ANTROPOMETRIA O método mais utilizado para avaliação da composição corporal é a Antropometria, devido à sua facilidade de aplicação, tanto no laboratório como no campo, na área clínica e em estudos populacionais. Além disso, sua relativa simplicidade e o baixo custo dos equipamentos contribuem para sua popularidade. Estas vantagens permitem sua utilização para medidas antropométricas em estudos com grandes amostras populacionais, que podem proporcionar estimativas nacionais e dados para a análise de mudanças seculares. Através de medidas antropométricas é possível fazer acompanhamento de crescimento morfológico, bem como de alterações de medidas corporais decorrentes da prática de exercícios físicos e dietas, proporcionando dados de grande valia para os profissionais que atuam nestas áreas. Este acompanhamento pode ser realizado simplesmente pela observação da alteração das medidas em valores absolutos ou através da utilização das mesmas em modelos matemáticos que têm a finalidade de estimar as quantidades dos diferentes componentes corporais: massa muscular, massa óssea, massa gorda e massa residual. A avaliação é feita a partir de medidas tomadas em diversas partes do corpo e avaliações de características específicas, como o peso e a estatura do indivíduo. A realização das medições, entretanto, deve obedecer a regras e padrões que garantirão a sua exatidão e a correção da avaliação final. São as seguintes as normas a serem observadas: MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS ‐ PESO CORPORAL (EM KG): Recomendamos a utilização de uma balança antropométrica, evitando‐se aquelas balanças residenciais que na maioria das vezes são difíceis de aferir e conseqüentemente aumentam a probabilidade de erros. Determinados cuidados devem ser levados em consideração antes e durante a medição do peso do avaliado. Priorize como instrumento de medição as balanças com escala de divisões de 100 gramas. Verifique o local onde sua balança está e certifique‐se de que local é plano, caso contrário seu desnivelamento poderá provocar alterações na medida. Verifique também a calibração de sua balança, procurando ajustá‐la com pesos conhecidos. Para a determinação do peso, o avaliado deverá estar com o mínimo de roupa e descalço. O avaliado deve se posicionar em pé e de costas para a escala da balança, com os pés afastados e paralelos. Em seguida, coloque‐o sobre o centro da plataforma da balança, ereto e com o olhar num ponto fixo à sua frente. Movimente os cilindros correspondentes às dezenas (kg) e centenas (g) de peso do avaliado até que ocorra o nivelamento dos ponteiros‐guia da balança e realize a leitura. ‐ ESTATURA (EM CM): Para medir a estatura ou altura total é necessário, antes de tudo, determinar o instrumento de medida que será utilizado. Geralmente utiliza‐se um cursor ou esquadro antropométrico, estadiômetro com escala de divisões de 0,1 cm, ou trena metálica ou fita métrica, também com divisões de 0,1 cm, fixada a uma parede. Evite a utilização da escala que está acoplada em algumas balanças. O avaliado deve estar descalço ou com meias finas e o mínimo possível de roupas para que a posição do corpo possa ser vista. Deve ficar em posição anatômica sobre a base do estadiômetro formando um ângulo reto com a borda vertical do aparelho. O peso do avaliado deve ser distribuído em ambos os pés, e a cabeça posicionada no Plano Horizontal de Frankfurt. Os braços livremente soltos ao longo do tronco, com as palmas voltadas para as coxas. O avaliado deve manter os calcanhares unidos e tocando a borda vertical do estadiômetro. As bordas mediais dos pés devem formar um ângulo de aproximadamente 60º. Se o avaliado tem joelhos Genu Valgo os pés são separados até que as bordas mediais dos joelhos estejam em contato, mas não sobrepostas. As escápulas e o glúteo ficam em contato com a borda vertical do aparelho. Os calcanhares, glúteos, escápulas e a porção posterior do crânio de alguns sujeitos não podem ser colocados em um plano vertical enquanto mantêm uma razoável postura natural. Estes indivíduos são posicionados, então, de forma que somente os glúteos, os calcanhares e o crânio estejam em contato com a borda vertical do aparelho. GORDON et al (1988). Ao avaliado é solicitado que realize uma inspiração profunda e que se mantenha em posição completamente ereta sem que alterne o peso sobre os calcanhares. O cursor do aparelho é colocado sobre o ponto mais alto da cabeça com pressão suficiente para comprimir o cabelo. A medida é registrada com uma aproximação de 0,1 cm e o horário em que a medida foi realizada é anotado. ‐ PERÍMETROS Os perímetros corporais são importantes medidas que permitem verificar o tamanho de secções transversais e dimensões do corpo. Podem ser utilizadas sozinhas ou em combinação com dobras cutâneas medidas no mesmo local ou com outras circunferências, são medidas de crescimento e podem proporcionar índices de estado nutricional e níveis de padrão de gordura (CALLAWAY et al, 1988). São caracterizados pelas medidas lineares realizadas circunferencialmente, sendo que vários deles têm aplicação nos estudos de proporcionalidade, composição corporal e somatotipo (DE ROSE, PIGATTO & DE ROSE, 1984). Alguns perímetros apresentam dois e, às vezes, até três padrões diferentes de medida. Quando o objetivo é apenas de acompanhamento das medidas deve‐se escolher o padrão mais adequado às necessidades e possibilidades e repeti‐los nas reavaliações. Porém, se houver a utilização de métodos de predição de componentes corporais ou pela utilização de índices corporais, deve‐se seguir a padronização proposta para a metodologia utilizada. Para efetuar estas medidas é necessário que você tenha uma fita métrica com divisões de 0,1 cm. Cuidado para não exercer muita pressão com a fita métrica sobre a pele; só o suficiente para cobrir todo o perímetro do segmento, de forma a ficar justa porém não apertada. Este procedimento evita a compressão cutânea, que produz medidas diferentes da real. Existem diversos tipos de fitas métricas, aconselhamos a utilização daquelas que são específicas para medidas antropométricas (tape measures) e que possuem em média 1,5 m de comprimento e 0,8 cm de largura. Os pontos anatômicos para realizar as medidas, tanto para os homens quanto para as mulheres, dependem do protocolo que será utilizado no momento da avaliação. É aconselhável que no momento das medições o avaliado esteja com o mínimo de roupa possível (homem – sunga e mulheres – biquíni), diminuindo assim a probabilidade de erros decorrentes de localizações não padronizadas, geralmente ocasionados pelo traje inadequado. Abaixo descrevemos os protocolos e/ou padrões e seus respectivos autores: 9
POLLOCK E WILMORE (1993) Tórax: o avaliado deverá estar em posição ortostática e com os braços abduzidos no momento da localização anatômica desta medida, que será no plano horizontal, na altura da quarta articulação costo‐esternal. Esta articulação geralmente está localizada acima das mamas nas mulheres e acima dos mamilos nos homens. No momento da mensuração, os braços do avaliado deverão estar de volta a posição normal, ou seja, ao lado do tronco e ao término de uma expiração normal. Cintura: o avaliado deverá estar em posição ortostática, pés unidos e abdome relaxado. A medida será realizada no plano horizontal na região de menor circunferência, acima da cicatriz umbilical. A mensuração é realizada logo após do término de uma expiração normal. Abdome: o avaliado deverá estar em posição ortostática, pés unidos e abdome relaxado. Esta medida será efetuada no plano horizontal na altura da cicatriz umbilical, após o término de uma expiração normal. Quadril: o avaliado deverá estar em posição ortostática e pés unidos. Esta medida será efetuada no plano horizontal e na maior circunferência em torno dos glúteos, que deverão estar com a musculatura contraída. Braços (direito e esquerdo): o avaliado deverá estar em posição ortostática, a medida será efetuada com o braço abduzido e com cotovelo flexionado, a fita será posicionada ao redor da maior circunferência, com a musculatura flexo‐
extensora totalmente contraída. Antebraços (direito e esquerdo): o avaliado deverá estar em posição ortostática, com antebraço paralelo ao chão (cotovelo flexionado em angulo de 90o), palma da mão voltada para cima (supinado), mão fechada e musculatura do antebraço contraída. Coxa (direita e esquerda): o avaliado deverá estar em posição ortostática, com os braços ao lado do corpo, com os pés separados (aproximadamente 10 cm), a medida é feita no plano horizontal logo abaixo da prega glútea (nem sempre será na máxima circunferência do segmento), a medida será realizada com o peso do corpo sobre a coxa a ser medida. Perna (direita e esquerda): o avaliado deverá estar em posição ortostática, medida realizada plano horizontal, na circunferência máxima do segmento com o peso corporal bem distribuído em ambas as pernas. 9
MCARDLE ET ALII (1993) Tórax: o avaliado deverá estar em posição ortostática e com os braços abduzidos no momento da localização anatômica desta medida, que será no plano horizontal, aproximadamente a 2,5 cm acima da linha mamilar, no sexo masculino. No sexo feminino a medida será realizada ao nível axilar. No momento da mensuração, os braços do avaliado deverão estar de volta a posição normal, ou seja, ao lado do corpo. Cintura: o avaliado deverá estar em posição ortostática, pés unidos e abdome relaxado. A medida será realizada no plano horizontal na região de menor circunferência, acima da cicatriz umbilical e logo abaixo da caixa torácica. A mensuração é realizada após uma expiração normal. Abdome: o avaliado deverá estar em posição ortostática, pés unidos e abdome relaxado. Esta medida será efetuada no plano horizontal ao nível das cristas ilíacas sobre a cicatriz umbilical. Quadril: o avaliado deverá estar em posição ortostática e pés unidos. Esta medida será efetuada no plano horizontal, na maior circunferência em torno dos glúteos e anteriormente a sínfise pubiana. Braços (direito e esquerdo): o avaliado deverá estar em posição ortostática, a medida será efetuada com o braço abduzido, com cotovelo flexionado e mão fechada. A fita será posicionada na circunferência máxima do braço. Antebraços (direito e esquerdo): o avaliado deverá estar em posição ortostática, com cotovelo paralelo ao chão (flexionado em angulo de 90o), palma da mão voltada para cima (supinado). Coxa (direita e esquerda): o avaliado deverá estar em posição ortostática, com os braços ao lado do corpo, com os pés separados (aproximadamente 10 cm), a medida é feita no plano horizontal logo abaixo da prega glútea, proximadamente a 2/3 da distância entre a parte média do joelho (joelho estendido) e o local onde os membros inferiores se separam do tronco. Perna (direita e esquerda): o avaliado deverá estar em posição ortostática, medida no plano horizontal, na circunferência máxima do segmento. A distância entre os pés será de 20 cm. 9
LOHMAN, ROCHE AND MARTORELL (1998) Tórax: o avaliado deverá estar em posição ortostática e com os braços abduzidos no momento da localização anatômica desta medida, que será no plano horizontal, na altura da quarta articulação costo‐esternal. Esta articulação geralmente está localizada acima das mamas nas mulheres e acima dos mamilos nos homens. No momento da mensuração, os braços do avaliado deverão estar de volta a posição normal, ou seja, ao lado do tronco. Cintura: o avaliado deverá estar em posição ortostática, pés unidos e abdome relaxado. A medida será realizada no plano horizontal na região de menor circunferência, acima da cicatriz umbilical. A mensuração é realizada após uma expiração normal. Abdome: o avaliado deverá estar em posição ortostática, pés unidos e abdome relaxado. Esta medida será efetuada no plano horizontal logo abaixo da cicatriz umbilical, após uma expiração normal. Quadril: o avaliado deverá estar em posição ortostática e pés unidos. Esta medida será efetuada no plano horizontal e na maior circunferência em torno dos glúteos. Braços: o avaliado deverá estar em posição ortostática, medida realizada no plano horizontal e na distância média entre o acromio e olécrano. Antebraços: o avaliado deverá estar em posição ortostática, com cotovelo paralelo ao chão (flexionado em angulo de 90o), palma da mão voltada para cima (supinado), mão fechada e musculatura do antebraço contraída. Coxa: o avaliado deverá estar em posição ortostática, com os braços ao lado do corpo, com os pés separados (aproximadamente 10 cm), a medida é feita no plano horizontal logo abaixo da prega glútea (nem sempre será na máxima circunferência do segmento) e com joelho estendido. Perna: o avaliado deverá estar em posição ortostática, plano horizontal, na circunferência máxima do segmento. A distância entre os pés será de 20 cm. Na figura a seguir podemos visualizar os locais das medidas de circunferências, lembrando que cada autor possui um padrão definido para localização e procedimento para coleta das mesmas. IMC – ÍNDICE DE MASSA CORPORAL Entre várias técnicas antropométricas existentes, o I.M.C. (Índice de Massa Corporal), possui uma grande vantagem sobre as demais, principalmente, pela sua aplicabilidade e/ou viabilidade. Isto acontece porque são necessários apenas os dados de peso e altura. Em estudos de amostragem quantitativa (estudos populacionais c/ grande quantidade de indivíduos), o I.M.C. tem sido amplamente utilizado e aceito pela comunidade científica. O princípio do I.M.C. consiste em estimar, a proporção e/ou a relação existente entre o peso corporal total e a estatura do indivíduo. Observa‐se que esta técnica (I.M.C.) não é muito utilizada e recomendável em pessoas que praticam exercícios físicos de forma intensa e sistematizada, que no caso poderíamos chamar de atletas ou pessoas fisicamente muito ativas, pois geralmente estes indivíduos apresentam uma composição corporal diferenciada aos demais. Esta diferença está diretamente relacionada a quantidade de massa magra, que nestes apresentam‐se em maior proporção, podendo assim distorcer os resultados. A seguir citamos a equação para determinação do índice e tabelas para referências (classificação) do IMC: IMC = P / A2 onde: P= Peso corporal total (Kg); A= Estatura do indivíduo (metros) resultado: I.M.C. Kg/m2 Tabela 01 ‐ Classificação do I.M.C. (Corbin & Lindsey, 1994) Classificação Baixa Zona aceitável e ideal Risco moderado Risco elevado Masculino
entre 17,9 e 18,9
de 19,0 a 24,9
25,0 a 27,7
acima de 27,8
Feminino
entre 15,0 e 17,9 de 18,0 a 24,4 24,5 a 27,2 acima de 27,3 Valores expressos em Kg/m2 Tabela 02 ‐ Classificação do I.M.C. (World Health Organization ‐ OMS) Classificação Baixa Aceitável Excesso de peso (Nível 01) Excesso de peso (Nível 02) Excesso de peso (Nível 03) I.M.C.
menor de 18,5
de 18,5 a 24,9
de 25,0 a 29,9
de 30,0 a 39,9
maior ou igual 40,0
Valores expressos em Kg/m2 Fonte: Heyward & Stolarczyk, Human Body Composition, página 350; Ed. Human Kinetics, 1996. O IMC COMO ESTRATÉGIA INADEQUADA NO DIAGNÓSTICO DE OBESIDADE A Pesquisa de Orçamentos Familiares do Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística ‐ IBGE, realizada entre 2002 e 2003, revelou dados alarmantes sobre a questão obesidade e desnutrição no Brasil. Várias conclusões foram abstraídas relacionando o Índice de Massa Corporal (IMC) ao consumo de alimentos, renda familiar ou per capita, características regionais, idade, sexo, etc. Houve ampla divulgação destes resultados pela imprensa nacional e internacional, motivando críticas às políticas públicas de combate à fome, aos padrões de beleza da mulher brasileira, além de evidenciar a necessidade de reorganização das estratégias de combate à obesidade e suas conseqüências à saúde. O índice de 40% de brasileiros acima do peso ideal sem dúvida é alarmante e não há nenhuma dúvida em relação às suas causas e conseqüências. A Pesquisa de Orçamentos Familiares do respeitado Instituto centralizou suas conclusões a partir do Índice de Massa Corporal ‐ IMC, que estabelece uma relação matemática entre o peso corporal e a estatura ao quadrado. Trata‐se de uma fórmula muito conhecida, amplamente utilizada nos consultórios de médicos e nutricionistas e muito divulgada em revistas, jornais e pesquisas científicas. Quem não se pesou e mediu sua estatura corporal para saber se estava dentro dos padrões tido como normais? Quem nunca viu aquela famosa tabela relacionando peso, idade e estatura corporal, colada nas balanças de farmácias, bem à altura dos olhos? Quem não se aborreceu ou achou que havia alguma coisa errada naquela tabela? Os índices corporais estabelecem uma relação entre duas medidas, uma no numerador e outra no denominador. A partir do resultado desta fração, pode‐se classificar uma pessoa de acordo com as características às quais o índice se refere. Para um índice corporal ser realmente conclusivo, ele deve ser interpretado antropologicamente, ter sensibilidade suficiente para detectar a variação dentro da população de estudo e deve ser facilmente calculado. No entanto, o IMC possui em sua essência vários inconvenientes. Os índices corporais estabelecem uma relação entre duas medidas, uma no numerador e outra no denominador. A partir do resultado desta fração, pode‐se classificar uma pessoa de acordo com as características às quais o índice se refere. Para um índice corporal ser realmente conclusivo, ele deve ser interpretado antropologicamente, ter sensibilidade suficiente para detectar a variação dentro da população de estudo e deve ser facilmente calculado. No entanto, o IMC possui em sua essência vários inconvenientes, que serão facilmente compreendidos no decorrer deste texto. Historicamente, o Índice de Massa Corporal foi criado no século XIX, pelo astrônomo Lambert Adolphe Quetelet (1796‐1874), considerado o "pai da antropometria humana" (estudo das medidas corporais). Motivado pela antropologia, 2
Quetelet criou uma fórmula que dividia o peso corporal pela estatura ao quadrado (peso / estatura ), com a finalidade de estudar a proporcionalidade entre os indivíduos. Através deste método, permitiu‐se conhecer as diferenças corporais segundo a raça humana, a idade e o gênero. Com a mesma finalidade, posteriormente outros índices foram criados, como os de: ‐ Livi (1898) = peso dividido pela raíz cúbica da estatura (peso / 3√estatura); ‐ Roher (1908) = peso dividido pela estatura elevada ao cubo (peso / estatura3). Analisando as fórmulas acima, qualquer pessoa, mesmo sem muitos conhecimentos matemáticos, pode perceber que ora se utilizaram artifícios como a elevação da estatura ao quadrado ou ao cubo, ora sua raiz cúbica. Portanto, esta pessoa pode se perguntar: ‐ como o uso de diferentes índices que utilizam as mesmas medidas podem ser ter variações tão claras em suas fórmulas ? ‐ pode ter havido algum "engano" na criação ou na utilização destas fórmulas ? A resposta para a última pergunta é SIM. Basicamente por dois motivos: 1. Não se sabe ao certo por que o Índice de Massa Corporal foi o "escolhido" e adotado pela comunidade científica e leiga. Permite‐se especular que a causa tenha sido o pioneirismo em sua criação ou mesmo pela maior divulgação em relação aos outros índices. O fato é que o IMC é amplamente utilizado em pesquisas médicas, nutricionais e populacionais e aceito sem maiores discussões pela comunidade leiga. No entanto, deve ser relembrado que Quetelet criou o IMC com motivações antropológicas. Jamais quis classificar o ser humano em relação aos padrões de peso (baixo peso, peso normal, pré‐obesidade ou obesidade), como é amplamente divulgado no cotidiano! Por meio de pesquisas posteriores, com metodologias e fundamentos questionáveis, estabeleceram‐se relações com indicadores de saúde, o que causou a deturpação do objetivo inicial. Um indicador matemático, criado com um objetivo e utilizado para outro, certamente encontra inconvenientes estatísticos, tornando‐o menos preciso à nova "indicação". 2. Embora seja uma fórmula matemática aparentemente simples e de conclusões compreensíveis, o IMC traz em sua essência um erro matemático inaceitável, porém conhecido há décadas, principalmente pelas ciências do esporte. Trata‐se do estabelecimento de uma relação matemática entre duas medidas de dimensões diferentes (peso e estatura). Para esclarecer o porquê desta incompatibilidade, seguem dois conceitos importantes na compreensão do tema: A estatura corporal é uma medida linear. Pode ser entendida mais facilmente visualizando a largura de uma sala, por exemplo. A estatura nada mais é do que a distância entre dois pontos específicos, a região plantar e o ponto mais alto do crânio (vértex). Sua determinação dá‐se facilmente com a utilização de uma fita métrica. O peso corporal (denominado mais corretamente como "massa" corporal) é uma medida tridimensional. Massa ocupa lugar no espaço, portanto tem volume. Ter volume significa ter 3 dimensões, como o corpo humano: largura, comprimento e profundidade. Bem, o peso é medido de forma simples, com o mínimo de roupas, através do auxílio de uma balança comum. 2
Voltando à fórmula, ao elevar o denominador ao quadrado (estatura ), Quetelet transformou uma medida linear em uma medida de superfície, como se faz para determinar a área de um campo de futebol, por exemplo. Portanto, estabeleceu uma relação errônea entre volume e superfície, visto que possuem conceitos matematicamente diferentes. Além disto, o que significa estatura ao quadrado? Se Quetelet quisesse relacionar o peso com a superfície corporal, a fórmula existente para esta predição seria utilizada. Seguindo a linha de raciocínio matemático, as fórmulas corretas são as de Livi e Roher, que reduzem as variáveis peso e estatura a um mesmo expoente, tornando possíveis e concretas as suas conclusões. Pode‐se afirmar, portanto, que apesar da sua ampla utilização, o IMC é matematicamente incorreto. Por conseqüência, suas conclusões também o são. Além do erro matemático e da utilização do índice com objetivos diferentes da idéia original, o IMC, assim como os índices de Livi e Roher ainda sofrem grandes reveses devido às características da população ao qual se aplica, como se analisa a seguir. O Brasil se caracteriza pela presença de povos de diversas origens, como europeus, orientais, afro‐descendentes, índios e ainda, suas formas miscigenadas. O estilo de vida e o biótipo, por exemplo, influenciam sobremaneira qualquer relação peso e estatura estabelecida. Seguem‐se exemplos que dispensam explicações complementares: ‐ pessoas negras ou ativas fisicamente, em geral, possuem maior densidade mineral óssea, portanto tendem a apresentar um peso ósseo mais elevado, e por conseqüência, maior IMC; ‐ atletas de força, como fisiculturistas e levantadores de peso, possuem maior quantidade de massa muscular do que a média da população. Pelo IMC a grande maioria é considerada obesa, percepção facilmente refutada pela observação visual; ‐ pessoas com diâmetros transversais ósseos proporcionalmente maiores em relação à estatura (diâmetro de tórax, ombros, bacia, joelhos, braços) também tendem a ter um IMC elevado; ‐ indivíduos com estatura maior que a média e com diâmetros transversais menores (os chamados ectomorfos), podem ser classificados como baixo peso pelo IMC; ‐ pessoas com peso corporal adequado aos padrões do IMC podem ter pouca massa magra e muita massa de gordura. São os chamados "falsos magros", pois tem aspecto visual de pessoas com peso normal ou reduzido. No entanto, possuem percentual de gordura elevado, fato muito comuns em mulheres adultas jovens. Escapam do diagnóstico correto e da necessária correção do estilo de vida. Não se discute que a prevalência da obesidade vem aumentando, principalmente devido a uma dieta cada vez mais industrializada e dos elevados índices de sedentarismo na população. Outros fatores, como a busca incessante por corpos cada vez mais leves, trazem conseqüências à saúde coletiva, seja física ou psicológica. Mesmo em pessoas com peso "normal", não é raro o diagnóstico de desnutrição, hipovitaminose ou osteoporose. O peso corporal elevado (às custas da gordura corporal), ou mesmo reduzido (pouca massa magra) é um desafio à saúde pública e ao custeio do Estado. A questão é que os padrões exigidos pelo IMC seguem uma metodologia incorreta. Não se pode assistir passivamente a este fato na determinação de qualquer levantamento estatístico, sob pena das conclusões também estarem erradas. E o mais grave, as políticas públicas advindas destas conclusões também o serão, como o desperdício dos esforços do Estado e da sociedade em corrigir estes problemas. Cabe à sociedade científica a pesquisa dos padrões antropométricos dos brasileiros, visto que existem métodos eficazes, amplamente conhecidos pela medicina do esporte, educação física e nutrição. O método mais indicado para o diagnóstico de obesidade em termos populacionais é o método cineantropométrico de determinação do percentual de gordura. Possui grande valor científico e baixo custo operacional. O método é utilizado principalmente em atletas, onde qualquer variação das medidas corporais tem grande influência em seu desempenho físico. Através do peso corporal, estatura e algumas dobras cutâneas (medida da espessura da pele e gordura subcutânea), permite‐se estimar a quantidade de gordura corporal existente em uma pessoa. Cabe ao IBGE, à OMS e à comunidade Exemplo: Indivíduo com 1,80m e ±130Kg IMC=40,12 Kg/m3 EM FUNÇÃO DISSO, PRECISAMOS DE PARÂMETROS MAIS CONFIÁVEIS!!!! ÍNDICE CINTURA‐QUADRIL (Waist to Hip Ratio) Muitos pesquisadores em seus estudos relacionados à saúde, comprovam que algumas grandezas físicas, como medidas de circunferências corporais, estão relacionadas à futuras doenças e riscos à saúde, uma vez que também esteja relacionada a quantidade de gordura depositada em determinadas regiões do corpo. Entre as diversas técnicas existentes para determinação destes riscos, destacamos o "WHR" (Waist to Hip Ratio). O “WHR” ou “Razão Cintura‐Quadril”, será calculado através dos seguintes dados: a) Circunferência da cintura = C (cm) b) Circunferência do quadril = Q (cm) Relação Cintura ‐ Quadril = C / Q Estas medidas serão realizadas com uma fita métrica, obedecendo todas as normas e padronização das medidas de circunferências estabelecidas por Anthropometric Standardization Reference Manual. Os padrões de medidas são: Cintura: o avaliado deverá estar em posição ortostática, pés unidos e abdome relaxado. A medida será realizada no plano horizontal na região de menor circunferência, acima da cicatriz umbilical e logo abaixo da caixa torácica. A mensuração é realizada após uma expiração normal. Quadril: ao nível da maior circunferência em torno dos glúteos. MASCULINO IDADE (anos) 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 Baixo < 0,83 < 0,84 < 0,88 < 0,90 < 0,91 RISCO
Moderado
0,83 a 0,88
0,84 a 0,91
0,88 a 0,95
0,90 a 0,96
0,91 a 0,98
Alto
0,89 a 0,94
0,92 a 0,96
0,96 a 1,00
0,97 a 1,02
0.99 a 1,03
Muito alto > 0,94 > 0,96 > 1,00 > 1,02 > 1,03 Alto
0,78 a 0,82
0,79 a 0,84
0,80 a 0,87
0,82 a 0,88
0,84 a 0,90
Muito alto > 0,82 > 0,84 > 0,87 > 0,88 > 0,90 FEMININO IDADE (anos) 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 RISCO
Baixo < 0,71 < 0,72 < 0,73 < 0,74 < 0,76 Moderado
0,71 a 0,77
0,72 a 0,78
0,73 a 0,79
0,74 a 0,81
0,76 a 0,83
Fonte: Applied Body Composition Assessment, página 82. Ed. Human Kinetics, 1996. (Bray & Gray,1988b). 
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