DESTAQUE A procura de soluções simples Logística e Transportes Num universo que se torna cada vez mais complexo, com ofertas de cadeias logísticas diversificadas, com múltiplas opções, diversos níveis de oferta, com custos muito variáveis em função das opções e dos níveis de serviço oferecidos, a escolha da solução de transporte que melhor serve os interesses de um negócio torna-se difícil o que leva a que, face à complexidade, se opte pela continuidade das soluções existentes, sem se introduzir factores de melhoria que, mesmo que pequenos, podem ter resultados significativos. 32 Faustino Gomes A Eficiência Global da Solução Assim, a primeira opção deve ser sempre... começar por fazer. Existem soluções simples que podem ser implementadas desde que tenhamos sempre em linha de conta que qualquer opção de transporte / logística deve ponderar: A eficiência da solução de transporte de mercadorias deve ser avaliada através de um conjunto de indicadores mensuráveis. No entanto, não se deve retirar ao gestor a capacidade e responsabilidade de avaliar qualitativamente a eficiência da solução em função da sua percepção de como esta cumpre os objectivos traçados. Uma forma imediata de www.transportesemrevista.com avaliar uma solução passa, por exemplo, por verificar se nas soluções que adoptamos, tomamos já partido ou não de soluções intermodais, sempre que seja possível considerar mais do que um modo de transporte, ou se em questões relacionadas com a distribuição urbana, incorporamos ou não a importância dos fenómenos do estacionamento e de congestionamento. TR 67 SETEMBRO 2008 DESTAQUE A Avaliação da Solução Independentemente da complexidade das alterações a introduzir, é importante que se defina um conjunto de indicadores de desempenho que permita medir de que forma é que a solução encontrada se traduz em melhorias. Estes indicadores devem corresponder a três pontos-de-vista diferenciados: • Que olhar sobre as redes de base? É fundamental que: – se tenha uma atenção especial à conectividade entre modos para que se assegurar que não existem rupturas de carga na passagem entre modos (nas soluções intermodais), – se avalie se existem limitações de acesso introduzidas pela rede, quer seja pela sua geometria – por exemplo, no caso da logística urbana, ruas que não permitem ou dificultam a circulação de veículos de maiores dimensões – ou pela carga – por exemplo, restrições de capacidade de carga na rede ferroviária (em Portugal, parte significativa da rede ferroviária normalmente utilizada para o transporte de mercadorias já é de categoria D4, que corresponde ao patamar mais elevado definido na Classificação das Linhas de Via Larga segundo a União Internacional dos Comboios), – se avalie qual a capacidade de fluxo, ou seja, se verifique o equilíbrio da relação entre o que queremos movimentar e os valores eficientes de capacidade por modo de transporte são compatíveis, – se avalie a segurança de como se faz o transporte quer na vertente de safety quer na vertente de security; • Que preocupações ter com a operação? As características da operação também podem ser um factor crítico de sucesso. É fundamental ter especial atenção: – à produtividade nas ligações em linha (entendidas como os movimentos principais entre os pontos de entrega), no porta-a-porta (entendido como os movimentos de distribuição por diversos clientes / fornecedores quando tal faz sentido na lógica do negócio), – à informação que se detém sobre o transporte, garantindo que esta é a mais correcta e actualizada sobre o posicionamento da carga na cadeia de transporte e quando possível construir sistemas de informação em tempo real sobre a carga, – à percepção da rentabilidade que se está a obter por unidade (ton.km) de carga transportada, e, cada vez mais importante, – à percepção das emissões por unidade (ton.km) para podermos cumprir a nossa SETEMBRO 2008 TR 67 missão mas progressivamente com soluções ambientalmente mais sustentáveis; • Que cuidados a ter com as instalações e equipamentos? Para além das legítimas preocupações com as ligações (os arcos da solução logística), muitas das vezes os maiores problemas surgem nos pontos de carga e descarga ou de transbordo, em que é fundamental ter bem resolvidas questões como: – as acessibilidades próximas em cada modo (facilmente encontramos exemplos em que o transporte ferroviário está fisicamente próximo mas o acesso ao terminal ferroviário é muito complicado ou mesmo com barreiras físicas intransponíveis), – os espaços disponíveis para as operações de carga e descarga, – a capacidade de elevação e de reboque, – a capacidade de transbordo, – a capacidade de armazenagem, para que não existam rupturas nos pontos de início e fim de viagem que acabem por condicionar todo o esforço de agilização da cadeia de transporte. A Monitorização Como em qualquer sistema, é necessário proceder à monitorização do seu desempenho, tenwww.transportesemrevista.com 33 DESTAQUE do o cuidado de definir metas, medir os desempenhos e, tão importante quanto conhecer, tomar medidas de correcção em caso de desvios significativos. Mas então, como dar os primeiros passos da mudança. Existem oito “olhares” sobre o sistema que podem ajudar a essa mudança. Mudar a forma de olhar – A cadeia logística (e de transportes) não é composta apenas de movimentação de produtos físicos entre empresas. Quase tão importante quanto o transporte, é o fluxo de informação, já que a comunicação é um factor chave para a manutenção e gestão da cadeia logística. É necessário preocuparmo- 34 Quase tão importante quanto o transporte é o fluxo de informação, já que a comunicação é um factor chave para a manutenção e gestão da cadeia logística. www.transportesemrevista.com nos mais com o sistema e não somente com uma das suas partes, ainda que não devemos perder a referência que cada parte pode e deve ser melhorada à medida que aumenta o nosso grau de conhecimento; Olhar para a actividade e para a cadeia de transporte de suporte – devemos ser críticos sobre a nossa actividade para assim podermos melhorar. No entanto, muitas vezes não temos a distância suficiente para olhar para a nossa actividade de forma crítica e com isso avaliar o que pode estar a correr menos bem. A maioria das vezes, a contratação de uma entidade externa, com um olhar independente, para efectuar TR 67 SETEMBRO 2008 DESTAQUE uma avaliação crítica ao sistema instalado não é um sobrecusto mas sim uma mais-valia. Por outro lado, normalmente existe informação suficiente sobre os custos da actividade logística e de transporte que permite fazer uma avaliação rigorosa das soluções implementadas e das soluções propostas e com isso ter uma ideia dos ganhos potenciais que se conseguem com a mudança, podendo prever os seus custos e benefícios e assim tomar decisões mais informadas; Olhar em redor – embora pensemos sempre que o nosso caso é algo muito específico, outros têm o mesmo tipo de problemas e melhor do que isso, de necessidades. Assim, casos há em que a integração pode e faz todo o sentido. A integração com outras entidades com as mesmas necessidades, desde que a cooperação seja genuína, permite ganhar escala (para explorar melhor as opções de transporte existentes ou poder passar a considerar outras), melhorar a produtividade dos recursos, reduzir os tempos de entrega e, consequentemente, ter um melhor serviço e diminuir os custos. Um caso típico de cooperação está associado ao aproveitamento de viagens de retorno (muitas das vezes feitas em vazio) em que o operador de transporte tem capacidade de acomodar outras cargas, criando-se assim uma oportunidade de custos de transporte mais baixos. No entanto, para diminuir a fragilidade da solução, é recomendável que as entidades cooperem e coordenem a suas necessidades de transporte, permitindo a ambas a garantia de controlo do processo; Olhar para as tecnologias – As tecnologias ao nosso dispor são hoje diferentes, existindo ferramentas informáticas baseadas em sistemas de informação geográfica que nos permitem, por um lado, espacializar rigorosamente os diversos intervenientes no processo (localizando a produção, os armazéns, os clientes, os veículos), e por outro lado, gerir convenientemente os fluxos entre eles (com diminuição de custos e maior fiabilidade na entrega), através da análise e planeamento de rotas e a monitorização dos veículos, elementos que podem conduzir a melhorias nos circuitos com redução dos quilómetros produzidos e dos tempos de entrega (e conpub. DESTAQUE sequentemente, com libertação ou menor necessidade de recursos); Olhar para o desempenho conseguido – tão importante quanto ter uma boa cadeia de transporte é saber como ela está a funcionar e receber os alertas que possam conduzir à sua melhoria. Assim, devemos traçar objectivos e metas bem definidos, por forma às decisões tomadas terem um impacto positivo no desempenho e qualidade dos serviços; Olhar as oportunidades – devemos estar atentos às oportunidades que o mercado gera, quer do lado da oferta, quer do lado da procura. O caso particular das plataformas logísticas é o melhor exemplo do que tem sido desenvolvido exogenamente aos agentes logísticos para melhorar globalmente o sistema e que ainda poucos aproveitaram. As plataformas logísticas previstas no Portugal Logístico cobrem 93% da população e da economia (dados MOPTC) e se devidamente acompanhadas pela plataforma de gestão Janela Única Logística (que liga todas as plataformas, potenciando o seu efeito de rede), podem ser uma oportunidade para repensar a cadeia logística de algumas actividades, pelo que isso possa representar de alavanca para processos de internacionalização; Olhar para os recursos humanos e apostar nas pessoas certas para fazer o trabalho certo – a opção de ter alguém dedicado à análise e gestão da cadeia logística é quase sempre uma opção pagadora, já que a correcta gestão de transportes representa sempre um ganho, quando não monetário, pelo menos de fiabilidade da cadeia logística, o que pode representar maior segurança por parte dos clientes. Ter alguém que se preocupe, de forma integrada, com aspectos estratégicos (como a decisão de 36 A integração com outras entidades com as mesmas necessidades permite ganhar escala, melhorar a produtividade dos recursos reduzir os tempos de entrega. www.transportesemrevista.com utilização de uma frota própria ou subcontratada ou qual o nível de serviço pretendido), com aspectos tácticos (como a escolha do transportador), ou operacionais (como a preparação da documentação necessária), e que também se preocupe com a monitorização do serviço e a sua avaliação de desempenho dando alertas no sentido da melhoria, pode ser a chave de sucesso de uma operação logística. Aliás, deve também ser equacionada a possibilidade de pelo menos, em parte, a gestão logística ser assegurada por uma entidade terceira; e por fim, Olhar o mercado de forma mais global – mesmo as soluções simples podem servir de alavanca para o negócio, porque permitem alargar a sua área de expansão natural. Num momento em que se pensa tanto num mercado global, as empresas devem pensar no seu crescimento sustentado, ganhando escala e explorando novos mercados. Um bom exemplo disso é tirar partido da nossa localização geográfica, não só aproveitando as plataformas marítimas, mas olhar para a Ibéria em vez de Portugal. De facto, como se ilustra no mapa construído com centro na região de Lisboa e na rede viária existente (identificando-se as áreas de isocusto), verifica-se de forma clara que mesmo apoiando o negócio no transporte rodoviário, existem áreas de expansão natural da actividade, fora de território português, desde que disponhamos das soluções adequadas. Em resumo, ainda que a conjuntura actual não recomende grandes investimentos nem grandes alterações estruturais, também este pode ser o momento de, com alterações na forma como organizamos a nossa cadeia logística e de transporte, conseguir ganhos e robustez que nos tornem mais resistentes aos ventos desfavoráveis. TR 67 SETEMBRO 2008