UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ THARCILLA DE SANTANA SOUZA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE CATALISADOR A BASE DE HIDROXIAPATITA PARA A ESTERIFICAÇÃO DO ÁCIDO OLÉICO ILHÉUS - BAHIA 2013 THARCILLA DE SANTANA SOUZA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE CATALISADOR A BASE DE HIDROXIAPATITA PARA A ESTERIFICAÇÃO DO ÁCIDO OLÉICO Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Ciências dos Materiais à Universidade Estadual de Santa Cruz. Área de concentração: Caracterização de Materiais Síntese e Orientadora: Profa. Dra. Rosenira Serpa da Cruz Co-Orientador: Prof. Dr. Ivon Pinheiro Lôbo ILHÉUS - BAHIA 2013 II THARCILLA DE SANTANA SOUZA SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE CATALISADOR A BASE DE HIDROXIAPATITA PARA A ESTERIFICAÇÃO DO ÁCIDO OLÉICO Ilhéus, 29/ 11/ 2013 III IV Ao meu bem mais precioso, meu filho Heitor, que pelo simples fato de existir, foi capaz de me ensinar o significado do Verdadeiro AMOR. V AGRADECIMENTO À Deus, por mais uma etapa realizada em minha vida; Aos meus pais, Antonio e Carmen por todos os ensinamentos e por estar sempre ao meu lado me apoiando; Às minhas irmãs, Giovana e Manuella pelo apoio incondicional; Ao meu amigo e marido, Herbert, pelo amor, companheirismo, compressão e dedicação que recebi; Aos meus familiares que me apoiaram durante esta caminhada; À minha orientadora, Profª. Drª Rosenira Serpa, pela orientação, confiança, oportunidade para desenvolver o presente trabalho e pela paciência e compreensão quando precisei me ausentar do laboratório para o nascimento do meu filho; Ao meu co-orientador, o Prof. Dr. Ivon Pinheiro Lôbo, por todo ensinamento, dedicação e paciência; Aos meus amigos, Milena e Zé Pequeno, que incondicionalmente me deram força para realização desta dissertação; Aos amigos do Grupo de Bioenergia e Meio Ambiente, Bruna, Karen e Mário Felipe por todo apoio e incentivo nos momentos mais difíceis; À Mariana que foi os meus braços no laboratório quando precisei me ausentar; Ao Prof. Dr. Paulo Neilson Marques dos Anjos, pela disponibilização do Laboratório de Pesquisa e Inovação em Materiais Avançados da UESC pela análise de TGA/DTA; VI À equipe do CETENE, pela realização das análises de BET e DRX; Ao Prof. Dr. Victor Marcelo Deflon, pela disponibilização do Laboratório do Grupo de Química Inorgânica Estrutural e Biológica GQIEB da USP. e ao doutorando Henrique Koch pela análise de FTIR; Aos funcionários que direta ou indiretamente contribuíram para a execução deste trabalho; À CAPES pela bolsa concedida. VII PUBLICAÇÕES Trabalhos em eventos 1. Avaliação catalítica do SnO2-SiO2 frente a reação de esterificação do ácido oléico., Souza, T. de S. ; Santos , M. A. F.; Cruz, R. S.; Lôbo, I. P.; Tokumoto, M. S. Resumo expandido do 5°Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, 8° Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, Óleos, Gorduras e Biodiesel, Salvador: Bahia, 2012. 2. Avaliação da atividade catalítica do óxido misto de zircônio em sílica na reação de esterificação do ácido oléico. Souza, T. de S. Santos , M. A. F.; Costa, B. E. B.; Lôbo, I. P.; Cruz, R. S. Resumo do XXII Congresso Iberoamericano de Catálisis – CICAT, Santa Fé: Argentina, 2012. VIII SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE CATALISADOR A BASE DE HIDROXIAPATITA PARA A ESTERIFICAÇÃO DO ÁCIDO OLÉICO RESUMO A hidroxiapatita tem se destacado entre os materiais cerâmicos devido a sua versatilidade estrutural, pois permite a substituição do Ca 2+ ou do PO43- da sua estrutura possibilitando diversas aplicações. Uma área que vem ganhando destaque é a da catálise. Com isso, o objetivo deste trabalho foi a obtenção, síntese, modificação e caracterização da hidroxiapatita para aplicação como catalisador em reação de esterificação utilizando o ácido oléico como molécula modelo. Os materiais foram obtidos por calcinação de osso bovino, pelo método de precipitação e pelo processo sol-gel. A modificação dos sólidos foi realizada por troca iônica no estado sólido, substituindo íons Ca2+ por Zn2+ na estrutura da hidroxiapatita. As cerâmicas resultantes foram caracterizadas por Termogravimetria, Análise Térmica Diferencial, Espectrometria na Região do Infravermelho por Transformada de Fourier, Difração de Raios X, Adsorção e Dessorção de Nitrogênio e acidez de Bronsted. Após seleção dos catalisadores preparados por métodos diferentes, o HAP e o Zn2+_HAP foram escolhidos para serem avaliados frente à reação de esterificação do ácido oléico com metanol com as seguintes condições reacionais: razão metanol : ácido oléico (20:1), 10% m/m de catalisador e 3h de reação a 150°C apresentando conversões de 33,0% e 80,6%, respectivamente. Estes sólidos também foram avaliados quanto à estabilidade frente à lixiviação das fases ativas para o meio reacional, os quais se mostraram bastante estáveis. Com isso, a utilização da hidroxiapatita como suporte para catalisador heterogêneo mostrou-se bastante promissor visto que pode ser obtido a partir de matérias primas de baixo custo. Palavras – chave: processo sol-gel, precipitação, troca iônica, esterificação. IX SYNTHESIS AND CHARACTERIZATION OF THE CATALYST BASED ON HYDROXYAPATITE FOR OLEIC ACID ESTERIFICATION ABSTRACT Hydroxyapatite has emerged among the ceramic materials due to its structural versatility as it allows the replacement of Ca2+ or PO43- in its structure enabling various applications. One area that is gaining prominence is catalysis. Thus, the aim of this work was to obtain, synthesize, modification and characterization of hydroxyapatite for application as catalyst in esterification reactions using oleic acid as a model molecule. The materials were obtained by calcination of bovine bone by the precipitation method and sol-gel process. The modification of the solid was carried by ion exchange in the state solid, replacing Ca2+ by Zn+2 in the structure of hydroxyapatite. The resulting ceramics were characterized by Thermogravimetry, Differential Thermal Analysis, Spectroscopy in the Region of Infrared Fourier Transform, X-ray Diffraction, Adsorption and Desorption of Nitrogen and Bronsted acidity. After selection of the catalysts prepared by different methods, the HAP and Zn2+_HAP were chosen to be evaluated at the esterification reaction of oleic acid with methanol with the following reaction conditions: ratio methanol: oleic acid (20:1), 10% m/m of catalyst and reaction 3h at 150°C showing conversion of 33.0% and 80.6%, respectively. These solids were also evaluated for their stability to leaching of the active phases into the reaction medium, which proved to be quite stable. Thus, the use of hydroxyapatite as a support for heterogeneous catalyst proved to be very promising as it can be obtained from low cost raw materials. Keywords: sol-gel process, precipitation, ion exchange and esterification. X LISTA DE FIGURAS Figura 1. Estrutura da hidroxiapatita....................................................................... 8 Figura 2. Estrutura da HAP modificada com zinco................................................. 9 Figura 3. Nucleação heterogênea........................................................................... 13 Figura 4. Esquema ilustrativo do processo de gelatinização para sistemas coloidais (a) e poliméricos (b)................................................................................. 16 Figura 5. Esquema do processo sol-gel.................................................................. 17 Figura 6. Tipos de preparação de catalisadores heterogêneos suportados.......... 23 Figura 7. Reação de transesterificação de um óleo vegetal com metanol............. 25 Figura 8. Reação de esterificação.......................................................................... 26 Figura 9 – Fluxograma da metodologia para limpeza do osso............................... 28 Figura 10 – Fluxograma da síntese por precipitação.............................................. 29 Figura 11 – Fluxograma da síntese pelo método sol-gel........................................ 30 Figura 12 – Fluxograma da síntese pela reação em estado sólido........................ 31 Figura 13. Fluxograma das etapas da avaliação catalítica..................................... 35 Figura 14. (a) matéria-prima doada; (b) hidroxiapatita obtida pela calcinação do osso em laboratório................................................................................................. 37 Figura 15. a) osso bovino; b) osso bovino calcinado e; c) pó de HAP.................... 38 Figura 16. TGA e DTA da amostra HAPPPT............................................................ 42 Figura 17. TGA e DTA da amostra HAPPSG............................................................ 43 Figura 18. Espectros de absorção na região do infravermelho das HAP, Zn2+_HAP, HAPPPT, Zn2+_HAPPPT, HAPPSG e Zn2+_HAPPSG................................... 2+ 45 2+ Figura 19. DRX das amostras HAP, Zn _HAP, HAPPPT, Zn _HAPPPT, HAPPSG e Zn2+_HAPPSG……………………………………………………………........................ 47 Figura 20. Isotermas de adsorção das amostras HAP, Zn2+_HAP, HAPPPT, 50 2+ 2+ Zn _HAPPPT HAPPSG e Zn _HAPPSG. ................................................................... Figura 21. Esquema da substituição do cálcio pelo zinco na estrutura da hidroxiapatita........................................................................................................... 52 Figura 22. Representação do mecanismo de esterificação de ácidos graxos livres catalisadas por sítios ácidos de Lewis.......................................................... 54 Figura 23. Teste de lixiviação................................................................................. 55 XI LISTA DE TABELAS Tabela 1. Tipos, fórmula química e relação Ca/P das apatitas....................... 7 Tabela 2. Métodos de síntese para hidroxiapatita........................................... 10 Tabela 3. Resultado da busca relacionada a aplicações da hidroxiapatita..... 19 Tabela 4. Comparativo entre as propriedades da capacidade de troca iônica, eletronegatividade e raio iônico de diferentes íons divalentes............. 41 Tabela 5. Descrição das bandas de absorção em destaque na Figura 18..... 45 Tabela 6. Alguns picos característicos de maior intensidade da HAP, ZnO (JCPDS) e das amostras HAP, Zn2+_HAP, HAPPPT, Zn2+_HAPPPT HAPPSG e Zn2+_HAPPSG.................................................................................................... 49 Tabela 7. Acidez de Bronsted.......................................................................... 51 Tabela 8. Conversão em ésteres metílicos..................................................... 53 XII LISTA DE ABREVIATURA ACP Fosfato de cálcio amorfo BET Brunauer–Emmett–Teller CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior DCPD Mono-hidrogênio fosfato de Cálcio hididratado DRX Difração de Raios X DTA Análise Térmica Diferencial, FTIR Espectrometria na Região do Infravermelho por Transformadas de Fourier HAP Hidroxiapatita IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OCP Fosfato de octacálcio TCP Fosfato de tricálcio TeCP Fosfato de tetracálcio TG Termogravimetria XIII SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1 2 OBJETIVOS....................................................................................................................4 2.1 OBJETIVO GERAL.........................................................................................................4 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...........................................................................................4 3 REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................................5 3.1 MATERIAIS CERÂMICOS..............................................................................................5 3.2HIDROXIAPATITA...............................................................................................................6 3.2.1ESTRUTURA...................................................................................................................6 3.2.2 MÉTODOS DE SÍNTESE..............................................................................................10 3.2.2.1 PRECIPITAÇÃO.........................................................................................................12 3.2.2.2 PROCESSO SOL-GEL...............................................................................................15 3.2.3 APLICAÇÕES................................................................................................................19 3.3 CATÁLISE HETEROGÊNEA............................................................................................22 3.4 PRODUÇÃO DE BIODIESEL...........................................................................................24 4 METODOLOGIA ......................................................................................................... 27 4.1 SÍNTESE DOS CATALISADORES..................................................................................27 4.1.1 REAGENTES................................................................................................................27 4.1.2 PROCEDIMENTO PARA SÍNTESE DOS CATALISADORES......................................27 4.1.2.1LIMPEZA DOS OSSOS E OBTENÇÃO DE HAP POR TRATAMENTO TÉRMICO...............................................................................................................................27 4.1.2.2 SÍNTESE PELO MÉTODO DE PRECIPITAÇÃO.......................................................29 4.1.2.3 SÍNTESE PELO PROCESSO SOL- GEL...................................................................30 4.1.2.4 MODIFICAÇÃO DA HAP COM Zn2+ PELO MÉTODO DE TROCA IÔNICA EM ESTADO SÓLIDO..................................................................................................................31 4.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS MATERIAIS.............................................32 4.2.1 TERMOGRAVIMETRIA................................................................................................32 4.2.2... ESPECTROMETRIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO......................................32 4.2.3. DIFRAÇÃO DE RAIOS X.............................................................................................33 4.2.4 ADSORÇÃO E DESSORÇÃO DE N2...........................................................................33 4.2.5 TESTE DE ACIDEZ......................................................................................................34 4.3 AVALIAÇÃO CATALÍTICA...............................................................................................34 4.3.1 REAGENTES................................................................................................................34 XIV 4.3.2 AVALIAÇÃO DOS MATERIAIS FRENTE À ESTERIFICAÇÃO DO ÁCIDO OLÉICO COM METANOL.....................................................................................................................34 4.3.3 AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DOS SÓLIDOS FRENTE A LIXIVIAÇÃO................35 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 37 5.1 LIMPEZA DOS OSSOS E OBTENÇÃO DE HAP POR TRATAMENTO TÉRMICO.........38 5.2 SÍNTESES DOS SÓLIDOS PELO MÉTODO DE PRECIPITAÇÃO E PROCESSO SOLGEL........................................................................................................................................38 5.3 MODIFICAÇÃO DA HIDROXIAPATITA POR REAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO.............40 5.4 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DOS MATERIAIS.............................................42 5.4.1 ANÁLISE TÉRMICA......................................................................................................42 5.4.2 ESPECTROMETRIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO.........................................44 5.4.3 DIFRAÇÃO DE RAIOS - X............................................................................................47 5.4.4 ADSORÇÃO E DESSORÇÃO DE NITROGÊNIO.........................................................50 5.4.5 TESTE DE ACIDEZ.......................................................................................................51 5.5 AVALIAÇÃO CATALÍTICA................................................................................................52 6 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 57 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 59 XV 1 INTRODUÇÃO A melhoria na qualidade de vida das pessoas deve-se muito ao desenvolvimento de novos materiais. Esta dependência serviu como marco temporal de diferentes etapas da evolução das sociedades, desde os primórdios de nossa história (CGEE, 2010). São chamados de novos materiais, não só os produzidos recentemente, mas também os materiais antigos que foram modificados ou produzidos por uma nova tecnologia. Esta nova tecnologia pode agregar novas propriedades a este material diversificando sua área de aplicação. Dentro desta classificação encontram-se os materiais cerâmicos, cujas características são: baixa densidade, baixa condutividade térmica, alta resistência à corrosão e à abrasão e a capacidade de suportarem altas temperaturas sem se deformarem (SHACKELFORD, 2008). Com isso, a sua utilização tem crescido de forma surpreendente em uma infinidade de aplicações, nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Este crescimento é fruto dos avanços do conhecimento científico e tecnológico no campo da ciência e engenharia dos materiais ocorridos nas últimas décadas. Entre as cerâmicas com melhor desempenho, estão os biovidros, a alumina, o beta-fosfato tricálcico (β-TCP) e a hidroxiapatita (HAP), cuja fórmula química é Ca10(PO4)6(OH)2 e possui aplicações em diversos campos desde a área biomédica até a tecnológica (CALIMAN, 2011). A estrutura da hidroxiapatita permite diversas substituições atômicas durante seu processamento que podem modificar a sua aplicação, conforme às modificações químicas e estruturais (ARAÚJO et al., 2007). Dentre as possibilidades de modificações o Ca2+ pode ser substituído por metais como o Pb2+, Cd2+, Cu2+, Zn2+, Sr2+, Co2+, Fe2+, etc, os grupos fosfatos por carbonatos e vanadatos e as hidroxilas por carbonatos, flúor e cloro. As substituições tanto aniônicas como catiônicas podem alterar a cristalinidade, os parâmetros de rede, as dimensões dos cristais, a textura superficial, a estabilidade e a solubilidade da estrutura da HAP (MAVROPOULOS, 1999). A HAP pode ser obtida de maneira natural ou sintética. Métodos diferentes podem ser encontrados na literatura para produção da HAP sintética. Os principais métodos são precipitação (MATSUNAGA et al., 2010; VELJOVIC´ et al., 2010; ENAYATI-JAZI et al., 2012; OLIVEIRA; PARIS; RIBEIRO, 2013) hidrotérmico, o método sol-gel (SALIMI et al., 2012; TREDWIN et al., 2013; e a troca iônica (ARAÚJO et al., 2007). O processo de troca iônica pode ser classificado de duas maneiras bem distintas: a troca iônica em solução salina e a troca iônica em estado sólido (PIRES, 1999). Devido as suas características químicas e estruturais, a HAP possibilita seu uso na área médica como material biocompatível em implantes, próteses (NAIR et al., 2008) e como revestimento de prótese metálica para promover a ligação interfacial estável entre o material implantado e o tecido vivo (MACARINI et al., 2008). Na área odontológica, para evitar a perda óssea após extração de um ou vários elementos dentários (NARDUCCI; NICOLIN, 2009). Nas diversas aplicações biomédicas, incluindo matrizes para o controle de liberação da droga (LIU; TROCZYNSKI; TSENG, 2001). A propriedade ácido-base ajustável da HAP tem atraído a atenção de pesquisadores para a sua aplicação como catalisador para várias reações, como desidratação e desidrogenação de alcoóis primários a altas temperaturas (VENKATASUBBU et al., 2011), a oxidação de alcanos, alquilação Friedel-Crafts, adição de Michael e como catalisador na produção de biodiesel (WEI; ZHILIANG; YU; QIANJUN, 2008; WEI; XU; LI, 2009; CHAKRABORTY; BEPARI;BANERJEE, 2011; CHAKRABORTY; DAS, 2012). Os catalisadores a base de HAP apresentam a vantagem de poder utilizar materiais de baixo custo como fontes precursoras de hidroxiapatita, tais como: os resíduos de casca de ovo (WEI; XU; LI, 2009), de escama de peixe (CHAKRABORTY; BEPARI; BANERJEE, 2011) e de carcaça bovina (OBADIAH et al., 2012) os quais já foram usados com sucesso para a produção de biodiesel tanto como catalisador ou como suporte. O biodiesel é um substituto ou um aditivo ao diesel derivado de óleos vegetais ou gorduras animais, e pode ser obtido pela conversão de triglicerídeos em éster de ácidos graxos, na presença de álcool de cadeia curta e um catalisador, tal como metal alcalino ou ácido, obtidos por principalmente transesterificação, esterificação 2 (CHAKRABORTY; DAS, 2012), hidroesterificação (SOUSA et al., 2010) ou esterificação e transesterificação simultânea (JANSEN; MARCHETTI, 2012; BORGES; DÍAZ, 2012). O biodiesel é produzido comercialmente, principalmente, pela reação de transesterificação de triacilgliceróis com catalisadores homogêneos alcalinos (NaOH, KOH ou seus metóxidos) , porém esta apresenta algumas desvantagens, tais como: necessidade de matérias-primas de alto valor agregado que apresentam baixos teores de ácidos graxos livres e água, dificuldade de remoção e recuperação do catalisador e a geração de efluentes decorrente da etapa de neutralização e purificação dos produtos (BRUM et al., 2011). Uma alternativa aos inconvenientes expostos é a realização da esterificação com um catalisador ácido contendo sítios de Bronsted. Atualmente, o catalisador mais utilizado é o H2SO4. No entanto, este processo também possui desvantagens como etapas de subsequentes de neutralização e purificação do produto e os equipamentos devem ser resistentes à corrosão (CARDOSO; NEVES; SILVA, 2008). Com isso, os catalisadores homogêneos convencionais deverão ser substituídos por catalisadores heterogêneos no futuro próximo, devido às vantagens da possibilidade de utilizar matérias-primas de baixo custo, facilidade de recuperação de catalisador e simplificações nas etapas de purificação do produto. Diante do exposto, este trabalho visa obter HAP natural e sintética modificada com zinco com propriedades adequadas para sua utilização como catalisador em reação de esterificação de ácidos graxos com metanol. 3 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Obter, sintetizar, modificar, caracterizar hidroxiapatita e avaliar sua aplicabilidade em reações de esterificação do ácido oléico com metanol. 2.2 Objetivos específicos Obter hidroxiapatita a partir de carcaças bovinas; Sintetizar hidroxiapatitas pelos método de precipitação e processo solgel; Modificar as hidroxiapatitas com Zn2+ pelo método de troca iônica em estado sólido; Caracterizar os materiais por Análise Térmica (TGA), Difração de Raios X (DRX), Espectrosmetria na região do infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR), Adsorção e dessorção de Nitrogênio, titulação ácido – base para determinar a acidez de Bronsted; Avaliar a atividade catalítica destes sólidos na reação de esterificação do ácido oléico (molécula modelo) com metanol; Avaliar a estabilidade dos sólidos frente à lixiviação da fase ativa para o meio reacional. 4 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Materiais cerâmicos O termo “cerâmica” vem da palavra grega Keramikos, que significa “matéria queimada”, indicando que as propriedades desejáveis desses materiais são atingidas normalmente através de um processo de tratamento térmico a alta temperatura chamando cozimento (CALLISTER, 2010). As cerâmicas representam alguns dos materiais mais antigos e mais ambientalmente duráveis para engenharia (PADILHA, 2000). Estes materiais pertencem a três grandes categorias principais: as cerâmicas cristalinas, os vidros que são sólidos não-cristalinos com composição semelhante a das cerâmicas cristalinas e por fim a última categoria as vitrocerâmicas que são outro tipo de cerâmica cristalina formada inicialmente como vidros e, depois, cristalizadas de uma maneira cuidadosamente controlada (SHACKELFORD, 2008). A característica comum dessas substâncias é serem constituídas por íons metálicos e não metálicos. Dentre a grande área de aplicação dos materiais cerâmicos, uma que está ganhando grande destaque são os biomateriais, um material avançado que é empregado em componentes implantados no corpo humano para substituição de parte do corpo doente ou danificada. Esses materiais não devem produzir substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com os tecidos do corpo (CALLISTER, 2010). O primeiro material a ser utilizado como biocerâmicas foi em 1894 por Dreesman que utilizou o gesso como possível substituto para osso. A década de 70 marcou o início do uso mais intenso de materiais cerâmicos com propriedades que possibilitam a sua classificação como biocerâmicas. A primeira biocerâmica com uso muito difundido neste período foi a alumina densa (α-Al2O3), que se apresenta como bioinerte. Este material devido a sua boa 5 compatibilidade e elevada resistência mecânica, vem sendo usado com frequência em próteses ortopédicas que substituem ossos ou partes deles que são submetidos, na sua atividade funcional, a esforços elevados. Além da alumina densa, outras cerâmicas são muito utilizadas tais como a zircônia (ZrO2), o dióxido de titânio (TiO2), os fosfatos de cálcio (hidroxiapatita) e as vitrocerâmicas (KAWACHI et al., 2000). 3.2 Hidroxiapatita 3.2.1 Estrutura Osso é constituído de uma parte orgânica e de outra inorgânica. A matriz orgânica é formada de colágeno, principalmente tipo I, contendo proteoglicanas de baixo peso molecular e glicoproteínas adesivas que representam cerca de 25% de seu peso e a inorgânica por íons fosfato, cálcio e em menor quantidade, bicarbonato, magnésio, potássio, sódio e citrato. A união do fosfato e do cálcio forma cristais com estrutura de hidroxiapatita. (ANDIA; CERRI; SPOLIDORIO, 2006). A hidroxiapatita (HAP) é uma classe de biocerâmica de fosfato de cálcio, frequentemente utilizada como um substituto de enxerto de osso, devido à sua composição química e a similaridade estrutural com o osso natural. Ela faz parte de um grupo de minerais chamados apatitas e possuí fórmula química Ca10(PO4)6(OH)2 com relação molar Ca/P de 1,67. Na Tabela 1 são representados alguns tipos de apatitas com base na razão Ca/ P. 6 Tabela 1. Tipos, fórmula química e relação Ca/P das apatitas. FOSFATO DE CÁLCIO FÓRMULA QUÍMICA Fosfato de tetracálcio (TeCP) Hidroxiapatita (HAP) Fosfato de cálcio amorfo (ACP) Ca/P Ca4O(PO4)2 2,00 Ca10(PO4)6(OH)2 1,67 Ca3(PO4)2.nH2O 1,50 Ca3(PO4)2 1,50 Ca8H2(PO4)6.5H2O 1,33 CaHPO4.2H2O 1,00 Fosfato de tricálcio (α, α’, β, ɣ) (TCP) Fosfato de octacálcio (OCP) Mono-hidrogênio fosfato de Cálcio hididratado (DCPD) Fonte: Adaptado de Aparecida et al., 2009. A estrutura da HAP apesar de ser conhecida desde 1926, só foi esclarecida em 1964, quando as posições dos íons de hidrogênio foram identificadas através da difração de raios X e de análise química (SILVA, 2006). A HAP pura cristaliza-se sob a forma monoclínica em temperaturas acima de 250°C, existe a transição alotrópica da forma monoclínica para hexagonal (COSTA et al., 2009). Este sistema hexagonal contém 10 íons cálcio (Ca 2+) localizados em dois sítios não equivalentes. Dessa forma, 4 íons cálcio localizam-se no sítio 1 (Ca1) que são coordenados a 6 átomos de oxigênio a distância de 2,4 Å pertencentes a diferentes tetraedros de PO4 e também a 3 outros átomos de oxigênio relativamente distantes. Os outros 6 íons cálcio estão no sítios 2 (Ca2), mais distorcido, possuindo 3 oxigênios a distância de 2,3 Å, 2 oxigênios com distância de 2,5 Å e 1 oxigênio a 22 Å. (BATISTA, 2010) Desta forma a representação da fórmula molecular na célula unitária, com distribuição dos sítios é dada por: Ca(1)4Ca(2)6(PO4)6(OH)2 7 As esferas de coordenação dos íons nos sítios 1 e 2 são mostrados na Figura 1. Figura 1. Estrutura da hidroxiapatita. Fonte: Tang et al., 2009. A existência de dois sítios de íons cálcio traz consequências importantes para a hidroxiapatita que contém impurezas catiônicas, pois suas propriedades estruturais podem ser afetadas dependendo do sítio ocupado pelo cátion da impureza (MAVROPOULOS, 1999). A incorporação do Zn2+ na estrutura da HAP é muito discutida pelos pesquisadores, pois existem algumas questões relacionadas a preferência da localização do metal entre os sítios Ca1 e Ca2. Vários fatores têm sido propostos para determinar as preferências pelos sítios, tais como a mecanismos de substituição, ligações de valência e sítios espaciais. Como mostrado na Figura 1, a ligação de poliedros Ca1 e tetraedros de PO4 formam uma estrutura que define túneis que contém um canal de troca com os sítios Ca2. O Zn 2+ é trocado preferencialmente no sítio Ca2, pois ele pode ser incorporado mais facilmente, sem perturbar a estrutura (TANG et al., 2009) 8 Figura 2. Estrutura da HAP modificada com zinco. Fonte: Tang et al., 2009. LEGEROS e colaboradores1 (1980 apud BATISTA, 2010) estudaram o efeito da substituição parcial do Ca2+ por outros cátions na formação e estabilidade da HAP, fazendo uso de amostras contendo de 0% a 10% molar de cada cátion substituinte. Na substituição do Ca2+ (r= 0,99 Å) pelo Zn2+ (r= 0,74 Å), os autores observaram uma redução na cristalinidade dos materiais. A presença do Zn2+ inibe fortemente a cristalização da HAP, que pode ser sintetizada com uma única fase cristalina, desde que a concentração de zinco que não ultrapasse cerca de 25% de átomos (BATISTA, 2010) e as dopadas com baixas concentrações (menores que 5 mol%) de Zn2+ pode ser obtida sem produzir alterações significativas na estrutura. A dificuldade da substituição de Ca2+ por Zn2+ na HAP depende do processo de produção (SILVA, 2006; BATISTA, 2010). Espera-se que o íon Zn2+ substitua o Ca2+ no sítio Ca(1) na estrutura da HAP. Entretanto, para que ocorra esta troca iônica, são necessárias duas condições: (a) a similaridade do raio iônico entre o Ca2+ e do metal a ser substituído de forma a não deformar significativamente seus parâmetros reticulares. Cabendo ressaltar, que a diferença e entre os raios iônicos das espécies não devem 1 LEGEROS, R. Z. et al. Formation and stability of apatite: Effects of some cationic substituents. In: Proc. 2nd International Congress on Phosphorus Compounds, Boston, p. 89-103, 1980. 9 ultrapassar 15%, sendo, portanto, mais prováveis a substituição por cátions cujos raios iônicos variem de 0,085 a 0,115 nm. Esta hipótese, no entanto, contradiz dados de diversos autores que atribuem o mecanismo de adsorção, por troca iônica em HAP, para íons cujos tamanhos estão fora destes limites. (SIMONI, 2004) (b) e superioridade da eletronegatividade para facilitar a troca (REIS, 2008) A Tabela 2 mostra algumas propriedades dos cátions divalentes que podem ser substituídos pelo Ca2+ na estrutura da HAP. (REIS, 2008) Tabela 2. Comparativo entre as propriedades da capacidade de troca iônica, eletronegatividade e raio iônico de diferentes íons divalentes. Ca2+ Propriedades Capacidade de troca iônica (mmol. g-1) Eletronegatividade (Pauling) Raio iônico (nm) Zn2+ Pb2+ 0,729 Cd2+ ... 2,187 1,317 1,0 1,7 2,4 1,7 0,10 0,07 0,01 0,09 Fonte: Adaptado de SILVA, 2006 e FERNANDES, 2007. Uma proposta de mecanismo de troca iônica de íons Ca2+ em hidroxiapatita dopada com íons Zn2+ foi avaliada no trabalho de Chassot e colaboradores (2001). Os autores verificaram que os modelos de troca iônica, por substituição de íons Ca 2+ no sítio I, e de inserção de Zn2+ no interstício entre dois grupos OH estão de acordo com seus resultados experimentais, embora a precisão das análises feitas não permita mostrar de forma inequívoca por qual, dentre os dois modelos, ocorre a adsorção de Zn2+ em hidroxiapatita. 10 3.2.2 Métodos de síntese As propriedades da HAP variam com base no seu método de síntese. Na Tabela 2 são apresentadas algumas publicações referentes aos métodos de sínteses utilizados para a obtenção da HAP. Diversos pesquisadores preparam a HAP por métodos úmidos pelo qual pode-se obter materiais de dimensões nanométricas com diferentes morfologias, estequiometria e cristalinidades. Dentre os métodos químicos, destaca-se a precipitação por se tratar de uma técnica relativamente simples na qual é possível controlar as condições da síntese que influenciam diretamente a estequiometria, razão molar Ca/P e cristalinidade da HAP e por ser menos onerosa (CARDOSO; NEVES; SILVA, 2008). Outro método de síntese que está sendo muito utilizado pelos pesquisadores é o processo sol-gel (ASHURI et al., 2012; KAYGILI; TATAR; YAKUPHANOGLU, 2012), pois permite uma mistura em nível molecular dos íons cálcio e fósforo sendo capaz de melhorar a homogeneidade química e física resultando em uma granulação mais fina. A escolha dos precursores e solventes comuns para a obtenção do sol deve sempre utilizar reagentes mais reativos que em geral são alcóxidos dos respectivos cátions e ânions que devem compor a fase inorgânica fina desejada (BOIKO, 2009). O método hidrotérmico ocorre por via úmida, porém sob alta pressão e alta temperatura. O produto é um pó nanométrico ou milimétrico, sendo possível a obtenção de materiais com porosidade similar à hidroxiapatita (COSTA et al., 2009). 11 Tabela 3. Métodos de síntese para hidroxiapatita. Método de síntese Referências Observações Silva; Domingues, 1997; Bertoni et al., 1999; Nair et al., 2008; Wei; Zhiliang; Precipitação Yu; Qianjun, 2008; Bai et al., 2011; Tari; Motlagh; Sohrabi, 2011; Brito et al., 2011 Hidrotérmico Aminian et al., Principais precursores: Ca(NO3)2 e (NH4)2HPO4 ;Temperatura de calcinação: soluções 650°C – 1200°C. diluídas/adição lenta, controle rigoroso de pH. Obtém apatitas estequiométricas. 2011; Obtenção de pós nanométricos Zhang; Zongbao, 2011 ou milimétricos. Temperaturas de síntese mais baixas, Liu; Troczynski; Tseng, Sol-gel 2001; Santos et al., 2005; Bakan; Lacin; Sarac, 2012 Precipitação assistida por ultra- Gopi et al., 2012 som Co-precipitação Li et al., 2011 Precursores: Ca(NO3)2.4H2O e H3PO4 Temperatura de calcinação: 700°C – 800°C Obtém pó altamente puro Precursores Ca(NO3)2.4H2O, (NH4)2HPO4 Precursores Ca(NO3)2.4H2O, (NH4)2HPO4 Precursores Spray drying Luo; Nieh, 1995; Sun; Lu; Ca(NO3)2.4H2O, (NH4)2HPO4 Chen, 2009 Temperatura de calcinação: 500 – 800°C Pó de alta cristalinidade obtido Reação em estado Yang; Wang 1998; por volta de sólido Pramanik et al., 2007 estequiométricos 900°C e alta reprodutividade e o baixo custo. 12 3.2.2.1Precipitação A precipitação é uma técnica muito importante para a preparação de sólidos. No entanto, a precipitação é normalmente mais complexa que várias outras técnicas, devido à necessidade de separação do produto, após a precipitação e os grandes volumes de soluções gerados contendo o sal do processo de precipitação. Embora a preparação de sólidos por precipitação envolva uma série de etapas como, por exemplo, precipitação, filtração, lavagem, secagem, e calcinação, estas etapas são importantes, pois é ela que dará as propriedades básicas finais e influenciaram no desempenho do sólido. A precipitação pode compreender dois distintos processos: primeiro, a formação de núcleos ou nucleação; segundo, o crescimento dos cristais. A predominância de um ou outro dos dois processos determina, em grande parte as características do precipitado (OHLWEILER, 1976; HARRIS, 2005, SKOOG et al., 2009). A nucleação pode ser heterogênea, com a agregação ocorrendo em torno de poucas partículas de impurezas, ou homogênea, em que os núcleos se formam pela orientação do número requerido de grupos de íons em um arranjo ordenado apropriado (OHLWEILER, 1976). Na formação de um precipitado, a nucleação e o crescimento das partículas podem ocorrer simultaneamente. Inicialmente, quando uma quantidade de reagente suficiente houver sido adicionado para alcançar a região estável, produzem-se núcleos da segunda fase. Em seguida, a separação do sólido pode seguir dois caminhos: a formação de novos núcleos e o crescimento das partículas (OHLWEILER, 1976). Quando o reagente adicionado gera uma supersaturação relativa elevada, a velocidade de formação de novos núcleos excede grandemente a velocidade de crescimento das partículas; então, resulta um precipitado finamente cristalino ou coloidal (HARRIS, 2005). Se, entretanto, a supersaturação relativa for mantida a um nível baixo, a velocidade de crescimento, com a deposição de material sobre as partículas já existente, poderá prevalecer sobre a velocidade de nucleação; 13 neste caso, resultará um precipitado formado por cristais grandes (Figura 3) (OHLWEILER, 1976; SCHMAL, 2011). Figura 3. Nucleação heterogênea. Fonte. SCHMAL, 2011. Os fatores que mais influem sobre o crescimento dos cristais são a agitação, a temperatura e a concentração das soluções. (SCHMAL, 2011). Algumas variáveis devem ser controladas durante o processo de síntese da HAP, Santos (2012) e Afshar et al. (2003) mostram que a falta de controle da atmosfera no processo de síntese favorece a incorporação do CO32- á estrutura da HAP, pois quanto menor a temperatura e maior o pH de síntese, maior é a dissolução de CO2 do ar no meio reacional, induzindo a uma maior incorporação de CO32- à estrutura da HAP e esta incorporação nos sítios PO 43- tende a aumentar a razão Ca/P para valores superiores a 1,67. Outros parâmetros devem ser controlados durante a síntese, tais como: pH, temperatura da solução, tempo de envelhecimento, razão da adição do ácido, razão molar Ca/P e o meio na qual a solução está sendo processada. 14 Araújo et al. (2010) utilizaram uma mistura de nitrato de cálcio tetraidratado [Ca(NO3)2.4H2O], nitrato de cromo nonaidratado [Cr(NO3)3.9H2O] e hidrogenofosfato de amônio [(NH4)2HPO4], ajustando o pH com hidróxido de amônio [NH4OH] conforme reação descrita abaixo. 10Ca(NO3)2.4H2O+ 6(NH4)2HPO4+ 8NH4OH Ca10(PO4)6(OH)2+ 20NH4NO3 +18H2O (1) A temperatura do tratamento térmico das amostras foi variada, a fim de verificar os efeitos da temperatura na estabilidade térmica dos materiais. O precipitado resultante recebeu o tratamento térmico a 100 º C, 500 º C e 800 º C durante 1 hora. Conforme relataram os autores, a síntese da hidroxiapatita pura e dopada com cromo foi bem sucedida, obtendo-se um material com boa estabilidade térmica e formação de nanopartículas. Wang et al. (2010) utilizaram nitrato de cálcio tetraidratado [Ca(NO 3)2·4H2O], hidrogenofosfato de amônio (NH4)2HPO4 , ácido nitrico [HNO3] para sintetizar a HAP variando o pH inicial entre 8 - 11 com adição de etilenoglicol, polietilenoglicol e ácido cítrico como dispersantes para evitar que formassem aglomerados durante o processo de síntese. Obtiveram pós com diferentes morfologias, tais como esferas, hastes, agulhas, fios e de folhas de bambu, a partir do controle das condições de síntese. Verificou-se que as espécies dispersantes e métodos de secagem tiveram efeitos sobre o tamanho de partícula e a dispersibilidade. Os valores iniciais de pH e temperaturas de reação, ambos tem papéis importantes na morfologia de HAP, bem como a formação de fases e grau de cristalinidade. Brito et al. (2011), sintetizaram HAP usando a reação de precipitação via úmida, na qual se procedeu o gotejamento de uma solução contendo nitrato de cálcio [Ca(NO3)2.4H2O] a 0,167 mol.L-1 e nitrato de cromo Cr(NO3)3.9H2O ou nitrato de zinco Zn(NO3)2 , em concentrações de 6%,12%,18%,30% e 60%, a uma solução de fosfato de amônio difásico [(NH4)2HPO4] a 0,1 mol. L-1, fonte de fosfato (PO43-), mantendo-se durante todo o processo de síntese o controle do pH em torno de 10,4 da mistura através de uma base fraca, hidróxido de amônio [NH4OH] para assim identificar o limite de solubilidade dos íons dopantes na rede cristalina hospedeira 15 como também analisar a influência da dopagem na estrutura e morfologia das nanoparticulas de hidroxiapatita. A caracterização dos nano pós foi feita através da difratometria de raios-X (DRX) e os modos vibracionais foi analisado através da espectrometria na região do infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), indicando que a utilização dos íons dopantes influenciam na cristalinidade e morfologia das hidroxiapatitas. Para sintetizar a HAP, Santos (2012), utilizou uma solução diluída de hidróxido de cálcio [Ca(OH)2] e de ácido fosfórico [H3PO4] com o intuito de estudar os efeitos da incorporação do Zn2+ e da Ag+ sobre as características físico-químicas da HAP. A síntese com os metais não causou modificações significativas no índice de cristalinidade das amostras. 3.2.2.2 Processo sol-gel O método sol-gel foi empregado pela primeira vez em escala industrial pela Schott Glass em 1939, para deposição de camadas de óxidos sobre vidros. Na mesma época, Kistler mostrou que a estrutura do gel não é destruída quando a secagem é efetuada em condições planejadas. Isto permitiu demonstrar a existência da estrutura sólida no interior dos géis e preparar corpos com porosidade superior a 95%, de grande interesse para isolamento térmico e acústico (BRINKER; SCHERER, 1990; HIRATSUKA; SANTILLI; PULCINELLI, 1995). O processo sol-gel é uma rota química que se baseia na transformação de um sol em um material poroso que imobiliza a fase líquida nos seus interstícios, conhecido como gel. O processo sol-gel fundamenta-se nas reações de hidrólise (reação 2) e condensação aquosa (reação 3), mostradas abaixo, onde OR representa um grupo alcoxi e ROH um álcool (BRINKER; SCHERER, 1990). (2) (3) 16 O termo sol é um sistema disperso formado por uma fase homogênea. Em fase líquida, obtém-se uma solução coloidal que é constituída por micelas, sol. Nesta situação o sistema possui baixa viscosidade e pode ser moldado. A formação de micelas se dá com cargas elétricas, cuja força de repulsão impede a coagulação. Micelas são formadas por policondensação (SCHMAL, 2011). O gel pode ser visto como sendo o sistema formado pela estrutura rígida de partículas coloidais (gel coloidal) ou de cadeias poliméricas (gel polimérico) que imobiliza a fase líquida nos seus interstícios. Desse modo, os géis coloidais resultam da agregação linear de partículas primárias que só ocorre pela alteração apropriada das condições físicoquímicas da suspensão (Figura 4a). Por outro lado, os géis poliméricos são, geralmente, preparados a partir de soluções onde promove-se as reações de polimerização. Nesse caso, a gelatinização ocorre pela interação entre as longas cadeias poliméricas lineares (Figura 4b) (HIRATSUKA; SANTILLI; PULCINELLI, 1995). Figura 4. Esquema ilustrativo do processo de gelatinização para sistemas coloidais (a) e poliméricos (b). Fonte. HIRATSUKA; SANTILLI; PULCINELLI, 1995. 17 O processo do sol-gel compreende as seguintes sete etapas principais: (i) hidrólise (ii) condensação (iii) gelatinização, (iv) envelhecimento, (v) lavagem, (vi) a secagem, e (vii) a estabilização. O processo sol-gel tem sido principalmente empregado para sintetizar materiais cerâmicos e vítreos. A figura 5 apresenta um esquema em que mostra a versatilidade do processo sol-gel. Figura 5. Esquema do processo sol-gel. Fonte: BINI, 2009. A natureza química dos precursores selecionados determina as reações envolvidas no processamento de sol-gel, os aditivos necessários (solventes, reagentes, catalisadores), e as condições necessárias para controlar as propriedades de um sólido poroso (pH, tempo de reação, a concentração, temperatura de secagem). A escolha da estratégia química depende da possibilidade de controlar as taxas de hidrólise / condensação que determinam a textura de materiais, custo / disponibilidade dos precursores correspondentes e a sua facilidade de manuseio. Portanto, o processo sol-gel nos permite preparar materiais com estruturas distintas, a partir do controle da cinética da transformação, projetando materiais com 18 propriedades peculiares e obtendo informações sobre o mecanismo das reações (BINI, 2009) A utilização do processo sol-gel para a síntese de HAP tornou-se objeto importante de pesquisa que consiste em um método químico por via úmida que dispensa a utilização de alto vácuo e temperaturas elevadas, sendo considerada uma das técnicas mais flexível e promissora. SANOSH et al. 2008, prepararam e caracterizaram pós de nano HAP, tendo como reagentes nitrato de cálcio, ácido fosfórico, água destilada e amônia para ajuste do pH. O gel de HAP foi seco e calcinado em diferentes temperaturas entre 200 e 800°C. Os difratogramas de pó de HAP calcinado em temperaturas até 600°C apresentaram apenas picos de HAP, enquanto os resultados dos pós tratados termicamente a 700 e 800°C apresentaram picos principalmente de HAP, com picos menos intensos de CaO. NORHIDAYU e colaboradores (2008), utilizaram soluções de amônia, EDTA, Ca(NO3)2.4H2O, (NH4)2HPO4 e uréia como matérias-primas da HAP e solução de Zn(NO3)2.6H2O, como dopante nas concentrações de 2, 5, 10, e 15% em mol. As temperaturas de calcinação variaram entre 500 - 900ºC. Como resultados foram obtidos pós com alta pureza. O pó altamente cristalino foi obtido numa temperatura de calcinação acima de 700ºC. Além disso, análise FTIR mostrou que com o aumento da dopagem com zinco a intensidade da banda de HPO 4 aumentou enquanto que a banda de OH diminuiu. Partículas individuais tornam-se maiores com o aumento temperatura de calcinação. BAKAN e seus colaboradores (2012), propuseram um novo método, em temperatura ambiente para a síntese de partículas nanométricas de HAP pura usando Ca(NO3)2.4H2O e NH4H2PO4 como precursores de cálcio e fósforo, respectivamente. As vantagens desta nova técnica sobre estudos anteriores, segundo os autores é a realização da reação à temperatura ambiente; a obtenção da formação do gel, sem qualquer dispersante; e formação de partículas nanométricas de HAP sem usar nenhum processo de moagem. KAYGILI e seus colaboradores (2012), prepararam biocerâmicas a partir de HAP com alto teor de Mg utilizando o método sol-gel. A influência do magnésio na composição da fase, a estrutura cristalina, propriedades elétricas, a estrutura 19 química e as características morfológicas do pó foram analisada por difração de raios X (DRX), espectrometria no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) e microscopia eletrônica de varredura (MEV). Propriedades dielétricas das biocerâmicas foram investigadas através do método de espectrometria de impedância dielétrica. Foi observado que o grau de cristalização para todas as amostras foi dramaticamente reduzida com o aumento do teor de Mg. O tamanho médio de cristalito das amostras variaram de 32 - 42 nm. As propriedades de morfologia, de densidade e dielétricas das biocerâmicas foram modificados com a adição da quantidade de magnésio. 3.2.3 Aplicação A HAP é um material cerâmico muito versátil quanto a sua aplicação. Vários estudos já foram e estão sendo realizados quanto à utilização da hidroxiapatita. A Tabela 4 apresenta algumas patentes relacionadas a esta variedade de aplicações. Tabela 4. Aplicações da hidroxiapatita referentes ao período de Julho de 2012 a Maio de 2013. (continuação) Patente Título Aplicação Síntese de um gel injetável multifásicas contendo ácido hialurónico WO/2013/053457 monofásico reticulado, ácido hialurónico bifásico combinado com hidroxiapatita e um inibidor da hialuronidase O gel pode ser utilizado para o preenchimento de rugas e restaurar o volume para o rosto e corpo, ou como um substituto do tecido ósseo. microencapsulado. 20 Tabela 4. Aplicações da hidroxiapatita referentes ao período de Julho de 2012 a Maio de 2013. (continuação) Patente Título Aplicação A WO/2013/068495 Composição para o uso no tratamento de dentes utilizada US20120232314 de no pode tratamento ser de dentes, para a manutenção ou reparação do esmalte do dente. Conversão de butanol a um O produto composição catalisador a base de reação 2-etil- hidroxiapatita modificada com hexanol utilizando Mg, Sr e Ba foi utilizado para catalisadores a base de produzir 2-etil-hexanol a partir hidroxiapatita de butanol. Refere-se a um agente de bioadesivo para a adesão entre Agente 20130078291 bioadesivo o osso tais como, o osso e o compreendendo superfície tecido, osso e cartilagem ou modificada hidroxiapatita e osso e tendões, ou para a uso adesão de uma blindagem entre os ossos ou de uma articulação Nano partículas de macronutrientes adsorvidas em Uma composição de macronutrientes a base de 2576485 celulose controlada com para como fertilizantes. liberação aplicação hidroxiapatita são encapsulados no interior de cavidades presentes na madeira de tal modo que a biodegradação da madeira, libera os compostos de macronutrientes adsorvidas de uma forma lenta e constante ao solo. 21 Tabela 4. Aplicações da hidroxiapatita referentes ao período de Julho de 2012 a Maio de 2013. (conclusão) Patente Título Aplicação Fotocatalisador obtido por uma dopagem da titânio- Fotocatalisadores e processo hidroxiapatita com prata, com WO/2013/099006 para preparar um fotocatalisador obtido por fotocatalisadores. substituição parte de do pelo menos cálcio da hidroxiapatita. Crescimento 2600911 inibido de hidroxiapatita, processo para sua preparação e utilização A invenção refere-se a uma inibição do crescimento de hidroxiapatite para melhorar a cicatrização do osso. Uma hidroxiapatita de titânio Compósito de hidroxiapatita porosa (HA) e de um composto porosa com titânio e um do mesmo método de fabricação capaz fabricação KR1020120073647 de evitar camada (HA) esfoliação de de fornecido para da prevenir a morte celular e para revestimento permitir a proliferação celular tendo compatibilidade é método bio eficiente e a fixação das células por sinterização e lixiviação da hidroxiapatita de titânio. Dentre todas as aplicações citadas na literatura para aplicação da HAP, uma aplicação que é pouco citada na literatura é a utilização da HAP na área de catálise, sabendo-se que ela pode ser utilizada como suporte para catalisadores heterogêneos e possuir uma forma de obtenção natural e sintética simples. Uma maneira de produzir um catalisador tendo a HAP como suporte é a modificação por troca iônica em solução salina ou em estado sólido. Na troca iônica 22 em solução salina a substituição dos cátions de um sólido por um metal de interesse, é realizada por meio de uma solução na qual está presente o sal do metal desejado. O procedimento da troca iônica em estado sólido é muito simples, consistindo basicamente da mistura mecânica do suporte e do sal do metal a ser introduzido e condução de um tratamento térmico sob ar, gás inerte ou vácuo. Este método de incorporação de metais tem se tornado mais frequente, pois possuem algumas vantagens em relação ao método de troca por solução salina, tais como: não requer manuseio de grandes volumes de soluções; eliminando assim os problemas de descarte das mesmas; e promove a introdução de cátions metálicos em posições onde, muitas vezes, não seria possível caso a troca fosse por via salina (PIRES, 1999). 3.4 Catálise heterogênea Catalisador é uma substância capaz de, mesmo presente em pequenas quantidades, aumentar a velocidade com que uma reação química se aproxima do equilíbrio, sem ser consumido no processo e sem alterar o estado de equilíbrio do sistema. Como características desejáveis, um catalisador comercial deve ser ativo, seletivo, estável em relação às condições térmicas do processo e à natureza do substrato, suficientemente resistente ao atrito, pouco friável, possuir atividade longa e se, por qualquer fenômeno, perdê-la, ser possível restaurá-la ao nível inicial, economicamente, por meio de uma reação química facilmente praticável (CIOLA, 1981). Na indústria são utilizados dois tipos de catalisadores, homogêneos e heterogêneos, os catalisadores heterogêneos podem ser mássicos com uma única fase ativa (óxidos, óxidos mistos, zeólitas, e materiais nanoestruturados) suportados e aglomerados (SCHMAL, 2011). Os catalisadores suportados apresentam duas fases, sendo uma fase o suporte e a outra o material ativo, nestes sistemas a fase ativa é dispersa em um suporte de elevada porosidade e resistência mecânica, 23 podendo ser ativo ou inativo do ponto de vista catalítico. A função do suporte é servir de base ou estrutura para o material ativo devendo apresentar propriedades constantes e estáveis e acima de tudo de baixo custo (CIOLA, 1981; SCHMAL, 2011). Como mostra a Figura 6, existem vários métodos de preparação dos catalisadores suportados que variam de acordo com o tipo de suporte, estes suportes podem ser naturais ou sintéticos. Suporte não pré-formado Precipitação ou coprecipitação Suporte pré-formado Troca iônica salina ou Troca iônica em estado sólido Impregnação seca ou impregnação úmida Envelhecimento, lavagem, filtração e secagem/ Transformações térmicas e hidrotérmicas Calcinação Redução Ativação Figura 6. Fluxograma dos tipos de preparação de catalisadores heterogêneos suportados. Fonte. Adaptado de SCHMAL, 2011. Os catalisadores suportados são aplicados em um grande número de reação, tais como: reações de hidrogenação (SUN, et al., 2009; BENNETT et al., 2010; NUNES; FRANCA; OLIVEIRA, 2009), hidrogenólise (YUAN et al., 2010; HUANG et al., 2012;), transesterificação (LAM et al., 2010; WANG et al., 2010; LI et al., 2011; ILGEN, 2011; YIN, 2012; BORGES; DÍAZ, 2012; DEHKORDI; GHASEMI, 2012) e esterificação (BHORODWAJ; DUTTA, 2011; PARREIRA et al., 2011; KIM et al., 2011). 24 Os catalisadores suportados têm grande destaque na indústria por possuírem menor custo de produção, uma vez que possibilitam a utilização de suportes oriundos de resíduos agropecuários, tais como: carvões ativados, oriundo de cascas e/ou sementes de frutas; casca de ovo e carcaça bovina, sendo esta última a matéria –prima proposta neste trabalho. A modificação de catalisadores com o óxido de zinco é sugerido por alguns pesquisadores (JIANG et al., 2010; CORRO; PAL; TELLEZ, 2012) para ser utilizado como centro ativo em catalisadores heterogêneos aplicados na indústria de biodiesel pelas suas características ácido - base adequadas às reações de interesse desta. 3.5 Produção de biodiesel O biodiesel tem chamado atenção devido à preocupação ambiental e à diminuição na demanda dos combustíveis fosseis (KONTOMINAS et al., 2009). A produção de biodiesel baseia-se na reação entre um triglicerídeo e um álcool de cadeia curta na presença de um catalisador homogêneo que pode ser ácido (H 2SO4) ou básico (NaOH, KOH ou metóxidos de metais alcalinos)(Figura 7). A tecnologia dominante na indústria para a produção de biodiesel é a transesterificação empregando a catálise alcalina homogênea. Esse tipo de catálise, contudo, apresenta uma série de inconvenientes, tais como a necessidade de matérias-primas refinadas, a sensibilidade à umidade, a geração de efluentes decorrentes das etapas de neutralização e purificação do biodiesel e da glicerina (CORDEIRO et al., 2011). Uma opção tecnológica a esta processo, seria a utilização de catalisadores homogêneos ácidos, tais como os ácidos inorgânicos, no entanto, além destes catalisadores serem mais corrosivos e menos eficientes que os alcalinos, apresentam as mesmas desvantagens associadas ao uso da catálise homogênea, ou seja, necessitam de etapas de neutralização e lavagem para separação do catalisador e purificação dos produtos (JASEN; MARCHETTI, 2012). 25 Tendo em vista as desvantagens citadas acima, uma alternativa tecnológica interessante é a utilização de catalisadores heterogêneos ácidos, pois são facilmente separados do meio reacional, permitem a utilização de matérias-primas com alto teor de ácidos graxos livres, não precisam da etapa de neutralização e purificação do produto, e podem ser reutilizados (CHEN et al., 2008; PARK et al., 2010; BORGES; DÍAS, 2012; ISLAM et al., 2012) Figura 7. Reação de transesterificação de um óleo vegetal com metanol. Fonte. Endalew et al., 2011. Além das desvantagens inerentes à catalise homogênea discutidas, um outro ponto relevante é que a tecnologia dominante exige, como já dito, o uso de matériasprimas com alta pureza ( teor de ácidos graxos livre < 0,5% e de umidade < 1%) o que representa uma parcela significativa do custo de produção industrial de biodiesel. Diante disso, a reação de esterificação tem despertado a atenção como uma alternativa à tecnologia atual, uma vez que permite o uso de matérias-primas menos onerosas contendo teores de ácidos graxos livres que variam de 3 – 90%. A reação de esterificação consiste na formação de ésteres através da reação de ácidos graxos na presença de um álcool de cadeia curta e pode ser catalisada por catalisadores ácidos de Brosnted ou de Lewis (CARDOSO; NEVES; SILVA, 2008), como mostrado na Figura 8. 26 Figura 8. Reação de esterificação. Industrialmente a reação de esterificação pode ser utilizada a) isoladamente caso o teor de ácidos graxos livres na matéria-prima seja bastante elevado (> 90%); b) como uma pré-etapa da transesterificação como forma de reduzir os teores de ácidos graxos livres aos níveis exigidos pela transesterificação alcalina homogênea, aumentando o rendimento da reação e possibilitando a utilização de matérias-primas de menor custo (LÓPEZ et al., 2008); c) simultaneamente à transesterificação, o que exige catalisadores com propriedades ácido - base adequadas (MARCHETTI; ERRAZU, 2008) ou ainda d) como uma segunda etapa do processo de hidroesterificação que consiste na hidrólise de triglicerídeos seguida da esterificação dos ácidos graxos livres para a formação de ésteres (SOUSA et al., 2010). Dentre as tecnologias citadas as opções “a” e b” são as mais comuns. No intuito de tentar minimizar os problemas associados catálise homogênea e reduzir o custo de produção do biodiesel, neste trabalho foi desenvolvido um catalisador heterogêneo ácido com o objetivo de aplicá-lo em reações de esterificação na indústria de biodiesel. 27 4 METODOLOGIA 4.1 Síntese dos catalisadores 4.1.1 Reagentes Carcaça bovina Nitrato de zinco hexahidratado - Zn(NO3)2.6H2O (Sigma Aldrich ≥99,0%) Metanol – CH3OH (F. Maia 99,8%) Hidróxido de cálcio – Ca(OH)2 (F. Maia ≥ 96,0%) Ácido fosfórico – H3PO4 (F. Maia 85,0%) Nitrato de cálcio – Ca(NO3)2. 4H2O (Sigma Aldrich ≥99,0%) 4.5.2 Procedimento da síntese dos catalisadores 4.5.2.1 Limpeza dos ossos e obtenção da HAP por tratamento térmico. A limpeza dos ossos seguiu o método proposto por Silva et al.(2011) com modificações no qual, os ossos foram cortados em pedaços pequenos, para facilitar a limpeza interna dos mesmos, já que estes foram submetidos a um tratamento com água destilada em ebulição até a remoção dos tecidos moles e gordurosos da estrutura do osso. Em seguida, os ossos já limpos e secos foram levados a um forno tipo mufla a uma temperatura de 550ºC por 2h, com taxa de aquecimento de 0,5ºC/ min. e em seguida esta temperatura foi elevada a 900ºC, com taxa de aquecimento 28 de 5ºC/ min. com tempo de permanência de 1hora para a remoção dos compostos orgânicos. O pó de osso calcinado foi obtido através da moagem manual em um almofariz de porcelana e para conseguir um tamanho mais homogêneo dos grãos. Por fim, o pó obtido foi lavado com água para a remoção das cinzas, na sequência foi lavado com metanol por 5horas em extrator Soxhlet para a remoção das espécies fracamente ligadas ao sólido, com o intuito de evitar a possível lixiviação de espécies ativas para o meio reacional. Por fim, o material foi seco a 120°C por 1hora e armazenado adequadamente. Este catalisador foi denominado como HAP. A Figura 9 resume as etapas descritas acima. Carcaça bovina Limpeza Retirada do material orgânico Sinterização Moagem Pó de hidroxiapatita (HAP) HAP Lavagem com H2O Lavagem com CH3OH Secagem por 1h a 120°C Figura 9 – Fluxograma da metodologia para limpeza do osso. 29 4.5.2.2 Síntese pelo método de precipitação A síntese da HAP foi realizada pelo método de precipitação (AFSHAR, et al. 2003), no qual envolveu a formação inicial de uma quantidade apropriada de suspensão de hidróxido de cálcio 0,5 M, usando o pó de hidróxido de cálcio como material de partida. A suspensão foi vigorosamente agitada e aquecida durante 1 h antes da adição de solução de ácido sendo mantida numa temperatura de 40°C. A solução de ácido fosfórico 0,3 M foi adicionada com uma taxa de 1-2 gotas por segundo, sob agitação, até a formação de um precipitado gelatinoso. O precipitado obtido foi deixado na solução mãe por 12h. Após a decantação o precipitado foi lavado, filtrado e seco em estufa a 80°C por 12h. Em seguida, foi macerado e o pó levado a um forno tipo mufla a uma temperatura de 600ºC por 1h. . Este catalisador foi denominado como HAPPPT. A Figura 10 resume as etapas descritas acima. Solução de H3PO4 0,3 M Gotejamento e agitação Solução de Ca(OH)2 0,5 M * Formação do precipitado Repouso por 12h em Filtração temperatura ambiente Secagem a 80°C por 12h HAPPPT Calcinação a 600°C por 1h Lavagem com metanol Figura 10 – Fluxograma da síntese por precipitação. *Solução obtida através da agitação vigorosa da suspensão de Ca(OH)2 em água por 1h a 40°C. 30 4.5.2.3 Síntese pelo processo sol-gel A síntese da HAP foi realizada pelo método sol-gel (SANTOS, et al. 2005) utilizando como precursores para a obtenção do sol de HAP, o Ca(NO 3)2.4H2O e o H3PO4 em metanol obedecendo a razão molar Ca:P igual a 1,67. O ajuste da concentração do sol efetuou-se com metanol. Agitou-se o sol obtido fortemente por 30 minutos, para obtenção de uma solução transparente que em seguida foi envelhecida em temperatura ambiente por 24h antes de secar. Os solventes foram eliminados a 80°C até que um líquido branco e viscoso fosse obtido e uma secagem posterior a 100°C por 12h resultou em um gel branco. O gel foi moído em um pilão e almofariz até a obtenção de um pó fino e em seguida, o pó foi levado a um forno tipo mufla a uma temperatura de 600ºC por 1h. Este catalisador foi denominado com HAPPSG. A Figura 11 resume as etapas descritas acima. Solução metanólica de Ca(NO3)2.4H2O Agitação vigorosa por 30 min. Solução metanólica de H3PO4 Evaporação do solvente Envelhecimento por 24h em temperatura ambiente Secagem a 100°C por 12h HAPPSG Calcinação a 600°C por 1h Lavagem com metanol Figura 11 – Fluxograma da síntese pelo método sol-gel. 31 4.5.2.4 Modificação da hidroxiapatita com Zn2+ pelo método de troca iônica em estado sólido A modificação dos catalisadores de HAP foi realizada pelo método de troca iônica em estado sólido (NASSAR; SERRA, 1998). Tipicamente, 25g de HAP e 22,91g de Zn(NO3)2.6H2O (razão molar HAP:Zn2+ 80:20) foram colocados em um almofariz de porcelana e macerados por 1h até a homogeneização dos sólidos. Após este período, o sólido foi colocado para secar num forno tipo mufla com taxa de aquecimento de 5°C/min. até o patamar de 120°C e mantido por 24horas. Após a secagem o sólido resultante foi calcinado por 1hora a uma temperatura de 600°C. Para remover as espécies que ficaram fracamente ligadas à estrutura da HAP, uma parte do sólido sintetizado foi pré-lixiviado com metanol por 5h no extrator soxhlet. Esses catalisadores foram denominados de Zn2+_HAP/ Zn2+_HAPPPT/ Zn2+_HAPPSG. A Figura 12 resume as etapas descritas acima. HAP/ HAPPPT/ HAPPSG Maceração por 1h Zn(NO3)2.6H2O Calcinação por 1h a 600°C Secagem a 120°C por 24h Zn2+_HAP/ Zn2+_HAPPPT/ Zn2+_HAPPSG Figura 12 – Fluxograma da síntese pela reação em estado sólido. 32 4.2 Caracterização físico-química dos materiais 4.2.1 Termogravimetria A Termogravimetria é utilizada para avaliação da perda de massa dos compostos com o aumento da temperatura, avaliando assim a estabilidade térmica dos materiais. As análises de TGA-DTA foram conduzidas em equipamento da Schimadzu DTG - 60/60H. As amostras dos sólidos foram aquecidas a taxa de 40°C.min-1, da temperatura ambiente até 900°C, em fluxo de nitrogênio a 50 mL min -1, empregando porta-amostras de alumina. 4.2.2 Espectrometria na região do infravermelho A utilização da técnica de espectrometria na região do infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) pode ser usada para identificar um composto ou investigar a composição de uma amostra. Esta técnica serviu para confirmação dos grupos químicos presentes nos materiais. Os espectros na região do infravermelho foram obtidos com um espectrofotômetro Perkin Elmer, modelo Spectrum Two™, com faixa de 4000 a 450cm-1 e uma resolução de 4cm-1. As amostras foram preparadas na forma de pastilha de KBr com uma proporção de 1% do sólido. 33 4.2.3 Difração de Raios – X A difração de raios - X (DRX) é o principal método usado para identificar as fases cristalinas presentes e possíveis modificações estruturais e morfológicas (SANTOS, 2012). O difratograma de Raios X foi obtido em um difratômetro, marca Siemens, modelo D5000, utilizando como fonte de radiação o CuKα (1,537 Å). A região analisada foi de 2θ = 5 a 80°, em uma velocidade de 4°. s-1. 4.2.4 Adsorção e dessorção de N2 A análise de área superficial e porosidade pela técnica BET se baseia nas propriedades de adsorção física de moléculas do gás nitrogênio numa superfície sólida e serve como base importante para a medição da superfície específica do material. A determinação da área específica é de grande importância na avaliação do comportamento de catalisadores pois, uma diminuição na atividade de um catalisador pode, ter origem numa diminuição da área específica e, portanto, no número de centros ativos disponíveis (por exemplo, devido a funcionamento a elevada temperatura) e não numa alteração da sua atividade específica (CONSTANTINO, 2009) As isotermas de adsorção-dessorção de nitrogênio foram obtidas a 77K usando um aparelho Micrometrics ASAP 2420. A amostra foi previamente tratada a 450 °C, em seguida submetida a fluxo de nitrogênio, por 11h. O diâmetro médio de poro bem como a distribuição de tamanho de poros foi calculado a partir da isoterma de adsorção de nitrogênio usando o método BJH (Barret, Joyner, Halenda) para sólidos mesoporosos. A área específica foi calculada usando a equação BET (Brunauer–Emmett–Teller) na região de baixa pressão (p/po= 0,200). 34 4.2.5 Teste de acidez O teste de acidez do catalisador foi conduzido segundo BRUM et al. (2011) em que o número de sítios ácidos de Bronsted disponíveis foi determinado por titulação. Para isso, 100 mg do material foram deixados em contato com 20 mL de NaOH 0,1 mol L-11, por 3 h, sob leve agitação. Após esse período, foram retiradas alíquotas da solução básica que foram tituladas com HCl 0,1 mol.L -11, para se verificar a quantidade de NaOH que reagiu com o material. A acidez foi determinada em mmol de H+ por grama de material. 4.3 Avaliação catalítica 4.3.1 Reagentes Ácido oléico (C18H34O2) (VETEC) Álcool metílico (CH3OH) (F. Maia 99, 8%) Hidróxido de sódio (NaOH) (F. Maia 97%) Álcool butílico (C4H9OH) (VETEC 99,7%) 4.3.2. Avaliação dos materiais frente à esterificação do ácido oléico com metanol A atividade catalítica dos materiais foi avaliada frente à reação de esterificação do ácido oléico (molécula modelo) com metanol, em um reator Parr® de 300 mL tendo como condições reacionais: razão molar álcool/ ácido 20:1, 10%m/m do catalisador em relação à massa de ácido oléico, temperatura 150°C durante 3h. Antes de iniciar a reação, o catalisador foi ativado a 400°C por 1h com o intuito de 35 desobstruir os poros do material e consequentemente aumentar a área de contato do catalisador com os reagentes. Após as reações, a acidez remanescente foi determina utilizando um titulador potenciométrico modelo 798 MPT Titrino da Metrohm. A conversão em ésteres foi calculada com base na redução de acidez. Metanol Ácido oléico Reação de 3h a Determinação 50°C da acidez Catalisador (10%m/m) Figura 13. Fluxograma das etapas da avaliação catalítica. 4.3.3 Avaliação da estabilidade dos sólidos frente à lixiviação A avaliação da estabilidade do catalisador frente à lixiviação visa Investigar a probabilidade de haver lixiviação dos metais presentes nos catalisadores para o meio reacional, aspecto indesejável e passível de ocorrer em catálise heterogênea. Com este objetivo, foram realizadas reações conforme as condições descritas no item 4.2.2, sendo que após 10min. de reação o catalisador foi filtrado a quente, e o filtrado foi posto para reagir por mais 2h50. A conversão do ácido oléico em éster 36 foi monitorada com a retirada de alíquotas com 20min., 30min., 60min, 120min. e 180min. de reação, seguida de titulação. Uma reação contendo o catalisador e outra sem catalisador (branco) foram conduzidas paralelamente para fins de comparação (CRUZ, 2001). 37 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO O trabalho foi dividido em três fases, a primeira fase foi a obtenção dos pós de hidroxiapatita tendo como matéria-prima o osso bovino e de maneira sintética pelos métodos de precipitação e sol-gel, a segunda fase a modificação da hidroxiapatita com 20% de zinco e a terceira fase a caracterização dos pós e avaliação catalítica. Para a preparação do catalisador em estudo, testes preliminares foram realizados para avaliar a capacidade de utilização da HAP oriunda de resíduos de carcaça bovinos e das HAP sintetizadas como suporte para catalisador heterogêneo. Foram realizadas reações de esterificação utilizando matéria prima disponibilizada por uma graxaria da região, entretanto a amostra continha grande quantidade de cinzas, resultante da calcinação das carcaças em fornos à lenha (Figura 14a). Estas cinzas, por seu caráter básico, influenciaram negativamente na reação de esterificação. Este fato foi comprovado com a realização de uma reação de transesterificação do óleo de dendê com etanol usando este material como catalisador e a mesma apresentou conversão de 86,0% em ésteres metílicos. Os resultados acima expostos motivaram o abandono destas amostras doadas e então foram coletadas amostras em frigoríficos da cidade de Itabuna, as quais foram submetidas ao tratamento térmico descrito na seção 4.1.2.1. a) b) Figura 14. (a) matéria-prima doada; (b) hidroxiapatita obtida pela calcinação do osso em laboratório. 38 5.1 Limpeza dos ossos e obtenção da HAP por tratamento térmico A Figura 15 mostra o produto final da limpeza do osso bovino. Foi possível observar que foi obtido um pó fino branco e com características homogêneas, sendo este mais adequado para a reação de esterificação. a) b) c) a c b ) ) ) Figura 15. a) osso bovino; b) osso bovino calcinado e; c) pó de HAP. 5.2 Sínteses dos sólidos pelo método de precipitação e processo sol-gel Para a obtenção dos pós de HAP de maneira sintética optou-se por métodos com baixo custo, e com reagentes que não formassem subprodutos de difícil eliminação. Os métodos de síntese escolhidos foram por precipitação e sol-gel. A HAP foi obtida por precipitação a partir da reação do ácido fosfórico, em solução com uma suspensão de hidróxido de cálcio, estes reagentes proporcionaram a obtenção de um produto com alto teor de pureza visto que, são obtidos apenas HAP e água, conforme a reação abaixo. (5) 39 A temperatura influencia diretamente o tamanho da partícula e a morfologia. A temperatura escolhida para a síntese foi 40°C o que segundo Santos (2012), é uma temperatura ideal para se obter HAP com fase mineral semelhante ao osso. A adição de 1-2 gotas por segundo de H3PO4 à solução de Ca(OH)2 e a utilização de soluções diluídas foram necessárias para melhorar a homogeneidade química e a estequiometria dentro do sistema. O pH da síntese foi mantido em 9 com a adição de NH4OH, pois o pH da síntese está diretamente relacionado a razão molar Ca/P, cristalinidade da HAP. Segundo Dorozhkin (2009) HAP sintetizadas em meio ácido possuem uma baixa razão molar Ca/P caracterizando uma apatita deficiente de cálcio, enquanto que a HAP sintetizada em meio básico favorece a alta cristalinidade. O segundo método de síntese escolhido foi o processo sol-gel por permitir uma mistura a nível molecular dos íons cálcio e fósforo sendo capaz de melhorar a homogeneidade química e física resultando em uma granulação mais fina da HAP (Bezzi et al., 2003). Neste caso, os precursores mais indicados foram o ácido fosfórico e o nitrato de cálcio que são solúveis em álcool e água, minimizando os problemas de elevada volatilidade e baixa reatividade dos precursores quando da utilização do trietil fosfato (COSTA et al., 2009). Com esses precursores obtivemos apenas a água como subproduto da reação assim como na síntese pelo método de precipitação. 5.3 Modificação da hidroxiapatita por reação em estado sólido Neste trabalho a modificação da HAP aconteceu pela substituição dos íons Ca2+ na estrutura do HAP por Zn2+. Ao incorporar íons Zn2+ na rede da HAP, pretendeu-se obter HAP deficiente em cálcio, uma vez que os íons Ca 2+ são substituídos por íons Zn2+, de modo a verificar-se a razão molar (Ca+Zn)/P de 1,67, característica da HAP (MOURA, 2012). Esta substituição foi realizada por troca iônica em estado sólido, este método de síntese foi escolhido por proporcionar a preparação de materiais mais homogêneos, 40 apresentar boa reprodutibilidade, ser simples e possibilitar um melhor controle da composição estequiométrica dos materiais (ARAÚJO et.al., 2007). Dentre as mais diversas técnicas de caracterização utilizadas para materiais, as mais utilizadas para caracterizar a hidroxiapatita são: Termogravimetria (TG), Difração de raios X (DRX), Espectrometria na região do infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) e Adsorção e dessorção de nitrogênio (BET). 5.4 Caracterização físico-química dos materiais 5.4.1 Análise Térmica Diversas mudanças ocorrem na estrutura e estequiometria da HAP quando sujeita a tratamentos térmicos. O aquecimento a temperaturas menores de 250°C induz à perda de água fisicamente adsorvida. Em temperaturas entre 250 - 400 °C, a água de cristalização e íons de impureza de HPO 4-2 são perdidos. Na faixa de temperatura entre 400 - 850 °C, os íons de CO3-2 do tipo A que substituem os íons de - OH na rede da HAP do tipo B que substituem os íons de PO4-3, são perdidos. Nas temperaturas acima de 850 °C ocorre a desidratação da HAP, com a perda de água constituicional (DOURADO, 2006). Nas Figuras 16 e 17 são mostrados os resultados da análise termogravimétrica (TG) dos sólidos HAPPPT e HAPPSG, respectivamente. 41 Figura 16. TG (-) e DTA(-) da amostra HAPPPT. Como pode ser visto na Figura 16 a amostra HAPPPT teve duas etapas de perda de massa; a primeira etapa de 35 a 425°C é atribuída à evaporação de água adsorvida na superfície e nos poros do material (GOPI et al. 2012; BAKAN; LAÇİN; SARAC, 2012) e a segunda etapa de 425 a 900°C está relacionada à perda de carbonato da amostra (DOURADO, 2006), visto que, as amostras apresentam uma pequena quantidade de carbonato em decorrência do processo de síntese o qual não ocorreu com o controle da atmosfera. Este fato é confirmado pelo FTIR no qual aparecem bandas características dos íons carbonato. Entretanto, não podemos quantificar o carbonato presente nas amostras. 42 Figura 17. TG (-) e DTA(-) da amostra HAPPSG. Na Figura 17, pode-se observar que existem três principais regiões onde as mudanças estão ocorrendo: a primeira é a perda inicial em ≈ 100°C, correspondente a evaporação da água superficial (BEZZI et al. 2003; SANTOS et al. 2005; VÁZQUEZ; BARBA; MUNGUÍA, 2005). A segunda perda de massa é entre ≈ 380– 500°C referente a perda de NOx (SANTOS et al. 2005). A perda de massa acima de 580°C deve-se provavelmente à maior cristalinidade da HAP e a perda do carbonato. Os materiais obtidos por métodos de sínteses diferentes mostraram-se estáveis numa temperatura superior a 600°C o que condiz com a literatura (BEZZI et al. 2003; SANTOS et al. 2005; VÁZQUEZ; BARBA; MUNGUÍA, 2005; GOPI et al. 2012; BAKAN; LAÇİN; SARAC, 2012), visto que, com base nos precursores escolhidos para as sínteses, apenas a água era tida como subproduto das reações, sendo esta responsável da primeira perda de massa nas duas sínteses. 43 5.4.2 Espectrometria na região do infravermelho A Figura 18 mostra os espectros na região do infravermelho obtidos para as amostras de HAP, Zn2+_HAP, HAPPSG, Zn2+_HAPPSG, HAPPPT e Zn2+_HAPPPT, podese verificar que todas as amostras possuem os grupos característicos da HAP. Em uma primeira observação percebe-se uma grande similaridade do conjunto de bandas em todos os espectros. A presença do grupo fosfato PO43- é confirmada pelos modos de estiramento assimétrico do P-O em numa faixa de 1043 -1098 cm-1 e do modo de estiramento simétrico em 963 cm-1, o modo do grupo O-P-O foi observado em 568 cm-1 no modo de deformação angular assimétrica (ARAÚJO et al. 2007; SILVA, 2006). As bandas típicas da vibração, e de estiramento O-H do grupo OH da hidroxiapatita, respectivamente, 3577cm-1 e 632cm-1. Uma indicação da presença de impurezas de carbonatos CO32- são os picos de 1407cm-1 e 1454cm-1, que são de intensidade bem reduzida, sugerindo uma amostra com apatita levemente carbonatada (BARAKAT et al., 2009). 2+ Zn _HAPPSG HAPPSG 2+ Zn _HAPPPT HAPPPT Zn2+_HAP HAP 2+ Figura 18. Espectros de absorção na região do infravermelho das HAP pura, Zn _HAP, 2+ 2+ HAPPPT, Zn _HAPPPT, HAPPSG e Zn _HAPPSG. 44 A Tabela 5 mostra um resumo dos números de onda característicos da hidroxiapatita encontrados nas amostras. Tabela 5. Descrição das bandas de absorção em destaque na Figura 18. Número de onda (cm-1) Grupo característico 3577 Moléculas de água estruturais ou absorvidas 2361 Deformação axial da ligação C=O 1454 Deformação axial da ligação C=O 1407 Deformação axial da ligação C=O 1098 Estiramento assimétrico P-O 1043 Estiramento assimétrico P-O 963 Estiramento simétrico de P-O 632 Estiramento OH 568 Deformação angular assimétrica O-P-O A presença de zinco na estrutura da hidroxiapatita geralmente diminui a intensidade das bandas dos grupos funcionais do carbonato, como pode ser comprovado pela Figura 18. Segundo Brito (2011), a diminuição das bandas do carbonato geralmente está relacionada com o aumento do tamanho dos cristais de hidroxiapatita. Este resultado pode ser um indicativo de que a presença do zinco inibe a incorporação do carbonato na estruturada HAP. Esta mudança de intensidade relativa no estiramento O-H pode ser provocada pela diferença de polarização existente entre os cátions Zn2+ e Ca2+ gerando diferentes orientações dos grupos OH ocasionando uma retração local no espaço de ocupação deste grupo na rede cristalina durante o mecanismo de troca catiônica entre o átomo com maior raio, Ca2+ e outro de menor raio iônico, Zn2+ para coordenação VI para coordenação IV. 45 A presença de carbonato indica que as condições do tratamento térmico empregada no processo de calcinação não foram eficazes para a eliminação completa deste íon na estrutura da HAP. Este fato é confirmado pelo TG/DTA no qual mostra que a temperatura em que o sólido se mantém estável, no caso da HAPPPT é a partir de 900°C, enquanto que a da HAPPSG é a partir de 650°C. Entretanto as amostras foram calcinadas a 600°C temperatura a qual não eliminou por completo todos os carbonatos da estrutura da HAP. 5.4.3 Difração de Raios X A Figura 19 mostra os difratogramas de raios X das HAP, Zn2+_HAP, HAPPPT, Zn2+_HAPPPT HAPPSG e Zn2+_HAPPSG e os padrões de HAP e ZnO. A Tabela 6 mostra os picos característicos da HAP e do ZnO de acordo com as fichas JCPDS números 09-432 e 36-1451, respectivamente e os picos e as intensidades encontradas nas amostras dos materiais. A análise comparativa do difratograma padrão disponível no banco de dados JCPDS (ficha 9-432) verifica-se a presença de picos característicos da hidroxiapatita nas amostras. Dois grupos de reflexão de DRX podem ser usados para monitorar a formação da HAP; um em 2θ = 26,0° e o outro grupo está variando de 2θ = 31,8 ao 2θ = 32,9 e 39,8°. Entretanto, em HAP que possuem grupos carbonatos os valores de 2θ são 25,75°; 32,1° e 33,4°. Esta estrutura carbonatada pode ser comprovado pelos espectros de infravermelho onde foi possível verificar que grupos PO 43- foram substituídos por grupos CO32- levando a formação de HAP carbonatadas (BOIKO, 2009). 46 Figura 19. DRX das amostras. A amostra Zn2+_HAP apresentou o difratograma com uma disposição dos picos levemente deslocados em relação à HAP padrão, além de uma única fase cristalina no material, indicando a dispersão do zinco na rede da HAP. A modificação da hidroxiapatita com zinco não alterou significativamente a estrutura da HAP, pois segundo CHASSOT (2001) existem três possibilidades de inserção do zinco na rede da hidroxiapatita: a) o Zn nos intertísios entre dois OH, b) Zn em substituição do cálcio no sítio I e c) Zn em substituição do cálcio no sítio II, cabendo ressaltar que em nenhuma dessas hipóteses ocorre uma mudança significativa na estrutura da HAP pois, o raio iônico do zinco é menor do que o do cálcio, como pode ser viso na Tabela 4. 47 Entretanto, os difratogramas das amostras Zn2+_HAPPPT e Zn2+_HAPPSG apresentaram picos em 36,2° sendo este característico do ZnO, como pode ser visto na Figura 19. Diante disso, pode-se inferir que a modificação da estrutura da HAP com zinco não foi realizada na sua totalidade visto que existem ZnO cristalino dispersos na superfície dos sólidos. 48 Tabela 6. Alguns picos característicos de maior intensidade da HAP, ZnO (JCPDS) e das amostras HAP, Zn 2+_HAP, HAPPPT, Zn2+_HAPPPT HAPPSG e Zn2+_HAPPSG. 2θ / I % Amostra HAP (Ficha 09-432) 31,8 / 100 33,0 / 60 49,5 / 40 46,8 / 30 34,0 / 25 48,0 / 20 39,8 / 20 ZnO (Ficha 36-1451) 31,8 / 57 34,4 / 44 36,2 / 100 47,5 / 23 56,6 / 32 62,9 / 29 67,9 / 23 HAP 31,9 / 284 33,1 / 272 39,8 / 99 46,8 / 99 29,1 / 84,5 40,1/ 104 26,2 / 79 Zn _HAP 2+ 31,9 / 279 33 / 276 34,3 / 77 40,1 / 104 47,1 / 128 49,7 / 99 65,2 / 57 HAPPPT 26,1 / 69 31,8 / 148 32,9 / 87 34,1 / 63 39,8 / 40 49,8 / 58 - Zn _HAPPPT 2+ 25,7 / 72 31,9 / 294 32,8 / 107 34,4 / 133 36,4 / 269 56,4 / 94 62,9 / 74 HAPPSG 26,1 / 103 31,9 / 358 32,1 / 189 33,1 / 243 39,9 / 86 46,8 / 105 49,5 / 134 2+ 26,1 / 101 31,8 / 350 33,1 / 157 34,4 / 99 36,2 / 183 39,7 / 92 49,5 / 98 Zn _HAPPSG 5.4.4 Adsorção e Dessorção de Nitrogênio Os catalisadores apresentaram isotermas tipo III, como pode ser visto na Figura 20. 6 6 HAP - Zn 2+ Zn _HAP 5 Volume adsorvido (cm 3/g) Volume adsorvido (cm 3/g) HAP 4 3 2 1 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 5 4 3 2 1 0 0,0 1,0 0,2 0,4 0,6 P/Po Volume adsorvido (cm 3/g) Volume adsorvido (cm 3/g) 200 150 100 50 0,2 0,4 0,6 0,8 HAPppt - Zn 2+ Zn _HAP ppt 35 HAPppt 250 30 25 20 15 10 5 0 0,0 1,0 0,2 0,4 18 0,8 1,0 14 HAPpsg 15 Volume adsorvido (cm 3/g) Volume adsorvido (cm 3/g) 0,6 P/Po P/Po 12 9 6 3 0 0,0 1,0 40 300 0 0,0 0,8 P/Po 0,2 0,4 0,6 P/Po 0,8 1,0 HAP - Zn 2+ psg Zn _HAP psg 12 10 8 6 4 2 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 P/Po Figura 20. Isotermas de adsorção das amostras HAP, Zn2+_HAP, HAPPPT, Zn2+_HAPPPT HAPPSG e Zn2+_HAPPSG. A isoterma do tipo III É característica de sistemas onde as moléculas do adsorvato apresentam maior interação entre si do que com o sólido (ALLEN, 1997; SCHMAL, 2011). Nestas condições analisar a área superficial e a porosidade não têm qualquer sentido (AMGARTEN, 2006). 5.4.5 Teste de acidez Segundo FARIA; CÉSAR; SALIM, 2008, a HAP é um sólido que possui tanto sítios ácido de Lewis quanto o de Bronsted. A inserção do zinco na rede HAP oriunda de carcaça bovina aumentou o número de sítios ácidos de Lewis, pois ocorreu uma diminuição no número de sítios ácidos de Bronsted como pode ser comprovado na Tabela 7. Tabela 7. Acidez de Bronsted Sólido [H+] (mmol.L-1) HAP 1,20 Zn2+_HAP 0,48 HAPPPT 0,81 Zn2+_HAPPPT 1,02 HAPPSG 0,50 Zn2+_HAPPSG 1,21 Os catalisadores sintéticos não apresentaram este mesmo comportamento, uma hipótese para este resultado esta relacionada aos métodos de síntese dos sólidos os quais não favoreceram a inserção do zinco na rede da HAP favorecendo, assim, os sítios ácidos de Bronsted. Esta hipótese foi confirmada com o DRX o qual apontou presença de ZnO cristalino nas amostras. A Figura 21 representa um esquema desta substituição. 51 + Zn2+ Figura 21. Esquema da substituição do cálcio pelo zinco na estrutura da hidroxiapatita. Fonte. Adaptado de Tang et al., 2009. 5.5 Avaliação Catalítica Em um primeiro momento foi realizada a avaliação catalítica dos materiais a 70°C, entretanto nenhum dos catalisadores apresentou conversão do ácido oléico em ésteres metílicos. Uma alternativa a este problema foi o aumento da temperatura de reação, visto que, o aumento da temperatura acarreta em um aumento na energia cinética média das moléculas dos reagentes, catalisadores e dos produtos. Este aumento de temperatura é resultado de uma maior vibração média das moléculas, aumentando assim a probabilidade de colisões das moléculas. Com este aumento de colisões um maior número de moléculas irá se chocar e com isto aumenta-se a probabilidade destas moléculas atingirem a energia igual à energia de ativação, produzindo uma maior quantidade de produto em um menor tempo (CARDOSO; NEVES; SILVA, 2008). Uma seleção foi realizada com o objetivo de testar, em uma temperatura mais elevada, o catalisador de maior interesse para a indústria de biodiesel, ou seja, o de menor custo. E tendo em vista que no Brasil, só no primeiro trimestre de 2013 o IBGE registrou 8.134 abates bovinos gerando cerca de 1.902. 821 toneladas de 52 carcaça e sabendo-se que normalmente grande parte dessa carcaça bovina é destinada para produção de farinha de osso usada normalmente na produção de rações animais (IBGE, 2013) direcionamos a pesquisa para os catalisadores que foram produzidos a partir da hidroxiapatita obtida através da calcinação de osso bovino. Após a escolha dos catalisadores HAP e Zn2+_HAP as reações de esterificação foram realizadas seguindo o item 4.3.2 com a modificação na temperatura de 70°C para 150°C, esta temperatura foi selecionada após terem sido realizado testes nas temperaturas de 100°C e 120°C, porem, nestas temperaturas também não houve uma conversão satisfatória. Foi realizada uma reação denominada de branco com apenas ácido oléico e metanol para avaliar o índice de conversão destes reagentes, esta reação apresentou uma conversão em éster metílicos de 15%, ressaltando que se trata de uma reação auto-catalisada, este valor foi descontado de todas as reações. Os resultados para a reação de esterificação com metanol são mostrados na Tabela 8, a qual mostra o potencial do uso da carcaça como catalisador e como suportes para catalisadores heterogêneos. Um fato que também pode ser evidenciado nos resultados da Tabela 8 é a relação inversa entre a acidez de Bronsted e a atividade catalítica na reação de esterificação o que sugere que a reação em estudo é favorecida por sítios ácidos de Lewis. Este favorecimento deu-se pela substituição de alguns íons cálcio por zinco na estrutura da hidroxiapatita, aumentando assim, a acidez da HAP visto que o Zn2+ também é considerado um ácido de Lewis, consequentemente aumentando o conversão dos ácidos graxos em ésteres metílicos como mencionado na tabela 8. Tabela 8. Conversão em ésteres metílicos Catalisador Conversão(%)* [H+] (mmol.L-1) HAP 33,0 1,20 Zn2+_HAP 80,6 0,48 * Condições reacionais: Razão metanol/ácido oléico 20:1, 10% m/m de catalisador, 3h, 70 °C 53 Diante disso, segue uma proposta de esquema de reação de esterificação onde os sítios ácidos de Lewis são os preferenciais (Figura 22). R R O. .O. 2 .O.. 1 .. O .. R ...O . R R ..O.. .O. . 3 2 1 .. ..O.. O.. G .. O .. ..O.. + 2+ Zn R 3 ..O.. 2+ Zn H .. G G O + C ..O 3 R .. .. H O CH3 .. . ..O .O+ C ..O.. R3 2+ 2+ Zn H CH3 + G .O . .O. .. C ..O. . 2+ Zn - Diacilglicerol R3 .. O.. CH3 - H+ ..O. . CH3 C R3 Éster metílico Zn Figura 22. Representação do mecanismo de esterificação de ácidos graxos livres catalisadas por sítios ácidos de Lewis, onde, G constitui com o átomo de oxigênio o grupo abandonador. Fonte. Adaptado de SANTOS, 2013; CORDEIRO; SILVA; RAMOS et al., 2011. No mecanismo acima, as moléculas de ácidos graxos são adsorvidas na superfície do catalisador e, devido à interação ácido-base entre o par de elétrons do oxigênio carbonílico do ácido graxo e o metal presente na estrutura do catalisador, há um aumento na densidade de carga positiva no carbono carbonílico, favorecendo o ataque nucleofílico do par de elétrons da hidroxila alcoólica com a consequente formação de um intermediário tetraédrico. Este intermediário elimina uma molécula de água e o monoéster graxo formado permanece adsorvido na superfície do 54 catalisador. Com a desorção do monoéster, a superfície do catalisador fica livre para participar dos próximos ciclos catalíticos (CORDEIRO; SILVA; RAMOS et al., 2011). Uma vez que os materiais apresentam atividade é importante também verificar a estabilidade frente à lixiviação das espécies ativas para o meio reacional, fato muito comum em reações em fase líquida envolvendo líquidos polares, nesta caso o metanol; Diante desta premissa, o sólidos ácidos foram submetidos à reações de conforme descrito no item 4.4.3. Como mostra a Figura 23 após a retirada do catalisador com 10 min., a reação cessa levantando duas hipóteses, a) não ocorreu a migração das espécies ativas para o meio reacional ou b) houve a migração das espécies não ativas para a reação, mas que poderão contaminar os produtos (COSTA et al., 2012). De acordo com resultados anteriores do nosso grupo de pesquisa (COSTA et al., 2012) a pré-lixiviação com metanol realizadas na etapa final da síntese do catalisador tende a extrair do sólidos as espécies mais fracamente ligadas que seriam as mais susceptíveis a lixiviação para o meio reacional. Portanto, espera-se que neste trabalho a hipótese “a” seja a mais aceita. Conversão em éster metílico 100 80 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Tempo de reação Sem a retirada do catalisador Com retirada do catalisador com 10min. de reação 2+ Figura 23. Teste de lixiviação. Razão metanol/ácido oléico 20:1, 10%m/m de Zn _HAP, 3h, 150 °C. Após 10 minutos de reação o catalisador foi filtrado a quente, com exceção da reação padrão. 55 6 CONCLUSÕES Neste trabalho foram estudados processos de obtenção de hidroxiapatita via tratamento térmico de osso bovino, síntese pelo método de precipitação e pelo processo sol-gel, bem como a modificação das hidroxiapatitas obtidas com zinco. As amostras foram caracterizadas por Análise Térmica, Espectrometria na Região do Infravermelho com Transformada de Fourier, Difração de Raios X e Adsorção e Dessorção de Nitrogênio. As análises mostraram que as amostras sintetizadas por precipitação e pelo processo sol-gel apresentaram características bastante semelhantes as da hidroxiapatita obtida através da calcinação de osso bovino. Através do DRX foi possível notar que a modificação da HAP com zinco ocorreu de forma satisfatória, visto que, não foi detectada nenhuma mudança estrutural nos difratogramas e pelos espectros de FTIR, os quais mesmo depois da modificação mostraram bandas características da hidroxiapatita, mostrando assim, que as rotas de síntese e modificação utilizadas neste trabalho mostraram-se eficientes para a obtenção de Hidroxiapatita sendo ela pura ou modificada com zinco. A inserção do zinco na estrutura da HAP foi confirmada pelos DRX que mostraram picos característicos do óxido de zinco. Os sólidos obtidos foram submetidos a reação de esterificação de ácido oléico (molécula modelo) com metanol no intuito produzir ésteres metílicos. Entretanto, a temperatura de 70°C nenhum dos sólidos apresentou conversões satisfatórias. Na tentativa de resolver este problema outras temperaturas (100°C e 120°C) foram utilizadas a fim de melhorar esta conversão, como não apresentaram uma melhora na conversão a temperatura foi elevada para 150°C, no entanto, com a intenção de minimizar os custos para a produção de biodiesel, visto que, a elevação da 56 temperatura é um ônus para esta produção, apenas os catalisadores HAP e Zn2+_HAP foram submetidos à reação de esterificação nesta temperatura. O zinco foi utilizado para aumentar a interação do catalisador com a molécula de ácido graxo favorecendo, assim, uma maior conversão em ésteres metílicos. A utilização da hidroxiapatita como suporte para catalisador heterogêneo mostrou-se bastante promissora visto que pode ser obtida a partir de matérias primas de baixo custo. O sólido sintetizado pelo método de troca iônica em estado sólido apresentou uma boa atividade catalítica promissora, mostrando-se estável frente à reação de esterificação nas condições avaliadas. Novos estudos serão conduzidos no sentido de otimizar as condições reações e portanto, aumentar a conversão em ésteres metílicos. 57 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFSHAR, A.; GHORBANI, M.; EHSANI, N.; SAERI, M. R.; SORRELL, C. C. Some important factors in the wet precipitation process of hydroxyapatite. Materials & Design, v. 24, p. 197–202, 2003. ALLEN, T. Particle Size Measurement - Surface area and pore size determination. v. 2, 5ª ed., CHAPMAN & HALL: USA, 1997. AMGARTEN, D. R. Determinação de volume específico de poros de sílicas cromatográficas por dessorção de líquidos em excesso. 2006. Dissertação – (Mestrado em Química) – Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, 2006. 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