X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Núcleo Regional Sul Quantificação de carotenoides, polifenóis e flavonoides das folhas de Canavalia ensiformes L. e Mucuna aterrima Camila Pimentel Martins(1); Monique Souza(2); Ana Paula Camargo(3); Bárbara Santos Ventura(4); Paulo Emílio Lovato(5); Shirley Kuhnen(6); Jucinei José Comin(5) (1) Bióloga; Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Rod. Admar Gonzaga, 1346, Itacorubi, Florianópolis-SC, CEP:88040100; [email protected];(2)Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas (PGA)/UFSC;(3)Bióloga, Professora no Instituto Federal Catarinense (IFC), Campus Araquari, SC;(4)Graduanda em Agronomia, UFSC;(5)Professor Associado IV, PGA/UFSC;(6)Professora Adjunto 3, PGA/UFSC. RESUMO– A alelopatia é a interferência química de um organismo sobre outro, mediada por uma ou várias substâncias, os chamados aleloquímicos. As espécies de plantas de cobertura mucuna-preta (Mucuna aterrima) e feijão-de-porco (Canavalia ensiformes L.) produzem diferentes compostos com efeitos alelopáticos sobre as plantas espontâneas. O objetivo deste trabalho foi quantificar o conteúdo de carotenoides, polifenois e flavonoides em feijão-de-porco e mucuna-preta. Aos 70 dias após a semeadura do feijão-de-porco e aos 130 dias após a semeadura da mucuna-preta, foram coletadas folhas das duas espécies, secas em estufa, moídas e obtidos os extratos metanólicos para obtenção do perfil espectral e quantificação de carotenoides. Os teores de polifenóis e flavonoides foram determinados através de ensaios colorimétricos em espectrofotômetro. A mucuna-preta apresentou maiores conteúdos de carotenoides, polifenois e flavonoides quando comparada com o feijão-de-porco, o que pode ser atribuído ao estádio fenológico, parte da planta que foi coletada, condições climáticas ou nutricionais do solo. Ambas as espécies podem ser usadas como adubo verde e possuem potencial como fonte de compostos aleloquímicos. Palavras-chave: alelopatia, plantas de cobertura, mucuna-preta, feijão-de-porco. INTRODUÇÃO- A alelopatia é um fenômeno biológico que envolve a produção de substâncias por organismos vegetais (Mendonça, 2008). Em termos agronômicos, é considerada a interação entre uma cultura de interesse e as plantas espontâneas (Belz, 2007). Os aleloquímicos, quando em contato com outras plantas, afetam diversas funções vitais, como a respiração, a fotossíntese, a divisão celular, a reprodução e a nutrição (Almeida, 1988). A liberação dos aleloquímicos no ambiente pode acontecer por exsudação através das raízes, por decomposição de resíduos das plantas sobre a superfície do solo, por lixiviação e volatilização, variando de acordo com a planta e o ambiente (Inderjit&Callaway, 2003). Muitas substâncias alelopáticas são produzidas por plantas comumente usadas como adubos verdes e apresentam grande potencial para o manejo de doenças e o controle biológico das plantas espontâneas (Pessanha et al., 2010). Além disso, a presença de adubos verdes contribui para a melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo (Fontanétti et al., 2004). Dentre as diversas plantas de cobertura utilizadas como adubos verdes e citadas em diversos trabalhos pelo seu potencial alelopático destacam-se o feijão-de-porco (Canavalia ensiformes) e a mucuna-preta (Mucuna aterrima). O objetivo deste trabalho foi quantificar o conteúdo de carotenoides, polifenóis e flavonoides presente nas folhas de feijão-de-porco e mucuna-preta. MATERIAL E MÉTODOS- Para a obtenção dos extratos foram coletadas folhas de mucuna-preta (Mucuna aterrima) aos 130 dias após a semeadura da espécie em um experimento a campo conduzido em Sistema Plantio Direto e implantado há 5 anos na Estação Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), no município de Ituporanga/SC. As folhas de feijão-de-porco foram coletadas no município de Florianópolis/SC aos 70 dias após a semeadura em vasos que continham composto proveniente de resíduos orgânicos como fonte de adubo. Todo o material vegetal coletado foi seco em estufa com ar forçado a 45°C, moído e passado em uma peneira com malha de 2 mm para a realização dos ensaios bioquímicos. Para o preparo dos extratos das duas espécies foi utilizado 25g de material e adicionado uma solução de metanol 80% (1:10, p/v). O extrato foi filtrado a vácuo e centrifugado a 4000 rpm por 10 minutos. Os perfis dos extratos foram obtidos através de varredura em espectrofotômetro nos comprimentos de onda de 200 a 800 nm. O conteúdo de carotenoides foi estimado levando os extratos ao espectrofotômetro a 450 nm e usando o coeficiente de extinção molar 2.500 para os cálculos. O resultado foi expresso em mg de carotenoides.g-1 massa seca (MS). O conteúdo de polifenóis foi determinado pelo método de Folin-Ciocalteu (Singleton&Rossi, 1965), utilizando uma curva padrão externa de ácido gálico (SigmaAldrich) e expressos em mg de equivalentes de ácido gálico.g-1 massa seca (mgEAG.g-1 MS). O conteúdo de flavonoides foi determinado pela metodologia descrita por Popova et al. (2004), utilizando uma X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Núcleo Regional Sul Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 curva padrão de quercetina (Sigma-Aldrich) e expressos em mg de equivalentes de quercetina.g-1 massa seca (mgEQ.g-1MS). RESULTADOS E DISCUSSÃO– O perfil espectrofotométrico e o conteúdo de carotenoides, polifenóis e flavonoides dos extratos metanólicos (Figuras 1 e 2) revelou teores superiores para a espécie mucuna-preta quando comparada com a espécie feijão-de-porco. Perfil espectrofotométrico 3 Feijão-de-porco 2,4 Mucuna-preta 1,8 1,2 0,6 0 200 300 400 500 600 700 800 estudando a germinação e o alongamento da radícula das plantas invasoras malícia (Mimosa pudica Mill.) e malva (Urena lobata) submetidas a diferentes extratos de feijãode-porco, verificou que as sementes e as raízes são as principais fontes de substâncias químicas com atividades alelopáticas, sendo as folhas verdes a parte com menor potencial. Souza (2006) identificou a possível presença de componentes aleloquímicos, principalmente nas folhas verdes da mucuna-preta, através da inibição de germinação de sementes de picão-preto (Bidens pilosa), o que corrobora com os resultados obtidos. Além disso, os maiores conteúdos de carotenoides, polifenóis e flavonoides encontrados na mucuna-preta em relação ao feijão-de-porco também podem ser atribuídos aos diferentes estádios fenológicos em que as plantas se encontravam no momento da coleta, das condições climáticas dos locais onde foram semeadas e nutricionais do solo em que foram mantidas. A fitotoxidade das substâncias químicas com potencial alelopático pode ser influenciada pelo tipo de solo, nutrição das plantas, pH, fatores climáticos, microbiota e estádio fenológico (Indejit&Weiner, 2001). -0,6 Figura 1 – Perfil espectrofotométrico dos extratos metanólicos de feijão-de-porco e de mucuna-preta. Conteúdo de carotenoides, polifenóis e flavonoides 2,5 Feijão-de-porco 2 Mucuna-preta CONCLUSÕES– O feijão-de-porco e a mucuna-preta usados como adubo verde possuem potencial alelopático e podem ser fontes alternativas de biodefensivos agrícolas. Porém, pesquisas mais aprofundadas e de longo prazo devem ser realizadas para se conhecer os seus efeitos específicos sobre a flora de plantas espontâneas. AGRADECIMENTOS- À CAPES pela concessão da bolsa no decorrer do experimento. 1,5 REFERÊNCIAS ALMEIDA, F.S. A alelopatia e as plantas. Londrina, IAPAR, 1988, 60. 1 BELZ, R.G. Review Allelopathy in crop/weed interactions – an update. Pest Management Science. 63:308-326, 2007. 0,5 0 Carotenoides Polifenois Flavonoides Figura 2 – Conteúdo de carotenoides, polifenóis e flavonoides, expressos em mg.g-1 MS, dos extratos metanólicos de feijão-de-porco e de mucuna-preta. O baixo teor de carotenoides identificado nas duas espécies em relação aos outros compostos analisados (polifenóis e flavonoides) pode ser explicado pela menor afinidade entre o extrator que possui alta polaridade, e os carotenoides que apresentam baixa polaridade, não demonstrando a potencialidade do feijão-de-porco e da mucuna-preta como fonte dessa classe de aleloquímico. A quantificação dos compostos somente das folhas de mucuna-preta e feijão-de-porco também pode ter contribuído para essas diferenças nos conteúdos de carotenóide, polifenois e flavonoides, pois estes compostos podem estar mais concentrados em outra parte da planta, como raízes, sementes e inflorescências. Souza Filho (2002), FONTANÉTTI, A.; CARVALHO, G.J. de; MORAIS, A.R. de; ALMEIDA,K. de; DUARTE, W.F. Adubação verde no controle de plantas invasoras nas culturas de alface-americana e de repolho. Ciências Agrotecnologia. 28:967-97, 2004. INDERJIT; CALLAWAY, R.M. Experimental designs for the study of allelopathy. Plant and soil, 256:01-11, 2003. INDERJIT; WEINER, J. Allelochemical interference or soil chemical ecology? Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics. 4:3-12, 2001. MENDONÇA, R.L. Determinação de aleloquímicos por HPLC/UV-Vis em extratos aquosos de sementes de Canavalia ensiformes e estudo da atividade alelopática. 2008. 100p. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2008 PESSANHA, A.C.; SANTOS, L.M.; FREITAS, S.P.; HUZIWARA, E. Efeito Alelopático de Extrato de Schinus terebinthi- 2 X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 folius L. em Brachiaria decumbes. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 27, 2010. Anais. Ribeirão Preto, XXVII CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 2010. CD-ROM. POPOVA, M.; BANKOVA, V.S.; BUTOVSKA, D.; PETKOV, V.; NIKOLOVA-DAMYANOVA, B.; SABATINI, A.G.; MARCAZZAN, G.L.; BOGDANOV, S. Validated methods for the quantification of biologically active constituents of popular type propolis, Phytochemical Analysis. 15:235-240, 2004. Núcleo Regional Sul SOUZA, M.F.P.; YAMASHITA, O.M. Potencial alelopático da mucuna-preta sobre a germinação de sementes de alface e picão preto. Revista de Ciências Agro-Ambientais, 4:23-28, 2006. SOUZA FILHO, A.P.S. Atividade potencialmente alelopática de extratos brutos e hidroalcoólicos de feijão-de-porco (Canavalia ensiformis). Planta Daninha, 20:357-364, 2002. SINGLETON, V.L.; ROSSI, J.A.Jr. Colorimetry of total phenolics with phosphomolybdic-phosphotungstic acid reagents. American Journal of Enology and Viticulture. 16:144-58, 1965. 3