A ARTETERAPIA INCLUSA NA GRADE CURRICULAR DAS
GRADUAÇÕES DE ARTES PLÁSTICA
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
DUARTE, Vanessa Tiemi
[email protected]
Orientadora: Lucymara Carpim
Agência Financiadora:não contou com financiamento.
Resumo
Neste artigo analisa-se através de revisões literárias, a contribuição da arteterapia na grade
curricular do curso de Artes Plástica e/ou Artes Visuais, para que o acadêmico, possa
complementar de forma significativa no tratamento terapêutico do paciente. Uma vez feito o
estudo, foi possível constatar a importância das expressões artísticas na transformação de
“cura” do individuo.
Palavra-Chave: Arte terapia, Artes Plástica. Psicologia
Introdução
A Arte terapia é um meio de expressão artística usada no contexto terapêutico, não
existindo como objetivo final a estética do belo, uma vez que sua proposta maior é a
ampliação e o estímulo do potencial criativo do ser humano. Apesar de ser uma prática antiga,
tendo surgimento como profissão na década de 30, não faz muito tempo que é usada como
instrumento terapêutico. A AATA (Associação Americana de Arteterapia) afirma que a
arteterapia é um processo artístico que visa promover a melhora na qualidade de vida das
pessoas. (PAÍN, 2009; CIONAI, 2004; PHILIPPINI, 2008).
Esse tipo de tratamento terapêutico se expressa simbolicamente utilizando diversas
formas criativas como a música, a dança, a pintura, o desenho, a escultura, o teatro (através de
diversas representações plásticas). Por meio dos processos de criar e de refletir durante a
execução das atividades artísticas, as pessoas podem ampliar seus conhecimentos de si e dos
outros, favorecendo e aumentando sua auto-estima, assim como facilitar a convivência com as
suas dificuldades e seus problemas apresentados durante a vida.
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A arte esta presente na vida da humanidade há muitas décadas. No período primitivo a
forma que o homem da pré-história encontrou para registrar suas crenças e a história de
convivência com a natureza e com os demais seres, foi por meio de pinturas e esculturas que
hoje encontramos em cavernas e demais sítios arqueológicos dispostos pelo mundo todo.
Nesses locais os indivíduos desenhavam, ou expressavam o que estavam sentido, ou seja, o
que faziam após a caça, o que acontecia no seu dia, como se fosse uma espécie de livro de
anotações. Portanto, podemos considerar que a arteterapia é como um diário, pois ele
apresenta conflitos emocionais e sociais internalizados no nosso inconsciente. (PEREIRA,
1976; COSTA 2004)
Não há contra indicações para esta prática e qualquer pessoa pode se beneficiar com
este processo, crianças, adultos, idosos, adolescentes, pessoas com transtornos intelectuais,
enfermas ou portadoras de deficiência física. Algumas pessoas são resistentes ao tratamento
com a justificativa de não saber desenhar, não ser criativo, porém qualquer um pode ser
estimulado a desenvolver seu potencial criativo, tendo em vista que todos possuem
habilidades, que quando direcionadas e orientadas podem desenvolver e surpreender.
(CARVALHO, 1995; BILBAO,2004; PHILIPPINI, 2008; PEREIRA, 1976).
A arteterapia não avalia em uma pintura o belo ou a técnica, ela funciona como mapas
simbólicos, mostrando ao arteterapeuta conteúdos inconscientes, que se explorados pelo
educador, podem contribuir sobremaneira para novas descobertas pessoais e emocionais. Os
símbolos são como mensageiros no processo de cura do self, o que podemos reforçar abaixo,
nas palavras de Philippi (2009), que destaca como o processo de transformação pelos quais
um participante desse tipo de atividade pode conquistar em seu benefício pessoal e social.
A arteterapia como processo de revelação e transformação de símbolos, culturais e
pessoais é um instrumento terapêutico dos mais eficazes. Nela, os binômios luz/cor e
luz/consciência estão presentes como em um grande vitral, filtrando a luz intensa
que poderia cegar e confundir, permitindo a entrada gradativa para iluminar o
inconsciente, trazendo à consciência conteúdos psíquicos em um processo que
conduz ao encontro do si mesmo, e porque não dizer, ao encontro numinoso com sua
própria luz. (PHILIPPI, 2009, p. 69)
A arteterapia é uma forma de usar arte em benefício do bem estar pessoal e social, pois
proporciona possibilidades diversas de extravasar sentimentos, como frustração, depressão,
decepção e outras adversidades da vida, assim como diversas situações que possam colocar
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em risco a saúde ou o bem estar, além de apresentar oportunidades de aprimorar
conhecimentos e desenvolver habilidades artísticas, usando a arte como forma de
comunicação e de expressão.
Arteterapia – A Expressão Artística em Benefício do Ser Humano
No final do século XIX, psiquiatras revelaram interesse pelas produções artísticas dos
pacientes psiquiátricos iniciando então um estudo e descobrindo a conexão entre a arte e
saúde mental. Os psiquiatras que mais se destacaram foram Ambroise Tardieu, Paul Max
Simon e Marcel Reja.O psiquiatra Carl Gustav Jung posteriormente passou a trabalhar com o
fazer artístico. (BILBAO,2004 p.35-36)
Jung sempre teve como objetivo dizer que a função principal da terapia é possibilitar o
autoconhecimento, Bilbao (2009, P.52), ainda afirma “Jung não apenas coloca as imagens em
uma posição central, mas também atribui a elas um poder com o qual o indivíduo deve se
confrontar para se desenvolver. Para Jung só a própria pessoa tem o poder de curar.”
Nesse contexto, podemos ainda referenciar Perny (2009, p.140-141), quanto aos
aspectos positivos relacionados ao estímulo da criatividade que segundo o autor contribui com
o desenvolvimento do indivíduo.
A criatividade é considerada um potencial inerente ao homem. De acordo com Carl
Gustav Jung, a criatividade age como elemento motivador, organizador e
dinamizador deste. O CRIAR atua no processo de desenvolvimento humano como
um aspecto formador de suas atividades psicológicas superiores, tais como: o
pensamento, a linguagem, a memória, a atenção dirigida e a motivação voluntária.
(PERNY, 2009 p. 141).
A arteterapia tem como finalidade usar a arte como um meio de expressão, dando ao
individuo a liberdade de se comunicar através dos sentimentos. Ao invés de ter como objetivo
um produto final como um quadro esteticamente agradável, o mesmo terá uma obra onde seu
inconsciente está presente, para que seja analisado com a finalidade de tratamento e não entrar
como julgamento aos padrões estéticos externos sobre a obra. (ROCHA, 2009; JARREU,
1994; PAÍN, 2009; LIEBMANN, 2002).
Em um contexto terapêutico o expressar por meio da arte, instiga pouco a pouco, a
criatividade, a percepção, a sensibilidade, a imaginação, a cognição, pois pode ser exposto por
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meio da terapia em atividades como: a dança, música, representações plásticas ou teatro. Esse
tipo de terapia pode ser importante e contribuir com o desempenho social e educacional do ser
humano. Estejam eles mergulhados em problemas graves ou apenas instigando a arte como
fonte de laser e de comunicação. Enquanto o paciente está em tratamento, por mais que ele
pretenda em um futuro atuar como artista plástico, o terapeuta deve deixar claro que naquele
momento, o propósito da atividade, é o de se apropriar das técnicas artísticas como forma de
tratamento psicanalítico, então sua criatividade não deve estar vinculada ao propósito inverso,
mas sim, com intuito de estimular seu bem estar e elevar sua auto-estima. (PHILIPPINI,
2009; PEREIRA, 1976; COUTINHO, 2009; MONTEIRO, 2009).
Segundo apresenta Rhyne (2000), sobre os aspectos pessoais que devem ser
estimulados, como forma de expressão artísticas dos pacientes que apoiam-se na arteterapia,
destaca-se suas considerações, uma vez que:
Cada vez que você e eu desenhamos, pintamos ou modelamos, estamos vivenciando
ativamente um evento: nosso próprio evento experimental. Cada linha que você
traça é unicamente sua; as que eu desenho são individualmente minhas; cada um de
nos está envolvido num acontecimento pessoal. À medida que as linhas e formas
emergem de nossa atividade, podemos observar como estamos formando um
registro gráfico visível de alguma coisa ou sensação que percebemos. Tendo
registrado essa percepção, cada um de nós tem uma realidade tangível para usar
como preferir. (RHYNE, 2000, pg. 40)
Para Paín “O objetivo em arteterapia, será, sustentar simbolicamente cada intenção,
sem perder de vista o principal, que é a de curar-se”. (2009, pg. 17). Trabalhada em grupo, a
arteterapia pode alcançar objetivos de individualidade e também inserção aos contextos
sociais, expostos pelo autor.
A arteterapia ajuda a compreender a arte contemporânea. O louco pinta sua loucura,
o débil mental pinta com a escassez de seus recursos, e, assim, cada um encontra na
atividade artística seu lugar. Resta saber se os “verdadeiros” artistas não fingem
loucura para despistar (PAÍN, 2009 pg. 18 e 19).
Com o desenvolvimento da psicanálise e o surgimento de tratamentos terapêuticos
alternativos, os medicamentos puderam ter um afastamento parcial, segundo o que destaca-se
abaixo.
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O trabalho com arteterapia visa exatamente permitir a ação mental, ou a elaboração,
com o intuito de extrair a emoção que se encontra “oculta”, como idéia na imagem
formada, em princípio inexistente no sentido empírico (URRUTIGARAY, 2008, p.
26).
Jung teve como objetivo levar o indivíduo a desenvolver experimentações com o seu
próprio self e ter a capacidade de lidar de forma criativa com as suas dificuldades. A
psicologia junguiana é marcada por um desenvolvimento criativo que torna o símbolo visível
por meio do consciente. Dessa forma, o arteterapeuta tem de ter conhecimento tanto na área
de artes quanto em psicologia, o mesmo deve liberar seu potencial criativo assim como seu
paciente, pois é fundamental ao terapeuta ter um acompanhamento mais próximo,
especialmente de um supervisor. O ambiente para a produção da imagem, como o
atelier/consultório constitui-se como fator primordial para o inicio do desenvolvimento do
tratamento. (COUTINHO, 2008/2009; PSY 1995; PAÍN, 2009; PHILIPPINI, 2009;
URRUTIGARAY,2008).
Essa aproximação entre arte e psicologia, mesmo ela não sendo muitas vezes visível,
vem do fato de serem objetos culturais que compartilham um mesmo espírito. A inclusão da
arteterapia na grade curricular do curso superior de artes plástica pode ser de grande valia aos
pacientes. O acadêmico de artes não atuaria como psicólogo, mas como arteterapeuta
auxiliando assim o tratamento terapêutico aplicado pelo psicólogo.
Muitas escolas de psicoterapia usaram a arte como um método auxiliar para
diagnosticar e tratar pacientes, tanto como uma liberação emocional como uma terapia
ocupacional; utilizando materiais de arte como expressão, estimulavam as pessoas a criarem
suas próprias “mensagens”.
O objetivo da terapia de Jung é levar o individuo a realizar experimentações com o
próprio ser e conseguir lidar de modo criativo com seus problemas e com as
peculiaridades de seu ser. No lugar das neuroses, entrariam as possibilidades de uma
modificação criativa. Essas “técnicas”são muito importantes tanto para a terapia de
uma pessoa, no desenvolvimento psíquico em direção a uma maior autonomia, como
para a aprendizagem de um estilo de vida mais criativo, com a qual se teria um
individuo cônscio. (KAST, 1997,p.7).
Quando se cria uma imagem, ao vê-lo seu conteúdo pode ser extremamente obvio,
porém sua mensagem verdadeira pode ser outra. As cores utilizadas, os traços, o local que o
700
desenho foi feito no papel. Analisar uma obra não significa saber interpretá-la; a análise tem
um enfoque técnico e racional e se baseia em fatos comprovados, a interpretação resulta na
síntese da análise. (ZINKER, 2007; ROCHA, 2009; COUTINHO, 2009; BÉDARD, 1998).
Podemos observar a palavras de Bédard (1998), quando destaca a importância do
desenho como forma de expressão para contribuir no tratamento com a arteterapia.
O desenho representa, em parte, a mente consciente, mas também, e de uma maneira
mais importante, faz referência ao inconsciente. O que nos interessa é o simbolismo
e as mensagens que o desenho transmite-nos, não sua perfeição estética. (BÉDARD.
1998, p.6)
Segundo apresentam Bédard (1998) e Rocha (2009), o simples gesto de segurar um
lápis pode trazer o significado de um símbolo à um psicólogo, psiquiatra e ao arteterapeuta.
Os quadros abaixo exemplificam com mais detalhe este estudo:
Lápis de ponta fina
Lápis de ponta mediana
Lápis de ponta grossa
O individuo que escolhe o lápis com a ponta fina tem
preferência por conforto e luxo, tem tendência a procurar
a companhia de pessoas que tem destaque, pode ter uma
dificuldade a auto-afirmação.
Tem facilidade com a adaptação e é uma pessoa flexível
e livre.
A pessoa que escolhe o lápis de ponta grossa não é
influenciável, e uma vez tomada a decisão, não muda de
idéia de forma alguma.
Quadro 1 – Significado da característica do indivíduo ao escolher o lápis para desenhar.
Fonte: Bédard (1998)
Quanto ao espaço utilizado na folha para a criação:
Espaço superior
intelecto, curiosidade, desejo de descobrir.
Espaço inferior
Necessidades físicas e materiais.
Lado esquerdo
Pensamento no passado.
Centro
Presente, não vive ansiedades nem tensões.
Lado direito
Tendência a pensar somente no futuro.
Quadro 2 – Signo de espaçamentos
Fonte: Bédard (1998)
701
Quanto ao tamanho do desenho:
Desenho Grande
Desenho Pequeno
-Segurança – cores azul e verde (suave)
- Chamar atenção – cores vermelha, amarela e laranja (fortes)
-Conformada com seu pouco espaço, tranqüila e sonhadora.
-Falta de confiança, timidez.
Quadro 3 – Significado do tamanho dos desenhos
Fonte: Bédard (1998), Rocha(2009)
Cada cor admite uma interpretação, podendo ela ser positiva ou negativa.
Transparência
Vermelho
Amarelo
Laranja
Azul
Verde
Preto
-Inteligência e intuição, capaz de perceber e prever determinadas
situações.
-Inclinada a mentiras, esta acostumada a camuflar seus
pensamentos. Extremamente consciente de seu comportamento,
sentindo muitas vezes certa culpa.
Esta cor energética, possui um espírito desportivo. Pode estar
vivendo algum tipo de agressividade que pode chegar a ser
destrutiva. Representa o sangue, a vida, e o ardor, é
fundamentalmente “ativa”.
Quando acompanhado da cor preta tem de ser interpretado com
certo critério, pois o preto bloqueia a energia do vermelho, ou seja,
pode ser uma pessoa tranqüila que não expressa nenhuma
agressividade, porem quando você menos espera, a ansiedade e a
angústia podem ser manifestadas de modo explosivo.
Conhecimento, curiosidade, e alegria de viver. Quando utilizada
com freqüência, mostra ser mais expressiva que as outras pessoas.
Generosa, extrovertida, otimista e muito ambiciosa. Quando em
excesso mostra hiperatividade, exigente consigo mesma e com os
demais e pode se tornam enjoada e esgotante para as pessoas que o
cercam.
Expressa necessidade de contato social e público. É inclinada a
novidade e coisas que se realizem de forma rápida. É impaciente,
não se atraem com nada que exija concentração e sentido de
observação.
Simboliza a harmonia, a paz e a tranqüilidade. Se escolhida de
forma excessiva se mostra uma pessoa introvertida e que deseja
seguir seus passos com seu próprio ritmo.
Representa a natureza. Utilizada com freqüência mostra
maturidade. Tem uma ótima imaginação, tem uma energia física
constante. Se utilizar de forma ruim o verde é porque se sente
superior aos demais. Tem forte ego e pode chegar a ofender as
outras pessoas.
A cor preta pode ser interpretada muitas vezes de forma errada.
Esta cor representa o inconsciente, tudo o que não pode ser visto.
Transmite confiança em si mesmo, se adapta com facilidade a
situações imprevistas. Porém pode também passar a mensagem
702
Rosa
Marrom
Cinza
Branco
negativa, a pessoa pode estar dissimulando seus pensamentos,
velando certos segredos que considera apenas seus, pode ser uma
forma de autoproteção. Quando esta cor acompanha o azul, devese ficar atento, pois pode ser uma pessoa depressiva, com
tendência a se sentir derrotado.
Suavidade e ternura. Gosta de coisas agradáveis e fáceis. É
adaptável é uma pessoa de fácil acesso. A parte negativa é sua
vulnerabilidade diante de situações menos agradáveis.
Estabilidade, estrutura e planificação. Aplicada com freqüência
aprecia a segurança, a boa alimentação, uma veste confortável e
uma boa comida.
Quando usado com freqüência significa oscilação entre o
desconhecido e o conhecido. Tempo de transição. Usado em
excesso pode significar falta de segurança em suas escolhas e é
facilmente influenciável.
É raro o uso desta cor, pois usualmente deixam os espaços vazios.
Usado com freqüência gera desconforto, porém tem um significado
de purificação e neutralização podendo eliminar todos os
pensamentos e elementos do passado.
Quadro 4 – Signo das Cores
Fonte: Bédard (1998)
Segundo Bédard os desenhos realizados numa só cor tem uma grande importância,
podendo denotar preguiça ou falta de motivação (QUADRO 4) (1998, p. 37).
A expressão artística não pode ser apenas estudada por um pequeno grupo de pessoas
(os artistas), a arte está envolvida com a história da humanidade e suas conquistas, com a
herança cultural dos povos e com o desenvolvimento individual das pessoas. Teorias
apresentam que o envolvimento com a arte pode capacitar o raciocínio lógico, a sensibilidade,
a capacidade de expressão. Aplicar esta prática na educação estimula a criatividade e a
imaginação, além de promover embasamentos para que a personalidade do indivíduo seja
trabalhada, assim como adequações nas questões relacionadas ao temperamento e ao caráter
da pessoa. (COSTA, 2004, p.10-13)
Quando a arte se junta com o universo da Psicologia e da Psicanálise, amplia a
potência do processo de criação humana. Apresentando assim as qualidades do indivíduo,
ajudando-o a pensar, sentir e agir de forma positiva ao longo de sua vida. A questão principal
desse estudo não é ensinar arte no sentido usual. Qualquer pessoa enferma ou não, pode se
beneficiar
deste
tratamento,
sejam
elas
crianças,
adolescentes,
adultos,
idosos,
etc.(CARVALHO, 1995; BILBAO, 2004; PHILIPPINI, 2008; PEREIRA, 1976; RIVERA,
2005).
703
O principal objetivo da inclusão do tratamento alternativo (arteterapia) na grade
curricular do curso de Artes Plástica é entender e contribuir com a saúde mental dos
pacientes. Olhando psicologicamente a produção espontânea de uma criança pode-se perceber
se ela esta assustada ou triste, alegre ou desconfiada, os sinais são claros. Este tratamento visa
permitir a elaboração mental com o objetivo de extrair a emoção que se encontra oculta.
(ROCHA, 2009; BÉDARD, 1998).
Alguns autores escreveram sobre o valor terapêutico da arte e segundo Bilbao (2004,
p. 9-10 “A arte é uma forma de baixo risco para entrar em sentimentos de alto risco)”.
A arteterapia, pela essência de sua ação terapêutica, pode possibilitar atividades
preventivas tanto no âmbito psicopedagógico, já que oferece uma interação entre a
arte e a cognição, quanto no contexto de re-significações de atitudes pessoais.
(URRUTIGARAY, 2008, p. 27).
Para que não ocorra um tratamento inadequado, o artista deve ter no curso acadêmico
matérias de psicologia e arteterapia, podendo assim ao concluir sua formação, iniciar junto ao
psicólogo o tratamento adequado para seus pacientes. O arteterapeuta trabalha com a saúde
mental, destacando em seu paciente a observação, a sensibilidade, e as atitudes permitindo
que o mesmo conquiste maior confiança durante o tratamento, refletindo em seu processo
social de convívio, além de prepará-lo para melhor conhecer a si mesmo, identificando suas
deficiências e contribuindo para conviver com elas de forma mais harmônica e saudável.
Proposta de Grade Curricular
A instituição escolhida para ser realizado este artigo foi a Escola de Música e Belas
Artes do Paraná (EMBAP). A formação em artes deste, esta dividida em quarto cursos que
são: Escultura, Pintura, Gravura e Licenciatura em Desenho; todos têm um período de quarto
anos para a conclusão.
Para a exemplificação foi escolhido a grade curricular do curso de licenciatura em
desenho.
1º Ano
Desenho I
Desenho Geométrico e Geometria Descritiva
Expressão em Volume
704
Expressão Gráfica
Historia da Arte e Estética I
Plástica
Técnicas de Pintura
Antropologia Cultural
2º Ano
Anatomia
Croquis
Desenho II
Desenho Técnico
Escultura I
Historia da Arte e Estética II
Introdução a Metodologia Científica
Perspectiva e Sombra
Pintura
3º Ano
Anatomia Aplicada
Cerâmica
Desenho III
Escultura II
Ética
História da Arte e Estética III
Material e Equipamentos de Escultura
4º Ano
Desenho IV
Escultura III
História da Arte e Estética IV
Técnicas e Projetos em Escultura
Estágio Supervisionado Profissionalizante
Quardro 5. Matriz Curricular de 2010 do curso de Licenciatura em Desenho.
Fonte (Escola de Música e Belas Artes do Paraná)
Incluindo a matéria terapêutica no curso, poderemos ver uma nova grade curricular:
1º Ano
*Desenho I
*Desenho Geométrico e Geometria Descritiva
*Expressão em Volume
*Expressão Gráfica
*Historia da Arte e Estética I
*Plástica
*Técnicas de Pintura
*Antropologia Cultural
*Arteterapia I
2º Ano
*Anatomia
705
*Croquis
*Desenho II
*Desenho Técnico
*Escultura I
*Historia da Arte e Estética II
*Introdução aMetodologia Científica
*Perspectiva e Sombra
*Pintura
*Arteterapia II
3º Ano
*Anatomia Aplicada
*Cerâmica
*Desenho III
*Escultura II
*Ética
*História da Arte e Estética III
*Material e Equipamentos de Escultura
*Arteterapia III
4º Ano
*Desenho IV
*Escultura III
*História da Arte e Estética IV
*Técnicas e Projetos em Escultura
*Estágio Supervisionado Profissionalizante
*Estágio Supervisionado em Arteterapia
Quadro 6. Grade Curricular reformulada incluindo a matéria de Arteterapia.
1ºAno
2ºAno
3ºAno
4ºAno
1ºSem
1- Fundamentos psicológicos e psico-sociais
2-Fundamentos Históricos, Filosóficos e Sócio-Antropológicos da Arteterapia
2ºSem
3-Noções Epistêmicas das Correntes Psicológicas
4-Ética e Postura Terapêutica
1ºSem
1 e 2- Introdução a arteterapia
2ºSem
3-Arteterapia Gestáltica
4- Arte e Psicologia/ Arte e Psicoterapia
1ºSem
1-Expressividade através da Modelagem e do Desenho
2-Fundamentação básica da expressividade da dança, música, teatro e literatura
2ºSem
3-Arteterapia – Arquétipos e Símbolos
4-Interpretação e Significado dos desenhos
Estágio/Supervisão em Arteterapia
Quadro 7. Tabela de divisão da disciplina de Arteterapia por ano e semestre.
Van Gogh após ter cortado sua própria orelha e tendo alguns surtos posteriormente,
pediu ao seu irmão que o internasse em uma clínica psiquiátrica, sendo então registrado como
706
paciente voluntário, teve direito a dois quartos, um para sua acomodação e outro para
continuar pintando. Ele tinha o intuito da auto curar-se por arteterapia. Foi por meio da arte
que o artista se ligava ao mundo, à natureza e às pessoas que o cercavam. Frida
Kahlo
foi
outra artista com uma história de um inconsciente que se desenvolveu. O acidente que sofreu
aos 18 anos transformou sua vida, os médicos desacreditavam na possibilidade dela
sobreviver. Durante meses ficou imobilizada e encontrou na arte uma maneira de expressar o
que sentia. O surrealismo é um movimento que tem uma grande aproximação com a
psicanálise, mesmo Freud não aceitando essa teoria, atualmente os psiquiatras estudam cada
vez mais essa nova tendência de aproximação, ou seja dentro da história da arte existem
várias exemplos de cura e de manifestações psicológicas que foram bem sucedidas, ou que
ajudam nos estudos da psi. (MONTEIRO, 2009; RIVERA, 2005).
Os desencontros entre Freud e os surrealistas refletem o fato de a psicanálise sofrer
no surrealismo uma torção, uma distorção capaz de criar uma espécie de ficção de
psicanálise. A intenção “sintética”e “totalizante”de Breton, nas palavras do
psicanalista e escritor Jean-Bertrand Pontalis, nunca deixará de chocar com a visão
essencialmente analítica de Freud, fundada em pares sempre inconciliáveis, ao
contrário dos “vasos comunicantes”do escritor francês. Entre o surrealismo e a
psicanálise há um hiato. (RIVERA, 2005, p. 22).
Ter a arteterapia inclusa na graduação de Artes traz a possibilidade de transformação
de um ser. A arte é um caminho de comunicação que possibilita a expressão de sentimentos e
conteúdos tanto conscientes como inconscientes, ela abre um campo reflexivo. O
arteterapeuta se não treinado de forma adequada e se não gostar de atuar nesta área pode
chegar a prejudicar o processo, pois não existem dualidades como feio versus bonito, melhor
versus pior, certo versus errado. O artista ao aprender esta matéria e atuar no mesmo deve
estar consciente de que em primeiro lugar está seu paciente, e se forem bem trabalhados não
surgiram problemas futuros no tratamento. Não existe cura, mais existe um tratamento para
que o individuo viva de forma melhor.
Liebmann (2002), Ciornai (2004), Coutinho (2008-2009) e Philippni (2008) trazem em
seus livros várias experimentações de tratamentos com arteterapia que funcionaram. Para
Phillipi (2008, p.70) o tratamento arteterapêutico que a mesma aplicou em gestantes foi
apenas o início para a percepção, pois ainda existe muito a aprender e explorar sobre o
assunto, Bigarella (2009, p.12) complementa “a jornada em busca de autoconhecimento não é
707
fácil nem simples, mas a sua conquista oferece o mais magnífico dos frutos: a expansão da
consciência”.
.Considerações Finais
Incluir a arteterapia na grade curricular do curso de Artes Plástica possibilita a
transformação do indivíduo, pois esta matéria tem como objetivo favorecer o tratamento
terapêutico do mesmo, trabalhando desta forma como um aliado para a psicologia.
Para Carrano (2009), a arte pode contribuir sobremaneira para o despertar do ato
criativo, assim como os sentimentos, de forma natural e espontânea, de forma dinâmica e
agradável.
O lidar com a arte, em um contexto arteterapêutico, vai despertando, pouco a pouco,
a percepção, a criatividade, a cognição, a imaginação e a sensibilidade de se
expressar por meio da dança, da musica, das linhas, das cores e das formas, tão sutis
e tão reveladoras do imaginário social e humano, criando um vínculo afetivo e
expressivo do paciente com a arte, em suas diferentes linguagens (CARRANO.
2009,p.177).
O artista que se transformar em arteterapeuta deve estar ciente que o paciente sempre
estará em primeiro lugar, sua forma de trabalho deverá ser a expressão do sentimento criativo
e não a simples cópia. A cópia pode prejudicar o tratamento terapêutico, pois o objetivo é a
expressão do inconsciente.
A arteterapia é um aliado para transformação do paciente, pois o contato com a arte
revela o mundo interior e inconsciente do mesmo. Ter esta disciplina na grade curricular
formará profissionais capazes de auxiliar no tratamento psicoterapêutico, porém é importante
ressaltar que o acadêmico de artes aplicará um tratamento alternativo supervisionado por um
psicólogo ou psiquiatra. O artista não dominará a psicologia num todo para tratar por
completo o paciente.
REFERÊNCIAS
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Wak, 2009
BIGARELLA, Iris K. O grande Enigma. Curitiba : Independente, 2009
708
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BILBAO, Giuliana. Psicologia e arte. São Paulo: Alínea, 2004.
CARRANO, Eveline.Estudos em arteterapia: diferentes olhares sobre a arte. Rio de Janeiro:
Wak, 2009
CARVALHO, Maria M. M. F. A arte cura. São Paulo: Psy, 1995.
CIORNAI, Selma. Percursos em Arteterapia. São Paulo: Summus, 2004.
COSTA, Cristina. Questões de arte: o belo, a percepção estética e o fazer artístico. São Paulo:
Moderna, 2004.
COUTINHO, Vanessa. Arteterapia com idosos. Rio de Janeiro: Wak, 2008.
COUTINHO, Vanessa. Arteterapia para crianças. 3ed. Rio de Janeiro: Wak 2009.
KAST, Verena. A dinâmica dos símbolos: fundamentos da psicoterapia junguiana. São Paulo:
Loyola, 1997
LIEBMANN, Marian. Exercícios de Arteterapia para grupos. 3ed. São Paulo: Summus, 2002.
MONTEIRO, Dulcinéa M. R. Arteterapia: Arquétipos e Símbolos. Rio de Janeiro: Wak, 2009.
PAÍN, Sara e JARREAU, Gladys. Uma Psicoterapia por El arte:teoría y técnica. Buenos Aires:
Nueva Visión, 1994.
PAÍN, Sara. Os fundamentos da arteterapia. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
PERNEY, Mônica e WERNECK, Cleudes. Estudos em arteterapia: diferentes olhares sobre a
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PEREIRA, Regina C. C. A espiral do símbolo: a arte como terapia. Petrópolis: Vozes, 1976.
PHILIPPINI, Angela. Cartografias da Coragem. 4ed. Rio de Janeiro: Wak, 2008.
PHILIPPINI, Angela. Cartografias: métodos, projetos e processos. 2ed. Rio de Janeiro:
Wak, 2009.
RIVERA, Tania. Arte e Psicanálise. 2ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
RHYNE, Janie. Arte e Gestalt: padrões que convergem. 2ed. São Paulo: Summus, 2000.
ROCHA, Dina L. C. Brincando com a criatividade: contribuições teóricas e práticas na
arteterapia e na educação. Rio de Janeiro: Wak, 2009.
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a arteterapia inclusa na grade curricular das graduações de artes