A ARTETERAPIA INCLUSA NA GRADE CURRICULAR DAS GRADUAÇÕES DE ARTES PLÁSTICA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ DUARTE, Vanessa Tiemi [email protected] Orientadora: Lucymara Carpim Agência Financiadora:não contou com financiamento. Resumo Neste artigo analisa-se através de revisões literárias, a contribuição da arteterapia na grade curricular do curso de Artes Plástica e/ou Artes Visuais, para que o acadêmico, possa complementar de forma significativa no tratamento terapêutico do paciente. Uma vez feito o estudo, foi possível constatar a importância das expressões artísticas na transformação de “cura” do individuo. Palavra-Chave: Arte terapia, Artes Plástica. Psicologia Introdução A Arte terapia é um meio de expressão artística usada no contexto terapêutico, não existindo como objetivo final a estética do belo, uma vez que sua proposta maior é a ampliação e o estímulo do potencial criativo do ser humano. Apesar de ser uma prática antiga, tendo surgimento como profissão na década de 30, não faz muito tempo que é usada como instrumento terapêutico. A AATA (Associação Americana de Arteterapia) afirma que a arteterapia é um processo artístico que visa promover a melhora na qualidade de vida das pessoas. (PAÍN, 2009; CIONAI, 2004; PHILIPPINI, 2008). Esse tipo de tratamento terapêutico se expressa simbolicamente utilizando diversas formas criativas como a música, a dança, a pintura, o desenho, a escultura, o teatro (através de diversas representações plásticas). Por meio dos processos de criar e de refletir durante a execução das atividades artísticas, as pessoas podem ampliar seus conhecimentos de si e dos outros, favorecendo e aumentando sua auto-estima, assim como facilitar a convivência com as suas dificuldades e seus problemas apresentados durante a vida. 696 A arte esta presente na vida da humanidade há muitas décadas. No período primitivo a forma que o homem da pré-história encontrou para registrar suas crenças e a história de convivência com a natureza e com os demais seres, foi por meio de pinturas e esculturas que hoje encontramos em cavernas e demais sítios arqueológicos dispostos pelo mundo todo. Nesses locais os indivíduos desenhavam, ou expressavam o que estavam sentido, ou seja, o que faziam após a caça, o que acontecia no seu dia, como se fosse uma espécie de livro de anotações. Portanto, podemos considerar que a arteterapia é como um diário, pois ele apresenta conflitos emocionais e sociais internalizados no nosso inconsciente. (PEREIRA, 1976; COSTA 2004) Não há contra indicações para esta prática e qualquer pessoa pode se beneficiar com este processo, crianças, adultos, idosos, adolescentes, pessoas com transtornos intelectuais, enfermas ou portadoras de deficiência física. Algumas pessoas são resistentes ao tratamento com a justificativa de não saber desenhar, não ser criativo, porém qualquer um pode ser estimulado a desenvolver seu potencial criativo, tendo em vista que todos possuem habilidades, que quando direcionadas e orientadas podem desenvolver e surpreender. (CARVALHO, 1995; BILBAO,2004; PHILIPPINI, 2008; PEREIRA, 1976). A arteterapia não avalia em uma pintura o belo ou a técnica, ela funciona como mapas simbólicos, mostrando ao arteterapeuta conteúdos inconscientes, que se explorados pelo educador, podem contribuir sobremaneira para novas descobertas pessoais e emocionais. Os símbolos são como mensageiros no processo de cura do self, o que podemos reforçar abaixo, nas palavras de Philippi (2009), que destaca como o processo de transformação pelos quais um participante desse tipo de atividade pode conquistar em seu benefício pessoal e social. A arteterapia como processo de revelação e transformação de símbolos, culturais e pessoais é um instrumento terapêutico dos mais eficazes. Nela, os binômios luz/cor e luz/consciência estão presentes como em um grande vitral, filtrando a luz intensa que poderia cegar e confundir, permitindo a entrada gradativa para iluminar o inconsciente, trazendo à consciência conteúdos psíquicos em um processo que conduz ao encontro do si mesmo, e porque não dizer, ao encontro numinoso com sua própria luz. (PHILIPPI, 2009, p. 69) A arteterapia é uma forma de usar arte em benefício do bem estar pessoal e social, pois proporciona possibilidades diversas de extravasar sentimentos, como frustração, depressão, decepção e outras adversidades da vida, assim como diversas situações que possam colocar 697 em risco a saúde ou o bem estar, além de apresentar oportunidades de aprimorar conhecimentos e desenvolver habilidades artísticas, usando a arte como forma de comunicação e de expressão. Arteterapia – A Expressão Artística em Benefício do Ser Humano No final do século XIX, psiquiatras revelaram interesse pelas produções artísticas dos pacientes psiquiátricos iniciando então um estudo e descobrindo a conexão entre a arte e saúde mental. Os psiquiatras que mais se destacaram foram Ambroise Tardieu, Paul Max Simon e Marcel Reja.O psiquiatra Carl Gustav Jung posteriormente passou a trabalhar com o fazer artístico. (BILBAO,2004 p.35-36) Jung sempre teve como objetivo dizer que a função principal da terapia é possibilitar o autoconhecimento, Bilbao (2009, P.52), ainda afirma “Jung não apenas coloca as imagens em uma posição central, mas também atribui a elas um poder com o qual o indivíduo deve se confrontar para se desenvolver. Para Jung só a própria pessoa tem o poder de curar.” Nesse contexto, podemos ainda referenciar Perny (2009, p.140-141), quanto aos aspectos positivos relacionados ao estímulo da criatividade que segundo o autor contribui com o desenvolvimento do indivíduo. A criatividade é considerada um potencial inerente ao homem. De acordo com Carl Gustav Jung, a criatividade age como elemento motivador, organizador e dinamizador deste. O CRIAR atua no processo de desenvolvimento humano como um aspecto formador de suas atividades psicológicas superiores, tais como: o pensamento, a linguagem, a memória, a atenção dirigida e a motivação voluntária. (PERNY, 2009 p. 141). A arteterapia tem como finalidade usar a arte como um meio de expressão, dando ao individuo a liberdade de se comunicar através dos sentimentos. Ao invés de ter como objetivo um produto final como um quadro esteticamente agradável, o mesmo terá uma obra onde seu inconsciente está presente, para que seja analisado com a finalidade de tratamento e não entrar como julgamento aos padrões estéticos externos sobre a obra. (ROCHA, 2009; JARREU, 1994; PAÍN, 2009; LIEBMANN, 2002). Em um contexto terapêutico o expressar por meio da arte, instiga pouco a pouco, a criatividade, a percepção, a sensibilidade, a imaginação, a cognição, pois pode ser exposto por 698 meio da terapia em atividades como: a dança, música, representações plásticas ou teatro. Esse tipo de terapia pode ser importante e contribuir com o desempenho social e educacional do ser humano. Estejam eles mergulhados em problemas graves ou apenas instigando a arte como fonte de laser e de comunicação. Enquanto o paciente está em tratamento, por mais que ele pretenda em um futuro atuar como artista plástico, o terapeuta deve deixar claro que naquele momento, o propósito da atividade, é o de se apropriar das técnicas artísticas como forma de tratamento psicanalítico, então sua criatividade não deve estar vinculada ao propósito inverso, mas sim, com intuito de estimular seu bem estar e elevar sua auto-estima. (PHILIPPINI, 2009; PEREIRA, 1976; COUTINHO, 2009; MONTEIRO, 2009). Segundo apresenta Rhyne (2000), sobre os aspectos pessoais que devem ser estimulados, como forma de expressão artísticas dos pacientes que apoiam-se na arteterapia, destaca-se suas considerações, uma vez que: Cada vez que você e eu desenhamos, pintamos ou modelamos, estamos vivenciando ativamente um evento: nosso próprio evento experimental. Cada linha que você traça é unicamente sua; as que eu desenho são individualmente minhas; cada um de nos está envolvido num acontecimento pessoal. À medida que as linhas e formas emergem de nossa atividade, podemos observar como estamos formando um registro gráfico visível de alguma coisa ou sensação que percebemos. Tendo registrado essa percepção, cada um de nós tem uma realidade tangível para usar como preferir. (RHYNE, 2000, pg. 40) Para Paín “O objetivo em arteterapia, será, sustentar simbolicamente cada intenção, sem perder de vista o principal, que é a de curar-se”. (2009, pg. 17). Trabalhada em grupo, a arteterapia pode alcançar objetivos de individualidade e também inserção aos contextos sociais, expostos pelo autor. A arteterapia ajuda a compreender a arte contemporânea. O louco pinta sua loucura, o débil mental pinta com a escassez de seus recursos, e, assim, cada um encontra na atividade artística seu lugar. Resta saber se os “verdadeiros” artistas não fingem loucura para despistar (PAÍN, 2009 pg. 18 e 19). Com o desenvolvimento da psicanálise e o surgimento de tratamentos terapêuticos alternativos, os medicamentos puderam ter um afastamento parcial, segundo o que destaca-se abaixo. 699 O trabalho com arteterapia visa exatamente permitir a ação mental, ou a elaboração, com o intuito de extrair a emoção que se encontra “oculta”, como idéia na imagem formada, em princípio inexistente no sentido empírico (URRUTIGARAY, 2008, p. 26). Jung teve como objetivo levar o indivíduo a desenvolver experimentações com o seu próprio self e ter a capacidade de lidar de forma criativa com as suas dificuldades. A psicologia junguiana é marcada por um desenvolvimento criativo que torna o símbolo visível por meio do consciente. Dessa forma, o arteterapeuta tem de ter conhecimento tanto na área de artes quanto em psicologia, o mesmo deve liberar seu potencial criativo assim como seu paciente, pois é fundamental ao terapeuta ter um acompanhamento mais próximo, especialmente de um supervisor. O ambiente para a produção da imagem, como o atelier/consultório constitui-se como fator primordial para o inicio do desenvolvimento do tratamento. (COUTINHO, 2008/2009; PSY 1995; PAÍN, 2009; PHILIPPINI, 2009; URRUTIGARAY,2008). Essa aproximação entre arte e psicologia, mesmo ela não sendo muitas vezes visível, vem do fato de serem objetos culturais que compartilham um mesmo espírito. A inclusão da arteterapia na grade curricular do curso superior de artes plástica pode ser de grande valia aos pacientes. O acadêmico de artes não atuaria como psicólogo, mas como arteterapeuta auxiliando assim o tratamento terapêutico aplicado pelo psicólogo. Muitas escolas de psicoterapia usaram a arte como um método auxiliar para diagnosticar e tratar pacientes, tanto como uma liberação emocional como uma terapia ocupacional; utilizando materiais de arte como expressão, estimulavam as pessoas a criarem suas próprias “mensagens”. O objetivo da terapia de Jung é levar o individuo a realizar experimentações com o próprio ser e conseguir lidar de modo criativo com seus problemas e com as peculiaridades de seu ser. No lugar das neuroses, entrariam as possibilidades de uma modificação criativa. Essas “técnicas”são muito importantes tanto para a terapia de uma pessoa, no desenvolvimento psíquico em direção a uma maior autonomia, como para a aprendizagem de um estilo de vida mais criativo, com a qual se teria um individuo cônscio. (KAST, 1997,p.7). Quando se cria uma imagem, ao vê-lo seu conteúdo pode ser extremamente obvio, porém sua mensagem verdadeira pode ser outra. As cores utilizadas, os traços, o local que o 700 desenho foi feito no papel. Analisar uma obra não significa saber interpretá-la; a análise tem um enfoque técnico e racional e se baseia em fatos comprovados, a interpretação resulta na síntese da análise. (ZINKER, 2007; ROCHA, 2009; COUTINHO, 2009; BÉDARD, 1998). Podemos observar a palavras de Bédard (1998), quando destaca a importância do desenho como forma de expressão para contribuir no tratamento com a arteterapia. O desenho representa, em parte, a mente consciente, mas também, e de uma maneira mais importante, faz referência ao inconsciente. O que nos interessa é o simbolismo e as mensagens que o desenho transmite-nos, não sua perfeição estética. (BÉDARD. 1998, p.6) Segundo apresentam Bédard (1998) e Rocha (2009), o simples gesto de segurar um lápis pode trazer o significado de um símbolo à um psicólogo, psiquiatra e ao arteterapeuta. Os quadros abaixo exemplificam com mais detalhe este estudo: Lápis de ponta fina Lápis de ponta mediana Lápis de ponta grossa O individuo que escolhe o lápis com a ponta fina tem preferência por conforto e luxo, tem tendência a procurar a companhia de pessoas que tem destaque, pode ter uma dificuldade a auto-afirmação. Tem facilidade com a adaptação e é uma pessoa flexível e livre. A pessoa que escolhe o lápis de ponta grossa não é influenciável, e uma vez tomada a decisão, não muda de idéia de forma alguma. Quadro 1 – Significado da característica do indivíduo ao escolher o lápis para desenhar. Fonte: Bédard (1998) Quanto ao espaço utilizado na folha para a criação: Espaço superior intelecto, curiosidade, desejo de descobrir. Espaço inferior Necessidades físicas e materiais. Lado esquerdo Pensamento no passado. Centro Presente, não vive ansiedades nem tensões. Lado direito Tendência a pensar somente no futuro. Quadro 2 – Signo de espaçamentos Fonte: Bédard (1998) 701 Quanto ao tamanho do desenho: Desenho Grande Desenho Pequeno -Segurança – cores azul e verde (suave) - Chamar atenção – cores vermelha, amarela e laranja (fortes) -Conformada com seu pouco espaço, tranqüila e sonhadora. -Falta de confiança, timidez. Quadro 3 – Significado do tamanho dos desenhos Fonte: Bédard (1998), Rocha(2009) Cada cor admite uma interpretação, podendo ela ser positiva ou negativa. Transparência Vermelho Amarelo Laranja Azul Verde Preto -Inteligência e intuição, capaz de perceber e prever determinadas situações. -Inclinada a mentiras, esta acostumada a camuflar seus pensamentos. Extremamente consciente de seu comportamento, sentindo muitas vezes certa culpa. Esta cor energética, possui um espírito desportivo. Pode estar vivendo algum tipo de agressividade que pode chegar a ser destrutiva. Representa o sangue, a vida, e o ardor, é fundamentalmente “ativa”. Quando acompanhado da cor preta tem de ser interpretado com certo critério, pois o preto bloqueia a energia do vermelho, ou seja, pode ser uma pessoa tranqüila que não expressa nenhuma agressividade, porem quando você menos espera, a ansiedade e a angústia podem ser manifestadas de modo explosivo. Conhecimento, curiosidade, e alegria de viver. Quando utilizada com freqüência, mostra ser mais expressiva que as outras pessoas. Generosa, extrovertida, otimista e muito ambiciosa. Quando em excesso mostra hiperatividade, exigente consigo mesma e com os demais e pode se tornam enjoada e esgotante para as pessoas que o cercam. Expressa necessidade de contato social e público. É inclinada a novidade e coisas que se realizem de forma rápida. É impaciente, não se atraem com nada que exija concentração e sentido de observação. Simboliza a harmonia, a paz e a tranqüilidade. Se escolhida de forma excessiva se mostra uma pessoa introvertida e que deseja seguir seus passos com seu próprio ritmo. Representa a natureza. Utilizada com freqüência mostra maturidade. Tem uma ótima imaginação, tem uma energia física constante. Se utilizar de forma ruim o verde é porque se sente superior aos demais. Tem forte ego e pode chegar a ofender as outras pessoas. A cor preta pode ser interpretada muitas vezes de forma errada. Esta cor representa o inconsciente, tudo o que não pode ser visto. Transmite confiança em si mesmo, se adapta com facilidade a situações imprevistas. Porém pode também passar a mensagem 702 Rosa Marrom Cinza Branco negativa, a pessoa pode estar dissimulando seus pensamentos, velando certos segredos que considera apenas seus, pode ser uma forma de autoproteção. Quando esta cor acompanha o azul, devese ficar atento, pois pode ser uma pessoa depressiva, com tendência a se sentir derrotado. Suavidade e ternura. Gosta de coisas agradáveis e fáceis. É adaptável é uma pessoa de fácil acesso. A parte negativa é sua vulnerabilidade diante de situações menos agradáveis. Estabilidade, estrutura e planificação. Aplicada com freqüência aprecia a segurança, a boa alimentação, uma veste confortável e uma boa comida. Quando usado com freqüência significa oscilação entre o desconhecido e o conhecido. Tempo de transição. Usado em excesso pode significar falta de segurança em suas escolhas e é facilmente influenciável. É raro o uso desta cor, pois usualmente deixam os espaços vazios. Usado com freqüência gera desconforto, porém tem um significado de purificação e neutralização podendo eliminar todos os pensamentos e elementos do passado. Quadro 4 – Signo das Cores Fonte: Bédard (1998) Segundo Bédard os desenhos realizados numa só cor tem uma grande importância, podendo denotar preguiça ou falta de motivação (QUADRO 4) (1998, p. 37). A expressão artística não pode ser apenas estudada por um pequeno grupo de pessoas (os artistas), a arte está envolvida com a história da humanidade e suas conquistas, com a herança cultural dos povos e com o desenvolvimento individual das pessoas. Teorias apresentam que o envolvimento com a arte pode capacitar o raciocínio lógico, a sensibilidade, a capacidade de expressão. Aplicar esta prática na educação estimula a criatividade e a imaginação, além de promover embasamentos para que a personalidade do indivíduo seja trabalhada, assim como adequações nas questões relacionadas ao temperamento e ao caráter da pessoa. (COSTA, 2004, p.10-13) Quando a arte se junta com o universo da Psicologia e da Psicanálise, amplia a potência do processo de criação humana. Apresentando assim as qualidades do indivíduo, ajudando-o a pensar, sentir e agir de forma positiva ao longo de sua vida. A questão principal desse estudo não é ensinar arte no sentido usual. Qualquer pessoa enferma ou não, pode se beneficiar deste tratamento, sejam elas crianças, adolescentes, adultos, idosos, etc.(CARVALHO, 1995; BILBAO, 2004; PHILIPPINI, 2008; PEREIRA, 1976; RIVERA, 2005). 703 O principal objetivo da inclusão do tratamento alternativo (arteterapia) na grade curricular do curso de Artes Plástica é entender e contribuir com a saúde mental dos pacientes. Olhando psicologicamente a produção espontânea de uma criança pode-se perceber se ela esta assustada ou triste, alegre ou desconfiada, os sinais são claros. Este tratamento visa permitir a elaboração mental com o objetivo de extrair a emoção que se encontra oculta. (ROCHA, 2009; BÉDARD, 1998). Alguns autores escreveram sobre o valor terapêutico da arte e segundo Bilbao (2004, p. 9-10 “A arte é uma forma de baixo risco para entrar em sentimentos de alto risco)”. A arteterapia, pela essência de sua ação terapêutica, pode possibilitar atividades preventivas tanto no âmbito psicopedagógico, já que oferece uma interação entre a arte e a cognição, quanto no contexto de re-significações de atitudes pessoais. (URRUTIGARAY, 2008, p. 27). Para que não ocorra um tratamento inadequado, o artista deve ter no curso acadêmico matérias de psicologia e arteterapia, podendo assim ao concluir sua formação, iniciar junto ao psicólogo o tratamento adequado para seus pacientes. O arteterapeuta trabalha com a saúde mental, destacando em seu paciente a observação, a sensibilidade, e as atitudes permitindo que o mesmo conquiste maior confiança durante o tratamento, refletindo em seu processo social de convívio, além de prepará-lo para melhor conhecer a si mesmo, identificando suas deficiências e contribuindo para conviver com elas de forma mais harmônica e saudável. Proposta de Grade Curricular A instituição escolhida para ser realizado este artigo foi a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). A formação em artes deste, esta dividida em quarto cursos que são: Escultura, Pintura, Gravura e Licenciatura em Desenho; todos têm um período de quarto anos para a conclusão. Para a exemplificação foi escolhido a grade curricular do curso de licenciatura em desenho. 1º Ano Desenho I Desenho Geométrico e Geometria Descritiva Expressão em Volume 704 Expressão Gráfica Historia da Arte e Estética I Plástica Técnicas de Pintura Antropologia Cultural 2º Ano Anatomia Croquis Desenho II Desenho Técnico Escultura I Historia da Arte e Estética II Introdução a Metodologia Científica Perspectiva e Sombra Pintura 3º Ano Anatomia Aplicada Cerâmica Desenho III Escultura II Ética História da Arte e Estética III Material e Equipamentos de Escultura 4º Ano Desenho IV Escultura III História da Arte e Estética IV Técnicas e Projetos em Escultura Estágio Supervisionado Profissionalizante Quardro 5. Matriz Curricular de 2010 do curso de Licenciatura em Desenho. Fonte (Escola de Música e Belas Artes do Paraná) Incluindo a matéria terapêutica no curso, poderemos ver uma nova grade curricular: 1º Ano *Desenho I *Desenho Geométrico e Geometria Descritiva *Expressão em Volume *Expressão Gráfica *Historia da Arte e Estética I *Plástica *Técnicas de Pintura *Antropologia Cultural *Arteterapia I 2º Ano *Anatomia 705 *Croquis *Desenho II *Desenho Técnico *Escultura I *Historia da Arte e Estética II *Introdução aMetodologia Científica *Perspectiva e Sombra *Pintura *Arteterapia II 3º Ano *Anatomia Aplicada *Cerâmica *Desenho III *Escultura II *Ética *História da Arte e Estética III *Material e Equipamentos de Escultura *Arteterapia III 4º Ano *Desenho IV *Escultura III *História da Arte e Estética IV *Técnicas e Projetos em Escultura *Estágio Supervisionado Profissionalizante *Estágio Supervisionado em Arteterapia Quadro 6. Grade Curricular reformulada incluindo a matéria de Arteterapia. 1ºAno 2ºAno 3ºAno 4ºAno 1ºSem 1- Fundamentos psicológicos e psico-sociais 2-Fundamentos Históricos, Filosóficos e Sócio-Antropológicos da Arteterapia 2ºSem 3-Noções Epistêmicas das Correntes Psicológicas 4-Ética e Postura Terapêutica 1ºSem 1 e 2- Introdução a arteterapia 2ºSem 3-Arteterapia Gestáltica 4- Arte e Psicologia/ Arte e Psicoterapia 1ºSem 1-Expressividade através da Modelagem e do Desenho 2-Fundamentação básica da expressividade da dança, música, teatro e literatura 2ºSem 3-Arteterapia – Arquétipos e Símbolos 4-Interpretação e Significado dos desenhos Estágio/Supervisão em Arteterapia Quadro 7. Tabela de divisão da disciplina de Arteterapia por ano e semestre. Van Gogh após ter cortado sua própria orelha e tendo alguns surtos posteriormente, pediu ao seu irmão que o internasse em uma clínica psiquiátrica, sendo então registrado como 706 paciente voluntário, teve direito a dois quartos, um para sua acomodação e outro para continuar pintando. Ele tinha o intuito da auto curar-se por arteterapia. Foi por meio da arte que o artista se ligava ao mundo, à natureza e às pessoas que o cercavam. Frida Kahlo foi outra artista com uma história de um inconsciente que se desenvolveu. O acidente que sofreu aos 18 anos transformou sua vida, os médicos desacreditavam na possibilidade dela sobreviver. Durante meses ficou imobilizada e encontrou na arte uma maneira de expressar o que sentia. O surrealismo é um movimento que tem uma grande aproximação com a psicanálise, mesmo Freud não aceitando essa teoria, atualmente os psiquiatras estudam cada vez mais essa nova tendência de aproximação, ou seja dentro da história da arte existem várias exemplos de cura e de manifestações psicológicas que foram bem sucedidas, ou que ajudam nos estudos da psi. (MONTEIRO, 2009; RIVERA, 2005). Os desencontros entre Freud e os surrealistas refletem o fato de a psicanálise sofrer no surrealismo uma torção, uma distorção capaz de criar uma espécie de ficção de psicanálise. A intenção “sintética”e “totalizante”de Breton, nas palavras do psicanalista e escritor Jean-Bertrand Pontalis, nunca deixará de chocar com a visão essencialmente analítica de Freud, fundada em pares sempre inconciliáveis, ao contrário dos “vasos comunicantes”do escritor francês. Entre o surrealismo e a psicanálise há um hiato. (RIVERA, 2005, p. 22). Ter a arteterapia inclusa na graduação de Artes traz a possibilidade de transformação de um ser. A arte é um caminho de comunicação que possibilita a expressão de sentimentos e conteúdos tanto conscientes como inconscientes, ela abre um campo reflexivo. O arteterapeuta se não treinado de forma adequada e se não gostar de atuar nesta área pode chegar a prejudicar o processo, pois não existem dualidades como feio versus bonito, melhor versus pior, certo versus errado. O artista ao aprender esta matéria e atuar no mesmo deve estar consciente de que em primeiro lugar está seu paciente, e se forem bem trabalhados não surgiram problemas futuros no tratamento. Não existe cura, mais existe um tratamento para que o individuo viva de forma melhor. Liebmann (2002), Ciornai (2004), Coutinho (2008-2009) e Philippni (2008) trazem em seus livros várias experimentações de tratamentos com arteterapia que funcionaram. Para Phillipi (2008, p.70) o tratamento arteterapêutico que a mesma aplicou em gestantes foi apenas o início para a percepção, pois ainda existe muito a aprender e explorar sobre o assunto, Bigarella (2009, p.12) complementa “a jornada em busca de autoconhecimento não é 707 fácil nem simples, mas a sua conquista oferece o mais magnífico dos frutos: a expansão da consciência”. .Considerações Finais Incluir a arteterapia na grade curricular do curso de Artes Plástica possibilita a transformação do indivíduo, pois esta matéria tem como objetivo favorecer o tratamento terapêutico do mesmo, trabalhando desta forma como um aliado para a psicologia. Para Carrano (2009), a arte pode contribuir sobremaneira para o despertar do ato criativo, assim como os sentimentos, de forma natural e espontânea, de forma dinâmica e agradável. O lidar com a arte, em um contexto arteterapêutico, vai despertando, pouco a pouco, a percepção, a criatividade, a cognição, a imaginação e a sensibilidade de se expressar por meio da dança, da musica, das linhas, das cores e das formas, tão sutis e tão reveladoras do imaginário social e humano, criando um vínculo afetivo e expressivo do paciente com a arte, em suas diferentes linguagens (CARRANO. 2009,p.177). O artista que se transformar em arteterapeuta deve estar ciente que o paciente sempre estará em primeiro lugar, sua forma de trabalho deverá ser a expressão do sentimento criativo e não a simples cópia. A cópia pode prejudicar o tratamento terapêutico, pois o objetivo é a expressão do inconsciente. A arteterapia é um aliado para transformação do paciente, pois o contato com a arte revela o mundo interior e inconsciente do mesmo. Ter esta disciplina na grade curricular formará profissionais capazes de auxiliar no tratamento psicoterapêutico, porém é importante ressaltar que o acadêmico de artes aplicará um tratamento alternativo supervisionado por um psicólogo ou psiquiatra. O artista não dominará a psicologia num todo para tratar por completo o paciente. REFERÊNCIAS BAPTISTA, Ana L. Estudos em arteterapia: diferentes olhares sobre a arte. Rio de Janeiro: Wak, 2009 BIGARELLA, Iris K. O grande Enigma. Curitiba : Independente, 2009 708 BÉDAR, Nicole. Como interpretar os desenhos das crianças. Quebec : Isis, 1998. BILBAO, Giuliana. Psicologia e arte. São Paulo: Alínea, 2004. CARRANO, Eveline.Estudos em arteterapia: diferentes olhares sobre a arte. Rio de Janeiro: Wak, 2009 CARVALHO, Maria M. M. F. A arte cura. São Paulo: Psy, 1995. CIORNAI, Selma. Percursos em Arteterapia. São Paulo: Summus, 2004. COSTA, Cristina. Questões de arte: o belo, a percepção estética e o fazer artístico. São Paulo: Moderna, 2004. COUTINHO, Vanessa. Arteterapia com idosos. Rio de Janeiro: Wak, 2008. COUTINHO, Vanessa. Arteterapia para crianças. 3ed. Rio de Janeiro: Wak 2009. KAST, Verena. A dinâmica dos símbolos: fundamentos da psicoterapia junguiana. São Paulo: Loyola, 1997 LIEBMANN, Marian. Exercícios de Arteterapia para grupos. 3ed. São Paulo: Summus, 2002. MONTEIRO, Dulcinéa M. R. Arteterapia: Arquétipos e Símbolos. Rio de Janeiro: Wak, 2009. PAÍN, Sara e JARREAU, Gladys. Uma Psicoterapia por El arte:teoría y técnica. Buenos Aires: Nueva Visión, 1994. PAÍN, Sara. Os fundamentos da arteterapia. Rio de Janeiro: Vozes, 2009. PERNEY, Mônica e WERNECK, Cleudes. Estudos em arteterapia: diferentes olhares sobre a arte. Rio de Janeiro: Wak, 2009 PEREIRA, Regina C. C. A espiral do símbolo: a arte como terapia. Petrópolis: Vozes, 1976. PHILIPPINI, Angela. Cartografias da Coragem. 4ed. Rio de Janeiro: Wak, 2008. PHILIPPINI, Angela. Cartografias: métodos, projetos e processos. 2ed. Rio de Janeiro: Wak, 2009. RIVERA, Tania. Arte e Psicanálise. 2ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. RHYNE, Janie. Arte e Gestalt: padrões que convergem. 2ed. São Paulo: Summus, 2000. ROCHA, Dina L. C. Brincando com a criatividade: contribuições teóricas e práticas na arteterapia e na educação. Rio de Janeiro: Wak, 2009. URRUTIGARAY, Maria C. Arteterapia: a transformação pessoal pelas imagens. 4ed. Rio de Janeiro: Wak, 2008 709 ZINKER, Joseph. Processo criativo em gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007