CAPÍTULO VII INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA APLICADA EM EDUCAÇÃO: AVALIAÇÃO, PEDAGOGIA E AÇÃO Sonia Midori Takamatsu Andréa Maria Martins Chiacchio O capítulo apresenta Definição clara da perspectiva da pesquisa qualitativa; Razões e a recepção da pesquisa qualitativa; Tipos de pesquisa qualitativa; Os exemplos desta abordagem. A pesquisa em educação são categorizadas em: Fundamental - voltada para a comunidade acadêmica/científica - aumentando conhecimento geral. Aplicada - voltada geralmente para professores/pais/administradores e alunos Visam resultados/implicações práticas Distinção que reflete alguns valores: Reside aqui talvez a velha dicotomia entre teoria e prática: Candau (1996) diz que esta lógica, organiza-se em torno do binômio produção-apropriação do conhecimento, sendo a universidade reconhecida e legitimada como lócus central (por vezes único), onde ocorre a produção dos saberes. Aos professores, cabe apropriarem-se deste conhecimento. “Preferimos pensar sobre estes tipos de investigação de forma não conflituosa, como complementos frequentemente articulados, e não necessariamente antagônicos.” (BOGDAN,1994) Circunstâncias da investigação qualitativa em educação: a) Programas experimentais - inovação planejada b) Formação de professores para reelaborar currículos - treino/formação de professores c) Dada a mudança em determinada instituição, verificar a probabilidade que possam gerar situações conflituosas de segregação social influenciar tomadas de decisões políticas Pesquisas qualitativas e a educação Mudança direcionada para melhoria de vida das pessoas. As estratégias da investigação qualitativa tem como foco os aspectos humanos da mudança. Compreender a mudança no contexto dos acontecimentos. Os autores elegeram 3 tipos de investigação qualitativa aplicadas: a) Investigação avaliativa e decisória b) Investigação pedagógica c) Investigação-ação (pesquisa-ação) Avaliativa e Decisória Geralmente tem como função a avaliação de Programas para possíveis modificações; Dados são descritivos apresentando relatos de pessoas envolvidas no programa; Resultados é a análise e descrição dos dados; Investigação é conduzida nos locais de ocorrência do programa; •Análise e o planejamento desenrola-se indutivamente. •O investigador descreve o programa na medida que observa seu funcionamento. •Observa-se o processo: • como acontece e não se o resultado foi alcançado. •As impressões e opiniões de todos os sujeitos envolvidos no programa. •A ênfase está no relato de várias impressões Maneiras Solicitação de propostas - Quando a instituição formaliza uma seleção de propostas sobre pesquisa avaliativa. Receber diretamente uma solicitação para prestar o serviço. Submeter a organismo um pedido para avaliar um programa para o qual eles estão a tentar encontrar financiamento. Os estudos americanos, em geral, priorizam as pesquisas quantitativas para avaliação de programas educacionais. Para os autores este problema significa a falta de visão e treino dos avaliadores institucionais no que se refere à pesquisa qualitativa. A abordagem qualitativa e a confiabilidade desta modalidade: •Clareza de objetivos •Descrição de cada etapa de forma detalhada, a metodologia a ser utilizada, os instrumentos e equipamentos necessários, a forma de tratamento de dados e justificar de forma clara a importância do estudo. • A revisão bibliográfica - suporte para a estruturação do trabalho, ela permite prever os possíveis problemas a serem enfrentados e as soluções que os pesquisadores poderão lançar mão para essas dificuldades. Relações entre o contratante e o investigador Pesquisas são orientadas pelas normas de investigação e expectativas do contratante. Alguns conflitos: Responsabilidade do investigador X responsabilidades com o contratante Dados - A forma com que os dados são trabalhados e expostos para os envolvidos deve ser cuidadosa para que não criem situações de desconforto ou hostilidades. • A ética da investigação - sigilo – sujeito • Os objetivos do programa como objeto de estudo: A pesquisa qualitativa deve se pautar na descrição do processo como se desenvolve o programa. A questão do sucesso ou fracasso do programa não deve ser o objeto de estudo, mesmo porque o pesquisador é antes de tudo um observador e não pode emitir juízos sobre aquilo que observa. O estudo qualitativo deverá abordar criticamente os resultados obtidos, mas a crítica deverá ser construída de forma positiva e não ou somente de forma negativa. Limitações impostas pelo contratante impositivas podem gerar uma análise enviesada ou distorcida. A pesquisa qualitativa, por sua natureza, deverá ser ampla e mostrar todos os aspectos relevantes do programa. Recomendações O respeito ao local de investigação; Feedback - Existem duas formas de fornecer um retorno para os envolvidos no programa (Formativa ou sumativa) Trabalho em equipe; Público - 1ª é o Grupo contratante • A questão que os autores colocam em relação ao futuro da investigação avaliativa e decisória é que o encaminhamento deste tipo de avaliação exige uma compreensão mais ampliada por parte dos gestores educacionais. • É necessário que os gestores não se limitem a interpretar resultados quantitativos em relação ao desempenho escolar dos alunos, mas sim compreender uma dada situação no qual o aluno está inserido no processo de aprendizagem. Nesse sentido, a investigação qualitativa deve ser compreendida como um suporte nas interpretações dos conflitos e dificuldades existentes no espaço escolar. Exemplos: •Head Start •Exemplos relatados pelo professor Luis Carlos de Freitas em relação ao Sistema de Avaliação Nacional; Pesquisadores da Fundação Carlos Chagas realizaram, recentemente, uma pesquisa solicitada pela Fundação Victor Civita, caracterizando o perfil dos coordenadores da rede pública brasileira, bem como os desafios no exercício de suas funções. A pesquisa foi coordenada por Vera Maria Nigro de Souza Placco, Laurinda Ramalho de Almeida, Vera Lucia Trevisan de Souza e publicada em 2011, abrangendo as seguintes cidades brasileiras: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luis, São Paulo. http://www.fvc.org.br/estudos-epesquisas/2010/perfil-coordenadores-pedagogicos605038.shtml UTILIZAÇÕES PEDAGÓGICAS DA INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA Ponto Central é a coleta e análise de dados. Os educadores podem utilizar a abordagem qualitativa no cotidiano escolar como instrumento para transformação e melhoria do processo de aprendizagem. A abordagem qualitativa propicia interpretações do cotidiano escolar de forma a explicitar diferentes aspectos e visões de seus participantes. “Mundo real” A visão que se tem deste “ mundo real” é determinante. “ A realidade é construída pelas pessoas na medida que vivem suas vidas” Uma pesquisa qualitativa está baseada na crença de que todas as pessoas possuem o potencial para transformação, tanto individual como seu meio. Podendo ser incorporada à pratica educativa de diversas maneiras. Melhorar a eficácia enquanto professor Sistematizar a escrita de suas experiências; Tornar-se mais reflexivo; Menos certeza em si próprio e mais no objeto de estudo; Professores investigadores; visão mais ampla; Passos a seguir Escolher o problema; Registro e notas sobre o assunto; Padrões que emergem de seus dados, Utilizar os dados para o plano de ações; A aplicação dos referenciais teóricos na formação de professores permite que os futuros profissionais tenham um suporte para a compreensão de uma realidade educacional complexa, além disso, permite o seu próprio posicionamento frente às situações cotidianas que revelam seu juízo de valor. • Essa consciência que vai se formando entre os futuros profissionais contribui no seu exercício profissional, na medida em que o professor percebe valores e conceitos que, muitas vezes, dificultam a compreensão de uma realidade na qual vive. • Facilita ainda a criar uma sensibilidade aos aspectos que influenciam o trabalho do professor e a interação com os alunos. Métodos Qualitativos no currículo escolar Os alunos podem utilizar a metodologia nos trabalhos escolares enriquecendo-os com entrevistas, pesquisas documentais, observações e análises voltados para uma visão científica. A aquisição de competências no âmbito científico propicia também o desenvolvimento de habilidades como aprender a escutar o outro, exercita a escrita, aprender a organizar e realizar o trabalho em grupo e compartilha conhecimentos e informações. Exemplo: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: A FORMAÇÃO DE ALFABETIZADORES NA PERSPECTIVA DO PROGRAMA MINEIRO “ALFABETIZAÇÃO NO TEMPO CERTO” (Andrea Chiacchio) •“Utilizamos como procedimentos a análise documental e a observação participante nas reuniões MÓDULO II, buscando compreender a problemática investigada, que se refere às concepções de alfabetização e letramento das professoras de crianças na fase inicial de alfabetização e às formas pelas quais elas discutem-nas e buscam colocá-las em prática”. •Os registros das observações foram feitos com apoio de áudio gravação e da produção de um diário de campo. Todo conteúdo das gravações foi transcrito na íntegra e encontra-se no anexo da pesquisa. •O trabalho analítico nos permitiu, principalmente: (i) identificar as concepções de alfabetização e letramento das professoras, e as formas pelas quais discutem as possibilidades destas, na prática, (ii) a forma com que o material disponibilizado para o aprimoramento do trabalho pedagógico é discutido e utilizado e (iii) a importância que o espaço coletivo pode ter para o crescimento e desenvolvimento do grupo. Investigação-ação Definição: A investigação-ação consiste em mudanças sociais. Seus praticantes reúnem provas ou dados para denunciar situações de injustiça ou perigos ambientais, com objetivo de apresentar recomendações tendentes à mudança . Relacionada à investigação aplicada. Métodos podem ser qualitativos ou quantitativos. • Investigações dessa natureza podem servir para casos de denúncia onde indivíduos cometem abusos ou excesso na sua conduta; • Fornece informações e entendimentos para a tomada de decisão e negociação em relação às mudanças necessárias; • Auxilia na identificação de aspectos vulneráveis que podem ser questionados legalmente; • permite a conscientização do problema; • permite reunir e organizar pessoas em torno do problema; • a coleta de dados objetivos facilita o planejamento de estratégias e desenvolvimento de programas comunitários. • A intervenção não é imposta por força externa (Dionne,2007); • Mudança conduzida em bases e atitudes democráticas. • Enfatiza-se o lado operacional, instrumental, da pesquisa-ação. Centro da pesquisa-ação A pesquisa de Paulo Freire Como exemplo de pesquisa qualitativa. Esclarecendo o método. A função de sua investigação Pontual em sua pesquisa: A recorrente necessidade do pesquisador “aprender para melhorar seu método” “Não basta saber ler mecanicamente ‘Eva viu a uva’. É necessário compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir uvas e quem lucra com esse trabalho.” (Paulo Freire, 1996.) “(A educação/alfabetização) possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como um importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social” (Paulo Freire, Educação na cidade, 1991, p. 68). Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=NF0LjkV2Lg8 “A educação que Paulo Freire vislumbra não é apenas politicamente utilitária. Ela não objetiva somente criar novos quadros para um novo tipo de sociedade. Há uma proposta politicamente mais humana, a de criar, com o poder do saber do homem libertado, um homem novo, livre também de dentro para fora. O método é instrumento de preparação de pessoas para uma tarefa coletiva de reconstrução nacional.” Carlos Rodrigues Brandão ( 1998 ) ANDRE, M ,Pesquisa em Educação: buscando rigor e qualidade, In: Cadernos de Pesquisas, n. 113, p. 51-64, julho de 2001. ________ Formação de Professores: a constituição de um campo de estudos, In: Educação, Porto Alegre, v.33, n.3, p.174-181, set/dez 2010. BRANDÃO, C.R. O que é o método de Paulo Freire, São Paulo:Brasiliense, 1981. CANDAU, V. M. F. Formação continuada de professores: tendências atuais. In:REALI, A. & MIZUKAMI, M. G. N. Formação de professores: tendências atuais. São Carlos: Ed. UFSCar, 1996, p.139-165 DIONNE, H. A pesquisa-ação para o desenvolvimento local, tradução de Michel Thiollent. 1ª ed., Brasília: Liber Livro Editora, 2007. 1 FREIRE, P, Carta de Paulo Freire aos Professores, In: Estudos Avançados, v.15,n. 42, p. 259-268, 2001.