16 Terça-feira 8 de Dezembro de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política IMPEACHMENT Suspeitas na Mega-Sena O último concurso da Mega-Sena, em que um sortudo brasiliense levou a bolada de R$ 205 milhões, foi o terceiro a levar ao prêmio a capital federal. Brasília já ganhou R$ 320 milhões só de megas-senas em 2015. Em volume de dinheiro, é a cidade que mais ganhou no Brasil. Nesse sorteio, pouco antes da Caixa anunciar a existência de um ganhador, disse que o prêmio havia acumulado mais uma vez. Foi o suficiente para a internet enlouquecer. Apareceu nas redes sociais uma imagem com os números vencedores e um texto dizendo que a lotérica aonde foi feita a fezinha não existe. Imagem falsa, assim como as informações. Mesmo assim, o papo de fraude continuou. A Federação Brasileira das Empresas Lotéricas, Febralot, e os sindicatos estaduais soltaram uma nota desmentindo tudo. “A Federação Febralot espera um comportamento profissional e ético dos empresários lotéricos, e entende que têm o direito de exigir respeito e dignidade na veiculação e compartilhamento de conteúdo na web, quando se desconhece a origem dos dados, na finalidade de reduzir a propagação de boatos”. O último sorteio, no sábado, também acumulou. Antigas suspeitas PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO/JC A nota não foi suficiente para diminuir as suspeitas de fraude. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR, foto) enviou à presidente da Caixa, Miriam Belchior, um ofício pedindo explicações sobre as suspeitas. Ele diz ter recebido em seu gabinete milhares de mensagens com protestos sobre o mais recente sorteio. Segundo o senador, está também em curso um movimento popular para boicotar casas lotéricas. É a segunda vez que Alvaro Dias denuncia as supostas fraudes nas lotéricas. “Em 2004 e em 2005, especialmente em 2005, denunciei desta tribuna, com base em informações sigilosas fornecidas pelo Coaf, que cidadãos brasileiros, com muita sorte, ganhavam muitas vezes na loteria. Denunciamos que um deles chegou a ganhar 525 vezes.” A pauta é outra As preocupações de Alvaro Dias terão que esperar. Um ofício já chegou à mesa dos deputados tucanos para discussão sobre o tema, mas ainda nada foi estudado. Há conversas de transformar uma representação do ex-senador Sérgio Zambiasi (PTB) pedindo o registro do CPF no jogo em projeto de lei. Mas, como as prioridades são outras: impeachment de Dilma e afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, a elaboração da proposta está nos seus estágios iniciais. Nova área de investigação Assim como a Petrobras e a Eletrobras, a Caixa, responsável pelas lotéricas, poderá revelar algo do submundo da política brasileira. “É uma nova área de investigação que pode render muita coisa”, diz o cientista político da Universidade de Brasília David Fleischer. Eduardo Cunha adia para hoje a eleição de comissão Oposição e PMDB resolvem lançar chapa contrária a Dilma Rousseff ALEX FERREIRA/CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (c) reuniu líderes partidários para tomar a decisão U ma manobra de parlamentares da oposição, com aval do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), postergou a eleição da comissão especial que analisará o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). O adiamento ocorreu no mesmo dia em que Dilma anunciou querer que o Congresso decida sobre o impeachment “o mais rápido possível”. A indicação e a escolha da chapa com 65 deputados seria realizada ontem às 18h, mas ficou para hoje às 14h depois de opositores articularem a eleição de uma chapa alternativa. A intenção é evitar que líderes dos partidos da base governista que têm deputados com posições divergentes indiquem apenas integrantes alinhados ao Palácio do Planalto para barrar o processo. O primeiro racha foi na bancada do PMDB, depois de o líder, Leonardo Picciani (RJ), defensor declarado de Dilma, sinalizar que não reservaria vagas para deputados pró-impeachment. A indicação dos nomes e a escolha dos integrantes da comissão deverão ocorrer às 14h desta terça-feira, o que pode esvaziar também a sessão do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar programada para votar o relatório preliminar do processo contra Eduardo Cunha no mesmo horário. Aliados de Cunha, como o deputado Paulinho da Força (SD-SP), retiraram as indicações que já haviam sido feitas e vão apresentar nomes apenas na chapa paralela, nesta terça-feira. Segundo Paulinho, quando há divergências numa bancada pode haver candidaturas avulsas apresentadas pelos deputados e outra feita pelo líder. Ele disse que a chapa paralela poderá ser registrada com no mínimo 33 nomes e forçar uma disputa eleitoral. “Os líderes indicam seus nomes e formam uma chapa. Mas dentro das suas bancadas pode-se fomentar que parlamentares formem uma segunda chapa. Está permitida uma briga interna de cada bancada”, disse Sibá Machado, líder do PT. “É inaceitável. Eu abandonei a reunião de líderes. Está tudo contaminado. Nós temos uma única chapa. Essa his- tória de chapa avulsa tem o dedo dos tucanos para criar problema. Hoje (ontem) à noite seria quase uma aclamação.” Para o líder do PMDB, a decisão de ontem indica um começo “ruim” e “grave” na análise do processo de impeachment contra Dilma Rousseff. Picciani alertou que a manobra articulada por Cunha e deputados de oposição pode permitir que a comissão fique indefinidamente sem instalação — medida que atingiria justamente o objetivo de protelar a ação e deixar a presidente enfraquecida por mais tempo. “Deveria se prezar pela estabilidade das decisões do colégio de líderes para que a comissão pudesse legitimamente se instalar e iniciar esse debate”, afirmou o peemedebista. Picciani foi o alvo da estratégia adotada na tarde de ontem, já que está reticente em indicar nomes pró-impeachment. Peemedebistas da ala mais rebelde chegaram a articular a destituição do líder, mas, de acordo com Picciani, a medida não vingou. “Eu continuarei líder prezando pela estabilidade e pelo bom senso”, afirmou. Dilma propõe cancelar recesso parlamentar do Congresso A presidente Dilma Rousseff (PT) defendeu ontem que o recesso do Congresso seja suspenso para julgar o pedido de impeachment e outros “assuntos” pendentes, como medidas do ajuste fiscal. “Numa situação de crise política e econômica como essa em que vivemos, acho que seria importante que o Congresso fosse convocado. Não é correto que o País fique em compasso de espera”, afirmou. A presidente também defendeu que os congressistas folguem entre o Natal e o Ano Novo. Assim como a presidente, líderes da base aliada querem acelerar o desfecho do processo de impeachment, mas também defendem uma pausa nos trabalhos para as festas de final de ano. A estratégia do governo para acelerar o deba- te foi discutida ontem em reunião entre líderes e o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini (PT), no Palácio do Planalto. Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), “a opinião da maioria dos líderes” é de interromper momentaneamente os trabalhos, durante as festas de final de ano, e retomar as votações no início de janeiro.