Goiânia, terça-feira, 27 de maio de 2014 O desemprego preocupante Quando a cabeça está vazia ela se transforma em oficina do diabo. E não é só força de expressão não. Até seria bom se fosse, porque aí milhares de desentendimentos não iriam parar nas delegacias policiais, nos presídios ou mesmo nos desmoronamentos das famílias. Um cidadão quando tem o que fazer, ainda que ganhando mal e viajando sem conforto nos ônibus, sem saber, ele é feliz. Isso me disse um desempregado. Contou-me que vivia contrariado, reclamando de tudo, que chegava a sua casa com o humor de quem acabara de sair do inferno, mas que o enxofre não desgrudava dele. E a esposa e os filhos pagavam o pato. Terminou em separação do casal. Agora, segundo ele, está vendo a vó pela greta. Dinheiro nenhum e a família cada um para um lado. Se era ruim, piorou. Igual a ele são milhares, milhões, de outros exemplos. No funda da questão a falta do que fazer realmente desespera qualquer cristão (e ateu também). Quem não tem tempo para nada não tem tempo para ficar supondo se viver é bom ou ruim. Vai vivendo até as coisas se ajeitarem. É a lei da existência. Agora, ficar desempregado, convenhamos, é um problema nacional crônico. Numa hora é a falta de preparação das pessoas para o trabalho, noutra, a ausência de oferta suficiente de serviço. Tudo, agravado por salários humilhantes. As políticas públicas (com os aplausos das privadas) para tal desatino já é mais do que centenária, e a cada dia menos esforços inteligentes são desprendidos para a solução. O poder público cada vez mais de olho grande nos tributos e a ofertar contrapartida ridícula em escolas, hospitais, moradias, estradas e transportes; enquanto o lucro, esse, maior apetite desperta na iniciativa privada. Perspectiva sombria. Numa nação de mais de 200 milhões de seres humanos o desemprego significa a impossibilidade de barrar qualquer tentativa de desenvolvimento individual das pessoas. Aí vai ficar ainda mais caro combater a vadiagem, a violência, a incidência de drogas, além da estima de cada um virar rancor nos pontos de ônibus, nos aeroportos, nas portas das arenas durante a Copa. Vixe. E por falar em Copa ela está por horas. Não vai dar tempo. Mas para os demais espetáculos da vida é bom começar a resolver o problema do desemprego para que o resto das dificuldades encontre em cada um de nós a satisfação em ajudar. Povo educado, e empregado, é economia de água, esgoto, energia elétrica e, com certeza, menos crimes banais. (Iram Saraiva, ministro emérito do Tribunal de Contas da União)