1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UnU de Ciências Exatas e Tecnológicas Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Licenciatura Taizy Leda Tavares Avaliação de Softwares Educacionais disponibilizados no “Portal do Professor”: conteúdo de Ciências para os anos finais do ensino fundamental. Anápolis, julho 2012 2 Taizy Leda Tavares Avaliação de Softwares Educacionais disponibilizados no “Portal do Professor”: conteúdo de Ciências para os anos finais do ensino fundamental. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Estadual de Goiás , UnUCET, como requisito parcial à obtenção do grau de Biólogo Licenciado. Orientadora: Msc. Adda Daniela Lima Figueiredo. Anápolis 2012 3 4 AGRADECIMENTOS Este trabalho de conclusão de curso significa muito mais que um requisito para obtenção do grau de Biólogo Licenciado, por isso concluí-lo e vê-lo assim pronto é uma vitória. Para conquistar tal vitória pude contar com o apoio direto e indireto de algumas pessoas, portanto, não poderia deixar de agradecer a cada uma de maneira especial. À Deus, pois nada seria sem a fé que tenho, é Ele que me mantem de pé e me ajuda a alcançar todos os meu sonhos. À minha mãe e ao meu pai, Ana Amélia Tavares e Francisco Tavares, que me apoiaram academicamente, me incentivando a crescer como estudante e profissional. Ao meu namorado, Kleudson Rodrigues, que está sempre ao meu lado, me auxiliando e compreendendo com muito amor e carinho. À minha irmã, Juliana Tavares, pela paciência ao me ouvir e aconselhar. À minhas amigas, Fainy, Joyce, Lanusse e Maryana, que são fonte de alegria na minha vida. E por último e imensamente importante, à minha orientadora, Adda Daniela L. Figueiredo, que foi muito mais que uma orientadora. Durante um ano e seis meses foi mãe e amiga, quero agradecê-la pela paciência, pelas broncas quando precisei, pelo incentivo e pela confiança. 5 RESUMO As políticas públicas e a mídia apresentam as tecnologias de informação e comunicação como dispositivos capazes de influenciar a aprendizagem e imaginação de crianças e jovens. Já existe uma gama de recursos tecnológicos disponíveis na rede de computadores, entre eles os softwares educacionais, para serem usados em sala de aula. Todavia, há a necessidade de avaliação destes recursos enquanto ferramenta de qualidade para o processo de ensino e aprendizagem. Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi avaliar os softwares educacionais disponibilizados no Portal do Professor, banco de objetos educacionais do governo federal, para a disciplina de ciências (séries finais do ensino fundamental) com base em uma ficha de registro adaptada. O estudo baseou-se na leitura crítica dos seguintes autores: Alves (2004); Libâneo (2007); Oliveira et al. (2001); Peixoto (2008); Souza et al. (2004); Vesce (2011); Vieira (1999), dentre outros. Dos softwares educacionais (SE) encontrados, em número de treze, 100% estão em língua estrangeira e desses 70% em espanhol. Verifica-se a transposição de conteúdos, de uma mídia impressa para a mídia eletrônica. Todos os SE analisados tem potencial para que o aluno realize feedback do conteúdos apresentados. Além disso, 46,5% dos softwares avaliados apresentam interdisciplinaridade com as matérias de geografia e educação física. Uma crítica aos SE são que 85% estão embasados em metodologias tradicionais, que possivelmente não levem o aluno a construir o conhecimento. A maioria dos softwares atende de forma satisfatória aos aspectos técnicos básicos. Mais trabalhos devem ser realizados dentro desta abordagem para que resultados possam ser confrontados e, por conseguinte, a construção de um banco de dados com os softwares que possam possibilitar uma ferramenta de qualidade ao processo de ensino e aprendizagem. Palavras-chave: Cibercultura; recursos midiáticos; ciberespaço. 6 ABSTRACT The public politics and media have the information and communication technologies as devices that can influence learning and imagination of children and youth. Already exists a range of technological resources available in the computer network, including educational software, for use in the classroom. However, there is a need for evaluating these resources as a tool for quality process of education and learning. Therefore, the objective of this study was to evaluate educational software available in the Teacher Portal, stock educational objects of the federal government to the discipline of science (grades of elementary school) based on an adapted form of registration. The study was based from the critical reading of the following authors: Ahmed (2004), Lebanon (2007); Oliveira et al. (2001) and Peixoto (2008), Souza et al. (2004); Vesce (2011), Vieira (1999), among others. Of educational software (SEs) found, eight in number, 100% are in foreign language, that 70% are in Spanish. There is a translation of content from a print to electronic media. All SEs analyzed the content presented enable feedback. In addition, 46,5% have evaluated the software with the interdisciplinary field of geography and physical education. One criticism of the SEs are that 85% are grounded in traditional methodologies, which may not lead students to construct knowledge. Most software satisfactorily meets the basic technical aspects. More work must be performed within this line of research so that results can be compared and therefore the construction of a database with software that can enable a tool to improve the process of teaching and learning. Keywords: Cyberculture, media resources, cyberspace. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Página de entrada do “Portal do Professor”. Figura 2. Ferramenta de busca dos recursos educacionais Figura 3. Ficha de avaliação dos softwares educacionais, adaptada de Vieira (1999). Figura 4. Aspectos de uso e acessibilidade dos softwares educacionais disponibilizados no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Figura 5. Prints das interfaces do SE8 disponibilizado no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Círculos, em vermelho, destacam a atividade que o aluno realizará. Figura 6. Prints das interfaces do SE1 disponibilizado no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Figura 7. Prints das interfaces do SE2 disponibilizado no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Círculo vermelho destaca a função de help-desk e a seta indica a tela que abre após clicar sobre a função. 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Títulos originais, em língua portuguesa e sigla dos softwares educacionais disponibilizados no Portal do Professor para as séries finais do ensino fundamental. 9 LISTA DE ABREVIATURAS PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação SE – Software Educacional PROINFO - Programa Nacional de Informática na Educação BIOE - Banco Internacional de Objetos Educacionais 10 SUMÁRIO Introdução......................................................................................................................11 Cibercultura X Educação.................................................................................12 Portais e Softwares Educacionais.....................................................................15 Objetivos.......................................................................................................................17 Materiais e Métodos.....................................................................................................18 Tipo de análise..................................................................................................18 Mecanismo de análise.......................................................................................19 Resultados e Discussão.................................................................................................22 Conclusão......................................................................................................................31 Referências Bibliográficas............................................................................................32 11 INTRODUÇÃO O ensino de ciências naturais nos anos finais do ensino fundamental é um fato relativamente recente no Brasil, e tem seguido metodologias que fundamentalmente se baseiam na transmissão do conhecimento, possuindo como recurso único o livro didático (BRASIL, 1998). À medida que a Ciência foi reconhecida como primordial para o desenvolvimento econômico, cultural e social, aumentou-se a importância de se ensinar os conteúdos científicos em todas as etapas escolares (KRASILCHIK, 2000). Tal importância foi efetivada em 1971, com a Lei nº 5.692 de Diretrizes e Bases da Educação, em que a disciplina ciência passa a ter caráter obrigatório nas oito séries do antigo primeiro grau, hoje ensino fundamental (BRASIL, 1998). Segundo Cavassam et al. (2006), ensinar conteúdos de ciências nos anos finais do ensino fundamental requer ao mesmo tempo, conhecimento científico, compreensão sobre como os aprendizes distribuem e atribuem significados ao que está sendo ensinado, escolha de metodologia de ensino eficaz que leve a motivação e envolvimento dos alunos para alcançar formação de valores aplicados a vida prática. Krasilchik (2000) afirma que os principais objetivos do ensino de ciências devem incluir a aquisição do conhecimento científico para que a população que compreenda e valorize a Ciência como empreendimento social. Estes objetivos estão de acordo com os estabelecidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Ciências Naturais, do qual podemos destacar alguns trechos: o Compreender a cidadania como participação social e política (...). o Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais (...). o Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente. o Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos (BRASIL, 1998, p. 5-6). O início da Ciência e da Tecnologia estão entrelaçados com os da humanidade, constituindo uma relação intrínseca à natureza do homem, pois o homem sabe que a ciência e a técnica são ferramentas necessárias à sobrevivência, e as utiliza constantemente em suas interações com o mundo (FRESCKI e BASSOI, 2008). 12 É notório que ao falarmos de Ciências e suas metas geralmente faz-se alusões à tecnologia, entretanto, na maioria dos países, inclusive em países industrializados, o sistema de ensino possui formação debilitada no uso crítico das tecnologias (FOUREZ, 2003). Cibercultura X Educação A terceira revolução industrial ou revolução tecnológica impactou a vida de grande parcela da população mundial, favorecendo a globalização da informação e consequentemente, levando a ascensão de atividades que utilizem tecnologia (DECICINO, 2009). Foi em meio a esta revolução que a Cibercultura atingiu seu auge e inseriu novos horizontes no campo educacional, instigando crianças e jovens por meio de um espaço que conecta computadores e suas memórias, e que tem se tornado cada vez mais universal e acessível (LÉVY, 1999). Na concepção de Levy (1999), a cibercultura tem como um dos seus pilares a inteligência coletiva1, e esta se desenvolve por meio da comunicação propiciada pelos meios tecnológicos à medida que se aprende a utilizar os mecanismos dos sistemas de informática e suas possíveis alterações. Nesse sentido, a escola teria um importante papel, oferecendo aos alunos este conhecimento e acesso as tecnologias, sempre no sentido de melhorar o currículo escolar (LÉVY, 1999). Ainda segundo Lévy (1999), para que a inteligência coletiva obtenha os conhecimentos necessários e aumente os horizontes na área da informática faz uso do ciberespaço, e o acesso ao ciberespaço só é possível devido às interfaces, que são os aparatos que permitem a ponte entre universo digital e mundo real. Lévy (1999) complementa que o ciberespaço permite a contextualização de conteúdos que outrora eram abordados de forma separada e sem nexo entre eles. Além disso, expõe que a escola não é o único espaço para “adquirir” conhecimento, porque a sociedade por si impõe diverso saberes, e isto permite o rompimento de inúmeras restrições, como por exemplo, a distância entre o aprendente e a escola. A escola, como formadora de cidadãos, exerce papel fundamental quando se diz respeito aos avanços tecnológicos. Se a escola estiver caminhando junto com estes avanços, poderá preparar mais eficientemente os alunos para o novo mundo que os espera (ANJOS e ANDRADE, 2007). 1 Inteligência coletiva é, basicamente, a partilha de funções cognitivas, como a memória, a percepção e o aprendizado. Elas podem ser melhor compartilhadas quando aumentadas e transformadas por sistemas técnicos e externos ao organismo humano. In.; LÉVY, P. Cibercultura. Editora 34, 1999. 13 Na atualidade é discutido se as tecnologias influenciam a aprendizagem e imaginação de crianças e jovens, pois alguns estudiosos afirmam que quando o ambiente escolar dispuser de ferramentas tecnológicas poderá oferecer ao educando uma alternativa para ampliar seus conhecimentos (SCHAFF, 1995). A velocidade com que ocorrem as transformações e o surgimento de tecnologias imprime sobre a educação certa instabilidade, e sobre o educador mais incertezas do que segurança, porque campo educacional está rodeado de inúmeras questões ainda não respondidas, dentre as quais se destacam: “as antigas instituições estão preparadas para as tecnologias digitais?”, “qual papel da educação na sociedade informacional?”, dentre outras (SILVA e FERNANDEZ, 2007). Acredita-se que com surgimento de tecnologias, cada vez mais avançadas, o ensino e a aprendizagem seriam facilitados, porque as mesmas podem possibilitar as integrações alunosalunos e alunos-professor por meio de enciclopédias, bibliotecas virtuais, oficinas literárias e universidades abertas que conectam pessoas de todo o mundo (AXT, 2000). Desta forma, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) podem afetar diretamente as metodologias de ensino. Todavia, mesmo diante de uma série de recursos educacionais grande maioria dos educadores ainda leciona com base em metodologias tradicionais, aquela que se limita a transmitir o conhecimento (PILETTI, 2000). Embora o uso de TIC em sala consista em mais uma metodologia que visa conseguir bons resultados, de nada adianta usar tecnologia de ponta se o professor continua o mesmo, despreparado e desmotivado (REZENDE, 2002). Chega a ser redundante dizer que as TIC possuem prós e contras, visto que de acordo com Libâneo (2007), as mesmas beneficiam a educação permitindo uma representação visível do saber abstrato, podendo levar o aluno a uma melhor compreensão dos conceitos, outrora difíceis de serem aprendidos verdadeiramente. Porém há um risco ao utilizá-las, tendo em vista que as TIC tendem a desumanizar as relações e distanciar as pessoas no que diz respeito a convivência cotidiana. Neto (2003) acrescenta que na educação o computador pode ser utilizado como um recurso didático de apoio às atividades de interação do conhecimento desenvolvido pelo professor e alunos, porque o computador isoladamente não alcança nenhum objetivo de cunho científico e/ou educacional. Castells (2002) defende que as TIC não são meramente ferramentas com potencial para serem utilizadas, mas também processos a serem desenvolvidos, porque o uso das TIC requer uma preparação maior quando comparada a preparação necessária para aplicar as 14 metodologias tradicionais de ensino, a fim de conseguir que o objetivo a ser atingido seja alcançado. Neste sentido, estudos indicam que trabalhar com as novas tecnologias em âmbito escolar não é tão simples quanto se imaginava, exigindo uma preparação dos professores (LIBÂNEO, 2007). O uso de tecnologias torna o processo ensino e aprendizagem ainda mais complexo, necessitando de metodologias, abordagens e criticidade diferenciadas que possibilitem uma aprendizagem eficaz (RODRIGUES e AGUIAR, 2011). Utilizar as TIC em sala de aula requer um domínio mínimo das mesmas por parte de alunos e professores, visto que sem as competências básicas para trabalhar com as TIC o processo mencionado torna-se falido (PEIXOTO, 2008). Quanto ao ensino da disciplina de ciências, as TIC podem ser utilizadas para auxiliar na resolução de problemas, na pesquisa e nas atividades experimentais, no trabalho colaborativo e na abordagem interdisciplinar de temas contemporâneos, dando particular relevância às inter-relações entre a Ciência, a Tecnologia e a Sociedade (CHAGAS, 2001). O potencial das TIC, quando empregadas no ensino das ciências, está relacionado com a reestruturação do currículo e a redefinição das pedagogias de ensino. As tecnologias facilitam o acesso a um enorme conjunto de informação e recursos cuja utilização alude o desenvolvimento de capacidades de avaliação, de interpretação e de reflexão crítica (OSBORNE e HANNESSY, 2003). Na ótica destes autores a utilização apropriada das TIC tem claramente um potencial de transformação na educação em conteúdos científicos e na aprendizagem do aluno, sendo apenas encontrado em alguns professores empenhados em cumprir seu papel profissional e social. Para tal, as TIC, necessitam se enraizar nas estratégias de todos os professores. Murphy (2003) pondera que as TIC podem ser integradas no ensino de ciências como uma ferramenta, como uma fonte de referência, como um meio de comunicação e como um meio para exploração. Como por exemplo: uma ferramenta no preenchimento de tabelas e na construção de gráficos, uma fonte de referência utilizando informação contida em CDROM e na Internet, um meio de comunicação através do uso do correio eletrônico, da discussão online, das apresentações em PowerPoint, da apresentação de imagens digitais e da utilização de quadros interativos, e como um meio para exploração a programas de programação básica e de simulação. Em síntese, segundo Santos (2007), os principais benefícios do uso das TIC no ensino da disciplina de ciências são que: o ensino torna-se mais interessante, autêntico e relevante; há 15 mais tempo dedicado à observação, discussão e análise e existem mais oportunidades para implementar situações de comunicação e colaboração. Portais e Softwares Educacionais Com intuito de centralizar e divulgar recursos educacionais, o governo federal criou o “Portal do Professor”, que possui além de sugestões de planejamento, biblioteca, informações sobre cursos, materiais temáticos, jornal e os recursos multimídia (Figura 1) a disposição para serem utilizados como ferramentas complementares, que facilitam e dinamizam o trabalho do professor (BRASIL, 2011). Figura 1 – Página de entrada do “Portal do Professor”. O Portal do Professor foi criado em 2008 em parceira com o Ministério da Ciência e Tecnologia e constitui um espaço de livre acesso a todos os interessados. Foi elaborado com intuito de oferecer uma opção virtual útil, oferecendo, como já foram citados, inúmeros recursos para a preparação das aulas (BIELSCHOWSKY, 2009). Dentro dos “Conteúdos Multimídia” há uma variedade de mídias como vídeos, animações, simulações, áudios, hipertextos, imagens e softwares educacionais, e estes são objeto de estudo deste trabalho. Os materiais disponibilizados são selecionados para atender a todos componentes curriculares e podem receber avaliação e/ou comentários (BRASIL, 2011). Os softwares disponibilizados no portal podem ser baixados e utilizados de acordo com a necessidade e realidade de cada professor e escola. Para facilitar o acesso ao software desejado, há uma ferramenta de busca que visa selecionar o recurso de acordo com o tipo de pesquisa, modalidade de ensino, tema, dentre outros (Figura 2). 16 Figura 2 – Ferramenta de busca dos recursos educacionais. Costa (1999, p. 258) define software como “um programa de computador - conjunto de instruções em linguagem de máquina que controlam e determinam o funcionamento do computador e de seus periféricos”. De acordo com Vesce (2008), pode ser considerado educacional se projetado de acordo com uma metodologia que possibilite o processo ensinoaprendizagem, se utilizados como ferramenta didática podem aumentar o índice de aproveitamento dos alunos, professores e notas das instituições. Os softwares educacionais (SE) estão sendo utilizados na educação desde a década de 70, quando se iniciaram inúmeras pesquisas relacionadas ao uso do microcomputador em sala e a diversos recursos programáticos, visando compreender a complexidade do uso dos SE na educação (ROCHA e CAMPOS, 1993). Diante da gama de SE disponíveis para serem utilizados em sala de aula, há uma necessidade em realizar uma avaliação do quanto os SE conduzem a um processo de ensinoaprendizagem efetivo (OLIVEIRA et al., 2001). Souza et al. (2004) evidenciam a necessidade de realizarem-se verificações de qualidade dessas ferramentas e dos resultados que serão possíveis por meio do uso dos SE, quer sejam bons ou ruins, antes de aplicá-los em sala, porque a grande disponibilidade de SE não implica em qualidade técnica e/ou pedagógica. As TIC podem constituir um modo de adquirir conhecimento, mas isoladamente e/ou fora de contexto não efetivam uma aprendizagem real, pois o uso exclusivo de um recurso tecnológico, não garante sucesso educacional, visto que as tecnologias não são essencialmente educativas. Todavia, se forem utilizadas de maneira que propiciem o ensino podem levar a resultados satisfatórios (LIBÂNEO, 2007; CORRÊA, 2003). 17 OBJETIVOS Geral Avaliar a existência e padrão dos softwares educacionais disponibilizados no Portal do Professor – MEC para a disciplina de Ciências Naturais, destinadas os anos finais do ensino fundamental. Específicos i. Verificar a existência de softwares educacionais disponíveis aos docentes do Brasil no Portal do Professor. ii. Analisar o possível potencial educacional dos softwares existentes. iii. Avaliar a(s) possibilidade(s) dos softwares como ferramenta educativa. iv. Analisar se os softwares permitem o aluno realizar feedback do conteúdo. v. Classificar o software de acordo com critérios pré-definidos de uso e acessibilidade. vi. Analisar os aspectos técnicos dos softwares. 18 MATERIAIS E MÉTODOS Com o auxílio da ferramenta de busca disponível no Portal do Professor, foram selecionados todos os softwares de Ciências disponíveis para o ensino fundamental final, para uma avaliação sistematizada. Os critérios da ferramenta de busca foram preenchidos da seguinte maneira: i. Tipo de pesquisa recebeu a opção “Ensino fundamental final”; ii. Componente curricular com “Ciências naturais”; iii. Tipo de recurso com “Software educacional - SE”. De acordo com estas opções, abriu-se uma variedade de SE e todos foram analisados. Quando necessário, seus títulos originais foram traduzidos por meio do Tradutor do Google2. 1. Tipo de análise A pesquisa com abordagem qualitativa engloba um campo transdisciplinar das ciências humanas e sociais, o termo qualitativo é intrínseco ao adquirir conhecimento sobre pessoas, fatos e locais que constituem o objeto de estudo. A abordagem constitui-se de investigações humanas, criando e atribuindo significados e valores as coisas e as pessoas (CHIZZOTTI, 2003). Segundo Neves (1996) este tipo de abordagem pode ser dividido em três tipos: pesquisa documental, estudo de caso e etnografia. A pesquisa documental consiste em analisar materiais ainda não analisados, podendo ser reanalisados sobre diferentes óticas. O estudo de caso examina minuciosamente um ambiente, um sujeito ou um objeto. E a etnografia, com raiz na antropologia, tem como fundamento principal a observação social. Este trabalho irá realizar uma pesquisa com abordagem qualitativa do tipo estudo de caso, pois estará avaliando de maneira criteriosa SE com base em uma ficha adaptada (Figura 3) proposta por Vieira (1999). 2 Google é considerado um dos maiores sites da Internet. É uma plataforma de busca, na qual o usuário tem acesso a uma quantidade gigantesca de informação. Basicamente, o usuário procura por palavras e o Google exibe inúmeras páginas de muitos sites que tenham as palavras, ou expressões mais próximas ao que se procura. Acessado em 28/06/2012. Disponível em: http://www2.explorando.com.br/dicionario/google. 19 Figura 3 – Ficha de avaliação dos softwares educacionais, adaptada de Vieira (1999). 2. Mecanismo de análise A avaliação é definida, por Price (1991) apud Zem-Macarenhas e Cassiani (2001), como um processo contínuo, utilizado para determinar se um software atingiu seus objetivos e, consequentemente, estabelecer as modificações necessárias. 20 A ficha adaptada (Figura 3) proposta por Vieira (1999), a partir do prisma de Azevedo et al. (2005) e Alves et al. (2004), é referência nas análises de softwares educacionais, sendo um modelo similar ao utilizado pelo Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO) do MEC. A avaliação, baseada na ficha proposta por Vieira (1999), é dividida em quatro etapas: i. Identificação do SE - constam dados como: autor, objetivo, idioma e duração. ii. Base pedagógica – foi descrito o modelo de interação aprendiz X máquina X agente de aprendizagem X grupo; e se há interdisciplinaridade. iii. Classificação dos SE utilizando critérios pré-definidos de uso e acessibilidade. iv. Definir aspectos técnicos, como compatibilidade, interface, legibilidade, dentre outros. Para classificar os critérios de uso e acessibilidades utilizou-se os conceitos definidos por Valente (1999): 1) Tutorial: caracteriza-se por transmitir informações pedagogicamente organizadas, como se fossem um livro animado, um vídeo interativo ou um professor eletrônico. A informação que está disponível para o aluno é definida e organizada previamente, assim o computador assume o papel de uma máquina de ensinar. A interação entre o aprendiz e o computador consiste na leitura da tela ou escuta da informação fornecida, avanço pelo material dá-se ao apertar a tecla ENTER ou usando o mouse. 2) Exercícios e práticas: enfatizam a apresentação das lições ou exercícios, as atividades exigem apenas o fazer, o memorizar informação, não importando a compreensão do que se está fazendo. 3) Programação: criar seus próprios protótipos de programas, sem que possuiam conhecimentos avançados de programação. Ao programar o computador utilizando conceitos estratégias, este pode ser visto como uma ferramenta para resolver problemas. A realização de um programa exige que o aprendiz processe a informação, transformando-a em conhecimento. 4) Aplicativos: programas voltados para aplicações específicas, como processadores de texto, planilhas eletrônicas, e gerenciadores de banco de dados. Embora pouco usados com fim educacional, permitem interessantes usos em diferentes ramo do conhecimento. 5) Multimídia: o uso de multimídia é semelhante ao tutorial, apesar de oferecer muitas possibilidades de combinações com textos, imagens, sons, a ação do aprendiz se resume em escolher opções oferecidas pelo software. Após a escolha, o computador apresenta 21 a informação disponível e o aprendiz pode refletir sobre a mesma. Às vezes o software pode oferecer também ao aprendiz, oportunidade de selecionar outras opções e navegar entre elas. 6) Simulação e modelagem: reproduz uma situação ou evento, constituindo o ponto forte do computador na escola, pois possibilitam a vivência de situações difíceis ou até perigosas de serem reproduzidas em aula, permitem desde a realização de experiências químicas ou de balística, dissecação de cadáveres, até a criação de planetas e viagens na história. 7) Jogos: geralmente são desenvolvidos com a finalidade de desafiar e motivar o aprendiz, envolvendo-o em uma competição com a máquina e os colegas. Os jogos permitem interessantes usos educacionais, principalmente se integrados a outras atividades. A partir dessa análise foi possível elaborar conclusões para delinear o uso educacional dos softwares disponíveis no “Portal do Professor”. 22 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados 13 (treze) Softwares Educacionais no Portal do Professor, no período de maio de 2011 a fevereiro de 2012. Eles estão disponíveis nos seguintes idiomas: Espanhol, Catalão e Francês (Tabela 1). Para facilitar a elucidação e o entendimento dos resultados, os softwares receberam siglas. Tabela 1 – Títulos originais, em língua portuguesa e sigla dos softwares educacionais disponibilizados no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Títulos originais Títulos traduzidos Siglas El cuerpo humano O corpo humano SE1 Consells davant emergències Dicas de emergência SE2 Mi salud, mi cuerpo y la Minha saúde, meu corpo e a educação física SE3 Animals invertebrats Animais invertebrados SE4 Animals vertebrats Animais vertebrados SE5 Otoño Outono SE6 Vistas de la Tierra Visualização da Terra SE7 Classifiquem roques sedimentàries Classificação de rochas sedimentares SE8 De viaje por el sistema solar Viagem pelo sistema solar SE9 Cuerpo humano - aparato digestivo Corpo humano – sistema digestório SE10 El Coto de Doñana Preservar Doñana SE11 Descobrim la diabetis "Conceptes bàsics" Descobrindo a diabetes: conceitos básicos SE12 La diabetes tipo I "Conceptos avanzados” A diabetes tipo I: conceitos avançados SE13 educación física Dentre os treze SE avaliados, 70% possuem o idioma espanhol, 15% catalão e 15% francês. Verifica-se que dos SE disponibilizados em um portal público brasileiro nenhum se apresenta com o idioma oficial de nosso país, a língua portuguesa. Acredita-se que isso se deva ao fato de que a elaboração e criação de softwares por empresas privadas brasileiras ainda apresentar um grande custo (ALVES, 2006). Outra possível explicação para a ausência de softwares em português é a parceria entre o Ministério da Educação e instituições educacionais, fundações e institutos, organizações públicas e privadas, de diferentes países, os objetos educacionais são cedidos para a 23 publicação no Banco Internacional de Objetos Educacionais – BIOE, o qual está integrado ao Portal do Professor (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2011). Teixeira e Brandão (2003) acreditam que a ausência de softwares brasileiros gratuitos deve-se também a desmotivação e falta de interesse dos professores, partindo do pressuposto que atualmente existem inúmeras ferramentas e linguagens de programação acessíveis de fácil manuseio, as quais os próprios professores poderiam utilizar e crias softwares educacionais completos e pertinentes a cada realidade escolar. Todos os SE oferecem a Licença Creative Commons, que permite copiar, distribuir, publicar, criar trabalhos derivados citando o autor, e é proibido uso para fins comerciais. Este tipo de licença consiste em uma vantagem para os usuários do “Portal do Professor”, já que para utilizar os softwares não há necessidade de pagamento. Segundo a definição da Free Software Foundation3 (2011), um software é considerado livre se permite ao usuário ter acesso às quatro liberdades essenciais: 0. A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito. 1. A liberdade de estudar como o programa funciona e alterá-lo. 2. A liberdade de redistribuir cópias para que você possa ajudar ao seu próximo. 3. A liberdade de distribuir cópias de suas versões modificadas para outros. Todos os SE se enquadram dentro das liberdades essenciais, oferecendo a quem se interessar o acesso completo aos softwares. Em relação à descrição pedagógica dos SE, 85% apresentam cunho tradicional, visto que ainda tem se limitado a mera transmissão dos conteúdos, sem permitir que o aluno desenvolva seu conhecimento. Corroborando essa visão, Silva e Fernandez (2007) ressaltam ainda que a simples transposição de conteúdos impressos em papel para uma mídia eletrônica não oferece nenhuma vantagem do ponto de vista didático-pedagógico. O SE2 e o SE3 foram descritos pedagogicamente como comportamentalistas, porque impõem aos alunos um tipo de comportamento que deve ser seguido e, mais uma vez não permite que os educando estejam livres para formular e resolver situações-problemas. Segundo esta abordagem pedagógica comportamentalista, o comportamento dos educando podem ser modificados ao alterarem-se as condições que eles estão expostos, o aluno, portanto, é um produto delineado conforme desejo das instituições (MIZUKAMI, 1986). 3 O Free Software Foundation (FSF) e uma oorganizaçãoo sem fins de Lucro com missão mundial de promover a lliberdade dos usuários de ccomputador, bem como seus direitos. Acessado em 28/06/2012. Disponível em: http://www.fsf.org 24 Intimamente ligado ao tipo de abordagem pedagógica estão às interações entre máquina X aprendiz X agente de aprendizagem X grupo, pois ambas as propostas pedagógicas presentes nos SE permitem apenas que o aprendiz interaja com a máquina, ou no máximo com o agente de aprendizagem, se o aluno tiver alguma dúvida em relação ao uso do software, o educando só irá interagir com o grupo se o professor propuser ao término das atividades com o SE alguma atividade em grupo, como por exemplo, um debate sobre o tema. As interações acima mencionadas são limitadas, porque os softwares ora apenas expõe o conteúdo (pedagogia tradicional4), ora impõe um tipo de ação que deve ser repetida (pedagogia comportamentalista). Portanto, o aluno está sempre focado única e exclusivamente no SE, não há espaço para inserir o professor ou os colegas de classe dentro da sua aprendizagem. No que tange ao feedback foi considerado como a resposta que o aluno dará após o uso da ferramenta, se ela pode surtir algum efeito sobre o ensino-aprendizagem. Todos os SE tem potencial de proporcionar que o docente e o discente realizem um feedback do conteúdo. Visto que, esta ação está intrinsecamente ligada ao “bom” uso dos softwares, os quais podem ser utilizados como fixadores do conteúdo devido apresentarem imagens e exercícios que ajudam a concretizar o conteúdo. Ligado inerentemente ao feedback e ao tipo de abordagem pedagógica dos SE, estão a análise e verificação de hipóteses e a depuração de resultado, os softwares não dão liberdade para que estas ações sejam realizadas, pois conforme já foi elucidado, os SE estão muito restritos a transposição do livro para a mídia eletrônica, e trabalhar em cima de situaçõesproblemas e hipóteses não é o foco de nenhum dos softwares analisados. No que tange a interdisciplinaridade, esta esteve presente em 46,5% dos SE e dentro destes, 38,75% possibilitam o trabalho aliado entre ensino de ciências aos conteúdos de geografia e 7,75% aos conteúdos de educação física. Este dado indica um possível interesse por conteúdos interdisciplinares, evidenciando que alguns temas não estão mais sendo ensinados isoladamente, mas de forma integrada (GUERRA et al., 1998; FAZENDA, 2002). Além disso, todos os softwares podem ser aplicados em uma parceria com professores de língua estrangeira, em especial de Espanhol, visto que 70% são desenvolvidos nesta língua. Para Salum (1997) uma educação interdisciplinar só será possível quando a formação de professores estiver atenta a esta forma de ensinar, de nada adianta softwares com roupagem 4 Na concepção tradicional o adulto é considerado como homem acabado e pronto, enquanto o aluno é um "adulto em miniatura", que precisa ser atualizado. O ensino será centrado no professor e o aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por autoridades exteriores. In.: MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. 25 interdisciplinar se o professor não souber trabalhar de forma adequada com metodologias e conteúdos integrados. Corroborando com este autor, Fazenda (2002) afirma que é necessária uma formação adequada que pressuponha um treino na arte de entender e pensar, visando um desenvolvimento educacional no sentido da criação e da imaginação. Quanto aos aspectos de uso e acessibilidade, a maioria dos SE se enquadram dentro dos tutoriais, exercícios, prática e jogos. Mais da metade dos SE, 69%, são no formato de tutorial, incluindo exercícios e jogos ao mesmo tempo; 15% são softwares de exercícios e jogos simultaneamente, 8% é tutorial e jogo e 8% é apenas exercícios (Figura 3). Dentre os jogos, todos os SE contem quebra-cabeça, caça-palavras e jogo da memória. Os demais aspectos de uso e acessibilidade não apareceram em nenhum dos oito SE estudados, evidenciando a transposição do livro impresso para a mídia informática. Figura 4. Aspectos de uso e acessibilidade dos softwares educacionais disponibilizados no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Giordan (2005), em seu trabalho “O computador na educação em ciência”, faz uma análise critica a respeito de alguns aspectos de uso e acessibilidade, sobre o texto tutorial – ferramenta presente na maioria dos SE avaliados – o autor avalia-o como um tipo de instrumento “ultrapassado”, considerando que os textos tutoriais eram utilizados quando a capacidade de processamento limitava as aplicações gráficas ou ainda quando as redes de computadores estavam restritas aos mundos acadêmico e militar. Para Galvis (1988), os exercícios e práticas presentes em um software restringem a ação do aluno, pois a ação está centrada em virar as páginas de um livro eletrônico e resolver 26 suas lições, tal como em um livro tradicional impresso. Segundo o autor para que os exercícios favoreçam o ensino devem-se considerar três condições: quantidade de lições, formatos em que se apresentam e correção das atividades. Partindo das ideias apresentadas pelo autor acima citado, os SE que apresentam apenas exercícios e jogos ou apenas exercícios poderão não alcançar os objetivos para efetivar a aprendizagem, visto que o aluno que utiliza apenas o software não possui base para a resolução das atividades propostas e a grande quantidade de lições poderá desmotivar o educando. No quesito relacionado ao nível de aprendizagem, Vieira (1999) classifica os softwares em: relacionais, sequenciais e criativos. A categoria que mais possibilita a aprendizagem para o autor é a criativa, levando em consideração que na mesma ocorre à formação de novos saberes, possibilitando uma maior interação entre pessoas e tecnologias, havendo uma participação mais ativa do aluno. Todavia, verificamos que 92,5% dos SE analisados podem ser classificados como “Relacionais” e o SE8 é “Sequencial”, nenhum SE apresentou nível de aprendizagem criativo. Para LYRA et al. (2003), os softwares do tipo relacional permitem ao aluno a aquisição de novas habilidades ao estabelecer relações ao decorrer do conteúdo que está sendo aprendido, entretanto esta categoria pode gerar um aluno com conhecimento isolado, porque cada aluno é o centro de sua aprendizagem e realiza as suas próprias relações, de acordo com seu conhecimento prévio e independente do grupo. O software sequencial é aquele que apresenta uma linearidade de conteúdo, tal como em um livro didático, o SE8 foi assim classificado porque, conforme pode ser visualizado na Figura 5, exibe um quadro de opções entre conhecer as rochas sedimentares e realizar as atividades. Escolhendo a primeira opção, o aluno é direcionado para tutoriais que explicam detalhadamente o tema, assim que o aluno terminar de ler todas as informações, o software o redireciona para a tela inicial, na qual poderá optar por resolver os exercícios. O SE oferece inúmeras atividades que vão desde caça-palavras até relacionar as características das rochas com as suas imagens. Na parte inferior de cada dela, que está circundado em vermelha nos prints das interfaces, o SE exibe o que deverá ser feito pelo educando. 27 Figura 5. Prints das interfaces do SE8 disponibilizado no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Círculos, em vermelho, destacam a atividade que o aluno realizará. Os demais softwares foram classificados como relacionais, como por exemplo, o SE1 (Figura 6), os quais permitem os educando estabelecer relações do que está sendo aprendido com o cotidiano dos aprendentes, estes SE podem servir como ferramentas complementares para efetivar o ensino, uma vez que dispõem de atividades e textos com curiosidades. 28 Figura 6. Prints das interfaces do SE1 disponibilizado no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Os aspectos técnicos da análise dos SE foram, de forma geral, bem pontuados. Todos os SE possuem os aspectos básicos necessários a qualquer software, exceto os quesitos helpdesk e hiperlink, em que 54% não o possuem help-desk e 31% apresentam a ferramenta em algumas partes do software e o hiperlink não consta em nenhum. O hiperlink, de forma resumida, é um comando que se clica para iniciar um programa ou abrir um arquivo, por meio dele é possível estabelecer relação entre assuntos variados (MIRANDA, 2005). Este tipo de dispositivo na educação poderia tornar o ensinoaprendizagem, por meio de um SE, mais completo, porque o hiperlink auxiliaria na complementação dos temas abordados e criaria uma teia de ligações, fortalecendo a interdisciplinaridade. 29 Já o help-desk é um tipo de ajuda, caso o usuário encontre alguma dificuldade na compreensão e/ou manuseio de uma ferramenta tecnológica, poderá recorre a este dispositivo, no caso dos SE que o apresenta esta opção aparece como uma interrogação colorida (Figura 7). Nos SE que apresentaram esta função, ela apareceu de maneira bastante simples, como uma resposta e não como uma ajuda para resolver os problemas propostos. Em atividade como quebra cabeça o help-desk exibe como as peças devem ser posicionadas corretamente, em caças palavras no auxilio do dispositivo aparece as palavras que devem ser encontradas. Figura 7. Prints das interfaces do SE2 disponibilizado no Portal do Professor para os anos finais do ensino fundamental. Círculo vermelho destaca a função de help-desk e a seta indica a tela que abre após clicar sobre a função. A facilidade de navegação foi adotada como uma navegação simples e acessível. Neste quesito, 7,5% dos SE analisados mostrou-se ineficaz, porque as interfaces do SE passavam rapidamente e retorno a tela anterior ocorre de forma bem breve, o que impossibilita que o aluno consiga adquirir todas as informações presentes nas interfaces, e consequentemente, impossibilita um ensino-aprendizagem satisfatório. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para a engenharia de software apresenta as normas que delineiam a qualidade de um software, para este trabalho julgou-se pertinente o uso da norma ISO/IEC 9.126, a mesma nos dá a definição de um software de qualidade: “A totalidade de características de um produto de software que lhe confere a capacidade de satisfazer necessidades explícitas e implícitas”. Conforme a ISO/IEC 9.126 verificamos que os SE se enquadram dentro das principais caraterísticas de um software de qualidade, segundo aspectos técnicos, são elas: 30 1. Funcionalidade: todos os SE possuem funções e propriedades que satisfazem o usuário, exceto em alguns quesitos, que já foram mencionados acima. 2. Usabilidade: 85% dos SE são utilizado de forma fácil, o usuário não encontra dificuldade ao manuseá-lo. 3. Eficiência: todos satisfazem essa característica, porque o tempo de processamento das respostas são imediatas e o não é necessário nenhum recurso financeiro para acessá-los. 4. Confiabilidade: apenas 15% das ferramentas exibem erros - interfaces que passam rápido demais e não indicam as possibilidades de uso. 5. Portabilidade: característica não atendida, nenhum software é adaptado ou instalado em outros ambientes e substituído por outro software facilmente, para realizar estes procedimentos é indispensável conhecimento mais profundo em programação. A avaliação do software didático é feita na prática do dia-a-dia em sala de aula. É uma atividade subjetiva que pode ser aceita por uns e rejeitada por outros. É necessário encontrar no software características que assegurem uma maior probabilidade de sucesso no âmbito educacional, a partir da análise dos aspectos pedagógicos e técnicos (LUCENA, 1998). 31 CONCLUSÃO A utilização de softwares no ensino de ciências é um advento recente e na maioria das vezes ignorada pelos professores, seja por falta de conhecimento do material, dificuldade em trabalhar com tecnologia educacional, ausência de recursos de qualidade, dentre outros. No caso dos treze SE analisados verificamos que apesar dos softwares estarem disponíveis em um portal brasileiro, nenhum deles possui o idioma nacional do Brasil, necessitando de conhecimento em Espanhol, Catalão ou Francês. Com viés tradicionalista ao oferecer mera transposição do livro para uma mídia eletrônica, não possibilita uma análise e verificação de hipóteses, uma vez que não trabalha em cima de situações-problemas. Uma grande vantagem que pode ser observada pelo portal é que todos os recursos que foram analisados neste trabalho contavam com a Licença Creative Commons, permitindo livre acesso e apresenta os requisitos técnicos básicos a software de qualidade. Diante disso, fica evidente a necessidade de mais trabalhos que avaliem os demais recursos midiáticos como hipertextos, vídeos, áudios, imagens, dentre outros, presentes no Portal do Professor e em outros portais educacionais, para então, construir um banco de dados de ferramentas que apresentam discriminação do potencial educacional de cada dispositivo para uso consciente e crítico do professor. 32 REFERÊNCIAS ALVES, C. V. Utilização da Estimativa de Custos no Processo de Desenvolvimento de Software, 97f. 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