INTRODUÇÃO AOS CLÁSSICOS DO PENSAMENTO ECONÔMICO Adam Smith ADAM SMITH AULAS 4 a 8 Contexto Histórico de Adam Smith Significado e origem da obra “A Riqueza das Nações” • O tema principal da obra é o desenvolvimento econômico. • A riqueza para Smith assume a forma do rendimento nacional produzido durante um intervalo de tempo, têm a forma de fluxo, e não de reserva estanque. • Smith via com ressalva o investimento nos "dinâmicos empreendimentos" dos "visionários" e deixou de registrar em seu livro as grandes invenções de seu tempo. • Isto mostra que Smith nunca abandonou a idéia de que a agricultura, e não a indústria era a principal fonte de riqueza da Grã-Bretanha. 2 Contexto Histórico e intelectual • A concepção de individualismo, presente na obra de Smith foi inspirada na filosofia de Thomas Hobbes, David Hume, John Locke e Bernard de Mandeville (A fábula das abelhas), que estava em voga no século XVIIXVIII. • Cada homem é descrito nesta obra como um ser naturalmente egoísta, que ao levar à cabo suas intenções e desejos beneficia todos os homens. 3 Contexto Histórico e intelectual (cont.) • A idéia do egoísmo natural, ou hedonismo provém de Hume e a extrapolação deste egoísmo em benevolência é o mecanismo que Smith elabora para chegar à idéia de benevolência natural de Hutcheson. • Adam Smith vive o período final do mercantilismo. • No século XVIII, o processo produtivo sofre grandes transformações em sua estrutura: 1. Divisão das tarefas 2. Introdução das primeiras máquinas. O aumento da capacidade produtiva que resulta então é um dos efeitos que fascinam Adam Smith. 4 A divisão do trabalho Como a divisão do trabalho atua sobre o processo produtivo: • Para Smith " o sistema econômico é, na sua essência, uma vasta rede de inter-relações entre produtores especializados fundamentada na ‘propensão à troca. • A fonte de toda riqueza está na capacidade de produzir bens e serviços que tornam a vida humana mais agradável. • Essa capacidade é potencializada pela divisão do trabalho. • Esta propensão a troca leva o indivíduo a apelar ao egoísmo dos outros, convencendo-os a lhe darem o que sozinho não pode obter ou produzir. • A habilidade individual, ou as condições favoráveis que se possui relativamente à execução de determinado trabalho, levam o indivíduo a obter grandes resultados quando aplicase a este trabalho. 5 A divisão do trabalho (cont.) • Quando a propensão a troca atua sobre ele, leva-o a perceber que, tendo que realizar todas as atividades necessárias para prover-se da subsistência, não obteria, em qualquer uma delas o mesmo êxito do que naquela pela qual nutre maior desenvoltura. Isto pois: 1. Sacrificará a dedicação à esta em função das demais; 2. Não poderá obter, nestas, o mesmo resultado obtido por aqueles que possuem a habilidade ou condições favoráveis para a sua execução. • Assim sendo a divisão do trabalho é a melhor forma de organizar-se o trabalho em uma sociedade. 6 A divisão do trabalho (cont.) • O aumento produtivo por trabalhador, proporcionado pela divisão do trabalho deve-se a: 1. O aumento da destreza em cada trabalhador; 2. A possibilidade de poupar o tempo decorrido na passagem de uma modalidade de trabalho à outra, anteriormente perdido. 3. A invenção de grande número de máquinas que facilitam e reduzem o trabalho, permitindo a um homem produzir por muitos. 7 Como a divisão do trabalho contribui para a prosperidade econômica • A divisão do trabalho leva ao aumento da produtividade, e, portanto do volume da produção. • A divisão do processo produtivo presume o emprego de mais trabalhadores, o que significa a remuneração de mais pessoas. • Mas a divisão do trabalho só se dá quando os trabalhadores podem encontrar no mercado o que não produzem. • Vejamos como a divisão do trabalho se desenvolve: com a entrada de mais trabalhadores, o processo produtivo segmenta-se em novos e mais estágios, cada vez mais específicos. 8 Como a divisão do trabalho contribui para a prosperidade econômica (cont.) • Daí vem o ganho de produtividade: O produto da indústria aumenta mais do que proporcionalmente aos custos que se incorre com a contratação de mão-de-obra suplementar. • Este ganho estimula nova contratação, e o processo repetese sempre que a capacidade do mercado de absorver a produção aumenta. • Smith observou que a divisão e especialização levavam o trabalhador à limitar-se cada vez mais à procedimentos simples e repetitivos, o que faria de sua vida uma experiência tortuosa e destruidora do intelecto. 9 Fatores limitantes na divisão do trabalho • O desenvolvimento da divisão do trabalho é determinado, como colocado acima, pela: 1. Dimensão do mercado, 2. Nova contratação, • O processo repete-se sempre que a capacidade do mercado de absorver a produção aumenta. • Conclusivamente o mercado leva á divisão do trabalho, não sendo a recíproca válida. • A divisão social do trabalho manifesta-se mais intensamente na indústria manufatureira do que na produção agrícola. 10 O valor Definição e formas do valor: • Para Smith, o valor das mercadorias é dado pelo trabalho de produzí-las. • Este trabalho que pertence ao passado, é chamado de trabalho incorporado . • O trabalho pelo qual pode-se trocar a mercadoria é chamado de trabalho comandado, trabalho que pode ser contratado. • O valor pode assumir dois significados: valor de uso e valor de troca. • O valor de uso é a "utilidade total de um conjunto de mercadorias. "Sendo a utilidade o poder de satisfazer uma necessidade biológica ou social generalizada." • O valor de troca equivale à quantidade de trabalho que determinada mercadoria pode comandar e é atribuído à esta pelo fato de possuir utilidade, ou valor de uso. 11 O valor (cont.) O paradoxo da água e do diamante • Para demonstrar que a relação entre valor de troca e valor de uso não é direta, Smith traz à tona o paradoxo da água e do diamante. • O enunciado deste diz fundamentalmente que a água, indispensável à vida humana, portanto de imenso valor de uso, existe sem que para isso tivesse ou tenha de ser realizado qualquer trabalho.Ou seja seu valor de troca é nulo. • Contrariamente o diamante, de valor de uso ínfimo quando comparado a água, possui enorme valor de troca. • O fundamento do paradoxo está na idéia de que, se uma mercadoria possui valor de troca, ou seja, é possível trocá-la por outra,isto se deve ao fato de que ela é capaz de satisfazer a pessoa que têm intenção de adquiri-la. 12 O valor (cont.) • Assim sendo, quanto maior for a capacidade desta mercadoria de satisfazer aquele que a deseja; Maior será seu valor de uso, o que pode nos levar á falsa conclusão de que seu valor de troca também será maior. • A falsidade desta conclusão é exatamente o que Smith procura denunciar com o paradoxo,pois se a mercadoria mencionada for a água, apesar de seu valor de uso ser imenso, seu valor de troca é nulo. A idéia é a mesma para o diamante, com a proporção entre valores invertida. 13 Medidas de valor • A divisão do trabalho ocorre pois cada um deseja abster- se de determinada tarefa, delegando-a a outros. • A riqueza é também medida da capacidade de comandar trabalho. Ou seja, do valor em trabalho de tudo o que se possui. • Smith coloca que, quando não existia o trabalho assalariado, o produto do trabalho era possuído pelo trabalhador, e sua riqueza era diretamente medida pelo esforço que pudesse mover. Aí, o trabalho comandado era igual ao trabalho incorporado. Mas, com a propriedade privada da terra, o valor em trabalho comandado de um produto, excede o trabalho incorporado, por um montante de lucros e rendas. • Nessa situação, dada a subjetividade do valor atribuído ao trabalho, e dada as diversas formas que esse pode assumir, é difícil encontrar um padrão para o valor ou bem-estar. • Smith elege então como medida de valor o trabalho comandado, apesar de encontrar dificuldades para explicar como este valor determina os preços. 14 Os preços Definição e determinação dos preços: • O preço é a expressão do valor em termos de um padrão, por exemplo moedas ou grãos. • Os preços são constituídos pelos salários do trabalho, os lucros do capital e as rendas da terra. • Os preços assumem duas formas : real e nominal, e são determinados com base em dois critérios: 1. O mercado; 2. As necessidades humanas. • O preço real é o preço em mercadorias ou poder de compra, não sendo afetado pelas variações do valor da moeda. • O preço nominal é dado em termos de moeda. 15 Os preços Oferta e demanda na determinação dos preços • A vontade individual de comprar à um dado preço(demanda) e a vontade individual de vender à um dado preço, conjugam-se para determinar o preço de mercado. • Esse preço oscila através de um nível mínimo para o qual está garantida a subsistência do trabalhador. Este nível é chamado de preço natural. • Com base nisso Smith argumenta: 1. Quando a quantidade ofertada é menos que a demandada: dá-se o aumento do preço unitário deste bem além de seu preço natural. 2. Quando a quantidade ofertada de bem é maior que a demanda: dá-se a redução do preço unitário deste bem abaixo de seu preço natural. 3. Com o passar do tempo oferta e demanda tendem a igualar-se. 16 Os salários • Partindo do estágio da sociedade em que o produto do trabalho era integralmente possuído pelo trabalhador " com a apropriação da terra e do capital" este produto sofre: 1. Primeiramente a dedução da renda, 2. Secundariamente a dedução do lucro. • O salário não é uma dedução, mas um adiantamento. Definição e medida dos salários • Os salários são adiantamentos concedido aos trabalhadores para que possam se sustentar durante o período de produção. • Os salários assumem duas formas: 1. A real; 2. A nominal. • Quando expressa-se o salário em termos de artigos de subsistência que com ele pode-se adquirir, têm-se a forma real. 17 Os salários (cont.) • Quando a moeda é o padrão , têm-se a forma nominal. • Os salários são deteminados através da interação entre " a procura daqueles que vivem de salários", que podemos ver como a oferta de trabalho e "os fundos destinados ao pagamento de salários", que podemos ver como a demanda por trabalho. • Os melhores padrões para medir o salário são, diz Smith a prata no curto prazo, e os cereais no longo prazo. • O grande postulado da teoria dos salários de Smith é que os salários nominais tendem ao nível mínimo estabelecido pela quantidade dos artigos de subsistência necessários à vida que com ele pode-se adquirir. 18 Os salários (cont.) Determinantes dos salários • Smith fixa os seguintes determinantes do preço dos salários: 1. Caráter mais ou menos agradável das diferentes atividades; 2. Custo de aprendizagem; 3. Grau de regularidade ou segurança do emprego; 4. Confiança e responsabilidade depositadas no trabalhador; 5. Probabilidades de êxito dada a incerteza de sucesso em alguns tipos de emprego. • O poder de fixar os salários nunca está nas mãos dos empregados, mas sim nas mãos dos empregadores, que são capazes de resistir por mais tempo, se organizam mais facilmente por serem menos numerosos, e além disso são favorecidos pela lei 19 O Lucro e a renda O Lucro • O lucro é a parte do preço de venda de um produto que resta depois de deduzir-se o necessário para repor os gastos de sua produção. • Esta parte cabe àquele que incorreu nestes gastos, exatamente por que o fez esperando obter com a venda do produto mais do que possuía inicialmente. • Os lucros não são salários(pagos pela) inspeção e direção do processo produtivo.São um excedente líquido sobre o investido. • São determinados pelo volume de capital empregado. 20 O Lucro e a renda (cont.) • " As subidas e descidas dos lucros do capital dependem(...) do estado de prosperidade ou decadência da riqueza da sociedade." • " A taxa de lucro tende a baixar no decurso do processo de desenvolvimento econômico". Isto pois, com o aumento do volume de capital acumulado, a concorrência entre seus detentores intensifica-se baixando os lucros individuais. • A "dificuldade crescente em encontrar oportunidades de investimento lucrativo“ atua de forma determinante aí. • De acordo com Smith o juro fornece uma previsão do comportamento dos lucros, isto pois: " Onde quer que possa ganhar-se muito pelo uso do dinheiro, muito se pagará pela sua utilização; e onde possa ganhar-se pouco, pouco se pagará“. • Esse raciocínio baseia-se na concepção de que o lucro e o juro são recompensas pela aplicação ou não, respectivamente, do capital. 21 O Lucro e a renda (cont.) Renda • A renda é "o preço pago pela utilização da terra" e varia conforme a fertilidade das terras e " diferenças de localização". • Para Smith, a renda é determinada pelos preços: " Elevados salários são causas de elevados preços, baixos salários e lucros são causas de baixo preço; uma renda elevada ou baixa é sua conseqüência." • Smith coloca que: " o progresso econômico tende a elevar as rendas nominais, as rendas reais e tende ainda a proporcionar uma maior participação das rendas no rendimento nacional." • Portanto o interesse dos proprietários de terra está inseparavelmente ligado ao interesse geral da sociedade. • Enquanto o interesse dos mercadores e dos mestres da manufatura é sempre contrário, dado que a taxa de lucro baixa a medida que a riqueza aumenta. 22 Natureza e acumulação do capital A natureza do capital • Smith define o capital como sendo toda e qualquer reserva de valor utilizada para mover a produção, ou seja, financiar os custo de sua execução. • O capital consiste portanto em um fundo de "adiantamentos". • Quando a totalidade do produto pertence ao trabalhador, sendo ele livre para consumi-lo ou permutá-lo, não existe estímulo para o armazenamento deste valor. • Com a divisão do trabalho, a atividade de cada homem é insuficiente para lhe proporcionar a subsistência e mesmo os meios para produzir. • Exatamente porque o objeto desta atividade não é o sustento daquele que a desenvolve, sendo esta somente parte de um processo maior dirigido pela vontade do patrão. 23 Natureza e acumulação do capital (cont.) • Para manter-se ativo o trabalhador precisa então receber adiantamentos de salário e meios de produção, pois não é mais livre para desfrutar de todo o valor que produz, e isto agora presume a intermediação do mercado. • Ou seja, o produto deve estar pronto e vendido para que seja possível desfrutar dele. • Assim sendo, o capital que permite sustentar o processo produtivo até que se dê a venda deverá existir antes da divisão do trabalho. • Conforme esta evolui o capital acumulará-se mais e mais. • A "acumulação de capital é o motor do progresso econômico“. 24 Natureza e acumulação do capital (cont.) • Segundo Smith, o capital assume duas formas: 1. A forma fixa; 2. A forma circulante. • O capital fixo é aquele empregado para produzir rendimentos sem que para isso tenha de ser vendido.Inclui máquinas, instrumentos e construções, bem como o capital humano. • Este último é " o valor das capacidades adquiridas e úteis de todos os habitantes ou membros da sociedade." • O capital circulante produz rendimentos que presumem a sua venda por dinheiro. Constitui-se dos produtos transacionados pelos mercadores. • Smith define trabalho produtivo como trabalho que acrescenta valor sobre o que age;trabalho que " fixa-se e corporiza-se em qualquer objeto particular ou mercadoria vendável.“ 25 Natureza e acumulação do capital (cont.) • Este trabalho é por exemplo atribuído aos artesãos, manufaturadores e agricultores. • O trabalho improdutivo é todo e qualquer trabalho que não possui nenhuma destas duas características, e seus serviços "deixam, em geral, de existir no próprio instante em que são prestados." • De tal natureza são os serviços de criados, médicos e professores. • Quando uma nação emprega parte de seu produto na manutenção de serviços improdutivos, ela perde esta parte. • Se, por outro lado fosse esta parte aplicada em trabalho produtivo, ela garantiria um estímulo ao processo de acumulação de capital, de forma a reproduzir com um acréscimo o aplicado. 26 Natureza e acumulação do capital (cont.) Prodigalidade e frugalidade • Smith advoga a importância de investir nos serviços produtivos, atrelando esta prática à prosperidade nacional, e a omissão dela em favor dos improdutivos, à miséria. • Pode-se inferir do raciocínio de Smith que a poupança gera poder de compra, e acaba equivalendo ao investimento, pois o " entesouramento" é um evento raro. • Depreende-se daí que para Smith, a função da moeda é servir como meio de troca. 27 Livre comércio e tributação Como o egoísmo faz-se em benefício coletivo • O homem, quando, através de suas próprias forças, busca obter a satisfação máxima das atividades que desempenha e não encontra obstáculos para isso. • Apesar de considerar unicamente seu engrandecimento pessoal, é conduzido por uma "mão invisível" à mover a sociedade à que pertence na direção da prosperidade. • Supondo que o ser humano seja movido por uma força interna que o leva a maximizar a lucratividade de seu trabalho, na totalidade de uma sociedade todas as forças internas serão somadas. • De forma que a sociedade atinja o nível máximo de bemestar geral. 28 Livre comércio e tributação (cont.) Mecanismos que conduzem ao funcionamento ótimo do mercado: • A liberdade de comércio e de produção são defendidas por Smith como alternativa às políticas restritivas mercantilistas. • Estas acabam por serem pesarosas e corrosivas à riqueza nacional, portanto servido à ruína do edifício que visam levantar. • Para que o mercado seja capaz de funcionar corretamente, fazendo do egoísmo o bem-estar social, o Estado tem de garantir três deveres de grande importância: 1. A manutenção da segurança militar 2. A administração da justiça 3. O dever de criar e preservar certos serviços públicos onerosos demais para que o indivíduo, pois nunca reproduziriam o investido com lucro proporcional. 29 Livre comércio e tributação (cont.) e crítica Incidência tributária • Segundo Smith todos impostos são pagos sobre a renda, o lucros e os salários. • A conclusão da teoria de Smith da incidência fiscal é que todos os impostos recaem em última análise sobre os proprietários fundiários, em virtude de possuírem um recurso que é fixo, imóvel. • Inspirado pelos fisiocratas, Smith defende o imposto sobre a renda da terra. Crítica à teoria do valor-trabalho de Smith • Smith não propõe uma teoria do valor-trabalho, e sim propõe teorias que visam determinar o "bem-estar subjetivo", os preços e os preços-relativos em função do trabalho. 30 Bibliografia 31