CENTRO HISTÓRICO EMBRAER Entrevista: Paulo Roberto Fernandes Serra São José dos Campos – SP Abril de 2011 Apresentação e Formação Acadêmica Meu nome é Paulo Roberto Fernandes Serra popularmente conhecido como Paulo Serra, aliás, Paulinho Serra porque tinha um outro cara mais velho que eu, mais antigo que eu que se chamava Paulo Serra, então para a gente diferenciar ficou Paulão Serra e Paulinho Serra, aliás, tem até um episódio gozado que ele já morreu, inclusive muita gente foi no enterro dele achando que era o meu, chegaram lá no caixão... Eu nasci no Rio de Janeiro, mas fui criado em Belém do Pará, fui criado em Belém porque minha família toda era de lá e acabei voltando para o Rio quando eu tinha dezoito anos para fazer faculdade. Aí eu fiz a PUC no Rio – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – me formei e comecei a trabalhar no Rio. Aí, um pouco depois de casado eu... um pouco depois de formado eu me casei e, por incrível que pareça, eu estou com a mesma mulher até hoje, quarenta anos de casado, nos casamos em 70, com a mesma mulher até hoje e tive três filhos homens. Um pouco depois... eu me formei, quando eu me formei eu já trabalhava na Varig, fui trabalhar na Varig em 68..., me formei em 69 e eu fiquei dois anos e meio trabalhando na Varig lá no Rio, primeiro como auxiliar de engenharia que era o cargo que chamava na época, depois que eu me formei eu passei a engenheiro e fiquei lá. Aí a Embraer foi criada em 70 e tinha muita gente conhecida que trabalhava no CTA (Centro Técnico Aeroespacial) que migrou para a Embraer quando a Embraer foi criada porque meu irmão foi do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e eu conhecia muitos dos colegas de turma dele que iam passar o final de semana no Rio, que de vez em quando eu vinha aqui em São José também e a gente se conhecia e naquela época, quando a Embraer foi criada, havia uma caça de quem gostava de avião, quem se interessava de avião, quem tinha algum conhecimento de avião e eu fui um desses caçados. E, na época, isso foi uma decisão muito difícil para mim, 1 porque eu trabalhava numa firma de primeira grandeza, a Varig era uma companhia que estava no auge do charme, indústrias nacionais, os aviões mais modernos do mundo na época e era uma companhia que tinha um futuro maravilhoso e eu abandonar aquilo, abandonar a minha família que morava no Rio, meu pai, minha mãe, a mãe da minha mulher e vir para São José para uma firma que estava sendo criada, uma aventura que ninguém sabia o que ia dar... Isso foi uma decisão, na época, difícil, mas como eu sempre fui muito ligado à aviação, gostava muito de aviação e resolvi correr o risco, eu vim para cá e acabei não me arrependendo. Aliás, eu tenho um arrependimento sim, mas que não sei se..., quer dizer, é um sentimento misto, eu acho que se eu tivesse trabalhado mais tempo na Varig - mais uns dois ou três anos na Varig - eu teria podido trazer mais contribuição para Embraer, eu teria aprendido mais e teria podido trazer mais para a Embraer, mas em compensação eu teria perdido o bonde, quando eu tivesse vindo para a Embraer eu teria entrado aqui e já teriam três mil empregados, então... uma coisa de certa forma compensa a outra. Eu sempre, desde que eu era criança, o meu hobby era aeromodelismo, tudo ligado à aviação, uma cultura muito monolítica de aviação, eu cheguei a ser campeão de aeromodelismo em Belém quando eu tinha doze anos de idade. Aí depois, com o passar dos anos, veio vestibular etc., a ida para o Rio, morar em apartamento e aí as coisas ficaram muito mais difíceis e depois que eu voltei que eu vim para São José aí eu passei a morar em casa que havia um ambiente mais propício, mais espaço, mais tudo e eu voltei a praticar aeromodelismo e interrompi de novo quando fui para a França, na esperança de que quando eu me aposentasse ia a ser o hobby da minha aposentadoria, erro, erro total porque quando você fica velho você perde os reflexos, perde a..., eu tentei fazer hoje em dia as peças caem da mão, enfim eu já perdi destreza, já perdi reflexo, enfim, eu tenho um monte de matéria, adoro aeromodelismo. Então, meu hobby mudou para DVD, então eu sou um grande colecionador de filmes de aviação, eu devo ter uns quatro ou cinco mil filmes, documentários de aviação em DVD, tinha muita coisa em videocassete que eu transformei em DVD, o meu hobby atual é esse, um hobby muito sentado na minha cadeira do papai para desespero da minha mulher, esse e futebol, são as minhas grandes distrações. 2 Bom, eu me formei em Engenharia Mecânica, mas eu sempre tive uma vontade muito grande de trabalhar na aeronáutica e na época eu não fiz Engenharia Aeronáutica por razões logísticas, Rio de Janeiro, ter que vir para São José, o ITA enfim, meu irmão já tinha feito ITA e eu resolvi seguir um outro caminho, fiz Engenharia Mecânica e depois aos pouquinhos eu fiz – eu não tenho a conta -, mas eu devo ter feito cento e cinquenta, duzentos cursos de especialização em Aeronáutica de modo que hoje em dia eu cheguei a dar aula no ITA durante sete anos e isso foi feito com..., através de uma aprovação por uma banca examinadora – como é que eles chamam de “notório saber” – o notório saber era um negócio o cara já trabalhou tanto, fez tanto cursos, é como e fosse..., mas isso é uma coisa..., hoje em dia curriculum para mim não tem nenhum significado, sessenta e seis anos, quase sessenta e sete... Bom, então eu fiz uma carreira aqui na Embraer, entrei aqui no início, entrei em 1970 aqui na Embraer, fiz uma carreira aqui na engenharia até 85, em 85 eu fui designado para ir para a França. Crise da Embraer e a luta pela sobrevivência A grande crise da Embraer que começou em 89, ela foi devida primeiro a um enfraquecimento do mercado que é uma coisa periódica, eu tenho até uma palestra e um artigo sobre isso mostra que a aviação é uma atividade cíclica, mais ou menos a cada oito, nove anos existe uma queda, porque a aviação ainda não encontrou um ritmo de crescimento sustentável, a aviação cresce, cresce muito rapidamente, entra em crise e cai, aí cresce, cresce muito rapidamente e caí. Se a aviação conseguisse um ritmo de crescimento estável, ela não teria essas quedas, isso tem um certo período, esse período é um período natural da aviação. Agora, quando esse período coincide com crises geopolíticas internacionais como, por exemplo, a primeira Guerra do Golfo, o Saddam Hussein invadiu o Kuwait, aí deu aquele negócio e tal e o preço do petróleo sobe, aí tem uma crise todo mundo fica com medo, não sei o que e tal, isso ajuda. Aí depois teve o september eleven, o onze de setembro, aí depois tem... enfim, é uma coisa atrás da outra, a depois teve a segunda Guerra do Iraque, a Guerra do Afeganistão, agora tem o problema da Líbia, não sei que... Quando essas coisas se..., quando esses ciclos se juntam – ah, teve a crise financeira de 3 2008 -, quando essa conjuntura se arruma de uma certa maneira a crise é muito profunda. O que aconteceu em 89 foi uma crise, eu diria, brasileira e do mercado de aviação regional, então foram dois componentes que aconteceram ali e para ajudar isso em 91 - em agosto de 91- o Iraque invadiu o Kuwait, quer dizer, aí foi a gota d’água para despencar tudo. Havia uma crise interna Embraer, havia uma crise no Brasil, havia uma crise internacional do mercado, o mercado deu claras demonstrações de fraqueza, como dá de vez em quando, isso é normal e ainda houve a crise geopolítica internacional que foi a invasão do Kuwait e que acabou evoluindo para a primeira Guerra do Golfo, quer dizer, a aviação não aguenta essas quatro coisas ao mesmo tempo, a aviação aguenta uma ou duas etc. Então, a crise da Embraer, ela foi gerada por componentes maiores do que a crise dos outros fabricantes de avião, mas a SAAB (Svenska Aeroplan AB) faliu..., enfim, várias companhias faliram. Algumas tiveram mais sorte que a Embraer, a De Havilland, por exemplo, que era uma grande concorrente da Embraer na época, a De Havilland canadense foi comprada pela Boeing, pô, foi comprada pela Boeing é que nem meu pai ser um bilionário dono de um banco, entendeu? Foi comprada pela Boeing, depois a Boeing se livrou dela e a Bombardier - que é um dos grandes concorrentes da Embraer hoje-, a Bombardier não é uma firma tradicionalmente aeronáutica, a Bombardier faz vagão de metrô, faz jet ski, faz um monte de outras coisas, mas a Bombardier resolveu investir em aviação e foi lá e comprou da Boeing a De Havilland. A Fokker faliu, a SAAB faliu, várias faliram, a British praticamente faliu, só sobraram duas ou três, dessas duas ou três que sobraram, a Embraer e a Bombardier foram as que floresceram, sendo que a Bombardier teve mais sorte porque foi privatizada antes, foi comprada pela Boeing que depois passou rápido – a Boeing também não aguentou muito os caras, não – passou para a Bombardier e a Embraer ficou numa UTI durante cinco anos até que foi privatizada, aliás, muito bem privatizada, o grupo que comprou a Embraer é um grupo tão qualificado quanto a Boeing ou a Bombardier tanto que a Embraer hoje, inclusive passou – bom, existe uma alternância aí – mas hoje em dia a Embraer está claramente acima da Bombardier. Enfim, sobre a privatização é isso que eu tenho a dizer. 4 PEE – Programa de Especialização em Engenharia O diretor de recursos humanos na época esteve em Paris e disse para mim “Paulo, vamos procurar uma solução alternativa, o que você quer?”, eu falei “Primeiro, eu não quero cargo de chefia nenhum, eu não quero ser chefe de ninguém, estou de saco cheio, não quero ter responsabilidade administrativa, assinar memorando, ficar assinando cheque, verificando fatura e não sei quê, não quero aparecer no organograma, eu não quero ter cartão de visita, entendeu? E não quero trabalhar o tempo inteiro, eu quero pelo menos 20% do meu tempo livre, eu quero terças e quintas à tarde livres, eu trabalho segunda, quarta e sexta em tempo integral, terça e quinta só de manhã...”, eu botei na mesa o negócio e eu tinha certeza de que não ia ser aceito e o cara falou “Qual o problema, sim vamos fazer..., eu topo”. Agora o quê, aonde? Bom aí começou a aparecer um monte de sugestões, uma delas foi do meu chefe na época, do Antonio Luiz (Antonio Luiz Pizarro Mando), que era Vice-Presidente, que era o número dois da Embraer na época, que me convidou para ser assistente dele, mas nunca... “Ah, porque você vai cuidar do PA (Plano de Ação) da Embraer...”, “Nunca...”, “Mas por quê?” Bom, lá pelas tantas o Antônio, já disse várias vezes, meu amigo, o Antonio Luiz ficou chateado comigo, “Poxa, Paulo eu já ofereci para você oito coisas e você não aceitou nenhuma, eu não vou conseguir resolver teu problema.” Nesta época tinha sido criado o PEE (Programa de Especialização em Engenharia), estava sendo criado o PEE e o cara que criou o PEE foi o Irajá Ribas, o antigo... na quinta ou sexta passagem dele pela Embraer e que estava indo para a França para o meu lugar e disse “Paulo, você sempre gostou de dar aula, você sempre foi um cara bom de didática, por que você não vá para o PEE, em Eugênio de Melo, fica longe, ninguém vai encher seu saco lá, é uma coisa simples, bacana, não dá aborrecimento, por que você não vai para lá? Troca comigo, pô!”, aí eu troquei com ele, mas eu não quis ser diretor, e lá o PEE que tinha cuja chefia era nível de diretoria baixou para a gerência e eu também não quis ser gerente, porque o número dois lá era o Sidney Lage Nogueira que também já saiu da Embraer, eu falei “Poxa, vem um cara de fora, entrar pela janela acima do Sidney que está lá desde o início? Deixa o Sidney lá, não faço questão de ser chefe, não quero ser 5 chefe, não quero ter cartão de visita, não quero nada...”, “Ah, mas fica chato...”, “Chato para quem?”. Aí numa das vezes que eu vim para o Brasil eu fui lá conversei com o Sidney o negócio é o seguinte “Estão me convidando para isso assim, assim, assim, não quero ser diretor, eu não quero ficar no lugar do Irajá e não quero tomar teu lugar, você aceita eu ficar debaixo de você aí? Me deixa num canto aí, não me encha o saco que eu prometo que não encho o teu saco...” , o Sidney “Pô...”, o Sidney é um cara maravilhoso também, é outro santo “Claro...” e aí pronto... Aí foi a solução de dois anos, novamente de dois anos, de 2002 até 2004, meu compromisso era ficar até 2004. Aí cheguei no PEE – tem uma outra história que depois eu conto – cheguei no PEE e comecei a dar aulas para os alunos lá, me dei muito bem, estabeleci um relacionamento muito bom com os alunos, eu também gosto de dar aula, para a Embraer foi um negócio da China porque eu tinha um salário, relativamente reduzido, porque eu não trabalhava tempo integral também e esse tempo parcial também foi só por dois anos, porque depois de 2004... “Fica, fica, fica...”, “Está bom, então eu fico mais um bocadinho, mas só meio expediente, só de manhã...”, aí já baixou meu salário mais ainda porque eu fiquei só de manhã, de tarde meio dia eu ia embora para casa. Enfim, foi progressivamente, a minha aposentadoria foi em câmera lenta, foi progressivamente e eu passei a me sentir muito bem ali, não tinha nenhum problema administrativo, minha equipe era boa, me dei muito bem com os alunos, estabeleci um excelente relacionamento com os alunos, eu gostava de dar aula, os alunos gostavam das minhas aulas, as avaliações do meu curso, eu acho que até hoje a média está em 96% de índice de satisfação dos alunos, meu curso até hoje é considerado... – não estou falando isso para me bacanear, não, porque eu não preciso disso, não estou pedindo aumento, não quero promoção, pelo contrário, estou querendo é tirar o time -, mas até hoje se não é o melhor é um dos melhores cursos..., melhor no sentido de mais bem avaliado pelos alunos, 96% de índice de satisfação dos alunos. Enfim, fui ficando, fui gostando, fui estabelecendo um ótimo relacionamento com os alunos e comecei a me sentir útil. Uma vez na formatura de uma das turmas do PEE eu encontrei com o Maurício (Maurício Novis Botelho), o Maurício foi e me deu um abraço, todo mundo ficou assustado, os alunos 6 não sabiam que eu era... que eu conhecia bem o Maurício, o Maurício foi lá como presidente da Empresa “Oh, Paulo...” me deu um abraço e os alunos ficaram com os olhos arregalados... “Como é que você está, quanto tempo que a gente não se vê, o que você está sentindo aqui?”, eu falei “Maurício, eu vou dizer uma coisa para você, tem muitos anos que eu não sinto a sensação que eu estou sentindo hoje...”, “Qual é?”, “Ser útil à Empresa!” ele ficou meio chocado com a minha... “Ser útil a Empresa, por quê?”, “Eu acho que um final de carreira maravilhoso, depois de toda a experiência que eu vivi, poder transmitir isso para uma garotada nova que está chegando, para uma turma nova eu transmito o que a gente fez, o que deu certo, o que não deu certo, como é que eu acho que tem que ser feito, enfim...”. Eu virei uma espécie de consultor sentimental dos alunos, os alunos me procuram para pedir conselho sobre isso, sobre aquilo, sobre aquilo outro, o que eu faço, um dia veio um casal... “Escuta, a gente pode namorar aqui e tal...”, “Namorar pode só não pode engravidar, porque se engravidar como é que vai fazer, vai ter nenê, vai assistir aula com nenê, vai dar de mamar dentro da sala?, vai ser complicado...”. Enfim, até para isso eles me procuram. Essa relação com os alunos mudou o perfil de relacionamento meu com a Embraer completamente porque como eu passei muito anos fora e, durante os anos em que eu passei fora, muita gente foi mandada embora, quando eu voltei eu conhecia só os antigos, os velhos do meu tempo, esses caras que hoje são diretores, vice-presidente, etc, e o meu relacionamento era um relacionamento, digamos assim, com a faixa superior da administração da Embraer. E aí eu comecei a dar aula para a garotada e com isso eu comecei a ter um relacionamento com a camada de baixo que foi subindo, agora no sábado teve um churrasco de comemoração de dez anos de formatura da turma um. Então já tem PEEs com dez anos de Embraer, com isso hoje em dia eu conheço a Embraer de cima para baixo, conheço desde o Fred (Frederico Fleury Curado) até o aluno que entrou agora em março e agora em agosto vai entrar uma outra turma. Isso me traz... – isso é bom e ruim – é bom porque te dá uma amplitude grande, mas é ruim porque você ouve choradeira de todo mundo, entendeu? Você ouve choradeira do vicepresidente que reclama disso, daquilo, do diretor que acha que está tudo 7 errado, que isso, que aquilo, e aquilo outro, até o garoto que está entrando que acha que não sei o que está ruim, que isso, que aquilo e aquilo outro. Cultura Embraer Quem gosta de aviação vai ficar na Embraer, quem não gosta de aviação... só tem dois caminhos: ou passa a gostar e fica ou não aguenta mais de cinco anos, daqui há cinco anos vai trabalhar na Johnson, na GM, na Petrobrás porque não dá, aviação chupa muito sangue da gente e só quem é apaixonado pela aviação consegue sobreviver a essa doação, porque aviação é uma paixão e só quem tem essa paixão que consegue dar esse sangue todo, porque senão a coisa não funciona. Embraer e Futuro Em relação ao futuro da Empresa eu vejo que a Embraer como uma coisa irreversível, pessoalmente depois da privatização e depois do sucesso que ela teve é um player altamente viável e irreversível no mercado mundial. Agora, a Embraer vai enfrentar grandes desafios como a entrada no mercado dos chineses, dos japoneses, está todo mundo fazendo avião agora para competir com a gente, mas eu acho que a Embraer tem capacidade, tem competência para vencer esses desafios e se não ganhar pelo menos empatar e disputar pau a pau com eles. Eu não tenho medo de chinês... Bom não tenho medo de chinês, eu tenho medo do chinês daqui há cinquenta anos, mas daqui há cinquenta anos eu estou morto..., então, tanto faz. Mas, o chinês a curto prazo, até 2030, não sei quê... não tem a menor condição. A Bombardier tem um avião muito, muito, muito competitivo e que a Embraer vai enfrentar uma competição forte deles, graças a Deus eles estão atrasados como nós atrasamos também, como a Boeing atrasa, como a Airbus atrasa, eles estão atrasados e com isso a Embraer está ganhando tempo para evoluir. Existe aí uma decisão importantíssima a ser tomada, mas que depende do que a Boeing e a Airbus vai fazer em relação ao 737 e o A-320 que são dois aviões... – tem gente que diz que está em fim de carreira -, mas os caras estão fabricando trinta e cinco por mês cada um, estão jogando no mercado setenta aviões novos por mês, trinta e cinco cada um. Então, isso não é fim de carreira, não é fim de carreira do ponto 8 de vista industrial, do ponto de vista tecnológico eu acho que é fim de carreira, porque a aviação tem que mudar, a aviação do jeito que ela está hoje ele está tão desconfortável que é mais fácil você ir de carro ou ir de... hoje em dia é um sacrifício você andar de avião. Eu já fiz muitas viagens de avião internas na Europa, centenas de viagens entre a França e o Brasil e para mim hoje em dia viajar de avião é um sacrifício, eu já começo a ficar mal-humorado semanas antes de enfrentar fila no aeroporto, de enfrentar assento apertado, o assento desconfortável, tudo piorou... o Bin Laden conseguiu desarrumar a aviação de uma maneira... Então, esse tipo de aviação – tipo 737 – que você tem três assentos e três assentos, apertadíssimos..., pô é inviável, é absolutamente inviável. A aviação toda se deteriorou, a aviação se deteriorou, a aviação está complicadíssima e eu acho que a próxima geração de aviões tem que pensar um pouco no passageiro, pensar um pouco em descomplicar as coisas, dar melhor conforto. O 170 (EMBRAER 170) é um avião que faz isso, o 170 é um avião extremamente confortável, você entra no 170 você sente uma diferença “Pô, que avião é esse...?” Com esse negócio de finger que você entra no avião e não sabe em que avião você está entrando, você está dentro de um túnel dentro do avião, você entra ali você diz “Pô que avião é esse?”, você sente que o avião é diferente, o ambiente do avião é diferente, o avião é mais claro, mais iluminado, a janela é maior, o assento é mais confortável, não tem o assento do meio e é isso, é esse exemplo que o 170 deu ao mercado que tem que se estender. Eu procuro dizer para as pessoas que a aviação é muita doação, que a aviação exige paixão por aviação, que se você não gosta de aviação, não é uma pessoa apaixonada por aviação, você só tem duas alternativas: ou passa a gostar ou vai embora, eu não conheço..., eu estou com quarenta e dois anos de aviação, nesses quarenta e dois anos de aviação eu não conheço nenhuma pessoa que entrou para a aviação, não gostou e ficou, é quatro ou cinco anos em média o cara vai embora, vai procurar outro emprego, de todos esses quarenta e dois anos. É isso que eu digo para eles e um trabalho que eu procuro fazer no PEE (Programa de Especialização em Engenharia) de dar esse gosto, eu tenho um curso de motivação aeronáutica, umas coisas interessantes de aviação, um curso com nível de 9 tecnicidade muito baixo, é mais informação geral, as coisas bacanas da aviação, os grandes feitos da aviação para tentar motivar os caras. Eu digo para eles o seguinte: “Aproveitem isso aqui, para quem não gosta aproveita para gostar agora, porque se vocês não... se o que eu estou mostrando aqui para vocês não interessar, é um mau sinal...”. Então, é isso que eu faço lá no PEE, porque acho que a gente tem uma certa obrigação, porque como eles não tem o compromisso de terminar o curso e ficar na Embraer, eu acho que é uma obrigação nossa, minha e dos outros professores de chegar lá e motivar os caras para quando terminarem, os caras entrarem na Embraer motivados, querendo continuar trabalhando aqui. 10