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Terça-feira
8 de Dezembro de 2015
Jornal do Comércio - Porto Alegre
Política
IMPEACHMENT
Suspeitas na Mega-Sena
O último concurso da Mega-Sena, em que um sortudo brasiliense levou a bolada de R$ 205 milhões, foi o terceiro a levar
ao prêmio a capital federal. Brasília já ganhou R$ 320 milhões
só de megas-senas em 2015. Em volume de dinheiro, é a cidade
que mais ganhou no Brasil. Nesse sorteio, pouco antes da Caixa
anunciar a existência de um ganhador, disse que o prêmio havia
acumulado mais uma vez. Foi o suficiente para a internet enlouquecer. Apareceu nas redes sociais uma imagem com os números vencedores e um texto dizendo que a lotérica aonde foi feita
a fezinha não existe. Imagem falsa, assim como as informações.
Mesmo assim, o papo de fraude continuou. A Federação Brasileira das Empresas Lotéricas, Febralot, e os sindicatos estaduais soltaram uma nota desmentindo tudo. “A Federação Febralot espera
um comportamento profissional e ético dos empresários lotéricos,
e entende que têm o direito de exigir respeito e dignidade na veiculação e compartilhamento de conteúdo na web, quando se desconhece a origem dos dados, na finalidade de reduzir a propagação de boatos”. O último sorteio, no sábado, também acumulou.
Antigas suspeitas
PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO/JC
A nota não foi suficiente para diminuir as suspeitas de fraude. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR, foto)
enviou à presidente da Caixa, Miriam Belchior, um ofício pedindo
explicações sobre as suspeitas. Ele
diz ter recebido em seu gabinete
milhares de mensagens com protestos sobre o mais recente sorteio.
Segundo o senador, está também
em curso um movimento popular para boicotar casas lotéricas.
É a segunda vez que Alvaro Dias denuncia as supostas fraudes
nas lotéricas. “Em 2004 e em 2005, especialmente em 2005, denunciei desta tribuna, com base em informações sigilosas fornecidas pelo Coaf, que cidadãos brasileiros, com muita sorte,
ganhavam muitas vezes na loteria. Denunciamos que um deles
chegou a ganhar 525 vezes.”
A pauta é outra
As preocupações de Alvaro Dias terão que esperar. Um ofício já chegou à mesa dos deputados tucanos para discussão
sobre o tema, mas ainda nada foi estudado. Há conversas de
transformar uma representação do ex-senador Sérgio Zambiasi (PTB) pedindo o registro do CPF no jogo em projeto de lei.
Mas, como as prioridades são outras: impeachment de Dilma e
afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha, a elaboração da proposta está nos seus estágios iniciais.
Nova área de investigação
Assim como a Petrobras e a Eletrobras, a Caixa, responsável pelas lotéricas, poderá revelar algo do submundo da política brasileira. “É uma nova área de investigação que pode render muita coisa”,
diz o cientista político da Universidade de Brasília David Fleischer.
Eduardo Cunha adia para
hoje a eleição de comissão
Oposição e PMDB resolvem lançar chapa contrária a Dilma Rousseff
ALEX FERREIRA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC
Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (c) reuniu líderes partidários para tomar a decisão
U
ma manobra de parlamentares da oposição,
com aval do presidente
da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
postergou a eleição da comissão
especial que analisará o pedido de
impeachment contra a presidente
Dilma Rousseff (PT). O adiamento ocorreu no mesmo dia em que
Dilma anunciou querer que o Congresso decida sobre o impeachment “o mais rápido possível”.
A indicação e a escolha da
chapa com 65 deputados seria realizada ontem às 18h, mas ficou
para hoje às 14h depois de opositores articularem a eleição de uma
chapa alternativa. A intenção é
evitar que líderes dos partidos da
base governista que têm deputados com posições divergentes indiquem apenas integrantes alinhados ao Palácio do Planalto para
barrar o processo. O primeiro racha foi na bancada do PMDB, depois de o líder, Leonardo Picciani
(RJ), defensor declarado de Dilma,
sinalizar que não reservaria vagas
para deputados pró-impeachment.
A indicação dos nomes e a escolha dos integrantes da comissão
deverão ocorrer às 14h desta terça-feira, o que pode esvaziar também a sessão do Conselho de Ética
e Decoro Parlamentar programada para votar o relatório preliminar do processo contra Eduardo
Cunha no mesmo horário.
Aliados de Cunha, como o deputado Paulinho da Força (SD-SP),
retiraram as indicações que já haviam sido feitas e vão apresentar
nomes apenas na chapa paralela, nesta terça-feira. Segundo Paulinho, quando há divergências
numa bancada pode haver candidaturas avulsas apresentadas pelos deputados e outra feita pelo líder. Ele disse que a chapa paralela
poderá ser registrada com no mínimo 33 nomes e forçar uma disputa eleitoral.
“Os líderes indicam seus nomes e formam uma chapa. Mas
dentro das suas bancadas pode-se fomentar que parlamentares
formem uma segunda chapa. Está
permitida uma briga interna de
cada bancada”, disse Sibá Machado, líder do PT. “É inaceitável. Eu
abandonei a reunião de líderes.
Está tudo contaminado. Nós temos uma única chapa. Essa his-
tória de chapa avulsa tem o dedo
dos tucanos para criar problema.
Hoje (ontem) à noite seria quase
uma aclamação.”
Para o líder do PMDB, a decisão de ontem indica um começo
“ruim” e “grave” na análise do
processo de impeachment contra Dilma Rousseff. Picciani alertou que a manobra articulada por
Cunha e deputados de oposição
pode permitir que a comissão fique indefinidamente sem instalação — medida que atingiria justamente o objetivo de protelar a ação
e deixar a presidente enfraquecida
por mais tempo. “Deveria se prezar pela estabilidade das decisões
do colégio de líderes para que a comissão pudesse legitimamente se
instalar e iniciar esse debate”, afirmou o peemedebista.
Picciani foi o alvo da estratégia adotada na tarde de ontem, já
que está reticente em indicar nomes pró-impeachment. Peemedebistas da ala mais rebelde chegaram a articular a destituição do
líder, mas, de acordo com Picciani,
a medida não vingou. “Eu continuarei líder prezando pela estabilidade e pelo bom senso”, afirmou.
Dilma propõe cancelar recesso parlamentar do Congresso
A presidente Dilma Rousseff
(PT) defendeu ontem que o recesso
do Congresso seja suspenso para
julgar o pedido de impeachment
e outros “assuntos” pendentes,
como medidas do ajuste fiscal.
“Numa situação de crise política e econômica como essa em que
vivemos, acho que seria importante que o Congresso fosse convocado. Não é correto que o País fique
em compasso de espera”, afirmou.
A presidente também defendeu
que os congressistas folguem entre
o Natal e o Ano Novo.
Assim como a presidente, líderes da base aliada querem acelerar
o desfecho do processo de impeachment, mas também defendem
uma pausa nos trabalhos para as
festas de final de ano. A estratégia
do governo para acelerar o deba-
te foi discutida ontem em reunião
entre líderes e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini
(PT), no Palácio do Planalto.
Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), “a
opinião da maioria dos líderes” é
de interromper momentaneamente os trabalhos, durante as festas
de final de ano, e retomar as votações no início de janeiro.
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Eduardo Cunha adia para hoje a eleição de comissão