ROSSI, F; AMBROSANO, EJ; GUIRADO, N; MELO, PCT; DIAS, FLF; SCHAMMASS, EA.
2011. Produtividade e qualidade do tomate cereja cultivado em consórcio com adubos verdes.
Horticultura Brasileira 29: S4143-S4148
Produtividade e qualidade do tomate cereja cultivado em consórcio com adubos
verdes
Fabrício Rossi1; Edmilson José Ambrosano1; Nivaldo Guirado1; Paulo César Tavares de
Melo2; Fábio Luis Ferreira Dias1; Eliana Aparecida Schammass3
1
APTA – Pólo Regional Centro-Sul. Rod. Piracicaba – Rio Claro, km 30, Cx. Postal 28, 13400-970 Piracicaba – SP,
[email protected], [email protected], [email protected]; 2ESALQ, Departamento de Produção
Vegetal, Av. Pádua Dias, 11, 13419-900 Piracicaba – SP, [email protected]; 3APTA – Instituo de Zootecnia,
[email protected]
RESUMO
Na horticultura de base ecológica, a adubação verde é especialmente importante, uma vez que a
disponibilidade de fontes de N é limitada. O objetivo desse experimento foi avaliar a produtividade
e a qualidade do tomate cereja em cultivo consorciado com adubos verdes e cobertura morta, sem
adubação nitrogenada complementar. O delineamento experimental foi em quadrado latino (4x4).
As parcelas experimentais constaram de dois vasos de 60 litros cada, com 0,25 m2 de superfície, na
qual foi transplantada uma muda de tomate em cada vaso. Os adubos verdes, feijão-de-porco e
tremoço-branco foram semeados nos vasos no momento do transplantio das mudas de tomate. O
outro tratamento, a crotalária-júncea foi adicionada ao vaso na quantidade de 1,8 kg m-2 de massa
fresca de palha. O tomate cereja foi conduzido em haste única. Em relação ao número total e
comercial de frutos o tratamento com crotalária-júncea foi superior e diferiu estatisticamente do
feijão-de-porco, e ambos os tratamentos não diferiram da testemunha e do tremoço-branco. Os
adubos verdes não influenciaram na danificação dos frutos. No peso total e comercial dos frutos, a
crotalária-júncea possibilitou a maior produtividade, não diferindo da testemunha, e ambos os
tratamentos foram superiores ao feijão-de-porco, sendo que o tremoço-branco não diferiu dos
demais tratamentos. Em relação aos parâmetros de qualidade tecnológica dos frutos do tomateiro
(SST, ATT, ratio, pH e firmeza) não houve diferença estatística entre os tratamentos, o que nos
permite concluir que os adubos verdes não influenciaram na qualidade do tomate cereja.
PALAVRAS-CHAVE: Solanum lycopersicum L., agricultura orgânica, adubação verde.
ABSTRACT
Yield and quality of cherry tomato in intercropping with green manure
In ecological horticulture, green manure is especially important because of the limited availability
of N sources. The aim of this work was to evaluate the yield and quality of cherry tomatoes in
intercropping with green manure and mulching, without additional nitrogen. The experimental
design was a latin square (4x4). The plots consisted of two vessels of 60 liters each, with 0.25 m 2
surface, which was transplanted a seedling of tomato in each pot. Green manure, jack bean and
white lupine were sown in pots at the time of transplanting of tomato plants. The other treatment,
sunn hemp, was added to the vessel in the amount of 1.8 kg m-2 of fresh matter. The tomato was
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S4143
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conducted in a single stem. In relation to the total and commercial fruit treatment with sunn hemp,
was higher and differed from the jack bean, and both treatments did not differ from control and
white lupine. The green manure did not influence the damage of the fruit. On total weight and
commercial fruit, the sunn hemp, allowed the highest yield did not differ from control, and both
treatments were higher to jack bean, and the white lupine did not differ from other treatments. The
parameters of technological quality of tomato fruits (TSS, TTA, ratio, pH and firmness) no
statistical difference between treatments, allowing us to conclude that the green manure didn’t
influence the quality of cherry tomatoes.
Keywords: Solanum lycopersicum L., organic agriculture, green manuring.
INTRODUÇÃO
O manejo inadequado do solo pode trazer, com os cultivos, sérias conseqüências, exaurindo-o de
suas reservas orgânicas e minerais, transformando-o em terras de baixa fertilidade. Nos solos
tropicais, susceptíveis a esse fenômeno, torna-se necessário o emprego constante de práticas que
visam minimizar esse problema (MELLO & BRASIL SOBRINHO, 1960). Com a prática da
adubação verde, é possível recuperar a fertilidade do solo proporcionando aumento do teor de
matéria orgânica, da capacidade de troca de cátions e da disponibilidade de macro e
micronutrientes; formação e estabilização de agregados; melhoria da infiltração de água e aeração;
diminuição diuturna da amplitude de variação térmica; controle dos nematóides e, no caso das
fabáceas (leguminosas), incorporação ao solo do nutriente nitrogênio (N), efetuado através da
fixação biológica (IGUE, 1984).
Na horticultura de base ecológica, a adubação verde é especialmente importante, uma vez que a
disponibilidade de fontes de N é limitada (THORUP-KRISTENSEN, 2006). No sistema de cultivo
consorciado os adubos verdes são cultivados juntamente com a cultura principal em parte de seu
ciclo ou no ciclo todo (ELFSTRAND, 2007). Ambrosano et al. (2008), estudaram a contribuição do
nitrogênio para o tomate cereja em cultivo consorciado e verificaram que o tremoço-branco
contribuiu com 39% do N encontrado nos frutos e 27% do N da parte aérea. Assim, a cultura
principal se beneficiaria do N2 fixado pela leguminosa, seja pela excreção direta de compostos
nitrogenados e pela decomposição de nódulos e raízes ou pelo corte de suas partes aéreas que irão
se decompor e liberar nutrientes durante o desenvolvimento da cultura principal.
Segundo Azevedo Filho & Melo (2001) o tomate cereja apresenta boa produtividade, sendo uma
opção para agricultores que pretendem produzir com baixo uso de insumos.
O objetivo desse experimento foi avaliar a produtividade e qualidade do tomate cereja em cultivo
consorciado com adubos verdes e cobertura morta, sem adubação nitrogenada complementar.
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S4144
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MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na APTA – Pólo Regional Centro-Sul, em Piracicaba-SP, em 2010. O
delineamento experimental foi em quadrado latino (4x4), sendo os tratamentos os adubos verdes
consorciados com o tomate cereja ou na forma de cobertura morta (Figura 1). As parcelas
experimentais constaram de dois vasos de 60 litros cada, com 0,25 m2 de superfície, na qual foi
transplantada uma muda de tomate em cada vaso. Os adubos verdes, feijão-de-porco e tremoçobranco foram semeados nos vasos no momento do transplantio das mudas de tomate, sendo
utilizadas 5 e 20 sementes por vaso, respectivamente. Após o estabelecimento dos adubos verdes foi
realizado o raleio, deixando 3 plantas de feijão-de-porco e 10 de tremoço-branco por vaso. O outro
tratamento, a crotalária-júncea foi adicionada ao vaso na quantidade de 7,2 kg m-2 de massa fresca
de palha. O tomate cereja foi conduzido em haste única. Durante o primeiro mês de cultivo aplicouse semanalmente extrato de primavera (Bougainvillea spectabilis) a 10%. Posteriormente, para
controle fitossanitário aplicou-se nim a 1% e calda bordalesa a 1%, uma única aplicação de cada
produto, em semanas distintas. O tomate cereja foi colhido no período de 4 de maio a 27 de julho de
2010, num total de 14 colheitas, e classificados em frutos comerciais e danificados, sendo
considerados danificados os frutos atacados por lagartas ou furados. Os frutos foram contados e
pesados, determinando-se assim a sua produtividade. Os frutos da primeira colheita (4 de maio) e da
quinta colheita (21 de maio) foram avaliados ainda em relação a parâmetros de qualidade
tecnológica: sólidos solúveis totais (SST), acidez total titulável (ATT), ratio (SST/ATT), pH e
firmeza. Os adubos verdes foram amostrados por ocasião do primeiro fruto maduro de tomate,
sendo coletada uma planta de feijão-de-porco e três plantas de tremoço-branco, sendo determinada
sua massa fresca e seca. No final do experimento os adubos verdes foram coletados para
determinação de sua produção total de massa fresca e seca. Na tabela 1 encontram-se os dados de
produção total dos adubos verdes, soma das duas amostragens. No final do experimento não haviam
mais plantas de tremoço-branco, o qual não se desenvolveu satisfatoriamente em função das
condições climáticas.
Os dados foram submetidos a análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de
Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação ao número total e comercial de frutos o comportamento do tomate cereja foi
semelhante: o tratamento com crotalária-júncea foi superior e diferiu estatisticamente do feijão-deporco, e ambos os tratamentos não diferiram da testemunha e do tremoço-branco (Tabela 2). Os
adubos verdes não influenciaram nos frutos danificados (NFD, PFD e PMFD), sendo que os
tratamentos não diferiram estatisticamente entre si. No peso total e comercial dos frutos, a
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crotalária-júncea possibilitou a maior produtividade, não diferindo da testemunha, e ambos os
tratamentos foram superiores ao feijão-de-porco, sendo que o tremoço-branco não diferiu dos
demais tratamentos. Fica evidente, pelo atual experimento, que o consórcio do tomate cereja com
feijão-de-porco diminuiu a sua produtividade, o que pode ser verificado também pelo peso médio
dos frutos comerciais. O PMFC dos tomates consorciados com feijão-de-porco foram os menores,
diferindo estatisticamente dos demais tratamentos (Tabela 2). Segundo Calegari (1995), o feijão-deporco apresenta efeitos alelopáticos ao tomateiro, afetando negativamente seu desenvolvimento. No
entanto, no atual experimento, ficou evidente também a competição por água, luz e nutrientes.
Em relação aos parâmetros de qualidade tecnológica dos frutos do tomateiro (SST, ATT, ratio, pH e
firmeza) não houve interação entre as colheitas e os tratamentos, sendo apresentado os dados
médios. Não houve diferença estatística entre os tratamentos, o que nos permite concluir que os
adubos verdes não influenciaram na qualidade do tomate cereja (Tabela 3).
REFERÊNCIAS
AMBROSANO, EJ; SAKAI, RH; SCHAMMASS, E; GUIRADO, N; ROSSI, F; NEGRINI, ACA;
TRIVELIN, PCO; MURAOKA, T; BUENO, JRP; CAMARGO, LF. 2008. Uso da técnica da
abundância natural de 15N na quantificação da contribuição do nitrogênio dos adubos verdes para o
tomate cereja em cultivo consorciado. IN: Seminário dos programas estratégicos da APTA Sustentabilidade Ambiental, 2, 2008, Barra Bonita-SP. 1.CD-ROM
AZEVEDO FILHO, JA; MELO, AMT. 2001. Avaliação de tomates “nativos” do tipo cereja. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 41. Anais... Brasília: ABH.
CALEGARI, A. Leguminosas para adubação verde de verão no Paraná. Londrina: IAPAR, 1995.
118 p.
ELFSTRAND, S. Impact of Green Manure on Soil Organisms with Emphasis on Microbial
Community Composition and Function. 2007. 48 p. (Doctoral thesis). Swedish University of
Agricultural Sciences, Uppsala, 2007.
IGUE, K. Dinâmica da matéria orgânica e seus efeitos nas propriedades do solo. In: Adubação
Verde no Brasil. Campinas: Fundação Cargil, 1984. p. 232-267.
MELLO, FAF; BRASIL SOBRINHO, MOC. Efeitos da incorporação de resíduos de mucuna-preta,
Crotalária juncea L. e feijão baiano. I. Influência sobre a produção de arroz. Revista de Agricultura,
Piracicaba, 35:33-40, 1960.
SOUZA JL; RESENDE P. 2006. Manual de Horticultura Orgânica. 2 ed. Viçosa: Aprenda Fácil
Editora, 843 p.: il.
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S4146
ROSSI, F; AMBROSANO, EJ; GUIRADO, N; MELO, PCT; DIAS, FLF; SCHAMMASS, EA.
2011. Produtividade e qualidade do tomate cereja cultivado em consórcio com adubos verdes.
Horticultura Brasileira 29: S4143-S4148
THORUP-KRISTENSEN, K. Root growth and nitrogen uptake of carrot, early cabbage, onion and
lettuce following a range of green manures. Soil use and Management, Oxford, v.22, p.29-38,
march, 2006.
Figura 1: Testemunha (a), cobertura morta de crotalária-júncea (b) e adubos verdes, feijão-deporco (c) e tremoço-branco (d) em cultivo consorciado com o tomate cereja (control (a), mulching
of sunn hemp (b) and green manure (c, d) intercropping with cherry tomato) Piracicaba, APTA –
Pólo Centro-Sul, 2010.
Tabela 1. Média da produção de matéria fresca (MF), matéria seca (MS) e % matéria seca dos
adubos verdes (average yield of fresch matter (MF), dry matter (MS) and % dry matter of green
manure). (Piracicaba, APTA – Pólo Centro-Sul, 2010.
MF
MS
-1
-------- g vaso --------
Adubos verdes
Crotalária-júncea
Feijão-de-porco
Tremoço-branco
1800,00
787,35
40,23
-
Testemunha
423,00
191,25
6,40
-
MS
--- % ---
MF
MS
-1
-------- t ha --------
23,50
24,29
15,64
-
72,00
31,49
1,61
-
16,92
7,65
0,26
-
MS
--- % --23,50
24,29
15,64
-
Tabela 2. Número total de frutos (NTF), número de frutos comercializáveis (NFC), número de
frutos danificados (NFD), peso total dos frutos (PTF), peso dos frutos comercializáveis (PFC), peso
dos frutos danificados (PFD), peso médio do total dos frutos (PMTF), peso médio dos frutos
comercializáveis (PMFC) e peso médio dos frutos danificados (PMFD) do tomate cereja (total
numbers of fruits (NFT), comercial numbers of fruits (NFC), damaged number of fruits (NFD),
total weight of fruits (PFT), comercial weight of fruits (PFC), damaged weight of fruits (PFD),
average weight of total fruits (PMFT), average weight of comercial fruits (PMFC) and average
weight of damaged fruits of cherry tomato). Piracicaba, APTA – Pólo Centro-Sul, 2010.
Adubos verdes
Crotalária-júncea
Feijão-de-porco
Tremoço-branco
Testemunha
NTF
NFC
NFD
-1
---------- frutos planta ---------57
30
44
46
a
b
ab
ab
54
28
43
45
a
b
ab
ab
3
2
1
1
a
a
a
a
PTF
PFC
PFD
-1
------------- g planta ------------685,05
236,94
472,29
521,97
a
b
ab
a
656,53
224,24
461,94
514,05
PMFT
PMFC
PMFD
-1
------------ g fruto ------------
a 28,53 a 19,75 a 12,26 a
b 12,70 a 12,32 a 7,98 c
ab 10,36 a 14,57 a 10,69 b
a
7,93 a 14,99 a 11,38 ab
7,49
4,33
3,88
3,61
a
a
a
a
Média
44
42
2
479,06
164,19
14,88
15,41
10,58
4,83
18,53
20,65
64,75
22,62
23,74
71,15
24,56
4,11
75,37
C.V. (%)
Médias seguidas de letras minúsculas diferentes, nas colunas, diferem entre si, pelo teste de Tukey (p 0,05), (Means
followed by the different letter in the column do differ significantly, according to Tukey’s test (p0.05)).
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
S4147
ROSSI, F; AMBROSANO, EJ; GUIRADO, N; MELO, PCT; DIAS, FLF; SCHAMMASS, EA.
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Horticultura Brasileira 29: S4143-S4148
Tabela 3. Sólidos solúveis totais (SST), acidez total titulável (ATT), ratio, pH e firmeza do tomate
cereja, média de duas colheitas (Total soluble solids (SST), Total titratable acidity (ATT), ratio, pH
and firmness of cherry tomato, mean harvests). Piracicaba, APTA – Pólo Centro-Sul, 2010.
Adubos verdes
Crotalária-júncea
Feijão-de-porco
Tremoço-branco
Testemunha
Média
SST
o
---- Brix ---5,08
5,48
5,25
5,07
a
a
a
a
ATT
ácido cítrico (g 100 g-1)
0,38
0,42
0,37
0,37
a
a
a
a
RATIO
SST/ATT
13,25
13,19
14,20
13,62
13,56
a
a
a
a
pH
4,43
4,33
4,37
4,40
Firmeza
------ N -----a
a
a
a
8,28
7,46
8,88
8,25
a
a
a
a
5,22
0,39
4,38
8,22
7,10
9,95
5,49
1,76
9,39
C.V. (%)
Médias seguidas de letras minúsculas diferentes, nas colunas, diferem entre si, pelo teste de Tukey (p 0,05), (Means
followed by the different letter in the column do differ significantly, according to Tukey’s test (p0.05)).
Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011
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