Universidade Federal de Santa Catarina Pró-Reitoria de Ensino de Graduação Seminário: Cotas e Ações Afirmativas na UFSC 01 de junho de 2006 Ações Afirmativas, Reservas de Vagas e o Programa da Unicamp Renato H. L. Pedrosa [email protected] Unicamp Ações afirmativas Uma ação afirmativa, no contexto trabalhista ou educacional, ocorre “sempre que pessoas agem de forma deliberada, positivamente, para aumentar as chances de que verdadeira igualdade seja atingida entre membros de categorias diferentes” Words Worth of Wisdom: Toward an Understanding of Affirmative Action F. J. Crosby & D. I. Cordova Sex, Race and Merit Ed. F. J. Crosby, C. VanDerMeer Univ. Michigan Press, 2000 Por que ações afirmativas? Desigualdade educacional Dados de São Paulo • Mais de 80% dos graduados do ensino médio: rede pública • 23% dos graduados do ensino médio: pretos/pardos • Até 2004: – Universidades públicas paulistas: menos de 27% dos estudantes matriculados eram de egressos da rede pública • Cursos mais procurados: abaixo de 15% – Universidades públicas paulistas: menos de 12% dos matriculados se declaravam pretos ou pardos • Cursos mais procurados: abaixo de 10% Por que ações afirmativas? Desigualdade econômica e cor/raça declarada 1000 Renda mensal (R$ 2002) 800 Brancos Pretos/pardos, simulando educação dos brancos 600 400 Pretos/pardos 200 0 1990 1992 1994 1996 Fonte: Roberto Martins, IPEA/IBGE 1998 2000 2002 Por que ações afirmativas? Relevância econômica e estratégica “Na experiência da General Motors ... apenas uma bem educada e diversificada força de trabalho, formada por pessoas que aprenderam a trabalhar produtiva e criativamente com indivíduos de uma variedade de raças e de origens étnicas, religiosas e culturais, pode manter a competitividade americana numa economia mundial cada vez mais diversificada e interligada.” Amicus Curiae, Caso da Universidade de Michigan Suprema Corte Americana (2003) Por que ações afirmativas? Autonomia universitária e relevância acadêmica !? É possível construir um Programa de Ação Afirmativa que, além de contemplar propostas efetivas e eficazes para reduzir as desigualdades sociais, educacionais e de renda no ensino superior, incluindo a questão de cor e raça, • Melhore a qualificação acadêmica dos estudantes? • Respeite a autonomia acadêmica das universidades (Art. 51 da LDB)? • Não restrinja o acesso de subgrupos da sociedade a vagas nas instituições públicas de ensino superior? Ações afirmativas no ensino superior • Reforço educacional – Pré-vestibulares comunitários – Qualificação e ampliação da rede pública de Ensino Médio • Incentivo financeiro aos candidatos - isenção das taxas do vestibular • Programas de apoio aos estudantes – bolsas e subsídios • Estrutura acadêmica e curricular – cursos noturnos • Reservas de vagas - cotas • Programas de incentivo acadêmico - pontuação extra no vestibular Princípios do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp • Inclusão social – renda e cor/raça • Qualificação acadêmica • Autonomia universitária Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp – PAAIS Deliberação Conselho Universitário – Maio de 2004 • Programa de isenção das taxas de inscrição ao Vestibular – – • 5ª série em diante na rede pública Família com renda abaixo do salário mínimo do DIEESE Pontuação no vestibular – Vestibular 2005 em diante – 30 pontos extras para candidatos que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas – 40 pontos extras para autodeclarados pretos, pardos e indígenas (que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas) (A média das notas dos candidatos é de 500 pontos) • Programa de apoio aos estudantes – R$20 milhões - 13% do custeio (2006) Resultados gerais do PAAIS Participação entre inscritos Isentos Escola Pública Pretos, pardos, indígenas Vestibular 2003/4 6% (3 mil) 31% (15 mil) 12% (6 mil) Vestibular 2005/6 13% (6,5 mil) 33% (17 mil) 18% (9,5 mil) Resultados gerais do PAAIS Participação entre matriculados Escola Pública Pretos, pardos e indígenas Isentos Período 2003/4 2005/6 2003/4 2005/6 2003/4 2005/6 Noturno (1/3 vagas) 48% 51% 13% 21% 6% 12% Integral (2/3 vagas) 20% 25% 10% 13% 2% 4% Geral 29% 33% 11% 15% 3% 7% Resultados gerais do PAAIS Matriculados nos cursos mais concorridos - por nota final (15% vagas) Escola pública Curso Pretos, pardos, indígenas Isentos 2003/4 2005/6 2003/4 2005/6 2003/4 2005/6 Medicina 22 53 (+141%) 18 25 (+39%) 2 5 (+150%) Ciências Biológicas 11 15 14 10 0 2 Engenharia Elétrica 32 44 17 21 2 3 Engenharia da Computação 26 37 19 25 0 3 Comunicação Social 2 13 1 4 0 0 Engenharia Química 14 23 6 14 1 1 Total 107 185 (+73%) 75 99 (+32%) 5 14 (+180%) % entre matriculados 13% 23% 9% 12% 0,6% 1,7% Resultados gerais do PAAIS Porcentagem entre Matriculados nas Engenharias/Noturno Escola pública Curso (classificação no vestibular) Pretos, pardos, indígenas 2003/4 2005/6 2003/4 2005/6 Eng. Controle e Automação (7º) 16% 27% 15% 12% Eng. Elétrica (11º) 46% 56% 7% 24% Eng. Química (13º) 34% 34% 11% 13% Eng. Alimentos (20º) 42% 43% 8% 11% Total 32% 38% 11% 14% Resultados gerais do PAAIS - 2006 Perfil de Renda e Escola de Ensino Médio particular 100% Cand Matr Cand Matr misto público Cand Matr Cand Matr 80% 60% 40% ' 20% 0% Até 5 sm de 5 a 15 sm de 15 a 30 sm mais de 30 sm Resultados gerais do PAAIS Avaliação acadêmica Turma de 2005 Final do primeiro ano Em 31 dos 55 cursos: alunos egressos da rede pública desempenhavam melhor (nota anual) do que os egressos da rede particular (isso ocorria em apenas 4 cursos no vestibular) Em 48 dos 55 cursos: alunos egressos da rede pública desempenhavam melhor (posição na turma) do que os egressos da rede particular, em relação ao desempenho no vestibular Matrículas no Ensino Médio e no Ensino Superior Taxa líquida de matrículas: % dos jovens na idade certa entre matriculados Ensino médio: 15 a 17 anos Ensino superior: 18 a 24 anos Brasil: Ensino Médio Ensino Superior Fontes: Dados de 2003 Outros países: Dados de 1998 Unidades federadas Regiões Brasil Coréia França Espanha Argentina Máximo 64,1% 55,5% 43,1% > 90% >90% >90% >80% Mínimo 16,6% 25,5% Máximo 17,4% 16,1% 10,8% 40,7% 36,0% 27,3% 22,4% Mínimo 4,8% 5,7% Microdados PNAD 2003 (J. Norberto W. Dachs NEPP/Unicamp) OECD, Education at a Glance, 1998 Voltando ao princípio: Uma ação afirmativa, no contexto trabalhista ou educacional, ocorre “sempre que pessoas agem de forma deliberada, positivamente, para aumentar a chance de que verdadeira igualdade seja atingida entre membros de categorias diferentes”. Words Worth of Wisdom: Toward an Understanding of Affirmative Action F. J. Crosby & D. I. Cordova Sex, Race and Merit Ed. F. J. Crosby, C. VanDerMeer Univ. Michigan Press, 2000