1 A INSERÇÃO E A FORMAÇÃO DA MULHER NA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA PARAÍBA VERÔNICA DE LOURDES BATISTA DE OLIVEIRA Universidade Federal da Paraíba - UFPB Resumo Nossa pesquisa está em andamento e visa desvelar a problemática enfrentada pelas mulheres paraibanas para integrar-se a Polícia Militar do nosso Estado, além de pesquisarmos sua formação educativa. O interesse em desenvolver essa pesquisa devese a nossa inquietude para entender por que poucas mulheres estão engajadas nos serviços externos. Será que a sua ínfima participação nesse espaço deve-se a uma insegurança por parte dessas mulheres para enfrentar os serviços que necessitam da força física ou pela limitação dentro da corporação? Dessa forma, pretendemos perceber o papel dessas mulheres enquanto sujeitos que atuam pela integração e valorização de uma categoria. Assim em como, pelo nosso interesse em compreender o significado das relações de poder entre homens e mulheres. Desenvolveremos nosso trabalho dentro de uma abordagem teórico-metodológica da história cultural, e temos como objeto primordial “identificar como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”. Utilizaremos como fontes os arquivos da própria corporação, além de entrevistas com algumas mulheres. Como a pesquisa está em fase inicial ainda não há resultados a serem apresentados. Essas informações é resultado do nosso primeiro olhar. Palavras-chave: Mulher. Polícia. Gênero. Olhar a sociedade com o objetivo de descortinar o que está posto é desafiante, primeiramente porque nos foi ditado regras, que apontam o lugar que cabe ao homem e a mulher numa sociedade dita exclusivamente masculina. Ora, se por um lado nos foi determinado padrões, significa dizer que nós mulheres consideradas seres frágeis não nos rendemos e reagimos nos fazendo presentes nos mais diversos espaços sociais considerados masculino. Poderemos ter certeza dessas reações quando conseguimos enxergar que na atual realidade, há mulheres inseridas em setores que antes eram inimagináveis. 2 Cabe aqui fazer um destaque importante, se houve essas conquistas, significa dizer que isso é reflexo de muita luta, e que, com o passar do tempo provocou transformações profundas na nossa sociedade, basta olhar para o cenário atual e observar que as mudanças são latentes. Todavia, vale ressaltar que, presentificar-se nessa sociedade nos custou muito caro, haja vista a omissão por parte da história tradicional com relação a apresentar o feminino como sujeito histórico. Vejamos assertiva de Perrot ( 1989, p.10-11): No século XIX, por exemplo, os escriturários da história – administradores, policiais, juízes ou padres, contadores da ordem pública – deixam bem poucos registros que digam respeitos às mulheres, categoria indistinta, destinada ao silêncio. Quando eles o fazem nas ocasiões em que notam a presença das mulheres em uma manifestação ou reunião, recorrem aos estereótipos mais batidos: mulheres vociferantes, megeras a partir do momento em que abrem a boca, histéricas do momento em que gesticulam. A visão que tem das mulheres funciona como um indicador: elas são consideradas raramente por si mesmas, mas com freqüência como um sintoma de febre ou de abatimento. E para reforçar ainda mais a nossa fala e a assertiva de Perrot com relação à condição de inferioridade a que a mulher era subjugada, podemos fazer mais um destaque onde elas demonstram se colocar como sujeito e não como objeto: uma certa familiaridade pode vencer as resistências e liberar um desejo recalcado de falar de si, com o prazer de ser levada a sério e ser, enfim, sujeito da história. Podemos assim deduzir que, há uma preocupação da mulher em ser reconhecida na nossa sociedade, pelo caminho que trilhou, por sua contribuição social e pela importância de ter sua trajetória histórica disponível para letrados e iletrados. Destacamos a importância da categoria de gênero, pelo leque de possibilidades que a mesma aponta, além de nortear os nossos estudos acerca das relações de poder entre homens e mulheres. A respeito dessa questão Soihet1 destaca: Queria ressaltar a importância dos estudos sobre a história das mulheres e as relações de gênero para desmascarar estereótipos sobre mulheres e 1 Entrevista concedida por Raquel Soihet ao Núcleo de Estudos Contemporâneos, em 25 de fevereiro de 2002. Disponível em: www.história.uff/nec/entrsrs.htm Acesso em: 15 deabril de 2009. 3 homens, acenando com a possibilidade de construção de uma sociedade mais justa nos diversos âmbitos: gênero, classe, etnia etc. Ainda vislumbro a possibilidade de que estes estudos atinjam um maior reconhecimento dentro da academia diante da sua significação, revelando complexidades e contradições das mais sutis nas relações sociais. Observamos na fala dessa historiadora, a rica contribuição que ela vem nos proporcionando no decorrer da sua trajetória acadêmica acerca de discussões que permeiam a categoria de gênero. Nesse sentido, não há como deixar de valorizar a sua preocupação em se fazer presente nos mais diversos espaços onde se discute essa temática. Percebemos ainda, o seu interesse em fazer com que estudos que antes não eram discutidos na academia, ocupem uma posição privilegiada e que mais pessoas se dediquem a esse trabalho, pois ainda há muito que se pesquisar, principalmente sobre o universo que diz respeito história das mulheres. Nessa perspectiva, Soihet e Pedro no artigo 2 apontam outras autoras que também estão contribuindo com a temática de gênero, sendo assim, faz sentido destacá-las: Por sua vez, várias autoras, tais como Margareth Rago, Mari Izilda Matos, Cristina Scheibe Wolff, Roseane Neckel, Tânia Navarro-Swain e Mônica Schpun, entre outras, vem contribuído para o conhecimento da história das relações de gênero, focalizando a maneira como o gênero se constitui num ponto de apoio para constituições de subjetividades, políticas públicas e relações com a história. A afirmação acima, também reforça nossa preocupação em tornar-se também uma propagadora dessa temática, uma vez que nosso interesse pela produção acadêmica vem ampliando-se a cada dia, isso porque, as pesquisas já realizadas nos deixa muito mais instigadas por essa discussão. Essa discussão visa permear nossa pesquisa que está em desenvolvimento, haja vista que no nosso cotidiano, nos deparamos com situações que são inerentes tanto a modernidade como à contemporaneidade, e foi nessa perspectiva que o nosso olhar voltou-se para um aspecto que muito nos chamou atenção, a posição que a mulher paraibana ocupa na Polícia Militar. 2 SOIHET, Rachel e PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.27, n. 54, p. 281-300, 2007. 4 Com base em algumas leituras prévias, poderemos dizer que as mesmas servirão de cabedal para nossa pesquisa, haja vista a importância do referencial teórico localizado e que no decorrer do trabalho será explorado, com o objetivo de atender nossas expectativas. Nesse sentido, não resta a menor dúvida que cada pesquisa tem o seu objetivo, e nesse referencial pesquisado há uma concomitância com nosso objetivo, porém em alguns aspectos há um outro olhar. Como nossa pesquisa está em fase inicial, ainda há um caminho longo a percorrer. O referencial que disponibilizamos nos aponta possibilidades nas pesquisas que já foram realizadas, e sem dúvida nos subsidiará muito bem, principalmente pela sua riqueza na coleta de dados. Inclusive, por que essas próprias pesquisadoras serão sujeitos desse processo, como a Major Santos, ao desenvolver sua pesquisa na Especialização em Segurança Pública, quando com o seu conhecimento de causa afirma: Como o objetivo geral nossa pesquisa pretende-se colocar em pauta questões relativas ao lugar da mulher numa Organização tradicionalmente estruturada sob égide masculina. Assim, tomando o contexto organizacional da PMPB e suas características marcantes refletidas na socialização de seu profissional, algumas questões emergem, como: identificar a real presença feminina, estabelecer o papel que lhe é conferido dentro da organização e averiguar o lugar por ela ocupado e conquistado. Todo esse questionamento mostra-se relevante, uma vez que a presença da policial militar feminina é um fato consumado e apresenta características muito pouco delineadas, embora sejam de grande relevância a determinação do posicionamento da Instituição diante delas A idéia é verificar as particularidades desta profissional em seu vínculo com a organização, o seu papel e sua importância para a Segurança Pública. (SANTOS, 2005, p. 10-11). Anteriormente, afirmamos haver uma concomitância entre nossos objetivos, e essa certeza fica visível após a citação acima, até mesmo quando percebemos que a autora por ser sujeito desse processo, viabiliza consideravelmente um conhecimento acerca da temática abordada. A evidência desses fatos nos instiga ainda mais a aprofundar nossa pesquisa, principalmente por saber que teremos material disponível para colocar em prática os objetivos e para desenvolver essa pesquisa. 5 Nesse contexto e em consonância com nossa temática, destacamos a fala de Pontes e Cavalcante (1998, p.13)3: Este estudo objetiva promover uma nova perspectiva ao Comando da Corporação, mostrando o delineamento adequado no efetivo feminino existente nos quadros a Polícia Militar da Paraíba, mostrando a realidade e propondo a utilização mais apropriada das policiais militares femininas em atividades policiais específicas, proporcionando uma melhor prestação de serviços à comunidade (grifo nosso). E completam a assertiva: Auxiliar o Comando da Corporação (...) em novos tempos, adequando a Polícia Militar com um serviço novo, moderno, apropriado às ocorrências específicas, utilizando o potencial da policial feminina no serviço operacional e administrativo, adequando e estimulando os segmentos profissionais da Corporação na aceitação das profissionais. Como já foi destacado, a pesquisa está em andamento e visa desvelar a problemática enfrentada pelas mulheres paraibanas para integrar-se a Polícia Militar do nosso Estado, além de pesquisarmos sua formação educativa, essa é uma forma de compreendermos se há algum impedimento nesse aspecto para cercear a inclusão feminina em postos que dentro da organização são considerados masculino, e que, mesmo qualificando-se intelectualmente seria impossível assumir tal posição? O interesse em desenvolver essa pesquisa deve-se a nossa inquietude para entender por que poucas mulheres estão engajadas na linha de frente. Será que a sua ínfima participação nesse espaço é reflexo dos padrões predeterminados, ou estaria relacionada à segurança por parte dessas mulheres para enfrentar os serviços que necessitam da força física, ou seria até mesmo pela limitação dentro da corporação? Dessa forma, pretendemos perceber o papel dessas mulheres enquanto sujeitos que atuam pela integração e valorização de uma categoria, assim bem como, pelo nosso interesse em compreender como se da às relações de poder entre homens e mulheres, no contexto do espaço pesquisado. 3 Essa monografia foi apresentada a Academia de Polícia Militar da Paraíba, como requisito no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais(CAO).sob orientação do Sr. Ten. Cel. PM Nilton Almeida Guimarães. 6 Desenvolveremos nosso trabalho dentro de uma abordagem teórico- metodológica da história cultural, e considerando a fala de Roger Chartier a tomaremos como objeto primordial “identificar como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”. Uma vez que essa realidade é pensada e dada a ler, como fazer a leitura do universo dessas mulheres paraibanas no seu cotidiano, seriam elas: corajosas, guerreiras, temerosas, subordinadas, enfim, qual seria o perfil dessas profissionais dento dessa corporação? Utilizaremos como fontes para nossa pesquisa, os arquivos da própria corporação, reportagens dos jornais local, como: O Norte, O Correio da Paraíba, Jornal da Paraíba; faremos uma seleção para entrevistar algumas mulheres que compõem o quadro efetivo; além de alguns profissionais do sexo masculino que poderão colocar sua compreensão acerca do valor dessa mulher para a organização e qual a sua contribuição para dentro dessa instituição. Seguindo essa mesma linha de raciocínio, apresentamos o tratamento dado a essas profissionais, mas precisamente na PMBA - Polícia Militar da Bahia, Estado localizado na região Nordeste. Vejamos o que nos aponta Jesus em seu artigo 4. Mesmo tendo sua imagem beneficiada pela presença feminina, as instituições militares (...), reserva para as mulheres uma participação limitada. Restrições às tarefas femininas, sustentadas na noção de que as mulheres não são capazes de assumir todas as formas de ação de polícia e a conseqüente tendência de atribui-lhes, sobretudo funções burocráticas ou atividades associadas, no imaginário, a extensões do mundo doméstico gera uma diferenciação no universo policial, onde as oportunidades de ingresso e ascensão são diferenciadas reproduzindo em pleno século XXI discriminações em relação à capacidade humana a partir do sexo. A PMBA limitou o ingresso de mulheres no seu efetivo, alegando falta de estrutura para acomodá-las, restringindo sua participação a 10%(dez por cento) em relação ao número total de vagas. Mas 18 anos mais tarde essa limitação permanece e esse argumento continua a ser usado pela instituição. 4 Essa afirmativa pode ser localizada no artigo de Girlene Ernestina de Jesus, intitulado Relações de gênero na Policia Militar da Bahia, apresentado na ANPUH/ba. Disponível em: www.uesb.br/anpuhba/.../Girlene%20Ernestina%20de%20Jesus.pdf 7 A autora Jesus, nos chama a uma reflexão, será que o quadro dentro da PMPB, também ocorre da mesma forma? Essa é justamente uma das nossas indagações. Sendo assim, pretendemos a partir dessa pesquisa, desvelar se o quadro é o mesmo. Em contraponto a assertiva de Jesus, apresentamos a fala de Sousa (2007) com relação à situação da policial feminina no Estado do Piauí: A unificação dos quadros e a extinção da Companhia Feminina aproximaram a policial feminina do convívio profissional com os demais membros da Corporação e oportunizou as mesmas uma atuação maior nos diversos espaços de atuação que a Policia Militar do Piauí oferece aos seus membros. Nesse sentido a partir de então as policias passaram desde a formação inicial, à execução dos diversos tipos de serviço a atuarem em parceria com o efetivo masculino da corporação. Contando atualmente com um efetivo de aproximadamente 240 (duzentos e quarenta) policiais, servindo em todas as unidades da corporação, desenvolvendo as mesmas atividades do policial militar masculino, as policiais femininas executam serviços de natureza operacional e administrativa.Desde o policiamento ostensivo realizado nas ruas da cidade, a atuação em áreas antes inimagináveis de serem conquistadas no interior da corporação, como a área das operações especiais, serviço de atendimento ao público através do 190, serviço de viatura no atendimento de ocorrências policias, comandando viaturas ou comandando policiamento nos quartéis como o serviço de oficial de dia. Essa situação revela-se como atípica, uma vez que nem sempre o potencial da mulher é levado em consideração. Nesse sentido, pode-se afirmar que nesse Estado ela revela-se como sujeito histórico por ter sua condição de policial militar feminina valorizada e reconhecida. O que não é o caso da policial militar feminina no Estado do Ceará revelada na fala de Brasil, Sousa e Ribeiro: A pesquisa empírica revela que as mulheres policias são vistas com preconceito e discriminação por alguns policiais que chegam mesmo a classificá-las de “escoria”, alegando que são cheias de “regalias” e privilégios”, motivo pelo qual não gostam de realizar operações policias com o efetivo feminino. Em algumas falas, as policiais destacam que não existe nenhuma forma de preconceito e/ou discriminação por parte de seus colegas de trabalho pelo fato de serem mulheres policiais, chegando a ser contraditório com os depoimentos de alguns policias. Por outro lado, outros colegas de trabalho elogiam o trabalho da mulher policial e sua contribuição para a construção de uma ação eficaz da polícia na sociedade. Para algumas policias, o preconceito maior, não vem dos policias com os quais trabalham, mas da sociedade que se surpreende e se espanta ao ver uma mulher desenvolvendo atividades 8 policiais por entender que esta seria uma função identificada com o masculino. Dentro da nossa contextualização, quando do desenvolvimento da pesquisa, faremos um quadro comparativo, com o objetivo de descortinar como a mulher policial está desempenhando seu papel, e observaremos se atualmente a diferença é gritante ou se há uma equiparação entre os Estados. Ao que pudemos perceber nas nossas leituras, se houver equiparaçã é muito ínfima. No momento ainda não há resultados a serem apresentados, essas informações são resultados do nosso primeiro olhar, uma vez que a pesquisa esta em sua fase inicial. Referências BRASIL, Maria Glaucíria Mota; SOUSA, Emanuel Bruno Lopes de RIBEIRO; Aline Gomes. Policia, gênero e poder: inserção das mulheres nos órgão de segurança pública do Ceara. Disponível em : www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programa/senior/RESUMOS/resumo_2926html < >. Acesso em 13 jun, 2009. CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difel,1990. PERROT, Michele. Praticas da memória feminina. Revista Brasileira de História, São Paulo: v.9.n.18, p. 17 ago/set.1989. SANTOS, Carla Andréa do Nascimento. Representações sociais da mulher policial na Polícia Militar da Paraíba. Monografia de Especialização – Academia de Policia Militar do Cabo Branco do Estado da Paraíba. João Pessoa: 2005. SOUSA, Lourdes Losane Rocha de. A inserção e evolução da mulher na PM do Piauí. Disponível em: <www.fourmseguranca.org.br/.../insercao-e-evolucao-da-mulher-na- pm-do-piaiu >. Acesso em 05 maio 2009.