TRIBUNA SINDICAL FILIADO À FSM Uma publicação da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil editorial Pelo fim de uma herança neoliberal Um dos maiores retrocessos impostos à classe trabalhadora pelo governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso foi o odioso fator previdenciário. Trata-se, a bem da verdade, de um mecanismo astucioso bolado para reduzir o valor das aposentadorias, usando como pretexto a elevação da perspectiva de vida dos brasileiros, aprovado pelo Congresso em 1999 no corpo de uma reacionária reforma da Previdência. Efetivamente, o fator reduz entre 25% a 40% o valor dos benefícios, que já são reconhecidamente baixos. É uma violência contra a classe trabalhadora, desferida por um governo que se revelou ferrenho inimigo dos movimentos sociais e dos interesses populares e nacionais. O movimento sindical nunca respaldou o redutor e sempre lutou para resgatar as regras para aposentadoria anteriores a 1999. No 1º de Maio unificado deste ano em São Paulo e outros estados, as centrais reiteraram a defesa do fim do fator previdenciário e a valorização das aposentadorias como uma prioridade em sua agenda de luta. Os trabalhadores conseguiram sensibilizar a maioria do Congresso Nacional, contemplando com isso a reivindicação das centrais e do conjunto do movimento sindical brasileiro. O obstáculo, contudo, não reside no Parlamento, mas no Palácio do Planalto. O fim do fator chegou a ser aprovado pelas duas casas do Congresso em 2010, mas o ex-presidente Lula usou o direito de veto para anular a decisão. Amarrado a concepções alarmistas e conservadoras sobre o tema, o governo federal é contra o fim do fator e pressionou os congressistas a protelar a decisão sobre a matéria para agosto. Considerando o calendário eleitoral, o mais provável é que, na prática, a deliberação seja adiada para 2013. O impasse é óbvio e o movimento sindical tem interesse em resolvê-lo, mas o primeiro passo no sentido de uma solução é a votação do fim do fator previdenciário. A CTB não abre nem pode abrir mão deste objetivo. Seja como for, é imprescindível mobilizar as bases e ampliar nossa luta, pois sem pressão social o assunto tende a ser empurrado com a barriga e jogado para as calendas gregas. Wagner Gomes Presidente nacional da CTB Nº 37 - ANO III - JULHO DE 2012 FATOR PREVIDENCIÁRIO Pela valorização da classe trabalhadora No final de junho, voltou com força ao noticiário o debate sobre o fim do fator previdenciário. Em meio às discussões no Congresso Nacional e no movimento sindical, a CTB reafirma sua posição, de total contrariedade a esse artifício que penaliza há mais de uma década a classe trabalhadora. LEIA MAIS NAS PÁGINAS 2 E 3 Foto Nublog CTB está ao lado da massa, contra qualquer retrocesso FUNCIONALISMO PÚBLICO: A GREVE CONTINUA | PáGina 4 w w w.c t b.o rg.b r LUTA SINDICAL Trabalhadores continuam na luta por Continua a batalha da CTB no Congresso Nacional pelo fim do fator previdenciário. O injusto cálculo, que prejudica os trabalhadores brasileiros em vias de se aposentar, teve novos desdobramentos no final do mês de junho, quando o governo federal anunciou que jogaria para agosto a entrada da extinção do fator na pauta da Câmara dos Deputados. O anúncio foi feito após reunião dos líderes da base do governo e os ministros da Fazenda, Guido Mantega; da Previdência, Garibaldi Alves; e de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. A decisão foi criticada pelo dirigente da CTB e deputado federal Assis Melo (PCdoB-RS). “A manobra do governo frustra a expectativa dos trabalhadores, ao jogar a votação do fator previdenciário para agosto. Sabemos que no segundo semestre existe a diminuição do ritmo do Par- lamento, tendo em vista as eleições municipais. Ou seja, esse debate volta apenas em 2013, se houver muita pressão dos trabalhadores”, avalia. Instituído em 1999, o fator trouxe uma economia de R$ 10 bilhões para os cofres públicos, porque estabeleceu uma fórmula que pune especialmente quem começou a trabalhar mais cedo. A tabela do fator leva em conta a idade, o tempo de contribuição e a expectativa de vida. Quanto mais jovem a pessoa se aposenta, menor é o benefício. Alternativas para o fator Desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva, têm sido discutidas alternativas para o fator previdenciário. Uma delas refere-se à fórmula 85/95. De acordo com a proposta, o fator previdenciário deixa de incidir sobre o salário do contribuinte quan- do a soma da idade e do tempo de contribuição do segurado atingir 95 anos para os homens, e 85 anos para as mulheres. Por exemplo, um homem que começa a trabalhar e contribuir para a Previdência Social aos 18 anos, poderá se aposentar antes dos 57 anos, sem redução, se tiver contribuído por todo esse tempo. Wagner Gomes, presidente da CTB Nacional, alerta que é preciso analisar um substitutivo que não lese os trabalhadores. “Se substituirmos o fator pela fórmula 85/95 vamos continuar prejudicando quem entrou no mercado de trabalho mais jovem, ou seja, os trabalhadores de baixa renda. Não podemos ser favoráveis a um critério injusto. No entanto, temos que encontrar uma saída. Mas antes de tudo, é preciso aprovar o fim do fator previdenciário”, ressaltou. À época, quando a proposta foi apresentada, a CTB foi a única central que se posicionou contra a implantação do novo cálculo. Essa opinião é reforçada pelo secretário de Política Sindical e Relações Institucionais da CTB, Joílson Cardoso. Segundo ele, não há motivo para existir qualquer tipo de fator previdenciário. “Uma coisa é criar uma nova regra para quem está entrando no sistema, outra é mudar a regra do jogo e prejudicar quem contribuiu com ele há anos”, alerta o sindicalista. “A regra 85/95 também é muito prejudicial para os trabalhadores porque se for aplicada em todos os setores, algumas categorias serão mais prejudicadas que outras, como é o caso dos trabalhadores da construção civil ou de ocupações afetadas pela alta rotatividade. Para equilibrar esses prejuízos, temos que criar CTB defende diálogo aberto www.ctb.org.br tribuna sindical Outro ponto que entra nessa discussão sobre o fator previdenciário é a questão da média curta, cujo cálculo é baseado no valor do benefício sobre os últimos 36 meses – algo que, na opinião dos sindicalistas, também é uma injustiça, pois prejudica a maioria dos trabalhadores, em especial os de baixa renda. “Atualmente, quem tem condições financeiras aumenta o valor da contribuição nos últimos 36 meses para se aposentar com um valor significativo. Mas o trabalhador de baixa renda, que tem seu ápice profissional entre os 30 e 40 anos, fica prejudicado à época de se aposentar, porque seu rendimento caiu significativamente”, lembrou 2 Joílson Cardoso. Insatisfeitos com o adiamento da votação, sindicalistas da CTB afirmam que estão abertos ao diálogo e esperam da presidenta Dilma um posicionamento favorável à classe trabalhadora. “A presidenta já demonstrou grandes iniciativas com diversos setores da sociedade, entre eles, o bancário e o empresarial. Agora chegou a hora de reconhecer o valor do trabalhador brasileiro. E nesse contexto, a CTB nunca será a favor que qualquer medida que retarde a aposentadoria, prejudicando sobremaneira a classe trabalhadora”, declarou o secretário de Política Sindical da Central. Para o Deputado Assis Melo o adiamento da votação frustou os trabalhadores Tribuna Sindical é uma publicação da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil. Av. Liberdade, 113, Liberdade, CEP 01503-000, São Paulo, SP. Tel.: (11) 3106.0700. Site: www.ctb.org.br. Endereço eletrônico: imprensa@ portalctb.org.br. Presidente: Wagner Gomes. Secretário de Imprensa e Comunicação: Eduardo Navarro. Equipe: Cinthia Ribas, Fernando Damasceno, Láldert Castello Branco e Paula Farias. Projeto gráfico e diagramação: Márcio Lima. Impressão e acabamento: LWC Gráfica. Notas rápidas uma aposentadoria justa Representação O vice-presidente da CTB, Vicente Selistre, tomou posse como deputado federal em Brasília no dia 3 de julho. Suplente na coligação entre o PCdoB e o PSB no Rio Grande do Sul, o dirigente ocupará o cargo ao menos até o mês de outubro, por conta da licença da deputada Manuela D’Ávila, que concorrerá à Prefeitura de Porto Alegre. Confirmação Após ser adiada no começo do ano, o governo federal confirmou para 8 a 11 de agosto, em Brasília, a 1ª Conferência Nacional de Trabalho e Emprego Decente, com a participação de delegados dos trabalhadores, do empresariado e do Executivo. Preparação Por conta da Conferência, será realizada em São Paulo uma reunião preparatória para discutir os temas ligados ao trabalho decente. O encontro, marcado para os dias 30 e 31 de julho, reunirá representantes das centrais sindicais no Hotel Excelsior, no centro da capital paulista. “Não se pode mudar as regras no meio do jogo”, afirmou Joílson Cardoso mecanismos que protejam esses trabalhadores”, declarou Cardoso. No caso da alta rotatividade, uma saída, ainda de acordo o cetebista, seria aliar a medida à Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que impede a de- missão imotivada. “Se não criarmos mecanismos de proteção, esses trabalhadores correm o risco de chegar aos 70 anos para conseguir se aposentar com o valor integral. No Brasil há ocupações muito penosas e com rotatividade muito grande. Quem vai proteger essas categorias?”, indagou o sindicalista, que faz parte do Grupo de Trabalho (GT) que há meses tenta elaborar uma proposta que atenda aos interesses da classe trabalhadora, sem correr o risco do veto da presidenta Dilma Rousseff. Formação O Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES) realizará entre 16 e 20 de julho, em Guarulhos (SP), o Curso Nacional de Formação de Lideranças Sindicais. Inscrições podem ser feitas pelo telefone (11) 3101-5120. de, a aplicação do fator é opcional – dessa, forma, o artifício é usado apenas quando aumenta o valor da aposentadoria. Quanto maior a idade do beneficiário no momento do pedido de aposentadoria, maior o fator previdenciário – e, portanto, maior o valor do benefício. Herança neoliberal dos tempos do governo de Fernando Henrique Cardoso, o fator previdenciário é calculado a partir de uma fórmula praticamente incompreensível, conforme atesta a figura ao lado. www.ctb.org.br O cálculo do fator previdenciário leva em conta a idade, o tempo de contribuição, a expectativa de sobrevida e a média dos 80% maiores salários de contribuição desde 1994. Na prática, o fator reduz o valor do benefício de quem se aposenta por tempo de contribuição antes de atingir 65 anos, no caso de homens, ou 60, no caso das mulheres. O tempo mínimo de contribuição para aposentadoria é de 35 anos para homens e 30 para mulheres. Para quem se aposenta por ida- tribuna sindical Para entender o fator previdenciário 3 SERVIÇO PÚBLICO Paralisação completa um mês e mobiliza 450 mil trabalhadores No dia 5 de junho, mais de 15 mil trabalhadores do funcionalismo público federal marcharam em Brasília, ocupando as ruas da Esplanada dos Ministérios em prol da valorização da categoria e pela qualidade dos serviços prestados à população. Diante do quadro de impasse por parte do governo federal, 31 entidades sindicais com atuação no do setor público federal – entre elas a CTB e mais duas centrais sindicais – deflagraram, por unanimidade, a greve unificada da categoria. Desde o dia 11 de junho, já são cerca de 450 mil trabalhadores do serviço público federal em greve, atingindo diversos órgãos. A adesão se espalha a cada dia de forma quase que simultânea por várias regiões do país, na maior greve da categoria desde 2003 – e mesmo diante desse cenário o governo federal tem evitado o diálogo. “Nós conversamos por várias vezes com o governo, mas todas as propostas de negociações foram recusadas e não houve nenhuma contraproposta”, comentou João Paulo Ribeiro, secretario de Serviços Públicos e do Trabalhador Público da CTB. Entre as reivindicações da categoria está a exigência da reestruturação de carreira e da tabela remunerativa, a paridade entre os aposentados e pensionistas e data-base para o dia 1º de maio, reajuste de 22,08% (referente à inflação acumulada mais a variação do PIB desde 2010), definição de políticas salariais permanentes, além do cumprimento, por parte do governo, dos acordos firmados em negociações passadas e que ainda não foram cumpridos. A greve unificada segue organizada, forte, bem estruturada e pressionando o governo. “Estamos organizados e denunciando o descaso do governo federal com os trabalhadores dos serviços públicos e a desvalorização que a catgoria enfrenta. O governo usa a meritocracia como forma de administrar o setor sem prestar atenção na gestão pública e no papel do estado para sociedade”, afirma o dirigente da CTB. Quanto ao andamento da greve, a situação é delicada e não há previsão para acabar, já que setores do Ministério do Planejamen- to dizem que ainda não podem avançar nas negociações. “A CTB espera que o governo se sensibilize com a situação dos trabalhadores e precariedade do setor público. Porque essa desvalorização da categoria se reflete diretamente nos serviços prestados à população”, finaliza JP. www.ctb.org.br tribuna sindical Estudantes saem em apoio à greve nas universidades 4 A greve dos professores universitários federais atinge 56 das 59 instituições de ensino, em mais de 40 dias de paralisação, segundo balanço divulgado na primeira semana de julho. A principal reivindicação dos docentes é a reestruturação da carreira, com a inclusão de 13 ní- veis de remuneração (atualmente são 17), variação salarial de 5% e piso de R$ 2.329,35 para 20 horas semanais de trabalho – hoje, o valor é de R$ 1.597,92. Os professores pedem ainda melhores condições de trabalho e infraestrutura e criticam o processo de “precarização” vivido pelas universida- des, como consequência, principalmente, do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) – criado pelo governo federal em 2007. Diante do quadro de greve, boa parte dos estudantes também resolveu aderir ao movimento, em solidariedade a seus professores e se mobilizando também pela melhoria na educação pública. “O momento é importante não só para defender os professores, mas também para reivindicar melhorias reais na educação”, defendeu Daniel Iliescu, presidente nacional da UNE.