Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 AVALIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DO FOSFOPEPTÍDEO DE CASEÍNA/ FOSFATO DE CÁLCIO AMORFO E DA LISOZIMA, LACTOFERRINA E LACTOPEROXIDASE NO CIMENTO DE IONÔMERO DE VIDRO PARA O TRATAMENTO DAS LESÕES DE CÁRIE DENTINÁRIAS Giuliana Rodrigues Azenha Sérgio Luiz Pinheiro Faculdade de Odontologia Centro de Ciências da Vida [email protected] Dentística Minimamente Invasiva Centro de Ciências da Vida [email protected] Resumo: O objetivo desse trabalho foi avaliar a associação do fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo e da lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase no cimento de ionômero de vidro para o tratamento das lesões de cárie dentinárias. Foram selecionados 20 terceiros molares permanentes e superfícies dentinárias planas foram obtidas. As amostras foram impermeabilizadas exceto a dentina coronária e submetidas ao desafio cariogênico com cepa padrão de S. mutans por quinze dias. As lesões de cárie foram seladas com cimento de ionômero de vidro + fosfopeptideo de caseína/nanocomplexo de fosfato de cálcio amorfo + 1% de lisozima + 1% de lactoferrina + 1% de lactoperoxidase. Foram realizadas contagens de S. mutans antes do selamento do tecido cariado, após 24 horas, 1 mês e 6 meses. O processamento microbiológico foi realizado por meio da homogeneização, diluição, semeadura e incubação por 5 dias em anaerobiose. Houve redução significante de S. mutans após 24 horas do selamento com cimento de ionômero de vidro associado ao fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo, lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase (p=0.0162). Após 1 mês do selamento, houve crescimento significante de S. mutans em relação a contagem após 24 horas (p=0.0193). Não houve diferença significante entre a contagem de S. mutans após 1 e 6 meses (p=0.8307). A associação do fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo e da lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase no cimento de ionômero de vidro aumentou a capacidade de redução de S.mutans 24 horas após o selamento do tecido cariado e pode ser uma alternativa para o tratamento restaurador da doença cárie. Palavras-chave: Lesão de cárie, Dentina, Cimento de Ionômero de Vidro. Área do Conhecimento: Ciências da Saúde Odontologia - PIBIC/CNPq. 1. INTRODUÇÃO A lesão de cárie dentinária pode ser dividida histologicamente em camada superficial (dentina infectada) e profunda (dentina afetada). A primeira camada apresenta extensa descalcificação e degeneração das fibras colágenas. A segunda camada caracteriza-se por descalcificação intermediária, fibras colágenas reversivelmente alteradas e odontoblastos com ativo processo de recalcificação [1,2]. É possível observar seis camadas distintas na lesão de cárie dentinária: 1externa irreversivelmente desmineralizada; 2translúcida; 3 - subtransparente; 4- esclerótica; 5dentina hígida; 6- pré–dentina. As camadas 2, 3 e 4 correspondem as áreas reversivelmente alteradas pela lesão de cárie [3]. Na odontologia minimamente invasiva preconiza-se a remoção da dentina infectada e manutenção da dentina afetada. O selamento do complexo dentino pulpar restringe a nutrição microbiana paralisando a progressão da lesão de cárie [1,2,3,4,5]. A desmineralização e a remineralização são processos dinâmicos que estão envolvidos com o início, progressão e reversão da doença e o equilíbrio entre esses processos é fundamental para prevenção e tratamento da doença [6,7]. Algumas alternativas têm sido avaliadas na literatura para auxiliar no processo de remineralização, entre elas, destaca-se o fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cácio amorfo (FC/FCA). A remineralização do esmalte pode ser feita através da utilização do composto bioativo FC/FCA [6,8]. O FC/FCA localiza e atrai íons cálcio e o fosfato da superfície dentária aumentando o gradiente de concentração na subsuperfície do esmalte promovendo remineralização in situ [9,10,11,12,13]. O esmalte remineralizado com FC/FCA é relativamente mais resistente às alterações ácidas quando comparado com o esmalte dentário normal carbonatado [14]. O FC/FCA é um composto bioativo que auxilia na manutenção da supersaturação de íons cálcio e fosfato criando reservatórios que poderão ser utilizados durante a desmineralização [6]. O FC/FCA aplicado continuamente sobre superfícies de dentina expostas por erosão promove redução do desgaste e lubrificação superficial [15]. O Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 potencial anticariogênico do FC/FCA foi atribuído à capacidade de atrair o fosfato de cálcio amorfo na superfície do dente mantendo um estado de supersaturação dos minerais na superfície [9]. O FC/FCA interage com íons de flúor para produzir um efeito anticariogênico aditivo através da formação de uma fase de fosfato de fluoreto de cálcio amorfo estabilizado [9]. Outra possibilidade terapêutica que pode auxiliar na reorganização da dentina afetada pela doença cárie pela sua capacidade antimicrobiana é a utilização das enzimas lisozima, lactoferrina e lactoperoxidade [16,17,18]. Essas podem apresentar efeito inibitório e até mesmo bactericida contra os patógenos da cavidade oral, entre eles o S. mutans. A interação da bactéria com os componentes salivares que formam a película adquirida na superfície do esmalte está associada com a aderência seletiva dos S. mutans à superfície. Os componentes salivares que interagem com os S. mutans são as mucinas, lisozima, lactoperoxidase, aglutininas, prolinas e imunoglubinas secretórias. A lisozima provoca a lise bacteriana através da quebra da ligação entre o ácido n-acetil-murâmico e o n-acetilglucosamina na parede celular, neutralizando a patogenicidade das bactérias gram positivas e negativas [19]. A lisozima é uma molécula antimicrobiana capaz de degradar o peptidoglicano da parede celular bacteriana [19,20] e apresenta também atividade não-muramidase que é atribuída pelo rompimento da função da membrana bacteriana através de peptídeos aminoácidos catiônicos antimicrobianos [21]. A lactoferrina apresenta capacidade antimicrobiana por reduzir a quantidade de ferro viável para bactéria promovendo proteção bacteriostática e bactericida [22]. Além da lisozima e lactoferrina, a saliva humana contém o sistema antibacteriano lactoperoxidase, peróxido de hidrogênio e íon tiocianato. O peróxido de hidrogênio presente na cavidade oral é produzido pelos microrganismos. A lactoperoxidade catalisa a oxidação dos íons tiocianato através do peróxido de hidrogênio gerando ácido hipotiocianoso ou ânion hipotiocianeto, ambos com ação antibacteriana. O hipotiocianeto age como inibidor bacteriano interferindo no metabolismo celular [17,23,24]. O objetivo desse trabalho foi avaliar a associação do fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo e da lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase no cimento de ionômero de vidro para o tratamento das lesões de cárie dentinárias. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-Campinas (0345/11). Seleção das amostras Foram selecionados 20 terceiros molares permanentes na Clínica Odontológica da PUC Campinas com Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos respectivos pacientes doadores. Critérios de inclusão Terceiros molares permanentes; Ausência de trincas ou fraturas examinadas por lupa (Stemi DV4 - Carl Zeiss, São Paulo, Brasil) com aumento de 10X. Critérios de exclusão Terceiros molares permanentes com trincas ou fraturas examinadas por lupa (Stemi DV4 - Carl Zeiss, São Paulo, Brasil) com aumento de 10X. Procedimentos Os dentes selecionados foram armazenados em cloreto de sódio 0.9% contendo azida de sódio 0.02% (LabCenter, São Paulo, Brasil) a 4° C por no máximo 1 mês (Zhou et al., 2009). Após este procedimento, os dentes foram lavados com soro fisiológico com sacarose 10% (LabCenter, São Paulo, Brasil). Foi feita a remoção do terço oclusal com disco diamantado dupla face (KG Sorensen Indústria e Comercio LTDA, São Paulo, Brasil) em baixa rotação com refrigeração para exposição dentinária. As superfícies dentinárias foram polidas com lixas de carboneto de silício 600 umedecidas (Água T223 advance, Norton, Indústria Brasileira, São Paulo, Brasil). Foi feita a impermeabilização das amostras com resina epóxi (Araldite, São Paulo, Brasil) e esmalte (Colorama, São Paulo, Brasil) exceto na dentina coronária no fluxo laminar (Veco, Campinas, SP, Brasil). Após a impermeabilização dos dentes, os espécimes foram submetidos ao desafio cariogênico. Para simular a lesão de cárie em dentina, os dentes foram colocados em tubos de ensaio estéreis com meio de sobrevivência Brain Heart Infusion (BHI) (LabCenter, São Paulo, Brasil) suplementado com extrato de levedura 0,5% (LabCenter, São Paulo, Brasil), de glicose 1% (LabCenter, São Paulo, Brasil) e de sacarose 1% (LabCenter, São Paulo, Brasil). A cepa padrão de S. mutans ATCC 25175 (Fundação André Tosello. Campinas- SP, Brasil) padronizada na escala 0,5 de MacFarland foi introduzida no BHI (LabCenter, São Paulo, Brasil). As amostras foram incubadas a 37°C por 1 mês em jarras contendo envelopes geradores de anaerobiose (LabCenter, São Paulo, Brasil) em atmosfera contendo 85% de nitrogênio (N2), 10% de dióxido de carbono (CO2) e de 5% de hidrogênio (H2) e armazenadas em estufa bacteriológica (Fanem Ltda, São Paulo, SP, Brasil). Durante o transcorrer desse período, o meio de sobrevivência BHI (LabCenter, São Paulo, Brasil) foi renovado de 2 em 2 dias. Os espécimes foram tratados com cimento de ionômero de vidro associado com fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo, lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase. Foram realizadas contagens de S. mutans antes do selamento do tecido cariado e após 24 horas, 1 mês e 6 meses. A associação do ionômero de vidro foi realizada na Farmácia de Manipulação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Foram utilizadas as enzimas lisozima (Sigma, São Paulo, Brasil), lactoferrina Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 (Sigma, São Paulo, Brasil) e lactoperoxidase (Sigma, São Paulo, Brasil) na forma de pó e a pasta GC Tooth Mousse Plus (GC Corporation, Tóquio, Japão) que contém o fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo. Ao pó do ionômero de vidro (3M ESPE Ketac™ Cem Easymix, Deutschland, Alemanha) incorporou-se 1% de lisozima (Sigma, São Paulo, Brasil), 1% de lactoferrina (Sigma, São Paulo, Brasil) e 1% de lactoperoxidase (Sigma, São Paulo, Brasil). Com auxílio de um vidro de relógio estéril foi pesado em balança de precisão (Uni Bloc, Shimadzu Auy220, Kyoto, Japão) 5 g de pó do ionômero de vidro e a este incorporado 0,05 g de pó de cada enzima. Após a pesagem, os materiais foram misturados em cuba de porcelana e misturador estéril. Um grama de pasta pesada, em balança de precisão, foi diluída em 4 ml de água destilada e 3% foi incorporado ao liquido do ionômero de vidro. As coletas do tecido cariado dentinário foram executadas com colher para dentina número 20 (SSWhite Duflex, Rio de Janeiro, Brasil) estéril. A altura de penetração na lesão de cárie foi padronizada pela marcação de 1 mm na ponta ativa da colher para dentina. As amostras foram imediatamente inseridas no meio de transporte BHI (LabCenter, São Paulo, Brasil). O material dentinário inserido no meio de transporte BHI (LabCenter, São Paulo, Brasil) foi manipulado num período de até 24 horas e homogeneizado durante 3 minutos em agitador de tubos (Phoenix, Araraquara, SP, Brasil). Imediatamente após a homogeneização, foram realizadas 5 diluições decimais e, de cada uma delas, foram semeadas 3 alíquotas de 25 μL na superfície do meio de cultura mitis salivarius bacitracina. Todas as placas foram incubadas em jarras (Oxoid Ltd., Basingstoke, Hampshire, England) a 37°C durante 5 dias em atmosfera de 85% de N2, 10% de CO2 e 5% de H2, obtida pelo uso de envelopes geradores de anaerobiose e indicadores de anaerobiose (AnaerogenTM, Oxoid Ltd., Basingstoke, Hampshire, England). Após a incubação, foi feita a contagem do total de bactérias viáveis. Análise Estatística Foram feitas as comparações entre o total de S. mutans viáveis antes a após os períodos experimentais no programa Bioestat 4.0. Os resultados foram submetidos à análise estatística descritiva e ao teste de Kruskal-Wallis complementado por Student-Newman-Keuls. 3. RESULTADOS Houve redução significante de S. mutans após 24 horas do selamento com cimento de ionômero de vidro associado ao fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo, lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase (p=0.0162). Após 1 mês do selamento, houve crescimento significante de S. mutans em relação a contagem após 24 horas (0.0193). Não houve diferença significante entre a contagem de S. mutans após 1 e 6 meses (p=0.8307) (Tabelas 1 e 2). Tabela 1 - Medianas, desvios interquartílicos, análise estatística de Kruskal-Wallis (Student-Newman-Keuls) entre os grupos amostrais (log 10). GRUPOS ANTES 24 HORAS 1 MÊS 6 MESES p (Kruskal Wallis) CIV+FC+ LLL 3.58 (0.50)a 2.82 (0.39)b 3.60 (0.26)a 3.61 (0.04)a 0.0186 CIV+FC+LLL: cimento de ionômero de vidro + fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo + lisozima + lactoferrina + lactoperoxidase. Letras ou números diferentes: diferenças significantes (p<0.05) Tabela 2 - Análise estatística de Kruskal-Wallis (Student-Newman-Keuls) entre os grupos amostrais (log10) – valor de p. CIV+FC+LLL ANTES 24 HORAS 1 MÊS 6 MESES ANTES -------- 0.0162 0.9436 0.7688 24 HORAS -------- -------- 0.0129 0.0069 1 MÊS -------- -------- -------- 0.8307 CIV+FC+LLL: cimento de ionômero de vidro + fosfopeptídeo de caseína/fosfato de cálcio amorfo + lisozima + lactoferrina + lactoperoxidase 4. DISCUSSÃO A destruição dos tecidos dentários na lesão de cárie é causada por bactérias e os produtos da sua fermentação. O principal agente etiológico encontrado nessas lesões são os S. mutans [25]. Uma propriedade do CIV é a liberação de flúor para a cavidade bucal [26], cuja presença está relacionada à inibição da desmineralização dos dentes, ao potencial de remineralização e ao efeito antibacteriano, conferindo-lhe importantes propriedades preventivas. A liberação de flúor ocorre, predominantemente, nos primeiros minutos, tornando-se significativamente mais baixa com o decorrer do tempo [27]. A adição de substâncias antibacterianas ao CIV pode aumentar o potencial antimicrobiano do material, ampliando sua ação nas superfícies mais susceptíveis a doença cárie [28,29]. Os resultados desse trabalho demonstraram redução significante (p<0.05) de S.mutans 24 horas após o selamento das lesões de cárie com CIV associado à FC/FCA, lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase quando comparado à contagem de S. mutans de antes do selamento, confirmando o efeito antibacteriano do FC/FCA em tamponar a placa e interferir no crescimento e adesão do S. mutans [30] e a capacidade antimicrobiana da lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase em auxiliar a reorganização da dentina afetada [17,18]. O FC/FCA é um composto bioativo que estimula a Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 reparação da estrutura dental através da liberação de íons de cálcio e fosfato [10,11,12,13,30,31]. O FC/FCA localiza e atrai íons cálcio e o fosfato da superfície dentária aumentando o gradiente de concentração na subsuperfície do esmalte promovendo remineralização in situ [9]. É um composto que possui melhor osteocondutividade, melhor degradabilidade, bioatividade, alta adesão celular, não apresenta citotoxicidade e possui cinética de estabilização [13]. Neste trabalho, foi feita a associação de 3% de FC/FCA diluído ao CIV para avaliar a capacidade antimicrobiana do material sobre os S. mutans, de acordo com a literatura que relata que o FC/FCA, atualmente, tem sido muito utilizado como componente ativo de diversos produtos e materiais, dentre os quais, destacam-se os colutórios, pastas dentárias, alguns clareadores, pastas abrasivas, vernizes e o CIV [6,12,13]. A incorporação de lactoperoxidase salivar na pasta dental proporcionou efeitos benéficos no tratamento da doença cárie [32]. Em contrapartida, outro estudo [33] avaliou a eficácia clínica de um bochecho e gel oral contendo lactoperoxidade, lactoferrina e lisozima e foi observado que a utilização de produtos de higiene oral contendo enzimas antimicrobianas não interferiu nas lesões de cárie. Os resultados obtidos nesse trabalho indicam atividade antibacteriana das enzimas observada através da redução significativa de S.mutans após 24 horas do selamento. Ao incorporar clorexidina hexametafosfato ao CIV foi observado que o efeito antimicrobiano do material persistiu entre 40 a 90 dias, sendo que o pico de eficácia se manteve nas primeiras 24 horas [29]. A liberação de flúor é significativamente maior no CIV contendo FC/FCA, mas o pico também ocorre primeiras 24 horas [34]. A contagem de S. mutans após 1 mês e 6 meses do selamento apresentou crescimento de S. mutans em relação a contagem após 24 horas, isto pode ser justificado pela perda e/ou desgaste do selamento durante o armazenamento. Ao incorporar o FC/FCA diluído em água destilada no líquido do cimento de ionômero de vidro nesse trabalho aumentou-se a concentração de água na composição do material, o que pode ter interferido na relação pó/liquido e consequentemente, menor resistência ao desgaste, maior solubilidade e mistura mais fluida do material contribuindo para a infiltração marginal e perda parcial ou total do selamento após armazenamento no período de 1 mês e 6 meses. As propriedades do CIV dependem da composição química, do tamanho e da distribuição das partículas do pó, e da natureza, do peso molecular e da concentração do líquido poliácido [35]. As partículas de carga dos CIV podem permanecer intactas e transmitir força para matriz circunvizinha, podendo resultar em microtrincas; assim, a matriz não é capaz de reter as partículas que são deslocadas, ocorrendo o desgaste do material [36]. A incorporação de antimicrobianos ao CIV pode provocar alterações nas propriedades físicas do material, como por exemplo, a dureza de superfície, fator importante para controle da resistência ao desgaste do material, bem como sua durabilidade [18], porém, um estudo apontou que a utilização de pasta contendo FC/FCA antes do sistema adesivo autocondicionante, pode ocorrer melhora da durabilidade e resistência de união dos materiais [37]. A melhora da adesão pode ter ocorrido pela formação de uma ligação hidrofóbica que pode garantir menor permeabilidade à água [37]. Foram avaliadas as propriedades físicas da associação de FC/FCA 1,56% ao CIV quando estabelecida a presa do material e foi observado aumento de 23% na resistência à compressão, aumento de 33% na resistência de união e aumento do tempo de presa do material [34]. Os CIVs incorporam bolhas de ar durante a manipulação, estas introduzem porosidades junto com as partículas de carga que se expõe durante a abrasão ou erosão ácida, contribuindo para o aumento da rugosidade [38]. Tal rugosidade pode diminuir a resistência ao desgaste do material restaurador e tornar esta superfície significativamente mais propensa ao aumento da deposição de biofilme bacteriano, com consequente degradação superficial e infiltração marginal [39], oque pode ter contribuído com novo crescimento de S.mutans, uma vez que as amostras permaneceram armazenadas durante 1 mês e 6 meses em BHI estando suscetíveis a alterações de pH, presença de nutrientes, remanescentes de S. mutans e envelhecimento. Foi comprovada, em estudo, a existência de fendas marginais entre o cimento de ionômero de vidro e o dente com lesão de cárie préexistente [40]. A associação de FC/FCA, lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase no CIV permitiu observar nas primeiras 24 horas significativa redução de S. mutans, porém, após 1 mês e 6 meses foi observada viabilidade bacteriana e aumento de S. mutans que se deve ao envelhecimento da restauração que provoca fissuras marginais possibilitando a nutrição das bactérias remanescentes. 5. CONCLUSÃO A associação de FC/FCA, lisozima, lactoferrina e lactoperoxidase ao CIV é uma opção para aumentar a capacidade de redução de S.mutans 24 horas após o selamento do tecido cariado e pode ser uma alternativa para o tratamento restaurador da doença cárie. AGRADECIMENTOS PUC-Campinas pela oportunidade de desenvolver o trabalho de Iniciação Científica; CNPQ pela bolsa de Iniciação Científica (Processo 143991/2013-2); FAPESP pelo auxílio pesquisa (processo 2012/10350-6). Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 23 e 24 de setembro de 2014 REFERÊNCIAS [1] Fusayama, T., (1979), Two layers of carious dentin: Diagnosis and Treatment, Oper Dent, vol. 4, n.2, p. 63–70. [2] Banerjee, A., et.al. (2000), Dentine carious: take it or leave it? Dent Update, vol. 27, n.6, p .272–6. [3] Banerjee, A., et.al. (2000), Dentine caries excavation: a review of current clinical techniques, Br Dent J, vol. 188, p. 476–82. [4] Fusayama, T., et.al. (1972), Differentiation of two layers of carious dentin by staining, J Dent Res, vol. 51, n. 3, p. 866. [5] Pinheiro, S.L., et.al. (2004), Avaliação morfológica da dentina após diferentes métodos de remoção do tecido cariado, Rev Assoc Paul Cir Dent, vol. 58, n.5, p.363-8. [6] Zhou, C., et.al. 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