Boletim j Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços Fascículo No 16/2014 // Auditoria Aspectos básicos da responsabilidade do auditor externo em relação ao trabalho dos auditores internos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01 // Contabilidade Geral Vendas recebidas por meio de cartão de crédito. . . . . . . . . . . . . . . . 04 // Contabilidade Gerencial O planejamento nas pequenas e médias empresas . . . . . . . . . . . . . . 05 // Controladoria Eficiência, eficácia e o modelo de gestão nas empresas . . . . . . . . . . 08 Veja nos Próximos Fascículos a Utilização dos trabalhos dos auditores internos pela auditoria independente a Natureza e alcance do trabalho executado pelo auditor interno que pode ser utilizado pelo auditor independente a Pagamento de fornecedores com cartão de crédito © 2014 by IOB FOLHAMATIC EBS > SAGE Capa: Marketing IOB FOLHAMATIC EBS > SAGE Editoração Eletrônica e Revisão: Editorial IOB FOLHAMATIC EBS > SAGE Telefone: (11) 2188-7900 (São Paulo) 0800-724-7900 (Outras Localidades) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Temática contábil e balanços : aspectos básicos da responsabilidade do auditor... -- 10. ed. -- São Paulo : IOB Folhamatic, 2014. -- (Coleção manual de procedimentos) ISBN 978-85-379-2132-6 1. Balanços contábeis 2. Empresas Contabilidade I. Série. 14-02573 CDD-658.15 Índices para catálogo sistemático: 1. Administração financeira : Empresas 658.15 2. Análise de balanços : Empresas : Administração financeira 658.15 3. Balanços : Empresas : Administração financeira 658.15 Impresso no Brasil Printed in Brazil Boletim IOB Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem prévia autorização do autor (Lei no 9.610, de 19.02.1998, DOU de 20.02.1998). Boletim j Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços a Auditoria Aspectos básicos da responsabilidade do auditor externo em relação ao trabalho dos auditores internos 1.1Hipóteses de inaplicabilidade das regras SUMÁRIO 1.Introdução 2.Os objetivos e o alcance da função de auditoria interna 3.Responsabilidade do auditor independente pela auditoria das demonstrações contábeis 4. Objetivos do auditor independente 5.Função de auditoria interna, auditor interno ou auditoria interna e assistência direta A NBC TA 610 não se aplica caso a entidade não tenha a função de auditoria interna. 1. INTRODUÇÃO 1.1.1Entidade que não tenha a função de auditoria interna As atividades semelhantes às realizadas pela auditoria interna podem ser realizadas por profissionais com outros títulos dentro da entidade. Algumas ou todas as atividades de auditoria interna podem ser terceirizadas para prestadores de serviços. O título da função, se é realizada pela entidade O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) aproou terceirizada para prestadores de serviços vou a Norma Brasileira de Contabilidade não são as únicas determinantes para NBC TA 610, que dispõe sobre a o auditor independente poder utilização do trabalho de auditoria As atividades utilizar ou não o trabalho da interna e trata da responsabilisemelhantes às auditoria interna. Ao contrário, dade do auditor externo (dorarealizadas pela auditoria são relevantes: a natureza vante auditor independente) interna podem ser realizadas das atividades, a extensão em quando ele utiliza o trabalho por profissionais com que a posição hierárquica da dos auditores internos. outros títulos dentro da auditoria interna na organização Isso inclui: e suas políticas e procedimentos entidade propiciam objetividade dos auditores a)utilizar o trabalho da função internos; a competência e a abordagem de auditoria interna na obtenção de sistemática e disciplinada da função. evidência de auditoria; e b)utilizar os auditores internos para prestar assistência direta ao auditor independente, fazendo parte da equipe e trabalhando sob a direção, supervisão e revisão do auditor independente. Notas (1) Observa-se que os requisitos da NBC TA 610 relativos à assistência direta não se aplicam se o auditor independente não pretende utilizar os auditores internos para prestar assistência direta. (2) No Brasil, não existe qualquer lei ou regulamento que proíba ou restrinja a alguma extensão a utilização pelo auditor independente do trabalho da auditoria interna ou utilização de assistência direta de auditores internos. As normas internacionais de auditoria e a NBC TA 610, em particular, não se sobrepõem às legislações ou regulamentações da jurisdição que regem a auditoria das demonstrações contábeis (ver item A55 da NBC TA 200). Nota As referências aqui feitas ao trabalho da auditoria interna incluem as atividades pertinentes de outras funções ou prestadores de serviços que possuam essas características. 1.1.2Entidade que tenha a função de auditoria interna Caso a entidade tenha a função de auditoria interna, os requisitos da NBC TA 610 não se aplicam se: a)as responsabilidades e as atividades da auditoria interna não são importantes para a auditoria das demonstrações contábeis; ou Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16TC15-01 Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços b)com base no entendimento preliminar do auditor independente sobre a auditoria interna, resultante dos procedimentos executados em consonância com a NBC TA 315 - Identificação e Avaliação dos Riscos de Distorção Relevante por meio do Entendimento da Entidade e do seu Ambiente, o auditor independente não pretende utilizar o trabalho da auditoria interna na obtenção de evidência de auditoria. Nota-se que não é exigido que o auditor independente use o trabalho da auditoria interna para modificar a natureza, a época ou para reduzir a extensão dos procedimentos de auditoria a serem por ele executados, ou seja, permanece com o auditor independente a decisão sobre a estratégia global de auditoria. 2.OS OBJETIVOS E O ALCANCE DA FUNÇÃO DE AUDITORIA INTERNA Muitas entidades criam a função de auditoria interna como parte das suas estruturas de controle interno e governança. Os objetivos e o alcance da função de auditoria interna, a natureza das suas responsabilidades e a sua posição hierárquica na organização, incluindo a sua autoridade e a sua prestação de contas (accountability) podem variar amplamente dependendo do tamanho e da estrutura da entidade, assim como dos requerimentos da administração e, onde aplicável, dos responsáveis pela governança. A NBC TA 315 trata da forma como o conhecimento e a experiência da função de auditoria interna podem contribuir para o entendimento da entidade e do seu ambiente pelo auditor independente, assim como no que se refere à identificação e à avaliação dos riscos de distorção relevante. A NBC TA 315, item A116, explica, também, como a comunicação efetiva entre o auditor interno e o auditor independente cria um ambiente no qual o auditor independente pode ser informado sobre assuntos significativos que podem afetar o seu trabalho. Dependendo da posição hierárquica da auditoria interna na organização e se suas políticas e procedimentos propiciam adequada objetividade dos auditores internos, considerando, também, se o nível de competência e a aplicação de abordagem sistemática e disciplinada em seus trabalhos tornam possível para o auditor independente utilizar o trabalho da auditoria interna de maneira construtiva e 15-02 TC complementar. A NBC TA 610, objeto deste trabalho, trata das responsabilidades do auditor independente quando, com base no seu entendimento preliminar da função de auditoria interna, obtida como resultado dos procedimentos executados em consonância com a NBC TA 315, ele espera utilizar o trabalho da auditoria interna como parte da evidência de auditoria obtida. A utilização do trabalho da auditoria interna afeta a natureza, a época ou reduz a extensão dos procedimentos de auditoria a serem executados pelo próprio auditor independente. A referida NBC TA 610 aborda, também, as responsabilidades do auditor independente se ele considerar utilizar os auditores internos para prestar assistência direta, compondo a equipe e trabalhando sob a direção, a supervisão e a revisão do auditor independente. Podem existir pessoas na entidade, cujas demonstrações contábeis estão sendo auditadas, que executem procedimentos semelhantes aos realizados pela auditoria interna. Contudo, exceto nos casos em que forem executados de forma objetiva e competente com aplicação de abordagem sistemática e disciplinada, incluindo controle de qualidade, tais procedimentos seriam considerados como controles internos e a obtenção de evidência relativa à eficácia de tais controles seria parte das respostas do auditor aos riscos avaliados de acordo com a NBC TA 330. 3.RESPONSABILIDADE DO AUDITOR INDEPENDENTE PELA AUDITORIA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS O auditor independente tem total responsabilidade pela opinião expressa em seu relatório de auditoria e essa responsabilidade não é reduzida pela utilização de trabalhos da função de auditoria interna ou pela obtenção de assistência direta de auditores internos pelo auditor independente no seu trabalho. Embora eles possam executar procedimentos semelhantes aos realizados pelo auditor independente, nem a função de auditoria interna, nem os auditores internos são independentes da entidade como se exige do auditor independente na auditoria das demonstrações contábeis de acordo com o item 14 da NBC TA 200. Portanto, com base na NBC TA 610, aqui são definidas as condições necessárias para o auditor independente utilizar o trabalho dos auditores internos. A NBC TA 610 define, também, o esforço de Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 - Boletim IOB Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços trabalho necessário para obter evidência suficiente e apropriada de que o trabalho da função de auditoria interna ou dos auditores internos prestando assistência direta é adequado para os fins da auditoria. Os requisitos são concebidos para fornecer a estrutura para o auditor independente exercer seu julgamento com relação ao uso do trabalho dos auditores internos e para evitar a utilização excessiva ou indevida de tal trabalho. 4.OBJETIVOS DO AUDITOR INDEPENDENTE Os objetivos do auditor independente, onde a entidade tenha a função de auditoria interna e ele espera utilizar o trabalho dessa função para modificar a natureza, a época ou para reduzir a extensão dos procedimentos de auditoria a serem diretamente executados pelo próprio auditor independente, inclusive quando ele pretende obter assistência direta dos auditores internos, são os seguintes: a) determinar se o trabalho da auditoria interna ou se a assistência direta dos auditores internos podem ser utilizados e, em caso positivo, em quais áreas e em que extensão; b) se utilizar o trabalho da auditoria interna, o auditor independente deve determinar que esse trabalho é adequado para os fins da sua auditoria; e c) se utilizar os auditores internos para prestar assistência direta, o auditor independente deve dirigir, supervisionar e revisar o trabalho executado pelos auditores internos de forma apropriada. 5.FUNÇÃO DE AUDITORIA INTERNA, AUDITOR INTERNO OU AUDITORIA INTERNA E ASSISTÊNCIA DIRETA As expressões função de auditoria interna, auditor interno ou auditoria interna utilizadas neste trabalho se referem à função ou às pessoas de uma entidade que executem atividades de asseguração e consultoria projetadas para avaliar e melhorar a eficácia da governança, dos processos de controle interno e gestão de risco da entidade. Já assistência direta é a utilização de auditores internos para executar procedimentos de auditoria, sob a direção, supervisão e revisão do auditor independente. rar a eficácia dos processos de governança, gestão de risco e controle interno da entidade, tais como: a) atividades relacionadas à governança: a.1) a auditoria interna pode avaliar o processo de governança na concretização dos seus objetivos éticos e valores, na gestão do desempenho e prestação de contas (ou accountability) da administração, comunicação de risco e controle de informação para as áreas apropriadas da organização e eficácia da comunicação entre os responsáveis pela governança, auditores internos, auditores independentes e a administração; b) atividades relacionadas à gestão de risco: b.1) a auditoria interna pode auxiliar a entidade identificar e avaliar exposições significativas ao risco e contribuir no aprimoramento da gestão de risco e do controle interno (incluindo a eficácia do processo das demonstrações contábeis); b.2) a auditoria interna pode executar procedimentos para auxiliar a entidade na detecção de fraude; c) atividades relacionadas ao controle interno: c.1) avaliação do controle interno - a auditoria interna pode ter responsabilidade específica para revisar controles, avaliar o seu funcionamento e recomendar melhorias a esses controles. Ao fazê-las, a auditoria interna fornece segurança sobre o controle. Por exemplo, a auditoria interna pode planejar e executar testes ou outros procedimentos para fornecer segurança à gerência e aos responsáveis pela governança relativos ao planejamento, implantação e eficácia operacional do controle interno, incluindo os controles relevantes para a auditoria; c.2) análise da informação operacional e financeira - a auditoria interna pode ser designada para revisar os meios usados para identificar, reconhecer, mensurar, classificar e reportar as informações financeiras e operacionais e realizar investigação específica de itens individualizados, incluindo testes detalhados de transações, saldos e procedimentos; Os objetivos e o alcance da função de auditoria interna geralmente incluem as atividades de asseguração e consultoria planejadas para avaliar e aprimo- c.3) revisão das atividades operacionais - a auditoria interna pode ser designada para revisar a economicidade, a eficiên- Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 TC15-03 Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços cia e a eficácia das atividades operacionais, incluindo as atividades não financeiras de uma entidade; o auditor independente pode utilizar-se da auditoria interna para os fins da auditoria em uma ou mais das seguintes situações: c.4)revisar a observância das legislações e regulamentações - a auditoria interna pode ser designada para revisar a observância das legislações e regulamentações, outros requisitos externos, além das políticas e diretrizes da administração e outros requisitos internos. a) para obter informação relevante para as avaliações do auditor independente dos riscos de distorção relevante devido a erro ou fraude. Com relação a isso, o item 6(a) da NBC TA 315 requer que o auditor independente obtenha entendimento das responsabilidades da auditoria interna, da sua posição hierárquica dentro da organização, das atividades executadas ou a serem executadas, assim como faça perguntas às pessoas apropriadas dentro da auditoria interna (caso a entidade tenha tal função); ou Além dos aspectos supracitados, as pessoas na entidade com deveres e responsabilidades operacionais e gerenciais fora da auditoria interna normalmente enfrentariam ameaças à sua objetividade que as impediriam de serem tratadas como parte da auditoria interna, embora possam realizar atividades de controle que podem ser testadas de acordo com a NBC TA 330, item 10. Por esse motivo, os controles de monitoramento realizados por sócio-gerente não seriam considerados como equivalentes à função de auditoria interna. 5.1Situações para as quais o auditor independente pode utilizar-se da auditoria interna Embora os objetivos da auditoria interna da entidade e do auditor independente se diferenciem, a auditoria interna pode executar procedimentos semelhantes aos realizados pelo auditor independente na auditoria de demonstrações contábeis. Nesse caso, b) exceto se for proibido ou tenha alguma restrição em função da legislação ou de regulamentação, o auditor independente pode decidir utilizar o trabalho que já tenha sido realizado pela auditoria interna durante o período em substituição parcial da evidência de auditoria a ser obtida diretamente pelo auditor independente. Além disso, a menos que seja proibido ou restrito por lei ou regulamento, o auditor independente pode utilizar os auditores internos para executar, sob sua direção, supervisão e revisão dos procedimentos de auditoria (referido neste trabalho como “assistência direta”). N a Contabilidade Geral Vendas recebidas por meio de cartão de crédito SUMÁRIO 1.Introdução 2.Contabilização 3.Observações 1.Introdução As vendas de produtos ou serviços efetuadas por meio de cartões de crédito caracterizam-se como vendas a prazo, pois as empresas administradoras de cartões de crédito somente efetuam o pagamento, em geral, após um certo prazo da entrega das autorizações de pagamento do comerciante. 15-04 TC Sobre essa operação, as administradoras de cartões de crédito cobram uma taxa sobre o valor da venda, a título de reembolso de despesas com material e serviços colocados à disposição do comerciante. 2.Contabilização Admita-se que, em 05.03.20x1, uma determinada empresa efetuasse uma venda no valor de R$ 1.000,00, paga pelo cliente por meio do cartão de crédito da Administradora “X”, a qual cobra uma taxa de 5%. Admitamos, ainda, que, em 01.04.20X1, a administradora liquida o crédito com a empresa vendedora, por via bancária, no valor de R$ 950,00. Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 - Boletim IOB Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços A contabilização poderia ser realizada da seguinte forma: D- Despesas com Vendas (Conta de Resultado) C- Receita de Vendas (Conta de Resultado) R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 e, Despesas com Vendas (Conta de Resultado) Contas a Receber C - Administradora “X” (Ativo Circulante) R$ 50,00 2) Pela apropriação do ICMS (utilizamos a alíquota de 18% sobre o valor da venda) D- ICMS sobre Vendas (Conta de Resultado) C- ICMS a Recolher (Passivo Circulante) 950,00 3. Observações R$ 50,00 Contas a Receber D - Administradora “X” (Ativo Circulante) D- R$ R$ 950,00 Alternativamente, esse registro poderia ser: Receita de Vendas C(Conta de Resultado) Bancos Conta Movimento (Ativo Circulante) Contas a Receber C - Administradora “X” (Ativo Circulante) 1) Pela venda ao cliente em 10.04.20X1 Contas a Receber D - Administradora “X” (Ativo Circulante) D- R$ 180,00 3)Pelo recebimento da administradora em 05.05.20X1 No exemplo ilustrado, utilizamos o regime de competência para o registro da comissão paga à administradora de cartões de crédito, embora a maioria das empresas, de maneira inadequada, o faça pelo regime de caixa. Veja que a conta de registro do crédito a receber, no Ativo Circulante, deve ser aberta em nome da administradora do cartão de crédito, e não em nome do comprador da mercadoria. Isso porque a administradora, por contrato, fica responsável pelo recebimento do comprador (seu correntista), desobrigando a empresa vendedora de qualquer ônus ou perda com a operação caso o comprador não liquide seu débito. Lembra-se que, sobre as vendas por meio de cartão de crédito, incidem a Cofins e a contribuição para o PIS-Pasep. Todavia, deixamos de demonstrar os lançamentos relativos a essas contribuições por serem contabilizadas por ocasião do fechamento mensal da receita da empresa. N a Contabilidade Gerencial O planejamento nas pequenas e médias empresas SUMÁRIO 1. Introdução 2.Administração reativa versus administração proativa 3. Principais características do planejamento 4.Conclusão O planejamento (mais comumente denominado com certo preciosismo - “planejamento estratégico”) não é exceção; pelo contrário, é uma das ferramentas gerenciais de mais generalizada utilização. 1.INTRODUÇÃO De fato, a fundação de qualquer empreendimento é precedida (ou, pelo menos, deveria ser) pela elaboração de análises e previsões concernentes à sua mais provável evolução futura. Como regra geral, pode-se afirmar que a grande maioria das ferramentas administrativas, ajustadas às características e aos objetivos específicos de cada caso, são aplicáveis a qualquer empresa, independentemente do seu porte e da sua complexidade. Essas pré-análises e previsões guardam, a rigor, uma semelhança acentuada com a técnica de planejamento que deverá acompanhar e orientar a empresa ao longo de toda a sua existência. Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 TC15-05 Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços O presente artigo versa sobre a importância e os aspectos principais da técnica do planejamento aplicado às pequenas e médias empresas. Não existem diferenças essenciais entre pequenas, médias e grandes empresas no que concerne à natureza dos métodos administrativos aplicáveis a cada uma delas. Diferenças podem e devem ocorrer quanto ao grau de detalhamento e de complexidade dos métodos utilizados. Todavia, em essência, os métodos e seus instrumentos são os mesmos, independentemente do porte da empresa que os utiliza. Dentre as diversas ferramentas gerenciais consideradas indispensáveis à administração empresarial, destaca-se, pela sua aplicação mais generalizada, o planejamento. Antes do nascimento de um empreendimento, já existe, em forma de germe, nas análises que precedem a decisão da sua fundação, algo muito próximo do dito planejamento estratégico que norteará, desde então, cada etapa do desempenho e do crescimento da organização. Isso porque essas análises pré-natais apresentam claras afinidades com as análises do planejamento pós-natal, uma vez que os dados de interesse de ambos os procedimentos são, em grande parte, coincidentes: informações financeiras, demanda potencial dos produtos e serviços oferecidos, meios de influenciar essa demanda, disponibilidade de materiais e de mão de obra, dados relevantes da concorrência etc. Por isso, o planejamento (com ou sem o pomposo sobrenome de “estratégico”) ocupa, tradicionalmente, o primeiro lugar no ranking das técnicas gerenciais de emprego mais difundido, sendo utilizado, segundo pesquisas da Bain & Company, por mais de 80% das empresas periodicamente entrevistadas. Este texto comenta o planejamento empresarial no seu formato simplificado, mais adaptado à aplicação a pequenas e médias empresas. 2.ADMINISTRAÇÃO REATIVA VERSUS ADMINISTRAÇÃO PROATIVA Segundo os historiadores, nos primórdios da era industrial, os empresários da época podiam dar-se ao luxo de conduzir os seus negócios com base na mais completa improvisação. No entanto, na medida em que o mundo dos negócios passou a demonstrar uma crescente com15-06 TC plexidade em virtude da evolução tecnológica e, principalmente, em decorrência da competitividade cada vez mais intensa, a era da administração “risonha e franca” começou a ceder espaço a um tipo de gerenciamento mais sofisticado e responsável. Esse novo estilo gerencial mostra-se cada vez mais interessado na qualidade de produtos e serviços, na racionalização de operações e de custos e, principalmente, na previsão de eventos futuros a fim de que a empresa possa preparar-se, antecipadamente, para o enfrentamento dos fantasmas ocultos nas curvas do caminho escolhido pela empresa. Com isso, em substituição ao original estilo reativo, surgiu a administração proativa, que tem, nas técnicas de planejamento, a característica que melhor a distingue do tipo de gerenciamento anterior, dominado pela improvisação, pelos desperdícios, pelo atabalhoamento e pelas frustrações que costumam acompanhar as ações gerenciais precipitadas e descoordenadas. Em uma época em que ninguém empreenderia uma viagem sem destino e itinerário programados, não é admissível que se pretenda conduzir algo complexo como uma empresa sem a prévia e criteriosa definição dos seus objetivos e da estratégia mais adequada para atingi-los. 3.PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PLANEJAMENTO A apropriada utilização do planejamento pelas pequenas e médias empresas requer decisões prévias com relação a aspectos básicos do processo, tais como: qual o tempo a ser dedicado pelos executivos da empresa a essa atividade, até que ponto a empresa está habilitada a elaborar previsões confiáveis e de que forma assegurar a flexibilidade operacional indispensável a eventuais mudanças nos rumos planejados em caso de imprevistos. O aspecto referente ao tempo executivo dedicado ao planejamento é de fundamental importância, dado que os executivos de pequenas e médias empresas, devido às limitações do poder de delegação que lhes são impostas pelas próprias dimensões do empreendimento, acumulam funções que não lhes deixam vagar para a absorção de novas e complicadas atribuições. Para agravar os riscos, o planejamento é ainda mais importante para as pequenas e médias empresas (dada a sua maior vulnerabilidade financeira) do que para as empresas de maior porte. Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 - Boletim IOB Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços Como adverte Howard Muson em artigo publicado pela Harvard School of Management, “o mar está cheio de peixes pequenos, que podem ser engolidos se não tiverem uma estratégia para enfrentar os tubarões”. Assim, não sendo o planejamento uma atividade para a “hora do recreio” - tarefa que se possa cumprir satisfatoriamente com a dedicação de simples fragmentos ocasionais de tempo -, a questão da carga horária executiva a ele dedicada é essencial para o melhor funcionamento do sistema. Com base em entrevistas com pequenos e médios empresários considerados bem sucedidos, estima-se que o tempo executivo mínimo a ser dedicado à atividade de planejamento equivale a, aproximadamente, 10% do tempo executivo total, correspondendo a cerca de 2 dias por mês. Nesse período de dedicação ao planejamento de longo prazo das operações da organização, buscar-se-ão respostas para questões básicas, tais como: - Que produtos/serviços ofereceremos durante o período planejado? Serão os mesmos itens hoje oferecidos ou devemos inovar em função de alterações previstas no comportamento e nas preferências do consumidor? - Quem será o consumidor da nossa produção? São antecipadas mudanças significativas na composição, nas expectativas e/ou no poder de compra da nossa clientela? - O que poderá ser feito para neutralizar ou superar as ações da concorrência? - Qual a magnitude dos recursos (humanos e financeiros) que nos serão necessários para atingir os objetivos do planejamento? Naturalmente, esse planejamento terá como ponto de partida a situação atual da empresa (volumes atuais de produção e vendas, participação percentual no mercado, número de funcionários contratados etc.) e terá como ponto de chegada a situação pretendida para o fim do período planejado, enfatizando-se os avanços obtidos em cada etapa significativa do procedimento. A estratégia, prevendo as ações e a conclusão das diversas fases do planejamento (com especificação de prazos e responsabilidades), será a ponte de travessia da situação atual para a situação pretendida. Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 4. CONCLUSÃO Como normalmente sucede com as técnicas administrativas, a história do planejamento estratégico revela, de início, uma natural instabilidade. Por efeito da sua evidente relevância para uma administração racional, ele alcançou uma difusão inicial cercada das mais otimistas expectativas por parte de empresários e de acadêmicos. Tão entusiástica foi essa receptividade que não tardaram a surgir os costumeiros excessos empresas (principalmente de grande porte) criaram departamentos hipertrofiados de planejamento, que logo ameaçaram consumir os melhores recursos da organização, desviando a atenção gerencial de outras atividades igualmente essenciais, ao ponto de prejudicar o seu desempenho, dificultando, inclusive, a concretização do próprio planejamento. Planejar e monitorar a realização do planejamento (considerado, então, por muitos como um processo elaborado com base em princípios científicos) ameaçou tornar-se um fim em si mesmo, algo mais importante do que produzir e vender. A reação logo se manifestou, atingindo níveis igualmente exagerados. Havia, inclusive, gente bem conceituada a assegurar que o planejamento não só era caro, como também absolutamente desnecessário e prejudicial. Micklethwait e Wooldridge - autores de “Os Bruxos da Administração” e integrantes da equipe editorial do The Economist - destacam que Kenichi Ohmae (autor, consultor e palestrante mundialmente conhecido) acusava o planejamento de determinar um “impacto desastroso sobre a inovação e o espírito empreendedor”, enquanto Robert Hayes e Amir Bhide, da Harvard Business School, observavam, respectivamente, que “muitos gerentes de linha consideravam o planejamento estratégico um impedimento à boa gerência” e que “dois terços dos fundadores de empresas de rápido crescimento tinham iniciado as suas empresas com planos de negócios informais ou, simplesmente, sem plano algum”. Entretanto, com o tempo, os exageros atenuaram-se e o planejamento, sem pretensões à ciência independente, ajeitou-se ao seu feitio real e é, hoje, universalmente reconhecido como instrumento de administração indispensável a qualquer empresa, seja qual for o seu porte ou o seu setor de atuação. N TC15-07 Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços a Controladoria Eficiência, eficácia e o modelo de gestão nas empresas SUMÁRIO 1.Introdução 2. Diferença entre eficiência e eficácia 3. Partes ou subsistemas do sistema empresa 4. Modelo de gestão e processo de gestão 1.INTRODUÇÃO Eficiência e eficácia estão intimamente ligadas à produtividade e à obtenção de resultados. Todavia, é fato que esses conceitos são de entendimento um pouco difícil, tendo em vista a linha, aparentemente, tênue que os separa. Neste trabalho, discorremos sobre esses conceitos, tendo em vista sua importância no cenário organizacional no estabelecimento de subsistemas do sistema empresa e, também, no estabelecimento do modelo de gestão das organizações modernas. 2.DIFERENÇA ENTRE EFICIÊNCIA E EFICÁCIA Conforme Homgren, Foster e Datar (1981): Sob o ponto de vista organizacional, quando falamos em eficiência, estamos nos referindo à produtividade. Ou seja, “produzir mais com menos” - que significa maximizar lucro e minimizar recursos/custos. Resumidamente, podemos traduzir a eficiência por meio da seguinte fórmula: Eficiência = 1 - Entradas Saídas A organização estará sendo eficiente quando o resultado da aplicação da fórmula anterior é maior que 0 (zero). Quanto maior o número resultante, mais eficiente será a organização. No entanto, se o número for inferior a 0 (zero), ou seja, negativo, a organização estará sendo ineficiente. Quanto maior esse número negativo, mais ineficiente estará sendo a organização. Já a eficácia está relacionada com o objetivo do sistema empresa. Portanto, refere-se ao que deve ser feito, ou seja, o caminho a seguir. [...] eficácia é o grau de que um predeterminado objetivo ou meta é atingido. Portanto, do ponto de vista organizacional, a eficiência é um pré-requisito para a eficácia. Por sua vez, Sérgio Rodrigues Bio (1996), ao tratar de eficiência, assim se posiciona: Desse modo, primeiramente escolhe-se o que fazer (eficácia); em seguida, como fazer (eficiência). [...] eficiência diz respeito a método, a modo certo de fazer as coisas. Para “simplificar” as coisas, Peter Drucker assim define esses dois termos: [...] eficiência é fazer as coisas de maneira correta, eficácia são as coisas certas. O resultado depende de fazer certo as coisas certas. Nas organizações, a eficiência atua no nível operacional. Já a eficácia, no nível tático-gerencial. Ou seja, para atingir os objetivos estratégicos, é necessário o adequado alinhamento do nível operacional. Logo, é importante que eficiência e eficácia estejam minuciosamente alinhadas para que os objetivos sejam atendidos. Na prática, é possível dizer que eficácia é o grau segundo o qual as organizações atingem suas missões, metas e objetivos - dentro das restrições dos recursos limitados; já a eficiência se refere ao processo pelo qual a organização maximiza seus fins com o uso mínimo de recursos (Catelli et. al., 2001, p. 64, e Gibson et. al, 1988:77). Em suma, nas organizações, a eficiência deve ser o objetivo em cada uma das transações, de forma isolada. Já a eficácia é obtida por meio da administração do todo. Isso se dá organizando-se as partes ou subsistemas do sistema empresa, os quais são objeto dos itens que se seguem. 2.1Eficiência e eficácia sob o ponto de vista puramente organizacional 3.PARTES OU SUBSISTEMAS DO SISTEMA EMPRESA De pronto, esclareça-se que o nível de eficácia é proporcional ao nível de eficiência. Isso significa dizer que, quanto mais eficiente se é, mais eficazes são os resultados. Conforme visto anteriormente, a eficácia é obtida por meio da administração do todo, o que ocorre quando se organiza as partes ou subsistemas do sistema empresa. 15-08 TC Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 - Boletim IOB Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços Os subsistemas variam de empresas para empresas, pois as estruturas das empresas são diferentes. Os subsistemas empresariais podem ser classificados de diversas formas. Cada autor tem uma perspectiva sob o tema. Alguns autores classificam os subsistemas, por exemplo, como: de apoio - complementares, principais, de informação e empresariais. Outros, como Catelli e Guerreiro, têm uma forma muito particular e abrangente de dividir o sistema empresa. Nos subitens que se seguem, discorremos sobre os subsistemas tendo como base os conceitos desses autores. 3.1Subsistema institucional O subsistema institucional está intimamente ligado com a missão da empresa e é reflexo direto das crenças e valores de seus proprietários, já que é a partir das crenças e valores que a empresa define o seu modelo de gestão. Definido o modelo de gestão/administração, todos os envolvidos no seu ambiente interno devem atuar sob as mesmas linhas de pensamento. É nesse momento que as crenças e valores dos fundadores são evidenciados para darem rumo à organização. 3.2Subsistema de gestão O subsistema de gestão relaciona-se com o local onde as decisões são tomadas. Esse subsistema abarca o processo de gestão e as atividades de planejamento, execução e controle. Compreende, também, um conjunto de procedimentos e diretrizes, desde o planejamento até o controle das operações. 3.3Subsistema formal O subsistema formal é definido como a estrutura administrativa da empresa de autoridade e responsabilidade. Nesse subsistema, as tarefas e atividades são agrupadas em setores, departamentos ou divisões, normalmente impostos pelo subsistema de gestão. 3.4Subsistema social liderança, anseios, entre outros. Nota-se que o nível de motivação e satisfação das pessoas reflete-se diretamente no desempenho da empresa. Por exemplo, em empresas onde a rotatividade é grande, o desempenho da empresa tende a ser prejudicado. 3.5Subsistema de informação Esse subsistema é definido como todo conjunto de necessidades de informações para a gestão empresarial. De uma forma geral, podemos dizer que: a) a informação é o principal “ingrediente” para os gestores nas tomadas de decisão; b) toda a informação no âmbito organizacional é gerada por meio do processamento de dados derivados da execução das diversas atividades necessárias ao desenvolvimento das funções empresariais básicas. Segundo Guerreiro, “essas atividades se caracterizam por três aspectos básicos: recebimento de dados, processamento e geração de informações”. Esclareça-se que a empresa tem de buscar informações necessárias. No entanto, essa busca não é simples, pois não é uma tarefa fácil separar a informação útil daquela sem serventia. Diante de tal fato, é muito comum o surgimento de atividades desnecessárias com o objetivo de se gerar informações. Assim, os gestores devem estar atentos, pois a geração de informações desnecessárias pode influenciar diretamente na eficiência e na eficácia da organização. 3.6Subsistema físico-operacional Esse subsistema compreende as instalações físicas e equipamentos do sistema empresa. É nesse sistema que as transações ocorrem. Nota-se que o sistema físico operacional está intimamente ligado aos produtos e serviços produzidos pela empresa. É ele que possibilita a obtenção de eficiência e eficácia organizacional. É interessante ressaltar que, de forma geral, todos os demais subsistemas canalizam as suas funções para o subsistema físico operacional. O subsistema social é definido como o conjunto dos elementos humanos na organização, bem como das características próprias dos indivíduos. Essas características podem ser classificadas como: necessidades, criatividade, objetivos pessoais, motivação, Outro dado importante é que, a exemplo do subsistema formal, o subsistema físico-operacional está segmentado em tarefas, funções, atividades, setores, departamentos, divisões etc. com o objetivo de atingir o melhor resultado empresarial. Boletim IOB - Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 TC15-09 Manual de Procedimentos Temática Contábil e Balanços 4.MODELO DE GESTÃO E PROCESSO DE GESTÃO 4.1.1Missão Modelo de gestão que tem a sua origem no subsistema de gestão deságua, obrigatoriamente, no processo de gestão. A missão reflete o objetivo da empresa. Normalmente traduz em poucas palavras as atividades, mercados produtos/serviços que oferece e/ou pretende oferecer. Simplificando, temos que o modelo de gestão é um conjunto de crenças e valores que formam a cultura da empresa, dando origem ao modelo a ser adotado para gerir a instituição. Já o processo de gestão é definido como um conjunto de processos decisórios que abarca as fases de planejamento, execução e controle. 4.1Missão, crenças e valores das empresas Para desenvolver o modelo adequado de gestão e, consequentemente, de processo de gestão, a missão, as crenças e os valores da empresa devem estar bem sedimentados e muito claros para todos os colaboradores internos, bem como para os clientes e fornecedores. 15-10 TC Exemplo de declaração de missão (Gerdau): Gerar valor para nossos clientes, acionistas, equipes e a sociedade, atuando na indústria do aço de forma sustentável. 4.1.2 Crenças e valores Já as crenças e valores compilam os princípios que norteiam a atividade da empresa. As crenças têm sua origem naquilo que os fundadores acreditam. A esse conjunto de crenças se dá o nome de valores. Exemplo de declaração de crença e valores (Saraiva): Educação, cultura e lazer devem estar disponíveis a todos porque são essenciais para a construção de um mundo melhor. ◙ Manual de Procedimentos - Abril/2014 - Fascículo 16 - Boletim IOB