Licínio de Almeida, 14 de março de 2011.
José Pereira da Silva
Fazenda Cachoeirinha das Andorinhas
Juruanã-Bahia.
Caro senhor José,
Na certeza de que ouvirá o meu lamento com atenção e tomará alguma atitude para ajudarme é que lhe escrevo esta carta.
Peço socorro!
Quando eu ainda era bem pequena e via a mágica da vida acontecer, minha espécie
reproduzia-se naturalmente, e eu ainda nem entendia bem como acontecia tal processo. Mas
sabia que eu e minhas irmãs vivíamos plenamente naquele paraíso. Verdes, verdes e mais
verdes contrastavam com o colorido das flores e borboletas. Tínhamos água em abundância e
os raios de sol na medida certa para alimentar-nos. Meus pais não se preocupavam com o meu
futuro. Ali, no meu “habitat”, eu era feliz e estaria sempre segura.
Floresta é o nome da minha casa, antes sinônimo de segurança. Hoje, em destruição,
representa ameaça para a humanidade. As águas dos rios, cortando as montanhas,
desabrochavam as cachoeiras. Os animais corriam livres, o canto dos pássaros sincronizava em
deliciosa melodia a cada amanhecer. As flores transformavam-se em frutos; os frutos que nos
davam novas vidas, que aconteciam em plenitude.
Todos sabem dos desastres ambientais que estão acontecendo no mundo. O desmatamento, a
poluição das águas, que causam o aquecimento global, que, por sua vez, é responsável pelo
derretimento das geleiras, que fará desaparecer várias cidades colocando em risco o futuro do
ser humano.
Por isso, José, é muito importante que você e seus amigos cuidem de mim e de todas as
árvores aqui na floresta ou em qualquer parte do planeta.
Penso que você não está entendendo o porquê de ter sido o escolhido para receber minha
carta. Em meio a tantos Josés, por que escolher você? Por que não o Presidente da República
ou da ONU (Organização das Nações Unidas), o Governador ou o Prefeito? É que você, um José
qualquer, é muito importante embora talvez não saiba disso: é você que escolhe o Prefeito, o
Governador, o Presidente. É você que, na sua casa, no seu bairro e na sua cidade, pode
mobilizar muita gente e fazer a diferença para mim, uma árvore também qualquer, que,
sozinha, é capaz de fazer sombra para o descanso do homem, de dar frutos capazes de matar a
fome e contribuir com a purificação do oxigênio que você respira enchendo os pulmões. Como
dizer então que eu, sozinha, não sou importante? Assim também é você no convívio humano e
pode, sim, fazer diferença para mim ou para uma floresta inteira.
Cuidando de nós, as árvores, estará preservando a vida de vocês, os homens. Mais de 30% das
florestas primárias já foram degradadas ou destruídas. Digo-lhe gentilmente: se for mesmo
preciso cortar uma delas, mesmo que ela seja eu, corte-a mas plante outra no lugar para as
nossas espécies não acabarem.
Infelizmente, as pessoas não acreditam que os impactos desastrosos no equilíbrio ecológico
extinguem maciçamente espécies vegetais e animais. E que o planeta está morrendo!
E, mesmo que elas mudem radicalmente a forma de agir, o planeta já se encontra
comprometido. E o pior é que pensam que tudo isso é brincadeira. Sabe, José, a floresta
amazônica - lugar onde eu moro - encontra-se em grande parte devastada. E lutar contra o
capital é muito difícil.
É preciso, no entanto, que todos mudem de mentalidade e atitude. Para isso, você precisa
conscientizar quem está ao seu redor. Comece com seu próprio exemplo, seja você o primeiro
do planeta: a cada copo d"água não-desperdiçado; a cada lixo jogado no lugar certo; a cada
palavrinha de conscientização. Já é um bom começo, e vamos torcer para que as autoridades
políticas também cumpram o seu papel. Se cada prefeito e cada câmara de vereadores
reflorestasse as áreas devastadas em seu município, se cuidasse dos seus mananciais
aquíferos, se cada cidadão começasse com uma ação em sua casa, em sua rua, em sua cidade,
o mundo estaria melhor.
Contudo eu confio em você, caro José. Lute por uma vida mais saudável por mim, para nós e
pelas próximas gerações.
Atenciosamente,
Árvore da Esperança (Lucas Pacheco Freire)
Rua Otacílio Donato,663
Licínio de Almeida -Bahia
Download

Licínio de Almeida, 14 de março de 2011. José Pereira da Silva