Esta Sociedade tem lugar para mim? Neste mês de maio tivemos oportunidade de participar num ciclo de 3 conferências, ocorridas nos dias 8, 15 e 22, na Associação Católica do Porto, que pretendiam responder à questão ‘Esta Sociedade tem lugar para mim?’. Da primeira delas intitulada ‘Esta Sociedade tem lugar para mim, na Cidade?’, destacaríamos o testemunho da Dra. Paula França, assistente social que integra a Estratégia Nacional de apoio aos sem-abrigo, pelo trabalho que desenvolve nesta área e que permitiu que em 2 anos, saíssem das ruas do Porto, cerca de 2500 pessoas. A oradora destacou a importância do trabalho desenvolvido pelas organizações e associações voluntárias e apresentou alguns dos projetos implementados junto da Comunidade Sem Abrigo: - Projeto ‘ A nossa vida é uma arte’ - Filme ‘As vozes do silêncio’ (ainda não editado, mas rodado com Sem-Abrigo) - Plataforma mais emprego – projeto que visa promover as hipóteses de trabalho para as pessoas em reinserção social (ex-sem-abrigo), e que desde o seu início em Abril de 2013 permitiu que 5 pessoas nestas condições já tenham conseguido emprego. Em resposta à questão ‘Esta sociedade tem lugar para mim, na cidade?’ à primeira vista diríamos que não. Mas tem de ter! Como dizia a Professora Isabel Batista, da Universidade Católica, necessitamos cada vez mais de criar uma Cultura de Hospitalidade Urbana, desenvolvendo a capacidade de acolhimento e de criar relação com…! Na Conferência ‘Esta Sociedade tem lugar para mim, no Trabalho?’, o professor José Manuel Castro, da Faculdade de Psicologia do Porto, apresentou algumas notícias de jornais que parecem subentender um certo preconceito face aos desempregados: - ‘As matas vão ser limpas pelos desempregados’ – dá uma ideia punitiva, como se os desempregados precisassem ser castigados!; - ‘Um quinto dos cursos tem uma taxa de desemprego acima da média’ – assume-se que um recém-licenciado é desde logo um desempregado. Isto é um peso enorme para quem termina o seu percurso escolar! - ‘O combate ao desemprego passa por atrair mais jovens para a indústria’ – parece que a solução para o desemprego é simples, mas é necessário fazer uma análise mais profunda: há lugar para os jovens na indústria? As indústrias têm interesse em atrair jovens?, salientando a importância do matching entre necessidades da indústria e ofertas formativas. - ‘A geração nem-nem já ultrapassou os 500 000 em Portugal’ – Esta é uma designação simplista e desumanizante para um problema que é grave, que deixa cicatrizes para o futuro e que é potenciadora de comportamentos desviantes, indutora de penalizações salariais e de novas situações de desemprego. Tiago Ferreira, do Instituto de Empreendedorismo Social, na sua intervenção salientou a importância do trabalho ser vivenciado enquanto fonte de felicidade e realização. Na sua opinião a economia não nos está a servir, mas antes a retrair, chamando a atenção para práticas, como a do voluntariado e a partilha, que não se traduzem em dados concretos para o PIB nacional mas que são de extrema importância para a nossa sociedade. Terminou a sua intervenção dizendo que a questão colocada para o debate não deveria ser ‘A sociedade tem lugar para mim, no trabalho?, mas sim ‘COMO é que a Sociedade tem lugar para mim no trabalho?’, porque perguntas de sim e não levam-nos muitas vezes a resposta de Não, que conduzem à Desesperança! É preciso divulgar sinais de esperança e um sinal de esperança são os casos de sucesso de Empreendedorismo Social. Estes projetos não têm como objetivo vender mais ou gerar mais lucro, mas sim gerar mais empregos. Alguns bons exemplos deste tipo de projetos são: biscoiTOP (Valongo); Cais Recicla; Projeto Marias (Amadora); Projeto Dar Sentido à Vida (SAOM - Porto) que poderão conhecer de forma mais profunda através de uma pesquisa na internet. Para terminar este ciclo, participámos na Conferência ‘Esta Sociedade tem lugar para mim, no Viver Juntos?’. Foi inspirador ouvir qualquer uma das intervenientes. Filipa Palha, Psicóloga, professora da Universidade Católica e presidente da Associação Encontrar-se partilhou a sua experiência na área da Saúde Mental. A doença mental afeta 1 em cada 4 pessoas. Apesar disso o estigma sobre as doenças mentais continua a ser enorme. Urge por isso terminar com o silêncio sobre os problemas de saúde mental, nomeadamente nos locais de trabalho. É preciso também ter uma abordagem preventiva. Sabe-se que em contexto de crise social, o número de doenças mentais aumenta exponencialmente. Já viram alguma ação preventiva neste sentido? Mas todos os anos se fazem (e bem) campanhas preventivas sobre os perigos da exposição solar ou da gripe, porque não campanhas preventivas da doença mental? Glória Carvalhais, Coordenadora da Região Norte e Centro do programa Escolhas, esclareceu que a missão do programa Escolhas consiste em promover a inclusão social de crianças e jovens de contextos socioeconómicos vulneráveis, visando a igualdade de oportunidades e o reforço da coesão social. Atualmente na sua 5ª geração, que decorrerá até dezembro de 2015, o Programa Escolhas apoia 110 projetos locais de inclusão social em comunidades vulneráveis. Por fim, Tatiana Mendonça apresentou-nos um projeto que se constitui como um sinal de esperança para os desempregados, ao falar-nos do GEPE - Grupos de Entreajuda na Procura de Emprego. Esta intervenção mereceu a nossa especial atenção pela Campanha Nacional que a JOC está a viver sobre o Desemprego. Tatiana explicou-nos que o GEPE surgiu de duas constatações. Por um lado de que as pessoas em situação de desemprego tendem a isolar-se, por outro que a maioria das pessoas consegue emprego através da sua rede de contatos. Constituíram-se assim grupos informais de pessoas desempregadas, que reúnem semanalmente, cujo objetivo é a procura ativa de emprego, na qual todos os membros do grupo colaboram e se entreajudam. Sem dúvida um projeto desafiador e a conhecer em maior profundidade, ao nível das bases e das dioceses durante a nossa Campanha. E fica-nos o desafio lançado no final da conferência, citando o Irmão Roger, Taizé: “Os Cristãos não podem ser os senhores do Desassossego, mas os desafiadores da confiança!” (Rita Moreira; Elisabete Silva; Ângela Ferreira e Diana Salgado)