Itinerário pedagógico O VINHO ALENTEJANO Ciências NaturAIS FÍSICO-QUÍMICA GEOGRAFIA HISTÓRIA 21_Vinho alentejano.indd 1 • Os solos alentejanos • O impacto ambiental • A qualidade dos vinhos • Beber vinho alentejano… com moderação • A produção do vinho • Fases da fermentação alcoólica • O vinho alentejano: condicionalismos naturais • Indicação geográfica alentejana • O enoturismo • A história do vinho, faceta da história das civilizações • O vinho na história de Portugal 20/03/14 17:40 Apresentação Em 2014, a editora Santillana comemora o seu 25.º Aniversário em Portugal. Consideramos que é uma data com um significado especial, que queremos partilhar com o professor como forma de agradecimento por nos acompanhar neste percurso. Com esse propósito, criámos recursos educativos inovadores e úteis para professores e alunos, pois esta é a nossa área de especialidade. Selecionámos, assim, uma série de temas que podem ser explorados nas salas de aula e que se propõem alcançar os seguintes objetivos: • valorizar o património cultural de Portugal a partir da exploração de temas que tenham uma importância destacada no desenvolvimento económico e social das regiões do nosso país; • escolher setores que tenham sofrido profundas alterações nos últimos 25 anos e que, no momento presente, enfrentam o desafio que é crescer com ambição e sucesso num novo contexto económico e social; • trabalhar numa perspetiva multidisciplinar como forma de enriquecer os recursos didáticos e permitir um trabalho de parceria com as escolas; • propor sugestões de atividades que possam ser facilmente realizadas nas salas de aula e que possam servir de base para visitas de estudo ou para trabalhos de investigação; • estreitar a relação entre os conteúdos didáticos e o quotidiano dos alunos. Esperamos que a exploração destes temas seja útil para o seu trabalho nas escolas e contamos consigo para continuar a melhorar a qualidade da formação dos nossos alunos. A equipa Santillana 1989-2014 21_Vinho alentejano.indd 2 20/03/14 17:41 O vinho alentejano O vinho alentejano representa, há vários séculos, um símbolo do Alentejo e do País e um elemento destacado do património cultural e económico da região alentejana. A sua importância na economia nacional e regional, o grande reconhecimento internacional e as características da sua paisagem e da sua produção fazem do vinho alentejano um objeto de estudo do máximo interesse. O Património E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO 21_Vinho alentejano.indd 3 p. 4 Ciências Naturais p. 6 Físico-Química p. 8 Geografia p. 10 História p. 12 Caso de sucesso p. 14 20/03/14 17:41 O Património E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO José Amado Mendes Professor catedrático da Universidade de Coimbra (ap.º) e da Universidade Autónoma de Lisboa. Tem-se dedicado à investigação e ao ensino de questões relacionadas com o património, a museologia, a arqueologia industrial e a história das empresas, entre outras. O património cultural — doravante designado apenas por património — está na ordem do dia, sobretudo desde meados do século xx. Até à década de 1930, a noção de património circunscrevia-se quase só ao conjunto de bens materiais, transmitidos pelos familiares aos seus descendentes e herdados por estes. Aliás, o próprio vocábulo «património» (do latim «patrimonium») remete para «pater» (pai) e também para a herança de bens familiares, cujo significado se encontra patente na raiz do termo inglês «heritage». Todavia, de modo especial a partir da II Guerra Mundial, a noção de património passou a aplicar-se cada vez mais frequentemente aos elementos de ordem cultural, de tal modo que, quando nos referimos àquele, mesmo sem o adjetivar, regra geral o que temos em mente é precisamente o património cultural. Entre outras definições, podemos adotar a seguinte: «a noção moderna de património, que põe uma ênfase especial no critério científico de seleção dos bens patrimoniais, abarca todos os objetos portadores de informação e que tenham sido produzidos em qualquer momento histórico» (Tugores e Planas, 2006: 23)1. Alguns dos fatores mais significativos pelos quais o património tem vindo a impor-se, tanto do ponto de vista da ciência como da docência, devem-se, por um lado, à sua interdisciplinaridade — o que tem levado, inclusive, à criação das chamadas «ciências do património» (Mohen,1999) — e, por outro, ao seu cariz de aplicabilidade a diversos domínios, como veremos em seguida. 1.Valores e potencialidades do património Dada a já referida abrangência do conceito de património, em vez de património podemos falar de patrimónios, pois aquele diversifica-se por diversas modalidades, embora sob a mesma designação genérica. Assim, reportando-me apenas a alguns exemplos, podemos identificar os seguintes tipos de património: mundial, europeu, nacional, regional e local; material e imaterial, artístico, estético e arqueológico; científico e tecnológico; industrial e agrícola; gastronómico, folclórico e musical; natural e paisagístico, etc. Ainda que com incidências diferentes, consoante o género de património, são múltiplos os valores e as potencialidades que lhe podemos atribuir. Todavia, deverá ter-se presente que o património não tem propriamente um valor intrínseco, já que aquele é-lhe atribuído pelas pessoas de determinada época e em contexto específico. Referem-se a este aspeto expressões como as seguintes: a) «nada é património, mas qualquer coisa se pode tornar património»; b) as discussões cerca do património não são relativas ao passado, mas sim sobre o presente e o futuro, designadamente quanto ao que fazemos dele (Howard, 2003: 7 e 19). Xavier Greffe, por exemplo, alude aos seguintes valores do património: estético, artístico, histórico, cognitivo e económico (Greffe, 1990: 32-38); a estes, permito-me acrescentar os valores social e pedagógico. Quanto aos valores estético e artístico, eles estão presentes nos monumentos tradicionais — castelos, catedrais e igrejas, palácios e casas vernáculas, obras de arte pictóricas e escultóricas, objetos de ornamento e de vestuário, entre outros —, podendo ser estudados através da história, da história da arte, da etnologia e da sociologia. No que concerne ao valor histórico e cognitivo, os objetos são vistos como fontes de informação ou como documentos/ /monumentos (usando a expressão de Jacques Le Goff). Relativamente ao valor económico, o património é perspetivado como um recurso que pode igualmente transformar-se num «produto», o qual é de capital importância, por exemplo, no âmbito do turismo cultural. Face ao papel que o turismo desempenha na economia e na sociedade contemporâneas, já se lhe chamou o «passaporte para o desenvolvimento» (Kadt, 1984). O valor social do património patenteia-se na sua fruição pela própria sociedade, através da sua utilização ou reutilização para proveito das comunidades em que o mesmo se insere. A propósito, já foi devidamente enfatizado: «A partir da década de 1980, o património cultural começa a ser percebido não só na sua dimensão histórica e cultural, mas também como uma fonte de riqueza e de desenvolvimento económico» (Hernández Hernández, 2002: 8). Ao invés do que outrora se verificava, segundo esta perspetiva, o património deve ser considerado uma mais-valia ou um ativo, em prol do desenvolvimento, e não apenas um encargo para os responsáveis pela sua preservação. 2.O património no centro da educação formal O património e a educação patrimonial, não obstante a sua enorme importância, ainda não ocupam o papel primordial que lhes deveria ser atribuído na escola e no processo de ensino-aprendizagem. Acerca do assunto e a propósito da pedagogia do património, já foi formulada a seguinte questão: «Os nossos contemporâneos felizmente têm aceitado estas verdades fundamentais [quanto à função educativa] nos domínios técnico e científico. Mas que dizer de uma educação para o ambiente e o património? Estará ela suficientemente presente nos nossos espíritos e nas nossas escolas?» (Hague [The] Forum, 2004: 8). Do ponto de vista da educação formal — em geral cometida à escola —, o património constitui um complemento fundamental do processo educativo, podendo funcionar como uma espécie 1 Não obstante a relevância que o património tem vindo a assumir nas últimas décadas — ao ponto de já se falar de uma certa «patrimonialização» —, os dicionários de língua portuguesa só recentemente passaram a considerar e referida vertente do património, como por exemplo na seguinte definição: «conjunto de bens materiais e imateriais transmitidos pelos antepassados e que constituem uma herança colectiva» («património», in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, vol. II, Lisboa, Ed. Verbo, 2001, p. 2784). Nas citações a partir de língua estrangeira, a tradução é da minha responsabilidade. 4 21_Vinho alentejano.indd 4 20/03/14 17:41 de laboratório. Segundo Ballart, podemos «aproximar-nos» do passado através de três vias: a) pela memória, explorada através da história oral e da psicologia; b) pelos livros e documentação arquivística, como fazem os historiadores; c) pelos objetos e vestígios materiais, foco de atenção por parte de arqueólogos e antropólogos (Ballart, 1997: 93). Os objetos e vestígios materiais contemplam, por exemplo: estátuas, livros, fábricas, fotografias, paisagens, canais, casas, igrejas, mobiliário, tecnologia, utensílios e ferramentas artesanais, meios de transporte, centrais elétricas, de gás e de elevação e tratamento de água. A sua diversidade é quase omnipresente e pelo menos alguns dos seus elementos fazem do dito património um meio pedagógico da maior relevância, o que é facilitado pela sua acessibilidade, tanto a professores como a alunos, no respetivo contexto. As visitas de estudo, organizadas no âmbito da escola, ou mesmo fora do ambiente escolar, por alunos — individualmente ou em família —, devem fazer parte das estratégias de ensino-aprendizagem, bem como de projetos de investigação a desenvolver. Assim, segundo já foi destacado por um autor, «é possível dar um uso didático ao património. Neste caso, o seu uso e significado estão unidos a um determinado processo de ensino e aprendizagem, à sua utilidade como recurso didático em contextos formais ou informais de ensino» (Viñao, 2011: 49). Como são múltiplas as atividades a concretizar no que concerne ao património — deteção e inventariação, salvaguarda e preservação, reutilização e dinamização —, existem numerosos tipos de ações que poderão ser incrementadas, com bons resultados em termos de aproveitamento escolar, de âmbito pluridisciplinar. Mesmo que os aspetos relacionados com o património não se encontrem expressamente referenciados nos conteúdos programáticos, há sempre a possibilidade de usar a chamada «porta de serviço» 2. Trata-se, pois, de utilizar o património para ilustrar, fundamentar ou concretizar rubricas dos programas, direta ou indiretamente, relacionadas com o mesmo. São diversas as temáticas em que a educação patrimonial e a história — bem como outras disciplinas — se podem encontrar e de que podem beneficiar mutuamente, tais como: artesanato, industrialização e urbanização; rotas comerciais e meios de transporte e comunicações; expansão marítima e encontro de civilizações; arquitetura civil, militar e religiosa; antigo regime, modernidade e pós-modernidade; cultura de massas e cultura de elites; operariado e respetivo ambiente3. Obviamente que, nestes como noutros casos relacionados com o património, as questões referentes à identidade e à memória também se encontram presentes. Reportando-se aos laços que unem a história e a memória, esclarece A. Viñao: «paradoxalmente, o crescente interesse pela memória e pelo património produz-se num momento caracterizado pela desmemória, a destruição do comum ou comunitário e as profundas transformações nos meios e suportes de transmissão intergeracional do saber e do conhecimento que em cada momento se considera valioso. No centro de tudo se acha a educação institucional, essa atividade ou tarefa que as sociedades têm configurado ao longo de vários séculos para levar a cabo, de modo sistemático e formalizado, a dita transmissão» (Viñao, 2011: 35). Em termos de metodologia, a educação patrimonial é baseada em: métodos ativos; ensino baseado em projetos; práticas cooperativas; autogestão e disciplina; interdisciplinaridade e interculturalismo; parcerias entre professores, líderes culturais artesãos, encarregados de educação e patrocinadores (Cultural heritage…, 1998: 115). O estudo do património pode desempenhar também uma função primordial na formação para a cidadania, a compreensão do outro, a tolerância e a paz. Como cada povo constrói, desenvolve e salvaguarda o seu próprio património, o aprofundar do seu conhecimento constitui uma boa forma de entendimento e de aproximação entre pessoas provenientes de meios culturais e civilizacionais diversificados (Hague [The] Forum, 2004: 26), o que é da maior importância na era da globalização e no «mundo plano»4 em que nos inserimos. 3.O património na educação não formal e ao longo da vida Relativamente à educação não formal — também apelidada de informal por alguns autores —, é hoje relativamente consensual que se trata de uma das principais características das políticas educativas do século xxi. Com efeito, diferentemente do que se registava num passado ainda não muito distante, o processo de ensino-aprendizagem não se restringe meramente ao período escolar do indivíduo, mas deve acompanhá-lo ao longo da vida. Neste contexto, instituições como museus, centros de interpretação, bibliotecas, arquivos e outros centros de documentação e informação — locais que, por definição e vocação, albergam, estudam, tratam e divulgam os vários géneros de património — são convocados para o domínio da educação, tornando-se assim parceiros e complementos das próprias escolas. Em termos de valorização e sensibilização, a educação patrimonial leva a que o indivíduo, culto, civicamente ativo e crítico, não só conheça o património mas também adquira competências para ser um seu empenhado defensor e protetor. Assim, o património está intimamente relacionado com a educação em todas as idades5. Como escreveu F. Tilden, considerado o pai da interpretação no campo do património: «através da interpretação, a compreensão; através da compreensão, a apreciação; e através da apreciação, a proteção»6. 2 Esta estratégia foi utilizada em Inglaterra nas décadas de 1960 e 1970, quando se começou a prestar a devida atenção ao potencial pedagógico do património e da arqueologia industriais. 3 Alguns exemplos da ação educativa junto das comunidade podem passar por: a) técnicas relacionadas com o trabalho da comunidade; b) salvaguarda do património cultural local; c) visitas de estudo, atentas aos valores visuais do ambiente, artesanais e artísticos (Telmo, 1986: 6). 4 Friedman, 2005. 5 Howard, 2003: 18. 6 NOTA: Referências bibliográficas na contracapa desta brochura. Apud Murta e Celina (Orgs.), 2002: 14-15. 5 21_Vinho alentejano.indd 5 20/03/14 17:41 Ciências naturais Entre os vinhos que se produzem em Portugal, o vinho alentejano é o espelho de uma região demarcada por características únicas e pelas suas gentes, ligadas ao trabalho árduo do campo. É uma das mais extensas regiões vinícolas do País, subdividida em oito sub-regiões e dominada por solos pobres e longos meses quentes e secos. Os solos alentejanos O solo é a camada superficial da crosta terrestre, formada por partículas minerais, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos. A génese dos solos é um processo lento, que pode demorar milhares de anos e que se deve à ação transformadora de agentes atmosféricos e biológicos. A constituição do solo está, assim, diretamente ligada às características naturais de cada região e a sua composição mineral depende da rocha predominante. SABER Como se forma o solo? Sendo a região vitivinícola alentejana tão extensa, será talvez a heterogeneidade dos solos que mais enriquece a diversidade dos vinhos produzidos. Mas, de um modo geral, a maior parte dos solos é de origem granítica, existindo algumas manchas de derivados de xistos e quartzodioritos. Na região de Borba predominam solos derivados, direta ou indiretamente, de calcários cristalinos e na região de Moura, solos calcários pardos. Na generalidade, são solos de médio a baixo nível de fertilidade. Contudo, na década de 1980, o Alentejo sofreu uma ampla modernização da produção vitivinícola, que trouxe novas técnicas, investimentos e aumento na produtividade. Deste esforço resultou a demarcação oficial da região e o reconhecimento internacional dos vinhos alentejanos. 1 — A rocha-mãe desagrega-se e abre fendas. 2 — Acumula-se ar e água e instalam-se microrganismos e musgos. 3 — O solo torna-se espesso e surgem outras plantas e pequenos animais. 4 — Os restos de seres vivos transformam-se em húmus. Ao longo do tempo forma-se um solo maduro, com diferentes camadas. O impacto ambiental O solo é um recurso natural inestimável, mas o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas, apesar das vantagens na produtividade e no trabalho humano, contribui muitas vezes para uma rápida degradação dos solos. Para garantir a sustentabilidade da agricultura, é necessário adotar medidas ambientalmente corretas, que não afetem o equilíbrio natural dos solos e permitam a continuidade do seu uso no futuro. A modernização das técnicas na produção de vinho pode substituir métodos tradicionais, mas é preciso que tanto a qualidade do vinho como a conservação dos solos sejam garantidas. 6 21_Vinho alentejano.indd 6 20/03/14 17:41 O VINHO ALENTEJANO A qualidade dos vinhos O clima de características mediterrânicas, com muitas horas de sol, e as temperaturas muito elevadas na primavera e no verão permitem a maturação perfeita das uvas. O longo período de sol e o tempo seco, que antecede as vindimas, são contributos valiosos para a qualidade dos vinhos, já que se encontram reunidas condições muito favoráveis à síntese e acumulação dos açúcares e à concentração de matérias corantes na película dos bagos. Deste contexto natural resultam tintos encorpados, com aromas a frutos silvestres, e brancos suaves, com aromas a frutos tropicais. Beber vinho alentejano… com moderação Vinhas no Alentejo. A Dieta Mediterrânea foi classificada como Património Mundial e Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Os seus benefícios para a saúde, reconhecidos pela OMS, devem-se a vários fatores: é uma dieta equilibrada, tem nutrientes adequados e alto teor de monoinsaturados, de glícidos complexos, de fibra alimentar e de antioxidantes. Pirâmide da Dieta Mediterrânea. Fonte: http://www.apdietistas.pt/nutricaosaude/alimentacao-na-saude/dieta-mediterranea A nova pirâmide da Dieta Mediterrânea apresenta os alimentos que devem ser consumidos em maior quantidade e aqueles que devem ser consumidos com moderação. Contém ainda indicações de carácter cultural e social, ligadas ao estilo de vida do Mediterrâneo, de que é exemplo o consumo moderado de vinho. Sugestões de exploração 1. Realizar uma campanha de sensibilização destinada a jovens sobre a moderação no consumo de álcool, incidindo sobre: • as diferenças de teor alcoólico (cerveja, vinho de mesa e bebidas espirituosas); • as quantidades consideradas moderadas; • os efeitos na saúde. 7 21_Vinho alentejano.indd 7 20/03/14 17:41 Físico-Química A produção do vinho Os elementos essenciais na produção de vinhos são, naturalmente, as uvas. As uvas não têm a mesma qualidade em todo o Mundo, a qual está dependente do tipo de casta, dos solos, das condições climatéricas e técnicas, da tecnologia de produção, entre outros aspetos. As uvas são colhidas manualmente ou com recurso a máquinas, sendo depois esmagadas. Hoje em dia, a tendência é as uvas serem esmagadas com recurso a meios mecanizados e tecnológicos, por uma questão de produtividade e eficiência, mas também de higiene. Após a colheita das uvas, procede-se à desintegração do mosto, de modo a preparar a fermentação. Devem ser adicionados sulfitos para eliminar organismos prejudiciais e são acrescentadas leveduras e grandes quantidades de açúcar. Por fim, adiciona-se água morna ao preparado. A etapa seguinte é a fermentação — o processo mais importante na produção do vinho. Resumidamente, este processo pode ser descrito da seguinte forma: a levedura converte o açúcar presente na fruta em dióxido de carbono (CO2) e álcool; em seguida, o dióxido de carbono desvanece-se pelo ar, ficando o vinho. Estando o processo de fermentação concluído, o vinho é armazenado (em garrafas ou barris) e estará pronto a consumir após um estágio, que pode demorar de 6 meses a muitos anos, dependendo do tipo de vinho, da sua qualidade, dos propósitos de comercialização, entre outros fatores. As uvas são o elemento-base da elaboração do vinho. Processo artesanal de elaboração do mosto. 8 21_Vinho alentejano.indd 8 20/03/14 17:41 O VINHO ALENTEJANO Fases da fermentação alcoólica A primeira fase da fermentação alcoólica é realizada num recipiente aberto, com temperaturas um pouco acima dos 20 ºC, ficando o preparado em repouso no máximo uma semana. As leveduras consomem a sacarose enquanto o dióxido de carbono é libertado, devido à ebulição do mosto, e a crescente concentração de etanol acaba por eliminar as leveduras. Neste primeiro processo de fermentação, são visíveis muitas bolhas e espuma. De seguida, ocorre a fase anaeróbica, segunda fermentação, em que o líquido e alguns sedimentos resultantes da primeira fermentação são transportados para outro recipiente e o mesmo é selado, de modo a evitar o contacto com o ar. A formação de bolhas e espuma no mosto deve-se à libertação de dióxido de carbono no processo de fermentação. A baixas temperaturas pretende-se isolar o vinho de cascas, caroços e detritos — um processo que pode demorar várias semanas e incluir várias mudanças de recipientes, dependendo do tipo de vinho. Segue-se a decantação, as colagens e a filtração. Adega onde o vinho é armazenado para posterior consumo. Sugestões de exploração 1. Visitar o L’AND Vineyards, onde se pode vivenciar a arte da produção do vinho. Depois, deve ser elaborado um pequeno trabalho em que se explique de que forma a física e a química estão presentes na produção do vinho. 2.Definir fermentação e indicar diferentes tipos de fermentação. 21_Vinho alentejano.indd 9 9 20/03/14 17:41 GEOGRAFIA O vinho alentejano: condicionalismos naturais No espaço sem fim, na imensidão das planícies ondulantes, a paisagem discorre suave por entre a vinha e os campos de cereais, pintada ora de um verde intenso no final do inverno, ora de cor de palha no final da primavera, ora de ocre no braseiro dos meses de verão. O semblante inconfundível dos sobreiros e azinheiras marca a linha do horizonte, traços de identidade da região que ocupa mais de um terço da área do território continental. 1 2 3 4 5 6 7 A planura característica do Alentejo e a correspondente falta de barreiras orográficas impedem a condensação da humidade vinda do mar, subtraindo qualquer veleidade de expressão atlântica no Alentejo. Mas são precisamente os poucos acidentes orográficos da paisagem alentejana que condicionam e individualizam as diferentes sub-regiões, proporcionando condições singulares para a cultura da vinha em toda a região. 8 Sub-regiões do Alentejo: 1 — Portalegre; 2 — Borba; 3 — Évora; 4 — Redondo; 5 — Reguengos; 6 — Granja-Amareleja; 7 — Vidigueira; 8 — Moura. A serra de S. Mamede, a cordilheira mais alta a sul do Tejo, situada no Norte do Alentejo, constitui o exemplo flagrante desta individualidade, aportando a frescura retemperadora que só a altitude pode proporcionar. Também o Redondo, protegido pela barreira natural da serra da Ossa, tal como a Vidigueira, abrigada pela serra de Portel, beneficiam da cumplicidade da Natureza para garantir vinhos singulares. Fonte: www.infovini.com Vinho Regional Minho 1 Vinho Regional Transmontano 2 DOC VINHO VERDE DOC TRÁS-OS-MONTES Vinho Regional Terras Madeirenses 26 Vinho Regional Duriense DOC MADEIRA/MADEIRENSE 3 26 DOC PORTO/DOURO Vinho Regional Beiras 26 Vinho Regional Terras do Dão 6 DOC TÁVORA-VAROSA 7 DOC BAIRRADA 4 DOC LAFÕES 8 DOC BEIRA INTERIOR 5 DOC DÃO Vinho Regional Lisboa Vinho Regional Açores 27 DOC GRACIOSA 28 DOC BISCOITOS 29 DOC PICO 27 28 Regiões demarcadas de Portugal: denominações de origem. Fonte: www.viniportugal.pt 29 17 DOC ENCOSTA DE AIRE 18 DOC ÓBIDOS 19 DOC ALENQUER 20 DOC ARRUDA 21 DOC TORRES VEDRAS 22 DOC LOURINHÃ Vinho Regional Alentejano 23 DOC BUCELAS 10 24 DOC CARCAVELOS 25 DOC COLARES Vinho Regional Tejo 9 DOC TEJO DOC ALENTEJO 27 Vinho Regional Península de Setúbal 15 DOC SETÚBAL 16 DOC PALMELA Vinho Regional Algarve 11 DOC LAGOS 12 DOC PORTIMÃO 13 DOC LAGOA 14 DOC TAVIRA 10 21_Vinho alentejano.indd 10 20/03/14 17:41 O VINHO ALENTEJANO Indicação geográfica alentejana O vasto e diferenciado território do Alentejo encontra-se dividido administrativamente em três distritos — Portalegre, Évora e Beja —, que, juntos, perfazem as fronteiras naturais do vinho regional alentejano. Nisa Alter do Chão Apesar das diferenças regionais vincadas, da multiplicidade de castas presentes nos encepamentos, da evidente heterogeneidade de solos que caracteriza o Alentejo, existem inúmeros traços comuns nos vinhos da grande planície alentejana. O enoturismo Arronches Montargil Monforte Mora Estremoz Vendas Novas A6 Arraiolos Elvas Borba Vila Viçosa Redondo Montemor-o-Novo Évora Viana do Alentejo O vinho regional alentejano, com regras mais liberais e uma maior autonomia na escolha das castas, acolheu, além dos produtores cujas vinhas se situam fora das oito sub-regiões com direito a denominação de origem, um conjunto elevado de produtores clássicos. Em estreita ligação com a produção, desenvolveu-se o enoturismo, com a criação de uma rota das adegas, entre outras iniciativas. Portalegre Ponte de Sôr Reguengos de Monsaraz Portel Cuba Ferreira do Alentejo Moura Barrancos Beja Serpa Aljustrel Castro Verde Ourique Odemira Mértola A2 Adega Rota das adegas: um exemplo de enoturismo no Alentejo. Fonte: www.vinhosdoalentejo.pt Desde tempos imemoriais que o vinho está associado à gastronomia portuguesa, envolvendo engenho agrícola, marcando os usos e costumes de um povo, revelando-se na arte e na arquitetura e, vincando, de forma indelével mas sustentável, a paisagem. O reconhecimento dos vinhos portugueses tem vindo a ganhar eco fora de portas, mercê da dedicação e sensibilidade de quem os produz. As adegas reformularam-se à luz de novas regras, outras ousaram nas formas arquitetónicas; os espaços revelam a história dos locais. A paisagem de vinha ora tira o folgo a quem a contempla, ora acalma os espíritos mais inquietos. As pessoas envolvem pela forma como recebem e partilham esta riqueza. O turista procura estes valores, aprecia o que é genuíno e é ávido de experiências marcantes em locais emblemáticos. O vinho, a vinha e a cultura vínica podem afirmar-se sustentando a procura turística, reforçando a atratividade do território e valorizando outras propostas de visitação turística. Sugestões de exploração 1. Investigar a importância do vinho na economia regional do Alentejo. 2.Promover uma atividade de enoturismo na região do Alentejo. 11 21_Vinho alentejano.indd 11 20/03/14 17:41 história A história do vinho, faceta da história das civilizações O vinho tem uma longa e variada história que recua, pelo menos, a cerca de 6000 a. C. na Geórgia, onde se encontraram os primeiros vestígios arqueológicos da cultura da vinha. Cerca de 4500 a. C. estes vestígios já se encontravam na península dos Balcãs, expandindo-se depois por toda a bacia do Mediterrâneo. Na Grécia e em Roma, o vinho era uma bebida económica e culturalmente muito importante. A literatura e a arte greco-romanas deixaram-nos abundantes referências e representações do vinho, da sua produção e do seu consumo. Através do deus Dioniso e das festividades a ele associadas, o vinho adquiriu uma componente religiosa profunda na Grécia Antiga. Em Roma e no mundo romano, essa componente religiosa era semelhante, através do culto a Baco. Os Gregos expandiram o consumo do vinho, através do comércio, por todo o Mediterrâneo e até mais para norte, por meio de trocas por mar ou através do curso dos rios. Os Romanos expandiram a sua cultura nos territórios que foram anexando ao seu império. Romanização e expansão da cultura vinícola foram movimentos paralelos, como aconteceu no atual território português. 12 21_Vinho alentejano.indd 12 O vinho na história de Portugal No atual território português, os Romanos e a sua colonização do território, com as villae, alteraram a paisagem e as práticas agrícolas. A cultura da vinha encontrou aqui condições ótimas para a sua implantação e expansão. Apesar da proibição das bebidas fermentadas e alcoólicas pelo Islão, o vinho sobreviveu no ocidente da Península Ibérica aos séculos de domínio árabe (séculos viii a xiii). Na Idade Média, o vinho já era uma das principais culturas de exportação do jovem Reino de Portugal, que o enviava por mar para as paragens frias do Norte da Europa, onde a vinha não se dava à cultura, mas onde o hábito do consumo de vinho se difundira extensivamente. Esta importância económica da cultura vinícola manteve-se ao longo da história do nosso país. No século xviii, o Marquês de Pombal viu na produção vinícola e na exportação de vinhos um dos meios de aumentar as exportações portuguesas e trazer ao Reino mais divisas — tentou nacionalizar a cultura dos vinhos generosos (sobretudo, Porto) e incentivou a implantação da vinha em terrenos onde se cultivavam cereais. No século xx, o ditador António de Oliveira Salazar, numa frase muito citada, podia ainda dizer que o vinho dava «de comer a um milhão de portugueses», querendo referir-se à importância da cultura da vinha na atividade agrícola do País. 20/03/14 17:41 O VINHO ALENTEJANO Doc. 1 O vinho numa canção medieval Aquele que tem bom vinho deve tirá-lo do garrafão E deitar fora o que tem fungo; E depois juntar os companheiros felizes e cantar: Esta canção pede uma bebida! Quando vejo vinho a escorregar pelo vidro claro Como quero ir ao seu encontro! O meu coração canta alegre só de pensar nele: Esta canção pede uma bebida! Tenho sede de um trago; venham comigo para junto do copo: Esta canção pede uma bebida! Canção francesa do século xii (adaptado). Também no cristianismo, através da simbologia associada à Última Ceia, o vinho preservou um significado religioso (mosaico do século xix em estilo bizantino). A vindima, numa representação do século xiv. O deus grego Dioniso, uma divindade associada ao vinho, numa representação romana do século ii da nossa era (Museu do Louvre, Paris). Sugestões de exploração 1. Relacionar a difusão do consumo de vinho e da cultura da vinha com os legados civilizacionais de Gregos e Romanos na Península Ibérica. 2.Pesquisar a importância relativa da cultura da vinha nas atividades económicas portuguesas ao longo da história. Deve referir-se o peso da cultura vinícola no conjunto das culturas agrícolas e dos produtos exportados por Portugal. 3.Pesquisar a longevidade e ligação a determinadas épocas históricas das principais marcas e tipos de vinho atuais em Portugal. 13 21_Vinho alentejano.indd 13 20/03/14 17:41 CASO DE SUCESSO Casa daVineyards L’AND Caldeira Wine resort Localizado no coração do Alentejo, numa paisagem única definida pela vinha, por um olival e por um grande lago, o L’AND Vineyards é um «wine resort» de cinco estrelas, com adega, restaurante, spa e 22 suites, que integra a arquitetura na Natureza, promovendo uma atmosfera intimista de luxo sóbrio, beleza natural e tranquilidade. A cultura do vinho e da vinha é um dos aspetos essenciais da sua identidade. Em cada resort, a vinha desenha a paisagem e uma pequena adega permite aos visitantes, hóspedes e residentes vivenciar a arte da produção do vinho e aprofundar a sua cultura enológica através de provas e cursos realizados pelo enólogo residente. Uma equipa constituída pelos melhores enólogos e coordenada por Paulo Laureano, que, em 2004, foi considerado o melhor enólogo do ano, assegura que os vinhos L’AND, produzidos quase artesanalmente, exprimam a sua identidade enológica. O L’AND Vineyards integra a cadeia Small Luxury Hotels of the World, que reúne alguns dos melhores pequenos hotéis de luxo do Mundo e está presente em 70 países. L’AND Vineyards em Montemor-o-Novo, Alentejo. 14 21_Vinho alentejano.indd 14 20/03/14 17:41 O VINHO ALENTEJANO Produção de vinho alentejano O L’AND Vineyards nasceu para celebrar a cultura do vinho e da vinha, produzindo apenas vinhos de reserva em quantidades muito reduzidas e com uma vinificação quase artesanal, que se distinguem pela sua excecional qualidade e procuram ser uma expressão da identidade enológica do Alentejo. Por esse motivo, nos vinhos L’AND só são usadas castas típicas alentejanas, sendo a produção de uva reduzida substancialmente de forma a concentrar o vinho e aumentar a qualidade. Procura-se também que a uva tenha uma produção natural, sendo apenas usados adubos orgânicos e evitando-se o uso de químicos de síntese. Cada colheita é feita à mão em caixas de pequenas quantidades, com uma rigorosa seleção de uvas. Os proprietários das residências, com lotes de vinhas privadas, podem produzir o seu próprio vinho, com o apoio da equipa de enólogos. Podem também utilizar a adega L’AND, armazenar o seu vinho em depósitos ou barricas e personalizar as suas garrafas. A adega está equipada com todos os requisitos modernos de tecnologia enológica que garante a qualidade dos vinhos. Vinhos L’AND. Por ano, a produção total de vinho L’AND ronda as seis mil garrafas, privilegiando-se assim a produção anual de pequenas quantidades de vinho de reserva. A cultura do vinho e da vinha fazem parte da identidade do L’AND Vineyards. 15 21_Vinho alentejano.indd 15 20/03/14 17:41 A televisão O vinho alentejano O rio Tejo A agricultura biológica A indústria do papel A indústria têxtil O azeite O vinho verde O sal O queijo serra da estrela A nanotecnologia O rio Douro A indústria O turismo www.santillana.pt A universidade Bibliografia «O PATRIMÓNIO E O SEU POTENCIAL PEDAGÓGICO» Alarcão, Jorge de, Introdução ao estudo da História e do Património locais, Coimbra, Institutos de Arqueologia e História da Arte da Faculdade de Letras de Coimbra, 1982. 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