Inclusão é um tema da atualidade. A ele as várias áreas do saber e do fazer têm dado muita
importância, porque envolve relações entre as pessoas e com o mundo. Apesar dos ideais
democráticos em defesa dos direitos humanos e do trabalho de muitos para que possamos ter uma
sociedade inclusiva onde todos tenham oportunidades iguais, o que vemos, em geral, são atitudes de
exclusão, desigualdade, preconceito e segregação.
Quando falamos em inclusão podemos pensar na família, na escola e na sociedade. Podemos
pensar em raça, religião, idade, gênero, etnia, condição socioeconômica, pessoas com deficiência,
crianças e adolescentes fora da escola, alunos que não conseguem aprender, mesmo frequentando a
escola.
No dicionário Aurélio, incluir significa abranger, fazer tomar parte, inserir. Já o termo
excluir significa ser incompatível com, eliminar, pôr fora, expulsar.
Assim, quando uma pessoa é incluída em alguma atividade, ela faz parte daquela atividade e
se insere no grupo, como é o caso de crianças brincando no recreio da escola.
Quando uma pessoa é excluída, ela é posta fora, ela é expulsa, é eliminada da atividade,
como é o caso das crianças que, no recreio, ficam de fora da brincadeira, porque os demais
não a deixam participar.
Podemos perguntar por que é tão difícil para o ser humano aceitar e promover a inclusão.
Uma das explicações se baseia no fato de que, para incluir é preciso aceitar a diferença, aceitar que
existem pessoas diferentes de nós, que pensam e se comportam de modo diferente, têm costumes
diferentes, seguem um credo religioso diferente, têm uma aparência física diferente, vestem-se de
modo diferente e assim por diante. E por que isso nos incomoda tanto? Talvez seja porque, sendo
diferente, nós não podemos nos identificar com o outro, nós não nos reconhecemos no outro. Além
disso, pensar que poderíamos ser como o outro ou mesmo o outro, tão diferente, abala a nossa
segurança sobre quem somos.
Quando falamos em inclusão, lembramos das pessoas que têm algum tipo de deficiência,
como visual, auditiva, intelectual. Sabemos que elas existem, mas se não temos contato mais
próximo com uma pessoa com deficiência na família, na escola ou no trabalho, não pensamos
sobre isso, não prestamos atenção nessas pessoas e não nos interessamos por assuntos que lhes
dizem respeito.
Segundo depoimento de pessoas deficientes, as maiores dificuldades por elas enfrentadas
são a invisibilidade e o preconceito, mais do que as limitações impostas pela própria deficiência.
Por que será que não prestamos atenção às muitas pessoas com deficiência que nos
circundam? Talvez seja porque, ao fecharmos os olhos diante da deficiência, procuramos afastar de
nós o desconforto da lembrança de nossa própria fragilidade.
Quando um engenheiro ou um arquiteto faz o planejamento de uma casa, apartamento,
escola, empresa ou praça, será que ele se lembra de que há pessoas que precisam de uma cadeira de
rodas para se locomover? Será que ele pensa em como uma pessoa cega poderá caminhar sem
correr perigo? Será que um palestrante se preocupa em oferecer seus conhecimentos também às
pessoas surdas, através da presença de um tradutor para a língua de sinais? Será que os órgãos
governamentais responsáveis instituem leis e fiscalizam o seu cumprimento para promover a
acessibilidade e a inclusão da pessoa com deficiência?
Quando um professor tem em sua sala de aula um ou mais alunos que não conseguem
acompanhar o que ele ensina, será que ele procura modificar o programa ou a didática utilizada? Ou
adota o caminho mais fácil que é o de responsabilizar o aluno por sua própria dificuldade?
Incluir a pessoa com deficiência significa dar condições para que ela tenha oportunidades
iguais às das pessoas ditas normais. Para isso é fundamental entender que igualdade de
oportunidade não significa propiciar as mesmas condições para todos, mas diversificar as condições
tomando como referência a necessidade de cada um.
Para entender o mundo à nossa volta, precisamos desenvolver pensamentos e idéias e
formulá-los em palavras. A isso damos o nome de “conceito”, que facilita a comunicação e o
entendimento entre as pessoas. Os conceitos podem ser mais ou menos fiéis à realidade. Quando
não são formulados a partir de dados pertencentes à realidade, damos o nome de “preconceito”, ou
seja, uma idéia que foi pré-concebida, formulada sem levar em conta os dados da realidade.
O médico oncologista e escritor Dráuzio Varella diz que “os preconceitos distorcem a
realidade mais do que as alucinações”.
Podemos dizer que o preconceito vive junto com a incapacidade de aceitação da diferença.
Onde um está, o outro também está. O que é diferente nos deixa inseguros, nos ameaça e, por
isso, procuramos afastar. Mas, para afastar, precisamos de um motivo, de uma razão. E vamos
buscar em dados que pertencem mais à fantasia, ao imaginário, do que à realidade.
Atualmente, os meios de comunicação nos permitem saber o que está acontecendo
no mundo a qualquer momento. Dizem até que o mundo ficou sem fronteiras. Mas será que é
assim? Se virtualmente temos derrubado fronteiras, também temos erguido barreiras concretas,
como é o caso do preconceito. Basta lembrar os negros que ainda hoje lutam pela igualdade de
direitos.
Martin Luther King, que nasceu em 1929, em sua luta contra a segregação racial, foi preso
20 vezes, sofreu 4 atentados, teve sua família ameaçada e, por fim, morreu atingido por um tiro de
fuzil em 1968.
Podemos falar, também, do preconceito com relação aos estrangeiros que, fugindo de seus
países assolados por guerra ou fome, procuram um lugar mais digno para viver e são maltratados e
deportados. Ou dentro de um mesmo país, como o Brasil, onde vemos preconceito com relação ao
povo nordestino.
O ser humano necessita dos outros seres humanos para viver. Se um bebê for deixado à sua
própria sorte, sem o cuidado de alguém, ele não sobrevive. Ele precisa de alguém que o alimente, o
agasalhe, que faça sua higiene para sobreviver fisicamente. E precisa ser cuidado com afeto,
necessita de alguém, em geral a mãe, que faça com que ele se sinta bem vindo e amado
incondicionalmente. Uma criança que tenha esses cuidados tem mais chance de se tornar uma
pessoa segura e satisfeita consigo própria, alguém que sente que é aceito no grupo social e sente que
o mundo pode ser bom. Uma pessoa assim desenvolve o sentimento de que existe, que é verdadeira,
que tem valor pelo que ela é. E mais: desenvolve o sentimento de inclusão.
Todos nós temos necessidade de pertencer a um grupo que confirme a nossa existência, o nosso
valor. O olhar do outro confirma a nossa existência. A indiferença e a invisibilidade são situações
difíceis de suportar, e esse é um dos motivos que fazem com que um jovem, por
exemplo, procure um grupo em que se ele se sinta aceito e valorizado, podendo ser uma gangue ou
uma facção criminosa. Paradoxalmente, nesses casos, o sentimento de existir, de pertencer, se
sobrepõe à própria vida.
Será que já paramos para pensar em como tornamos invisíveis muitas pessoas que vivem ao
nosso redor? O porteiro do prédio, o zelador, a senhora que sobe conosco no elevador, o catador de
lixo, o gari, o pedinte no semáforo, o cadeirante, o jovem homossexual, a família cujo credo
religioso é diferente do nosso. Isso, quando falamos de pessoas, de seres humanos.
Podemos ir além. Será que já paramos para pensar em como tornamos invisível a natureza
que nos circunda? O quanto tornamos invisíveis as plantas, os animais, a água, a terra, o ar? No
entanto, sem eles, não sobreviveríamos.
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