Onde investir em 2016 – apesar da turbulência, ano trará boas oportunidades
Por Roberto Indech*
21/12/2015
Dois mil e dezesseis promete, e como promete, pelo menos para o mundo dos investimentos!
Vamos iniciar falando das perspectivas para a política, pois certamente é ela quem determinará
o rumo macroeconômico nacional.
O ano de 2015 se encerra cheio de imprevisibilidades e consequentemente muita falta de
confiança do empresariado e do consumidor, o que afugenta o investidor do país.
O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pode ocorrer, assim como pode
ficar pelo meio do caminho e certamente será doloroso ao país pelo tempo que pode durar, o
que é absolutamente incerto. E quais as consequências desse processo todo pensando no seu
dinheiro? A probabilidade de a mandatária permanecer traz o sentimento de continuísmo para
este cenário que aqui nos encontramos, de juros altos até a inflação ceder, com perspectiva
para atingir o centro da meta do IPCA de 4,5% ao ano que poderia ocorrer em 2017, PIB
reduzido (ou recessão), altos impostos e taxa de desemprego elevada.
Se colocarmos na ponta do lápis, mesmo não sendo destituída, a presidente deverá seguir
grande parte do resto do seu mandato com minoria no Congresso Nacional, dificultando assim
aprovações relevantes para o ajuste fiscal. Caso Dilma Rousseff realmente sofra o
impeachment, como ficarão as reformas com o vice-presidente Michel Temer assumindo a
República? Conseguirá ele aprovar as reformas necessárias e a volta da CPMF, para reduzir o
déficit fiscal do país? Não se esqueça que 2016 será ano eleitoral ainda por cima.
Paralelamente a este cenário, enxergamos que grande parte dos ativos já estaria no preço, o
que quer dizer que os riscos, por mais incrível que pareça, já estariam implícitos e ainda há a
probabilidade de vermos a bolsa apresentar uma alta caso o presidente do PMDB assuma,
mesmo com os fundamentos do país depreciados e muitos questionamentos no ar.
No front externo não vemos muitas modificações do que ocorreu em 2015: nos EUA, elevação
gradual da taxa de juros adicionando volatilidade aos mercados a cada decisão de política
monetária e acirramento da disputa eleitoral para presidente que ocorre em novembro de 2016.
Na Zona do Euro, ainda não enxergamos grandes modificações no cenário político-econômico,
a não ser eleições ou embates eleitorais em países-chave do bloco, que poderão modificar
algum panorama. Na China, as preocupações quanto à desaceleração da segunda maior
economia global devem continuar e quem tende a sofrer com isso são as commodities, em
especial o aço e o minério de ferro.
Por falar em commodity, porque não tratarmos do petróleo, que recuou cerca de 35% apenas
em 2015. As expectativas agora para estas principais matérias primas estão em relação à
diminuição da produção ou mais especificamente da oferta, que, caso não ocorra, dificilmente
teremos sinalizações de alta tão cedo - com impacto diretamente ações da Vale e Petrobras,
respectivamente.
Diante deste cenário, e já partindo para as indicações de renda fixa, seguimos praticamente
com as mesmas recomendações de 2015, pois o que cabe aqui é determinado pela
necessidade de utilização dos recursos a aplicar, ou seja, o prazo. Caso tenha necessidade de
usar seu dinheiro no curto prazo, o que consideramos até dois anos, o Tesouro Selic seria a
melhor indicação.
A ex-LFT oferece rentabilidade atrelada a taxa de juros do país, que encontra-se em patamares
bastante elevados e possui liquidez diária. Em uma comparação com a poupança, o Tesouro
Selic tem praticamente o mesmo risco da caderneta só que rendimento muito superior
atualmente. No entanto, caso possa deixar seus recursos “preso” por tempo determinado, de
três meses a dois anos, a melhor recomendação seriam as Letras de Crédito, seja do
Agronegócio (LCA) ou Imobiliária (LCI), em função da isenção do imposto de renda sobre os
rendimentos ganhos no período. Para o médio/longo prazo, o que consideramos acima de 2 e
até 5 anos, nossa recomendação fica com o Tesouro IPCA+ 2019, que apresenta excelente
prêmio anual – atualmente acima de 7% - mais a taxa de inflação (IPCA) no período de
aplicação. Neste caso, leve em consideração carregar este ativo até o vencimento.
No segmento de renda variável será determinante estabelecer o perfil do investidor. Para o
curto prazo, há e sempre haverá opções diárias de escolha, seja na compra ou na venda, pois
o mercado funciona em todos os dias úteis da cidade de São Paulo. Já para o médio prazo,
sugerimos acompanhar as carteiras recomendadas mensais da Corretora Rico, que podem ser
baseadas em análise gráfica ou fundamentalista, esta última visando boas empresas
pagadoras de dividendos.
Já no longo prazo, oportunidades estão aí para serem aproveitadas e, neste caso, a melhor
recomendação seria formar uma carteira através de compras graduais, feita aos poucos e com
parcimônia, sendo em empresas líderes em seus mercado de atuação e com bom histórico de
consistência na entrega de resultados. Dessa maneira, para iniciar bem 2016 e olhando cerca
de 2 a 3 anos para frente no mínimo, recomendo comprar ações do Itau (ITUB4), que
apresenta resultados sólidos e ótima eficiência operacional em um cenário desafiador, como o
qual estamos atravessando.
Outro ativo indicado seria BRF (BRFS3), a empresa decorrente da fusão de Perdigão com
Sadia, que busca crescer no exterior para não ficar tão dependente do cenário interno. Para
finalizar ainda sugeriria ações do Bradesco (BBDC4), Ambev (ABEV3), Pão de Açúcar
(PCAR4) e Gerdau (GGBR4)
Portanto aproveite, pois independente deste cenário turbulento pelo qual atravessamos e do
seu perfil de investidor, há muitas oportunidades e enxergamos este momento com bons olhos
para realizar seus investimentos.
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Retospectiva 2015
Dois mil e quinze certamente deixará saudades. Guardem esta frase. Aqueles que viveram
intensamente este ano como eu, o pior da economia brasileira em termos de crescimento
desde 1930, com discussões políticas acaloradas no país neste início de segundo mandato da
presidente Dilma, vivenciaram momentos de forte turbulência tanto no campo econômico
quanto político, seja ela no cenário internacional quanto nacional. Fatos estes que repercutiram
diretamente nos mercados de ações, câmbio e juros.
Aliás, em janeiro, Dilma Rousseff assumiu para dar sequencia àquilo que tinha realizado nos
quatro anos anteriores, mas com o discurso afiado de mudança, especialmente na economia
do país, que já começava a dar sinais de fraqueza. Nessa toada, nomeou Joaquim Levy para o
Ministério da Fazenda, passando ao ex-superintendente do Bradesco e ex-secretário de
Estado da Fazenda do RJ a incumbência de contornar as finanças públicas e garantir o ajuste
fiscal. Esperava-se também que mantivesse o grau de investimento do país, o que apenas
configurou-se em partes. Inclusive, no início de 2015 esperava-se uma inflação próxima do teto
da meta, que é de 6,5% ao ano, e crescimento nulo para o país, o que não ocorreu devido a
drástica piora da economia nacional. Citando apenas a inflação, a elevação dos preços
administrados como o dos combustíveis e de energia elétrica contribuíram fortemente para
estourar o “número mágico” pretendido pelo Banco Central. Além destes fatores tivemos
elevação da taxa de juros, a Selic, em todas as reuniões do Comitê de Política Monetária até
outubro, lembrando que a taxa iniciou o ano em 11,75% e termina 2015 em 14,25%.
No front externo, o tema Grécia continuava a incomodar. Somado a isso podemos destacar
também a continuidade de preocupações relacionadas a desaceleração de indicadores da
economia da China e queda dos preços das principais commodities, como petróleo e minério
de ferro, que recuaram cerca de 30% e 40% respectivamente. Cenário que seguimos
acompanhando ao longo de todo o ano. No entanto, o principal tema na economia internacional
começou a ser discutido logo no segundo mês do ano. De que forma e em que tempo o Banco
Central dos EUA (Federal Reserve) começaria a elevar os juros no país? A questão veio
trazendo turbulência aos mercados em geral, especialmente aos emergentes, pelo prognóstico
de migração de fluxo destes países para os títulos mais seguros do mundo, os norte
americanos.
Poderíamos citar mais alguns fatores que foram de extrema relevância, e que adicionaram
ainda mais volatilidade aos mercados, como os conflitos no Iemem e atentados terroristas,
especialmente os ocorridos na França. Já na segunda maior economia global as preocupações
são tantas em relação à desaceleração econômica que o Banco Central da China reduziu a
taxa de juros em cinco ocasiões, na tentativa do governo de enfrentar a persistente queda dos
indicadores, inclusive nas exportações e na produção industrial do país.
Mas voltando ao Brasil, foram tantos eventos que fica difícil enumerá-los em termos de
relevância. Fato é que começamos 2015 sugerindo o retorno do racionamento de energia e
água devido a falta de chuvas no Sudeste, e estamos encerrando com discussões em torno da
volta da CPMF para tentar equilibrar o deficit fiscal do país. Elevação consistente das taxas de
desemprego e discussões em torno do ajuste fiscal também fizeram a corda balançar para o
atual ministro da Fazenda, que entrega o ano cheio de indicadores depreciados, como na
indústria e nos índices de confiança do consumidor e do empresariado, que atingem níveis
historicamente baixos.
Enfim, 2015 se encerra com o dólar próximo ao patamar de R$4,00, inflação a dois dígitos, o
que não ocorria desde 2002, discussões políticas envolvendo uma abertura de processo de
impeachment da presidente Dilma e tantos outros temas relevantes para o Brasil. Inclusive, as
últimas semanas do ano ainda proporcionaram algumas surpresas como as eleições na
Argentina e na Venezuela, que mostraram o esgotamento de modelos que já duravam mais de
10 anos. Agora é apenas aguardar o final do ano e acompanhar a elevação da taxa de juros
nos EUA e as brigas políticas no Brasil que podem trazer muitas surpresas nas próximas
semanas, podendo, inclusive, trazer a destituição da presidente da República, modificando,
assim, o panorama para o cenário nacional.
* Analista de investimentos da corretora Rico desde 2011, é graduado em Relações Internacionais pela Fundação
Armando Álvares Penteado (FAAP). Responsável pela elaboração e recomendação de operações nos mercados de
renda fixa e variável da corretora e pelo análise de cenário político-econômico, também participa dos comitês de
indicações de ativos para as carteiras recomendadas mensais e semanais da Rico. CNPI: EM1426.
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