O Ebola, o preconceito e o medo. A epidemia do vírus Ebola já vitimou quase cinco mil pessoas na África, além do pânico que espalha por todo o continente europeu e americano, visto que ambos recebem voos direto dos países atingidos. Evidente que ninguém quer se contaminar com esse vírus malévolo que causa uma morte terrível com sangramentos múltiplos e dor insuportável. É por isso que praticamente todos os países criam mecanismos que possam impedir a entrada do vírus em seus territórios. Apenas tentam na verdade, porque efetivamente é “impossível” evitar que pessoas contaminadas acessem outras jurisdições, isso porque além das razões de logística que em alguns casos estão muito além das possibilidades de qualquer país “terceiro mundista”, tem a questão do tempo de incubação que torna verdadeiramente improvável a detecção do indivíduo contaminado. Esta semana o Ministro da Saúde, Arthur Chioro, concedeu entrevista coletiva para informar que o “paciente zero”, atendido em Cascavel e depois removido para o Rio de Janeiro, não estava contaminado com o Ebola. Durante a coletiva alguns repórteres questionaram acerca do “preconceito” que estaria vitimando africanos, principalmente aqueles que chegaram do continente há pouco tempo, ao que o Ministro foi enfático em rechaçar qualquer sinal de preconceitos com nossos “irmãos”. Sobre o mesmo tema o advogado paulista e ex-deputado federal Airton Soares, afirmou que essa “reserva” com os africanos não tem nada a ver com preconceito, mas trata-se de medo mesmo, afinal de contas quem não teme pegar uma doença dessas ?, e Airton disse mais, que esse medo é justificável por razões óbvias. Todo mundo quer ajudar os “nossos irmãos infectados” desde que não sejamos as próximas vítimas. O filósofo Luiz Felipe Pondé afirma que essa “hipocrisia” tem nome: Politicamente Correto. Ninguém quer parecer fria ou indiferente aos dramas do próximo. Incontestável que podendo é lícito, humano e altamente altruístico poder auxiliar quem precisa, mas se isso implicar em alto risco de vida, e transmissão em progressão geométrica de um vírus que pode literalmente acabar com a humanidade, é certo que a “disponibilidade” deve merecer algumas ressalvas. Isso não quer absolutamente dizer que haja indiferença ou mesmo preconceito, muito pelo contrário, é o instinto de sobrevivência aliado a uma clara conscientização do risco efetivo e incontrolável a que a situação pode chegar. Dizer que a cautela com pessoas oriundas dos países “infectados” é puro preconceito, significa desconhecimento do significado desse conceito, além de desmedida irresponsabilidade. Na idade média a peste negra matou mais de um terço da população europeia. Em 1918 a gripe espanhola afetou 50% da população mundial ceifando a vida de mais de 40 milhões de pessoas. E em 2014, diante da realidade do Ebola, ainda tem “comunistinha” de ocasião dizendo que há preconceito com as pessoas que vem dos países “infectados”. Nada mais politicamente idiota, virtualmente irresponsável, e didaticamente vazio. Evitar a transmissão com medidas preventivas antes de tudo significa preservar vidas, nesse caso talvez a própria preservação da espécie.