2008).
Segundo o artigo 6º da Lei 9.782 de 26 de janeiro de 1999, a agência tem por
finalidade institucional promover a proteção da saúde da população, por intermédio do
controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à
vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a
eles relacionadas, bem como o controle de portos, aeroportos e de fronteiras. Ou seja, tudo
que envolva risco à saúde pública, é considerado bens e produtos submetidos ao controle e
fiscalização sanitária. (SOUZA, 2008).
Os objetivos da regulamentação brasileira de alimentos são: (1) proteger a saúde da
população por meio da redução dos riscos associados ao consumo de alimentos e (2)
47
contribuir com o desenvolvimento econômico e com práticas leais de comércio, mantendo a
confiança do consumidor6. Seus desafios estão relacionados às mudanças de padrão de
consumo, crescimentos da produção de alimentos, surgimentos de novas tecnologias em
engenharia de alimentos, riscos alimentares emergentes, mudanças de práticas agropecuárias e
globalização (informação verbal)7.
Em nível mundial, as questões regulatórias com respeito aos alimentos funcionais são
bastante distintas. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter uma legislação
específica para alimentos funcionais. O documento traz questões sobre segurança dos
alimentos, saúde e eficácia das propriedades consideradas funcionais no produto final. Todas
as alegações funcionais precisam ser aprovadas e registradas (liberadas para uso) pela
ANVISA. Apesar de todos os países seguirem as diretrizes do Codex Alimentarius
(documento de referência mundial para alimentos), as diferenças existentes se tornam barreira
à exportação deste tipo de produto. Por isso, a regulação adequada e em consonância com os
benefícios para a saúde são fatores-chave para o sucesso dos alimentos funcionais a nível
global. (KAUSHIK, D.; KAUSHIK, N., 2010).
A partir de 1999, a ANVISA emitiu uma série de resoluções que ajudaram a
regulamentar esses alimentos (ver Quadro 10). A Resolução número 16 da ANVISA (1999a)
foi o primeiro passo para os procedimentos de registro de novos alimentos e ingredientes. Isso
permitiu que alimentos e/ou substâncias sem histórico de consumo no país pudessem ser
controlados e riscos ao consumidor fossem evitados. Já a Resolução número 17 (ANVISA,
1999b) estipulou procedimentos para avaliação de risco e segurança dos alimentos. Então, se
uma empresa quer registrar um novo alimento apenas como novo alimento, sem alegação de
propriedade funcional e de saúde, vai cumprir suas exigências.
6
Informação obtida junto à Palestra “REGULAÇÃO DE ALIMENTOS - A busca de um modelo eficiente”,
ministrada pelo Gerente-Geral de Alimentos da ANVISA, Denise de Oliveira Resende, no Congresso
Vitafoods South America no dia 28 de março de 2012 em São Paulo– SP – Brasil.
7
O termo globalização abordado pela ANVISA pode ser descrito como o aumento do grau de heterogeneidade
dos mercados mundiais que ocasionam uma convergência dos padrões de consumos e comercialização de
alimentos. Essas mudanças sociais pressionam a uma atualização da regulação de alimentos.
48
Quadro 10 – Resumo das normas da ANVISA para alimentos funcionais
Resolução – ANVISA
Descrição
nº 16, de 30 de abril de
1999
Regulamento Técnico de Procedimentos de Registro de Alimentos e ou
Novos Ingredientes;
nº 17, de 30 de abril de
1999
nº 18, de 30 de abril de
1999
Regulamento Técnico que Estabelece as Diretrizes Básicas para a
Avaliação de Risco e Segurança dos Alimentos.
Regulamento Técnico que Estabelece as Diretrizes Básicas para Análise e
Comprovação de Propriedades Funcionais e ou de Saúde Alegadas em
Rotulagem de Alimentos.
nº 19, de 30 de abril de
1999
nº 23, de 15 de março de
2000
RDC nº 2, de 7 de
janeiro de 2002
Regulamento Técnico para Procedimento de Registro de Alimentos com
Alegações de Propriedades Funcionais e ou de Saúde em Sua Rotulagem.
Regulamento técnico que dispõe sobre os procedimentos básicos para o
registro e dispensa da obrigatoriedade do registro.
Regulamento Técnico de Substâncias Bioativas e Probióticos8 Isolados,
com Alegação de Propriedades Funcional e ou de Saúde.
Fonte: ANVISA (1999a, 1999b, 1999c, 1999d, 2002)
A Resolução número 18 e 19 da ANVISA (1999c, 1999d) permitiu que os alimentos
tivessem alegação de propriedade funcional e de saúde. Isso permite que o produto possa
exibir seus atributos em sua embalagem. Contudo, algumas marcações são restritas (ver
Quadro 11). As etiquetas que informam propriedades funcionais e/ou alegações de saúde são
ferramentas que permitem aos consumidores tomarem conhecimento dos benefícios.
(LAJOLO; MIYAZAKI, 2007).
Quadro 11 – Alegações permitidas
Alegação
Funcional
Saúde
·
·
·
·
Definição
Conteúdo/Função
Manutenção Geral da Saúde
Redução do Risco de Doença
Prevenção ou Cura
Situação
Permitida
Permitida
Possível
Proibida
Fonte: Franco M. Lajolo (2012)9
A ANVISA10 informa que “não são aprovadas alegações para ingredientes ou
componentes dos alimentos, e sim para o produto final que tenha esses ingredientes ou
8
Substância Bioativa é definida pela ANVISA (2002) como: além dos nutrientes, os não nutrientes que possuem
ação metabólica ou fisiológica específica. Já Probiótico são: microrganismos vivos capazes de melhorar o
equilíbrio microbiano intestinal produzindo efeitos benéficos à saúde do indivíduo.
9
Informação verbal obtida junto à Palestra “Alimentos funcionais: Base Científica e Norma”, ministrada pelo
Prof. Dr. Franco Maria Lajolo da USP no Congresso Vitafood South America no dia 28 de março de 2012 em
São Paulo– SP – Brasil.
49
componentes”. No ANEXO D, podem ser visualizadas as alegações já aprovadas pelo órgão
regulador.
Para Lawrence e Rayner (1998), alimentos funcionais fazem parte de um grande
debate internacional entre as agências regulatórias internacionais. A alegação de saúde na
etiqueta do produto pode tornar-se uma perigosa ferramenta para possibilitar ao setor
dificultar a compreensão do consumidor em distinguir entre alimento e medicamento. A
legislação brasileira não consegue abranger todos os tipos de produtos e suas propriedades e
alegações de saúde. (SILVEIRA et al., 2009). Por exemplo, alho e guaraná, que podem ser
classificados na categoria de alimentos, podem também ser classificados como plantas
medicinais.
É importante afirmar que a introdução bem-sucedida de alimentos funcionais no
mercado depende também de aspectos regulatórios. As questões regulamentares relativas a
essas categorias são bastante distintas entre os diferentes países. Na América Latina, o Brasil
foi o primeiro país a verificar a questão da legislação sobre alimentos funcionais. (LAJOLO;
MIYAZAKI, 2007). A regulamentação visa à segurança e eficácia de demonstração de
produtos alimentares. Todos os supostos alimentos funcionais devem ser registrados e
aprovados pela autoridade sanitária, a ANVISA. Portanto, uma regulamentação adequada e a
consulta com os prestadores de cuidados de saúde constituem-se noprincipal desafio para
esses produtos em um nível global. (KAUSHIK, D; KAUSHIK, N., 2010).
4.2 Cadeia de Suprimentos para Alimentos Funcionais
Hobbs (2002) explica que uma cadeia de suprimentos não acontece somente de forma
linear, ou seja, um agente econômico inserindo um produto (input) em uma organização que
transformará em outro produto com maior valor agregado (output). Essas relações entre
organizações formam uma corrente com diversas entradas de fornecedores e com relações
entre distribuidores. A cadeia de suprimentos de alimentos funcionais é um bom exemplo
dessa não linearidade.
Bröring (2010), Bröring e Cloutier (2008), Bröring e Leker (2007) e Hobbs (2001;
2002) são enfáticos em suas pesquisas, ao considerar que o agregador de valor do setor está
nas atividades realizadas previamente à produção e distribuição, ou seja, nas atividades de
pesquisa e desenvolvimento (P&D), desenvolvimento de tecnologia, transferência de
10
Informação obtida junto à Palestra “Perspectivas legais de alegações especiais”, ministrada pela Gerente de
produtos especiais da ANVISA / DF Antônia Maria Aquino no 4º Simpósio de Segurança Alimentar realizado
no dia 30 de maio de 2012 em Gramado – RS – Brasil.
50
tecnologia e comercialização. A cadeia descrita por Hobbs (2001, 2002) dar-se-ia conforme a
Figura 8.
Figura 8 – Cadeia de suprimentos para Alimentos funcionais
P&D Básico
Desenvolvimento
Transferência
Processamento/
Distribuição/
(Descoberta)
de tecnologia
de tecnologia
Produção
Atacadista
Consumidor
Fonte: Adaptado de Hobbs (2001, p.1)
Conforme destacado em capítulo anterior, Bröring (2010), Bröring e Cloutier (2008) e
Bröring e Leker (2007) afirmam que existem três tipos de relação de projetos
interorganizacionais e intersetoriais, envolvendo as atividades prévias de produção de
alimentos funcionais. Ou seja, projetos: (1) Intenso em tecnologia do setor farmacêutico sem
objetivo direto ao consumidor, (2) Tecnologia intensa para desenvolvimento de produtos para
o consumidor e (3) Desenvolvimento de produto com base em tecnologias já existentes. Para
auxiliar nos estudos é proposto um framework da cadeia de suprimentos do setor de alimentos
funcionais (Figura 9).
A cadeia de suprimentos (Figura 9) do setor de alimentos é formada por um conjunto
de agentes, sendo o principal ator o processador de alimento, sendo seguido pelas empresas de
componentes, manufaturador de alimentos, distribuidores, atacadistas, até disponível ao
consumidor. Além da empresa processadora de alimentos, Bröring (2010), Bröring e Cloutier
(2008), Bröring e Leker (2007) mencionam outros agentes: (1) empresas farmacêuticas e (2)
laboratórios de P&D.
A diferenciação desta cadeia de suprimentos dos alimentos funcionais para a de um
alimento tradicional está, com a inclusão destes agentes, na agregação de competência. Essa
inter-relação (Figura 10) permite o desenvolvimento do projeto e a transformação em um
processo escalar de modo a ser comercializado, portanto, tornando os principais agentes. Suas
relações podem variar de relações de mercado até hierarquização. (WILIAMSON, 1979). A
inexistência de trabalhos no Brasil que visam a buscar compreender a estrutura da cadeia de
suprimentos desse setor emergente acarreta a utilização prévia de um modelo com base na
literatura estrangeira.
51
Figura 9– Proposição de Cadeia de suprimentos para Alimentos funcionais
Autor: Elaborado pelo autor
Figura 10 – Principais agentes para o desenvolvimento de alimentos funcionais
Empresa
farmacêutica
Laboratório
de
P&D
Processador
de
Alimentos
Fonte: Adaptado de Bröring, Cloutier e Leker (2006, p. 492).
4.3 Entrevistas com Especialistas em Alimentos Funcionais
Nesta subseção, serão descritos e analisados os dados coletados com os especialistas em
alimentos funcionais. Para a escolha dos especialistas foi levada em conta a experiência dos
entrevistados e, principalmente, a participação deles em eventos do setor. Foram entrevistados
52
cinco (5) especialistas em alimentos funcionais e um colaborador da Agência de Vigilância
Sanitária. No Quadro 6, descrevem-se as qualificações dos entrevistados11.
4.3.1 Alimento Funcional
O alimento é fonte de vida, o combustível motor dos seres humanos. Seja em forma
líquida, sólida ou mista. O alimento é formado por uma série de componentes, às vezes,
únicos, que consumidos em uma dieta regular fornecem ao indivíduo benefícios.
Mas todo alimento tem funcionalidade? O que seria alimento funcional? Trata-se de
um alimento inovador? Para que isso possa ser mais bem compreendido, buscamos mais
informações junto aos especialistas do setor.
Parte-se da análise e da definição de alimentos funcionais proferida pelo Professor
Doutor Franco Maria Lajolo12:
“Alimento semelhante em aparência ao alimento convencional, consumido como
parte da dieta usual, capaz de produzir demonstrados efeitos metabólicos ou
fisiológicos úteis na manutenção de uma boa saúde física e mental, podendo
auxiliar na redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis, além das
suas funções nutricionais básicas”.
Conforme o declarado acima, o termo “semelhante em aparência ao alimento
convencional” exalta a diferenciação.
O ESPECIALISTA 2 declara que “[...]todo alimento é funcional, porque todos os
alimentos (sic) têm substâncias para além das substâncias que nutrem o nosso corpo [...]”. Já o
ESPECIALISTA 1 segue no mesmo pensamento, ou seja, que cada alimento possui uma
característica única por apresentar componente(s) que contribui(em) para a funcionalidade do
organismo. E, adicionalmente, não aceita o termo alimento funcional: “[...] não existe um
alimento funcional, mas sim descobriu-se (sic) que um componente dentro do alimento ou uma adição
de um ingrediente de uma substância pode ter uma funcionalidade no organismo.”
A semelhança com o alimento convencional está na apresentação que deve possuir
características físicas, como i.e. Manteiga, e pode ser comercializado sem restrições médicas.
O ESPECIALISTA 5 ressalta que a diferenciação está em sua composição que pode
11
12
Conforme solicitado pelos entrevistados, serão preservados os nomes e algumas informações.
Informação verbal obtida junto à Palestra “Alimentos funcionais: Base Científica e Norma”, ministrada pelo
Prof. Dr. Franco Maria Lajolo da USP no Congresso Vitafood South America no dia 28 de março de 2012 em
São Paulo– SP – Brasil.
53
apresentar componentes que beneficiam o consumidor, i.e. OMEGA 313. Ao agregar um
componente ao alimento, modificando sua estrutura original em prol de um melhor benefício
do organismo consumidor, esse se torna um alimento inovador. Um exemplo abordado pelo
ENTREVISTADO 2, é o leite, um alimento convencional que é utilizado na produção de
queijo. Um resíduo desse alimento é o seu soro que apresenta propriedade funcional e,
comercialmente, é chamado de whey protein. Este produto é consumido por esportistas para
ganho de massa magra.
A designação “alimento funcional” é utilizada, principalmente, no ambiente
acadêmico e empresarial. Contudo, conforme os ESPECIALISTAS entrevistados, o órgão
responsável pela fiscalização (ANVISA) não reconhece essa expressão. Os alimentos podem
apresentar alegação de propriedades funcionais e/ou de saúde, desde que devidamente
comprovados14. A alegação de propriedades funcionais e/ou de saúde é caráter opcional e
permite ao requerente comunicar ao consumidor os benefícios do alimento.
Segundo a agência regulatória, a necessidade de regulamentar esse tipo de alimento
veio do movimento das empresas produtoras, que nos anos 80 introduziram alimentos do tipo
diet; nos anos 90, os light e, no final dos anos 90, os produtos com alegação de propriedades.
Os avanços tecnológicos no setor de alimentos acarretaram a preocupação dos órgãos
públicos em garantir que esses produtos não causem riscos à saúde da população e que a
comunicação seja adequada.
Conforme representante da ANVISA, os alimentos naturais e/ou não processados,
como tomate e brócolis15, que possuem componentes benéficos a saúde humana, podem, em
caráter optativo, ser alvo de alegação de propriedade e de saúde, caso sejam compradas as
funcionalidades (informação verbal)16. Contudo, até o momento não foi recebida solicitação
de avaliação de um produto natural e/ou orgânico.
4.3.2 Alimento Funcional – Inovador
A característica funcional do alimento é que o torna inovador. Para o ESPECIALISTA
5,
13
O consumo de ácidos graxos ômega 3 auxilia na manutenção de níveis saudáveis de triglicerídeos, desde que
associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis (APENDICE E). Fonte: ANVISA (2012)
14
Resolução (ANVISA) número 18 do dia 30 de abril de 1999 e Resolução (ANVISA) número 19 do dia 30 de
abril de 1999.
15
Rico em minerais, como cálcio, potássio, ferro, zinco e sódio, e vitaminas A, C, B1, B2, B6 e K.
16
Informação obtida junto à Palestra “Perspectivas legais de alegações especiais”, ministrada pela Gerente de
produtos especiais da ANVISA / DF Antonia Maria Aquino, no 4º Simpósio de Segurança Alimentar
realizado no dia 30 de maio de 2012, em Gramado – RS – Brasil.
54
“[...] tem uma característica nele (alimento funcional) que exige uma mudança
tecnológica. Você descobre um composto que tem uma propriedade nova ou exige
uma demonstração da eficácia em animais ou pessoas humanas, demonstração
clínica. Então, tem um componente inovador bastante grande [...]”
O ESPECIALISTA 2 acrescenta que um produto é“[...] desenvolvido a partir que o
pesquisador ou o grupo de pesquisa descobre aquela substância e identifica um potencial[...]”. Há
compreensão dos demais ESPECIALISTAS entrevistados de que o alimento funcional é
resultado de pesquisas científicas em prol da saúde humana. Sua natureza inovadora deriva da
necessidade de pesquisas e de combinações de resultados que vão além da produção de
alimentos convencionais.
O fato de ser um alimento com avanços tecnológicos fez com que o agente regulatório
o controlasse para evitar riscos à população, conforme ESPECIALISTAS 3 e 6. Observando
que a alegação de propriedade funcional e/ou de saúde é de caráter opcional, o agente
regulatório (ANVISA), por meio das Resoluções número 16 e 17, do dia 30 de abril de 1999,
estipulou procedimentos de registro de novos alimentos e novos ingredientes17.Ou seja, o
produto inovador tem que ser regulado quando trata-se de um bem de consumo que pode
impactar na saúde da população.
O ESPECIALISTA 5 ressalta que mesmo que as origens do desenvolvimento do
alimento funcional sejam tenha partido as descobertas científicas, há uma redução do seu
grau de inovatividade devido à sua popularização. Empresas competentes em conhecimento
mercadológico se aproveitam da massificação da tecnologia para produção de alimentos com
propriedades similares aos já oferecidos ao consumidor.
4.3.3 Cadeia de Suprimentos de Alimentos Funcionais
Após definirmos o alimento funcional, buscamos compreender quais os principais
agentes envolvidos na cadeia de suprimento desse alimento inovador. Nas coletas, levou-se
em conta os agente intervenientes no processo de produção de um alimento inovador,
excluindo-se da análise: agentes financeiros (bancos e outras entidades de fomento) e
operadores logísticos (transportadores, armazéns e outros operadores).
Há uma proximidade de agentes entre a cadeia de suprimentos de alimentos
tradicionais e os funcionais. Os agentes comuns nessas cadeias de suprimentos são:
17
Conforme da Resolução número 16, de 30 de abril de 1999, a definição de Novos alimentos e/ou Novos
ingredientes: são os alimentos ou substâncias sem histórico de consumo no País, ou alimentos com
substâncias já consumidas, e que, entretanto, venham a ser adicionadas ou utilizadas em níveis muito
superiores aos atualmente observados nos alimentos utilizados na dieta regular.
55
a) produtor de insumos básicos: produtor de alimentos in natura, i.e. leite, frutas e
verduras;
b) processador de insumos: prepara o alimento in natura. Trata-se de um préprocessamento que não atinge o consumidor final;
c) processador de alimentos: utilizando os alimentos pré-manufaturados, produz os
alimentos para o consumidor final;
d) distribuidores/atacadistas: responsáveis por disponibilizar o alimento ao seu
público-alvo, utilizando vários pontos de venda;
e) consumidor final: agente final da cadeia de suprimento, o consumidor do alimento;
f) agente regulatório: o mais importante agente da cadeia de suprimentos. Capaz de
controlar e normatizar as relações entre os envolvidos de modo a garantir a
equidade de direitos e os alimentos comercializados.
Adicionalmente, na cadeia de suprimentos tradicionais, emergem outros participantes:
g) produtor de componentes: são as empresas que fabricam o “componente funcional”
ou “commodity tecnológica”, que se trata de um ativo com alto grau de
especificidade; por vezes, são desenvolvidos em parceria com outros agentes da
cadeia. Trata-se de empresas químicas e farmacêuticas. As principais empresas
desse seguimento são internacionais;
h) universidades e/ou Centros de pesquisa: são entidades de cunho público ou
privado, capazes, por meio de seus conhecimentos tecnológicos, de desenvolver o
alimento inovador, além de componentes necessários para o alimento. Esse agente
está ligado à geração de novos conhecimentos e pode auxiliar empresas com e sem
P&D para que possam criar alimentos funcionais, mas também auxiliam em testes
clínicos e de segurança do alimento;
i) consultoria: consultorias especializadas em registro de alimentos no órgão
regulatório (ANVISA) responsável por controle de alimentos funcionais.
Utilizando o Nvivo 10®, para codificar os agentes envolvidos na cadeia de suprimentos
de alimento funcionais, fundamentado pelos ESPECIALISTAS, é possível analisar a
frequência com que as falas, relacionando os agentes, cruzam-se. Esta ferramenta auxilia na
identificação das possíveis governanças das relações entre os agentes e sua posição na cadeia
de suprimento. O Quadro 12 representa esta relação.
56
Quadro 12 – Configuração da cadeia de suprimentos: visão dos especialistas
Agente
regulatório
Centros
de
P&D
Empresa
Química/
Farmacêutica
Consultoria
Processador
de
alimentos
Agente
regulatório
-
-
-
-
-
Produtor
de
compone
ntes
-
Centros de
P&D
2
-
-
-
-
Empresa
Química/
Farmacêutica
Consultoria
0
0
-
-
1
0
0
Processador
de alimentos
2
3
Produtor de
componentes
2
Produtor de
insumos
primários
Universidade
Produtor de
insumos
primários
Universidade
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
0
0
-
-
-
-
4
0
0
5
-
-
-
2
2
0
0
2
2
-
-
2
4
0
0
7
6
2
-
Fonte: Elaborado pelo autor
57
Durante a pesquisa, o agente “Empresa Química/farmacêutica” foi codificado
separadamente de Processador de componentes. Por análise de conteúdo dos relatos dos
especialistas, a Empresa Química/farmacêutica está compreendida dentro do Processador de
componentes, portanto, em um único fato. A mesma formatação foi utilizada no caso de
Universidade e Centros de P&D, há uma convergência de competências entre os agentes que
para fins dessa pesquisa serão trabalhados em uma única categoria.
A etapa subsequente da identificação dos atores é a compreensão como modo de
governança das relações interorganizacionais para inovação no setor de alimentos funcionais.
Conforme coletado nas entrevistas com os ESPECIALISTAS, o importante agente
gerenciador da cadeia de suprimentos é a empresa processadora de alimentos. Portanto,
alicerçado pela Teoria dos Custos de Transação (WILLIAMSON, 1979), identificou-se três
formas de governança.
Primeiramente, de modo de governança é do tipo (1) mercado. Esta é caracterizada
pela relação da compra e venda de um produto ou serviço no mercado. Identificado pelos
especialistas este tipo de relação com dois agentes.
A primeira com produtor de componentes tecnológicos. Nesta, a empresas
processadoras de alimentos busca o componente funcional (commodity tecnológica) na
aplicação em produtos inovadores. Este ativo é caracterizado pela ampla disponibilidade no
mercado e baixa especificidade e complexidade de aplicação nos alimentos. A segunda com
empresa consultoria. As empresas processadoras de alimentos, buscando empresas de
consultorias em registrado de alimentos para auxiliar no registro de produtos perante o órgão
regulador.
A Figura 11 representa a relação entre os agentes. Nesta representação busca-se por
meio de setas tracejadas representa a transação de aquisição por parte da processadora de
alimentos perante aos demais agentes.
58
Figura 11 – Governança do tipo Mercado
Fonte: Elaborado pelo autor
Já a (2) Híbrida compreende por relações mistas entre três agentes: empresa
farmacêutica/química, processador de alimentos e Universidades e Centros de P&D.
Identificou-se três tipos de relações. Primeira, composta por empresa farmacêutica/química e
de alimentos, que unindo suas competências distintas, criam uma joint venture18 para o
desenvolvimento do alimento funcional.
Segundo, empresa de alimentos e componente (commodity tecnológica) cooperam no
desenvolvimento de um componente a ser inserido em um alimento. Essa nova commodity
tecnológica tem sua venda limitada para terceiros por meio de contrato. Uma terceira
alternativa no desenvolvimento de alimento funcional é a relação entre Universidades e
Centros de P&D e empresas de alimentos. Na Figura 12 podem ser visualizadas as relações
descritas anteriormente descritas.
18
Segundo Kogut (1988), Joint venture é um modo alternativo de governança em que duas empresas ou mais, por
meios legais, unem seus recursos para formação de uma organização.
59
Figura 12 – Governança do tipo Híbrida
Fonte: Elaborado pelo autor
E por fim, o (3) modo de governança do tipo Hierarquia que é representado pela Figura 13.
Conforme exposto pelos ESPECIALISTAS, grandes organizações internalizam as atividades
necessárias para produção de um alimento inovador, ou seja, P&D e a divisão de componentes
tecnológicos.
60
Figura 13 – Governança do tipo Hierarquia
Fonte: Elaborado pelo autor
Diferente das relações comerciais apresentadas, um tipo de vínculo entre agentes
ressalta-se. Fundamentada pelo ESPECIALISTA 6 que declara que “[...] regulamentação foi
feita para normatizar a produção [...]” e pelas as normas vigentes (Quadro 7), as empresas
processadoras de alimentos e as empresas produtoras de componentes tecnológicos devem
cumprir as obrigações normativas impostas pelo agente regulatório. E, conforme abordado
anteriormente, intermediários podem ser acionados para auxiliar a atender as normas
necessárias impostas pelo agente mandatário.
4.3.4 Regulamentação: Pontos Positivos e Negativos
Ao abordar os aspectos relativos à regulamentação de alimentos funcionais, o
ESPECIALISTA 6 declara que
“No inicio da década de 90, a ANVISA recebeu uma série de processo de pedidos
de registros de alimentos. E esses produtos que não tinham padrão de identidade
e qualidade. E na época, como hoje, se trabalhava com um padrão de identidade
e qualidade do produto. [...] começou-se a verificar que não eram alimentos
convencionais. Eram alimentos diferenciados, alguns extratos vegetais. Foi tendo
fitoesteroides, quitosana e outros alimentos que não eram de consumo
convencional. Então, se sentiu a necessidade de chamar um grupo de
especialistas para trabalhar as legislações [...] em meados de 1998 e em abril de
1999 essas resoluções foram publicadas.”
61
Dessa forma, a regulamentação para controlar os alimentos funcionais está
compreendida no Quadro 8 e tem por objetivo, segundo consenso dos ESPECIALISTAS, a
segurança e a eficácia do alimento. Questionados sobre essas normas, os ESPECIALISTAS
buscaram expor os pontos positivos e negativos. Desde o começo das entrevistas, há uma
convergência nos depoimentos e algumas palavras-chave foram codificadas (Quadro 12).
Quadro 13 – Pontos positivos da regulamentação de alimentos funcionais: visão dos
ESPECIALISTAS
Pontos Positivos
Pontos Negativos
Rigidez
Falta de clareza nos procedimentos de
registro
Morosidade no registro
Estruturada
Pioneirismo
Moderna
Fonte: Elaborado pelo autor
As características positivas com maior frequência relatadas, pelos ESPECIALISTAS,
são “rigidez” e “estruturada”. Isso se justifica, principalmente, pelo período em que as normas
estão em voga (desde 1999). O ESPECIALISTA 5 ressalta que essas características
permitiram a transparência ao consumidor, desse modo, protegendo-o contra alimentos com
falhas e mensagens enganosas.
O ESPECIALISTA 6 destaca que a regulamentação brasileira foi a pioneira na
América Latina. E, agregando a essa declaração, o ESPECIALISTA 4, afirma que
“[...]comparada com a legislação de outros países do mundo inteiro [...] é bastante moderna”.
Já no que diz respeito ao contraponto das vantagens da regulamentação, ressalta-se,
incisivamente, os problemas com a clareza nos procedimentos de registro (Quadro 13). Essa
dificuldade impulsiona os investimentos com ensaios clínicos e de eficácia e demais
documentos para sanar as exigências do órgão regulador. Os ESPECIALISTAS 1, 2 e 4
afirmam que há necessidade de refazer os ensaios diversas vezes para a devida comprovação.
O retrabalho no registro acarreta uma terceira dificuldade: a morosidade na liberação
do registro. O tempo médio de registro de um alimento, sem histórico prévio, relatado pelos
ESPECIALISTAS é de dois a três anos. O agente regulatório informa que, após a entrega do
dossiê, um prazo de 2 a 3 meses é necessário para um parecer. Caso haja necessidade de
62
correções, o órgão concede um prazo de até 30 dias, com possibilidade de mais 90 dias de
prorrogação19.
Quadro 14 – Pontos negativos da regulamentação de alimentos funcionais
Entrevistados
Definição
ESPECIALISTA 1
"O problema são os procedimentos de aprovação da ANVISA. Elas que são
terríveis e subjetivas."
ESPECIALISTA 2
"[...] a regulamentação brasileira é extremamente confusa para um alimento
como um todo, não só para o alimento funcional."
ESPECIALISTA 3
"Os pontos negativos são mais ligados à aplicação da legislação, do que a
legislação em si[ ...] quando ela é aplicada, sempre tem uns problemas que a
aplicação da lei que depende de uma interpretação[...]"
ESPECIALISTA 4
"O ponto negativo é que essas regras não são muito bem claras. Elas não são
detalhadas. Por exemplo, ela não explica o que é um estudo de segurança,
avaliação de segurança. Não tem metodologia para isso."
Fonte: Elaborado pelo autor
4.3.5 Influência da Regulamentação: Visão dos Especialistas
Utilizando o software NVivo 10® , foi efetuado o cruzamento de “nós” para verificar,
dentre as falas dos ESPECIALISTAS, a frequência com que a regulamentação influência nos
demais “nós”. O quadro 14 mostra as relações existentes:
Quadro 15 – Cruzamento entre os “nós”
NÓS
Regulamentação
Cadeia de Suprimentos
21
Processo de Inovação
12
Fonte: Elaborado pelo autor
A análise de frequência identificou correlação entre o “nós”, regulamentação com
cadeia de suprimentos e inovação. Serão abordadas, em tópicos separados, cada uma das
relações.
19
Informação obtida junto à Palestra “Perspectivas legais de alegações especiais”, ministrada pela Gerente de
produtos especiais da ANVISA / DF Antonia Maria Aquino, no 4º Simpósio de Segurança Alimentar,
realizado no dia 30 de maio de 2012, em Gramado – RS – Brasil.
63
4.3.5.1 Relação Regulamentação e Cadeia de Suprimentos na Visão dos Especialistas
O ESPECIALISTA 6 declara que a regulamentação pertinente busca regular a
produção de modo a garantir ao consumidor um produto seguro e eficiente. O
ESPECIALISTA 1 aborda o obstáculo na cadeia causado pela rigidez da regulamentação e
morosidade nos registros.
Conforme relato do ESPECIALISTA 4, a cadeia de suprimentos é composta por
empresas multinacionais. Muitos dos componentes tecnológicos são importados e eles tem de
estar de acordo com a regulamentação:
“Por exemplo, a pessoa que está importando, seja o produto acabado, ou seja, o
ingrediente, ela quer ter uma segurança de que aquele ingrediente ou produto
pode ser aprovado pela ANVISA. Então a questão regulatória tem um peso
significativo nessa relação. Ninguém vai importar nada que não passe pela
ANVISA [...]”
Para o especialista, a rigidez de regulamento faz com que se inibam novos produtos
e/ou novos empresas produtoras. Isso prejudica diretamente o consumidor que carecer de
opções mais saudáveis.
O ESPECIALISTA 2 converge com esta fala e ressalta: “Ela (regulamentação)
influência como um travador da cadeia. Porque como é muito difícil comprovar, é extremamente
moroso [...]”.Contudo, ressalta que “[...] existe um ignorância grande no nosso industrial. O produtor
de alimentos não entende de alimentos [...]”, ou seja, somente grandes empresas possuem centros
de P&D com recursos humanos e financeiros para comportar a produção de alimentos mais
complexo como o alimento funcional. O ESPECIALISTA 3 concorda com o
ESPECIALISTA 2, e destaca que isso pode tornar-se um ponto positivo para a cadeia, por
fomentar a necessidade das Universidades e Centros de P&D de colaborarem com empresas
sem estrutura:
“[...] legislação, que ela exige mais pesquisas e mais ensaios para mostrar
eficácia e ensaios clínicos, ela (empresa de pequeno e médio porte) pode achar
que é difícil e desiste de produzir aquele produto por não ter condições”.
4.3.5.2 Relação Regulamentação e Processo de Inovação: Visão dos Especialistas
O Especialista 6 declara que a regulamentação influência no processo de inovação:
“Eu acho que ela (regulamentação) influência [...]. Eles (alimentos funcionais)
são uma tendência de se trabalhar. Agora, o que acontece é que a
64
regulamentação te dá um norte nesse sentido. Agora quem vai desenvolver esse
produto é a indústria. O órgão regulador quer que esse produto, essa alegação
seja comprovada cientificamente e que esses estudos científicos sejam estudos,
digamos assim, indexados, estudos duplo cegos indexados e que sejam de boa
qualidade. Porque, às vezes, a gente recebe, em alguns processos, documentos,
estudos que são, que no ponto de vista de comprovação científica, não são muito
adequados...a metodologia não é muito adequada. Então, a indústria precisa
também melhorar nesse aspecto.”
Os ESPECIALISTAS 1, 2 e 5 argumentam que a falta de clareza dos procedimentos
de registro é o principal entrave da inovação. O ESPECIALISTA 3 agrega que:
“[...] o fabricante ou o importador, ele antes de importar, ele tem que
necessariamente submeter seu produto a uma empresa como a nossa para ver se
o produto vai ter não estrutura no mercado brasileiro. Às vezes a gente não entra
com esse produto porque não vai passar pela ANVISA. Não perde nem tempo com
isso [...]”.
O ESPECIALISTA 2 acrescenta que a regulamentação restringe o processo de
inovação e induz à cópia/imitação.
O ESPECIALISTA 4 compreende os pontos negativos da regulamentação, contudo,
ressalta que essa restrição pode ser vantajosa para algumas empresas que podem investir: “[...]
permite que uma empresa crie um novo produto. Ela cria esse novo produto, experimenta esse
produto, faz os ensaios todos [...] então ter esse produto. Ele leva uma vantagem com relação a outra
empresa [...]”.
Posteriormente, serão apresentados os resultados dos especialistas. Para melhor estruturação
do estudo, foi elaborado um item (4.5 Síntese dos Resultados) de visualização da análise dos grupos e
a sua inter-relação.
4.4 Entrevistas com Representantes das Empresas de Alimentos
Nesta subseção, serão descritos e analisados os dados coletados com as empresas de
alimentos. A escolha das empresas levou em conta fatores como: (1) a indicação dos
especialistas, (2) produtos caracterizados nos pontos de vendas como funcional, (3) nichos
distintos de mercado das empresas de alimentos e (4) consulta à base de dados da ANVISA.
Destaca-se que a ANVISA disponibiliza publicamente as informações sobre os
registros de alimentos com propriedades funcionais e/ou de saúde, desde 25 de março de
2002. Em consulta, constatou-se que somente 8 alimentos com propriedade funcional e/ou de
saúde possuem registro vigente dos 50 já registrados. No Quadro 16, constam os registros.
65
Fundamentada por esses fatores, a pesquisa previu a entrevista a 6 empresas do setor
de alimentos que possuem produtos com alegação de propriedade funcional e/ou de saúde e
ausência do mesmo. A amostra conta com um Gerente de Marketing, um Coordenador de
Marketing, um Gerente Regional, um Gerente de P&D e um Responsável técnico do setor de
alimentos. No Quadro 7, descrevem-se as qualificações dos entrevistados20 e os respectivos
prazos.
Quadro 16 – Consulta a Registros de alimentos
Vencimento
Alimentos com Alegação de
propriedade funcional e/ou de saúde
Expirados
Vencimento em 2013
Vencimento em 2014
Vencimento em 2015
Vencimento em 2016
Vencimento em 2017
42
3
3
1
0
1
Fonte: ANVISA (2012)21
Nas etapas subsequentes, serão caracterizados os produtos funcionais dos entrevistados,
suas perspectivas da cadeia de suprimentos e, por fim, suas perspectivas sobre a
regulamentação brasileira de alimentos funcionais.
4.4.1 Alimentos Funcionais
Primeiramente, buscamos identificar com as empresas entrevistadas se elas
apresentam, em seu portfólio, alimentos funcionais. Conforme declarações, as empresas
entrevistadas produzem alimentos com funcionalidade. Cada entrevista é explorada
individualmente.
Fundamentado pelo Gerente de P&D, a EMPRESA1 possui uma gama variada de
produtos, óleos e derivados, margarina, maionese, produtos de trigo, arroz e enlatados e
alguns com funcionalidade. “A gente vende produto que tem ingredientes nutricionais, como
gorduras, fibras [...]”. Mas, adicionalmente, este aborda que “[...] não no sentido estreito de
alimento funcional.” A EMPRESA 1, sem especificar com detalhes, está trabalhando para
desenvolver alimentos funcionais e possui alguns “[...] em desenvolvimento que podem ser
considerados alimentos funcionais.”
20
21
Conforme solicitado pelos entrevistados, serão preservados os nomes e algumas informações.
Consultado no dia 21 de novembro de 2012.
66
A ENTREVISTADA 2 declara que “[...] os produtos que trabalhamos [...] não precisam
de registro[...] porque são farinhas”, mas possuem dois produtos com alegação de propriedades
funcionais: farinha de linhaça e flocos de soja. Questionados sobre a intenção de desenvolver
novos produtos: “no momento, não estamos desenvolvendo mais nenhum. Até pensamos em algumas
coisas, mas ainda não temos nada definido.”
Já a EMPRESA 3 possui produtos funcionais com e sem alegação de propriedade
funcional e registro de substâncias bioativas e/ou probióticas isoladas com alegação de
propriedade funcional. Trata-se de uma organização multinacional com várias linhas de
produtos e mercados.
A EMPRESA 4 trabalha com produtos lácteos, no caso, iogurtes. Conforme a
ENTREVISTADA 4, o produto apresenta fibras solúveis que são componentes funcionais
para o organismo. Contudo, a empresa não buscou alegação de propriedade funcional visto a
dificuldade junto ao agente regulatório.
A EMPRESA 5“[...] produz... alimentos funcionais... temos uma linha integral, pães de
linhaça dourada. Os próprios pães integrais de grãos que tem uma quantidade de grão e farinha
integral que eles podem sim ser considerados funcionais.” Contudo, a empresa apresenta registro
de alegação de propriedade funcional e/ou de saúde para seus produtos.
Por fim, a EMPRESA 6 trabalha com arroz e seus derivados. O mesmo declara que
possui alimentos funcionais que “[...] ajuda a reduzir os níveis de colesterol, auxilia na diminuição
dos riscos de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e obesidade.” Contudo, eles não
apresentam alegação de propriedade funcional. Novos produtos estão em processo de
desenvolvimento (a base de soja), mas adotarão o procedimento de não registro.
4.4.2 Cadeia de Suprimentos
Após caracterizar a relação das empresas com os alimentos funcionais, buscamos
compreender quais os principais agentes envolvidos no processo da empresa de desenvolver
produtos inovadores, na visão das empresas processadoras de alimentos. Foram três os
agentes destacados. Primeiro, o produtor de componentes tecnológicos, fundamentado pelas
EMPRESAS 1, 4, 5 e 6. Para a EMPRESA 1, esse é o
“[...] principal parceiro. Normalmente o componente funcional é feito por uma
empresa, tem que ser purificado. Por exemplo, o probiótico, tem que ter várias
empresas que faz [...] fibras também. Fazer uma parceria com eles, também pelo
aspecto regulatório porque para provar tem que saber todos os detalhes do
ingrediente em si que tá dando o efeito [...] segurança e também composição.”
67
A EMPRESA5 declara que “quando a gente desenvolveu o pão de colágeno, foi o primeiro
pão de colágeno do mundo. A gente teve uma exclusividade de seis meses com o parceiro do colágeno
e das vitaminas para aquela combinação (colágeno e vitamina).” Motivado pelo conhecimento
sobre seus produtos, a empresa produtora de componente tecnológico de desenvolvimento
buscou a comprovação da funcionalidade de alimento.
As Universidades e Centros de P&D são importantes ambientes de desenvolvimento
de conhecimentos e de aplicação prática. Para a EMPRESA 6, a Universidade foi importante
parceiro para o desenvolvimento de alguns produtos funcionais.
Por último, a empresa de consultoria, assim, a EMPRESA 2 declara “[...] a gente já tinha
feito o estudo para dizer que era funcional, essa questão toda. Mas o registro foi por uma empresa de
consultoria”. Ele foi um importante parceiro, visto que “[...] estava muito difícil a gente (sic)
conseguir o registro junto a ANVISA.”
Há uma convergência entre as falas dos ESPECIALISTAS e das EMPRESAS DE
ALIMENTOS quanto à estruturação da cadeia de suprimentos.
Parte-se para a análise o modo de governança das atividades inovadoras. Para tanto,
analisou-se nas entrevistas os principais agente e como este se relacionam. Utilizando o
NVivo 10® , analisou-se a frequência de relacionamento das falas das empresas de alimentos
com os agentes e o tipo de relações (Quadro 17).
Quadro 17 – Tipo de relação entre os agentes – visão da empresa de alimentos
Consultorias
Processador
de alimentos
2
Produtor de
componentes
tecnológicos
3
Universidades
e/ou Centros de
P&D
1
Colaboração
1
Contrato
3
4
3
1
Hierarquia
0
1
0
0
Mercado
1
1
3
0
Fonte: Elaborado pelo autor
Analisando o Quadro 17, pode-se averiguar que as empresa de Consultoria, Produtor de
componentes tecnológicos e Universidades e/ou Centros de P&D mantêm relações de
colaboração e contrato (Híbrido) com as empresas de alimentos. A EMPRESA 1 declara que
o Produtor de componentes tecnológicos é o “principal parceiro”. Além de fornecer o
componente, auxilia na comprovação da alegação de funcionalidade, fornecendo estudos dos
produtos. A EMPRESA 4 procurou assistência técnica externa (técnico de lacticínio) para
68
auxiliar no desenvolvimento de um de seus produtos. Já a EMPRESA 6 contratou uma
Universidade para desenvolver seu produto. Essas relações são marcadas por contratos
firmados entre os agentes para garantir a propriedade intelectual do produto. Mesmo a
EMPRESA 5 tendo efetuado a maior parte da pesquisa e do desenvolvimento dos seus
produtos, ou seja, internamente, foi necessário estabelecer uma relação com outra empresa,
para desenvolver a fórmula do componente tecnológico adequada ao alimento. Segundo a
empresa, “[...] a gente teve uma exclusividade de seis meses [...]” sobre o componente criado.
As empresas de alimentos adotam formas híbridas de governança do processo de
inovação e estão representadas na Figura 14. A seta de duplo sentido destaca a formação de
uma relação de maior complexidade entre empresa processadora de alimentos e empresa
produtora de componentes tecnológicos e Universidades e/ou Centros de P&D.
Figura 14 – Relação Híbrida – Abordagem das empresas de alimentos
Fonte: Elaborado pelo autor
Há casos em que todo o processo de desenvolvimento e produção é efetuado dentro da
empresa (hierarquia), não necessitando a busca de outros agentes. A EMPRESA 3 declara que
“[...] o desenvolvimento é feito todo dentro da empresa. Desde a embalagem, a arte, a composição, a
compra da matéria-prima, a fabricação [....] tudo dentro da EMPRESA 3.” A EMPRESA 2 adota o
mesmo procedimento.
Por fim, a relação do tipo mercado é exemplificada pela EMPRESA 2 com duas
situações. Primeiramente, aquisição de serviços de consultoria para auxiliar nos registros de
produtos junto ao órgão regulador. E, posteriormente, a venda de componentes com
propriedades funcionais de menor complexidade, i.e. fibras e cereais, como parte do alimento
funcional. A Figura 11 representa essa relação.
69
As relações do tipo Mercado e Hierarquia equivalem-se às relatadas pelos
ESPECIALISTAS, sendo representadas, respectivamente, pela Figura 11 e pela Figura 13.
4.4.3 Regulamentação: Pontos Positivos e Negativos
Similarmente aos ESPECIALISTAS, as empresas de alimentos foram questionadas
sobre os pontos positivos e negativos da regulamentação. Tendo por fundamento, os
depoimentos dos representantes das empresas de alimentos, codificou-se os pontos positivos e
negativos da regulamentação (Quadro 18).
Quadro 18 – Pontos positivos da regulamentação de alimentos funcionais: visão das empresas
de alimentos
Pontos Positivos
Pontos Negativos
Estruturado
Lento
Burocrático
Rígido
Falta de padrão nas decisões
Fonte: Elaborado pelo autor
A EMPRESA 1 diz que a regulamentação de alimentos funcionais é “[...] em geral bom,
bem estruturado. Tem uns aspectos melhores que os outros [...]”. A EMPRESA 6 complementa
que esta estruturação “[...] ajuda a controlar o lançamento e a comunicação de produtos com
apelos à saúde.” A expressão “estruturada” mencionada pela EMPRESA 1, para descrever a
regulamentação para alegação de propriedade funcional e/ou de saúde pode ser definida como
bem redigida e de fácil compreensão para os gerentes e profissionais técnicos da área.
Já os relatos negativos sobre a regulamentação são mais frequentes. Há uma
homogeneidade entre os entrevistados sobre a falta de clareza e padrões para o registro e
morosidade. Destacam-se no Quadro 19, os relatos negativos das empresas:
70
Quadro 19 – Pontos negativos da regulamentação de alimentos funcionais: visão das empresas
de alimentos
Entrevistados
Definição
EMPRESA 1
“[...] eu acho que o processo de avaliação de pedidos, por própria ANVISA, é
um pouco lento e trabalhoso.”
EMPRESA 2
“Acho péssima. Acho bastante complicado, porque ela dificulta o registro dos
alimentos funcionais.”
EMPRESA 3
“Eu diria que ela é morosa. Eu diria que dentro de uma necessidade que o
Brasil tem de crescimento socioeconômico.”
EMPRESA 4
“[...] ela (regulamentação) algumas coisas ela é ridícula, como por exemplo, a
porção da tabela nutricional. Tem iogurtes de, por exemplo, 170g e 180g e a
tabela nutricional é dessa porção de 170g e 180g quando na verdade a
resolução 359 diz que a porção para tabela nutricional de iogurte tem que ser
200g.”
“[...] tão (sic) rígida que hoje e tenho impressão que as outras empresas
também [...] como as multinacionais EMPRESA X e a EMPRESA Y com
produtos funcionais pro coração, pro colesterol, para pele, para o sono, para
saúde com proteínas não conseguem lançar pela regulamentação ser tão
rígida.”
“Grande burocracia, alto custo, processo lento, falta de padrão nas decisões.”
EMPRESA 5
EMPRESA 6
Fonte: Elaborado pelo autor
Levando-se em conta, o que pensam as empresas de alimentos, pode-se afirmar que há
uma forte visão negativa da regulamentação pelos entrevistados. Esses aspectos serão
aprofundados posteriormente.
4.4.4 Influência da Regulamentação: Visão das Empresas de Alimentos
Metodologicamente semelhante é o procedimento para análise da visão das
EMPRESAS de ALIMENTOS. Utilizou-se o software NVivo 10®, com o qual foi efetuado o
cruzamento de “nós” de regulamentação com Cadeia de suprimentos, Processo de Inovação e
Estratégia da empresa, para verificar as relações entre elas. O quadro 20 mostra as relações
existentes:
Quadro 20 – Cruzamento entre os “nós”
NÓS
Regulamentação
Cadeia de Suprimentos
2
Processo de Inovação
7
Estratégia da empresa
5
71
Fonte: Elaborado pelo autor
A análise de frequência identificou relação entre os “nós”. A etapa subsequente será
analisar o conteúdo.
4.4.4.1 Relação Regulamentação e Parcerias na Cadeia de Suprimentos: Visão das Empresas
de Alimentos
Questionados sobre o impacto da regulamentação sobre os seus parceiros, a EMPRESA
1 considera que a regulamentação não impacta negativamente nos parceiros. Contudo,
influência na escolha do parceiro: “[...] os parceiros que vão para frente, são aqueles melhores
estruturados, mais recursos que vai estar melhor nessa parte regulatória com o estudo dos dados
[...]”. E adicionalmente declara que empresas internacionais estão mais bem estruturadas.
A EMPRESA 5, em seu caso específico, compreende que a regulamentação não afeta o
parceiro e que este apresenta a preocupação em fornecer o material necessário. Contudo,
igualmente a EMPRESA 1 acredita que algumas empresas parceiras possam acompanhar a
regulamentação.
Já a EMPRESA6 compreende que a regulamentação não afeta diretamente as empresas
parceiras. O foco da regulamentação é a empresa de alimentos que requer a alegação de
propriedade funcional.
Sob a visão das empresas de alimentos, a regulamentação é um fator que influência
também a estruturação das atividades produtivas. Estas optam por parceiros capazes de
agregar valor no processo de P&D.
A EMPRESA 3 é verticalizada, ou seja, compreende as principais atividades da cadeia
de valor necessárias ao desenvolvimento e produção do alimento funcional. O impacto da
regulamentação recai na empresa como um todo. Similarmente, a EMPRESA 2 possui a
verticalização da cadeia de suprimento, ou seja, produz todos os itens necessários para
produção de seus alimentos funcionais.
A especificidade do ativo, alimento funcional, requer um maior controle para garantir o
sucesso no processo de inovação. (WILLIAMSON, 1979). Portanto, as EMPRESAS 2 e 3
optaram por internalizar as atividades.
72
4.4.4.2 Relação Regulamentação e Processo de Inovação: Visão das Empresas de Alimentos
Posteriormente, buscou-se a compreensão do impacto no processo de inovação. A
regulamentação é um fator que influência a inovação seja positivamente ou negativamente
(EMPRESA 2). Para a EMPRESA3, a regulamentação impacta negativamente em suas
decisões de inovar e vai além “[...] desde da compra de matéria prima até lá na ponta que é o
consumidor final[...]”.
A incerteza faz parte da natureza da Inovação. A empresa, percebendo que há um alto
grau de incerteza, tomará uma posição mais conservadora, conforme a EMPRESA 1: “[...]
empresa vai ser muito mais conservadora e menos inovadora sabendo que demora muito e tem muito
risco de não receber aprovação [...]”. Isso impacta ao planejar novos produtos, ter que analisar a
viabilidade do órgão regulador.
As EMPRESAS 4 e 5 compreendem que a regulamentação restringe a compreensão e
a comunicação com o consumidor. Isso causa impacto negativo para a empresa na decisão de
inovar. Já a EMPRESA6 entende que isso em nada a proíbe de buscar a inovação, mas limita
a estratégia de comunicação.
4.4.4.3 Relação Regulamentação e Estratégia da Empresa: Visão das Empresas de Alimentos
For fim, buscou-se compreender o impacto da regulamentação na estratégia das
empresas entrevistadas. As respostas convergem para o entendimento de que a
regulamentação influência na comunicação com o público consumidor. Para a EMPRESA 2
“[...] por exemplo, se eu tenho um alimento funcional registrado, a empresa pode
adotar estratégia de marketing que tornem o produto conhecido, pode colocar na
TV, nos jornais, nas revistas para que possam falar sobre os benefícios em saúde
desse produto.”
Já as EMPRESAS 4, 5 e 6 ressaltam que isso pode prejudicar a compreensão dos
consumidores sobre produto e inibir a compra: “[...] como eu não posso declarar a
funcionalidade do produto, eu deixei o consumidor sem entender o que eram aqueles
produtos” (EMPRESA 4); “[...] limita a comunicação dos atributos do alimento[...]” (EMPRESA
6). Para EMPRESA 3, “[...] a demora na concessão do registro torna difícil programar a “agenda
de divulgação[...]” do produto.
Em relação aos comentários quanto à comunicação, a EMPRESA 1 compreende que a
regulamentação inibe também a escolha de estratégias voltadas para a inovação em produto:
73
“[...] a empresa vai ser muito mais conservadora e menos inovadora sabendo que demora muito e tem
muito risco de não receber aprovação. Acho que é difícil estimar, mas provavelmente, podem atar
90% das ideias.”
Posteriormente, serão apresentados os resultados das empresas de alimentos. Para melhor
estruturação do estudo, foi elaborado um item (4.5 Síntese dos Resultados) de visualização da análise
dos grupos e a sua inter-relação.
4.5 Síntese dos Resultados
Após a análise efetuada por grupos, primeiramente, os especialistas e, por fim, as
empresas de alimentos, uma síntese dos dados torna-se necessária. Essa será dividida em
subtópicos.
4.5.1 Alimento Funcional: Síntese dos Entrevistados
O ponto de partida é compreender o que é um alimento funcional. Compreende-se para
fins desse estudo, que o alimento funcional pode ser descrito como: Alimento, além de suas
funções nutricionais básicas, semelhante em aparência ao alimento convencional; possui
adição ou extração de componentes. Ele deve ser consumido como parte da dieta usual e é
capaz de produzir demonstrados efeitos metabólicos ou fisiológicos úteis na manutenção de
uma boa saúde física e mental, podendo auxiliar na redução do risco de doenças crônicas não
transmissíveis. E, de caráter opcional, a obtenção do reconhecimento pela ANVISA da
alegação de propriedade funcional e/ou de saúde.
Ressalta-se que, para fins desse trabalho, foram excluídos os Novos alimentos e os
Novos Ingredientes. Esses são descritos pela regulamentação vigente como
[...] os alimentos ou substâncias sem histórico de consumo no País, ou
alimentos com substâncias já consumidas, e que, entretanto venham a ser
adicionadas ou utilizadas em níveis muito superiores aos atualmente
observados nos alimentos utilizados na dieta regular. (ANVISA, 1999a).
Não se descartou que o alimento possa possuir funcionalidade, mas foi preocupação deste
trabalho analisar alimentos fisicamente similares aos convencionais. Na base de dados da
ANVISA, os produtos registrados são fisicamente apresentados nas formas de cápsulas,
comprimidos, tabletes e outras formas, i.e., em pó.
74
Igualmente foram excluídos os alimentos naturais e orgânicos. Embora sejam fontes de
componentes importantes para a saúde humana, a ANVISA não recebeu solicitação de
alegação de propriedade funcional e/ou de saúde22.
4.5.2 Cadeia de Suprimentos: Sínteses dos Entrevistados
O segundo item pesquisado é a estrutura da cadeia de suprimentos do setor de
alimentos funcionais. Para a construção da estrutura da cadeia de suprimentos, para setor de
alimentos funcionais, cruzou-se as falas dos entrevistados.
No Quadro 21, apresentamos a síntese da frequência das falas entre os atores da
cadeia. A partir da análise, foi possível desenhar a cadeia de suprimentos de alimentos
funcionais, conforme a Figura 15.
22
Informação obtida junto à Palestra “Perspectivas legais de alegações especiais”, ministrada pela Gerente de
produtos especiais da ANVISA / DF Antonia Maria Aquino, no 4º Simpósio de Segurança Alimentar,
realizado no dia 30 de maio de 2012, em Gramado – RS – Brasil.
75
Quadro 21 – Análise da cadeia de suprimentos: síntese dos entrevistados em cada elo
Agente
regulatório
Centros
de P&D
Empresa
Química/
Farmacêutica
Consultoria
Processador
de alimentos
Produtor de
componentes
Produtor
de
insumos
primários
Universidade
Agente
regulatório
-
-
-
-
-
-
-
-
Centros de
P&D
3
-
-
-
-
-
-
-
Empresa
Química/
Farmacêutica
0
0
-
-
-
-
-
-
Consultoria
0
0
0
-
-
-
-
-
Processador de
alimentos
3
4
0
2
-
-
-
-
Produtor de
componentes
3
5
0
0
8
-
-
-
Produtor de
insumos
primários
3
3
0
0
3
3
-
-
Universidade
3
5
0
0
6
6
3
-
Fonte: Elaborado pelo autor
76
Figura 15 – Cadeia de suprimentos de alimentos funcionais
Fonte: elaborado pelo autor
Legenda:
(a) Produtor de insumos básicos; (b) Processador de insumos; (c) Processador de alimentos;
Produtor de componentes; (h) Universidade e/ou Centro de pesquisa; (i) Consultoria
(d) Distribuidores/atacadista; (e) Consumidor final; (f) Agente regulatório; (g)
77
Esta cadeia de suprimentos de alimento convencional é composta por (a) Produtor de
insumos básicos, (b) Processador de insumos, (c) Processador de alimentos, (d)
Distribuidores/atacadista e, por fim, (e) Consumidor final. Outros agentes emergiram para que
fosse possível desenvolver um alimento inovador: (g) Produtor de componentes, (h)
Universidade e/ou Centro de pesquisa e (i) Consultoria em registro de alimentos. Por fim, o
(f) agente regulatório que atua em toda a cadeia como o agente capaz de controlar e
normatizar as relações entre os envolvidos.
Uma etapa subsequente à identificação dos agentes foi a compreensão do modo de
governança adotados pela empresa processadora de alimento os tipos de relacionamento que
ocorrem entre os agentes, fundamentando-se na Teoria dos Custos de Transação. O Quadro 23
apresenta a frequência dessas relações entre os agentes.
O modo de governança Híbrida é composto pelas codificações colaboração e contrato, e
foi a mais citada. Compreende-se que no processo de inovação, a incorporação de
competências distintas de um determinado agente auxilia no desenvolvimento de um alimento
funcional, seja em forma de contratos, colaboração em longo prazo e/ou formação de joint
ventures, o que justifica a maior frequência destes tipos de relações. Já a Hierarquia
caracteriza-se por empresas de grande porte que optam por ter o processo de inovação
inteiramente dentro da empresa.
Por fim, há governança do tipo Mercado que é caracterizado pela baixa especificidade
dos ativos. Esta relação é fundamentada pela procura no mercado de componentes funcionais
de baixa especificidade para agregar ao alimento e, também, pela busca de consultorias para
auxiliar no registro dos alimentos.
No Quadro 22, expressam-se a frequências de cruzamento das falas dos entrevistados,
relacionando os tipos de relações interorganizacionais e os respectivos agentes. Compreendese que o quadro pode auxiliar na visualização dessas relações, mesmo ressaltando o número
de pessoas entrevistadas.
Quadro 22 – Frequência da relação entre os agentes.
Consultorias
Processador
de alimentos
Produtor de
componentes
Tecnológico
Universidades
e/ou Centros
de P&D
Colaboração
1
5
5
5
Contrato
3
4
5
3
Hierarquia
0
3
0
0
Mercado
1
1
3
0
Fonte: Elaborado pelo autor
78
Explorando-se o Quadro 22 e as entrevistas, constata-se que empresas de pequeno e
médio porte utilizam uma estratégia híbrida de governança. Empresas desse porte
caracterizam-se por serem portadoras de menores recursos capazes de internalizar atividades
relacionadas à P&D e fabricação de suas próprias commodities tecnológicas. Em
contrapartida, as empresas de grande porte entrevistadas têm optado pela internalização das
atividades necessárias para o desenvolvimento dos alimentos funcionais (hierarquização).
A Figura 16 sintetiza dos três tipos de governança anteriormente abordados. As setas
unilaterais encontradas na governança Mercado ressalta a aquisição de produtos ou serviços.
Já na governança híbrida é caracterizada pelas setas de duplo sentidos pela formação relações
mais intensos (colaboração e/ou contratos) no processo de inovação. Por último, a hierarquia
que está representada visualmente pela internalização das atividades de produção de
commodity tecnológica e P&D na organização (empresa processadora de alimentos).
79
Figura 16 – Governança da cadeia de alimentos funcionais
Fonte: Elaborado pelo autor
80
4.5.3 Regulamentação para Alimentos Funcionais: Síntese dos Entrevistados
Questionados sobre os pontos positivos e negativos da regulamentação para alimentos
funcionais, os entrevistados convergiram em alguns pontos. No Quadro 23, abordam-se os
relatos da amostra entrevistada.
Quadro 23 – Pontos positivos e negativos da regulamentação de alimentos funcionais
Entrevistados
ESPECIALISTAS
Pontos Positivos
Pontos Negativos
Rigidez
Falta de clareza nos procedimentos de registro
Estruturada
Morosidade no registro
Pioneirismo
Moderna
EMPRESAS
Estruturada
Lento
DE
Burocrático
ALIMENTOS
Rígido
Falta de padrão nas decisões
Fonte: Elaborado pelo autor
Há uma série de convergências entre as falas dos grupos. Ambos os grupos
compreendem que a regulamentação para alimentos funcionais é bem “ESTRURADA”,
contudo, há certa “MOROSIDADE23” e “FALTA DE CLAREZA24” nos procedimentos de
registro de alimentos com propriedades funcionais e/ou de saúde.
A característica “rigidez” é ponto de divergência na opinião entre os grupos. Pelos
especialistas, é tratada como ponto positivo da regulamentação, já pelas empresas de
alimentos é tratada como ponto negativo.
As demais características citadas estão compreendidas dentro de seus conjuntos e não
devem ser excluídas. Por consequente, o Quadro 24 pode ser integrado em um quadro síntese.
23
24
Compreende-se que os termos “morosidade no registro” e “lento” possuem o mesmo sentido, mesmo sendo
expressos por palavras distintas. Por um português mais claro, optou-se pela utilização da palavra
“morosidade” no texto.
Percebe-se que os termos “falta de clareza nos procedimentos de registro” e “burocracia” buscam o mesmo
significado, mas foram mencionados como expressões diferentes pelos entrevistados. Optou-se pela utilização
do primeiro.
81
Quadro 24 – Pontos positivos e negativos da regulamentação de alimentos funcionais: síntese
Pontos Positivos
Pontos Negativos
Rigidez
Falta de clareza nos procedimentos de registro
Estruturada
Falta de padrão nas decisões
Pioneirismo
Morosidade no registro
Moderna
Rigidez
Fonte: Elaborado pelo autor
Após a síntese dos pontos positivos e negativos, torna-se necessário averiguar qual dos
fatores apresenta maior peso. No Quadro 25, apresenta-se a porcentagem de relatos foram
abordados de forma positivamente ou negativamente. Percebe-se que os pontos negativos da
regulamentação de alimentos funcionais declarados pelos entrevistados sobressaem-se perante
as positivas.
Quadro 25 – Frequência dos relatos sobre a regulamentação de alimentos funcionais
Ponto negativo
Ponto positivo
61%
39%
Fonte: Elaborado pelo autor
Esse fator pode justificar também a baixa quantidade de alimentos com propriedades
funcionais registrados com validade, um total de apenas 8 alimentos. Estes alimentos são
representados por 7 empresas. A ANVISA, em cumprimento ao compromisso assumido pela
área de alimentos, disponibiliza a lista de processos para análise pela Gerência de Produtos
Especiais (GPESP), conforme Quadro 26.
Quadro 26 – Lista de processos para análise
Quantidade
Outubro Novembro
Descrição
Situação
Avaliação de Alimentos com Alegações de
Propriedades Funcional e/ou de Saúde
Aguardando análise
1
0
Avaliação de Alimentos com Alegações de
Propriedades Funcional e/ou de Saúde
Aguardando triagem e
distribuição
1
2
Registro de Alimentos com Alegações de
Propriedades Funcional e/ou de Saúde
Aguardando análise
1
4
Registro de Alimentos com Alegações de
Propriedades Funcional e/ou de Saúde
Aguardando triagem e
distribuição
41
45
Registro de Alimentos com Alegações de
Propriedades Funcional e/ou de Saúde
Em tramitação
12
11
Totais
56
62
Fonte: ANVISA ([2012?])
82
O Quadro 27 também ressalta a morosidade dos processos de registro de alimentos
com propriedade funcional relatada pelos entrevistados. Não há significativa evolução dos
registros. Há somente 8 registros de alimentos com propriedades funcionais e/ou de saúde e
uma crescente evolução doa processos de análise de registros (de 56 processos no mês de
outubro de 2012 para 62 processos no mês de novembro de 2012).
4.5.4 Influência da Regulamentação: Síntese dos Entrevistados
Por fim, para se entender o impacto que da regulamentação de alimentos funcionais na
cadeia de suprimentos, com o processo de inovação e estratégia da empresa, utilizou-se o
Nvivo 10®, e se analisou a relação. No Quadro 27, está expressa a frequência com que se
observou a relação. Abordar-se-á individualmente cada relação.
Quadro 27 – Cruzamento entre os “nós” – síntese
NÓS
Regulamentação
Cadeia de
Suprimentos
Inovação
23
Estratégia da
Empresa
5
19
Fonte: Elaborado pelo autor
4.5.4.1 Relação Regulamentação e Cadeia de Suprimentos: Síntese das Entrevistas
Ambos os grupos afirmam que há um impacto negativo da regulamentação de
alimentos funcionais na cadeia de suprimentos. A regulamentação influência diretamente nas
empresas processadoras de alimentos (representado na Figura 17 por uma seta unilateral) que
desejam alegar propriedade funcional e/ou de saúde em seus produtos. Essas devem fornecer
os documentos necessários para obtenção do registro.
Contudo, há uma influência indireta sobre os agentes antecessores (upstream) na
cadeia de suprimentos (representado na Figura 17 por uma seta unilateral tracejada). Por
participarem da cadeia de suprimentos, eles devem manter certos padrões para que auxiliem
na obtenção por parte das empresas processadoras de alimentos. Essa relação pode ser
representada pela Figura 17.
83
Figura 17 – Influência do agente regulatório na cadeia de suprimentos
Fonte: Elaborado pelo autor
4.5.4.2 Relação Regulamentação e Processo de inovação: Síntese das Entrevistas
Sintetizando as visões dos entrevistados, verificou-se que a regulamentação impacta
positivamente e negativamente no processo de inovação e estratégia da empresa.
Positivamente, a regulamentação garante25 as diretrizes básicas para análise e comprovação e
procedimentos para registro de alimento com alegação de propriedades funcionais e ou de
saúde. Por meio deles, a empresa de alimentos engaja-se em um processo que permite a
comunicação dos benefícios funcionais do produto ao seu consumidor. A regulamentação não
impõe procedimentos para a pesquisa e desenvolvimento de alimentos funcionais.
O fator negativo influência é a comunicação da inovação (representado na Figura 18
por uma seta unilateral). O produto necessita ser compreendido pelo ambiente no qual é
inserido, para que possa tornar-se inovação. Para os entrevistados, a regulamentação restringe
a forma de comunicar ao consumidor as características dos produtos. Trata-se de uma medida
preventiva do agente regulatório, contudo, inibi o processo de inovação e induz à cópia de
produtos já consolidados no mercado.
25
Por meio da Resolução ANVISA nº 18, de 30 de abril de 1999 e Resolução ANVISA nº 19, de 30 de abril de 1999.
84
Um fator negativo complementar é a falta de clareza nos ensaios científicos aplicáveis
para alegação de propriedade funcional e/ou de saúde. Esta incerteza ocasiona gastos elevados
com a comprovação, acarretando a desistência da obtenção do registro. A Figura 18 resume os
itens abordados.
Figura 18 – Influência da regulamentação no processo de inovação.
Agente regulatório
Comunicação com
o consumidor
Fonte: Elaborado pelo autor
4.5.4.3 Relação Regulamentação e Estratégia da Empresa: Síntese das Entrevistas
Para as empresas de alimentos entrevistadas, a regulamentação impacta negativamente
nas estratégias de marketing das empresas relacionadas à comunicação e divulgação de seus
produtos. O impacto da comunicação está relacionado à forma de comunicação com o
consumidor por meio da embalagem e/ou mídias. Há certa restrição na forma de declaração
dos benefícios, pois o agente regulatório preocupa-se com que essas informações não induzam
ao erro. Já a morosidade no registro dificulta a programação de lançamento dos produtos.
A visão do agente regulatório é de garantir uma relação saudável entre produtores de
alimentos e consumidores, ou seja, atuando como um limitador de poder entre os agentes. O
agente regulatório buscar garantir que os alimentos a que o consumidor tenha acessão sejam
alimentos de acordo com as especificações das empresas. Ou seja, a regulamentação irá
influenciar na estratégia, negativamente da empresa, se ela não realizar o especificado
originalmente (representado na Figura 19 por uma seta unilateral). Adicionalmente, o tempo
para concessão do registro está diretamente ligado à empresa prover as devidas
comprovações. A influência pode ser representada pela Figura 19.
85
Figura 19 – Influência sobre a estratégia da empresa
Agente regulatório
Comunicação com
o consumidor
Fonte: Elaborado pelo autor
4.6 Discussão dos Resultados
Após a descrição dos dados coletados, faz-se necessário a discussão dos resultados
utilizando a “lente” do referencial teórico. Essa etapa torna-se importante para a compreensão
do fenômeno socioeconômico e, também, contribui para os estudos acadêmicos.
Inicia-se pela definição de alimentos funcionais. O termo que emerge do Japão e é
ecoado nas demais nações vai ganhando características adaptadas a culturas onde passa a se
inserir. No Brasil, não há uma definição convergente (BIANCO, 2008; NEUMANN;
ABREU; TORRES, 2000; TAIPINA; FONTES; COHEN, 2002).
Neste trabalho, compreende-se que a melhor definição para alimentos funcionais é:
alimento, além de suas funções nutricionais básicas, semelhante em aparência ao alimento
convencional, possui adição ou extração de componentes. Este deve ser consumido como
parte da dieta usual e é capaz de produzir demonstrados efeitos metabólicos ou fisiológicos
úteis na manutenção de uma boa saúde física e mental, podendo auxiliar na redução do risco
de doenças crônicas não transmissíveis. A definição elaborada não busca esgotar o assunto,
mas colaborar para uma construção da definição brasileira de alimentos funcionais, tanto
quanto auxiliar em futuras discussões.
Enfim, o alimento funcional é um alimento inovador? Os dados coletados por meio de
entrevistas e dados secundários convergem para esta posição afirmativa. Segundo Bröring e
Leker (2007), os alimentos funcionais surgem da agregação de competências de setores
distintos. As competências do setor químico/farmacêutico auxiliam na criação das
commodities tecnológicas que são as responsáveis pela funcionalidade do alimento. Para
Tigre (2006), o alimento funcional deve ser tratado como uma inovação incremental, visto
86
que a indústria de alimentos agrega componentes benéficos aos alimentos convencionas e não
altera radicalmente seus hábitos de consumo.
Para que esse alimento esteja disponível para o consumidor, é função da “firma”
organizar esses distintos fatores de produção para desenvolver o produto. (SCHUMPETER,
1961). Em um contexto econômico de desintegração vertical das corporações (GEREFFI et
al., 2005), torna-se necessário uma rede de firmas capazes de unir suas competências em prol
do desenvolvimento de um produto inovador.
Um dos fatores analisados, neste estudo, é a compreensão das firmas envolvidas na
cadeia de suprimentos de alimentos funcionais. Embasado na cadeia de suprimentos de
alimentos convencionais, que é compreendido por produtores de produtos in natura,
fornecedores de produtos semiacabados, processadores de alimentos e distribuidores, este
estudo buscou compreender qual a peculiaridade da cadeia de suprimentos de alimentos
funcionais. Lambert e Cooper (2000) afirmam que a quantidade de firmas da cadeia está
direcionada à complexidade do produto. Observando-se os dados coletados no mercado
brasileiro, vê-se que outras firmas26 surgem: produtor de commodity tecnológica, centros de
P&D e empresas de consultorias que auxiliam no registro junto ao órgão regulador. Estas
atividades tornam-se necessárias para o desenvolvimento dos alimentos funcionais e para que
se possa curtir as exigências dos órgãos regulatórios.
O desenvolvimento deste tipo de produto não pode ser abordado como uma cadeia
linear. Bröring (2010), Bröring e Cloutier (2008), Bröring e Leker (2007) e Hobbs (2001;
2002), em suas pesquisas sobre cadeia de suprimentos e inovação, especificamente em
alimentos funcionais no Canadá, compram a complexidade deste tipo de produto e da relação
inter-firmas. No Brasil, a recíproca torna-se a mesma, pois há uma série de relações entre
agentes econômicos que não necessariamente irão seguir um único fluxo, tomando a
necessidade diferentes formas gerenciais de atividades.
Para o efetivo funcionamento da cadeia de suprimentos, a escolha deum modo de
governança adequada para garantir que as atividades fluam ordenadamente (HENSON;
HUMPHREY, 2010; HUMPHREY; SCHMITZ, 2001; KAPLINSKY; MORRIS, 2001),
torna-se importante. Em estudos internacionais (BOEHLJE; BRÖRING; ROUCAN-KANE,
2009; BRÖRING, 2010, BRÖRING; CLOUTIER, 2008; BRÖRING; LEKER, 2007) a
governança dos projetos de P&D de alimentos funcionais é encontrada, principalmente, nas
26
Buscou-se essa preocupação visto que o termo firma não se equivale ao termo empresa. O termo firma deve
ser compreendido como agente econômico que realiza a produção e venda de bens e serviços. Uma empresa
e/ou organização pode ser compostas de várias firmas. É de função do empreendedor-coordenador
proporcionar a estrutura que sustente a firma.
87
empresas de alimentos. Os dados da pesquisa apontam que, no Brasil, a governaça da cadeia
de suprimentos é coordenada pelas empresas de alimentos. Mesmo os autores destacando que
empresas quimícas/farmacêuticas participam do processo de inovação, esses atores não
possuem papéis de coodenadores, no mercado brasileiro.
Logo, o produtor de alimentos é o responsável por coordenar essas competências
tecnológicas e mercadológicas para criação do alimento funcional e para que este obtenha
sucesso no mercado alvo. É da natureza da firma decidir quais competências deve possuir
internamente e quais buscar externamente (COASE, 1937) de forma a reduzir o custo de
transação (WILLIAMSON, 1985), ou seja, (1) custo de informação, (2) custo de negociação e
(3) custo de monitoramento.
Fundamentado pela Teoria dos Custos de Transação (WILLIAMSON, 1979, 1985),
foram identificados dois tipos modos de governança: (1) Hierarquia e (2) Híbrida. A primeira
é composta por duas empresas de grande porte entrevistadas. Já as demais pequenas e médias
empresas optaram pela segunda alternativa. Segundo Williamson (1985), as empresas
deparam-se com fatores que influenciam na hora de escolha da melhor forma de governança
da cadeia de suprimentos: ativo específico, racionalidade limitada, oportunidades, incerteza e
assimetria de informações.
Primeiramente, o ativo específico – alimento funcional – é composto por componentes
de alta complexidade e com relativa escassez de firmas com competências suficientes para
produzir e fornecer. As empresas optantes pela Hierarquia possuem competências para
coordenar todas as atividades necessárias para o desenvolvimento e a comunicação do
produto a um custo menor que se esta tivesse que obter parcialmente (híbrido) ou totalmente
no mercado.
O segundo ponto é a incerteza. Para Dosi (1988), a incerteza faz parte do processo de
inovação das firmas. Para reduzir a incerteza e ter maior controle, é preciso a internalização
das atividades (Hierarquia) e/ou a opção por relações de colaboração ou contrato (Híbrido).
Conforme a coleta de dados, as empresas de grande porte optam pela relação do tipo
Hierarquia, já as empresas de pequeno e médio porte utilizam as relações híbridas. Isso se
justifica pelo porte de recursos financeiros de cada instituição. Contudo, as empresas de
pequeno e médio que optaram por modos híbridos compartilham da incerteza com os
fornecedores.
Um terceiro ponto é o oportunismo. O alimento funcional é um produto com valor
agregado elevado que permite a empresa cobrar um valor premium. A opção por uma relação
de híbrida e/ou hierárquica é motivada pela empresa focal evitar que a competência técnica do
88
produto possa ser utilizada por outras organizações. A difusão dessas informações para outras
empresas pode ocasionar redução dos custos de transação para o concorrente. Ou seja, as
empresas podem usufruir de informação para desenvolver produtos similares com menos
riscos de falhas (na produção e na comercialização).
Um quarto ponto é a frequência da transação. Por tratar-se de ativos específicos, há
uma gama restrita de firmas capazes de prover, principalmente, os componentes tecnológicos
para fornecer funcionalidade ao alimento. Este fator se relaciona com o oportunismo pelo fato
de que a empresa optará por fazer internamente uma atividade pouco frequente para que não
ocorra difusão de uma competência importante do produto. As empresas de grande porte
produzem todos os componentes necessários para o alimento, evitando quebra de mercado
(desabastecimento) ou ficar dependente de fornecedores. Contudo, as demais empresas
entrevistadas que optaram por modos híbridos por compreenderem ser mais barato firmar
contrato de fornecimento e compartilhar informações a produzir internamente.
O fator racionalidade limitada não foi possível de medir por meio das entrevistas.
Compreende-se que todas as empresas possuem capacidade de obter informações para
gerenciar independentemente dos recursos disponíveis.
O ativo específico, alimento funcional, é o fator mais relevante para a escolha do
modo de governança. Segundo Williamson (1991), o custo de governança é uma função do
ativo específico e de outros conjuntos de variáveis. Por tratar-se de um produto inovador que
demanda o desenvolvimento de componentes para o alimento, as empresas de alimentos de
grande porte optam pela escolha racional de internalizar as atividades e reduzir o custo de
transação. Em detrimento das pequenas e médias empresas entrevistadas que não possuem
recursos capazes de tornar a transação menos custosa ao internalizar e optam por contratos
com fornecedores.
Após o entendimento da cadeia de suprimentos de alimentos funcionais brasileira,
buscou-se compreender a influência da regulamentação de alimentos funcionais e como os
seus atores respondem a ela. Parte, primeiramente, da compreensão da principal figura do
agente regulatório. A necessidade de sistemas estruturados sociais para convivência entre os
atores (SELZNICK, 1992) é um fator que favoreceu o surgimento de entidades institucionais
(agência reguladora) para trazer equilíbrio. (RUBIN, 2008). Isso significa que por meio de
normas exigidas pela ANVISA, é possível reduzir a incerteza econômica (NORTH, 1990,
2008; SHIRLEY; MENARD, 2008) e / ou o controle ambiente das interações econômicas.
O Brasil é pioneiro na América Latina no que se refere ao desenvolvimento do
regulamento de alimentos funcionais. De acordo com a ANVISA (2004), o responsável por
89
solicitar a alegação funcional e/ou propriedade de saúde é a empresa de alimentos
(fabricante). Ela é também responsável por assegurar a funcionalidade do produto para a
agência de regulação e para o consumidor.
A regulação brasileira de alimentos funcionais tem uma influência sobre o aspecto de
marketing da inovação, processo da empresa de processamento de alimentos, diretamente
relacionado com a comunicação da inovação. Deve-se observar que os regulamentos
permitem que a empresa de alimentos especifique suas reivindicações funcionais e benefícios
em embalagem ou mídia. Um aspecto negativo é a descrição do crédito aprovado. Apenas
alguns termos são capazes de serem impressos em embalagens dos produtos. Algumas
descrições são extremamente específicas e difíceis para a compreensão do consumidor.
Restringir o processo de comunicação, uma empresa de processamento de alimentos
não informar claramente os seus consumidores os benefícios reais permite o efeito contrário:
"não comprar". Van de Ven (1986) discute sobre os produtos que desejam ser conhecidos
como inovadores e não podem transmitir os seus efeitos e, portanto, não podem ser
consumidos. O produto deve ser chamado de um "erro" e está fadado ao esquecimento.
Finalmente, uma campanha nacional de agência reguladora, com foco na compreensão do
consumidor, podeajudar a divulgar o conceito e os benefícios deste mercado emergente. No
entanto, a ANVISA afirma possuir campanhas prioritárias.
Outros aspectos negativos abordados pelos entrevistados são: falta de clareza nos
procedimentos do processo de registro, ausência de padronização nas decisões sobre os testes
e documentos, atrasos nos processos de registro e regulamentação estrita. Nas entrevistas, foi
observado que algumas empresas de alimentos, que evitam requerer a funcionalidade dos
produtos, escolhem produzir alimentos com componente funcional e não comunicam os
benefícios. Contudo, conforme declarado pela empresa de alimentos entrevistada, a
organização fabricou um alimento funcional com ingrediente, mas sem a alegação: “O
produto não foi adquirido pelo consumidor, devido à falta de entendimento dos benefícios que
oproduto oferecia”.
90
5 CONCLUSÃO
O presente capítulo visa a apresentar as conclusões da pesquisa, ressaltando as
respostas aos objetivos geral e específicos, abordando as limitações da pesquisa e dando
sugestões para estudos posteriores.
5.1 Considerações Finais
Ao final da pesquisa acadêmica, busca-se verificar se os objetivos pretendidos foram
alcançados. A pesquisa teve como primordial objetivo analisar a influência da regulamentação
brasileira do setor de alimentos sobre a cadeia de suprimentos de alimentos funcionais. Para
alcançar esses objetivos, foram elencados três objetivos específicos que serão analisados.
O primeiro objetivo específico consistiu em descrever a organização da cadeia de
suprimentos de alimentos funcionais no Brasil. Por meio de entrevistas com especialistas,
empresas de alimentos e dados secundários, foi possível identificar a estrutura de uma cadeia
de suprimentos de alimento funcional. Há uma similaridade com uma cadeia de alimentos
convencional, mas há também incremento de outros agentes. Os atores são compostos por (a)
Produtor de insumos básicos, (b) Processador de insumos, (c) Processador de alimentos, (d)
Distribuidores/atacadistas, (e) Consumidor final, (f) agente regulatório, (g) Produtor de
componentes, (h) Universidade e/ou Centro de pesquisa e (i) Consultoria em registro de
alimentos. Esses agentes puderem ser visualizados na Figura 15.
Identificou-se o principal ator dessa cadeia de suprimentos como sendo a empresa
processadora de alimentos. Estes adotam relações do tipo Híbrido e Hierarquia
(WILLIAMSON, 1985).
O segundo objetivo específico foi identificar como os atores da cadeia de suprimentos
respondem à regulamentação na gestão de produtos inovadores na cadeia de suprimentos.
Para fins do estudo, descreveu-se que a regulamentação de alimentos funcionais é descrita
pelas Resoluções da ANVISA, nº 18, de 30 de abril de 1999 e nº 19, de 30 de abril de 1999,
que tratam sobre Alimentos com Alegações de Propriedades Funcionais e ou de Saúde. Esta
regulamentação impacta diretamente a empresa processadora de alimento, visto que essa
empresa é responsável, principalmente, pela fabricação do produto e pela disponibilização
para seu consumidor. Importante ressaltar que essa regulamentação é de caráter optativo e
com o intuito de comunicar a funcionalidade do produto ao consumidor. A influência da
regulamentação está diretamente relacionada etapa de comunicação da inovação ao
91
consumidor. A regulamentação é declarada como bem redigida, contudo, pontos negativos,
como falta de padrão nas decisões sobre os ensaios e documentos, morosidade nos processos
de registro, estreita rigidez e falta de clareza nas descrições das alegações permitidas, têm
dificultado a comunicação da empresa com o consumidor para a compreensão da inovação
ofertada. Ou seja, as regras foram bem elaboradas, contudo aspectos relacionados a sua
aplicabilidade ainda são visualizados como uma problemática para o setor estudado.
Já no que diz respeito aos demais agentes da cadeia, a influência está diretamente
ligada aos possíveis padrões estipulados pelo agente focal no processo de inovação. Conforme
abordado, a regulamentação de alegação de propriedade funcional e/ou de saúde está
direcionada ao fabricante do alimento.
O terceiro objetivo específico foi identificar aspectos positivos e negativos da
regulamentação no setor pesquisa e desenvolvimento (P&D). O principal aspecto positivo
apontado foi permitir o processo de pesquisa, desenvolvimento e comunicação do produto
inovador. Aspectos como textualização clara do regulamento e pioneirismo na América
Latina foram abordados pelos entrevistados e reforçam o aspecto principal. O ponto negativo
relaciona-se ao impacto na comunicação da inovação que se torna prejudicial por aspecto de
falta de padrão nas decisões sobre os ensaios e documentos, morosidade nos processos de
registro, estreita rigidez e falta de clareza nas descrições das alegações permitidas,
dificultando a comunicação da empresa com o consumidor na compreensão da inovação
ofertada.
Verifica-se, assim, que todos os objetivos específicos foram atingidos. Este estudo
contribui teoricamente ao identificar as influências negativas que o fator institucional
(regulamentação brasileira) exerce no processo de inovação no setor de alimentos,
diretamente no que se refere à comunicação. Estes resultados podem desestimular atividades
de inovação, P&D em produtos de empresas nacionais e internacionais que atuam no mercado
brasileiro, induzindo as empresas a “copiarem” produtos com maior aceitação mercadológica.
Este estudo, portanto, torna-se importante fonte para auxiliar o setor público e privado
na definição de estratégias que facilitem e estimule o desenvolvimento de produtos
alimentícios inovadores, favorecendo o crescimento empresarial e à saúde e o bem-estar dos
consumidores. Sugere-se investimento público e privado em campanhas nacionais para
disseminação dos alimentos funcionais e seus benefícios. As Associações de Classe podem
apoiar as empresas de alimentos no reconhecimento dos produtos e no gerenciamento de redes
de inovação com foco em redução de custo. As empresas de alimentos devem gerenciar os
aspectos regulatórios e reduzir riscos nos investimentos em P&D.
92
5.2 Limitações
Ressalta-se que a pesquisa teve um caráter exploratório-descritivo com o objetivo de,
qualitativamente, descrever o fato social. Somente três entrevistas das doze efetuadas foram
realizadas presencialmente. As demais foram feitas utilizando-se telefone. Contudo, em todos
os contatos, foi observado o critério de gravação dos áudios. Entendeu-se que entrevistas
pessoais poderiam auxiliar na identificação de traços físicos que falseariam ou confirmariam
melhor certos questionamentos. Todavia, tal limitação não foi averiguada durante as
gravações e nas posteriores análises.
5.3 Pesquisas Futuras
Primeiramente, sugerem-se estudos em outros mercados para avaliar a influência dos
fatores institucionais no processo de inovação no setor de alimentos e seus reflexos perante as
empresas do setor. Compreende-se que o método qualitativo é importante fonte para
identificar os motivos do impacto da regulamentação brasileira sobre a cadeia de suprimentos.
Contudo, uma pesquisa quantitativa com uma amostra maior de casos poderia confirmar ou
falsear as informações coletadas.
A complexidade da cadeia de suprimento de alimentos funcionais brasileira pode ser
compreendida pela quantidade de atores envolvidos e pelo tipo de relações entre eles. Logo,
sugerem-se pesquisas quantitativas com uma amostra significativa de empresas, para
confirmar ou falsear as informações coletadas. Adicionalmente, para o aprofundamento em
uma cadeia de suprimentos de um alimento com propriedade funcional a fim de compreender
as relações entre os agentes.
Em relação à cadeia de suprimentos, sugere-se explorar os “Novos alimentos e Novos
Ingredientes”. A compreensão da estrutura da cadeia de suprimento e/ou o impacto dessa
regulamentação não puderam ser incluídos neste estudo devido à disponibilidade de tempo.
93
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102
APÊNDICE A – CRONOGRAMA PROPOSTO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA
Mês Mar/13
Mês Fev/13
Mês jan/13
Mês dez/12
Mês Nov/12
Mês Out/12
Mês Set/12
Mês Ago/12
Mês jul/12
Mês Jun/12
Mês Mai/12
Mês Abr/12
Mês Mar/12
Mês fev/12
4. Conclusões da pesquisa
Mês Jan/12
3. Análise e interpretação dos
resultados
Mês Dez/11
1. Desenvolvimento conceitual e
metodológico
2. Pesquisa de campo / coleta de
dados
Mês Nov/11
Descrição da Etapa
103
APÊNDICE B - ROTEIRO DA ENTREVISTA – ESPECIALISTAS
Bloco A - Descrição da empresa
1)
2)
3)
4)
5)
Empresa
Nome / Função
Área/setor de atuação
Breve histórico (surgimento – data e motivo)
Relação da empresa com alimentos funcionais
Bloco B – Alimentos funcionais
6) Defina alimento funcional?
7) Considera um produto inovador? Justique
Bloco C – Cadeia de suprimento
8) Destaque quem são os principais participantes
nacional/internacional de alimentos funcionais?
da
cadeia
9) Como é a relação entre os participantes da cadeia (colaboração, contratual, etc)?
Bloco C – Regulamentação
10) Na sua opinião, como é a regulamentação de alimentos funcionais no
Brasil?
11) Na sua opinião, como a regulamentação de funcionais (Claim) influência
nas estratégias dos participantes da cadeia? Quais são os participantes mais
afetados pela regulamentação (insumos, indústria, varejo, consumidor)?
12) Cite pontos positivos e negativos sobre a regulamentação brasileira?
13) Regulamentação influência na decisão de inovar / escolha dos parceiros
(inovação e/ou produção)?Fabricantes de alimentos funcionais exigem
conformação com regulamentos e/ou processos? (empresa de componentes)
104
APÊNDICE C – ROTEIRO DA ENTREVISTA – EMPRESA DE ALIMENTOS
Bloco A - Descrição da empresa
1. Empresa
2. Nome / Função
3. Área/setor de atuação
Bloco B – Alimentos funcionais
4.
5.
6.
7.
A empresa produz algum alimento funcional?
SE SIM, qual sua funcionalidade?
Este produto possui alegação funcional junto à ANVISA?
Há algum novo produto funcional em fase de desenvolvimento pela
empresa?
8. Este novo produto terá alegação de funcionalidade junto à ANVISA?
9. Este produto em fase de desenvolvimento é considerado inovador?
10. SE NÃO PRODUZ ALIMENTO FUNCIONAL: A empresa tem interesse
e/ou pretende desenvolver algum alimento funcional dentro em breve?
Bloco C – Cadeia de suprimentos
11. Nos produtos funcionais já desenvolvidos: quais foram os principais
parceiros da empresa na etapa de P&D?
12. Qual era o tipo de relação existente entre os parceiros (colaboração,
contratual, etc)?
13. Nos produtos funcionais que estão em desenvolvimento: quais são os
principais parceiros da empresa na P&D do novo produto?
14. Qual é o tipo de relação existente entre os parceiros (colaboração,
contratual, etc)?
15. Nos produtos funcionais a serem desenvolvidos: a empresa pretende
buscar algum tipo de parceria para a P&D de alimentos funcionais?
Bloco C – Regulamentação
16. Na sua opinião, como é a regulamentação de alimentos funcionais no
Brasil?
17. Poderias citar alguns pontos positivos e negativos sobre a regulamentação
brasileira?
18. Na sua opinião, a regulamentação de funcionais (Claim) influência as
estratégias da empresa? Como?
19. (De acordo com a resposta anterior) A Regulamentação influência na
decisão de inovar e/ou escolha dos parceiros (inovação e/ou produção)?
20. A regulamentação afeta também os seus parceiros?
105
APÊNDICE D – ROTEIRO DA ENTREVISTA – ANVISA
Bloco A - Descrição da instituição
1) Nome
2) Cargo/Setor
Bloco B – Alimentos funcionais
3) Defina alimento funcional?
4) Considera um produto inovador? Justique.
Bloco C – Cadeia de suprimento
5) Destaque quem são os principais participantes
nacional/internacional de alimentos funcionais?
da
cadeia
Bloco D – Regulamentação
6) Como é a regulamentação de alimentos funcionais no Brasil?
7) Quais são os participantes mais afetados pela regulamentação (empresa de
insumos, indústria, varejo, consumidor)?
8) Cite pontos positivos e negativos sobre a regulamentação brasileira?
9) Acredita que a regulamentação influência na decisão de inovar (produção)?
Como?
106
ANEXO A - EVOLUÇÃO DE VENDAS DE ALIMENTOS FORTIFICADOS E
FUNCIONAIS (EMBALADOS) – US$ MILHÕES
Período
País
Mundo
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
127.278,10 131.912,20 139.649,60 150.897,10 161.908,40 175.003,50 189.268,70 204.694,10
Estados Unidos
32.803,30
30.896,80
31.237,40
32.928,00
32.585,20
33.794,90
34.974,00
36.150,70
China
11.233,20
14.106,40
16.869,00
20.510,60
25.281,60
30.326,80
35.866,90
41.880,50
Japão
12.916,60
13.062,10
12.846,00
12.749,80
12.736,40
12.781,60
12.818,90
12.880,50
México
8.790,90
9.046,90
9.706,30
10.339,10
10.907,90
11.569,80
12.228,60
12.887,10
Brasil
5.932,10
6.330,00
7.211,80
8.518,50
9.784,20
11.095,10
12.672,90
14.481,90
Reino Unido
4.345,10
4.640,10
4.799,10
4.980,70
5.196,50
5.287,10
5.370,40
5.440,40
França
4.658,90
4.599,30
4.592,80
4.573,90
4.559,80
4.560,80
4.564,80
4.581,30
Indonésia
2.991,90
3.209,10
3.719,70
4.275,50
4.992,50
5.650,90
6.316,40
6.983,30
Espanha
3.540,90
3.565,60
3.574,30
3.600,10
3.623,30
3.651,60
3.692,60
3.741,70
Itália
3.354,10
3.431,70
3.421,30
3.461,50
3.499,10
3.549,90
3.615,50
3.678,10
Alemanha
3.276,00
3.300,00
3.204,50
3.147,30
3.127,90
3.149,90
3.193,40
3.254,20
Coréia do Sul
2.416,80
2.587,60
2.759,50
3.092,70
3.449,80
3.713,50
3.989,70
4.276,20
Austrália
2.013,80
2.100,30
2.256,30
2.402,60
2.542,30
2.673,80
2.806,10
2.935,20
Canadá
1.876,40
2.049,30
2.146,30
2.254,50
2.346,00
2.466,80
2.583,70
2.697,30
Rússia
1.402,40
1.537,50
1.681,70
1.906,60
2.127,30
2.372,60
2.655,90
2.956,40
Índia
1.028,40
1.167,70
1.387,50
1.656,80
1.939,30
2.230,80
2.528,50
2.841,20
Finlândia
1.207,30
1.236,90
1.216,50
1.239,00
1.275,10
1.310,10
1.355,40
1.400,80
Holanda
988,4
1.031,20
1.059,30
1.088,00
1.112,80
1.147,20
1.183,00
1.219,90
Venezuela
472,5
626,2
879,3
1.140,20
1.613,30
2.065,90
2.628,70
3.333,90
Suécia
843,5
847,8
858,5
857,2
866,6
886,2
905
922,4
Irlanda
743,2
748,3
741,2
734,7
728,1
735,1
744,9
754,5
Argentina
529,1
581,2
733,8
906,1
1.096,50
1.267,80
1.458,10
1.683,70
Bélgica
693,4
702
696,4
680,1
661,7
656,6
656
660
Colômbia
476,3
525,5
670,4
730,9
793,5
864,1
938
1.016,90
Chile
542,6
592
655,8
736
815,1
897,4
977,5
1.060,40
Polônia
526,3
576,6
631
665,5
699,4
741,9
786,6
834,7
Suíça
554,2
560,3
561
565,5
574,1
586,1
599,4
614,5
Grécia
614,4
588,9
559,9
529,7
514,4
501,5
495,1
490,4
Nova Zelândia
479,5
514
554,1
638,3
696,7
748,8
796,5
843,8
432
454,6
484,6
532,8
557,8
591,4
630,4
672,4
Áustria
341,4
346,6
352,1
359,7
366,9
378,5
390
401,6
Singapura
292,5
311,4
330,5
349,4
369,8
389,7
408,2
425,6
Dinamarca
228,3
223,9
231,2
242
257,2
265,5
275,8
287,2
Noruega
Fonte: Euromonitor International (2012)
107
ANEXO B – CONSUMO PER CAPITA - ALIMENTOS FORTIFICADOS E
FUNCIONAIS - US$ PER CAPITA
País
2008 2009 2010
Finlândia
227,8 232,2 227,3
Irlanda
166,8 168,1 165,9
Nova Zelândia
112,3 119,1 126,9
Austrália
94,0 96,4 102,1
Estados Unidos
107,9 100,7 101,0
Japão
101,2 102,4 100,9
Noruega
91,2 94,7 99,7
Suécia
91,9 91,6 91,9
México
82,4 83,9 89,1
Espanha
78,2 77,8 77,7
Reino Unido
71,0 75,3 77,4
França
75,0 73,6 73,2
Suíça
73,0 72,7 72,1
Singapura
60,4 62,4 65,1
Bélgica
65,0 65,3 64,2
Holanda
60,2 62,6 63,9
Canadá
56,3 60,9 63,2
Itália
56,3 57,1 56,6
Coreia do Sul
49,7 53,1 56,5
Israel
55,1 52,5 53,3
Grécia
54,8 52,3 49,5
Taiwan
39,2 40,9 42,0
Áustria
41,0 41,5 42,0
Dinamarca
41,7 40.6 41,8
Alemanha
39,8 40,2 39,2
Arábia Saudita
30,1 34,6 38,9
Malásia
32,1 35,2 38,5
Chile
32,3 34,9 38,3
Brasil
31,7 33,5 37,8
Venezuela
16,8 21,9 30,3
República Checa
26,9
7,4
27,6
Tailândia
19,4 21,0 22,3
Mundo
19,0 19,5 20,4
Hungria
17,8 18,6 19,5
Argentina
13,3 14,4 18,0
Polônia
13,8 15,1 16,5
Indonésia
13,2 14,0 16,0
Eslováquia
14,2 14,4 14,8
Colômbia
10,6 11,5 14,5
China
8,5
10,6 12,6
Rússia
9,8
10,8 11,8
Filipinas
15,3 15,6
6,1
Turquia
5,3
5,5
6,0
Índia
0,9
1,0
1,2
Fonte: Euromonitor International (2012)
2011
230,4
164,0
144,4
107,4
105,6
100,3
106,5
91,0
93,8
78,0
80,0
72,5
71,9
68,0
62,,1
65,3
65,8
57,1
63,1
54,5
46,8
42,6
42,8
43,6
38,7
44,2
41,2
42,6
44,3
38,6
28,3
23,0
21,8
20,7
22,1
17,4
18,2
15,6
15,6
15,3
13,3
16,4
7,1
1,4
Período
2012
2013
236,0
241,3
162,6
163,9
156,0
166,2
112,1
116,3
103,6
106,6
100,4
101,0
111,9
117,0
91,4
92,8
98,0
103,0
78,6
79,2
83,0
84,0
72,0
71,7
72,2
73,0
71,3
74,5
59,9
59,0
66,5
68,3
68,0
71,0
57,5
58,1
70,3
75,5
55,2
56,4
45,3
44,1
43,6
44,7
43,5
44,7
46,2
47,6
38,5
38,9
50,0
55,9
44,1
46,6
46,7
50,9
50,5
56,8
53,9
67,9
29,1
30,0
25,1
27,4
23,1
24,7
22,2
24,2
26,5
30,3
18,3
19,4
21,0
23,6
16,4
17,2
16,7
17,9
18,8
22,4
14,9
16,6
16,7
17,3
8,0
8,9
1,6
1,8
2014
248,4
165,7
175,2
120,4
109,4
101,6
123,0
94,1
107,9
80,2
84,8
71,4
73,9
77,4
58,5
70,1
73,8
59,0
81,0
57,3
43,5
45,8
45,8
49,3
39,6
62,6
49,1
55,0
64,5
85,2
31,1
29,6
326,5
26,3
34,6
20,6
26,1
18,1
19,2
26,4
18,6
18,0
9,9
2,0
2015
255,5
167,3
184,0
124,2
112,2
102,4
129,4
95,4
112,7
81,4
85,4
71,4
75,0
80,1
58,4
72,0
76,4
59,9
86,8
58,5
43,0
47,0
47,0
51,2
40,5
70,1
51,5
59,2
73,2
106,5
32,3
31,9
28,3
28,7
39,6
21,8
28,6
19,1
20,6
30,7
20,7
18,8
11,0
2,2
108
ANEXO C – EVOLUÇÃO (%) DA VENDA DE ALIMENTOS FUNCIONAIS POR ANO
Período
País
2008-09
2009-10
2010-11
2011-12
2012-13
2013-14
2014-15
2015-16
Venezuela
32,5
40,4
29,7
41,5
28,1
27,2
26,8
27,0
Colômbia
10,3
27,6
9,0
8,6
8,9
8,5
8,4
8,5
Argentina
9,8
26,2
23,5
21,0
15,6
15,0
15,5
15,9
China
25,6
19,6
21,6
23,3
20,0
18,3
16,8
15,7
Índia
13,5
18,8
19,4
17,1
15,0
13,3
12,4
11,1
Vietnam
17,7
17,8
19,8
22,9
14,7
13,2
12,1
11,1
Egito
11,9
15,9
10,2
12,5
13,9
15.2
14,5
13,8
Indonésia
7,3
15,9
14,9
16,8
13,2
11,8
10,6
9,6
Arábia Saudita
17,1
14,9
16,0
15,2
14,0
14,2
14,2
14,4
Romênia
16,1
14,9
10,7
3,0
6,3
7,0
8,4
9,8
Brasil
6,7
13,9
18,1
14,9
13,4
14,2
14,3
13,6
África do Sul
11,6
11,0
9,5
8,8
8,2
7,6
7,1
6,6
Chile
9,1
10,8
12,2
10,7
10,1
8,9
8,5
8,3
Rússia
9,6
9,4
13,4
11,6
11,5
11,9
11,3
11,0
Nova Zelândia
7,2
7,8
15,2
9,2
7,5
6,4
5,9
5,6
Austrália
4,3
7,4
6,5
5,8
5,2
4,9
4,6
4,3
México
2,9
7,3
6,5
5,5
6,1
5,7
5,4
5,2
Coréia do Sul
7,1
6,6
12,1
11,5
7,6
7,4
7,2
6,8
Noruega
5,2
6,6
8,1
6,5
6,0
6,6
6,7
6,6
Mundo
3,6
5,9
8,1
7,3
8,1
8,2
8,1
8,1
Canadá
9,2
4,7
5,0
4,1
5,1
4,7
4,4
4,2
Reino Unido
6,8
3,4
3,8
4,3
1,7
1,6
1,3
1,0
Dinamarca
-1,9
3,3
4,7
6,3
3,2
3,9
4,2
4,1
Holanda
4,3
2,7
2,7
2,3
3,1
3,1
3,1
3,1
Bulgária
3,3
2,0
5,4
5,9
6,9
7,4
7,7
9,2
Áustria
1,5
1,6
2,2
2,0
3,2
3,0
3,0
3,1
Suécia
0,5
1,3
-0,2
1,1
2,3
2,1
1,9
1,9
Estados Unidos
-5,8
1,1
5,4
-1,0
3,7
3,5
3,4
3,1
Espanha
0,7
0,2
0,7
0,6
0,8
1,1
1,3
1,6
Suíça
1,1
0,1
0,8
1,5
2,1
2,3
2,5
2,4
França
-1,3
-0,1
-0,4
-0,3
0,0
0,1
0,4
0,0
Itália
2,3
-0,3
1,2
1,1
1,5
1,8
1,7
2,3
Bélgica
1,2
-0,8
-2,3
-2,7
-0,8
-0,1
0,6
0,8
Irlanda
1,9
-1,0
-0,9
-0,9
1,0
1,3
1,3
1,2
Finlândia
2,5
-1,6
1,8
2,9
2,7
3,5
3,4
3,0
Japão
1,1
-1,7
-0,7
-0,1
0,4
0,3
0,5
0,6
Alemanha
0,7
-2,9
-1,8
-0,6
0,7
1,4
1,9
2,2
Grécia
-4,1
-4,9
-5,4
-2,9
-2,5
-1,3
-0,9
-1,1
Fonte: Euromonitor International (2012)
109
ANEXO D – ALEGAÇÕES DE PROPRIEDADE FUNCIONAL APROVADAS
CATEGORIA
ÁCIDOS GRAXOS
NUTRIENTE
ÔMEGA 3
ALEGAÇÃO PERMITIDA
“O consumo de ácidos graxos ômega
3 auxilia na manutenção de níveis
saudáveis de triglicerídeos, desde que
associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
CAROTENÓIDES
LICOPENO
“O licopeno tem ação antioxidante
que protege as células contra os
radicais livres. Seu consumo deve
estar associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
LUTEÍNA
“A luteína tem ação antioxidante que
protege as células contra os radicais
livres. Seu consumo deve estar
associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
REQUISITOS ESPECÍFICOS
Esta alegação somente deve ser utilizada para os ácidos graxos Omega3 de cadeia longa
provenientes de óleos de peixe (EPA - ácido eicosapentaenóico e DHA – ácido
docosahexaenóico).
O produto deve apresentar no mínimo 0,1g de EPA e ou DHA na porção ou em 100g ou
100ml do produto pronto para o consumo, caso a porção seja superior a 100g ou 100ml.
Os processos devem apresentar laudo de análise, utilizando metodologia reconhecida, com
o teor dos contaminantes inorgânicos em ppm: Mercúrio, Chumbo, Cádmio e Arsênio.
Utilizar como referência o Decreto nº 55871/1965, categoria de outros alimentos.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
A tabela de informação nutricional deve conter os três tipos de gorduras: saturadas,
monoinsaturadas e poliinsaturadas, discriminando abaixo das poliinsaturadas o conteúdo
de ômega 3 (EPA e DHA).
No rótulo do produto deve ser incluída a advertência em destaque e em negrito: “Pessoas
que apresentem doenças ou alterações fisiológicas, mulheres grávidas ou amamentando
(nutrizes) deverão consultar o médico antes de usar o produto”.
A quantidade de licopeno, contida na porção do produto pronto para consumo, deve ser
declarada no rótulo, próximo à alegação.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, deve-se
declarar a quantidade de licopeno na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Apresentar o processo detalhado de obtenção e padronização da substância, incluindo
solventes e outros compostos utilizados.
Apresentar laudo com o teor do(s) resíduo(s) do(s) solvente(s) utilizado(s).
Apresentar laudo com o grau de pureza do produto.
A quantidade de luteína, contida na porção do produto pronto para consumo, deve ser
declarada no rótulo, próximo à alegação.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, deve-se
declarar a quantidade de luteína na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Apresentar o processo detalhado de obtenção e padronização da substância, incluindo
solventes e outros compostos utilizados.
Apresentar laudo com o teor do(s) resíduo(s) do(s) solvente(s) utilizado(s).
Apresentar laudo com o grau de pureza do produto.
110
FIBRAS
ALIMENTARES
ZEAXANTINA
“A zeaxantina tem ação antioxidante
que protege as células contra os
radicais livres. Seu consumo deve
estar associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
FIBRAS ALIMENTARES
“As fibras alimentares auxiliam o
funcionamento do intestino. Seu
consumo deve estar associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de
vida saudáveis”.
BETA GLUCANA
“A beta glucana (fibra alimentar)
auxilia na redução da absorção de
colesterol. Seu consumo deve estar
associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
DEXTRINA RESISTENTE
“As fibras alimentares auxiliam o
funcionamento do intestino. Seu
consumo deve estar associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de
vida saudáveis”.
A quantidade de zeaxantina, contida na porção do produto pronto para consumo, deve ser
declarada no rótulo, próximo à alegação.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, deve-se
declarar a quantidade de zeaxantina na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Apresentar o processo detalhado de obtenção e padronização da substância, incluindo
solventes e outros compostos utilizados.
Apresentar laudo com o teor do(s) resíduo(s) do(s) solvente(s) utilizado(s).
Apresentar laudo com o grau de pureza do produto.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3g de fibras se o alimento for sólido ou 1,5g de fibras se o alimento for
líquido.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de fibras alimentares.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3 g de beta glucana, se o alimento for sólido, ou 1,5 g se o alimento for
líquido.
Essa alegação só está aprovada para a beta glucana presente na aveia.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de beta glucana,
abaixo de fibras alimentares.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3 g de dextrina resistente se o alimento for sólido, ou 1,5 g se o
alimento for líquido.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
O uso do ingrediente não deve ultrapassar 30g na recomendação diária do produto pronto
para consumo, conforme indicação do fabricante.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de dextrina resistente
abaixo de fibras alimentares.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
111
FRUTOOLIGOSSACARÍDEO –
FOS
“Os frutooligossacarídeos – FOS
contribuem para o equilíbrio da flora
intestinal. Seu consumo deve estar
associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
GOMA GUAR
PARCIALMENTE
HIDROLISADA
“As fibras alimentares auxiliam o
funcionamento do intestino. Seu
consumo deve estar associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de
vida saudáveis”.
INULINA
“A inulina contribui para o equilíbrio
da flora intestinal. Seu consumo deve
estar associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3 g de FOS se o alimento for sólido ou 1,5 g se o alimento for líquido.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de
frutooligossacarídeo, abaixo de fibras alimentares.
O uso do ingrediente não deve ultrapassar 30g na recomendação diária do produto pronto
para consumo, conforme indicação do fabricante.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3g de goma guar parcialmente hidrolisada se o alimento for sólido ou
1,5g de fibras se o alimento for líquido.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Essa alegação só está aprovada para a goma guar parcialmente hidrolisada obtida da
espécie vegetal.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de goma guar
parcialmente hidrolisada, abaixo de fibras alimentares.
Caso o produto seja comercializado na forma isolada, em sache ou pó, por exemplo, a
empresa deve informar no rótulo, a quantidade mínima de líquido em que o produto deve
ser dissolvido.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3g de inulina se o alimento for sólido ou 1,5 g se o alimento for
líquido.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de inulina, abaixo de
fibras alimentares.
O uso do ingrediente não deve ultrapassar 30g na recomendação diária do produto pronto
para consumo, conforme indicação do fabricante.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
112
LACTULOSE
“A lactulose auxilia o funcionamento
do intestino. Seu consumo deve estar
associado a uma alimentação
equilibrada e hábitos de vida
saudáveis”.
POLIDEXTROSE
“As fibras alimentares auxiliam o
funcionamento do intestino. Seu
consumo deve estar associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de
vida saudáveis”.
PSILLIUM OU PSYLLIUM
“O psillium (fibra alimentar) auxilia
na redução da absorção de gordura.
Seu consumo deve estar associado a
uma alimentação equilibrada e
hábitos de vida saudáveis”.
QUITOSANA
“A quitosana auxilia na redução da
absorção de gordura e colesterol. Seu
consumo deve estar associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de
vida saudáveis”.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3g de lactulose se o alimento for sólido ou 1,5g se o alimento for
líquido.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de lactulose abaixo de
fibras alimentares.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3 g de Polidextrose se o alimento for sólido ou 1,5 g de fibras se o
alimento for líquido.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de polidextrose,
abaixo de fibras alimentares.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção diária do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3g de psillium se o alimento for sólido ou 1,5g se o alimento for
líquido.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
A única espécie já avaliada é a Plantagoovata. Qualquer outra espécie deve ser avaliada
quanto à segurança de uso.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de Psillium abaixo de
fibras alimentares.
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
Esta alegação pode ser utilizada desde que a porção do produto pronto para consumo
forneça no mínimo 3g de quitosana se o alimento for sólido ou 1,5g se o alimento for
líquido.
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, os
requisitos acima devem ser atendidos na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante.
Os processos devem apresentar laudo de análise, utilizando metodologia reconhecida, com
o teor dos contaminantes inorgânicos em ppm: Mercúrio, Chumbo, Cádmio e Arsênio.
113
FITOESTERÓIS
FITOESTERÓIS
“Os fitoesteróis auxiliam na redução
da absorção de colesterol. Seu
consumo deve estar associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de
vida saudáveis”.
POLIÓIS
Manitol / Xilitol / Sorbitol
“Manitol / Xilitol / Sorbitol não
produz ácidos que danificam os
dentes. O consumo do produto não
substitui hábitos adequados de
higiene bucal e de alimentação”
Utilizar como referência o Decreto nº 55871/1965, categoria de outros alimentos.
Deve ser apresentado laudo de análise com a composição físico química, incluindo o teor
de fibras e de cinzas.
Na tabela de informação nutricional deve ser declarada a quantidade de quitosana abaixo
de fibras alimentares.
No rótulo deve constar a frase de advertência em destaque e negrito: "Pessoas alérgicas a
peixes e crustáceos devem evitar o consumo deste produto".
Quando apresentada isolada em cápsulas, tabletes, comprimidos, pós e similares, a
seguinte informação, em destaque e em negrito, deve constar no rótulo do produto: “O
consumo deste produto deve ser acompanhado da ingestão de líquidos”.
A porção do produto pronto para consumo deve fornecer no mínimo 0,8g de
fitoesteróislivres.Quantidades inferiores poderão ser utilizadas desde que comprovadas na
matriz alimentar.
A recomendação diária do produto, que deve estar entre 1 a 3 porções/dia, deve garantir
uma ingestão entre 1 a 3 gramas de fitoesteróis livres por dia.
Na designação do produto deve ser incluída a informação “... com fitoesteróis”.
A quantidade de fitoesteróis, contida na porção do produto pronto para consumo, deve ser
declarada no rótulo, próximo à alegação.
Os fitoesteróis referem-se tanto aos esteróis e estanóis livres quanto aos esterificados.
Apresentar o processo detalhado de obtenção e padronização da substância, incluindo
solventes e outros compostos utilizados.
Apresentar laudo com o teor do(s) resíduo(s) do(s) solvente(s) utilizado(s).
Apresentar laudo com o grau de pureza do produto e a caracterização dos fitoesteróis/
fitoestanóis presentes.
No rótulo deve constar as seguintes frases de advertência em destaque e em negrito:
“Pessoas com níveis elevados de colesterol devem procurar orientação médica”.
“Os fitoesteróis não fornecem benefícios adicionais quando consumidos acima de 3 g/dia”.
“O produto não é adequado para crianças abaixo de cinco anos, gestantes e lactentes”.
Alegação aprovada somente para gomas de mascar sem açúcar.
114
PROBIÓTICOS
Lactobacillusacidophilus
Lactobacillus casei shirota
Lactobacillus casei variedade
rhamnosus
Lactobacillus casei variedade
defensis
Lactobacillusparacasei
Lactococcuslactis
Bifidobacteriumbifidum
Bifidobacteriumanimallis
(incluindo a subespécie B. lactis)
Bifidobacteriumlongum
Enterococcusfaecium
“O (indicar a espécie do
microrganismo) (probiótico) contribui
para o equilíbrio da flora intestinal.
Seu consumo deve estar associado a
uma alimentação equilibrada e
hábitos de vida saudáveis”.
PROTEÍNA DE
SOJA
PROTEÍNA DE SOJA
“O consumo diário de no mínimo 25
g de proteína de soja pode ajudar a
reduzir o colesterol. Seu consumo
deve estar associado a uma
alimentação equilibrada e hábitos de
vida saudáveis".
A quantidade mínima viável para os probióticos deve estar situada na faixa de 108 a 109
Unidades Formadoras de Colônias (UFC) na recomendação diária do produto pronto para
o consumo, conforme indicação do fabricante. Valores menores podem ser aceitos, desde
que a empresa comprove sua eficácia.
A documentação referente à comprovação de eficácia, deve incluir:
- Laudo de análise do produto que comprove a quantidade mínima viável do
microrganismo até o final do prazo de validade.
- Teste de resistência da cultura utilizada no produto à acidez gástrica e aos sais biliares.
A quantidade do probiótico em UFC, contida na recomendação diária do produto pronto
para consumo, deve ser declarada no rótulo, próximo à alegação.
Os microorganismos Lactobacillusdelbrueckii (subespécie bulgaricus) e
Streptococcussalivarius (subespécie thermophillus) foram retirados da lista tendo em vista
que além de serem espécies necessárias para produção de iogurte, não possuem efeito
probiótico cientificamente comprovado.
A quantidade de proteína de soja, contida na porção do produto pronto para consumo, deve
ser declarada no rótulo, próximo à alegação
No caso de produtos nas formas de cápsulas, tabletes, comprimidos e similares, deve-se
declarar a quantidade de proteína de soja na recomendação diária do produto pronto para o
consumo, conforme indicação do fabricante. .
“Os dizeres de rotulagem e o material publicitário dos produtos à base de soja não podem
veicular qualquer alegação em função das isoflavonas, seja de conteúdo (“contém”),
funcional, de saúde e terapêutica (prevenção, tratamento e cura de doenças)”.
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