Uso da metodologia emergética na análise dos sistemas de produção e consumo Enrique Ortega (Fac. Eng. de Alimentos) Miguel Bacic (Instituto de Economia) VIII Encontro Soc. Bras. Economia Ecológica - ECOECO. Cuiabá, Mato Grosso, 5-7 de agosto de 2009. O Dr. H. T. Odum, professor de Ecologia de Sistemas da Universidade da Florida, após várias décadas de estudos sobre o funcionamento dos ecossistemas e da biosfera, esquematizou a metodologia emergética para calcular o valor biofísico dos recursos da natureza e dos Howard T. Odum produtos da atividade humana. De acordo com Odum, o valor econômico e o valor biofísico geralmente não coincidem, pois o preço no mercado omite (ou não considera devidamente) fatores de produção. Valor = Custos comuns + Contribuição + Serviços da natureza Adicionais Insumos e serviços Matérias-primas agrícolas Externalidades negativas como serviços adicionais Contribuições ambientais Produto Processo Impactos Energia gasta (calor de baixa intensidade) Teoria do valor Sobre o conceito e a medição do valor na Economia, existem duas linhas de pensamento principais: • A considera que o valor decorre de fatores objetivos (o trabalho incorporado) • Outra que o valor decorre de elementos subjetivos (utilidade para o consumidor). A proposta teórica de Howard T. Odum (1924-2002) se enquadra na teoria do valortrabalho de Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx ... e a amplia, pois considera tanto o trabalho humano quanto o trabalho da natureza na formação do valor de um recurso. Adam Smith Karl Marx David Ricardo A emergia de um recurso corresponde a seu valor-trabalho integral. H.T. Odum Após o livro de Karl Marx “O Capital” ser publicado, vários economistas da Europa propuseram a teoria do valor-utilidade. William S. Jevons, Carl Menger e Leon Walras postulam que os indivíduos decidem livremente quanto pagam por um produto, sem considerar o trabalho incorporado apenas a utilidade. Pode-se contra-argumentar que as decisões dos seres humanos não são realmente livres, elas são condicionadas pela estrutura social imperante, através da propaganda e da opinião da mídia. Identificação Sentimento de ser parte da natureza e assumir a responsabilidade de seu cuidado (manutenção). Alienação Sentimento de não ser parte da natureza. Aproveitar-se dela sem se preocupar com a sua recomposição A emergia de um recurso corresponde a seu valor-trabalho integral. Emergia = a energia potencial (exergia) gasta, direta e indiretamente, na produção de um recurso. Mede-se em Joules de energia solar equivalente (seJ) por unidade de recurso (kg, J, etc.) A análise da economia de um país permite obter a taxa [Emergia/Dinheiro] que permite converter fluxos monetários em fluxos de emergia. A Análise Emergética ajuda a compreender os temas que desafiam hoje a análise econômica: • • • • Visualizar a organização dos sistemas Conhecer a intensidade energética dos recursos; Medir a contribuição da natureza; Estimar a área prestação de serviços ambientais e a área de absorção de impacto. • Calcular o saldo energético das fontes de energia (renováveis e não renováveis); • Avaliar a capacidade de suporte e a resiliência das distintas regiões da Terra e da Biosfera; Objetivo desta apresentação Mostrar como se faz a análise sistêmica dos processos físicos, biológicos, econômicos e ecológicos dentro da perspectiva da análise emergética Utilizaremos a linguagem dos sistemas desenvolvida por H. T. Odum na Universidade da Flórida. Como toda linguagem ela tem símbolos que se usam nos diagramas dos sistemas que mostram as interações das forças (fontes externas e estoques internos) que geram novos recursos. $ Análise de um processo físico Nesta representação não se diz de onde vêm as energias, nem como são geradas. Materia Energia Interação entre forças e materiais A matéria é modificada por ação da força aplicada e desse trabalho surge um recurso com novos potenciais (capaz de ser utilizado em outros sistemas) e também se dissipa calor. Produto da interação Energia degradada Como a matéria pode ser expressa em termos de energia pode-se fazer um balanço de energia: Materia Energia Interação entre forças e materiais Balanço de energia: Energia Energia nas + aplicada condições iniciais Produto da interação Energia degradada = Energia nas condições finais + Energia dissipada A eficiência do processo pode ser calculada: Eficiência do sistema Energia nas Energia nas condições finais condições iniciais = ---------------------------------------------------Energia aplicada Análise de um processo biológico Energia Este modelo de interação é denominado sistema auto-catalítico, As estruturas do sistema estabelecem seu limite de crescimento. Laço de retroalimentação Produto da interação Matéria Interação entre forças e materiais Produto bruto Produto líquido Energia degradada A produção bruta forma um estoque interno e parte dele é aproveitado na retro-alimentação reduzindo a quantidade de produto que sai do sistema. Materiais provenientes do sorguimento geológico Vento e Chuva Água Solo Alimento Força gravitacion al lunar (marés) Para aproveitar os recursos Reciclagem de nutrientes disponíveis (energia e materiais, Retroalimentação (controle) externos e internos), as unidades auto-organizadas de produção de biomassa (vegetal e animal) formam redes. Sol Água Energia e materiais dispersados sej/unidade de tempo (a) Fluxo de 9 energia solar: 6.10 6.109 Energia solar (6.104 J/t) 6.109 500 6.109 100 500 Sol 6.109 20 0 15 600000 1000 10 1000 (b) 2 100 00 25 6 40 0 0 00 Agregados: (c) 6.109 Sol 6.107 6.106 6.105 (e) Transformidade solar, sej/J (d) Transferência de energia, J/tempo 6.109 sej/tempo 6.107 6.106 6.105 6.104 100000 10000 1 100 0 1 1000 2 3 4 Os consumidores não podem destruir a base que os sustenta senão o sistema colapsa. As redes desenvolvem laços duplos de energia, materiais e informação. A sobrevivência do sistema depende da qualidade dessas interações. Reciclagem e laços de controle Materiais da biosfera incorporados (com energia disponível) Energia externa de fontes renováveis Biomassa animal Biomassa vegetal Plantas e algas Energia útil e laços de controle Consumidores e decompoitores Albedo Energia e matéria dispersada Cadeia trófica simplificada. A cadeia trófica (seqüência articulada de produtores e consumidores) mostra a origem dos recursos que sustentam o ciclo de produção e respiração (consumo). O ciclo de produção de biomassa vegetal e consumo dela é denominado metabolismo do ecossistema. Produção e acumulo Consumo dos recursos Emergia, sej 20 B 16 B C 12 A C A 8 D D 4 0 0 40 80 120 160 200 240 280 320 Tempo A produção de biomassa vegetal ocorre lentamente e o consumo se realiza como pulso rápido. Análise de um processo econômico simples Nos capítulos iniciais dos livros de Economia (Robinson e Eatwell, 1979) inicia-se a análise dos processos econômicos com o exemplo do produtor individual. Esse produtor produz para se manter e destina parte de sua produção para fazer trocas com outros produtores individuais que produzem outros bens. Geralmente, não se analisa o modo de produção, não se menciona a origem dos recursos que utiliza nem se fala da sua relação com a natureza. Consumo interno Ser humano Trabalho humano Recurso produzido Subsistema produtivo Transporte Produto para intercâmbio Produtor humano individual Processo econômico simples. Análise do escambo Produto adquirido Energia colocada na negociação Ser humano Trabalho humano Recurso produzido Subsistema produtivo Produto produzido Produto no mercado O produtor participa diretamente da negociação e existe a possibilidade de troca justa (veja a linha de força que vai para o processo de troca). Produtor humano individual Troca Produto adquirido Energia colocada na negociação Ser humano Trabalho humano Recurso produzido Subsistema produtivo Produtor humano individual Produto produzido Produto no mercado Um processo econômico mais elaborado considera a existência de vários produtores individuais que trocam mercadorias por meio do escambo. Mercado regional Processo econômico com dois ou mais produtores. Produtos comprados Seres humanos Trabalho humano $ $ moeda moeda Pressão Energia dispensada na negociação Trocas Recursos produzidos Trabalho humano Ser humano Produtos da economia urbana Subsistema de consumo Subsistema produtivo Produtores rurais individuais Pressão Produtos vendidos Consumidores humanos organizados em cidades Relação entre campo e cidade usando moeda Biodiversidade Agricultor A produção rural muda com as inovações e pelas pressões Agricultura externas. Em alguns casos, o individual. produtor individual pode subsistir. Agricultores associados. Agricultor individual O produtor rural ecológico aproveita a biodiversidade para obter recursos do meio usados na produção de biomassa, materiais para a família e serviços ambientais para a região. Os produtores rurais podem se autoorganizar ou podem ser organizados por terceiros; nesse caso, as vantagens se Distribuição Biodido ingresso distribuem entre eles e oversidade novo elemento. Agricultor Produto Estrutura da para venda organização no mercado administrativa Biodiversidade Agricultor Biodiversidade Agricultor $ Dinheiro Agricultor Organizadores do sistema Produto para o exterior Se os estoques naturais forem destruídos, o sistema deixa de captar recursos, Produto vindo do exterior Agricultor Agricultor Um sistema agrícola sem biodiversidade perde entradas naturais, sua fertilidade diminui e pode colapsar. Quando o sistema econômico cresce, as relações de troca podem tornar-se injustas, pois a força de pressão dos grupos humanos varia com a capacidade de organização, nela se aplica conhecimento e poder. Surgem atravessadores que concentram o poder de compra do agrupamento urbano e pressionam para obter menores preços por parte dos produtores rurais, assim se transfere a riqueza do meio rural para a cidade. A menor organização dos agricultores contribui para permitir a transferência de riqueza. O campo se empobrece. A distribuição da renda dentro da cidade é desigual e concentra a riqueza no topo da cadeia de transformação de recursos. Produtos vendidos $ Trocas moeda Recursos adquiridos Pressão Distribuição do ingresso Trocas Produtos comprados Governo da organização social urbana Produtos da economia urbana Produtos e serviços Trabalho humano Grupo humano Grupo humano Grupo humano Economia urbana As relações dentro da cidade e pressão pela renda. Estoques não renováveis Minerais Produtos comprados Biodiversidade Seres humanos $ $ moeda moeda Pressão Energia dispensada na negociação Trocas Recursos produzidos Subsistema produtivo Produtores rurais individuais Produtos vendidos Recursos Energéticos fósseis Ser humano Trabalho Produtos humano da economia urbana Subsistema de consumo Pressão Consumidores humanos organizados em cidades Relação cidade-cidade influenciada pelos produtos derivados de petróleo e minerais. Nos últimos 300 anos, o sistema econômico passou a usar de forma intensa estoques que não repõe: florestas, minerais e hidrocarbonetos (madeira, carvão, petróleo, gás). Para a economia urbana esses recursos têm custo mínimo, pois somente paga os custos de extração. Com eles a indústria produz insumos agrícolas de baixo preço que substituem o trabalho da natureza e do homem e destroem a biodiversidade diminuindo os serviços ambientais vitais. O sistema rural perde fertilidade, permite o crescimento das cidades e se coloca frente a possibilidade do colapso. Análise do funcionamento de um ecossistema processos geológicos Chuva ev ação r o p a Vento tra ns p Regulação da temperatura ira ção biomassa matéria orgânica do solo Animais mi gra ção Nitrogênio e minerais mobilizados Dióxido de carbono, óxidos escoamento ácidos, metais superficial Regulação da pesados composição da atmosfera Solo Água produção primária líquida escoamento superficial com sedimentos e humus Fauna e população humana formação geológica Sol Água infiltrada vegetação produção primária bruta Produtos do sistema infiltração percolação Água percolada Análise de um processo econômico dentro de uma região Nitrogenio atmosférico Minerais do solo mobilizados pela micro-biota Combustíveis Bens da economia Serviços Pessoas Cursos de água com sedimentos e húmus Serviços ambientais Ecossistemas naturais Recursos renováveis Agricultura Infraestrutura Indústria e comercio Governo Pessoas Produtos $ Espaços verdes Resíduos Cidade Área de suporte Resíduos Análise de um processo econômico dentro da biosfera Materiais renováveis que entram no sistema O2, N, P do ar e minerais solubilizados do solo Materiais que saem do sistema Nutrientes disponíveis Energia difusa que movimenta o ciclo material Energia e materiais de alta concentração Energia fóssil que movimentam Minerais o ciclo material N2O, CH4, SOx CO2 Calor Cidades com industria e comercio O2 Biomassa vegetal Energias renováveis Capacidade de fotossíntese aumentada pela adição de fertilizantes químicos Reservas fósseis de C Consumidor de recursos não renováveis Resíduos tóxicos Decompositores Energia degradada que sai do sistema A agricultura deixou de ser limitada pela reciclagem dos nutrientes. O trabalho humano e da natureza foi substituído pelo trabalho realizado por produtos químicos e máquinas movidas à energia fóssil, porém com custos ambientais e sociais significativamente elevados. O impacto sócio-ambiental decorre do uso de recursos com enorme capacidade de trabalho, que substituem o trabalho humano e cujos impactos sócio-ambientais (externalidades negativas) constituem custos adicionais que não são considerados na contabilidade econômica. O uso de recursos não renováveis propicia o aumento da produção mas ao mesmo tempo gera externalidades negativas importantes: Perda de biodiversidade, poluição com substâncias tóxicas, diminuição da água doce potável disponível, concentração do poder econômico e político, êxodo rural, marginalização. A solução é a mudança do modo de produção social (novas ideologias, uso de recursos renováveis, menos emissões, tratamento e reciclagem de efluentes e resíduos e um trabalho humano de melhor qualidade). Processos Geológicos Materiais da terra Minerais Gases Água Calotas polares Vulcões CaCO 3 Nuvens Oceanos Geleiras Silicatos Superfície terrestre Processos Biológicos Energia Interna Produtos químicos biológicos Biodi versidade Biomassa Estoques de carbono Superfície terrestre Energia Solar Energia Gravita cional Corpos com vida Superfície terrestre Processos Históricos Conhecimento Espécie humana Processo de desenvolvimento Trabalhadores assalariados Formação de classes sociais Trabalho humano Co 2 , CH4 , ácidos, metais pesados Produto Sistema produtivo Capita listas Infra estrutura produtiva Agri. Pec. Cidades comércio Silv. Superfície terrestre Ideologia e Organização Sistema de consumo Floresta SAF Superfície terrestre Atividade Econômica Atual CO2 sequestrado Relação do processo econômico com os processos geológicos, biológicos e culturais da biosfera Restringir o aquecimento Preservar a biodiversidade Processos geológicos Cuidar de todos os componentes da sociedade global Processos biológicos Processos sociais Área para provisão de serviços ambientais Produção e consumo humanos Área de absorção de impacto O fluxo de materiais, serviços e informação produzidos no passado na biosfera· exige retribuições adequadas por parte da sociedade humana. Modelo de simulação da economia baseada no petróleo (Odum e Odum, 2001). O declínio do petróleo vai gerar aumento de preços e redução da produção industrial (Odum e Odum, 2001). Pequena pausa Em breve continuaremos. Recursos naturais A reprodução das forças de trabalho coloca um limite aos capitalistas. A existência de grandes estoques de recursos naturais (que se esgotarão num prazo relativamente curto, dado o consumo frenético), leva a valorações que se concentram nos custos de extração e exploração correntes e desconsideram seu custo de reposição. Isso aliado ao fato dos recursos naturais terem ciclos de reposição muitos longos, leva a uma sobre-exploração, ao esgotamento e finalmente ao colapso de processos econômicos e atmosféricos. Modelo de simulação da biosfera (elaboração própria). Análise emergética e políticas públicas. No caso do trabalho da natureza se apresentam dois casos extremos: o da abundância e o da escassez. Quando os recursos são abundantes o trabalho da natureza é considerado gratuito! E o valor dos recursos naturais é inversamente proporcional ao preço. O dinheiro pago não corresponde ao trabalho realizado pela natureza. A análise emergética pode colaborar na informação dos preços reais dos recursos, induzindo uma maior racionalidade em sua utilização, por meio da formulação de políticas públicas que intervenham na estrutura de preços do sistema econômico. Como a disponibilidade dos recursos varia com o tempo, as políticas públicas devem mudar a cada etapa dos ciclos de co-evolução. Para garantir o aporte de recursos da natureza deve-se reconhecer seu trabalho e investir para que a natureza possa seguir oferecendo os serviços ambientais: Absorção dos resíduos, infiltração da água da chuva, fixação biológica de nitrogênio, mobilização de nutrientes do solo agrícola e manutenção da qualidade do clima. Pode se usar a metodologia emergética para analisar de forma sistêmica os processos ecológico-econômicos e as políticas públicas. Ideologia Não renováveis Modelos culturais Tecnologia Religião Artes Recursos renováveis Recursos renováveis de produção lenta Meio Ambiente Pessoas Classes Economia Ciência Infraestrutura Língua comum Estrutura social Pessoas e Cultura Pode se usar a metodologia emergética para analisar de forma sistêmica os processos ecológico-econômicos e as políticas públicas. Grupos familiares Grupos locais Pequenos domínios regionais Estados Arcaicos Estados Modernos Sistemas Mundiais Ciclagem Materiais dispersados Energia fóssil e minerias Recursos Produção naturais Ecossistêmica Forças para o Organização crescimento social socio-cultural Fontes de energia Produção Consumo 6. Analise de sistemas produtivos O capitalismo gera “Urbanização Econômica” que degrada o meio e reduz os serviços ambientais. Nesse modelo se planeja estrategicamente para atender interesses externos! Esse modelo causa erosão social, concentra o poder e a propriedade, transfere os benefícios para fora da região, gera emprego rural de péssima qualidade, depende de recursos do petróleo e tem saldo prejudicial de gases de efeito estufa. O modelo alternativo (“Ruralização Ecológica”), têm como base os sistemas integrados de produção de alimentos, energia e serviços ambientais (SIPAES) e visa a descentralização e a recuperação do meio ambiente para sustentar cidades menores. Os SIPAES podem ser projetados para absorver os impactos das mudanças climáticas: Capturar dióxido de carbono, regular a temperatura e os fluxos hídricos, preservar a biodiversidade, incorporar pessoas desempregadas. Novas variáveis de projeto! Bezerros Magros Formicida Sol, vento, chuva Produto e serviços do bosque nativo Vegetação Nativa Parcela individual Pastos, grãos, arbustos Pessoas Serviços Mãode-obra Água, solo, biodiversidade, micro-clima Minerais Nitrogênio Atmosferico Materiais, energia Consumo interno Produtos da horta e do pomar Vinhoto Gado Gado gordo em pé Cinzas Eucalipto Cana-deaçucar Postes Micro-usina de álcool, agroindústria local e regional. Álcool 94% Esterco Sistema de produção de alimentos, energia e serviços ambientais (SIPAES) Combustíveis e minerais $ Biodiversidade Natureza Sol, calor interno, marés $ SIPAES: sistemas que integram agricultura, pecuária, aqüicultura, silvicultura e industria rural Extração, beneficiamento e transformação $ $ $ Cidades Informação pública Economia da Terra Energia degradada Interação sustentável entre campo e cidade com base em SIPAES (adaptado de Odum, 2007). Exemplo de aplicação metodologia emergética: a produção de etanol. A continuação mostra-se a aplicação de fatores de intensidade emergética (transformidades) para obter os valores de emergia das entradas ... de um sistema de produção de etanol de cana-de-açúcar em São Paulo de tipo padrão agroquímico: 21300 ha de cana, sem reserva florestal (Pereira, 2007). Potássio Infraestrutura industrial Herbicida Nitrogênio Corretivo Fosfato Mudas Equipamento agrícola Mão-deobra agrícola 467,3 161,2 Equipamentos industriais Mão-deobra industrial 21,0 Insumos industriais Veículos Serviços Adm. públicos (Impostos) Transporte e Organização 21,0 Solo erodido Chuva 14,1 139,6 450,9 Solo Sol Pneus 108,3 Água para uso industrial 18,0 559,9 Diesel Infraestrutura agrícola Produção agrícola Transporte Infraestrutura industrial Destilaria de álcool Transporte Etanol (99.5%) 2895,4 Destilaria comum de álcool (adaptado de Pereira, 2007) Contribuições Fluxo de entrada nas unidades comuns SI Unidades Intensidade energética Fluxo de emergia Dólares equivalentes sej/unidade sej/ha/ano USD/ha.ano Contribuições renováveis da natureza 1 Radiação solar 1727 kWh/m2.ano 2 Chuva (potencial químico) 1660 3 Água (ferti-irrigação) 500 4 Água (uso industrial) 1,5 Subtotal 592,13 1 5,22E+13 14,11 mmca/m2.ano 6,77E+10 J/ha.ano 3,06E+04 2,07E+15 559,90 l /ha.ano 2,50E+06 J/ha.ano 1,85E+05 4,63E+11 0,13 m3/TC 3,60E+08 J/ha.ano 1,85E+05 6,66E+13 18,00 Subtotal 20,95 7,75E+13 20,95 5,22E+13 J/ha.ano Não renováveis da natureza 5 Perda do estoque de solo arável 11,9 t/ha.ano 3,23E+09 J/ha.ano 2,40E+04 % 30% 1% Contribuições Fluxo de entrada nas unidades comuns SI Unidades Intensidade energética Fluxo de emergia Dólares equivalentes sej/unidade sej/ha/ano USD/ha.ano Materiais serviços Subtotal 1348,23 6 Infra-estrutura industrial 0,23 USD/ha.ano 0,23 USD/ha.ano 3,70E+12 8,51E+11 0,23 7 Equipamento agrícola (aço) 4,33 kg /ha.ano 4,33 kg/ha.ano 1,13E+13 4,89E+13 13,22 8 Equipamentos industriais (aço) 4,05 kg /ha.ano 4,05 kg/ha.ano 1,13E+13 4,58E+13 12,37 Veículos (aço) 7,58 kg/ha.ano 7,58 kg/ha.ano 1,13E+13 8,57E+13 23,15 10 Insumos industriais 93,2 kg /ha.ano 93,2 kg/ha.ano 3,80E+12 3,54E+14 95,72 11 Mudas 2,8 t /ha.ano 2800 kg/ha.ano 7,50E+10 2,10E+14 56,76 12 Corretivos 80 kg /ha.ano J/ha.ano 2,72E+06 6,64E+14 179,37 9 2,4E+8 Percent ual 69% Materiais serviços 13 Nitrogênio 16,0 kg/ha.ano 1,60E+01 kg/ha.ano 6,38E+12 1,02E+14 27,59 14 Fosfato 98 kg /ha.ano 9,80E+01 kg/ha.ano 6,55E+12 6,42E+14 173,49 15 Potássio 21 kg /ha.ano 2,10E+01 kg/ha.ano 2,92E+12 6,13E+13 16,57 16 Herbicidas 45 kg /ha.ano 4,50E+01 kg/ha.ano 2,48E+10 1,12E+12 0,30 17 Diesel 186,12 l/ha.ano 6,55E+09 J/ha.ano 5,50E+04 3,60E+14 97,36 18 Pneus 3,94 kg/ha.ano 3,94E+00 kg/ha.ano 1,79E+13 7,05E+13 19,06 19 Mão-de-obra agricolatransporte 43,65 pessoa/ha.ano 2,13E+08 J/ha.ano 2,80E+06 5,96E+14 161,19 Mão-de-obra industria-distribuição 204,6 pessoa/ha.ano 2,77E+07 J/ha.ano 2,80E+06 7,76E+13 20,96 195 USD/ha.ano 1,95E+02 USD/ha.ano 3,70E+12 7,22E+14 195,00 255,88 USD/ha.ano 2,56E+02 USD/ha.ano 3,70E+12 9,47E+14 255,88 Total 1,07E+16 1961,3 20 21 Despesas administrativas 22 Impostos e Taxas 100% Como pode ser visto, é possível converter todos os fluxos de entrada de um sistema de produção, em termos de emergia solar equivalente e depois em termos de dólares equivalentes para comparar os valores de cada entrada. Dados do produto e da produção Itens Produção obtida por hectare Valor 6560 Unidade Litros/ha.ano Valor calórico unitário Fator de conversão de kcal para Joules Energia produzida em unidades padrão 7000 4186 1,92E+11 kcal/litro J/kcal J/ha.ano Preço do etanol 0,55 USD/litro Cabe observar que o estudo realizado (Pereira, 2007) não considera a produção residual de serviços ecossistêmicos nem a produção de externalidades negativas. Indicadores do processo. Índices emergéticos Fórmula Valor Unidades Emergia utilizada: Y = soma de todas as emergias utilizadas 1,07E+16 seJ/ha.ano Energia do produto: E= valor calórico da produção de etanol obtida 1,92E+11 J/ha.ano Eficiência sistêmica = E/Y 0,001794 % Transformidade: Tr= Y/E 5,57E+04 sej/J Taxa de troca: EER = Y/(litros etanol/ha.ano)*(dólares/litro)*(emergia/dólar) 0,80 Renovabilidade: Ren= (contribuições renováveis da natureza)/ Y 30% Saldo emergético: EYR= Y/(materiais e serviços econômicos) 1,45 Taxa de investimento: EIR (contribuição da economia)/(contribuição da natureza) 2,28 Das tabelas se destacam os seguintes fatos: A contribuição da natureza (560 USD/ha.ano) corresponde a 30% do valor em dólares equivalentes da produção total (1961 USD/ha.ano) e esse valor é desconsiderado no cálculo econômico convencional. No escopo de uma visão sustentável que exige a reposição dos recursos da natureza este valor deveria ser cobrado do produtor para ser utilizado em fundos que garantam ações para que as áreas agrícolas e as áreas protegidas possam manter a mata nativa que gera serviços ambientais necessários a continuidade da produção e da qualidade de vida humana. Cabe notar como desdobramento desta observação que a metodologia emergética tem condições de calcular as áreas necessárias para gerar os serviços ambientais e para absorver o impacto ambiental de uma população. A chuva é o item mais importante dentro do sistema, porém nada garante a disponibilidade deste recurso senão forem implementadas ações de governo que evitem a destruição da floresta da Amazônia e das matas locais, o que exige recursos monetários. A tabela de indicadores de desempenho mostra que a eficiência ecossistêmica da produção de etanol produzido de forma convencional é muito baixa (0,001794%) o que coloca em discussão as políticas que promovem a expansão ampla deste modelo de produção. Deveriam considerar-se alternativas! Uma tarefa pendente seria comparar os valores dos insumos econômicos em dólares equivalentes com os valores monetários de mercado o que permitiria encontrar distorções algumas das quais estariam vinculadas ao preço subsidiado do petróleo na economia internacional. 8. Conclusão A energia é o motor que move a natureza, os ecossistemas e o sistema econômico. À visão de um sistema econômico composto basicamente por fluxos e estoques monetários deve ser contraposta outra visão, na qual o sistema econômico seja visto como um ecossistema composto por fluxos e estoques de energia. Nesta concepção a análise emergética permite estudar a natureza dos elementos intervenientes nos sistemas humanos analisados e calcular o valor do trabalho da natureza informando claramente onde o preço de mercado está distorcido. Esta informação é fundamental para o desenho de políticas públicas que assegurem que esse valor seja incluído nos preços (por exemplo: por meio de tributação ou racionamento) de forma a garantir que haja reposição do que foi extraído ou para manter a fertilidade natural e assegurar a sustentabilidade e governança futura. Esta visão permite efetuar estudos comparativos de desempenho de sistemas de produção atuais com os sistemas ecológicos projetados para máximo desempenho emergético (SIPAES) incorporando os valores dos serviços ambientais devidos e as externalidades negativas. A visão sistêmica/energética gera idéias e propostas para programas de governo, investimentos, educação laica e dialogo ecumênico. Educação Governo Sol Religião http://www.unicamp.br/fea/ortega/