A floresta industrial: Por falta de outra opção, e como era a política da época, as indústrias de celulose e de ferro à base de carvão vegetal foram impelidas a verticalizar sua produção, produzindo sua própria madeira para consumo. A exceção ocorreu em parte da indústria de ferro, que se valeu de madeira nativa, para alimentar seus altos fornos a carvão vegetal, opção que se mostrou insustentável. A base do desenvolvimento florestal brasileiro que conhecemos hoje decorreu, inicialmente, das pesquisas desenvolvidas por essas indústrias, através de seus departamentos florestais, apoiadas por universidades e centros de pesquisas florestais que existiam. O domínio da tecnologia de branqueamento da celulose de eucalipto pelo Brasil foi a propulsora nessa fase. Os incentivos fiscais ao reflorestamento: Nos primórdios da década de 1970, o Brasil passou a perceber a importância das florestas industriais e criou os Incentivos Fiscais ao Reflorestamento. O objetivo do governo foi gerar emprego e renda na formação de maciços florestais em regiões não industrializadas do País, mas aptas para o reflorestamento, e, com isso, atrair as indústrias e o desenvolvimento. O cerrado brasileiro, até então fadado a queimadas anuais para o uso como pastagem extensiva de gado, foi “descoberto” para o reflorestamento. Inúmeras empresas especializadas em reflorestamento surgiram em todo o País, universidades de engenharia florestal e centros de pesquisas também. Criou-se uma forte estrutura e capacitação empresarial em torno dessa nova oportunidade. Ainda que não tenha sido perfeito, considero altamente positivo o balanço da adoção dos incentivos fiscais ao reflorestamento. A celulose brasileira de eucalipto ganhou o mundo, as florestas formadas com os incentivos fiscais, a base tecnológica e de gestores florestais, então formados, deram sustentação à alta demanda e à urgência por novos plantios. O mesmo ocorreu na expansão da siderurgia. O Protocolo de Kyoto: O Protocolo de Kyoto e o seu Mecanismo de Desenvolvimento Limpo deram reconhecimento global ao potencial do eucalipto como poderoso e ágil agente de resgate do CO2 da atmosfera e liberador eficaz de O2 puro. Além dessa característica marcante, associada a toda a base florestal do Brasil, incluindo os segmentos de papel e celulose, siderurgia, chapas, painéis, móveis, lápis e madeira tratada para a construção civil, a biomassa proveniente das florestas plantadas pode ser usada no lugar de combustíveis ou produtos de origem fóssil ou não renovável. Um bom exemplo é o uso do carvão vegetal de florestas plantadas, ao invés do carvão de matas nativas, na indústria de ferro gusa. Juntamente com a incorporação de novos critérios de gestão socioambiental, esse vasto potencial de mitigação da mudança do clima contribuiu para mudar a percepção da sociedade mundial com respeito aos plantios de eucaliptos. A floresta negócio: Neologismo criado recentemente, ele pretende definir a formação e a gestão de florestas plantadas como um negócio em si, autônomo, bem gerido, tecnologicamente desenvolvido, ecológica e economicamente sustentável. Sem concentração regional e empresarial, ele pretende suprir a demanda das indústrias por madeira plantada e superar um déficit que já é histórico. Recursos financeiros complementares podem ser levantados através da comercialização de créditos de carbono, e o respaldo científico que embasam os atuais plantios e os cuidados socioambientais efetivamente aplicados pelas empresas fazem da base florestal, dessa forma desenvolvida, uma boa ferramenta a ser utilizada de maneira muito forte, principalmente pelos setores de celulose e de siderurgia, tão importantes para o Brasil. E o meio ambiente agradece. A floresta negócio, assim conduzida, vem adicionar nova opção de suprimento para essas indústrias. Acompanhei, certa feita, a visita de um grupo de japoneses aos nossos maciços florestais. Em um dado momento, um visitante parou em frente a um dos eucaliptos e perguntou ao interprete: “qual a altura dessa árvore?”. Após consultar o engenheiro local, ele respondeu: “25 metros”. “E qual a idade”, indagou. “Cinco anos”, respondeu. “Oh!”, exclamou o visitante, “no Japão, levamos cinco anos só para produzir as mudinhas”. Pois bem, os sete anos que levamos aqui para colher o eucalipto, extremamente curto para os padrões da silvicultura, transformava-se em um século, quando íamos aos bancos dizer que precisávamos de empréstimos com sete anos de carência para pagar, prazo inviável para os nossos padrões bancários. Ou seja, não existia financiamento, o próprio industrial tinha que se financiar. A capacidade de gestão e o grau de sofisticação alcançados pelos produtores de florestas plantadas no Brasil, aliados ao grande potencial de demanda, principalmente para esses dois setores industriais, chamaram a atenção dos fundos de pensão nacionais e estrangeiros para esse mercado. Capital paciente, que busca segurança e rentabilidade de longo prazo, os fundos vislumbraram, na atividade florestal no Brasil, um porto seguro para seus investimentos. Cada vez mais, os acionistas exigem que as indústrias desonerem seus ativos imobilizados e que foquem no seu negócio principal, na busca de maior rentabilidade para seus investimentos. Se, hoje, começamos a vislumbrar novas oportunidades de acesso a capitais e a financiamentos de longo prazo, sobra-nos a competência acumulada para uma boa gestão e rentabilização das “florestas negócio”. No entanto qualidade e produtividade devem constituir o foco na formação da “floresta negócio”. As boas práticas empreendedoras devem ser estimuladas, assim como o uso de empresas especializadas e experientes em engenharia florestal, para que possam trazer conhecimento e qualidade de serviço, valorizando o trabalhador e remunerando adequadamente o seu trabalho. Todas elas são condições nas quais repousa o sucesso desse novo modelo. E isso deve ser perseguido com afinco, determinação e persistência.