Distribuição espacial de Cosmopolites sordidus (Germar) na cultura da bananeira Walter Maldonado Junior1 José Carlos Barbosa2 Ronaldo Pavarini3 1 Introdução O gorgulho da bananeira Cosmopolites sordidus (Germar) (Coleoptera: Curculionidae) é nativo da Malásia e Indonésia porém já é considerado uma praga de grande importância em várias regiões produtoras de banana no mundo [4], principalmente naquelas destinadas à produção de bananas para sobremesa e para cozinhar [10]. As perdas na produtividade causadas pela infestação do gorgulho da bananeira podem chegar a até 100% [6,2]. No Brasil, essa praga foi observada no Rio de Janeiro em 1915 [7] e está disseminada em todos os estados brasileiros [11]. Nesse contexto, torna-se clara a importância da definição de planos de amostragem para o auxílio na decisão de controle da praga. Para se implementar um plano de amostragem, é preciso definir a unidade amostral, o número necessário de unidades amostrais e como as unidades amostrais serão alocadas na área (ao acaso, estratificada ou sistemática), sendo que os fatores que podem afetar a eficiência de uma amostragem são: a disposição espacial dos indivíduos, a variação populacional no tempo, os efeitos provocados por diferentes equipamentos de coleta e a subjetividade do amostrador [9]. Os métodos de amostragem não são padronizados para todos os tipos de pragas. Assim, para a construção de um plano de amostragem, são considerados aspectos relativos à biologia, comportamento, distribuição espacial, além de fatores econômicos e do número e do tamanho da unidade amostral [13]. De acordo com esse autor, deve-se utilizar o método que proporcione a melhor precisão com o menor custo de trabalho possível. Informações sobre a distribuição e padrões de atividade do adulto do gorgulho da bananeira são importantes para a definição e implantação de estratégias de controle e interpretação de resultados de pesquisas [3]. O conhecimento do modelo de distribuição 1 Departamento de Ciências Exatas – FCAV UNESP Jaboticabal. E-mail: [email protected] Departamento de Ciências Exatas – FCAV UNESP Jaboticabal. E-mail: [email protected] 3 UNESP – Campus Experimental de Registro. 2 1 espacial de espécies pragas e inimigos naturais é o fator-chave no desenvolvimento de métodos de amostragem em sistemas de culturas [14]. 2 Material e métodos O trabalho foi realizado numa área comercial de plantio de bananeiras de 4 hectares situada no município de Juquiá, (longitude 47o38’05’’ oeste latitude 24o19’15’’ sul e 17 metros de altitude) na região do Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo. As plantas eram da cultivar nanica, plantadas em espaçamento de 3,0 x 2,5 metros que no início da realização do trabalho apresentavam aproximadamente 15 anos de idade. Para levantamento da incidência da praga, foram distribuídas nesta área um total de 80 iscas, cuja localização foi marcada com auxílio de uma estaca. A distribuição das iscas foi feita no interior do bananal tendo-se o cuidado de dispô-las de maneira equidistante abrangendo toda a área. A avaliação populacional de Cosmopolites sordidus foi realizada no período de setembro de 2005 a março de 2006, por meio de iscas tipo “telha”. Estas iscas, medindo de 40 a 60 cm de comprimento, foram obtidas a partir de pedaços de pseudocaules de plantas que já produziram, os quais foram seccionados ao meio no sentido longitudinal. As iscas foram colocadas próximas à base das bananeiras, com as faces cortadas em contato com o solo, sendo a região previamente limpa. Para estudo do grau de agregação do inseto, foram utilizados os índices razão variância/média (I), índice de Morisita (Iδ) (com teste de qui-quadrado para o afastamento da aleatoriedade), coeficiente de Green (Cx) e expoente k da distribuição binomial negativa. 3 Resultados e discussão Os resultados obtidos para os índices de agregação para as contagens de C. sordidus nas iscas são apresentados nas Tabelas 1 e 2. Os valores de I e Iδ foram maiores que a unidade e os de Cx foram maiores zero, valores esses que indicam uma distribuição agregada da praga no campo [9,8,5]. Para os valores de Iδ o afastamento da aleatoriedade foi comprovado pelo teste de qui-quadrado, apresentando valores significativos em todos os levantamentos. O parâmetro k obtido pelos métodos dos momentos e da máxima verossimilhança apresentou valores entre 0 e 8, o que significa que a distribuição da praga varia de moderada agregação a altamente contagiosa [1,13]. Podemos verificar um comportamento similar entre os índices 2 obtidos nas várias avaliações, sempre indicando a distribuição agregada. Mesmo apresentando asas funcionais, foi descrita a observação de voo somente ocasional ou até a ausência deste para o inseto [12], fato esse que corrobora com o comportamento agregado observado nesse estudo. Tabela 1: Médias, variâncias e índices de agregação para os levantamentos de Cosmopolites sordidus realizados entre 14 de setembro de 2005 e 2 de novembro de 2005. Juquiá, SP. 2005 Índices 14/set 21/set 28/set 05/out 13/out 19/out 26/out 02/nov m 3,8125 4,2500 5,8500 5,1625 5,0500 4,6125 7,1500 6,1250 s2 10,6606 14,5696 21,7494 13,5302 13,3646 11,9872 19,5468 14,3386 I = s2/m 2,7962 3,4281 3,7178 2,6209 2,6464 2,5988 2,7338 2,3410 Green 0,0059 0,0072 0,0058 0,0039 0,0041 0,0043 0,0030 0,0027 Iδ 1,4668 1,5659 1,4598 1,3108 1,3228 1,3432 1,2399 1,2166 X2 Iδ 220,90** 270,82** 293,71** 207,05** 209,07** 205,31** 215,97** 184,94** kmom 2,1225 1,7503 2,1524 3,1850 3,0672 2,8849 4,1238 4,5675 kmv 1,9098 1,6190 2,1434 2,8594 3,0848 2,8117 4,5680 3,9326 m = média amostral; s2= variância amostral; I = razão variância/média; Iδ = índice de Morisita; X2 Iδ = teste de afastamento da aleatoriedade; ** = significativo a 1% de probabilidade; Cx = coeficiente de Green; kmom = k pelo método dos momentos; kmv = k pelo método da máxima verossimilhança. Tabela 2: Médias, variâncias e índices de agregação para os levantamentos de Cosmopolites sordidus realizados entre 16 de novembro de 2005 e 18 de março de 2006. Juquiá, SP. 2005 2006 Índices 16/nov 30/nov 15/dez 18/jan 01/fev 15/fev 01/mar 18/mar m 6,5000 6,9500 6,9000 5,2500 5,4000 3,5250 3,0732 1,8205 s2 14,7895 32,6816 24,3053 15,4605 11,8316 7,3411 7,2195 4,0453 I = s2/m 2,2753 4,7024 3,5225 2,9449 2,1910 2,0826 2,3492 2,2221 Green 0,0099 0,0268 0,0184 0,0187 0,0111 0,0039 0,0108 0,0087 Iδ 1,1878 1,5097 1,3498 1,3553 1,2115 1,3044 1,4317 1,6674 43,23** 89,35** 66,93** 55,95** 41,63** 164,52** 93,97** 171,10** X2 Iδ kmom 5,0968 1,8772 2,7354 2,6994 4,5339 3,2561 2,2778 1,4897 kmv 6,0421 2,4607 2,9239 2,4502 5,5678 2,8904 2,2675 1,4271 m = média amostral; s2= variância amostral; I = razão variância/média; Iδ = índice de Morisita; X2 Iδ = teste de afastamento da aleatoriedade; ** = significativo a 1% de probabilidade; Cx = coeficiente de Green; kmom = k pelo método dos momentos; kmv = k pelo método da máxima verossimilhança. É possível observar também por meio das tabelas que os valores do expoente k da distribuição binomial negativa aumentam à medida que a média do número de insetos aumenta, ou seja, a agregação é maior quando a infestação é mais baixa e tende a diminuir quando a infestação aumenta. A próxima etapa deste estudo em andamento consiste em testar o ajuste de distribuições de probabilidades conhecidas aos dados para determinação do 3 modelo mais adequado para a construção de um plano de amostragem sequencial para levantamento da praga na cultura. 4 Conclusão O gorgulho Cosmopolites sordidus (Germar) (Coleoptera: Curculionidae) apresenta uma distribuição espacial agregada em plantação de bananeiras. 5 Referências [1] ELLIOT, J. M. Some methods for the statistical analysis of samples of benthic invertebrates. 2. ed. Westmoreland: The Ferry House, 1979. 157 p. [2] GOLD, C.S.; KAGEZI, G.H.; NIGHT, G.; RAGAMA, P.E. 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