20 Quarta-feira 26 de Agosto de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política GOVERNO FEDERAL Para Dilma, situação não será ‘maravilhosa’ em 2016 Presidente diz que medidas adotadas vão fazer País voltar a crescer Um dia depois de admitir que o governo federal demorou a perceber a gravidade da crise econômica, a presidente Dilma Rousseff (PT) disse que o Brasil continuará a enfrentar dificuldades no ano que vem e que a situação econômica “muito provavelmente” não será “maravilhosa” em 2016. Segundo ela, porém, o governo está tomando medidas para que o País volte a crescer e a gerar oportunidades “para todos os brasileiros”. As declarações foram dadas em entrevista às rádios Morada do Sol, de Araraquara (SP), e Difusora Ondas Verdes, de Catanduva, no interior de São Paulo, na manhã desta terça-feira. Dilma visitou a região ontem para entregar unidades do programa Minha Casa Minha Vida. “Não tenho como garantir que a situação em 2016 será maravilhosa. Muito provavelmente, não será. Mas também não será a dificuldade extrema que muitos pintam. Vamos continuar a ter dificuldades, até porque não sabemos como o mercado internacional vai se comportar”, afirmou Dilma. A presidente argumentou que o governo não está “parado esse tempo” e citou medidas que têm o objetivo de provocar a melhora ROBERTO STUCKERT FILHO/PR/JC Dilma e Alckmin entregaram unidades do Minha Casa Minha Vida na economia e combater o aumento da inflação e o desemprego. Segundo ela, esse conjunto de ações deve melhorar a situação econômica brasileira: “Não tem como estarmos piores no futuro do que hoje, porque tomamos um conjunto de medidas.” Ao exemplificar as medidas, ela elencou o programa de concessão de obras de infraestrutura, orçado em R$ 180 bilhões; o programa de incentivo a produtores agrícolas, que elevou em até 20% o crédito; o programa de investimento em energia, que privilegia a bio- massa; e o incentivo a exportações. “O real ultravalorizado, se é bom para pessoas viajarem para Miami, é péssimo para a indústria, porque diminui a competitividade. A desvalorização cria inflação, mas tem outro efeito, que é facilitar exportação. Como não confiamos só no câmbio, estamos fazendo programa agressivo de exportação. Fizemos acordo com México, União Europeia, Estados Unidos, Alemanha para ampliar exportação. Países que se recuperaram da crise forte em 2008 e 2009 fizeram isso através de exportação.” Oposição adia reunião para discutir impeachment A oposição decidiu aguardar novos fatos no cenário político para alinhar um discurso em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). A reunião agendada para ontem foi adiada indefinidamente à espera do “momento adequado”. “Para respaldo ainda maior, é necessária a integração desses movimentos de rua que geraram novo e importante movimento, respaldado por juristas de renome, que podem dizer da substância jurídica desse pedido de impeachment. Envolve aspectos jurídicos e políticos. Temos que aguardar o momento adequado”, avaliou o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Mendonça Filho. A ideia era reunir PSDB, DEM, PPS e SD para uni- ficar o tom do discurso contra Dilma. Juristas também participariam para embasar os argumentos jurídicos pela saída da petista da presidência. Apesar do rompimento público do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo e do agravamento da crise política, a avaliação da oposição é que ainda não tem o apoio necessário para aprovar um pedido de impeachment. Apesar de a reunião ter sido adiada, já há uma estratégia esboçada há algumas semanas, em que Cunha, a quem cabe monocraticamente a decisão, rejeitaria dar prosseguimento a um pedido de impeachment. A iniciativa abriria espaço para um recurso da decisão ao plenário. ‘Qualquer hipótese de impeachment é impensável’, afirma Michel Temer Um dia após comunicar a presidente Dilma Rousseff (PT) que deixaria o “varejo” da articulação política, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) disse ontem que entrou numa “segunda fase” da coordenação política e negou que essa decisão abriria caminho para um eventual pedido de impeachment da petista. “É falso, é absolutamente falso (essa ideia). Eu sempre tenho dito e repetido, ao longo do tempo, que qualquer hipótese de impeachment é impensável”, disse. Segundo o vice-presidente, passada a fase do ajuste fiscal, na qual o governo federal obteve “vitórias necessárias” nas votações do Congresso Nacional, ele decidiu deixar de cuidar da negociação de cargos e emendas parlamentares e se dedicar à “macropolítica” e aos “grandes temas” estratégicos. “Na verdade, nós vamos continuar trabalhando pela coordenação econômica, social e política do nosso País. Eu continuo na articulação, formatada dessa outra maneira”, disse Temer. Sobre o apelo da presidente para que ele ficasse à frente dessa função, Temer afirmou que Dilma entendeu a sua decisão. “Ela fez um pedido, naturalmente enalteceu gentilmente a minha colaboração nessa primeira fase, mas concordou plenamente que estamos numa segunda fase e, portanto, eu devo exercitar uma outra espécie de atividade, ainda na coordenação política”, disse. O vice-presidente reconheceu ainda que houve pressão do PMDB para que ele deixasse totalmente o cargo. “Mas eu entendi que eu não posso, tendo responsabilidade com o País, não posso deixá-la de vez”, afirmou. Para conter rebelião, governo liberará R$ 500 milhões para congressistas Em meio à crise política e econômica, o governo federal anunciou ontem a liberação de verbas para conter ameaças de novas rebeliões no Congresso Nacional. O ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), que hoje integra a articulação política do governo Dilma Rousseff (PT), foi à Câmara dos Deputados anunciar a liberação, nos próximos dias, de R$ 500 milhões para emendas que os congressistas fizeram ao orçamento da União de 2015. Devido às dificuldades econômicas, o Palácio do Planalto vinha represando esses pagamentos, o que causou grande desconforto entre os parlamentares. “Isso é dinheiro na veia da economia”, afirmou o ministro após reunião com integrantes da Comissão Mista de Orçamento do Congresso. As emendas representam, geralmente, pequenas obras e investimentos nos redutos eleitorais dos deputados e senadores. Padilha disse ter superado uma “queda de braço” com a área econômica. “Já pagamos R$ 300 milhões, temos agora R$ 500 milhões e depois teremos mais”, afirmou o ministro. Com o anúncio, a expectativa do governo é a de que a comissão vote a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria ter sido aprovada até o início de julho. A LDO fixa os parâmetros para a elaboração do orçamento da União para o ano seguinte. Padilha acertou com os congressistas também a aprovação de projeto que permite ao governo pagar todas as emendas feitas por congressistas nos anos anteriores e que não saíram do papel, os chamados “restos a pagar”. O valor total está em torno de R$ 3,8 bilhões. Outro ponto discutido na reunião foi o compromisso assumido pelo governo, que cedeu após ameaças de rebelião, de liberar verbas para emendas apresentadas pelos deputados que assumiram o mandato em fevereiro.