DESTAQUE
A procura de soluções simples
Logística e Transportes
Num universo que se torna cada vez mais complexo, com ofertas de cadeias logísticas
diversificadas, com múltiplas opções, diversos níveis de oferta, com custos muito variáveis
em função das opções e dos níveis de serviço oferecidos, a escolha da solução de transporte
que melhor serve os interesses de um negócio torna-se difícil o que leva a que, face
à complexidade, se opte pela continuidade das soluções existentes, sem se introduzir
factores de melhoria que, mesmo que pequenos, podem ter resultados significativos.
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Faustino Gomes
A Eficiência Global da Solução
Assim, a primeira opção deve ser sempre...
começar por fazer. Existem soluções simples que
podem ser implementadas desde que tenhamos
sempre em linha de conta que qualquer opção
de transporte / logística deve ponderar:
A eficiência da solução de transporte de mercadorias deve ser avaliada através de um conjunto de
indicadores mensuráveis. No entanto, não se deve
retirar ao gestor a capacidade e responsabilidade
de avaliar qualitativamente a eficiência da solução
em função da sua percepção de como esta cumpre
os objectivos traçados. Uma forma imediata de
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avaliar uma solução passa, por exemplo, por verificar se nas soluções que adoptamos, tomamos já
partido ou não de soluções intermodais, sempre
que seja possível considerar mais do que um modo
de transporte, ou se em questões relacionadas
com a distribuição urbana, incorporamos ou não a
importância dos fenómenos do estacionamento e
de congestionamento.
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A Avaliação da Solução
Independentemente da complexidade das alterações a introduzir, é importante que se defina
um conjunto de indicadores de desempenho
que permita medir de que forma é que a
solução encontrada se traduz em melhorias.
Estes indicadores devem corresponder a três
pontos-de-vista diferenciados:
• Que olhar sobre as redes de base?
É fundamental que:
– se tenha uma atenção especial à conectividade entre modos para que se assegurar que
não existem rupturas de carga na passagem
entre modos (nas soluções intermodais),
– se avalie se existem limitações de acesso introduzidas pela rede, quer seja pela sua geometria – por exemplo, no caso da logística urbana,
ruas que não permitem ou dificultam a circulação de veículos de maiores dimensões – ou
pela carga – por exemplo, restrições de capacidade de carga na rede ferroviária (em Portugal,
parte significativa da rede ferroviária normalmente utilizada para o transporte de mercadorias já é de categoria D4, que corresponde ao
patamar mais elevado definido na
Classificação das Linhas de Via Larga segundo
a União Internacional dos Comboios),
– se avalie qual a capacidade de fluxo, ou seja,
se verifique o equilíbrio da relação entre o que
queremos movimentar e os valores eficientes
de capacidade por modo de transporte são
compatíveis,
– se avalie a segurança de como se faz o transporte quer na vertente de safety quer na vertente de security;
• Que preocupações ter com a operação? As
características da operação também podem
ser um factor crítico de sucesso. É fundamental ter especial atenção:
– à produtividade nas ligações em linha (entendidas como os movimentos principais entre os
pontos de entrega), no porta-a-porta (entendido como os movimentos de distribuição por
diversos clientes / fornecedores quando tal faz
sentido na lógica do negócio),
– à informação que se detém sobre o transporte, garantindo que esta é a mais correcta e
actualizada sobre o posicionamento da carga
na cadeia de transporte e quando possível
construir sistemas de informação em tempo
real sobre a carga,
– à percepção da rentabilidade que se está a
obter por unidade (ton.km) de carga transportada, e, cada vez mais importante,
– à percepção das emissões por unidade
(ton.km) para podermos cumprir a nossa
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missão mas progressivamente com soluções
ambientalmente mais sustentáveis;
• Que cuidados a ter com as instalações e
equipamentos? Para além das legítimas preocupações com as ligações (os arcos da
solução logística), muitas das vezes os maiores
problemas surgem nos pontos de carga e
descarga ou de transbordo, em que é fundamental ter bem resolvidas questões como:
– as acessibilidades próximas em cada modo
(facilmente encontramos exemplos em que o
transporte ferroviário está fisicamente próximo mas o acesso ao terminal ferroviário é
muito complicado ou mesmo com barreiras
físicas intransponíveis),
– os espaços disponíveis para as operações de
carga e descarga,
– a capacidade de elevação e de reboque,
– a capacidade de transbordo,
– a capacidade de armazenagem,
para que não existam rupturas nos pontos de
início e fim de viagem que acabem por condicionar todo o esforço de agilização da cadeia de
transporte.
A Monitorização
Como em qualquer sistema, é necessário proceder à monitorização do seu desempenho, tenwww.transportesemrevista.com
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do o cuidado de definir metas, medir os desempenhos e, tão importante quanto conhecer, tomar medidas de correcção em caso de desvios
significativos.
Mas então, como dar os primeiros passos da
mudança. Existem oito “olhares” sobre o sistema que podem ajudar a essa mudança.
Mudar a forma de olhar – A cadeia logística (e
de transportes) não é composta apenas de
movimentação de produtos físicos entre empresas. Quase tão importante quanto o transporte,
é o fluxo de informação, já que a comunicação
é um factor chave para a manutenção e gestão
da cadeia logística. É necessário preocuparmo-
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Quase tão importante
quanto o transporte
é o fluxo de informação,
já que a comunicação
é um factor chave para
a manutenção e gestão
da cadeia logística.
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nos mais com o sistema e não somente com
uma das suas partes, ainda que não devemos
perder a referência que cada parte pode e deve
ser melhorada à medida que aumenta o nosso
grau de conhecimento;
Olhar para a actividade e para a cadeia de
transporte de suporte – devemos ser críticos
sobre a nossa actividade para assim podermos
melhorar. No entanto, muitas vezes não temos a
distância suficiente para olhar para a nossa
actividade de forma crítica e com isso avaliar o
que pode estar a correr menos bem. A maioria
das vezes, a contratação de uma entidade externa, com um olhar independente, para efectuar
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uma avaliação crítica ao sistema instalado não é
um sobrecusto mas sim uma mais-valia. Por
outro lado, normalmente existe informação suficiente sobre os custos da actividade logística e
de transporte que permite fazer uma avaliação
rigorosa das soluções implementadas e das
soluções propostas e com isso ter uma ideia dos
ganhos potenciais que se conseguem com a
mudança, podendo prever os seus custos e
benefícios e assim tomar decisões mais informadas;
Olhar em redor – embora pensemos sempre
que o nosso caso é algo muito específico, outros
têm o mesmo tipo de problemas e melhor do
que isso, de necessidades. Assim, casos há em
que a integração pode e faz todo o sentido. A
integração com outras entidades com as mesmas necessidades, desde que a cooperação seja
genuína, permite ganhar escala (para explorar
melhor as opções de transporte existentes ou
poder passar a considerar outras), melhorar a
produtividade dos recursos, reduzir os tempos
de entrega e, consequentemente, ter um melhor serviço e diminuir os custos. Um caso típico
de cooperação está associado ao aproveitamento de viagens de retorno (muitas das vezes feitas
em vazio) em que o operador de transporte tem
capacidade de acomodar outras cargas, criando-se assim uma oportunidade de custos de
transporte mais baixos. No entanto, para diminuir a fragilidade da solução, é recomendável
que as entidades cooperem e coordenem a suas
necessidades de transporte, permitindo a ambas
a garantia de controlo do processo;
Olhar para as tecnologias – As tecnologias ao
nosso dispor são hoje diferentes, existindo ferramentas informáticas baseadas em sistemas de
informação geográfica que nos permitem, por
um lado, espacializar rigorosamente os diversos
intervenientes no processo (localizando a produção, os armazéns, os clientes, os veículos), e
por outro lado, gerir convenientemente os fluxos entre eles (com diminuição de custos e
maior fiabilidade na entrega), através da análise
e planeamento de rotas e a monitorização dos
veículos, elementos que podem conduzir a melhorias nos circuitos com redução dos quilómetros produzidos e dos tempos de entrega (e conpub.
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sequentemente, com libertação ou menor
necessidade de recursos);
Olhar para o desempenho conseguido – tão
importante quanto ter uma boa cadeia de transporte é saber como ela está a funcionar e receber os alertas que possam conduzir à sua melhoria. Assim, devemos traçar objectivos e metas
bem definidos, por forma às decisões tomadas
terem um impacto positivo no desempenho e
qualidade dos serviços;
Olhar as oportunidades – devemos estar atentos às oportunidades que o mercado gera, quer
do lado da oferta, quer do lado da procura. O
caso particular das plataformas logísticas é o
melhor exemplo do que tem sido desenvolvido
exogenamente aos agentes logísticos para melhorar globalmente o sistema e que ainda
poucos aproveitaram. As plataformas logísticas
previstas no Portugal Logístico cobrem 93% da
população e da economia (dados MOPTC) e se
devidamente acompanhadas pela plataforma de
gestão Janela Única Logística (que liga todas as
plataformas, potenciando o seu efeito de rede),
podem ser uma oportunidade para repensar a
cadeia logística de algumas actividades, pelo
que isso possa representar de alavanca para
processos de internacionalização;
Olhar para os recursos humanos e apostar
nas pessoas certas para fazer o trabalho
certo – a opção de ter alguém dedicado à análise e gestão da cadeia logística é quase sempre
uma opção pagadora, já que a correcta gestão
de transportes representa sempre um ganho,
quando não monetário, pelo menos de fiabilidade da cadeia logística, o que pode representar maior segurança por parte dos clientes. Ter
alguém que se preocupe, de forma integrada,
com aspectos estratégicos (como a decisão de
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A integração com outras
entidades com as mesmas
necessidades permite
ganhar escala, melhorar
a produtividade
dos recursos reduzir
os tempos de entrega.
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utilização de uma frota própria ou subcontratada ou qual o nível de serviço pretendido),
com aspectos tácticos (como a escolha do
transportador), ou operacionais (como a preparação da documentação necessária), e que
também se preocupe com a monitorização do
serviço e a sua avaliação de desempenho dando alertas no sentido da melhoria, pode ser a
chave de sucesso de uma operação logística.
Aliás, deve também ser equacionada a possibilidade de pelo menos, em parte, a gestão logística ser assegurada por uma entidade terceira;
e por fim,
Olhar o mercado de forma mais global –
mesmo as soluções simples podem servir de alavanca para o negócio, porque permitem alargar a
sua área de expansão natural. Num momento em
que se pensa tanto num mercado global, as
empresas devem pensar no seu crescimento sustentado, ganhando escala e explorando novos
mercados. Um bom exemplo disso é tirar partido
da nossa localização geográfica, não só aproveitando as plataformas marítimas, mas olhar para a
Ibéria em vez de Portugal. De facto, como se ilustra no mapa construído com centro na região de
Lisboa e na rede viária existente (identificando-se
as áreas de isocusto), verifica-se de forma clara
que mesmo apoiando o negócio no transporte
rodoviário, existem áreas de expansão natural da
actividade, fora de território português, desde que
disponhamos das soluções adequadas.
Em resumo, ainda que a conjuntura actual não
recomende grandes investimentos nem grandes
alterações estruturais, também este pode ser o
momento de, com alterações na forma como
organizamos a nossa cadeia logística e de transporte, conseguir ganhos e robustez que nos tornem mais resistentes aos ventos desfavoráveis.
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