REVOLUÇÕES NA REDE: MOVIMENTOS SOCIAIS LATINO AMERICANOS
NO CAMPO
Arthur Cassio de Oliveira Vieira e
Mayara Fernanda da Silva Santos1
Departamento de História - UFRN
A internet é hoje um dos principais meios de comunicação, utilizado em várias
partes do mundo e com finalidades diversas. No âmbito dos movimentos sociais, se
apresenta como um modo de promover a organização e dar uma maior visibilidade aos
mesmos, particularmente aos do campo, que trataremos neste estudo. Inseridos no
grande painel latino americano, analisaremos a utilização da rede mundial de
computadores na estruturação, divulgação e diálogo entre organizações que se
pretendem coordenadoras de movimentos sociais campesinos, como a CLOC
(Coordenadora Latino Americana das Organizações do Campo), e a Via Campesina.
Palavras-chave: internet, movimentos sociais, campo e organizações.
1 INTRODUÇÃO
Os movimentos sociais na América Latina vêm se popularizando cada vez mais.
E isso se dá, em grande parte, pela proliferação do uso da internet. Este campo se
apresenta como um novo tipo de fonte e meio de promover a pesquisa historiográfica. O
presente trabalho tem o objetivo de fazer uma reflexão sobre como a rede mundial de
computadores tem sido utilizada para uma maior e melhor articulação e divulgação de
movimentos sociais, especificamente em nossa pesquisa os do campo, como a CLOC
(Coordenadora Latino Americana das Organizações do Campo), e a Via Campesina.
Situamos nosso trabalho no horizonte teórico da História do tempo presente,
discutindo autores como Manuel Castells, que aborda questões sobre a informatização, a
internet e seus usos no contexto social. Dialogamos com os trabalhos dos autores
Antônio Fernando de Araújo Sá, Odillon Caldeira Neto e Karl Schurster, que tratam da
postura do historiador frente às novas implicações da historiografia, explicitando o
fenômeno da internet perante o homem e suas manifestações culturais, constituindo-se
como um novo objeto de estudo acadêmico. Utilizamos, também, a própria internet
como fonte, por meio dos sítios eletrônicos das organizações estudadas, a CLOC e a Via
Campesina. Neste caso, os objetos falando de si mesmos.
A partir da internet a prática histórica torna-se mais acessível, e o contato com
informações antes não tão difundidas se dá de maneira efetiva, como o caso da nossa
1
Graduandos do curso de História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, bolsistas do
projeto História da América através de fontes primárias, orientados pelo professor Doutor Sebastião Leal
Ferreira Vargas Netto.
temática. As revoluções na rede estão presentes, sobretudo, na vinculação de sites de
diversas organizações, que se pretendem coordenadoras de reivindicações sociais.
O site da CLOC apresenta links de diversas organizações rebeldes presentes nos
países latino-americanos, que utilizam o ciberespaço para divulgar suas lutas, objetivos,
propostas e críticas da realidade social. O sítio eletrônico conta ainda com um grande
acervo documental que reúne manifestos, declarações, cartas, discursos, entre outros.
A Via Campesina, que luta principalmente pelo direito à terra e representa os
trabalhadores rurais, possui um sítio eletrônico que também se caracteriza pela
existência de muita documentação e pelo diálogo de informações sobre a questão
agrária. Nesse contexto, fica evidente a nossa problematização sobre a nova maneira de
se inserir os movimentos sociais na contemporaneidade, ou seja, através da internet, a
tecnologia da comunicação.
2 REVOLUÇÕES NA REDE
A partir da chamada Revolução da informação, principalmente com a difusão da
internet, observa-se uma nova dinâmica no intercâmbio das informações, constituindo,
segundo Castells (1999), a sociedade em rede. Esta abriga os mais diversos
agrupamentos sociais, dentre eles as organizações que se pretendem coordenadoras de
movimentos sociais, que não poderiam situar-se aparte da evolução e inovação dos
meios de comunicação.
Os movimentos sociais que fervilham na América Latina, estão hoje cada vez
mais presentes em nossa realidade. E após o advento da internet, os mesmos se
tornaram mais populares e reconhecidos. Milhares de sítios eletrônicos se proliferam
todos os dias pela rede, e promovem uma maior acessibilidade de suas reivindicações
por parte de todos.
Podemos observar que, no mundo globalizado, torna-se difícil manter uma
construção identitária enraizada, devido ao grande fluxo de informações e a interação
cultural com várias partes do globo, principalmente no que se refere a internet, um
espaço onde tudo é rápido e volátil. Porém, as organizações coordenadoras de
movimentos sociais trilham o caminho exatamente oposto. Articulam as suas ações
coletivas e manifestam-se por meio da internet. Utilizam-se da mesma em busca de
promover a transformação de valores e das instituições sociais, ou seja, a internet acaba
por ser um espaço para a construção de uma ideal de luta social.
Por meio da internet as diversas organizações podem expor suas reivindicações e
conhecer também a luta de outras. Isso permite que a identidade coletiva da luta social
se torne mais forte. Sem a confluência de informações promovida pela internet, dentre
outros meios de comunicação, os movimentos sociais tenderiam a ser reduzidos, com
um único objetivo e limitados a uma pequena realidade. Com a rede mundial de
computadores, organizações antes locais passam agora a exercer influências no âmbito
internacional. Isso vai desde a articulação de idéias, passeatas e encontros, até mesmo
ao estabelecimento de alianças e a criação de uma rede de grupos de apoio. Desse
modo, configura-se uma nova maneira de estruturar os movimentos sociais, atuando na
consciência das pessoas, e não propriamente objetivando tomar o poder do Estado.
Trabalhar com a internet é, também, trabalhar com a História do tempo presente.
Esta propõe ao historiador um alargamento das fontes, passando a conceber objetos de
estudo, não antes explorados pela historiografia. Isso inclui o manejo com a internet
enquanto uma nova fonte. O acesso as informações na rede se dá de maneira muito
fácil, e é nisso que reside a virtude e o ponto mais crítico da pesquisa histórica por meio
da internet. Tudo obedece a uma dinâmica da aceleração e da busca de informações
cada vez mais rápidas, renovadas a cada segundo, o que se apresenta como uma
memória curta. O historiador deve estar sempre atento para as inovações da rede, e
saber distinguir as boas informações dentre tantas outras divulgadas no meio eletrônico.
O autor Antônio Fernando de Araújo Sá explicita essa questão da seguinte maneira:
“Interessa observar que muitos historiadores não têm
levado em consideração essa fonte nova, a Internet,
especialmente no que se refere aos aspectos teóricos e
práticos da forma como a história é representada no
formato digital. Apesar de termos mais perguntas que
respostas, a luta pela incorporação das possibilidades
das novas tecnologias à prática do historiador levanta
novas questões sobre os objetivos básicos e métodos do
nosso ofício. Um problema que ilustra a fragilidade da
evidência na era digital é o apagamento de arquivos e
sites da Internet. Assim, a simultânea fragilidade e a
heterogeneidade dos dados digitais precisam também de
uma reconsideração quanto à responsabilidade pela
preservação do passado e como podemos encontrar e
definir a evidência histórica.” (SÁ, 2009)
Para Caldeira Neto (2009), o fluxo de informações da internet se une em
complexo de reflexões sobre a idéia de presente e passado, promovendo uma interação
entre os meios virtuais e não virtuais na construção e mudança de uma memória social.
É a partir desses referenciais teóricos que encaminharemos a devida abordagem a
respeito da CLOC e da Via Campesina, enquanto movimentos sociais inseridos em
uma nova configuração e dinâmica da era da informação, sendo articulados como
objetos históricos do tempo presente.
2.1 CLOC (Coordenadora Latino Americana das Organizações do Campo)
A CLOC é uma organização que coordena os movimentos sociais da América
Latina ligados a questão do campo, que reivindica uma justa distribuição de terras
(reforma agrária), busca preservar a soberania da terra e dos territórios frente ao
agronegócio, a preservação do meio ambiente, os valores dos povos do campo, e lutam
contra a apropriação e privatização de terras por parte de grandes empresas e
multinacionais.
De acordo com o próprio site da CLOC, os primeiros passos para o
estabelecimento da organização se deram na Convergência regional que comemorava os
500 anos de resistência indígena, negra e popular. Tal evento foi convocado pelo MST
do Brasil e por movimentos indígenas e camponeses da região andina. Logo após essa
convergência, foi articulado I Congresso Latino Americano de Organizações do Campo,
em Lima, no Peru, em fevereiro de 1994. No mesmo foi instituída a criação da CLOC,
objetivando agrupar várias organizações camponesas, de sem-terras, agricultores,
indígenas e mulheres do campo de quase todos os países da América Latina e Caribe.
A luta da CLOC no campo é de relevante importância frente à geopolítica atual.
A organização está sempre presente e atuante em diversas reuniões dos grandes
administradores mundiais, ratificando a significância do desenvolvimento sustentável,
da soberania da terra e das sementes. Segundo a CLOC, as sementes deveriam ser
consideradas patrimônio da humanidade, sendo proibida, portanto, a sua
comercialização. As novas tecnologias do trato com a terra também são criticadas,
principalmente, a questão dos transgênicos. Opõe-se, dessa maneira, a exploração dos
recursos naturais, como a água, terra e ar, por grandes empresas e organizações
mundiais.
Não é só pela proteção ambiental que luta a CLOC, suas reivindicações se
estendem também ao campo político. A organização é contra a implantação da ALCA
(Área de Livre Comércio das Américas), dos TCLs (Tratados de Livre Comércio), e a
política expansionista e de dominação econômica promovida pelos Estados Unidos e a
União Européia. A organização atesta que estas políticas neoliberais, visam explorar em
todos os sentidos os países subdesenvolvidos, principalmente, seus elementos naturais.
Seguem-se alguns dos movimentos que participam da CLOC: o Movimento de
Trabalhadores Rurais Sem Terra do Brasil (MST), Movimento dos Atingidos por
Barragens (MAB), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag),
Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais (ANMTR), Comissão Pastoral
da Terra (CPT), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); Confederação Sindical
de Colonizadores da Bolívia (CSCB/FTC); Associação Nacional de Mulheres Indígenas
(Anamuri), no Chile; Confederação Nacional Sindical Camponesa e Indígena do Chile
(Nehuen); Associação de Trabalhadores do Campo, na Nicarágua; Movimento
Camponês de Santiago del Estero (Mocase), na Argentina; Federação Nacional de
Organizações Camponesas Indígenas e Negras do Equador (Fenocin), no Equador;
Confederação Única Nacional de Afiliados ao Seguro Camponês (Confeu-NASSC);
Associação Nacional de Agricultores Pequenos (ANAP), em Cuba; União Nacional de
Organizações Regionais Camponesas Autônomas (Unorca), no México; Central
Independente de Operários Agrícolas e Camponeses (CIOAC); Mesa Nacional
Camponesa, em Costa Rica; Movimento Camponês Paraguaio (MCP); Coordenadoria
Nacional Indígena e Camponesa (CONIC), na Guatemala; Confederação Camponesa do
Peru (CCP); Confederação Nacional de Mulheres do Campo (Conamuca), na República
Dominicana; Associação Nacional de Usuários Camponeses Unidade e Reconstrução
(Anucur), na Colômbia; Federação Nacional Sindical Unitária Agropecuária
(Fensuagro); entre outros.
A partir do contexto da era da informatização a CLOC passa a utilizar a internet
como um mecanismo para agrupar os movimentos já citados e ainda outros em torno de
lutas e ideais comuns. Isso é possível devido a praticidade e rapidez da rede mundial de
computadores, que permite que informações sejam lançadas e compartilhadas por
diversas organizações ao mesmo tempo, formando uma identidade produzida pela nova
dinâmica dos movimentos sociais contemporâneos.
Vários eventos promovidos pela CLOC já tiveram sua divulgação e organização
por meio da internet. Isto nos remete a um modo de interação entre as novas tecnologias
e o homem. É o caso de se utilizar novos mecanismos como apoio, tendo em vista que o
principal é o presencial, a promoção de encontros, reuniões e assembléias. A internet é,
assim, o espaço da aproximação não só dos ideais, mas também das pessoas, tendo em
vista que, segundo Castells, as reuniões presenciais e as ações unitárias localizadas são
meios indispensáveis para conseguir que as mudanças sociais sejam levadas a cabo.
O sítio eletrônico da CLOC possui links organizados por regiões, o cone sul, a
região andina, a centro América, o Caribe e a norte América, que remetem aos
movimentos sociais atuantes em cada uma das regiões citadas. A partir do site podemos
migrar para as mais diversas plataformas e endereços eletrônicos de todas as
organizações filiadas. Em sua página inicial, vinculam-se as informações de congressos
e encontros vindouros. Há todo um acervo documental produzido e disponibilizado pelo
site, que conta com manifestos, publicação de boletins, cartas, pronunciamentos,
discursos, entre outros. Outro link é chamado “Acerca de CLOC”, no qual encontramos
toda uma descrição do que é a CLOC, pelo que luta, e sua história ao longo desses mais
de dez anos. Também são divulgados vários boletins de intercâmbio, que convidam os
ativistas dos diversos movimentos vinculados a CLOC, a participarem de suas reuniões,
congressos e manifestações. Cabe ressaltar ainda, que há alguns sites que são
vinculados ao site da CLOC, como é o caso do sítio eletrônico da Via Campesina e do
Grito dos Excluídos.
Desse modo a CLOC escreve a sua história em nossa contemporaneidade, na
busca da construção de um novo modelo social na América Latina. Sem exclusão, sem
desigualdades sociais e sem exploração do homem e da terra. Correspondendo-se dessa
forma, diretamente com a Via Campesina, pelo fato de esta ter sido incitada pela CLOC,
no âmbito da luta contra a mundialização neoliberal.
2.2 Via Campesina
A Via Campesina é um movimento internacional de trabalhadores do campo. A
mesma foi impulsionada pela CLOC e nasceu em 1992, porém só veio a efetivar-se em
maio de 1993, com a realização da I Conferência em Mons, na Bélgica, onde se
discutiram os objetivos e as pautas gerais sobre como seria estruturada a organização.
Atua em várias partes do globo, incluindo o Leste e o Oeste Europeu, o nordeste e
sudeste da Ásia, a América do Norte, Caribe, América Central, América do Sul e
África.
A luta da Via Campesina é por: soberania alimentar, na busca de uma agricultura
camponesa que alimente os povos e não as máquinas mercantilistas; mudança no padrão
dos costumes, como por exemplo, a utilização de meios de transportes mais eficazes e
menos poluentes; a reforma agrária, de modo a disponibilizar terras para o cultivo e a
produção alimentícia; o respeito às mulheres e a busca da paridade de gênero como
forma de transformação da sociedade; direito à semente e água enquanto patrimônios
dos povos, sendo contra a privatização delas e a produção de transgênicos; e, a presença
da juventude atuante no campo, como uma maneira de renovar e impulsionar a
produção agrícola camponesa. Lutam também pelos direitos humanos e contra a
criminalização dos movimentos sociais.
A Via Campesina é um movimento pluralista e multicultural, pois alcança uma
vasta extensão territorial, e é nisso que reside a importância fundamental de organizarse por meio da internet, expandindo seus ideais de atuação nos campos políticos,
econômicos, tecnológicos e de gênero nas sociedades. Essa atuação pode se dá de
maneira efetiva, levando em consideração o grande poder organizacional dos
movimentos associados, que possuem várias propostas de intervenção na política social,
com as quais se pretende fortalecer suas organizações a ponto de as mesmas
influenciarem nas decisões do governo.
Embora sua bandeira esteja vinculada ao site da CLOC, a Via Campesina, possui
um site próprio, no qual encontramos a divulgação dos eventos relacionados à sua luta,
links que nos levam a conhecer sua história, seu objetivos, conferências, notícias e
diversas publicações, incluindo documentos políticos, dossiês, manifestos,
convocatórias, entre outros. No link “organização” obtemos informações sobre toda a
organização da Via Campesina, o que é, como foi criada, com que objetivos, pelo que
luta, os eventos importantes, como trabalha e quais são as suas prioridades. O site
também divulga histórias exitosas, de lutas e reivindicações que foram bem sucedidas.
No link “ações e eventos”, temos acesso a informações sobre encontros, manifestações,
reuniões e passeatas, juntamente com fotos dos eventos.
A Via Campesina já realizou cinco conferências. A primeira foi em 1993, em
Mons, na Bélgica, onde se instituiu a criação do movimento. A segunda aconteceu em
Taxcala, no México em 1996. A terceira conferência foi realizada no ano 2000, em
Bangalore, na Índia. A quarta se realizou em São Paulo, em 2004. E a quinta e última
até então, aconteceu na cidade de Maputo em 2008. Todas elas debatendo sobre as
questões pertinentes ao homem do campo e suas necessidades, pensando em uma
maneira de pôr em prática a tão necessária reforma no âmbito geral, e, especialmente, a
agrária.
No âmbito da geopolítica mundial, nota-se um embate entre os ideais da Via
Campesina e as práticas da OMC (Organização Mundial do Comércio), havendo
inclusive, um dia internacionalmente dedicado a luta contra esta organização, que é o
dia 10 de setembro. Desse modo, lutam pela retirada da OMC dos debates e negociações
agrícolas. Nesse caso a Via Campesina atua organizando mobilizações de protesto
durante as reuniões da OMC.
Os assuntos mais abordados e discutidos pela Via Campesina são as questões
ligadas à política neoliberal. Os novos parâmetros sociais exigem uma nova maneira de
se praticar a exploração agrícola, reavaliando o desgaste natural, a privatização das
sementes e a questão dos agrotóxicos. Segundo a Via Campesina, o capitalismo
financeiro e as multinacionais dominam o mercado da produção, por meio de uma
exploração desenfreada das matérias-primas e dos recursos naturais, o que finda por
causar a crise dos alimentos, da energia, do clima e das finanças.
Outro ponto bastante tratado pela referida organização, é a questão da
criminalização dos movimentos sociais. Busca-se reverter a imagem pejorativa que é
vinculada a qualquer ativista ou movimento social, objetivando inclusive a declaração
dos direitos dos camponeses e camponesas na ONU (Organização das Nações Unidas).
Tratando-se da Via Campesina, a questão identitária é ainda mais complexa, pois
é um movimento que coordena diversos outros movimentos, espalhados por todo o
mundo, o que compreende culturas diferentes. Porém, as realidades e necessidades são
praticamente as mesmas, o que permite uma maior identificação com os ideais
propagados na rede. Utilizar a rede é globalizar um movimento que é, em sua essência,
local ou regional, expandindo seus domínios e implicações sociais. Referindo-se a essa
questão, Castells infere:
“Os processos de mudança social conflituosa na era da
informação giram em torno dos esforços para
transformar as categorias de nossa existência,
construindo redes interactivas como formas de
organização e mobilização. Estas redes, que surgem da
resistência de sociedades locais, propõem-se vencer o
poder das redes globais para assim reconstruir o mundo
a partir de baixo. A internet proporciona a base material
que permite a estes movimentos mobilizarem-se na
construção de uma nova sociedade. Porém, neste
processo, transformam a própria natureza da internet: de
uma ferramenta organizativa da empresa e um meio de
comunicação passa a converter-se, além disso, numa
alavanca de transformação social (...)” (CASTELLS,
2004, p.173-174)
Assim, observamos que a Via Campesina, como também outros movimentos
sociais da América Latina, desfruta do espaço cibernético para materializar o ideal de
luta social dos mesmos, sendo hoje um dos principais movimentos atuantes no âmbito
internacional para construção de uma nova realidade, pois como explicita Castells, a
internet é uma “Teia de Alcance Mundial”.
3 CONCLUSÃO
Em nosso trabalho, discutimos sobre a presença de movimentos sociais na
internet e articulação deles na rede. É visível a importância dessa utilização para
ampliação, efetivação e até mesmo sobrevivência da luta social, levando em
consideração que vivemos em um mundo globalizado, onde tudo acontece muito rápido,
e aqueles que não acompanham a evolução dos tempos e da informação ficam relegados
ao esquecimento.
Os movimentos estudados, a CLOC e a Via Campesina, são elementos do que se
apresenta como a História do tempo presente, ou seja, são sujeitos sociais que estão
inseridos e atuantes em sua contemporaneidade, construindo e fazendo História. São,
efetivamente, atores sociais. O que fica explícito ao se tomar os sítios eletrônicos das
organizações como fonte, nos quais se apresentam os movimentos explicados por eles
mesmos.
A utilização da internet como suporte do saber, se deve principalmente, ao
alargamento das fontes, subsídio que nos é dado pela já citada História do tempo
presente. Campo historiográfico novo e que trabalha com uma linha do tempo cada vez
mais reduzida e acelerada, tendo em vista que em nosso tempo, tudo se processa de
maneira mais rápida, tendo como conseqüência, a constante renovação das informações.
A questão identitária vinculada aos movimentos sociais é uma realidade que
precisa ser explorada de maneira cada vez mais incisiva pelas ações coordenadoras, para
que haja uma maior e melhor possibilidade de consolidar a luta. Vale ressaltar a idéia de
identidade relacionada com a nova maneira de construí-la dentro desse novo contexto
informacional, onde se tem o compartilhamento de propósitos comuns a esses
movimentos. Os processos de resistência e rebeldia lançados na rede configuram-se,
portanto, como um novo modo de estruturar e organizar as lutas sociais.
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