Economia e Política Econômica
A Queda das Exportações Brasileiras: Retração de Mercados ou
Competitividade?
Merece ser enfatizado o tema do baixo dinamismo das exportações brasileiras. O IEDI vem
procurando desenvolver trabalhos para mostrar que cada vez mais torna-se claro o
afastamento da economia brasileira com relação à economia internacional. Isso é anterior à
crise mundial de 2008 e, ao contrário do que muitos imaginam, não é favorável à economia do
país, muito embora seja inegável que o mercado interno dinâmico é relevante para a proteção
da economia em um cenário de crise internacional e, ainda, condição indispensável para o
crescimento econômico de longo prazo.
Em algum momento no futuro sofreremos com a ausência de uma política econômica
dedicada à inserção do Brasil no exterior, seja através da colocação de nossos produtos em
mercados externos ou da internacionalização de empresas brasileiras. As lacunas serão
sentidas especialmente no ritmo com que o investimento em inovação e os ganhos de
produtividade evoluem em nossa economia.
Um estudo que o IEDI está divulgando em sua Carta de hoje mostra que a queda das
exportações observada no segundo trimestre de 2012, da ordem de US$ 5 bilhões com relação
ao valor apurado no mesmo período de 2011, não pode ser atribuída exclusivamente ao
agravamento da crise internacional que afetou o desempenho econômico de parceiros
comerciais brasileiros e deprimiu preços de commodities exportadas pelo país. O resultado
reflete também a baixa capacidade do produto brasileiro concorrer em mercados
internacionais, a despeito do valor mais favorável do Real.
O recuo de 7,4% nas vendas no exterior no período em foco foi generalizado entre as
categorias de uso (bens de capital, bens intermediários, bens duráveis e não duráveis e
combustíveis), mas as perdas mais agudas ocorreram em bens de capital (-13,7%) e bens de
consumo duráveis (-12,2%). Por destino, os mercados que mais deixaram de importar os
produtos brasileiros foram o MERCOSUL (-21,9%), América Latina e Caribe (-15,9%) e União
Europeia (-11,0%). Uma coisa tem relação com a outra, pois nossos mercados mais relevantes
para venda de bens duráveis e bens de capital são precisamente a União Europeia e o
MERCOSUL.
É possível sustentar que as exportações brasileiras de bens de capital e de bens de consumo
duráveis para o mercado europeu tiveram queda correspondente ao declínio das importações
europeias. Para esses bens a participação do Brasil nas importações do bloco não chega a
1,5%, enquanto as importações da UE de produtos brasileiros alcança 3,2% das compras do
bloco. A diferença certamente é explicada pela nossa perda de competitividade de bens
industriais no período anterior ao agravamento da crise vivida por este bloco.
Mas, no MERCOSUL a redução nas importações provenientes do Brasil foi mais do que
proporcional à total, concentrando-se o problema na economia argentina, responsável por
nada menos do que 80% do total exportado pelo Brasil. No caso de bens de capital, nossas
vendas para a Argentina no primeiro semestre de 2012 caíram bem mais (-30,5%) do que as
importações daquele país desses mesmos bens (-21%). Em bens de consumo duráveis ocorreu
o mesmo.
Como conclusão, pelo menos no caso das exportações de bens de capital e bens duráveis de
consumo para o MERCOSUL, algo além da crise econômica está em jogo para explicar o
mergulho das vendas externas brasileiras. Logo há questões estruturais relacionadas à perda
de competitividade, seja fatores sistêmicos, como Custo Brasil e câmbio, ou fatores internos
das firmas relacionados ao baixo investimento, defasagem tecnológica, ineficiências de escala,
etc.
Fonte: Carta IEDI nº 535
Download

Economia e Política Econômica