Biotecnologia Microbiana Produção de Bioplásticos por Culturas Microbianas Mistas Luísa S. Serafim¹, Paulo C. Lemos¹,² Maria A.M. Reis¹ ¹ CQFB/REQUIMTE, Chemistry Department, FCT/UNL, Quinta da Torre, 2829-516 Caparica Portugal ² Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), UNL, 2870-156 Oeiras, Portugal [email protected] 1 Introdução Os plásticos convencionais, produzidos a partir de derivados de petróleo, originam enormes problemas de contaminação ambiental por não serem biodegradáveis, persistindo como contaminantes durante longos períodos de tempo. Tem havido uma grande pesquisa no sentido de desenvolver polímeros biodegradáveis com propriedades idênticas às dos plásticos convencionais, de modo a poderem substituir estes últimos em aplicações semelhantes. Existem no mercado diversos plásticos biodegradáveis tais como polihidroxialcanoatos (PHAs), polilactato (PLA) e poliglicolatos (PGA). Os PHAs são termoplásticos e possuem propriedades físicas e químicas muito semelhantes às do polipropileno, o que os torna possíveis candidatos progressivamente mais aplicáveis na sua substituição. O grande obstáculo à substituição do polipropileno por PHAs tem sido de natureza económica. De facto, o preço dos PHAs é cerca de nove vezes superior ao do polipropileno (€ 9/kg para o PHB contra €1/kg para o polipropileno) (Biby, 2002). alternativa interessante às culturas puras. A selecção de culturas mistas com elevada capacidade de acumulação de PHAs ocorre naturalmente em resultado das condições de operação do reactor e, consequentemente, não há necessidade de esterilização do sistema. Por outro lado, a utilização de culturas mistas facilita o uso de substratos complexos obtidos a partir de resíduos orgânicos, dado que a população microbiana se adapta continuamente à mudança de substrato. Assim, a possibilidade de produção de PHAs por culturas microbianas mistas pode reduzir substancialmente o custo destes biopolímeros e, consequentemente, torná-los economicamente mais competitivos com o polipropileno. O preço dos PHAs produzidos por culturas mistas pode, de facto, baixar para cerca de metade do preço dos produzidos por culturas puras, devido essencialmente à redução do custo dos substratos e dos custos de investimento (Meesters, 1998). 2- Características e Aplicações dos PHAs Os PHAs existem no citoplasma da célula sob a forma de grânulos (0.2 a 0.5 µm de diâmetro) rodeados por uma membrana (Sudesh et al., 2000) (Figura 1). Os grânulos fluorescentes de PHAs podem ser observados por microscopia de epifluorescência usando corantes lipofílicos tais como o Azul de Nilo (Figura 4). A fórmula química geral dos PHAs está representada na Figura 2. Foram identificados mais de 100 monómeros diferentes como constituintes dos PHAs em várias bactérias. O polihidroxibutirato (PHB), constituído por monómeros de 3-hidroxibutirato, é o PHA mais bem caracterizado e o acumulado com maior frequência por bactérias (Madigan et al., 2000). Outros PHAs frequentemente acumulados por bactérias incluem o polihidroxivalerato (PHV), polihidroximetilvalerato (PMHV) e o A razão principal do elevado custo dos PHAs decorre do facto de actualmente serem produzidos por culturas microbianas puras e substratos caros (glucose e ácido propiónico), o que resulta em custos elevados de investimento e de produção (necessidade de um maior controlo da operação e de equipamento auxiliar para esterilização). O uso de culturas mistas para produção de PHAs pode constituir uma Figura 1 – Grânulos de PHB acumulados por Azotobacter vinelandii UWD (Page et al., 1995) Boletim de Biotecnologia Biotecnologia Microbiana térias pode atingir 80 % do seu peso celular (Kim et al. 1994). Figura 2 – Fórmula química geral dos PHAs (Lee, 1996) polihidroximetilbutirato (PMHB). A sua presença e proporção relativa dependem do tipo de substrato usado pelo microrganismo. Se forem usadas misturas de substratos, os microrganismos podem sintetizar co-polímeros, compostos por diferentes monómeros. O copolímero constituído por monómeros de 3-hidroxibutirato e de 3-hidroxivalerato (3 HB-co-3HV) é produzido industrialmente por uma cultura pura de Ralstonia eutropha, usando como substratos ácido propiónico e glucose. A formação de um co-polímero contendo unidades de 3HB e 3HV altera as propriedades do material, conduzindo a uma diminuição da cristalinidade e da temperatura de fusão, obtendo-se um polímero menos rígido e mais resistente, que proporciona melhores condições de processamento. Consequentemente, as propriedades do co-polímero podem ser definidas variando a composição relativa dos ácidos orgânicos presentes no meio de cultura. O peso molecular dos PHAs produzidos industrialmente por culturas puras varia entre 1.7 x 105 e 4.5 x 106. Os PHAs mais comuns são polímeros semicristalinos. O grau de cristalinidade depende da composição do polímero: sendo 60-80% para o PHB e decrescendo para 30-40% para o copolímero cujo conteúdo em unidades HV é de 30% (mol/mol). As aplicações mais gerais dos PHAs incluem filmes para embalagens e plásticos convencionais. Dado que os PHAs são biocompatíveis, são usados em aplicações médicas e farmacêuticas (fios de sutura cirúrgica, implantes ósseos, fármacos de libertação lenta, etc.). Na agricultura, os PHAs são usados em produtos de libertação de reguladores de crescimento de plantas ou de pesticidas. 3- Microbiologia Os PHAs são sintetizados por um grande número de bactérias Gram negativas e Gram positivas pertencentes pelo menos a 75 géneros diferentes. Alguns exemplos de culturas puras usadas industrialmente para produzir PHAs incluiem a Ralstonia eutropha, Alcaligenes latus, Azotobacter vinelandii e diversas espécies de Pseudomonas. Os PHAs podem ser eficientemente produzidos por microrganismos geneticamente modificados, como por exemplo a Echerichia coli recombinante. A produção de PHAs por estas bactérias ocorre, na maioria dos casos, em situações em que um nutriente, que não a fonte de carbono, é limitante para o crescimento. A quantidade de polímero acumulado por estas bac- Para além de culturas puras microbianas, as culturas mistas tem sido referenciadas como produtoras de PHAs. A acumulação de PHAs por culturas mistas é particularmente importante em populações microbianas presentes em estações de tratamento de efluentes que experimentam condições transientes de disponibilidade de carbono e/ou oxigénio. Exemplos de microrganismos que sintetizam PHAs em condições transientes de oxigénio são as Bactérias Acumuladoras de Fósforo (PAOs “Polyphosphate Accumulating Organisms”), responsáveis pela remoção de concentrações elevadas de fósforo de efluentes. Nas estações de tratamento biológico de efluentes contaminados com fósforo, a biomassa recircula continuamente entre ambientes anaeróbios e aeróbios, o que estimula a síntese de reservas intracelulares. A acumulação de reservas intracelulares, nomeadamente PHAs, tem um papel muito importante no metabolismo destes microrganismos. Nestes sistemas ocorre um outro grupo de microrganismos designado Bactérias Acumuladoras de Glicogénio (GAOs-”Glycogen Accumulating Organisms”) que sintetizam PHAs mas não acumulam fósforo (Liu et al., 1996). A quantidade de biopolímero acumulado por PAOs e GAOs é relativamente baixa, não ultrapassando 20% do peso celular, o que limita a sua utilização para a produção industrial de PHAs. A produção de PHAs por culturas mistas aeróbias é especialmente elevada quando estas são submetidas a condições transientes de disponibilidade de carbono. As condições transientes de excesso e falta de substrato causam respostas dinâmicas no metabolismo celular. Sob estas condições dinâmicas, o crescimento torna-se desequilibrado (“unbalanced”), i.e. o substrato é consumido sem ocorrer um aumento correspondente de todos os componentes celulares (sem síntese de biomassa activa) (Beccari et al., 1998). Neste caso, o substrato é armazenado no interior da célula sob a forma de PHAs. A produção de PHAs por culBoletim de Biotecnologia 17 Biotecnologia Microbiana turas expostas a condições dinâmicas de disponibilidade de carbono, pode atingir valores superiores a 60% do peso celular (Reis et al., 2003). Não existe, até ao momento, uma identificação microbiológica dos grupos ou grupo de bactérias pertencentes a este fénotipo. Algumas plantas produtoras de cereais, tais como o girassol e a soja, conseguem sintetizar PHAs. Contudo, o rendimento de produção (4% do peso da planta) é muito inferior ao produzido por bactérias, o que, actualmente, reduz a viabilidade de produção de PHAs por esta via. Este artigo aborda a produção de PHAs por culturas mistas sujeitas a condições dinâmicas de disponibilidade de carbono. 4 Processo de Produção de PHAs por culturas mistas em Condições Transientes de Adição de Carbono 4.1- Mecanismo de produção de PHAs Quando uma cultura microbiana experimenta um aumento brusco na concentração de substrato disponível, após um período de limitação do crescimento, podem ocorrer dois tipos de adaptação, que dependem essencialmente da natureza do substrato, da cultura microbiana e das condições de operação (Daiger e Grady, 1982): a biomassa pode adaptar-se às novas condições aumentando o crescimento celular (crescimento como resposta) ou rapidamente acumular o substrato sob a forma de reservas intracelulares (acumulação como resposta). A acumulação de reservas é a resposta mais rápida porque requer uma menor adaptação fisiológica dos microrganismos. Nestas condições, há um desacoplamento entre o consumo de substrato e o crescimento, ocorrendo acumulação de reservas intracelulares. O fenómeno de acumulação de reservas intracelulares é geralmente dominante (cerca de 70%) sobre o Boletim de Biotecnologia Figura 3 – Perfis de concentrações e da velocidade especifica de crescimento num processo com culturas mistas submetidas a condições dinâmicas de adição de carbono. crescimento. Se o tempo de exposição ao substrato se prolongar de tal modo que ocorra adaptação fisiológica, o crescimento celular torna-se o processo dominante. O mecanismo de acumulação de reservas poliméricas quando os microrganismos são sujeitos a condições transientes de carbono (períodos curtos de excesso de carbono alternados com períodos longos de limitação de carbono externo) foi proposto por Majone et al. (1999): - Após um período prolongado de limitação de carbono (“fome”), os microrganismos, quando expostos a elevadas concentrações de carbono (“fartura”), transformam a maior parte do substrato em reservas poliméricas internas e o restante em crescimento celular (Figura 3). Após a exaustão do substrato externo, as reservas internas são usadas para crescimento e manutenção celular. Neste período de limitação de carbono, a velocidade específica de crescimento atinge valores muito baixos, o que obriga o microrganismo a uma adaptação fisiológica na fase seguinte quando confrontado com um excesso de carbono disponível, resultando preferencialmente num mecanismo de acumulação de reservas em detrimento do crescimento celular. Nestas condições, e contrariamente ao que acontece com as PAOs e GAOs, a acumulação de reservas intracelulares a partir do substrato externo e o crescimento, ocorrem em simultâneo. Neste tipo de sistemas dinâmicos, os microrganismos que possuem a capacidade de acumular substrato sob a forma de reservas intracelulares podem sobreviver durante a fase de ausência de carbono externo e, portanto, têm uma vantagem competitiva sobre os microrganismos que não possuem esta capacidade, tornado-se dominantes. A Figura 4 representa os grânulos de PHB corados no início e no fim da fase de “fartura” para uma cultura mista sujeita a ciclos de “fome” e “fartura”. 4.2-Metabolismo Não existe ainda nenhum modelo metabólico para o processo de produção de PHAs por culturas aeróbias sujeitas a condições dinâmicas de adição de carbono, mas provavelmente não será muito diferente do que é conhecido para culturas puras que acumulam PHAs (Figura 5). O composto intermediário chave na síntese e degradação de PHAs é o acetil-CoA. Enquanto existe substrato externo forma-se acetil-CoA, que é parcialmente desviado para a produção de PHAs e para crescimento, através do ciclo dos ácidos tricarboxílicos (TCA). Na síntese de PHB são condensadas duas Biotecnologia Microbiana (a) (b) Figura 4 – Grânulos de PHAs observados por microscopia de epifluorescência após coloração com Azul de Nilo.(a) início da fase de “fartura” ; (b) fim da fase de “fartura” moléculas de acetil-CoA para formar acetoacetil-CoA, sendo esta reacção catalisada pela enzima 3- Cetotiolase. A síntese de PHB prossegue pela acção das enzimas NADPH redutase e PHB sintetase. Após a exaustão do substrato externo, o PHB é degradado, produzindo-se acetil-CoA que é usado para crescimento e manutenção celular (ciclo a tracejado na Figura 5). 4.3 – Optimização do processo Um dos factores que tem limitado a produção de PHAs por culturas mistas tem sido o baixo rendimento de produção quando comparado com o obtido por culturas puras, nomeadamente por Ralstonia eutropha, usada na produção Industrial de PHAs (Kim et al., 1994). De facto, enquanto este microrganismo é capaz de acumular cerca de 80% (massa de PHA por massa celular), o valor referido na literatura para culturas mistas não ultrapassa 60% (Reis et al., 2003). Este valor máximo de acumulação de PHAs foi obtido com culturas de lamas activadas, sujeitas a condições transientes de adição de substrato (“Fome e Fartura”) descritas anteriormente. Deverá notar-se, contudo, que o interesse pela produção de PHAs por culturas mistas tem tido como principal objectivo estudar os mecanismos de acumulação de reservas intracelulares e não a sua optimização com vista à produção industrial, pelo que é de esperar que, manipulando os parâmetros de operação do processo, o rendimento de produção de PHAs por culturas mistas possa atingir valores superiores aos descritos na literatura. A optimização da produção de PHAs tem de passar necessariamente pela selecção da configuração de reactor e das condições de operação que conduzam à obtenção de rendimentos e produtividades elevadas. A configuração de reactor mais usada para estudar a produção de PHAs por culturas mistas, usando o processo de “Fome e Fartura”, é o reactor descontínuo sequencial (SBR). O SBR é operado em ciclos de cerca de 12 a 24 horas. A adição de substrato é feita por pulso, sendo consumido em cerca de 1 a 2 horas, seguindo-se um período de cerca de 10 a 22 horas de ausência de carbono externo (Dircks et al., 2001, Serafim et al., 2002). Os SBRs são reactores ideais para seleccionar populações microbianas com elevada capacidade de acumulação de PHAs, porque a biomassa cresce em condições transientes. Este tipo de reactor é fácil de controlar e é altamente Figura 5 – Metabolismo de síntese e degradação de PHB por diversos microrganismos (modificado a partir de Sudesh et al., 2000). Boletim de Biotecnologia 19 Biotecnologia Microbiana Figura 6 – Efeito da concentração de substrato na produtividade especifica (qp), no rendimento de produção de PHB (Yp/s) e no conteúdo em PHB na biomassa (%HB). flexível, permitindo a alteração rápida dos ciclos de operação (duração da alimentação e extensão do ciclo). 4.3.1- Efeito da concentração de substrato O efeito da concentração de substrato na quantidade de polímero produzida foi estudado usando acetato como substrato e um SBR operado com ciclos de 12 horas. O acetato foi adicionado num único pulso, sendo consumido entre 1-4 horas, dependendo da concentração usada, seguindo-se um período de 8 a 11 horas de ausência de carbono. Os resultados obtidos para as diferentes concentrações de acetato estão representados na Figura 6. Verifica-se que o conteúdo em PHB na biomassa aumenta com a concentração de substrato, atingindo 67% do peso celular. No entanto, a produtividade específica em polímero atinge o máximo (0.75 mmmol C/mmol X.h) para 90mmol C/l e decresce acentuadamente para a concentração de substrato de 180mmol C/l. Este decréscimo é originado pela inibição da síntese de PHB para elevadas concentrações de substrato. A razão entre a quantidade de polímero produzido e de substrato consumido (Yp/s), é independente da concentração de substrato usada, atingindo um valor médio de 0.72 Cmmol HB/Cmmol HAc. Boletim de Biotecnologia É interessante notar que as produtividades específicas (0.41-0.75 Cmmol HB/Cmmmol X.h) obtidas por culturas mistas sujeitas a condições transientes de adição de carbono, são cerca de uma ordem de grandeza superiores às obtidas (0.013 Cmmol HB/Cmmmol X.h) por culturas puras usadas industrialmente (Kim et al., 1994). Do ponto de vista da optimização do processo, esta característica das culturas mistas é muito importante, por permitir obter elevadas produtividades com concentrações celulares baixas. 4.3.2- Estratégia de operação do Reactor Uma forma de garantir a produção de elevadas quantidades de polímero, minimizando a inibição por substrato, será adicionar o substrato de forma semi-contínua (“fed-batch”) ou contínua. No último caso o substrato, correspondente ao máximo anterior (180mmol C/l), é adicionado continuamente durante a fase de “fartura”, seguindo-se um período de “fome”. No primeiro caso, a mesma quantidade de substrato é distribuída por três pulsos sequenciais, seguindo-se igualmente um período de “fome”. Os resultados obtidos para os dois tipos de estratégia de alimentação do reactor estão representados na Figura 7. A alimentação em contínuo (Figura 7a) resultou numa diminuição na produtividade do reactor (0.30 Cmmol HB/Cmmmol X.h) e no conteúdo em polímero nas células (56%), relativamente à situação em que a mesma quantidade de substrato (180mmol C/l) tinha sido adicionada num pulso (Figura 6). Este resultado pode ser explicado pelo facto de no sistema alimentado em contínuo, o substrato dentro do reactor ter sido limitante para o processo de acumulação de PHB. Pelo contrário, quando a mesma quantidade de substrato foi adicionada em três pulsos (Figura 7b), a produtividade (0.80 Cmmol HB/Cmmmol X.h) e a quantidade de polímero acumulado (78.5%) aumentaram significativamente em relação às experiências em que o substrato foi adicionado num único pulso e em contínuo. O conteúdo em PHB nas células (78.5%) é idêntico ao obtido por culturas puras (80%), o que torna o processo de “ Fome e Fartura” extremamente atractivo para a produção industrial de PHAs. A adição de 4 pulsos de carbono não originou qualquer aumento na acumulação de PHB, podendo afirmar-se que as células atingiram a máxima capacidade de acumulação de polímero para 180mmol C/l, distribuído em três pulsos. 5-Conclusões Manipulando os parâmetros de operação do reactor, a quantidade de PHB obtida por culturas mistas pode atingir valores semelhantes aos obtidos por culturas puras. Embora este estudo tenha sido efectuado com ácido acético, experiências realizadas com outro tipo de substratos, tais como ácido propiónico e ácido butírico, revelaram que os ácidos orgânicos voláteis são excelentes substratos para a produção de PHAs por culturas mistas. Tendo em conta este aspecto, pode-se concluir que a produção de PHAs por culturas mistas abre novas perspectivas à utilização e valorização de resíduos industriais que possuam na sua composição compostos orgâni- Biotecnologia Microbiana (a) (b) Figura 7 – Produção de PHB para dois tipos de adição de substrato: (a)- alimentação em contínuo; (b) – alimentação por pulsos. (æ - velocidade de adição de acetato (a) e concentração de acetato (b), à- % de PHB, ç- OUR (velocidade específica de consumo de oxigénio (oxygen uptake rate), ó-concentração de amónia). cos fermentáveis (ex. soro de leite, rescaldo de melaço) ou fermentados (ex. ácidos orgânicos). No primeiro caso o processo deve incluir uma etapa de fermentação a montante do processo de produção de biopolímero. No caso de se desenvolverem condições que tornem o processo de produção de PHAs por culturas mistas e resíduos industriais economicamente viável, num futuro próximo esta tecnologia permitiria reduzir de forma significativa a utilização de plásticos não biodegradáveis e a necessidade de tratamento do tipo de resíduos industriais referidos, resolvendo um duplo problema ambiental. Agradecimentos Este projecto (POCTI/35675/BIO/2000) foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Luísa S. Serafim e Paulo C. Lemos agradecem à FCT pelas bolsas PRAXIS XXI BD/18287/98 e BPD/ 20197/99, respectivamente. Referências Bibliográficas Beccari, M., Majone, M., Massanisso, P., and Ramadori, R., 1998 A bulking sludge with high storage response selected under intermittent feeding. Water Research 32 (11): 3403-3413. Biby, G.D., 2002. Degradable plastics: http: //www.icma.com/inf/polymers.htm. Daigger G. T., Grady, C.P.L., 1982. The dynamics of microbial growth on soluble substrates. 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